segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18266: Notas de leitura (1036): “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes; Chiado Editora, 2015 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Janeiro de 2018:

Queridos amigos,
O Dr. Livonildo rotula a sua obra sem nenhuma humildade: "Um livro indispensável para dissipar todas as dúvidas sobre os acontecimentos políticos que têm abalado a sociedade guineense e todo o continente africano".
Diz ter procedido a uma investigação que lhe fez desenhar um modelo para combater a má liderança governativa, levar à mudança de mentalidades, à mudança da retórica dos discursos, um modelo que obedeça a uma certa hierarquia entre governantes, políticos, decisores e governados. Antes de chegar a um modelo já proferiu algumas enormidades e teremos por diante umas largas centenas de considerações sobre ciência política, algumas delas num notável despropósito.
Um trabalho que se recomenda a leitura para se perceber que é preciso fazer qualquer coisa que leve à dignificação das dissertações de doutoramento.

Um abraço do
Mário


Uma proposta para novo modelo de governação na Guiné-Bissau (2)

Beja Santos

A obra intitula-se “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes, Chiado Editora, 2015. O autor concluiu a licenciatura e o mestrado em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e em 2014 terminou o doutoramento em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona do Porto. A dissertação e a tese serviram de base a este livro, que é prefaciado por António José Fernandes, professor catedrático de Ciência Política.

O primeiro capítulo da obra procura contextualizar um quadro explicativo da epistemologia da ciência para depois se chegar à ciência política, acaba por ser um enquadramento abusivo e hipertrofiado, quem se lançar na leitura à procura deste novo paradigma de governação na Guiné-Bissau corre sérios riscos de ficar desalentado, é uma enxúndia e um despropósito, um livro que se arroga para divulgação nunca é uma dissertação de doutoramento. Segue-se o enquadramento histórico da Guiné-Bissau, do mosaico étnico à luta armada, interrompemos a recensão quando o autor se debruça sobre o assassinato de Amílcar Cabral (a palavra assassinato aparece entre aspas, sabe-se lá porquê). E são enunciadas as hipóteses quanto a responsáveis: dissidentes do PAIGC; morte acidental durante a operação do rapto; contínuas tensões no seio do PAIGC entre guineenses e cabo-verdianos; por ordem de Sékou Touré; a mando da União Soviética, que estaria à procura de uma nova liderança, mais maleável aos seus interesses; por ordem de Spínola. E sem fundamentar as diferentes hipóteses enunciadas, tecendo os necessários comentários, à luz dos documentos existentes, o autor deriva prontamente para as causas, segundo outros autores: o anúncio da criação da Assembleia Nacional Popular, proclamação do Estado da Guiné-Bissau; reforma da direção do PAIGC, que tiveram ressonância em Sékou Touré, deixando os blocos Leste e Ocidental num estado de alerta máximo pelo facto do PAIGC poder assumir uma posição neutra, havia perturbações no Ocidente face à possibilidade de uma futura luta armada em Cabo Verde que levaria à instalação de uma base militar soviética. E depois o autor fala nas incongruências diante dos factos apurados. Imprevistamente, fala-se na possibilidade de Amílcar Cabral se ter sentido pressionado e ter cometido suicídio ou de ter sido encontrado morto numa situação imprevista. Nova guinada, voltamos atrás, até à deslocação do Comité de Descolonização das Nações Unidas, em Abril de 1972, até às “zonas libertadas”, mais adiante escreve-se que Spínola fora administrador de uma grande empresa e que depois como governador da Guiné estabelecera estreitas relações com a CUF, e por aí adiante, é impossível encontrar fio condutor neste articulado sem qualquer trambelho.

Assim se chegou à independência, vieram à tona novos conflitos, foi o caso dos chefes tradicionais, que o PAIGC subalternizou. E o autor profere uma sentença:  
“A filosofia de Amílcar Cabral baseada no conflito armado é, em grande parte, responsável pela situação em que a Guiné se encontra. A guerra colonial não é a via adequada para a resolução de problemas. O controlo do poder na Guiné-Bissau teve durante muito tempo uma componente auxiliar fora do território nacional. Queremos dizer com isto que, a subordinação político-militar da Guiné-Bissau sempre funcionou do século XIII até ao século XX com um (ou mais) Estado a auxiliar. Nesta fase, voltamos a recorrer à analogia entre o império romano e o grande império do Mali. Para o império português verificamos uma semelhança entre o império português (Guiné-Bissau e Cabo Verde) e o império do PAIGC (Guiné-Bissau e Guiné Conacri). Portugal apostou no desenvolvimento de Cabo Verde enquanto aliado, funcionando como um braço do império, tal como a Guiné Conacri funcionava como base de apoio para o PAIGC. Quando esta subordinação político-militar externa cessou, com a implementação de uma autonomia interna, a Guiné-Bissau entrou num ciclo de instabilidade político-militar”.
Quem souber decifrar esta charada, tem direito a um doce, prometo-vos.

Entramos agora na caraterização política e social da Guiné-Bissau. Quanto à instabilidade, aponta-se como principal responsável o braço armado do PAIGC e o autor adverte: "esquecem-se que o PAIGC é em si mesmo o maior responsável pela instabilidade político-militar, por ter na frente do partido-Estado um esquema de liderança que funciona com base no sistema de triunvirato – através do sistema político do governo guineense, os ex-presidentes da República controlavam os primeiros-ministros e os CEMGFA. Mas, com o conflito político-militar de 7 de Junho de 1998, que culminou com a vitória dos militares, estes aperceberam-se de que o poder residia afinal nas suas mãos. Foi a partir desse momento que o poder político ficou refém do poder militar – até hoje".

