sexta-feira, 27 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18567: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXIX: As minhas estadias por Bissau: (i) a chegada do T/T Timor com o pessoal do meu batalhão, em 3 de outubro de 1967


Guiné > Bissau > 3 de outubro de 1967 >  Foto nº 1 > Chegada do navio Timor de T/T (Transporte de Tropas) ao Porto de Bissau, no dia 3 de outubro de 1967, trazendo a bordo cerca de 700 militares, sendo a CCS, CCAÇ 1790, CCAÇ 1791 do BCAÇ 1933, e mais duas Companhias de Infantaria do BCAÇ 1932.


Guiné > Bissau > 3 de outubro de 1967 > Foto nº 5 > Chegada do navio T/T Timor ao cais de Bissau, e desembarque das tropas do BAÇ 1933. Eu estava lá porque já tinha chegado de avião em 21set67, por isso fiz estas poucas fotos, ainda sem grande experiência.


Guiné > Bissau > 2 de outubro de 1967 > Foto nº 19 > Vista da marginal e cidade, alguns edifícios oficiais militares. Após a independência da Guiné, ali se localizaram alguns Ministérios, cheguei a estar lá no Ministério das Finanças em 1984 na minha primeira visita, pós-independência, em reunião de negócios com o Ministro das Finanças do Governo de 'Nino' Vieira, formado na mesma faculdade de Economia do Porto, a mesma em que me licenciei, mas nunca o tinha conhecido antes. Esta foto foi tirada dentro do porto e do cais de embarque. Bissau, 02outT67.


Guiné > Bissau > 3 de outubro de 1967 > Foto nº 3 > A bordo do T/T Timor, um tripulante negro, junto ao barco salva vidas; ao longe o Rio Geba e o ilhéu do Rei.


Guiné > Bissau > 3 de outubro de 1967 > Foto nº 6 > Eu, a ver a chegada do navio T/T Timor ao Porto de Bissau, tendo como horizonte o cais, o rio, as aves.


Guiné > Bissau > 2 de outubro de 1967 > Foto nº 7  > Aguardando a chegada do navio T/ T Timor, tendo como pano de fundo o ilhéu do Rei, o estuário do rio Geba, o cais... Foto tirada em 2out67.


Guiné > Bissau > c. 28 ou 30 setembro de 1967 > 2 – Uma das primeiras fotografias que captei em Bissau na Guiné e as primeiras da minha vida até esta data. Trata-se do cais, um navio T/T a carregar ou descarregar tropas, barcos ao largo, podendo  ser LDP ou LDM, ou barcaças civis. A foz do Rio Geba, ao longe pode ver-se o ilhéu do Rei.. Foto tirada  entre 28 a 30 set 67.


Guiné > Bissau > 3 de outubro de 1967 > Foto nº 8 > No interior do navio T/T Timor, quando recebi a minha arma G3, exibindo-a com grande orgulho.

Guiné > Bissau >  CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotohgráfico do Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue:

Mensagem de 24 do corrente:




Caro Luís,

Conforme te disse ontem, tenho pronta outra reportagem sobre o Tema - As minhas estadias em Bissau - Parte i.

É um ficheiro com 79 fotos, variadas e algumas de algum interesse, mostrar Bissau a muita gente que nunca conheceu.

Eu tenho de ir agrupando por temas, embora muitas fotos estejam noutros temas e são em Bissau também, como é o caso das reportagens de Tomaz e Caetano e outras, como o render da guarda do governador, etc.

Depois como tenho tantas, sem temas específicos, vou juntando num ficheiro, talvez com um numero exagerado, mas só se aproveita as que interessam. Para mim, eu vou fazendo o meu arquivo definitivo, e vou arrumando assim as coisas, senão perco-me.

As fotos estão numeradas, não estão por ordem cronológica, apenas por anos, 67, 68, 69. e em cada uma tem o seu número e um resumo de que se trata, a data, quer seja o dia, o mês ou apenas o ano, conforme aquilo que sei.

Depois temos o relatório da Legendagem, um pouco de história da unidade, o enquadramento do território onde estamos, os aspectos militares e de logística, e uma descrição, foto a foto, mais discriminada, com as datas, e algumas explicações, juntando um pouco de histórias que me lembro.
Esta legendagem tem duas partes:

(i) A primeira com 12 páginas, que diz respeito às fotos em si, e ao local das mesmas. Está livre para publicação; Nem sempre sou politicamente correcto, mas penso não haverá nada que incomode muita gente.

(ii) A segunda parte, da pag 12 a pag 31, são alguns 'excertos' daquilo a que chamo o meu livro, não publicado. Pedia o especial favor de veres se tem interesse e é oportuno meter estas partes incertas do livro. Eu não tenho opinião, pedia-te a ti na qualidade de sociólogo, dares uma olhada e ver se interessa ou não ocupar o blogue com 'tretas' que só me dizem respeito. 

Eu não ponho obstáculos, e acho que já fiz algumas alterações para retirar do 'original' algo que possa chocar, e para 'preservar a minha intimidade e a minha vida e família' . Isto entra nas redes sociais, e quem quiser terá sempre acessos a pormenores que podem não me interessar. Eu tenho de ser mais cuidadoso, é por isso que peço este favor. Eu não tenho interesse especial em que estejam a ler aquilo que ainda ninguém leu, é uma escrita sem pretensões, e que sai ao sabor do meu pensamento, poucos elementos utilizei para escrever, quase tudo está cá metido no 'disco rígido'.

Fica portanto à tua consideração, e até pode ser chato demais escrever coisas que a maioria não lhe interessa. No Poste de Nova Lamego, eu até escrevi demais, foram muitas páginas que juntei. Isto é apenas um resumo de cerca de 400 páginas escritas sobre a Guiné apenas, e ainda falta o serviço militar aqui até à data de embarque. Também lá iremos um dia.

