domingo, 8 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18826: In Memoriam (316): João Alfredo Teixeira da Rocha, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852, falecido no dia 8 de Julho de 2018 na cidade do Porto (Fernando Gouveia)

IN MEMORIAM

João Alfredo Teixeira da Rocha
Ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852


1. Em mensagem de hoje, dia 8 de Julho de 2018, o nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70), traz-nos a triste notícia de mais um camarada que nos deixa.

Agora foi o João Alfredo Teixeira da Rocha, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852 que esteve sediado em Bambadinca entre 1968 e 1970.

Era natural da Ilha de Moçambique.

Fazia parte de um grupo que se juntava regularmente para almoçar, onde "militavam", o António Pimentel, o Xico Allen, o Rego e o Fernando Gouveia, entre outros.

O seu corpo está em Câmara Ardente na Igreja do Foco, à Boavista, de onde sairá amanhã, dia 9, pelas 16 horas, o seu funeral.

Mais um camarada que nos deixa, mais uma família destroçada pela perda de um ente querido.

Aos seus familiares e amigos, a tertúlia deste Blogue endereça os mais sentidos pêsames.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18725: In Memoriam (315): Arquitecto e Urbanista Luís Vassalo Rosa (1935-2018), ex-Cap Mil. CMDT da CART 1661 (Guiné, 1967)

Guiné 61/74 - P18825: (Ex)citações (341): Cânfora no vinho para tirar a "tusa"?... É um mito, diz o "intendente" João Lourenço, ex-alf mil, cmdt, PINT 9288 (Cufar, 1973/74)


Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > Novembro de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira (o segundo a contar da esquerda), a ajudar a descarregar garrafões de vinho, alguns dos quais têm o rótulo do Cartaxo (presumivelmente, da Adega Cooperativa do Cartaxo).

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018) / Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados

1. Pedimos aos nossos camaradas do Batalhão de Intendência ( BINT), o Fernando Franco, o António Baia, o João Lourenço, para esclarecer esta "momentosa" questão do vinho e da cânfora... E já agora acrescentei questões que estavam associadas ao vinho:

(i) qual era a ração diária de um soldado na Guiné? Um decilitro, um copo, ou dois, à refeição? (Dois decilitros por dia dava, a multiplicar por 160 homens=1 companhia,  dava 32 litros por companhia, ou sejam, 6 garrafões de vinho de 5 litros... Ao fim do mês eram 180 garrafões, o que obrigava a uma logística complicada... transporte, armazenamento...

(ii) como é que o vinho era transportado desde Bissau? Em garrafões, de 5 litros, 20 litros? Em meias pipas? Ou outro vasilhame?

(iii) o vinho levava aditivos? Cânfora, por exemplo? Era batizado, com "água do Geba"?

(iv) lembram-se de alguma marca de vinhos, como por exemplo, o "Cartaxo"?

Obrigado, em nome da Tabanca Grande e em honra da memória dos nossos valorosos "intendentes". LG


2. Primeirsa resposta de um "intendente", a do João Lourenço, que foi alf mil int, cmdt do trágico PINT 9288, Cufar, 1973/74 (*):

Bom dia, Luís .

A cânfora é, quanto a mim, e fui responsável pelo tacho, fui comandante de um PINT, um mito.

O vinho era fornecido pela MM [Manutenção Militar] em bidões de 215 lts, salvo erro, e usado assim mesmo, devido ao calor havia por vezes o hábito de usar um bidão sem a tampa onde eram colocadas barras de gelo feitas com água tratada e potável claro, o que dava sobras....

Havia algum controle para evitar grandes "bubas". Em especial em Bissau, no mato... dependia.
Um alfa bravo  (**)

João Lourenço
_____________


(...) Meu caro Luís,


"Tropecei" no teu blogue e gostava não só de me encontrar com o pessoal das nossas "férias tropicais" como de pertencer ao grupo e ir ao almoço de dia 20.