É verdade que o autor atribui importância ao que se passou no Congresso de Cassacá, que abriu caminho para a subordinação indiscutível dos militares aos líderes políticos. Nessa leitura, com o derrube de Luís Cabral por Nino Vieira, confluíram na mesma pessoa o poder político-militar. Nino estimulou invejas e medos, inventou o complô dos militares Balantas com a fantasia de que estavam atrelados à conspiração de Paulo Correia, as FARP foram envolvidas neste envenenamento de relações, tomaram-se posições à volta do chefe supremo, colaboraram em processos de corrupção, caso da venda de armas aos rebeldes do Casamansa, onde nunca se provou quem era quem. Mas como se a confusão já não fosse enorme nesta dissertação do doutor Livonildo, ele conduz-nos até à literatura fantástica, vejam só:
“Conotamos e comparamos os líderes que estão a passar na governação da Guiné-Bissau com autênticos Beowulf. Esta metáfora de Beowulf, enquadrada na nossa arquitetura política, vem confirmar-nos que o poder na Guiné-Bissau se encontra provisoriamente nas FARP. Esses pactos entre Beowulf (poder político) e a mãe de Grendel (poder militar) são uma das causas da instabilidade política que, analisados precipitadamente, são confundidos com conflitos étnicos”.

Por pura generosidade com o leitor, o doutor Livonildo explica-nos a lenda de Beowulf:
“Beowulf é a personagem principal de um poema épico da literatura anglo-saxónica escrito na Grã-Bretanha entre os séculos VIII e XI. Na sua adaptação ao cinema de 2007, Beowulf, um corajoso guerreiro da tribo dos gautas (da Suécia) livra os dinamarqueses do terrível Grendel. Porém, ao ser confrontado com a sedutora mãe do monstro, Beowulf ao invés de matá-la, cai na tentação e envolve-se com ela. Do enlace entre Beowulf e a mãe de Grendel nasce um novo monstro (um dragão) que acabará por matar Beowulf. Esta história mostra-nos como a ambição desmedida pelo poder pode arruinar o futuro dos homens, criando ciclos repetidos de mentira, traição, violência e morte".

E vem a sentença do autor: “Com base nesta ordem de ideias, conotamos e comparamos os líderes que estão a passar na governação da Guiné-Bissau, em especial das lideranças do PAIGC em 1960, com autênticos Beowulf”.
Como se vê, a apregoada ciência política tem um sério entrosamento com a literatura fantástica, com as lendas e o esoterismo.

(Continua)
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Notas do editor:

Vd. poste anterior de 22 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18239: Notas de leitura (1034): “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes; Chiado Editora, 2015 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 26 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18255: Notas de leitura (1035): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (19) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18265: Agenda cultural (625): Workshop "Viagens pela História do Fado" com Rui Vieira Nery, no Museu do Fado, todos sábados, das 17h30-19h00, de 10 de fevereiro a 3 de março de 2018



1. VIAGENS PELA HISTÓRIA DO FADO > SINOPSE:

Da Lisboa oitocentista à atualidade, dos bairros castiços às grandes salas de concerto em todo o mundo, conheça melhor as histórias da canção de Lisboa!

Desenvolvido no século XIX, o Fado resulta de um processo de fusão multicultural que envolve as mais variadas influências, das danças afro-brasileiras às tradições vindas de zonas rurais, passando pelos padrões cosmopolitas da época. 

No século XX, a sua disseminação pela Europa e Américas, inicialmente por via da emigração, depois através dos circuitos de world music, contribuiu para a troca de sinergias com outros géneros musicais e reforçou o Fado, no campo internacional, como símbolo da identidade portuguesa.

Neste workshop, faça uma viagem pela História do Fado, conduzida pelo musicólogo e historiador Rui Vieira Nery.


2.  LOCAL E DATAS:

Local: Museu do Fado
Largo do Chafariz de Dentro, nº 1
1100-139 Lisboa

Data de início: 2018-02-10  | Data de fim: 2018-03-03

Sábados, 17h30 - 19h

Preço: 5 € por sessão

Inscrições: telef +351 218 823 470 | email: info@museudofado.pt

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Guiné 61/74 - P18264: Parabéns a você (1384): Luís Graça, Fundador deste Blogue, ex-Fur Mil Aarmas Pesadas Inf.ª da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM do BCAÇ 1933 (Guiné, 1967/69)


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18258: Parabéns a você (1383): Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Escriturário - BA 12 (Guiné, 1967/68)

domingo, 28 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18263: Blogues da nossa blogosfera (90): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (9): "Impossibilidade" e "Monte das Oliveiras"


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos estas duas publicações da sua autoria.


IMPOSSIBILIDADE
ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ

Persegue-me a impossibilidade de lá chegar…

Como se fora um belo dia de primavera nos olhos de um prisioneiro atrás das grades.

Faltam-me as pernas, o tempo, as palavras e o caminho.

Falta-me a força das coisas simples e o gesto subtil da liberdade.

Cada dia é um mundo oferecendo-me todos os frutos que não sei colher, cada cidade um labirinto por onde não sei andar.

A minha fragilidade é metade de um sonho inacabado, a outra metade é este quadro que pinto numa manhã de sol da minha doce loucura.

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Tremem-me as pernas a caminho de Belvedere onde me espera Egon Schiele, num salão enorme tendo ao fundo uma mulher.

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MONTE DAS OLIVEIRAS

 ADÃO CRUZ

 ©ADÃO CRUZ


Não sei o que entra em mim no cálido fim desta tarde alentejana, não sei ao certo o que me diz o silêncio aberto destes campos sem fim, nem sei se procuro o lugar seguro para abrir o pensamento.

Há qualquer coisa para lá do horizonte entre a angústia e a Esperança, estranha esperança de futuro no silêncio aberto destes campos sem fim, qualquer coisa que arde no cair da tarde entre a magia da vida e a dor contida no monte das oliveiras.

Para lá do horizonte, no fim de La Codozera, não havia ninguém à minha espera no cálido fim desta tarde alentejana.

Nesta tarde alentejana, feita de silêncio aberto e de campos sem fim, parei o carro na berma da estrada que vinha do nada de onde parti à procura da cidade com todas as ruas que há dentro de mim.