Vou enviar agora,
Um Bom Dia da Liberdadel
Virgilio Teixeira
24-04-2018

2. Gniné 1967/69 - Álbum de Temas: T031 – Bissau - Parte 1

Anotações e Introdução ao tema:

Legendas e Anotações

- AS MINHAS ESTADIAS POR BISSAU

Alguns elementos retirados da História da Unidade, sendo na sua maioria a experiência e conhecimento pessoal:

1 – O autor embarcou em Figo Maduro no dia 20 Set 67 pelas 8,00 horas, num avião militar Douglas DC6 da Força Aérea Portuguesa, juntamente com mais 6 outros militares, nos quais se incluía o Comandante Tenente Coronel de Infantaria Armando Vasco de Campos Saraiva. Desembarcou em Bissau 24 horas depois, no dia 21 Set 67. Regressou definitivamente no navio T/T UIGE, em 4 OUT 69. Passou à disponibilidade em 3 SET 69, pelo RI15 de Tomar.

2 – A sua Unidade Operacional - BCAÇ1933 desembarcou em 03OUT67, deslocou-se para Brá, e às 4H00 embarcou numa lancha com destino a Bambadinca, onde chegou às 15H, e de coluna auto para NL tendo chegado por volta das 18H, já quase noite.

3 – Esta reportagem pretende focar apenas a cidade e arredores de Bissau, as suas várias escapadelas, outras deslocações em serviço, as vivências e acima de tudo as loucuras da juventude, por esta cidade-capital, que, apesar de tudo, ficou marcada para o resto da vida.

4 – As fotos e comentários que são feitos, são apenas de memória, o que veio à cabeça, e por consulta a vários elementos escritos, em especial aquilo que está escrito nas fotos.

5 – Vou chamar-lhe “As minhas Estadias por Bissau”

6 – Num ambiente de guerra isto pode até parecer uma viagem de fim de curso, mas não é.

7 – Deixo para a futura reportagem ‘Bissau – Parte II’ e aí sim, vou dar-lhe um nome sonante: “As minhas férias na Guiné” que engloba tudo, Bissau, Nova Lamego e São Domingos, incluindo os aquartelamentos de Cacheu, Susana e as praias de Varela.

(Continua)
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Guiné 61/74 - P18566: Parabéns a você (1426): Coronel DFA Ref Hugo Guerra, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 55 (Guiné, 1968/70) e Humberto Nunes, ex-Alf Mil Art, CMDT do 23.º Pel Art (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18555: Parabéns a você (1425): David Guimarães, ex-Fur Mil Art MA da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18565: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 43 ("A minha úlcera") e 44 ("Biafadas ou balantas ?")









Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > 1973 > Mães biafadas, esbeltas, de olhar desafiador...

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar): Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à esquerda] (*)

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje), tendo sido criado pela avó materna;

(ii) trabalahou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade;  foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(iv) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;

(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.

Sinopse:


(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vi) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM parea Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(vii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(viii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";

(ix) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(x) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xi) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogram as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xii) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xiii) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xiv) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xv) começa a colaborar no jornal da unidade (dirirido pelo alf mil Jor Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;

(xvi) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. capº 34º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;

(xvii) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda: manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada;

(xviii) em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xix) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas.


2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 43 e 44



[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]


43º Capítulo  > A ÚLCERA

“Não é úlcera que tenho no estômago. Segundo o médico é uma gastrite e diz ele que não é tão perigoso, basta beber leite e tomar um medicamento que me deu. Fiquei confuso porque no livro que me deram, O Médico em Casa, indica que os sintomas são de uma úlcera. Tenho de fazer dieta. Já tinha deixado há dias de beber bebidas alcoólicas e como a dieta aqui é difícil de fazer o que me safa é que bebo muito leite condensado.

O médico que costuma vir de 15 em 15 dias e ir para outro lado, vai estar aqui exactamente 15 dias, acho que desta vez trouxe xarope e comprimidos, de maneira que tanto eu como os meus colegas que estamos doentes talvez melhoremos um pouco.

Uma coisa que aqui faz falta é vitaminas pois é difícil comer vegetais dado que não há hortaliça, no entanto também temos agora um xarope de vitaminas, é muito possível que em breve comecemos a andar todos porreiros”.


Este pequeno parágrafo que reli fez-me vir à memória que apenas em 1995 deixei de sofrer do estômago e tudo graças a um excelente gastrenterologista que, ao ver-me tomar um antiácido durante uma reparação que efectuei no seu carro, fez questão que eu realizasse vários exames, onde me foi diagnosticado o H. Pilori. Após algum tempo de tratamento, melhorei consideravelmente, até hoje.

Quero dizer-lhes que só no meu regresso definitivo é que dei baixa ao hospital militar. Já depois do 25 de Abril de 1974, e durante três semanas sem que lá estive, continuaram apenas a dar-me antiácidos. Fugi de lá, dando-me apto para todo o serviço militar. Nem repararam que já o tinha cumprido. Foi nessa altura que me perderam. Descansem. O Abreu encontrou-me em 1975

Foram mais de vinte anos que, por negligência e estupidez da classe médica, tanto militar como depois da civil, eu e muitos outros que viemos da Guiné com algumas doenças passámos um mau bocado. O laboratório que fabrica o Phosphalugel deve estar bem contente comigo. Gastei centenas de caixas dessa porcaria.


44º Capítulo  > BIAFADAS OU BALANTAS?

E de repente…

“Meu bem quero escrever uma série de coisas sobre este povo da Guiné, mas só o conseguirei fazer se alguém gostar do que escrevo de maneira que pergunto-te se gostarás de saber os usos e costumes dos negros que aqui vivem? A minha intenção é a de mais tarde quando eu quiser, por aquilo que escrevo, posso explicar aos amigos como é esta gente e como vivem. Manda-me dizer se não te aborrecerá ler alguma coisa disso. Eu podia escrever e guardar aqui os manuscritos mas tentei e não tenho o mesmo entusiasmo, por isso depois de escrever o 1º artigo se me encorajares a fazer mais talvez faça um diário da minha vida na Guiné para mostrar aos nossos filhos o que foi a minha comissão. Diz-me então o que pensas.

Em algumas conversas ouvi comentar que no local onde estou, Fulacunda, a Maioria da população são Biafadas mas também dizem que são Balantas. Vou informar-me melhor.

Amanhã há mais uma operação no mato pelos meus camaradas. Agora estamos sempre em sobressalto”.