Fui o 1º Comandante do PINT 9288, estive lá em Cufar até ao terrível dia da morte do meu Furriel Pita e do Jeová no mesmo Jipe que eu próprio tinha conduzido na estrada para o porto interior nesse dia de manhã cedo, antes de ir em serviço a Bissau chamado pelo Cap Manuel Duran Clemente, meu 2º Comandante.

Estive no Hospital com o Pita o pouco tempo em que o coração dele resistiu ao destino que era inevitável. Hoje resta apenas a memória gravada no monumento em Belém de homenagem a todos os que deram a vida. Tal como a maioria, nunca soube o nome do Jeová, penso que estará homenageado no mesmo monumento.

Convivi com a CCaç 4740, o CAOP 1, ainda me lembro de alguns, poucos, bons momentos, como a célebre recepção aos piras em que lhes demos arroz com marmelada..., antes de vir a nossa janta reforçada, etc.

Lembro-me bem do Baía e de mais alguns, havia o Furriel Cardoso, um moço do Norte que era Bate-chapas... um 1º Cabo que ficou no BINT de Bissau, que era aqui da Figueira onde habito agora e que gostava de voltar a encontrar,etc." (...)

Guiné 61/74 - P18824: Efemérides (288): Homenagem aos Combatentes do Ultramar do Concelho de Viana do Castelo, levado a efeito no passado dia 30 de Junho de 2018, em Barroselas (Sousa de Castro)

1. Em mensagem do dia 3 de Julho de 2018, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) enviou-nos para publicação a notícia da Homenagem aos Combatentes do Ultramar do Concelho de Viana do Castelo, levada a efeito no passado dia 30 de Junho de 2018, em Barroselas.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18814: Efemérides (287): O 10 de junho em Ponte de Lima: vibrante homenagem aos Limianos mortos na Grande Guerra e na Guerra Colonial (Mário Leitão)

Guiné 61/74 - P18823: Blogpoesia (574): "Os desafios de viver", "Ao nascer do dia..." e "Um outro piano negro...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Os desafios de viver

Largar o cordão umbilical e começar a respirar, sorver da mãe o pão de leite sem ter de o ferver.
Olhar sorrindo quem nos dá tudo, até as mãos, para não cair ao aprender a andar.
Saber a usar a boca para dizer olá aos pais em cada manhã.
Descobrir que só usando os pés se chega a todo o lado, custe lá o que custar.
Ver que na vida nem tudo é bom e saber ultrapassar sem se deixar vencer.
Voltar atrás para tomar o bom caminho e aprender bem a lição de cada erro.
Saber calar para ouvir quem sabe mais do que nós sobre aquele assunto.
Perdoar quem nos fez mal sem lhe guardar rancor.
Acudir a quem não tem mais ninguém para o salvar.
Saber pedir quando chegar a nossa vez e nunca o esquecer…

Ouvindo "Sinfonia n.º 3 de Brahms"
Mafra, 7 de Julho de 2018
7h00m
Jlmg

********************

Ao nascer do dia…

É a vida que se renova.
O descanso regenerou-nos as forças e energias.
A majestade solene do nascer do dia, com sol ou não, assombra a nossa mente e nos impele para a beleza.
Despertam em nós as boas tendências, por bem, inscritas pela natureza.
Conforme o talento de cada um.
Escrever, pintar, musicar ou operar na oficina.
Tudo artes da nossa forja.
Neste momento, um grande clarão de luz decora a tapada à minha frente.
Apontando a imensidão dos céus.
Como o limite da nossa existência.
Uma dezena de cavalos viçosos já se entrega à sua sorte de mesa posta, em plena liberdade.
Eu, aqui, oiço as notas veementes dum piano habilidoso, pelas mãos duma pianista, quebrando em cacos toda a minha indiferença…

