segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18238: Tabanca Grande (457): Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, CCAÇ 1620 (Cameconde, Sangonhá, Cachil, Cacine, Cacoca, Gadamael, 1966/68)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 766.


Manuel Cibrão Guimarães, foto atual (Tabanca da Linha, Oeiras, Algés, 18 de janeiro de 2018). Foto de Manuel Resende (2018)


Foto nº 1 A > Cachil (?) > Progressão na picada..


Foto nº 1 > Cachil (?) > Progressão na picada..


Foto 2 >  Cachil: capelinha


Foto nº 3 >  Cachil:  aquartelamento e palmeiras desoladoras


Foto nº 4 >  Grupo de furriéis e sargentos no T/T Niassa


Foto nº 5 > Gupo de furriéis e sargentos no T/T  Niassa




Foto nº 6 > Desfile de tropas em parada, à chegada ao CTIG


Fotos (e legendas): © Manuel Cibrão Guimarães (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Apresenta-se, à Tabanca Grande, o nosso camarada Manuel Cibrão Guimarães. Era fur mil, da CCAÇ 1620. Vive em Rio Tinto, Gondomar. Faz anos a 16 de novembro. Tem página no Facebook

Dos cinco "bandalhos" (leia-se: "autodesignados membros do Bando do Café Progresso, Porto), que vieram ao 35º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha (Oeiras, Algés, Restaurante "Caravela d Ouro", 17/1/2018), era o único que ainda não era grã-tabanqueiro (leia-se: membro da Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas...). (*)

Manifestou o seu acordo ao meu convite "instantâneo" e logo ali, no "Caravela de Ouro", me mostrou um molhe de fotos do seu tempo do Cachil,  Cameconde, Cacine e Gadamael... Fotografei umas tantas, vamos lá ver se não baralhei os lugares: as primeiras do Cachil, as duas ou três últimas serão de Gadamael.

Não tínhamos, até agora, ninguém da CCAÇ 1620, mobilizada pelo RI 1. Partiu para o CTIG em 12/11/1966 (, ao que parece, no T/T Niassa) e regressou a 16/8/1968. Esteve em Bissau, Cameconde, Sangonhá, Cachil e Bolama. Comandante: cap mil Fernando António de Magalhães Oliveira.

O Manuel Cibrão Guimarães passa a honrar-nos com a sua presença, sentando-se à sombra do nosso poilão, mágico, fraterno e protetor, no lugar nº 766 (**). As nossas regras de convívio estão aqui descritas. ele de resto conhece-as bem, sendo membro do Bando do Café Progresso (Porto) e da Tabanca dos Melros (Gondomar).


2. Ficha de unidade: CCAÇ 1620:

A páginas 360 e 361 da Resenha Histórico Militar da Guiné das Companhias:

Companhia de Caçadores N.º 1620

Identificação CCAÇ 1620

Unidade Mobilizadora: RI 1 – Amadora

Comandante: Capitão Miliciano de Infantaria Fernando António de Magalhães Oliveira

Partida: Embarque em l2NOV66; desembarque em 18NOV66

Regresso: Embarque em 16AGO68

Síntese da Actividade Operacional:

Em 18NOV66, substituiu a CCAÇ 762 nas suas funções de segurança e protecção das instalações e das populações da área de Bissau, na dependência do BCAÇ 1876, efectuando, simultaneamente, uma instrução de adaptação operacional na região de Nhacra, de 25NOV66 a Dez66.

Em 05JAN67, rendendo, por troca, a CCAÇ 799, assumiu a responsabilidade do subsector de Cameconde, com um pelotão destacado em Cacine, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 e depois do BART 1896.

Em 01AGO67, por rotação com a CART 1692, assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá, com um pelotão destacado em Cacoca, mantendo-se no mesmo sector do BART 1896.

Em 20MAR68, por troca com a CCAÇ 1621, assumiu a responsabilidade do subsector de Cachil, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BART 1913, tendo entretanto, cedido um Grupo de Combate para reforço de forças daquele batalhão em operações, de 22MAR68 a 27ABR68.

Em 1JUL68, por retirada das forças aquarteladas em Cachil e consequente extinção do subsector, recolheu a Bolama, onde permaneceu até ao embarque de regresso.

Observações: Tem História da Unidade (Caixa n.º70 2.ª Div./4.ª Sec. Do AHM).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18229: Convívios (839): 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, Algés, 18/1/2018 - As fotos do Manuel Resende - Parte I

Guiné 61/74 - P18237: Parabéns a você (1379): Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA da CART 1525 (Guiné, 1966/67) e Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando, CMDT do Grupo "Os Diabólicos" (Guiné, 1965/67)


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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18233: Parabéns a você (1378): Dr. João Graça, amigo Grã-Tabanqueiro

domingo, 21 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18236: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) -Parte XI: Mulheres e bajudas (3): homenagem à felupe (poema de Artur Augusto Silva)


Foto nº 376 > Mulher e ronco felupes, São Domingos, 1969.


Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive atualmente em  Vila do Conde [, foto atual à esquerda].



Comentário do nosso editor LG (*):

Virgílio, falta explicar, aos nossos leitores, porque é que vocês chamavam, à "ilha dos felupes", em frente a S. Domingos, a "ilha maldita"...

Como te expliquei a Isabel Levy Ribeiro é mãe das nossas grã-tabanqueiras Cristina e Catarina Schwarz da Silva, filhas do nosso saudoso Pepito (1949-2014) e netas da nossa insigne senhora don Clara Schwarz (1915-2014), professor do Liceu de Bissau, desde a origem até 1966,  e do escritor e advogado Artur Augusto Silva (1912-1983). A família Schwarz da Silva tinha casa de praia em Varela e mantinha uma "relação especial" com o chão felupe... 

O Artur Augusto Silva tem um belíssimo poema sobre a mulher que vou reproduzir  a seguir... Segue este link para saberes mais

Nas muitas conversas que tive com o Pepito, ao vivo e por email, entre 2006 (quando o conheci) e o mês e ano  da sua morte (em 18/2/2014), verifiquei que ele tinha, tal como o pai uma enorme admiração pelos felupes, o seu "chão" e  a sua cultura. O pai era autor dum livro, etnográfico, sobre os felupes: Usos e costumes jurídicos dos felupes da Guiné / Artur Augusto da Silva.

Para o Pepito, os felupes eram  a melhor etnia da Guiné, os mais puros, os mais autênticos, os mais valentes, os mais leais... E é bom lembrar que foram, historicamente,  as grandes vítimas do esclavagismo. Povo ribeirinho,  era caçado pelos temíveis mandingas e vendidos aos negreiros europeus... O memorial da escravatura, no Cacheu, muito deve ao Pepito, que infelizmente já nºao viveu o suficente para assistir à sua inauguração, em 2016.

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Ela

(Poesia à maneira felupe)

por Artur Augusto da Silva


Tu que tens o andar gracioso das gazelas
e a quem nenhuma companheira se iguala,
tu que tens a força do touro branco
e a elasticidade da onça:
tu que crescestes como o arroz  em ano de chuva
e és uma espiga alta e farta,
quando entras no terreiro para dançar
pareces uma estrela brilhante em noite de nuvens.

Tu és a que tem as ancas largas
e os seios grandes e firmados
e com quem todos os homens querem casar.

A tua pele é luzidia
como a lama das bolanhas depois das lavras,
e o teu sorriso é igual ao primeiro arroz que germina
e os teus dentes são brancos...

Não preciso  de dizer o teu nome
porque todos sabem quem tu és.


In: Artur Augusto da Silva - E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu poemas. Bissau: Instituto Camões, Centro Cultural Português, 1997, p. 27.

Guiné 61/74 - P18235: Blogpoesia (549): "As escolinhas primárias", "Parado às dez...", e "Secaram as fontes", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


As escolinhas primárias

Eram singelas. Espalhadas. Expostas ao sol.
Uma porta vermelha. Duas janelas.
Irradiavam calor. Faziam sonhar.
Ensinavam a vida. O mundo. Com cor.
Eram alfobres. Cultivavam os pobres.
Faziam doutores, só a quarta classe.
Ensinavam a escrita. Os rios e serras.
Os caminhos de ferro.
Cultuavam a pátria.
Fertilizavam a terra.
Jorravam alegria.
Um jardim de flores.
Eram altares.
Hoje, encerradas. Cercadas de ervas.
Morrem de tristes.
Aguardam seu fim.
Mas outras, ainda bem.
Emprestam as salas aos livros da aldeia,
Alojam os ranchos das danças,
As mesas de votos.
E, uma já vi.
Um bom restaurante,
Serve quem passa,
À beira da estrada, com sombra.
A cozinha cá fora.
Que bem se ali come,
Não longe de Alcácer…

Berlim, 17 de Janeiro de 2018
8h46m
Jlmg

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Parado às dez…

Cravado à parede da casa,
Desde o tempo passado,
Era branco. Pretos ponteiros.
Os números romanos diziam as horas que eram.
Partiu-se-lhe a corda e o relógio antigo,
Sem dono, ali ficou parado. Exausto. Sozinho.
Se lembra o passado e chora.
Se lembra da festa que foi.
Comprado novinho, em folha,
No ourives da vila.
Saíu da caixinha em cartão.
Subiram-no numa escada.
Na parede, um cravo.
Deram-lhe corda.
Soltou uma cantiga sonora.
Como se tivesse garganta.
Ensaiou uma dúzia.
Depois acalmou.
Atirou-se ao tempo.
E ficou. Desde então, contando as horas do tempo da casa.
Nunca se enganava.
Já sabia de cor.
Ali jaz, calado às dez, coberto de pó.
Ninguém olha para ele…