Será que fiz mesmo isso? Se o fiz, e por aquilo que escrevi e que reli até agora, onde demonstro poucos conhecimentos, de certeza que meti os pés pelas mãos.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18564: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (8): até o início do dia de hoje, tínhamos 111 inscrições.. O prazo termina na segunda-feira, dia 30, às 24h00... Camarada, amigo, camarigo: vamos comemorar juntos os 14 anos de existência do blogue, ou sejam, 7 comissões na Guiné... Inscrições através do Carlos Vinhal: telem: 916 032 220; email: carlos.vinhal@gmail.com


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > Foto de família no ano em que fizemos o pleno (200 inscrições)

Foto: © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e kegendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Camaradas, amigos, camarigos:

O XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, está em marcha: já atingimos as 111 inscrições, mas ainda temos 89 lugares: a lotação máxima da sala Dom Dinis, do Palace Hotel Monte Real são 200 (20 mesas de 10 lugares cada).

Vamos também comemorar, este ano, os 14 anos de existência do nosso blogue.

Vocês são capazes de imaginar o que são 14 anos a blogar ? Vistam o camuflado, pegam na G3, dois cantis de água, quatro granadas à cintura, oito carregadores de 20 munições de 7.62 mm, um frasco de uísque, dois maços de cigarros, uma ou duas tabletes de chocolate, umas nozes de cola, nada de rações de combate... e voltem à Guiné... Para fazer 7 (sete) comissões!...

14 anos a blogar são:

(i) mais de 18550 postes;
(ii) 10,4 milhões de visitas;
(iii) 772 membros (registados) da Tabanca Grande;
(iv) um espólio fotográfico imenso (a caminho dos 100 mil documentos);
(v) muitas memórias e emoções partilhadas;
(vi) a recusa de toda uma geração em "morrer e ir parar à vala comum do esquecimento";
(vii) muitas horas de bom e são convívio nas nossas diversas tabancas (Tabanca Grande, Tabanca Pequena de Matosinhos, Tabanca do Centro, Magnífica Tabanca da Linha, Tabanca dos Melros, Tabanca da Maia, etc.):
(viii) enfim, fizemos da Guiné um traço de união e a base de muita amizade e camaradagem...

É tudo isso, e que não é pouco, que queremos partilhar contigo, camarada, amigo, camarigo, que ainda não te inscreveste no nosso encontro deste ano, o XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande!... Aproveita, camarada, porque "no céu não há disto", parafraseando o meu pai, Luís Henriques (1920-2012), que foi expedicionário em Cabo Verde, em 1941-1943, em plena II Guerra Mundial... Ele foi dos últimos a deixar de ir aos convívios anuais do seu batalhão, no RI 5, nas Caldas da Raínha...

Eu podia enumerar 10 razões, para tu, camarada, amigo, camarigo, não perderes o nosso convívio deste ano... A mais importante é que... não vamos durar toda a vida!... E, se és membro da Tabanca Grande, e te sentas à sombra do nosso poilão, tens a "obrigação" (moral) de vir a Monte Real... pelo menos uma vez na vida!...

Se não puderes vir  (por razões, compreensíveis, de saúde, económicas, de conflito de agenda, de dificuldades de transporte, por viveres longe ou só, ou por já não conduzires nem tens boleia, etc.), peço que divulgues a notícia entre os teus contactos ou na tua página do Facebook.E faz prova de vida, respondendo aos emails, de modo a podermos confirmar o teu endereço de correio atual.

Nem todos já leem o nosso blogue com regularidade. E muitos dos nossos endereços de email estão desatualizados... Não podemos fazer chegar a notícia a todos... Os que puderam vir, serão recebidos de braços abertos, como sempre, a partir das 10 horas de sábado, dia 5 de maio, no Palace Hotel de Monte Real... Comissão organizadora, a do costume: Carlos Vinhal, Joaquim Mexia Alves, Luís Graça, Miguel Pessoa.

Ainda podes fazer a tua inscrição, através do Carlos Vinhal, 
até às 24h00 do dia 30 de abril, segunda feira:

telem: 916 032 220
Até logo, até sempre. O editor, Luís Graça

LISTA DOS PRIMEIROS 111 INSCRITOS NO XIII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE, MONTE REAL, SÁBADO, 5 DE MAIO DE 2018

Abel Santos - Leça da Palmeira / Matosinhos
Agostinho Gaspar - Leiria
António Acílio Azevedo & Irene - Leça da Palmeira / Matosinhos
António Bonito - Carapinheira / Montemor-o-Velho
António Estácio - Algueirão / Sintra
António Graça de Abreu - S. Pedro de Estoril / Cascais
António João Sampaio e Maria Clara - Leça da Palmeira / Matosinhos
António Joaquim Alves - Malveira / Mafra
António José Pereira da Costa & Isabel - Mem Martins / Sintra
António Maria Silva e Maria de Lurdes - Sintra
António Mário Leitão - Ponte de Lima
António Martins de Matos - Lisboa
António Mendes - Carapinheira / Montemor-o-Velho
António Pimenta - Carapinheira / Montemor-o-Velho
António Tavares - Foz do Douro / Porto
Apolino Freitas e Fátima Barros - Trofa
Armando Oliveira - Vila Nova de Gaia
Armando Pires - Algés / Oeiras
Arménio Santos - Lisboa

C. Martins - Penamacor
Carlos Cabral & Judite - Pampilhosa
Carlos Cruz, Irene, Paulo, Ana Cristina e Pedro - Lisboa
Carlos Pinheiro - Torres Novas
Carlos Vinhal & Dina Vinhal - Leça da Palmeira / Matosinhos

David Guimarães & Lígia - Espinho
Diamantino Ferreira e Emília - Leiria
Diamantino Varrasquinho e Maria José - Vidigueira