Ouvindo “Fantasias de Mendelsson”
Mafra, 6 de Julho de 2018
7h6m
Jlmg

********************

Um outro piano negro…

Um outro piano negro começou a tocar.
Suas teclas desfecham flechas com matizes de luar e a pujança forte dum mar enfurecido contra a praia faminta à sua espera.
Tem artes nunca vistas. Outras eras.
Outras luzes.
Se apagaram como mestras perante o brilho dos novos talentos que ajudaram a surgir.
Como soam bem as teclas negras deste piano velho adormecido…

Ouvindo Maria Grinberg plays Grieg Holberg Suite Op. 40
Mafra, 6 de Julho de 2018
7h16m
Jlmg
____________

 Nota do editor

Último poste da série de 29 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18791: Blogpoesia (573): Mulher (ou lembranças da minha terra), de Júlio Corredeira (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)

Guiné 61/74 - P18822: Parabéns a você (1467): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18808: Parabéns a você (1466): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil Inf da 3.ª CCAÇ (Guiné, 1961/63)

sábado, 7 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18821: Convívios (866): Encontro do pessoal da CART 2732, levado a efeito no passado dia 17 de Junho de 2018, em Minde, Fátima (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA)

Foto de família dos participantes no Convívio, de 2018, do pessoal da CART 2732 e seus familiares

CONVÍVIO DO PESSOAL DA CART 2732

DIA 17 DE JUNHO DE 2018

MINDE (FÁTIMA)

Um belo recanto da Quinta D. Nuno onde decorreu o Convívio

Os madrugadores: Ex-Alf Mil Casal; ex-Alf Mil Bento: Coronel Art Carlos Abreu (ex-Cap Art, CMDT do COP 6); ex-Soldado Condutor Azevedo; ex-Fur Mil Mec Auto Dias e ex-Soldado Condutor Dores.

Localizado mesmo a tempo de poder participar pela primeira vez em convívios da CART 2732, o nosso inesquecível Furriel Enfermeiro Marques

Já mais próximo da hora de almoço estão nas fotos: o Ex-Fur Mil CMD Mendonça e família; o ex-Fur Mil Ismael Santos e esposa; o ex-Cap Mil Jorge Picado e o ex-Alf Mil Francisco Baptista

E eis que chega o nosso operador de Transmissões, João Malhão, com a notícia de que a Operação não podia ser abortada. O almoço estava por minutos.

Os laços de amizade também se estendem aos familiares. Aqui a Isabel, esposa do Ornelas, com o ex-Alf Mil Manuel Casal, visivelmente regozijados pelo reencontro.

Três ex-furriéis da CART 2732: Carneiro, Lourenço e Mendonça

Mesmo na sombra são bonitas as nossas bajudas

ex-Furriéis Carneiro e Dias, ex-Soldados Condutores Dores e Azevedo

Na foto, o ex-Cap Mil Jorge Picado e o ex-Alf Mil Francisco Baptista

Ornelas, ex-1.º Cabo Atirador, que foi também um excelente "maqueiro", com o seu mestre, ex-Fur Mil Enf.º Luís Marques

O ex-1.º Cabo Aux Enf.º Reis Pedro, um dos organizadores do Convívio, falando com a esposa do ex-Fur Mil Carneiro que aparece na foto momentaneamente distraído

Uns sorrisos bonitos das companheiras do Vinhal, Ornelas e Inácio, respectivamente. De lado, a esposa do Casal

O ex-Cap Mil Jorge Picado abraça os seus ex-Alferes, Bento e Casal. Ao lado o ex-Alf Mil Baptista que veio posteriormente para a Companhia

O ex-Fur Mil CMD Mendonça, que passou pouco tempo na CART 2732, por ser ferido em combate e ter sido evacuado, fala com o ex-Fur Mil Fonseca, quem sabe se disso mesmo.

Mesa da Presidência: ex-Fur Mil Enf.º Luís Marques, ex-1.º Cabo Aux Enf.º Reis Pedro, ex-Soldado TRMS João Malhão e ex-Alf Mil Manuel Casal
 
Mesa da Presidência: o senhor General Artur Neves Pina Monteiro, de camisa às riscas verticais, até há pouco tempo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, que se fez acompanhar de sua esposa, também na foto, deu-nos a honra de presidir ao Convívio da CART 2732. Aqui a conversar com o senhor Coronel Calos Abreu.