Berlim, 19 de Janeiro de 2018
21h33m
Jlmg

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Secaram as fontes

Que secura tão grande. Secaram as fontes.
Não há pinta de água. A sede é faminta. Devora.
A pele secou.
O pó tapa-me os poros.
Respirar custa cada vez mais.
Eram suaves os ventos.
Da terra brotavam sementes.
A verdura da vida sorria.
No fundo do vale, o rio corria.
No azul profundo do céu o sol brilhava, aquecia.
De vez em quando vinham do mar nuvens carregadas de chuva.
Parece que tudo morreu.
Mas, no fundo de mim, a esperança não morre.
Há sempre um vale para além daquela montanha onde as fontes não secam…

Ouvindo Adágio de Sebastião Bach
Berlim, 20 de Janeiro de 2018
8h49m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18211: Blogpoesia (548): "Rastejante e subtil", "Subindo a montanha", e "Sinfonia dos pardais", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18234: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XI: Mulheres e bajudas (2): felupes da "ilha maldita"


Foto nº 33 A - O alf mil SAM Virgílio Teixeira, na "ilha maldita", por detrás de S. Domingos,  1969


Foto nº 33  - O alf mil SAM Virgílio Teixeira, na "ilha maldita", por detrás de S. Domingos,  1969



Foto nº 34 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira, na "ilha maldita",  na margem esquerda do rio Domingos, S. Domingos,  1968



Foto nº 2 > Ilha maldita e rio S. Domingos, maio de 1968


Foto nº 395 > Bajudas felupes, S. Domingos, 1968


Foto nº 396 > Bajudas felupes, S. Domingos, 1968. O Virgílio Teixeira aparece no lado, de calção de banhp e óculos escuros


Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).



Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Cacheu > S. Domingos > Mapa  de S. Domingos > Escala: 1/50 mil  (1953) > Posição relativa da povoação  de S. Domingos e, à frente, na margem esquerda do Rio S. Domingos, afluente do Rio Cacheu, a "ilha maldita"...

Infografia: Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2018)


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive atualmente em Vila do Conde.


Comentário de Virgílio Teixeira:

Obrigado Luís, nunca pensei que isto teria o valor que estás a dar, espero que seja partilhado por outros bloguistas e camaradas. Vou chamar a este tema, aproveitando a tua ideia, de 'nus etnográficos' acho que é isso mesmo.

As fotos foram bem decompostas em várias posições, foi pena não tirares o rabo do nosso Cabo Horta, ele já andava também avançado 50 anos, em relação aos rapazes de agora com aquelas calças cá por baixo a ver-se as cuecas. Acho que ele não fez de propósito.

As raparigas Felupes vinham de vez em quando ao rio, onde nós também íamos ao Domingo, na maré vasa, elas vinham daquela ilha que se vê em frente, a chamada 'Ilha Maldita' que,  depois a nossa cooperante da AD, Isabel Levy [, nossa grã-tabanqueira, viúva do nosso saudoso Pepito (1949-2012(], me disse que era a chamada 'Ilha dos Felupes', eu também lá estive uma vez apenas.

Entretanto pesquisei e encontrei mais duas fotos, da mesma cena do mesmo dia, pois isto foi num Domingo qualquer de Maio de 68 no rio e nas margens da ilha de Bolol - ilha maldita.

Vou anexar para ver se tem interesse, numa já apareço eu, alguém está a fotografar-me.

Virgílio Teixeira


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Guiné 61/74 - P18233: Parabéns a você (1378): Dr. João Graça, amigo Grã-Tabanqueiro

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18230: Parabéns a você (1377): José Horácio Dantas, ex-1.º Cabo At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69)

sábado, 20 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18232: Os nossos seres, saberes e lazeres (249): À sombra de um vulcão adormecido (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 7 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
É inevitável grossas bátegas de chuva no mês de Outubro, no Vale das Furnas. Depois tudo amaina, ficam por vezes umas nuvens esfiapadas que afugentam a luz do sol, parece que a natureza fica dormente, expectante. O viandante recomenda que, faça sol ou chuva tremendamente, deve-se procurar alcançar esta fabulosa visão panorâmica da Lagoa das Furnas a partir do Pico do Ferro.
O viandante está nostálgico, é quase o termo das férias e reavivam-se gratas memórias que justificaram plenamente aqui voltar 50 anos depois de uma inolvidável experiência. Em jeito de despedida, dar-se-á conta dessas memórias para relevar os aspetos mais recônditos desta paixão açoriana.