Há anos que não me adormecia um sono tão profundo nem o sol trigueiro me dourava a figura, num quase azul, pintando de ternura esse sonho perdido no fim do mundo.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18185: Blogues da nossa blogosfera (89): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (8): "Quando vens ao meu encontro"

Guiné 61/74 - P18262: Blogpoesia (550): "As sombras dormem ao sol", "O despertar da toupeira", e "Os astros", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


As sombras dormem ao sol

As sombras dormem ao sol,
Estendidas no chão.
Se levantam sonâmbulas e deambulam perdidas na noite.
Prendem-se aos corpos e giram sem asas, amarradas por cordas adiante dos passos.
Tingem de negro a terra e não deixam pegadas.
Derramam frescura no solo e se escondem do sol.
Empurram e abrem as portas sem chave.
Ficam à porta e sacodem os pés.
Tangidas por feixes, escorrem do telhado das casas e se espalham secas no chão.
Escrevem rabiscos e formas com ordem
E cavam buracos.
Sem óculos, tapam a cara e tingem de negro os olhos.
Semeiam sementes de sombras. Mesmo molhadas, morrem ao sol.
São e não são…

Ouvindo Pachelbel - Forest Garden
Berlim, 21 de Janeiro de 2018
9h25m
Jlmg

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O despertar da toupeira

Da minha janela, pela manhã,
Ponho-me a ver o despertar da toupeira, na encosta do monte,
No meio das urzes.
Bate-lhe o sol. Aí vem ela saindo da toca,
Regalada da cama.
Estrega os olhitos. Limpa as ramelas. Olha em redor.
Tudo nas calmas.
Lava a cara com a saliva quentinha.
Depois todo o corpo, onde chegam as patas.
Avança cautelosa, pelas veredas de terra.
Debica as folhitas mais verdes.
Come formigas.
E vai. Calmamente. Orelhitas no ar.
Há um gato vizinho.
Uma ameaça constante.
Passa um coelhito,
Nem olha pra ela.
Fica a mirá-lo e faz seu xi-xi.
Às tantas, lá vem a sua vizinha.
Pergunta-lhe pelos seus.
Quando pensa mudar.
A encosta de sempre já não é como era.
A pouco e pouco, está no topo do monte.
De lá vê-se tudo.
-hei-de pegar minhas trouxas e venho para cá.
Assim pensava a toupeira no caminho para a toca.

Berlim, 24 de Janeiro de 2018
8h44m
Jlmg

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Os astros

Pontinhos humildes.
Luzentes, ocultos.
Estáticos, ao alto.
Na realidade, gigantes.
A distância infinita os humilha.
Parecem inúteis.
São tantos.
Faúlhas latentes.
Tecem de luzes o céu das estrelas.
A ciência diz:
Correm velozes, calados,
Em órbitas imensas.
Um jogo de forças.
Equilíbrio total.
Aquele maior,
Que nasce e se põe
Nos longes da serra
E do mar,
Iluminando a terra,
Cobrindo-a de verde,
Quem diria,
É um deles.
O sol.
Controla ao redor,
Em harmonia total,
Com diversos tamanhos,
Uma dezena de
Bolas sem luz,
Será que têm vida?...

Berlim, 25 de Janeiro de 2018
10h39m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18235: Blogpoesia (549): "As escolinhas primárias", "Parado às dez...", e "Secaram as fontes", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18261: O Cancioneiro da Nossa Guerra (5): O hino dos "Unidos de Mampatá", a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74)



Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250/72 , Os Unidos de Mampatá (1972/74) > O repouso do guerreiro... O Zé Manel, ou o Josema (pesudónimo literário), "a reler o que havia escrito, numa pausa durante a protecção a uma coluna de Buba para Aldeia Formoso".
Fotos (e legendas): © José Mnauel Lopes  (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Nhala > 1974 > Foto nº 1 > Os "Unidos de Mampatá", CART 6250/72, em final de comissão, foram despedir-se dos "periquitos" de Nhala,  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74).


Guiné > Região de Tombali > Nhala > 1974 > Foto nº 2 Os "Unidos de Mampatá", CART 6250, em final de comissão, foram despedir-se dos "periquitos" de Nhala,  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74).

Comentário do António Carvalho (ex-fur mil enf, da CART 6250):

"Primeiramente devo manifestar a minha gratidão ao Murta, por ter guardado e nos ter proporcionado esta vista do regresso da nossa companhia a Bissau, via Nhala e Buba. As fotografias são muito interessantes, sob o ponto de vista da história da guerra do ultramar porque mostram a alegria transbordante pelo fim da comissão e a anarquia reinante com ausência de armamento, agora já imprestável naquele irrepetível tempo, posterior ao 25 de Abril. Para trás ficava Mampatá e a memória dos nossos dois mortos - o Mata e o Albuquerque. Eu já não me lembrava daquela paragem em Nhala que não terá sido só para atazanar os periquitos mas para retemperar energias com mais umas cervejas. Aquela viajem foi gloriosa também porque estávamos a inaugurar a estrada nova Aldeia Formosa- Buba, agora percorrida em menos de uma hora." (*)


Fotos (e legendas): © António Murta (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Continuamos o nosso projeto de reunir, numa só série (**), os versos e outros textos poéticos do nosso Cancioneiro, do "cancioneiro da nossa guerra"...

O "Hino dos Unidos", já aqui reproduzido há 10 anos,  data  muito provavelmente de princípios de 1974 (***). Segundo o José Manuel Lopes, produziram-se, no seu tempo, diversas letras que parodiavam fados, canções e baladas em voga. Primeiro escolhia-se uma música, e depois encaixava-se, muitas vezes a martelo (como é aqui o caso...), uma letra. Ele próprio foi autor de algumas letras que ficou de identificar, no "baú da casa da avó"... Havia também um furriel madeirense, da CART 6250/72.  que era um bom letrista...

Recorde-se que esta companhia, a CART 6250/72 [, não confundir com a CART 6250/73,] especializou-se em operações de segurança aos trabalhos de construção da estrada, que ia de Buba, Quebo, Mampatá, Cumbijã, Nhacobá, Salancaur, até ao corredor da morte... O José Manuel Lopes ("Josema") e os seus camaradas passaram dias e dias, semanas e semanas, meses e meses, a picar, a levantar minas, a montar segurança, a fazer emboscadas, a dormir e a comer na estrada, acompanhando a sua abertura, em direcção ao sul... Havia, portanto, tempo para tudo: desde o Leça que escrevia todos os dias areogramas para a sua amada, até ao Josema, que escrevia todos os dias um poema... (Infelizmente só chegaram até nós umas escassas seis dezenas, reproduzidas na série "O poemário do José Manuel").