A mesa das nossas esposas

Nesta mesa: os ex-furriéis milicianos, Vinhal, Carneiro, Ismael Santos, Mendonça e Fonseca...

... o ex-Fur Mil Mec Auto Dias e o ex-1.º Cabo At Art Ornelas...

... os ex-furriéis milicianos Fonseca e Lourenço, e os ex-Soldados Condutores Dores e Azevedo

Nesta foto, onde lamentavelmente faltam o João Malhão e o Reis Pedro, ocupados a fazer contas no restaurante, e o Marques, em parte incerta, estão: fila superior: Carneiro, Azevedo, Ezequiel Filipe e Bento; fila do meio: General Pina Monteiro, Dias, Ismael Santos, Francisco Baptista, Manuel Casal, Coronel Carlos Abreu, Jorge Picado e Mendonça; fila de baixo: Ornelas, Dores, Inácio Silva, Lourenço, Matos, Fonseca e Vinhal

Aqui estão as nossas meninas, muitas delas já namoradas ou esposas no tempo da guerra

Aqui fica, para memória futura, o devido destaque a estes dois camaradas que pensaram e levaram a efeito este Convívio. Caríssimos Pedro e Malhão, os nossos agradecimentos.

Quem sabe se lembrando os 50 anos do nosso embarque com destino à Guiné, que ocorre em 13 de Abril de 2020, nos voltemos a encontrar, desta vez no Funchal, de onde partimos em 1970 para a nossa aventura.

Fotos e legendas: Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 2 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18802: Convívios (865): XXXIII encontro anual da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74) - Seia, 9 de junho de 2018 (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P18820: Fotos à procura de... uma legenda (106): O milagre do vinho, ontem, do Cartaxo (que chegava ao Cacheu...), hoje de... Pias, que entope as prateleiras das nossas superfícies comerciais, em caixas de cartão... (Virgílio Teixeira / Luís Graça)


Foto nº 60 >

Foto nº 60A


Foto nº 60 B

Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > Novembro de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira (o segundo a contar da esquerda), a ajudar a descarregar garrafões de vinho, alguns dos quais têm o rótulo do Cartaxo (presumivelmente, da Adega Cooperativa do Cartaxo).

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018) / Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados


1. Mensagem. de 3 do corrente, enviada pelo nosso grã-tabanqueiro Virgílio Teixeira , ex-alf mil,  SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) [natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue]:

Assunto - Os vinhos a martelo para as tropas da Guiné

Luís no seguimento dos assuntos vinícolas (*), que são da tua nova especialidade, aqui vai uma foto na luta da "trasfega" dos garrafões de 10 [ ou 5 ?] litros do barco para os camiões com destino ao armazém geral.

Consigo ler 'Cartaxo' e outro parece dizer 'Paladar' mas este último não me recorda de ver ou se existe. Podes dar uma ajuda?

Os vinhos Cartaxo não são lá da tua região de nascença? E o Paladar?

Foto recolhida no cais de S. Domingos em Novembro de 68. Está nos Postes de São Domingos.

Um abraço,
Virgílio


2. Comentário de LG:

Virgílio, mais uma foto do teu álbum, que é uma caixinha de surpresas... E esta vale ouro...  O Cartaxo, na época, e durante muitos anos, era a terra do milagre do vinho.  Tinha muita parra e muita uva... De resto, o Ribatejo e a Estremadura produziam grandes quantidades de vinho, sem se olhar à qualidade... Não havia piquenique, nos anos 60, onde não pontificasse o "tintol" do Cartaxo... Era a época em que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses...