Um abraço do
Mário


À sombra de um vulcão adormecido (4)

Beja Santos

Cai uma chuva diluviana, persistente, foi assim toda a manhã. O viandante não se inquietou, estava a passar em revista as recordações indeléveis desde Outubro de 1967 a Março de 1968: as recrutas, foram duas, tiveram uma importância transcendental na sua vida, descobriu os genes de liderança, ponto capital para tudo quanto se veio a passar na tormenta guineense, a partir de Agosto de 1968; as amizades, os passeios, a descoberta da natureza, não como adjuvante da cultura mas como pilar do desenvolvimento humano; as crianças dos Arrifes, as minhas cúmplices, enquanto oficial de dia era fim de tarde de rancho melhorado, abria-se latas de atum, dava-se fruta, todas as sobras de carne, aquelas meninas e meninos, naqueles dias iam para a cama com o estômago mais aconchegado. Não me despeço dos leitores sem lhes mostrar imagens desse tempo.
Ao princípio da tarde, os céus aliviaram-se, foi uma oportunidade única de ver a Lagoa das Furnas em intensas tonalidades que a tornam mística, uma paisagem de idílio para espíritos românticos.



O miradouro chama-se Pico do Ferro e assegura uma visão panorâmica com vários desfrutes: a dimensão da lagoa e a envolvente vegetal; o vale com o seu casario disperso, os sinuosos cursos de água, as culturas, até os jardins, nem tudo cabe na imagem, reteve-se num olhar embevecido. Entretanto, adensou-se a neblina, o céu forrou-se, à cautela desceu-se até à lagoa, aguarda-nos uma profunda quietude na mansidão do espelho de água.


Alguém disse que os tons da água eram de turquesa, outro replicou que era jade, fosse o que fosse era uma cor que bem acasalava com aquele solo fértil, arvoredo é coisa que não falta. E regressou-se ao vale, à espera de outros recantos inesperados, no céu, na terra ou nas gretas de água.


Apeteceu um café, havia mesas no exterior, em frente um largo gracioso, ajardinado, ali despontava, sem qualquer concorrência, uma altíssima palmeira. Não era noite nem dia, o céu forrado diluiu-se e deu lugar a este assombroso movimento de azul e branco, de claro-escuro. Porque nos Açores tudo é possível, como neste caso envolver de ramaria o céu celeste e fazer içar, aos píncaros, uma garbosa palmeira; alguém comentou ao lado que parecia uma fazenda em África, houve sorrisos, a foto circulou de mão em mão, houve quem quisesse apanhar aquelas tonalidades, no seu capricho o céu já era outra coisa. Para o viandante, sempre desconcertado na sua inabilidade, esta imagem é um achado dos céus.


Falou-se da Lagoa das Furnas, da Ermida de Nossa Senhora das Vitórias e do Jardim de José do Canto, pois aqui estão reproduzidos num amplo conjunto azulejar em castanho esfumado. O que mais agradou ao fotógrafo amador foi poder meter-lhe as hidrângeas por baixo, misturar natureza com azulejos pintados.




Deriva agora o passeio para o parque florestal das Furnas, uma graciosidade, aqui há um pouco de tudo, água e bicharada, canteiros aprimorados, explorações agrícolas, arvoredo que vai trepando até às cumeeiras, patos, faisões, trutas. Impressiona a delicadeza e o desvelo de quem aqui mantém tudo num brinco, impossível resistir à desenvoltura das palmeiras, do que resta da hidrângeas, e estas camélias amarelas são francamente irresistíveis, abençoada ideia de quem sugeriu o passeio ao parque florestal.



Na quietude do fim do dia, aqui fica o registo dos gamos em posse para a fotografia, o pato em atividade tem que ser apresentado, segundo uma placa chama-se pato ferruginoso, há patos de outros pontos do mundo, este foi o escolhido pois as águas ferruginosas estão de feição com um pato de igual calibre.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18207: Os nossos seres, saberes e lazeres (248): À sombra de um vulcão adormecido (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18231: Memória dos lugares (370): Buba e os bravos do Pel Mort 2138... Mais fotos (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71)


Foto nº 1 > O soldado apontador de armas pesadas de infantaria, do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71),  no espaldão do morteiro 81, com uma granada


Foto nº 2 > Posição do espaldão do morteiro 81, na embocadura do rio Grande de Buba, Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71)


Foto nº 3 > Posição do espaldão do morteiro 81,  junto ao arame farpado e virado para o rio, ao tempo do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71)



Foto nº 4  > Espaldão do morteiro 81,  junto ao arame farpado e virado para o rio, ao tempo do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71). Local do impacto de uma granada de canhão s/r, do PAIGC.