Havia, por outro lado, três ou quatro camaradas que tinham jeito para a música e tocavam instrumentos (nomeadamente viola). Havia, inclusive, um baterista de um conjunto que na época teve algum sucesso em Portugal. Ele disse-me o nome, ao telefone, mas não fixei (***). Na época, eram, raros infelizmente os gravadores de som. Não haverá, por isso, muitos registos fonográficos deste "outro lado da guerra"... Há, comn certeza, memórias ainda vivas dessa produção poético-musical, que de resto temos vindo aqui a recolher e a divulgar...

Além do Cancioneiro de Mampatá, tenho outros,  espalhados pelos mais de 18 ,mil postes até agora publicados no nosso blogue. desde 2004: Cachil, Bafatá, Bambadinca, Bissau, Canjadude, Empada, Gandembel, Mansoa, Xime/Ponta do Inglês, Bedanda...

Estamos a fazer um esforço para "salvar",  "salvaguardar" e  divulgar outros mais, todos eles "pedaços da nossa memória" (, individual e coletiva).


2. O cancioneiro da nossa guerra > Hino da CART 6250/72 (Mampata, 1972/74)

Refrão

Sessenta e dois cinquenta,
Sessenta e dois cinquenta,
Sessenta e dois cinquenta,
Sessenta e dois cinquenta,
Sessenta e dois cinquenta,
Mampatá, patá, patá, patá,
Mampatá, Mampatá, Mampatá.

Andam bocas por aí
Que os Unidos só sabem piar,
Mas a realidade
É bem fácil de se provar.

Refrão

Deixai lá falar
E cumpramos o nosso lema,
Sempre Unidos cem por cento,
Venceremos para sempre.

Isto aqui é nosso,
É Mampatá, patá, patá, patá,
Mampatá, tá, tá, tá,
Mampatá, patá, patá, patá.

A protecção à estrada
Que os Unidos estão a fazer,
Basta p’ra provar
Qu’ aqui se trabalha a valer.

Refrão

Começámos sem ter lar
E já temos o nosso abrigo,
Esta é aquela máquina,
Só possível aos Unidos.

Refrão

Esta CART dos Reguilas,
Como alguém do outro lado lhe chamou,
Será sempre honrada
Como herói qu’aqui suou e lutou.

Refrão

Mampatá espera de nós
O Progresso e a promoção do seu povo,
Nós lhe prometemos
Que terá esse MUNDO NOVO!

Letra recolhida por José Manuel Lopes [Josema],
ex-fur mil da CART 6250 , "Os Unidos de Mampatá" (Mampatá, 1972/74)

Texto: © José Manuel Lopes (2008). Todos os direitos reservados. [ Edição / revisão / fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14277: A minha homenagem aos "Unidos de Mampatá" (CART 6250/72, Mampatá, 1972/74), António Carvalho, José Manuel Lopes (Josema) e Carlos Farinha... (António Murta, ex-alf mil inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

(...) Tenho duas fotografias, que anexo, de um momento importante da sua comissão na Guiné e que é, precisamente, o fim dela (comissão). Os rapazinhos estão de malas feitas e vão para a peluda. Foram a Nhala despedir-se e atazanar os periquitos locais.  Podem reconhecer-se também nas fotos o nosso poeta de Mampatá, José Manuel Lopes [, Josema,] e o Alfero Carlos Farinha, todos nossos Grã-Tabanqueiros. (...)

sábado, 27 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18261: O cancioneiro da nossa guerra (4): "o tango dos periquitos" ou o hino da revolta da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) (Silvino Oliveira / José Colaço)


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > 1964 >Abrigo "Cova do Comando" da CCAÇ 557 no Cachil. Alguém chamou a esta subunidade, que também participou na Op Tridente (jan/mar 1964), "a esquálida e esgroviada Companhia de Caçadores 557". Por detrás desta foto estão cinquenta e cinco dias a ração de combate, cerca sessenta dias sem mudar de roupa nem tomar banho, e com água racionada para beber

Legenda: a começar da esquerda para a direita o 1.º Cabo Enfermeiro Leiria; 1.º Cabo Radiotelegrafista Joaquim Robalo Dias; Dr. Rogério Leitão, que já partiu; atrás o 1.º Cabo Enfermeiro António Salvador, e por último, de quico, a sair do buraco, eu, Soldado de Transmissões José Colaço. mAs barbas com cerca de 90 dias. Os cabelos já tinham levado um corte para melhor se aguentar o calor. Aquela "divisória" entre o 1.º Cabo Dias e dr. Rogério, é uma cobra que durante a noite se lembrou de nos assaltar o abrigo e que só de manhã com a luz do dia foi detectada a um canto da cova. Foi condenada à morte pela catana de um milícia.

Foto (e legenda): © José Colaço (2015). Todos os direitos reservados. [Edição elegendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do  José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), fidelíssimo membro da nossa Tabanca Grande desde junho de 2008:


Data: 30 de dezembro de 2017 às 00:19
Assunto: Contribuição da CCaç 557 para o cancioneiro da Guiné

Caro Luís,  com ou sem razão todos nós sentimos por vezes discriminados e, no que toca às companhias ditas independentes [, caso da CCAÇ 557], eram um pouco os filhos do "vento".

E foi nesta base que o ex-1º cabo condutor rádio telegrafista Silvino Oliveira fez estes versos que eram cantados com adaptação da música "O amor do estudante".Para  mostrar a nossa insatisfação como eramos tratados a nível de comando das Companhias. a que estivemos adidos.

Para demonstrar a nossa  "revolta",  foi-se solidificando a ideia que no dia da despedida organizássemos uma marcha pelas ruas de Bafatá a cantar a nossa canção de despedida.

Mas com tudo isto quando se deu conhecimento ao capitão ele disse por outras palavras mais ou menos isto: "Não façam isso,  uma coisa é o que vocês cantam e dizem entre muros,  outra é a praça pública"... E  ficou sem efeito o acto de "provocação".

Mas mesmo que o nosso programa se mantivesse, ele ficaria sempre sem efeito porque a nossa saída de Bafatá foi bastante  atribulada: quando faltavam três dias para sairmos, o que nós considerávamos a peluda, já depois de termos entregue todo o material de guerra inclusive o fato camuflado, recebemos ordem  para levantar todo o material de guerra para ir para a última operação de dois dias... 