Hoje o milagre chama-se "Pias", uma terrinha, uma freguesia,  que fica lá para o Alentejoo profundo, concelho de Serpa, na margem esquerda do Guadiana... E que eu saiba só tem dois produtores e engarrafadores de vinho, mas há mais de um dúzia de marcas de vinho (em embalagem de cartão...) que começam por Pias. e que são tudo menos vinho regional alentejano. O seu sucesso é tal que inundas as grandes superfícies... Ora trata-se de vinhos provenientes da UE (União Europeu), o que não é "ilegal", mas é "eticamente" reprovável do ponto de vista comercial... É que vinho alentejano é que não deve ser, e muito menos de Pias... E os armazéns são aqui da grande Lisboa e região centro: Pias é uma "mina"...

Não direi que são "vinho a martelo" (, a expressão é forte, e tecnicamente incorreta...)  mas a verdade é que o uso e abuso do topónimo Pias engana muito consumidor desprevenido, que não lê os rótulos... Pode ser vinho (e é, já o provei, a contra-gosto...). Não, não é "vinho regional do Alentejo", mesmo que tenha 13º...  Hoje bebe-se "Pias" como no passado se bebia "Cartaxo"... Só que na época não havia a famosa "bag in box" (caixa de cartão) que, como se sabe, não deixa o vinho oxidar (ou "azedar"):  a torneirinha, de plástico, é um vedante, deixa sair o precioso líquido, mas impede a entrada de ar, evitando por isso o nosso conhecido fenómeno da  "oxidação"...

Diz o "Jornal dos Sabores", em edição digital de 6 de julho de 2017: 

(...) “Leva este que é alentejano, é de Pias” sugeria o acompanhante de um cliente de uma grande superfície, indicando um vinho, em bag in box, que ostentava na marca a palavra ‘Pias’. A avaliar pelo número de marcas que fazem parte da atual oferta, a localidade de Pias está ‘em alta’ na cotação vinícola. Numa pesquisa (pouco aprofundada), identificámos 12 marcas de vinho acondicionado em bag in box em que é usada a palavra que pretende «identificar» aquela freguesia alentejana do concelho de Serpa. Mas é provável que existam mais algumas."...

O jornal identificou pelo menos uma dúzia de "marcas" de pretensos vinhos de Pias: Arca de Pias; Amigos de Pias; Anta de Pias; Alma de Pias; Castelo de Pias; Chão de Pias; Ermida de Pias; Lagar de Pias; Ouro de Pias; Porta de Pias; Só Pias; Vinhos de Pias... Mas parece haver mais...

Ora, e tanto quanto eu sei, só há dois produtores de Pias, de resto, com excelentes vinhos, honra seja feita àquela terra... Um deles é Sociedade Agrícola de Pias, que produz e comercializa os vinhos Margaça. Depois há outra marca, que é o Encostas de Pias.

Virgílio, eu sou da Estremadura, o Cartaxo, perto de Santarém,  fica no Ribatejo, a uma horita de caminho (c. 60 km), no sentido nordeste.  Hoje felizmente fazem-se belíssimos vinhos nas duas regiões... E o Cartaxo puxa pelos seus pergaminhos históricos  quer voltar a ser a "capital do vinho", enquanto  a minha terra, Lourinhã (, no passado também com má fama de "marteleira", mas que sempre produziu vinhos desde há pelo menos 800 anos...)  é hoje a capital dos dinossauros e... da aguardente DOC Lourinhã... (Coisa que muita gente não sabe: só há três regiões DOC de aguardente vínica no mundo: Cognac, Armagnac e... Lourinhã!)...

Mas as regiões vitívinícolas em Portugal são apenas as seguintes: Vinhos Verdes, Trás-os-Montes, Douro, Bairrada, Dão, Beira Interior, Távora-Varosa e Lafões, Lisboa, Ribatejo, Península de Setúbal, Alentejo, Algarve, Madeira, Açores...

Conselho ao consumidor: quando comprar (e/ou beber) vinho,  leia por favor os rótulos das garrafas...