Eduardo Magalhães Ribeiro e Carlos Mota Ribeiro - Porto
Ernestino Caniço - Tomar

Fernando Sousa e Maria Barros - Trofa

Hernâni Alves da Silva & Branca - Vila Nova de Gaia

Idálio Reis - Sete-Fontes / Cantanhede
Isolino Silva Gomes e Júlia - Porto

Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel
Joaquim Mendes Teixeira e Maria Emília - Guilhabreu / Vila do Conde
Joaquim Mexia Alves - Monte Real / Leiria
Jorge Araújo e Maria João - Almada
Jorge Cabral - Lisboa
Jorge Canhão & Maria de Lurdes - Oeiras
Jorge Picado - Ílhavo
Jorge Pinto & Ana - Sintra
Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais
Jorge Teixeira - Porto
José Almeida e Maria Antónia - Viana do Castelo
José Barros Rocha - Penafiel
José Casimiro Carvalho - Maia
José Eduardo Oliveira - Alcobaça
José Ferreira - Crestuma / Vila Nova de Gaia
José Miguel Louro - Lisboa
José Saúde - Beja
Juvenal Amado - Amadora

Lúcio Vieira - Torres Novas
Luís Graça & Alice Carneiro - Lourinhã
Luís Moreira & Irene - Sintra
Luís Paulino & Maria da Cruz - Algés / Oeiras
Luís Rainha & Dulce - Figueira da Foz

Manuel Augusto Reis - Aveiro
Manuel Guilherme - Vila Nova de Gaia
Manuel Joaquim e José Manuel Cunté - Lisboa
Manuel José Ribeiro Agostinho & Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos
Manuel Lima Santos & Maria de Fátima - Viseu
Manuel Ramos - Torres Novas
Manuel Santos - Vila Nova de Gaia
Mario Magalhães & Fernanda - Sintra
Mário Vitorino Gaspar - Lisboa
Miguel Pessoa & Giselda Pessoa - Lisboa

Ricardo Abreu - Vila Nova de Gaia
Ricardo Figueiredo - Porto
Rogé Guerreiro - Cascais

Silvino Correia d'Oliveira - Leiria
Sousa de Castro e Conceição - Vila Fria / Viana do Castelo

Urbano Martins Oliveira - Figueira da Foz

Virgínio Briote & Maria Irene - Lisboa

Xico Allen- Vila Nova de Gaia
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Nota do editor:

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18563: Efemérides (277): Homenagem a minha mãe, Georgina Araújo (1928-2015) e ao 25 de Abril (Jorge Araújo)



Loures > Encontro em 17 de Outubro de 2009: eu e minha mãe, Georgina Araújo (1928-2015)





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974).



MEMÓRIAS DO BAÚ DE MINHA MÃE  (1928-04-12/2015-12-27): EM SUA HOMENAGEM E DELA AO “25 DE ABRIL” 


1. INTRODUÇÃO

Foto de minha mãe, com 20 anos
Minha mãe faleceu nos últimos dias do ano de 2015. No passado dia 12 de Abril teria feito noventa anos, uma idade que gostaria de atingir em vida, já que tinha planos para esse dia,  12 de Abril de 2018. Mas não foi possível.

Em 2002, sete anos após ter ficado viúva, minha mãe encontrou uma nova companhia – a poesia – declamando os seus trabalhos em reuniões de família, convívios e outros eventos de carácter público, de que é exemplo a sua participação no projecto «Encontro de Poesia», iniciativa da Câmara Municipal de Loures, este inserido num programa mais vasto de outras actividades a que deram o nome de «Viver Outubro – Mês do Idoso».

A sua primeira participação aconteceu em 2002, com setenta e quatro anos de idade, mantendo-se ligada ao projecto durante catorze edições (2002-2015), ou seja, até aos últimos dias da sua vida.

No ano de 2014, a propósito da comemoração dos quarenta anos do «25 de Abril de 1974», escreveu um poema em homenagem a essa efeméride, onde estava implícita, também, a figura do seu filho e de todos os outros militares que combateram em África.

Nessa ocasião fez-me um pedido que só agora irá ser cumprido.

E qual foi? Uma vez que fazia questão de acompanhar a publicação das memórias dos ex-combatentes postadas no blogue, em particular as minhas, como seria normal, depois de concluído e publicado o poema de “Abril”, perguntou-me: “Jorge, filho, achas que os teus camaradas do blogue aceitariam publicar este poema, pois também a eles é dedicado? Vê lá…”

De facto, não vi. Decorridos quatro anos, e por me ter recordado desse episódio de então, aqui estou eu para lhe fazer a vontade, independentemente de ela já não puder confirmar esse seu desejo.

Descansa em paz… MÃE.


2. Homenagem ao ‘25 de Abril’


por Georgina Araújo


Graças ao ‘25 de Abril’,
Eu vi cravos a florir
Nos canos das espingardas
Desses valentes soldados,
Com o povo de braços dados
Honravam as suas fardas. 



Com elas eu vi nascer
A esperança de viver
Em plena liberdade,
Mas quarenta anos passados
Todos os lados estão minados
De traição e de maldade.

Estou prestes a chegar ao fim
E não queria para mim
Esta situação traiçoeira,
Nem para mim nem para os demais
Que lutaram por ideais
Em defesa da nossa bandeira.

Vamos à luta, meu povo,
Não deixem voltar de novo 
Para trás a nossa democracia,
Sem ela tudo acabava,
O cravo logo murchava
E a liberdade já não existia.

Georgina Araújo
Abril/2014

OBRIGADO!
Com um forte abraço de amizade
Jorge Araújo.
25ABR2018



Loures > Encontro em 17 de Outubro de 2009: a poetisa Georgina Araújo (1028-2015)


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18561: Efemérides (276): No dia 24 de Abril completaram-se 48 anos após o embarque do BCAÇ 2912, no Cais de Alcântara, com destino à Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

Guiné 61/74 - P18562: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (7): Descansar armas e arrebatar momentos de lazer (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.


XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande a 5 de maio, sábado, em Monte Real 

Descansar armas e arrebatar momentos de lazer 

As cáusticas sombras do tempo, embora por vezes enganadoras, não perdoam. Estamos na representação cadente de uma alvorada que ainda nos contempla pela presença na vida. Olhamos para o passado e damos por nós numa indelével jornada por terras da Guiné. Mas, tudo foi ontem. Hoje, o tempo que sobra é para recordar e conviver com antigos camaradas. 