O regresso foi tudo à pressa, entregar novamente o material de guerra e tomar as camionetes Mercedes para Bambadinca e o barco, a Bor, estava já ancorado no cais para nos transportar até Bissau onde o paquete Niassa nos esperava, ancorado ao largo do cais de Pidjiguiti. por este motivo as despedidas pessoais de Bafatá e Bissau ficaram adiadas "sine dia".

Ao nosso administrador e editores se este hino de "revolta" em alguma parte fere os princípios do blogue estão à vontade para não publicar.

Um abraço, José Colaço.
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O Tango dos periquitos

[Com música de "Amores de estudante"]

I

Oficiais e soldados
Estão a ser embarcados
Por motivos esquisitos,
Não respeitam a velhice,
Estes montes de imundice
Que se chamam periquitos.
De avião fazem a guerra,
Mas quem anda por terra
No perigo se meterá,
Mais um louvor que surge
Para quem anda na 'babuge'
Dos velhinhos de Bafatá.

Coro

Queremos que chegue a bola,
Para corrermos Bafatá de cartola,
Para mostrar aos amigos periquitos
Que vamos embora
E ficam os periquitos.



II

Nas bolanhas traiçoeiras,
No capim e nas palmeiras,
O perigo nos espreita,
Com o tempo terminado
É triste ser mandado
Por semelhante seita,
Periquitos manhosos.
Como são vaidosos,
Quando abrem os bicos,
Necessito desabafar,
Por isso vou cantar
O tango dos periquitos.

III

Já estamos habituados
A ser enganados
Na nossa comissão,
Mas nunca previa
Que ainda surgia
Mais outro aldrabão,
Mas que grande periquito
Que em tudo se mete
Mas podes correr e saltar
Que nunca chegas aos calcanhares da 557.

Hino de "revolta",
 autor Silvino Oliveira,
ex-1º cabo condutor rádio telegrafista CCaç 557


Texto: © Silvino Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [ Edição / revisão / fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Último poste da série >  27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18259: O cancioneiro da nossa guerra (3): mais quatro letras, ao gosto popular alentejano, do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

Guiné 61/74 - P18260: Os nossos seres, saberes e lazeres (250): À sombra de um vulcão adormecido (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 7 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Havia um sentimento profundo subjacente a esta jornada açoriana, era uma autêntica peregrinação de saudade, sem detrimento do que sempre deslumbra cada vez que aqui se arriba. Um amigo franqueara as portas de sua casa em pleno Vale das Furnas, não havia que hesitar um local de encantamento, havia mesmo necessidade de passeios pedestres e de horas de recolhimento em leitura frutuosa. 
Em termos de saldo, só notas positivas, dentro da afabilidade até se voltou a visitar as estufas de ananás, cobertas de vidro caiado, com os seus alboios para regular a temperatura, de alguém a explicar as etapas sucessivas daquela morosa cultura, pois o ciclo completo dura 18 meses. 
E, como num passo de mágica, minutos depois fomos depositados no aeroporto. 
Adeus, até ao meu regresso. 

Um abraço do 
Mário


À sombra de um vulcão adormecido (5)

Beja Santos

O viandante tomou um autocarro (a “urbana”) e veio a Ponta Delgada, há amigos a visitar, sítios a rememorar, cabem dentro do termo da saudade. Esta fachada situa-se na Rua do Frias n.º 101, aqui viveu o último dos poetas do Orpheu, Armando Cortes Rodrigues, é hoje a sede do Instituto Cultural de Ponta Delgada. Aí para Fevereiro de 1968, o poeta convidou o viandante para jantar, recebeu-o numa indumentária excêntrica, volumoso, encantador, dotado de um vozeirão de sílabas soltas, canalizou a conversa para usos e costumes micaelenses, o poeta seguramente passará à história como grande etnógrafo, sem hesitações. À saída ofereceu dois livros, um deles impressionou muito o viandante, era a correspondência dele com Fernando Pessoa, foi através da leitura destas cartas que ficou a saber que o autor de "Mensagem" vivia permanentemente em apuros financeiros. Impossível deixar no limbo tal jantar e tal serão.



Era necessário vir fazer uma consulta no Arquivo e Biblioteca de Ponta Delgada, casa de grande conforto e com funcionários altamente prestáveis. Finda a leitura, preferiu-se a escada ao elevador, deparou-se esse painel de azulejos e, sabe-se lá porquê, lembrou-se o viandante do mar dos Açores.


Em frente à Biblioteca e ao Arquivo há um aprimorado jardim, tem no centro um monumento alegórico a Antero de Quental, o que naquele caso importava era visitar o jardim antes que desabasse uma carga de água. Atraído por tanta pétala no chão, desconhecedor do nome da árvore, perguntou ao jardineiro. “Senhor, é uma macaqueira”. Já procurou no dicionário, nada aparece para o esclarecer. O assunto também não tem importância, os dicionários também não trazem a palavra bagacina, o que é de todo incompreensível, bagacina é o que não falta por todo o solo açoriano. Saúde-se a macaqueira por nos oferecer este tapete digno de uma importante procissão.


O casco histórico de Ponta Delgada tem destas surpresas, aqui estacionou muita fidalguia, antiga do tempo dos povoadores e de extração mais recente, como o liberalismo. Diante destas armas, deu o viandante a meditar na fidalguia de caráter, a de grandes princípios, e pronto lhe veio à mente um nobre fidalgo republicano, Manuel Arriaga cujo civismo devia ser ministrado nos bancos da escola, o exemplo modelar de quem servia e não se servia, insensível às tentações do uso indigno do poder.


As últimas recordações vão para os Arrifes, sede do BII 18, sigla para o Batalhão Independente de Infantaria n.º 18, foi aqui que o viandante aterrou e deu duas recrutas, foi gerente de messe até ser despedido por ser sovina e estar indisponível para cavalarias altas, quem não tem dinheiro não tem vícios, se em Mafra descobrira que podia puxar pelo corpo e estava preparado para as futuras grandes canseiras, aqui descobriu, quase atónito, que saber liderar é um misto de ciência e dom e da prática de cuidar. Por isso sorria feliz, dava e recebia confiança, imbuído de respeito e aprendiz curioso destes padrões culturais que os recrutas transmitiam. Olhando estas fotografias, o que daria o viandante para abraçar estes homens, cinquenta anos depois.