Virgílio, o outro vinho , marca "Paladar", nunca ouvi falar... Fica o desafio aos nossos leitores: estes fotos merecem uma boa legenda (**)...
_____________

Notas do editor

Guiné 61/74 - P18819: História de vida (47): O centenário dos nossos pais (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

1. Em mensagem do dia 3 de Julho de 2018, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos este belíssimo texto a propósito do centenário de seus pais que ocorre este ano.


O CENTENÁRIO DOS NOSSOS PAIS

Para recordar e homenagear os nossos pais, no ano do centenário do seu nascimento, estamos aqui os filhos, os netos e os bisnetos, está toda a sua descendência.

Ele chamou-se Emídio António Baptista. Ela chamou-se Maria das Dores Magalhães. Nasceram na Rua dos Paus, em Brunhoso, em casas que distavam entre si cerca de cem metros. Nesse convívio próximo, que marcou o seu crescimento de meninos e adolescentes, aprenderam a conhecer-se, a estimar-se e a admirar-se.

Ele, sendo o filho varão mais velho da família, com a morte do pai, que aconteceu quando tinha apenas 16 anos, teve uma adolescência difícil pois teve que trabalhar duramente na lavoura e ajudar a mãe a dirigir a casa agrícola. Muitas vezes a nossa mãe, na varanda ou atrás das janelas, terá visto esse seu vizinho passar com carros de vacas, carregados ou vazios, para as hortas, para as sementeiras, para as colheitas do trigo e do centeio ou para a cortiça.

Fisicamente era bastante alto, forte, atlético e ágil. Sem nunca se vangloriar disso foi durante muitos anos campeão do lançamento da relha e do ferro, jogos tradicionais muito praticados pelos jovens e homens desse tempo. Nas feiras de Mogadouro vinham por vezes lançadores doutros concelhos a desafiá-lo para a prática desses jogos.

Ela era uma jovem inteligente, bonita, duma vaidade austera, humilde na sua relação com todos mas orgulhosa dos pais que tinha. Gostaria de ter sido professora primária mas não a deixaram estudar. Nesse tempo o dinheiro não abundava e aos filhos de pequenos lavradores nunca lhes era dada essa possibilidade.

Aprendeu a costurar, arte que lhe foi muito útil para vestir filhas e filhos durante muitos anos, aprendeu a tratar do linho, da lã, a tecer e a fazer outros trabalhos domésticos.

Já numa fase tardia da adolescência, frequentando esporadicamente a casa dele, na companhia da Adelaide, sua irmã mais velha, de quem era amiga, duma forma discreta, como ambos gostavam, sem palavras, com um olhar claro e transparente, terá respondido ao olhar dele, que sim, que o amava.

O arquivo secreto da nossa mãe, onde guardava as cartas do namorado, depois marido, e dos filhos, era numa arca de madeira, no meio de lençóis de linho. Foi lá que uma filha, adolescente e curiosa, encontrou um dia algumas cartas que o namorado lhe terá escrito durante a vida militar. Cartas que começavam sempre por “Minha Maria”. Mas a nossa mãe encontrou-a nesse delito de inconfidência, quando ainda só tinha lido uma carta. Foi uma pena para a história da família, pois essas cartas nunca mais foram encontradas e perdemos a possibilidade de conhecer melhor o lado mais meigo e gentil do nosso pai que sendo educado na sociedade paternalista transmontana, procurou sempre esconder debaixo duma capa mais dura.

Do que escreveu, restam apenas três livros de deve e haver, de uma escrita simples de contabilidade dum lavrador e negociante de cortiça, com algumas observações ocasionais sobre a sua vida pessoal e familiar, que os filhos tiveram o cuidado de guardar.