Sentimos, obviamente, que a distância do tempo não atraiçoa. Não a contestamos. Aceitamo-la. Ponto final. Porém, guardamos eternas memórias que a perplexidade de instantes inesquecíveis nos fazem, por enquanto, viver e examinar conteúdos que cada um de nós guardará religiosamente na abençoada “mala de cartão”, um instrumento de viagem que utilizámos e teimamos em transportá-la eternamente às costas mas com muita honradez. 

Neste toque a reunir, sabemos que muitos já ficaram, infelizmente, pelo caminho. Camaradas que precocemente partiram para a tal viagem sem regresso. Ainda assim, fica a sua notável imagem e o muito que contribuíram para os nossos inolvidáveis encontros que anualmente persistem. 

O XIII Encontro da Tabanca Grande, a realizar a 5 de maio de 2018, sábado, em Monte Real, aproxima-se. O apelo que se segue vai para o modesto descansar armas e arrebatar momentos de lazer. Cerremos fileiras e embarquemos numa náutica prospeção pela orla de uma qualquer bolanha, ou rio, e encontrar-nos-emos no Palace Hotel à sombra do majestoso “Poilão”. 

Repousemos, metaforicamente, os camuflados e viajemos por entre picadas onde as minas foram atempadamente levantadas e o capim envolvente desbastado, sendo a nossa viagem vincada pela certeza de que nenhum malévolo IN travará a ânsia de uma boa chegada e de uma ótima partida. 

Aliás, não é absurdo nenhum o sofisma deste pressuposto “extraterrestre” - qual ilusionista da saudade! - lançar aos antigos camaradas em solo guineense esta inegável dica a qual proporciona uma peleja amigável agora estritamente subjacente a um território neutro. 

Ali, na biosfera de um mundo pequeno, mas sendo a nossa Tabanca Grande, dissecar-se-ão reencontros de gentes que substancialmente aceleram a pedalada de uma existência que já vai longa, mas por enquanto ainda fértil, visando mirar um camarada para o desafiar de mais dois dedos de conversa. 

No pomposo aquartelamento, agora isento de proteção avançada, mas circundado pelo universo de curiosidades díspares, concentrar-se-ão “mancebos” dos três ramos das forças armadas – Exército, Força Aérea e Marinha – onde o manusear das armas e os seus colaterais efeitos guerreiros coincidem com as muitas especialidades conhecidas em pleno palco de campanha. 

Não importa saber a especialidade que te coube em sorte, o cargo que desempenhaste, se tiveste, ou não, divisas ou galões, ou estrelas, enfim, sabe-se sim que foste literalmente um combatente, um camarada que conheceu os clamores da guerra, que vivestes ápices de extrema dificuldade e que continuas a sonhar com os tumultos que a atroz guerrilha ousou brindar-nos. 

Vamos, com ênfase, enaltecer mais um convívio, explicitando basicamente que no próximo dia 5 de maio de 2018, sábado, Monte Real será o azimute traçado por uma rapaziada vinda do mais equidistante lugar deste território luso e dizendo expressamente PRESENTE, não obstante qualquer maleita que porventura apoquente os nossos já enrugados corpos. 

Luís Graça, que a tua enorme vontade nesta reunião anual de camaradas da Guiné, seja simplesmente um impulso para uma continuidade que certamente perdurará desde que as nossas forças, e naturalmente disponibilidade, assim o permitirem. Força, amigo! 


Um abraço, camaradas 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados. 
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 61/74 - P18561: Efemérides (276): No dia 24 de Abril completaram-se 48 anos após o embarque do BCAÇ 2912, no Cais de Alcântara, com destino à Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

Navio T/T Carvalho Araújo


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 24 de Abril de 2018:

Camarigos,
Esta fotografia faz hoje (24.Abril.2018) precisamente 48 anos. Nela, vemos militares do BCaç 2912 que estavam no Cais Marítimo de Alcântara a aguardar a hora de embarque.

Chegámos pelas 06H30 ao cais. Aí tomámos o pequeno-almoço junto ao navio. Depois das cerimónias de despedida subimos o portaló da embarcação. O almoço foi servido a bordo.

António Tavares



 Cozinha de campanha

Embarque do BCAÇ 2912 - Lisboa, 24 de Abril de 1970

O CARVALHO ARAUJO zarpou às 12H00, certas, de Lisboa, rumo ao cais de Pindjiguitti. Para trás ficavam os acenos e gritos lancinantes dos familiares dos militares que se deslocaram ao cais. Algumas famílias viram partir os seus queridos familiares e nunca mais os viram vivos ou mortos. Eu parti só, naturalmente com o pensamento na minha família. Do convés do navio via a Tapada da Ajuda, onde viviam alguns meus familiares. Retenho a imagem de uma cabina telefónica no cais. Interroguei-me se telefonava ou não, a despedir-me. Não telefonei e de bordo enviei um telegrama com os dizeres tipo “chapa” em que somente mudava o nome do militar emitente da comunicação transmitida.

No dia 26 de Abril avistámos à nossa ré o navio VERA CRUZ. Enquanto os dois navios navegavam lado a lado as tropas saudaram-se mutuamente assim como os navios com os apitos da praxe. O Vera Cruz depressa nos ultrapassou devido à maior potência dos seus motores e velocidade de cruzeiro. Os Teatros de Operações do CTIGuiné e de Moçambique aguardavam os três batalhões e os militares individuais que seguiam nos dois barcos.

O Carvalho Araújo fica para trás do Vera Cruz (ao longe)

Após horas e horas de navegação e em alto mar tivemos a companhia de peixes voadores, alguns dos quais morreram na coberta do navio. À ré do CARVALHO ARAÚJO os golfinhos saudavam os militares e estes presenteavam os golfinhos com restos de comida. A cor azul e por vezes esverdeada das águas do mar e do céu fizeram-nos companhia durante muitas milhas náuticas. Experiências e vivências inesquecíveis para cada um dos militares.

Quando entrámos e navegávamos nas águas territoriais do TO do CTIGuiné tivemos a escolta da Lancha de Fiscalização Grande NRP 361, de nome “Lira”. No início da noite de 30 de Abril o navio T/T Carvalho Araújo terminava mais uma das muitas viagens de Lisboa - Guiné - Lisboa.