Sabe-se lá por que escrutínio um dia foi chamado ao comandante e dada a ordem de preparar o discurso do juramento de bandeira, a parada repleta, os ilustríssimos convidados abancados na tribuna, os familiares em redor, era preciso dizer coisas como dever, amor à Pátria, e algo mais. Foi o que se tentou fazer, sem quaisquer cedências ao jargão propagandístico. De acordo com a opinião alheia, tudo correu bem e sem subserviência.


Os Arrifes eram uma freguesia populosa e com pobreza indisfarçável. Logo da primeira vez que esteve de oficial de dia, o cabo rancheiro perguntou se podia distribuir a sobra das batatas. O aspirante a oficial miliciano pediu explicações: “Estão lá fora as crianças que aqui vêm a esta hora, levam batata, ou massa, às vezes couves, são sobras e agora não temos aqui no quartel nem porcos nem galinhas”. Foi ver as crianças e tocou-lhe a sua candura e o olhar famélico. Mandou abrir latas de atum, distribuir pão e peças de fruta, conduta que lhe podia ter custado caro. A criançada saiu dali mais aconchegada, e ao fim do dia de instrução, prestes a regressar a Ponta Delgada, era sacramental perguntarem-lhe se amanhã não estaria de oficial de dia…



Última recruta, última fotografia de conjunto, a partir de agora o destino é incerto para todos nós, com este corpinho fomos todos parar à guerra. Prometemos um dia voltar à fala, o que não aconteceu. A importância, para o viandante, é olhar com ternura esta fotografia e o que ela encerra. E ponto final. E aqui acaba a viagem, mostra-se um bilhete-postal dos arrifes daquele tempo, o viandante mandou à sua mãe, fala de alegria, de boa saúde e de muito entusiasmo. Alegria e entusiasmo que tanto o ajudaram ao longo da vida.
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18232: Os nossos seres, saberes e lazeres (249): À sombra de um vulcão adormecido (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18259: O cancioneiro da nossa guerra (3): mais quatro letras, ao gosto popular alentejano, do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) > A bordo do T/T Uíge que levou o pessoal até Bissau, em maio de 1969: os fur mil  Edmundo Santos, à esquerda, e o Mário Pinto, à direita. Foto do álbum do Mário Pinto, reproduzido aqui com a devida vénia.


Foto: © Mário Pinto (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




A comissão na Guiné


A comissão na Guiné,
tão custosa e dolorida,
nunca nos faltou a fé
de regressarmos com vida.


Graças à nossa unidade,
transpondo qualquer maré,
não se esquece, na verdade,
a comissão na Guiné.

Deixar a vida civil
foi difícil à partida
entrar numa guerra hostil,
tão custosa e dolorida.

Ter firmeza no andar,
saber onde pôr o pé,
pensar em poder voltar,
nunca nos faltou a fé.

Lutar no mato foi duro,
não havia outra saída,
senão pensar no futuro,
de regressarmos com vida.


Saídos de Bissau, com rumo ao sul


Saídos de Bissau, com rumo ao sul,
embarcámos numa lancha da marinha,
sulcámos águas calmas, céu azul
e chegámos a Buba já noitinha.

Assentou-se arraial nesse quartel
e algum tempo tivemos de ficar,
foi-nos dada a missão e o papel
de fazer segurança e patrulhar.

Depois de Buba, a nossa companhia
foi destacada para ir p´ra Mampatá,
a coluna militar onde seguia,
sofreu vários ataques até lá.

Nesse local estivemos vinte meses
até findar a nossa comissão,
lutámos e sofremos muitas vezes
em nome de um país, de uma nação.

O regresso a Lisboa já não tarda,
deixámos a Guiné, missão cumprida,
é a esperança no futuro que se aguarda
e que nos faz voltar de novo á vida.


Quem me dera que esta guerra

Quem me dera que esta guerra,
Por que estamos a passar,
Pois todo o mal que ela encerra,
Faz-nos sofrer e pensar.
Quem me dera que esta guerra
Pudesse um dia acabar.

Quem me dera não ser alvo
Do perigo que nos espreita,
Procuro estar são e salvo
E de saúde perfeita.
Quem me dera não ser alvo
De apanhar qualquer maleita.

Quem me dera regressar
na posse dos meus sentidos
e o futuro desenhar
em vários tons coloridos.
Quem me dera regressar
p´ra abraçar os entes queridos.
Quem me dera que acabasse
o regime em Portugal
e um governo se instalasse
de salvação nacional.
Quem me dera que acabasse
a guerra colonial.

Quando saímos p'ro mato


Quando saímos p´ro mato,
Há uma tristeza,
É sempre um momento ingrato
E de incerteza,
O perigo espreita
E a malta suspeita
Que haja emboscada.
Devemos estar atentos,
Ver os movimentos
Em toda a picada.

É em Mampatá
que fica o quartel,
dá-nos confiança,
também segurança
e um certo bem estar.

A malta dirá
de modo fiel
que não te esquecemos,
decerto teremos
algo a recordar.

Toda a nossa companhia
foi destemida,
não nos faltou valentia,
logo á partida
não mostrar receio

Talvez fosse o meio,
eficaz e forte,
e reconhecer
p´ra sobreviver
foi preciso sorte



Texto: © Edmundo Santos (2017). Todos os direitos reservados. [ Edição / revisão / fixação de texto: .Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Mário [Gaulter Rodrigues] Pinto:

Data: 18 de novembro de 2017 às 13:45
Assunto: Novos versos alusivos à nossa comissão na Guiné

Caro Luis:

Recebi este e-mail do meu camarada e amigo Edmundo, com  uns versos recentes que fez,  como explica. Uma vez que fala de um telefonema que com ele tiveste, e não sabendo se os mesmos te foram enviados,  aqui os envio com a aprovação do Edmundo.

Um abraço

Mário Pinto
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Mensagem do Edemundo Santos, [novembro de 2017]

Amigo Mário Pinto;

Votos sinceros de melhorias na tua saúde e na da tua esposa. Felizmente eu e a minha mulher cá vamos andando bem.