Casaram com a idade de 24 anos e foram viver para uma casa pequena, próxima da casa da mãe dele, que tinha sido duma parenta conhecida por Maria Pequena. Só com cozinha e um quarto, foi a casa onde tiveram os primeiros filhos, dois ou três. Mais tarde foram viver para casa dos pais dela, enquanto iam construindo a casa deles, que encheram de filhos. Foram dez os filhos, três morreram ainda meninos. Somente recordamos, alguns de nós, o Zézinho, um menino calmo e meigo, de tez clara, era o mais novo de todos, um menino muito lindo, dizia toda a gente, segundo a nossa mãe. Era muito lindo, eu conheci-o.

Dos sete que se criaram falta aqui um, infelizmente morreu cedo, o Tomás, que hoje recordamos igualmente com muita emoção. Foi um grande trabalhador, tanto na casa dos pais como na casa dele, quando constituiu família. Eu, muito próximo dele na idade, nalguns trabalhos e noutras vivências, senti muito a sua falta. Todos os irmãos a sentem, cada qual à sua maneira, os filhos muito mais.

As boas árvores conhecem-se pelos frutos que produzem e o Tomás deixou três filhos e uma filha, todos bem educados, honrados e trabalhadores.

Os nossos pais, de início com poucos meios para criar a família que crescia quase todos os anos, foram cultivando terras emprestadas pela mãe dele ou pelos pais dela. Por outro lado, ele começou a negociar em cortiça, um negócio que já fora do pai dele e dum seu avô. Já conhecia alguns produtores do concelho e alguns fabricantes de Lourosa. Tinha uma grande convivência e amor, aos sobreiros que algum avô ou bisavô dele tinha semeado ou plantado nos montes da Lagariça, Ferreiros, Ortelã, Ribeira, Relva e Azinhal. Conhecia bem a cortiça.

Negociar é uma arte de que somente alguns conseguem conhecer os segredos e sabem praticá-la com êxito. Para além da seriedade e da fidelidade à palavra dada, com o seu feitio reservado mas sempre cordial, sabia usar as palavras certas para conquistar a confiança e a simpatia dos outros, o que transformava as suas relações comerciais em relações de verdadeira amizade.

A nossa mãe trabalhava muito. Andava sempre cansada, dizia-se que sofria do coração, mas nunca parava. Gostava de ter meninos, adorava-os. E os meninos cresciam, ficavam grandes e continuavam a dar muito trabalho. Mas ela continuava com um amor imenso a esses meninos que iam crescendo e se faziam homens e mulheres.

Ajudava algumas pessoas mais pobres. Com muita discrição uma vizinha, boa pessoa, com poucos recursos, de quem o homem até não gostava muito por a achar muito intrometida. Dava esmolas às ciganas que lhe batiam à porta a pedir pão, batatas e o azeite para o fiolho. Todas essas mulheres tinham muitos filhos, ela também mãe de muitos filhos imaginava a dor das outras mães por não terem pão para lhes matar a fome. Uma delas, uma cigana gorda, mal encarada, pedinchona, batia-lhe à porta quase diariamente e a nossa mãe dava-lhe sempre esmola, contra a vontade de alguns dos filhos, que não gostavam dela. É que essa cigana além de ter muitos filhos era viúva. Ajudava muito, também, as famílias de triteiros - faziam pequenas acrobacias, eles e os filhos e outros pequenos números de circo – que por vezes lhe pediam a curralada, em frente à casa, para se albergarem e darem espectáculos.

O nosso pai, tenho pensado que sem dar esmolas, dava uma boa ajuda aos seus trabalhadores, da seguinte forma:
Depois das ceifas, das colheitas do trigo e do centeio e da tiragem da cortiça, os meses de Setembro, Outubro e Novembro agravavam muito a pobreza dos trabalhadores, pois a colheita da azeitona só começava a 8 de Dezembro. Lembro-me que nalgum desse tempo parado, que podia ser de fome para algumas casas, contratava quinze a vinte homens, dos mais habituais ao serviço da sua casa agrícola, para trabalhar na Lagariça a fazer desmatagem dos sobreiros. Mas essa desmatagem profunda, feita com o arranque manual dos arbustos feita com pás e picaretas, durante cerca de um mês, nunca chegava a atingir meio hectare, o que não era significativo face aos vários hectares de área de sobreiros que ele lá tinha. Durante muito tempo intrigou-me esse facto, mas depois, conhecendo o carácter discreto do nosso pai e o respeito que tinha pelos trabalhadores, acabei por me convencer de que ele fazia essa desmatagem para benefício dos sobreiros mas sobretudo para benefício dos homens, que eram dignos chefes de família como ele e que precisavam de dinheiro para a alimentar, mas que também, sabia-o ele bem, nunca aceitariam esmolas de ninguém.