A Lancha Lira a navegar em águas territoriais do CTIGuiné

Um constante vaivém de navios entre estas duas cidades desde 1963 a 1974. Os militares transportados no CARVALHO ARAÚJO desembarcaram no cais de Pindjiguitti na manhã do dia 01 de Maio de 1970. A terra vermelha, e de clima tropical, caracteristicamente quente e húmido, recebia mais um contingente de tropas. Os guinéus cantavam e dançavam, dizendo: “periquito” vai no mato...

Em Portugal, o Dia da Liberdade viria após quatro anos transcorridos.

Cumprimentos,
António Tavares
Foz do Douro, Terça-feira 24 de Abril de 2018
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18558: Efemérides (275): O 25 de Abril de 1974... visto de Bissau, através de aerogramas enviados por Jorge Gameiro ( REP / ACAP / QG / CC) à sua esposa Ana Paula Gameiro e ao seu filhinho Nuno Gameiro... Documentação comprada no OLX, há 5 ou 6 anos (Carlos Mota Ribeiro, Maia) - Parte II

Guiné 61/74 - P18560: Antropologia (26): “Produtos, Técnicas e Saberes da Tradição Bijagó”, por Fanceni Baldé, Cleunismar Silva e Mary Fidélis, editado por Tiniguena, 2012 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Maio de 2016:

Queridos amigos,
Trata-se de um estudo do complexo Urok, do arquipélago dos Bijagós, estudo esse que pretende identificar os modos de gestão sustentável de uma parte da sociedade Bijagó como procede à transmissão de conhecimentos, como se relaciona com o ambiente envolvente, os seus deuses, os seus lazeres, o seu prodigioso artesanato, a sua gastronomia, a vida comunitária, o casamento. A sociedade Bijagó não está impermeável à mutação, gradualmente procura libertar-se das leis da natureza ou dos constrangimentos sociais.
É um trabalho que procura identificar os traços destes saberes e da inteligência dos Bijagós nas formas de gerir os seus espaços e de apelar à conservação dos seus recursos. Uma leitura saborosa para desvendar a sabedoria, a cultura e a inteligência de um povo que está a ficar abalado por algumas leis da sociedade de consumo e também por isso necessitada a refletir o que pode dar às gerações futuras.

Um abraço do
Mário


Os Bijagós e a sua cultura admirável

Beja Santos

A Tiniguena, uma organização não-governamental guineense que intervém nas ilhas Urok (Bijagós), nas regiões de Quínara e Bolama (também nos Bijagós) e nas florestas de Cantanhez (Tombali), e procura promover um desenvolvimento participativo e duradouro, de colaboração com o CIDAC, editou em 2012 uma obra muito afetiva, uma exaltação da cultura Bijagó em toda a sua amplitude: “Produtos, Técnicas e Saberes da Tradição Bijagó”, por Fanceni Baldé, Cleunismar Silva e Mary Fidélis.

Estes autores não escondem o seu deslumbramento no texto de abertura:
“A dependência da sociedade Bijagó em relação à natureza é de tal modo vital que levou a um nível de conhecimento e um grau de intimidade extremos. Como sobreviver numa ilha longe do mundo, se não se conhecesse todas as espécies plantas e tudo o que elas podem oferecer, se não se conhece os hábitos da fauna selvagem ou o comportamento dos peixes, se não se é familiar com as forças da natureza tais como as marés, as correntes, o vento ou a chuva? Como sobreviver se não se sabe fabricar os instrumentos para explorar, transportar, transformar ou consumir esses recursos? O conhecimento das leis que regem a natureza obriga, para além do mais, a respeitar esses ritmos, a não tomar mais do que aquilo que ela pode oferecer: esgotar os recursos significaria tão simplesmente esgotar-se a si próprio”.

Os Bijagós são um arquipélago atrativo para o turismo, correm lendas sobre o matriarcado, o sentido de autossuficiência do povo e a sua arte escultórica tem uma tal dimensão genial que os grandes museus procuram essas peças que falam de deuses, que são usadas nas danças, que fazem parte do culto doméstico e da sua comunicação com a fauna, os elementos da natureza, os tubarões que por ali cirandam. É uma cultura tão poderosa quanto é facilmente visível a identidade cultural Bijagó. Os autores apresentam o arquipélago, e do geral vão ao particular, às ilhas Urok, onde habitam pouco mais de 3 mil pessoas em Formosa, Nago e Chediã, uma população jovem que se entrega à agricultura, à exploração de produtos silvícolas e à pesca. O governo da Guiné-Bissau reconheceu o complexo Urok em 2005 como uma Área Marítima Protegida.

Na Formosa, vamos saber como vivem e habitam os Bijagós, perceber o seu artesanato sagrado (do oculto e cerimonial), utilitário e comercial, descrevem-se as peças artesanais como os acentos em arco, os transportadores tradicionais de objetos, as saias confecionadas à mão com base em fibras de vegetais, as máscaras que são usadas sobretudo para as danças tradicionais, os escudos tradicionais. Releva-se também o papel do artesanato utilitário como o canapé, o cesto e os chapéus tradicionais, as travessas usadas para as refeições, e as respetivas matérias-primas.


As danças Bijagós têm um destaque especial a partir do conhecimento das fases iniciáticas. A dança tem um papel dominante, está presente em praticamente todas as cerimónias. Como escrevem os autores:  

“A característica principal e comum em todas as danças praticadas no arquipélago é a relação com os aspetos da natureza, em especial representação dos animais. As danças, em todos os momentos reproduzem a forma de ser e de estar dos animais no seu meio natural. Através da natureza busca-se o conhecimento sobre as características e história do animal que se pretende representar. A escolha de animais ferozes, que possuem força, é o símbolo principal, pois para os Bijagós o valor do homem reside na sua coragem e força para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia”.
E daí o estudo sobre as danças masculinas e as danças femininas, profundamente distintas, e os trajes que lhes estão associados.