Estou a escrever-te e a enviar-te uns versos que fiz, antes do almoço que eu e o José Ramos organizámos em Benavente. Um deles foi cantado depois do almoço, para além daqueles dois que tu já fizeste o favor de publicar no Blogue dos Morcegos de Mampatá ( "Fado da Metralha" e " Estou farto deles tirem-me daqui" ).

Há um indivíduo que me telefonou na semana passada, que é o [Luís] Graça,  e me perguntou se eu tinha versos para publicar e eu disse-lhe que tinha feito estes, que te estou a enviar, por ocasião do último almoço em Benavente.

São letras simples que eu adaptei a algumas músicas de fado. Vão em primeira mão e espero que sejam do teu agrado.

Um abraço do Edmundo


2. Nota do editor LG:

Mais um contributo para "o cancioneiro da nossa guerra"...  Já aqui falámos do Edmundo Santos, fur mil da CART 2519, "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosda e Mampatá, 1969/71) (*).  Estive, em novembro último, à fala com ele, através do telemóvel.  Mandou-me, por intermédio  do seu amigo e camarada Mário Pinto, mais uns versos, ao gosto popular alentejano, que ficam bem no "cancioneiro de Mampatá".  Os versos não traziam título. O Edmundo e o Mário têm sido alguns dos dinamizadores dos convívios anuais do pessoal da CART 2519, também conhecidos por "Os Coirões de Mampatá".

Reforço aqui o meu convite para o Edmundo passar a integrar a nossa Tabanca Grande. Lisboeta, reformado, vive em Pedrógão Grande. O nosso obrigado ao Mário Pinto.

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Nota do editor:

(*) Vd. os dois primeirso postes da nova série:

8 de novembro de  2017> Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha

30 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17811: O cancioneiro da nossa guerra (1): "Asssim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude"... 4 dezenas de quadras populares, do açoriano Eduardo Manuel Simas, ex-sold at inf, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74


Guiné 61/74 - P18258: Parabéns a você (1383): Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Escriturário - BA 12 (Guiné, 1967/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18254: Parabéns a você (1382): Fernando Macedo, ex-1.º Cabo Apont Art do 5.º Pel Art (Guiné, 1971/72)

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18257: Memória dos lugares (372): Cachil, na altura da extinção do aquartelamento, em 1 de julho de 1968 (Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, CCAÇ 1620, Bissau, Cameconde, Cacine, Sangonhá, Cacoca, Cachil e Bolama, 1966/68)


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 1: posto de vigia


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 1A: posto de vigia


 Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 1B: posto de vigia


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 2:  instalações


 Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 2A:  instalações


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 2B:  instalações... "grafitadas"...


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 3:  1 de julho, retração do aquartelamento


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 3A:  1 de julho, retração do aquartelamento. O fur mil Manuel Cibrão Guimarães à direita


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 3B:  1 de julho, retração do aquartelamento. O fur mil Manuel Cibrão Guimarães à direita


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 4:  1 de julho,  partida


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 4A:  1 de julho,  partida


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 4B:  1 de julho,  partida.


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 5:  1 de julho,  partida


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 5A:  1 de julho,  partida


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 5B:  1 de julho,  partida


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Em 20 de março de 1968, por troca com a CCAÇ 1621, assumiu a responsabilidade do subsector de Cachil, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BART 1913, tendo entretanto, cedido um Grupo de Combate para reforço de forças daquele batalhão em operações, de 22 de março a 27 de abril de 1968.  

Em 1 de julho de 1968, por retirada das forças aquarteladas em Cachil e consequente extinção do subsector, a CCAÇ 1620 recolheu a Bolama, onde permaneceu até ao embarque de regresso, no T/T Uíge. A ordem de retirada (e consequente destruição) do aquartelamento foi dada por Spínola, que esteve no local quinze dias antes. De há muito que o Cachil não oferecia condições para a permanências das NT: por exemplo, não havia água potável; o abastecimento era feito a partir de Catió, através de uma lancha, que vinha num dia, na maré-cheia, e só podia regressar no dia seguinte...

Fotos (e legendas): © Manuel Cibrão Guimarães (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, de 22 do corrente, do novo membro da
Manuel Cibrão Guimarães:
 vive em Rio Tinto, Gondomar
Tabanca Grande, nº 766, Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, da CCAÇ 1620 (Bissau, Cameconde, Cacine, Sangonhá, Cacoca, Cachil e Bolama, 1966/68):

Caros colegas,
Espero que esteja tudo bem convosco.

Conforme vosso pedido, envio em anexo fotos com identificação dos locais [Sangonhá, Cacine e  Cachil] em que foram tiradas.

As fotos no Cachil são do momento da extinção do aquartelamento [, em 1 de julho de 1968, já no tempo de Spínola] (*).

Grato pela postagem de fotos no blog!

Um abraço,

Manuel Cibrão Guimarães

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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P18256: Agenda cultural (624): Vamos apoiar a música guineense: Mamadu Baio (e convidados, entre eles João Graça), na 8ª edição do Mundo Mestiço, Lisboa, "Titanic Sur Mer", Cais do Sodré, dia 3 de fevereiro, sábado


Mamadu Baio, foto da época em que era o líder dos "Super Camarimba"... Foto do Facebook do artista.


Mamadu Baio. Foto do Facebook do artista.


Amadora, Alfragide > 21 de janeiro de 2014 > Mamadu Baio em casa do nosso editor, Luís Graça. em dia de anos do João Graça. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís GRaça & Canaradas da Guiné]



Mamadu Baio (em segundo plano, à direita) e amigos (João Graça, à esquerda), em sessão de ensaio, para o espetáculo da 8ª edição do Mundo Mestiço (3 de fevereiro de 2018). Foto: cortesia de Aluísio Neves / Mamadu Baio (2018)




1. O nosso grã-tabanqueiro nº 642,  Mamadu Baio, originário da tabanca de Tabató (, região de Bafatá, Guiné-Bissau), vai atuar no "Titanic Sur Mer", no Cais do Sodré, em Lisboa, no dia 3 de fevereiro... O Mamadu Baio (voz e viola) é um talentoso músico do género afro-jazz e afro-mandinga... Tem, pelo menos,  dois amigos  convidados para essa noite: João Graça (violino) e, se não erro,  Ibo Galissá (kora) (nome a confirmar)...