Fotos (e legendas): © Fernando Oliveira ("Brasinha") (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. O Fernando Oliveira "Brasinha", ex-sold ap armas pes inf, Fernando Oliveira, "Brasunha", mandou-nos, ontem, às 20h33, a seguinte mensagem telegráfica

Seguem [4] fotos para comprovar poste do Grã-Tabanqueiro nº 727 Fernando Oliveira (Brasinha). (*)
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Nota do editor;

(*) Vd. último poste da série > 19 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18226: Memória dos lugares (370): Buba e o espaldão do morteiro 81 onde eu dormia... (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71)

(...) Dado não haver estradas para Aldeia Formosa (hoje Quebo) a partir de Bissau, Buba era o ponto fulcral para desembarque e abastecimento daquela zona que abrangia, Buba, Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa. De Buba partiam as Colunas Auto que transportavam os géneros, armas e munições.

O citado abrigo (espaldão) era habitado por quatro elementos que dormiam sobre as granadas dos morteiros (...).


(...) Um ano depois [do ataque ai aquartelamento de Buba em 12 de Outubro de 1969, ao tempo da CCAÇ 2382], tivemos novo ataque, de igual poderio de fogo, desta feita pelo lado do Rio onde foi a vez do Esquadrão junto ao mesmo (...). Dessa vez, saiu-nos o primeiro prémio da Lotaria. Levamos com um obus no espaldão que, por uma unha negra, não caiu dentro do espaldão, que mandaria tudo pelos ares. Vou tentar anexar fotos do acontecimento aqui relatado, bem como, uma tirada após a nossa comissão, pelo furriel miliciano António Cruz. (...)

Guiné 61/74 - P18230: Parabéns a você (1377): José Horácio Dantas, ex-1.º Cabo At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18225: Parabéns a você (1376): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil Operações Especiais da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18229: Convívios (839): 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, Algés, 18/1/2018 - As fotos do Manuel Resende - Parte I


Foto nº 1 > Bando do Café Progresso, Porto: Ricardo Figueiredo e Manuel Cibrão Guimarães


Foto nº 2 > Bando do Café Progresso, Porto: Francisco Baptista (transmontano de Brunhoso)  e Jorge Teixeira ("o bandalho-mor", que curiosamente, sendo tripeiro do coração, nasceu em Ribeira de Pena


Foto nº 3 > Bando do Café Progresso, Porto: o José Ferreira da Silva, o "escritor-bandalho", autor de "Memórias Boas da Minha Guerra" (2 volumes)


Foto nº 4 > O José Ferreira ao lado do Jorge Canhão (à direita)... Não sabemos, de momento, quem é o camarada que está do lado esquerdo...


Foto nº 5 > O Alberto Branquinho: não é "bandalho" mas é escritor, e pertenceu ``companhia do José Ferreira, a célebre CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69).


Foto nº 6 > Da esquerda para a direita, Francisco Palma, Jorge Teixeira, Francisco Baptista e Manuel Resende


Foto nº 7 > Da esquerda para a direita: o "alfero Cabral", o desejado... e o nosso José Marcelino Martins, que há muito não aparecia nestas andanças... Dois colaboradores permanentes do nosso blogue.


Foto nº 8 > Foto de grupo, com os cimco "bandalhos" que vieram do Porto: da esquerda para a direita; José Martins, Ricardo Figueiredo, Francisco Baptista, Jorge Cabral, Luís Graça, Jorge Teixeira, José Ferreira da Silva, Manuel Cibrão Guimarães e Diniz Sousa e Faro


Foto nº 9 > O grupo anterior (8) mais o Carlos Silva que, além de membro das tabancas todas, é "régulo" da  Tabanca dos Melros (Gondomar)


Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 35º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 18 de janeiro de 2018 > Reuniu 8 dezenas de comensais... Mais uma bela jornada de manifestação de amizade e camaradagem dos  "magníficos" da Tabanca da Linha que desta vez  receberam uma "delegação de luxo" do Porto, cinco dos "bandalhos" do Bando do Café Progresso,  a que pertencia o nosso saudoso camarada Jorge Teixeira (Portojo) (1948-2017).

Publicam-se as primeiras fotos do Manuel Resende, fotógrafo oficial da Tabanca da Linha. Trata-se de uma primeira seleção.


Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18228: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (7): A Petição dos Combatentes da Guerra do Ultramar vai ser discutida no Plenário da Assembleia da República no próximo dia 31 de Janeiro de 2018. Aceitam-se inscrições (máximo, 10) para acompanhar o Inácio Silva nas bancadas parlamentares



1. Mensagem do nosso camarada, e meu particular amigo, Inácio Silva (ex-1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas da CART 2732, Mansabá, 1970/72), fundador e editor da página Relembrar para não esquecer, com data de 18 de Janeiro de 2018, trazendo notícias fresquinhas da Petição que ele próprio colocou em 2011 no site "Petição Pública":

Caro Amigo Carlos Vinhal

Acabei de receber o e-mail do Parlamento a agendar a discussão da nossa Petição para o dia 31 de Janeiro, a partir das 15 horas. 

Gostaria que fizesses o favor de o publicar no blogue, com o objectivo de publicitar o evento e de mobilizar alguns camaradas (não mais do que 10) para estarem presentes, comigo, na galeria.

Um grande abraço para ti 
Inácio Silva

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2. Transcrição essencial da mensagem recebida pelo camarada Inácio Silva

De: Petições
Enviado: 18 de janeiro de 2018 15:01
Assunto: Agendamento da Apreciação em Reunião Plenária da Petição n.º 309/XIII/2ª

Exmo. Senhor Inácio Rodrigues da Silva,
Encarrega-me Sua Excelência o Presidente da Assembleia da República de informar V. Exa. de que, na sequência da Conferência de Líderes realizada no passado dia ontem, foi deliberado agendar a apreciação da Petição n.º 309/XIII/2ª na reunião plenária do dia 31 de janeiro, a partir das 15 horas.

Neste sentido, a Assembleia da República tem o gosto de o convidar a assistir ao debate em causa, solicitando que nos façam chegar com a máxima brevidade possível a identificação das pessoas que os acompanharão.
Tendo em conta as limitações de espaço existente e o facto de, nos termos do Regimento da Assembleia da República, as reuniões plenárias serem públicas, solicitamos que uma possível delegação não ultrapasse o número máximo de 10 pessoas.

O acesso às galerias da Sala das Sessões processa-se pela porta da Praça de S. Bento (porta lateral do Palácio de S. Bento), à qual se devem dirigir no dia indicado com relativa antecedência.
Ao chegarem, não será necessário aguardar na fila. Depois de passarem pelo pórtico de raio X, devem dirigir-se ao funcionário que procede à acreditação dos visitantes e identificar-se (através de documento próprio), mencionando ainda que vêm assistir à reunião plenária na qualidade de peticionários ou seus representantes, aguardando, então, que vos acompanhem à galeria destinada para o efeito.

É aconselhável que os visitantes não tragam volumes ou objetos pessoais como sacos, mochilas, máquinas fotográficas ou telemóveis.
Caso transportem consigo estes objetos, os procedimentos de segurança à entrada serão mais demorados, visto que será necessário guardá-los.

Finalmente, salientamos que, para além da delegação, outros peticionários poderão vir assistir ao debate em reunião plenária, ainda que, nesse caso, o acesso às galerias se faça de acordo com o procedimento comum, ou seja, por ordem de chegada e enquanto a capacidade das mesmas o permitir.

Com os melhores cumprimentos,
João Silva
Técnico de Apoio Parlamentar
Divisão de Apoio às Comissões

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3. Comentário do editor CV

Os camaradas interessados em acompanhar o Inácio Silva nas bancadas da Assembleia podem manifestar essa disponibilidade, atempadamente, através dos comentários deste poste, por contacto directo com o Inácio ou por meu intermédio.
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Nota do editor

Vd. poste de 4 de janeiro de 2018 4 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18171: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (6): Petição enviada para o Ministro da Defesa Nacional e envio do Relatório para o Presidente da Assembleia da República para agendamento da discussão em Plenário (Inácio Silva)

Guiné 61/74 - P18227: Notas de leitura (1033): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (18) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Outubro de 2017:

Queridos amigos,
Estamos ainda num período de acentuada crise económica e escassez de dinheiro, o comércio debate-se com a penúria, os relatórios do BNU não iludem a situação. Inicia-se uma situação que ainda hoje não se consegue dilucidar entre a fixação e a realidade, a chamada revolta dos Felupes. Desparece um avião francês, há quem diga que caiu em Jufunco, em Chão Felupe. As autoridades francesas pedem inquérito, Bolama responde com uma coluna militar. Há interrogatórios de régulos, a quem não faltará violência, os Felupes espalham-se pelas matas e pelo Casamansa, as peripécias arrastar-se-ão até 1935. Depois, os Felupes chegam a um acordo tácito com as autoridades. Acordo que se prolongará pela guerra fora, a generalidade dos Felupes manter-se-ão neutrais, mas não aceitarão ingerências.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (18) 