Uma palavra sobre a gastronomia tradicional, onde primam o arroz, o óleo de palma, a mancarra, o feijão e os produtos de mar. Na cozinha Bijagó utilizam-se as folhas de bananeira para a cosedura do arroz, mexe-se a comida com uma colher de pau, há uma concha feita com o fruto da cabaça para servir os caldos e os molhos, um vasilhame para armazenar o vinho de palma, um pote em barro para conversar a água é também se usa uma técnica de transporte de peixe feita com folhas de palmeira.


Falando do casamento, observa-se que os Bijagós da Formosa não costumam formalizar a união entre o homem e a mulher, é uma união de facto em que não existem muitas obrigações sociais entre o homem e a mulher, sendo possível a troca de parceiros. É a mulher que escolhe o homem com quem pretende estabelecer a união, cabendo à mãe a confeção de um prato à base de farinha de arroz transportado por um grupo de mulheres grandes à casa do pretendido noivo. Durante a fase de noivado, o noivo deve levar ofertas constantes à família da noiva, geralmente sob a forma de produtos que retira do mato e do mar. O trabalho desenvolvido pela Tiniguena pormenoriza os produtos associados à gastronomia, os produtos florestais, os produtos de mar.

Em jeito de conclusão, escreve-se:  
“O domínio sobre as técnicas e os saberes associados a cada um dos produtos presentes na tradição Bijagó revela décadas de aperfeiçoamento. O conhecimento e respeito dos diferentes ciclos de regeneração das espécies na natureza tem permitido ao Bijagó da Formosa explorar e tirar proveito da rica biodiversidade do arquipélago. A gestão consciente e responsável dos recursos naturais é uma estratégia crucial para assegurar a continuidade do modo de vida Bijagó. Passados alguns anos desde a atribuição do estatuto de Área Marinha Protegida, permanece o desafio da adequação entre os avanços inevitáveis da modernidade e da globalização e a conservação dos valores e princípios intrínsecos ao saber tradicional Bijagó”.
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16777: Antropologia (25): Um sonô, o mais valioso tesouro artístico da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52)

Guiné 61/74 - P18559: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55): 25 de Abril: somos ingratos?


1. Mensagem do António Rosinha:


Data: 25 de abril de 2018 às 10:36
Assunto: 25 de Abril, Somos ingratos?


[ António Rosinha, foto à  direita, 2007, Pombal, II Encontro Nacional da Tabanca Grande]

(i) beirão, tem 110 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';

(x) ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]


2. Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55) > 25 de Abril: somos ingratos ?


Os guineenses  entusiastas do PAIGC, doutrinavam os jovens da JAC, Juventude Amílcar Cabral, que o nosso, (do tuga) 25 de Abril se devia aos Combatentes da Liberdade da Pátria, o PAIGC.

Daí a minha surpresa de boca aberta, que tive dificuldade em a fechar, quando um colega meu guineense, topógrafo, que tinha vindo de Kiev com o seu curso, me atira à cara:

"Vocês os portugueses fazem uma festa tão grande com o 25 de Abril, e não têm vergonha de nem nos agradecerem aos guineenses, pois que fomos nós os responsáveis por essa vossa revolução."

Isto  nos anos 80, em que a história ainda estava muito a quente, fiquei sem reacção, e ainda hoje não tenho qualquer reacção muito lógica a uma tal questão posta por um balanta, topógrafo formado em Kiev.

Com toda a sinceridade e sem cinismo e sem nacionalismos, aprendi muitas coisas com os filósofos africanos, guineenses e angolanos, com quem nós, portugueses,  convivemos 500 anos.

E continuamos a conviver com imensos africanos, nós e toda a Europa.

Também os africanos tiveram muita influência na vida de Portugal durante mais de metade da nossa existência como Portugal.

Dá que pensar, naquilo que fazem de nós, aqueles com quem nos metemos. Isto para o bem e para o mal.

Quando se fala que foi a "luta" dos trabalhadores e progressistas...etc., (o nosso discurso oficial, anual), que fez o 25 de Abril, temos de facto que distribuir a responsabilidade por todos, do «Minho a Timor».

Porque, penso eu, a luta deve continuar e não parar no tempo.

Uma reacção minha a isto tudo, é que se o 25 de Abril se tem dado em 1961, não tinhamos feito a Guerra do Ultramar (13 anos), e não tínhamos 5 PALOP.
Isto eu não disse ao meu amigo topógrafo, e não sei se lhe dissesse tal coisa, se ele me agradeceria de todo o coração, ou se não acreditava nessa tão grande responsabilidade do português.

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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18536: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (54): no tempo em que havia uma irmandade 'intercolonial' e um cabo-verdiano, um são-tomense ou um goês se sentia em casa num país como Angola

Guiné 61/74 - P18558: Efemérides (275): O 25 de Abril de 1974... visto de Bissau, através de aerogramas enviados por Jorge Gameiro ( REP / ACAP / QG / CC) à sua esposa Ana Paula Gameiro e ao seu filhinho Nuno Gameiro... Documentação comprada no OLX, há 5 ou 6 anos (Carlos Mota Ribeiro, Maia) - Parte II

Carlos Mota Ribeiro... Foto da
sua página no Facebook.
1. Continuação da publicação dos aerogramas de Jorge Gameiro [ REP / ACP / QG /CC, Bissau, 1974],  relativos aos acontecimentos pós-25 de abril... Cópias desses aerogramas foram-nos enviadas pelo leitor (e futuro membro da Tabanca Grande, Carlos Mota Ribeiro, engenheiro, residente na Maia, filho do nosso querido amigo, camarada e coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro; estes documentos foram comprados por ele há 5 ou 6 anos no OLX.

Os aerogramas (o primeiro datado de Bissau, 30/4/1974) (*) eram dirigidos à esposa do Jorge Gameiro, Ana Paula Gameiro. O casal tinha um filho de tenra idade, Nuno Gameiro, cujo paradeiro o Carlos Mota Ribeiro gostaria de poder descobrir para lhe poder oferecer esta correspondência que ele provavelmenmte nunca terá lido. Como nos ex0licou o Carlos Mota Ribeiro:

(...) Em relação aos aerogramas comprei-os a alguém no OLX, já foi há uns 5 ou 6 anos e não me recordo do nome da pessoa que mos vendeu, lembro-me que os comprei por terem o sentido histórico do 25 de Abril de 74 e os achei muito interessantes.