O nosso bogue apoia os músicos guineenses. E, para mais,  os que integram a nossa Tabanca Grande ("onde todos cabemos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos pode separar") Sábado, dia 3, o nosso editor Luís Graça lá estará no "Titanic Sur Mer" e gostava de lá ver mais amigos e camaradas, fãs da música guineense.

Recorde-se aqui que o João Graça, membro da nossa Tabanca Grande e elemento da banda musical portuguesa Melech Mechaya, conheceu, em finais de 2009, a mítica Tabatô (que é, na Guiné-Bissau, a tabanca que tem mais músicos por metro quadrado) bem como os Super Camarimba, de que o Mamadu Baio faz(ia) parte. O Mamadu é hoje cidadão português, por casamento, e pai de um menino adorável chamado Malick.



Programa da 8ª edição do Mundo Mestiço, cujo nome de cartaz são os Irmãos Makossa: Participação de Yaaba FunK (Gana / UK), Mamadu Baio (Guiné-Bissau), Silvino Branca y  Banda (Cabo Verde), Irmãos Makossa (Angola / Itália) e Guerrilha Soundsystem (Portugal)

Titanic Sur Mer > Cais da Ribeira Nova , Armazém B. Cais do Sodré, Lisboa

Horário: das 23h00 às 6h00

Telefone: 938 833 532

{Sobre o novo espaço Titanic Sur Mer, vd artigo do Público >  Fugas, de 20/2/2016)


2. Notícia transcrita, com a devida vénia, da página do Facebook Mundo Mestiço:

Mundo Mestiço #08 - Irmãos Makossa 10 anos

Mundo Mestiço apresenta “Irmãos Makossa – 10 anos”

A oitava edição do Mundo Mestiço está marcada para dia 3 de Fevereiro, como habitualmente terá lugar no Titanic Sur Mer e início agendado para as 23 horas, e será inteiramente dedicada à celebração dos 10 anos de carreira dos Irmãos Makossa.

Produzido pela Ritmo e Cultura,  o Mundo Mestiço, que celebrou no passado mês o seu primeiro aniversário, é o resultado miscigenado de uma experiência rica em ritmos, batidas e melodias. A celebração de um ideal. O ideal de um mundo livre. A apologia da diversidade e da mistura.

Depois de terem sido cabeças de cartaz da sexta edição, os Irmãos Makossa estão de volta ao evento que desta vez conta também com os apoios da Antena 3, do Largo Residências, do restaurante Pizzeria Mezzogiorno e da Afromats.

Esta dupla ítalo-angolana é referência incontornável na partilha da música africana, no seu todo, mas com particular destaque para a africanidade da década de 70. Os Dj sets dos Irmãos Makossa são a história de uma viagem por África e da foma como o continente influenciou o mundo musical, contada pela música extraída dos vinis que preenchem as suas malas e prateleiras apinhadas de cd’s.

Nesta década os Irmãos Makossa lotaram salas de espetáculo do norte a sul do país, ilhas e estrangeiro. De botecos a festivais, dos concertos na rua a sessões nas maiores rádios e editoras nacionais, onde quer que haja uma oportunidade, lá estão eles a girar discos e celebrar com muita alegria e ritmos quentes, uma das coisas que África tem de melhor, a Música nos estilos Afrobeat, Afrofunk, Soukous, Chimurenga, Rebita, Ethio Jazz e Afro Rock.

Os Irmãos Makossa não estarão sozinhos nesta comemoração. A noite será abrilhantada com as atuações de Yaaba Funk, Mamadu Baio, Silvino Branca e Guerrilha SOUND System.

De Londres, Reino Unido, chegam-nos os Yaaba Funk, um grupo com tendências tão ecléticas que conjuga jazz, funk, e claro, ritmos africanos. O seu segundo álbum “My Vote Dey Count”,  lançado na primavera de 2014,  recebeu muito boas críticas de praticamente toda a imprensa inglesa e foi considerado o melhor algum do mês de Junho pelos utilizadores da World Music Network.

O Guineense Mamadu Baio teve o seu primeiro álbum de originais “Silá Djanhara” apadrinhado por Salif Keita, e desde então tem apresentado o seu trabalho em diversos festivais em Portugal, casas da cultura e encontros de artistas guineenses.

Da Ilha de Santiago em Cabo Verde vem Silvino Branca, uma figura importante do funaná moderno. Os seus dedos conhecem a gaita desde os 7 anos de idade, resultando em música (ainda) mais rápida, com mudanças mais bruscas e um hipnotismo mais óbvio, largando as letras e referências a tempos com pobreza, seca e perseguição, vividos pela geração anterior e assim nasce o Cotxi Pó. Silvino Branca chegou há cerca de três anos a Portugal, Oeiras,  e tem uma banda explosiva com toda a velocidade e poder do funaná mais puro com esta nova visão nascida nos guetos de Cabo Verde.

Guerrilha SOUND System vem espalhar momentos de pura folia através dos seus ritmos afro-tropicais, que integram a vasta bagagem musical da dupla Guilherme Macedo & Walter Martins. Uma mestiça sonoridade com raízes africanas e afro-latinas que promete incendiar as pistas de dança de Lisboa e do resto do mundo com grooves calorosos e contagiantes.

Do Samba ao Semba, do Kuduro ao Funaná, do Funk ao Afrobeat, da Cumbia à Salsa, do Forró ao Merengue, uma viagem musical que não deixa ninguém indiferente.

Embarca dia 3 de fevereiro no Titanic Sur Mer e torna-te parte integrante da tripulação do oitavo cruzeiro ao Mundo Mestiço!

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de dezembro de 2017 >  Guiné 61/74 - P18131: Agenda cultural (623): Dois grandes concertos dos 'Melech Mechaya', a banda musical a que pertence o nosso grã-tabanqueiro João Graça: em Lisboa, no Tivoli, dia 27, 4ª feira; no Porto, Casa da Música, a 29, 6ª feira ( já esgotado este último concerto)