Beja Santos

Antes de voltarmos à questão da revolta dos Felupes, é conveniente contextualizar a perda de importância da filial de Bolama, atenda-se ao que se irá escrever num relatório referente ao primeiro semestre de 1984:
“Esta filial continua com o seu movimento bastante reduzido e em regime de prejuízo anual, suportado pela agência de Bissau. É gerida diretamente pelo seu antigo guarda-livros, Sr. Fernando Coelho de Mendonça, com procuração subestabelecida pelo signatário, com poderes reduzidos, assinando conjuntamente todos os documentos, com a exceção da correspondência reservada. O movimento geral quotidiano limita-se a cobrança de letras a receber, alguns empréstimos sobre penhores, um reduzido desconto de letras descontadas sobre a praça, movimento de depósitos à ordem e cobrança de saques ordinários ou telegráficos, cuja emissão é feita pela agência de Bissau, visto o encarregado da filial não ter poderes para sacar. Periodicamente, pelo menos uma vez por mês ou sempre que o serviço da agência o permite, deve ser a filial visitada pelo gerente-geral, como está determinado, para conferência de valores e verificação de serviços. A filial, por nossa terminação, remete também a esta gerência segundo as vias da correspondência reservada dirigida à sede. Esta, a nosso pedido, costuma também enviar-nos duplicados da mesma correspondência dirigida à filial. Desta forma, fica esta gerência ao facto do principal movimento da filial, completando a fiscalização com visitas periódicas do gerente geral”.

Nesta exposição sucinta, fica bem claro que a filial de Bolama era uma sombra do passado.

O período de 1933 termina com uma carta confidenciada do gerente de Bissau para Lisboa acerca da revolta dos Felupes:
“Em aditamento à nossa carta confidencial de 13 de Novembro pretérito, que confirmamos, informamos V. Exa. de que, presentemente, se encontra na região dos Felupes apenas um oficial, Tenente Dores Santos, com um destacamento sem que se tenham registado novos actos de insubordinação activa.
Julga-se que devido às baixas causadas pelas tropas governamentais, os revoltosos se tenham espalhado, uns pelas tabancas da fronteira e outros pelo território francês. Escoaram-se por entre os pântanos, pondo-se fora do alcance das nossas balas, não voltando às suas terras enquanto elas estivessem ocupadas militarmente. Esta situação não permite que as tropas se retirem nem que, ficando, se batam, por desaparecimento do inimigo.
No dia em que o destacamento recolha ao quartel, os insurretos, escondidos ou internados no território francês, voltarão imediatamente e exercerão represálias sérias nos indígenas da região que auxiliaram as nossas autoridades ou, pelo menos, não as hostilizaram. Esta é a convicção geral.
Há dias, seguiu para os Felupes o Capitão Sinel de Cordes, com a incumbência, diz-se, de mandar recolher o destacamento, deixando ali apenas uma pequena força do comando de um sargento. Não tivemos ocasião de aqui trocar impressões com o Chefe da Repartição Militar, mas informaram-nos de que as tropas não recolheriam, seriam reforçadas tanto mais que os indígenas fiéis lhe pediram para de qualquer forma deixar lá tropa comandada por um oficial.
Devemos notar, a título de curiosidade, que na região revoltada todos os indígenas andam com uma fita branca na cabeça para se distinguirem dos revoltosos. Consta que os chefes revoltosos – Alfredo e Coelho – das tabancas de Jufunco e Egine, respetivamente se refugiaram com parte da sua gente no território francês, sendo ambos presos pelas autoridades respetivas. Iniciaram-se diligências oficiosas junto daquelas autoridades para que, às nossas, esses chefes fossem entregues. Parece que tudo indicava que as diligências seriam coroadas de êxito, mas ultimamente o caso mudou de feição e as autoridades francesas não entregaram os homens. Quanto às tropas francesas que guarneceram a fronteira durante a revolta, disse-nos o senhor governador que já tinham retirado”.