Como tenho um colega britânico que se interessa pela Revolução dos Cravos, enviei-lhe as fotos dos aerogramas com a tradução em inglês para ele dar uma leitura e compreender o sentimento que alguns jovens tinham naquela época e naqueles dias conturbados.

Quando estava a transcrever o mencionado no aerograma, fiquei a pensar no Nuninho (Nuno Gameiro) do aerograma e do carinho daquele pai pelo filho. Por isso entrei em contacto contigo para tentar encontrar o tal Nuninho e lhe fazer chegar a meia dúzia de aerogramas que tenho, enviados pelo seu pai, da Guiné Portuguesa para a Metrópole.

É claro que apenas lhos vou oferecer, se o Nuno Gameiro quiser esta recordação dos pais, pode nem querer saber deste assunto ou não dar qualquer valor sentimental aos aerogramas, mas como para mim este tipo de itens tem muito valor e são documentos que considero históricos, guardo-os religiosamente na minha coleção particular sobre o Ultramar Português. [...]




Primeira parte do aerograma datado de Bissau, 6 de maio de 1974

2. O segundo aerograma, datada de Bissau, 6 de maio de 1974, é a seguir reproduzido:

Bissau 06.05.74

Minha Paula, meu amor:

Ontem também não tive cartinha tua, estou morto por receber notícias tuas depois do dia 25 [de Abril], agora com este atraso até tenho medo que te tivesse acontecido alguma coisa,  ao seres por exemplo apanhada de imprevisto nalguma manifestação.

Não me sai da cabeça o que os Pides fizeram para culminarem a sua tão nojenta e porca atuação,  disparando uma rajada de metralhadora de uma janela da sua antiga sede [na] Rua António Maria Cardoso, rajada essa que foi ferir mortalmente 4 jovens e um trabalhador que ali se encontravam. Além disso ainda deixaram feridas 40 e tal pessoas.

Mas não,  também penso que,  se não tenho recebido cartinha tua,  é com certeza devido ao atraso dos correios normal que inicialmente [...] assim como os aviões chegaram a estar paralisados, mas amanhã talvez tenha mais sorte. 

Hoje pela primeira vez me chegaram às mãos jornais e um Século Ilustrado com imagens coloridas do que foi o primeiro 1.º de Maio Português e, palavra, ultrapassou toda a ideia que eu tinha. Já ouvi também ontem pela primeira vez o hino à libertação portuguesa do 25 de Abril,  “Agora o Povo unido jamais será vencido”. 

Acabei também agora de ouvir algumas declarações de Manuel Alegre para a Voz da Liberdade,  aliás BBC. Pois a Voz da Liberdade,  agora com o retorno de Manuel Alegre,  terminará os seus trabalhos já que agora os meios de informação e comunicação são totalmente livres,  deixa de ser necessária a presença de uma rádio clandestina. 

Li também uma notícia onde se adivinhava um congelamento das rendas de casa até se definir e resolver finalmente o problema da habitação, e é bom que essa exploração termine bem depressa pois assim, e assim será mais um grande beneficio, um enorme bem para o nosso inicio de vida. Não é,  amor querido? 

Quanto ao problema do ultramar continua a não ser bem definido,  ouvi a conferência de imprensa dada pelo General Gomes da Costa,  esperemos pois pela Assembleia Constituinte que será eleita até meados deste mês, vamos lá a ver, as opiniões divergem e deixam uma pessoa,  que está aqui,  totalmente confusa. Esperemos mais algum tempo.  pelo menos o cessar-fogo imediato já era um grande passo em frente, assim terminaria a morte estúpida e sem justa causa dos homens que...

(Continua)

Fotos (e legendas): © Carlos Mota Ribeiro (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

[Revisão e fixação de texto: Carlos Mota Ribeiro / Luís Graça]

Translation to English:

Bissau 06.05.74
My Paula, my love:
Yesterday also I did not have your letter, I am dead to receive news of you after the 25th, now with this delay until I am afraid that something happened to you, for example, caught unexpectedly in some manifestation, I do not go out of my head what the PIDEs did to culminate his disgusting and sordid performance by firing a blast of machine-gun from a window of his former headquarters Rua António Maria Cardoso, a blast that was mortally wounded 4 young people and a worker who were there besides left 40 injuries and such people , but I also do not think that if I have not received your letter is certainly due to the delay of the normal post office that initially as the planes came to be paralyzed, but tomorrow may have more luck. Today, for the first time, newspapers have come to my hands and a century illustrated with colorful images of what was the first of May. Portuguese and word surpassed the whole idea that I had, I also heard yesterday for the first time the anthem to the Portuguese liberation of the April 25 "The united People will never be defeated." I also just now heard some statements from Manuel Alegre for the voice of freedom alias BBC. For the voice of freedom now with the return of Manuel Alegre will finish his work since now the means of information and communication are totally free is no longer necessary the presence of a clandestine radio. I also read a story where one could guess a freeze on household incomes until finally defining and finally solving the problem of housing, and it is good that this exploration ends very soon, as it will be a great benefit, a great good for our beginning of life. Is not that sweetheart? As for the problem of overseas continues to be not well defined I heard the press conference given by General Gomes da Costa hopefully then by the Constituent Assembly that will be elected until the middle of this month, let's see, opinions diverge and leave a person who is here totally confused, let's wait some more time at least the immediate cease-fire was already a big step forward, so would end the stupid death and without just cause of the men who...

[To be continued]

[Translation by Carlos Mota Ribeiro]
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Nota do editor:

(*) Últiimo poste da série > 24 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18557: Efemérides (274): O 25 de Abril de 1974... visto de Bissau, através de aerogramas enviados por Jorge Gameiro ( REP / ACAP / QG / CC) à sua esposa Ana Paula Gameiro e ao seu filhinho Nuno Gameiro... Documentação comprada no OLX, há 5 ou 6 anos (Carlos Mota Ribeiro, Maia) - Parte I