Justifica-se plenamente incluir aqui a opinião do historiador René Pélissier, expressa na já anteriormente referida História da Guiné[1], pois dedicou bastante atenção a este período, depois de se ter referido ao golpe republicano de Abril-Maio de 1931, e mencionado uma purga que ocorreu entre Setembro e Outubro na ilha de Bissau, para a qual não encontramos qualquer documento nos arquivos do BNU, temos a seguir uma longa abordagem dos Felupes, como segue. Refere o desaparecimento do avião militar francês, as buscas sem sucesso de vestígios de tripulantes ou do próprio avião e as referências propaladas sobre o seu canibalismo e práticas de feitiçaria. Escreve Pélissier:
“Nos anos 1930, contam-se 16 aldeias Felupes na Guiné dependentes administrativamente em primeiro lugar de S. Domingos e depois de Susana. Com os Nalus do Sul da Guiné, partilham o assustador fardo de estar sob uma permanente acusação de antropofagia. Sempre prontos a denegrir os seus vizinhos, os franceses do Senegal têm os Felupes da Guiné como a quinta-essência do selvagem”.
Estabelece um quadro sobre o que ele chama o “mal-entendido Felupe”: desaparecimento do avião militar francês em fim de Junho; buscas infrutíferas das autoridades de Dakar; em Agosto chega à vez das buscas portuguesas, sem resultado; a mulher do aviador quer descobrir se o seu marido ainda está vivo, depois de muitas peripécias, uma missão de franceses chega à Guiné em 12 de Outubro; o administrador de Canchungo pede à sacerdotisa de Susana que convoque os principais chefes Felupes, estes, interrogados, declaram nada saber, isto enquanto Mamadu Sissé, um tenente de segunda linha que comandou às ordens de Teixeira Pinto, diz que viu um avião dirigindo-se para o Sul e que terá aterrado em Jufunco; espalham-se boatos desencontrados acerca do avião se encontrar em Jufunco; em fins de Outubro o Capitão Velez Caroço manda prender o chefe de tabanca Alfredo e uma dezena de notáveis de Jufunco, de Egine e de Varela, o administrador de Canchungo interroga os suspeitos à palmatória e Alfredo confessa que o avião aterrou em Jufunco e fizeram-se confissões também desencontradas: que os brancos se tinham ido embora, que os Felupes os mataram, que tinham destruído o avião; e no final de Outubro chegam 50 soldados e duas metralhadoras a Susana.

A 1 de Novembro começa a chamada revolta dos Felupes, as tropas portuguesas avançam sobre Jufunco, as tropas não conseguem entrar na aldeia e o Capitão Sinel de Cordes regressa a Bolama para ir buscar reforços. Começa a guerra. Os Felupes refugiam-se nas matas ou na região de Casamansa, juntam-se-lhe os 800 irregulares de Mamadu Sissé. Uma concentração de 1500 Felupes teria feito recuar o Capitão Velez Caroço mas este acabou com a resistência Felupe. Chega-se à conclusão de que nunca os dois aviadores tinham chegado à Guiné, no final de uma limpeza sistemática a todo o território. Tratava-se de um gigantesco mal-entendido. E que deixou sequelas. A 2 de Fevereiro de 1934, as autoridades de Dakar recusam extraditar 31 felupes porque isso seria prejudicial à imagem dos franceses entre os Felupes de Casamansa. Carvalho Viegas, o governador, temendo que os Felupes entrem na Guiné e massacrem as populações fiéis, dispõe de uma unidade militar em Chão Felupe que aí permanecerá até ao fim de Abril de 1934.

Teremos novas agitações a partir de Maio. Eclodiu um novo e bastante grave movimento de insubordinação na região de Susana, Cassalol e Basseor. A repressão esteve a cargo de uma companhia de atiradores sobre a direção do capitão Velez Caroço. De novo os Felupes se refugiam no Casamansa, isto enquanto o Tenente Óscar Ruas chega a Basseor. Para desalojar os Felupes de Casamansa, Óscar Ruas serve-se de um estratagema. “Cerca de 500 felupes, acreditando poder apoderar-se facilmente dos cipaios, desempenhando do papel de chamariz, esbarram com uma das metralhadoras dissimuladas nas camionetas da coluna. Os portugueses e as suas tropas, escondidos, cercam os felupes”. Os rebeldes foram postos fora de combate. A terceira e última sequela a que Pélissier se refere irá ocorrer em Susana, em Março de 1935.

O ano de 1934 trará outras surpresas: a denúncia de um médico aldrabão, a participação da Guiné na Exposição Colonial de Paris e a acrescida decadência de Bolama.



A Fundação Calouste Gulbenkian adquiriu um valiosíssimo espólio de milhares de fotografias de Mário Novais, um dos grandes fotógrafos do século XX, e com pergaminhos familiares. Foi a examinar este riquíssimo espólio que me deparei com imagens de grande beleza, resta saber em que período Novais visitou a Guiné, provavelmente antes da guerra, ele morreu em 1967, com 68 anos

Fotos editadas por CV

(Continua)
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Notas do editor:

[1] - Vd. Postes: P10447; P10462 e P10485

Poste anterior de 12 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18203: Notas de leitura (1031): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (17) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 15 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18215: Notas de leitura (1032): “Uma Estrada para Alcácer Quibir”, por António Loja; Âncora Editora, Dezembro de 2017 (Mário Beja Santos)