Era simpático com os jovens, comprava-lhes sacos de cavacos de cortiça, a bom preço. Alguns dos nossos primos e outros desse tempo ainda hoje me falam nisso. Aos filhos não nos comprava nada, talvez com receio de irmos encher os sacos às rimas de cortiça dele. Eu, de garoto, só me lembro dos trocos dos responsos que me dava o padre Zé na Igreja, e alguma coroa que encontrava quando andava ao rebusco lá em casa.

Se me encontrava na rua à luta com outros rapazes chamava-me e dava-me umas bofetadas com a mão dura dele, que magoava mesmo. Eu achava-o injusto porque pensava que o culpado da luta era o outro e o meu pai nem razões queria saber. Era assim, bastante duro com os rapazes, filhos dele, a quem procurava educar através duma educação espartana. Queria fazer de nós guerreiros destemidos. Recordo-me que, quando mobilizado para a Guiné, fui passar três dias a Brunhoso com ele, ele que nunca tinha cozinhado, fazia umas sopas muito boas. Estava sozinho, a mulher estava com os mais novos, que estudavam em Vila Real. Quando parti, foi comigo a Mogadouro, a despedida foi perto da estátua do Trindade Coelho, ele comoveu-se e deixou cair umas lágrimas, eu fiquei emocionado. Enfim, as lágrimas de um duro comovem qualquer guerreiro.

Com as filhas era mais meigo e tolerante e se tinha alguma censura a fazer-lhes encomendava-a à mulher. Quando veio a moda da mini-saia muitos recados ouviu a nossa mãe por causa de uma filha, que habilidosa, subia sempre as saias que a mãe lhe fazia abaixo do joelho.

O nosso pai morreu cedo, aos 59 anos, depois duma doença grave que o atormentou durante três anos. A nossa mãe, viúva, com a mesma idade, sofreu muito com a partida do seu companheiro de sempre. Para agravar o enorme desgosto pela sua morte sofreu muito pela solidão em que ficou na sua casa vazia. Os filhos, alguns estavam casados, outros trabalhavam longe e outros ainda estudavam. Enquanto a saúde lho permitiu nunca quis deixar a casa dela, apesar de solicitada por filhas e filhos. Algum tempo mais tarde, a Lurdes, já casada e com meninas, alegou que precisava da ajuda dela e conseguiu levá-la para junto de si alguns anos.

Estava presa à terra dela com raízes fortes. Lá estavam todas as suas melhores recordações, dos seus queridos pais, do seu marido e dos filhos nas suas várias fases de crescimento. Na Igreja, essa casa grande e sagrada que a transportava para junto de Deus, todos os Santos lhe eram familiares.

Gostava de ir à horta de Lamas, esse chão para ela sagrado, que herdara dos seus pais, que ajudara a cultivar e tratar ainda menina, com os pais, e já adulta, com o seu homem e os filhos. A burra dela, muito dócil, foi o seu transporte e boa companhia de muitos anos, no caminho para lá, que os netos e netas adoravam, sobretudo quando subiam nela para a beira da avó. Gostava de encher a despensa com todo o género de hortaliças para dar aos filhos quando iam estar com ela ou somente visitá-la.

Porque lhe sobrava o tempo e porque não gostava de estar parada fazia também colchas de renda para os filhos.

O quarto dos nossos pais conserva ainda na parede da cabeceira da cama um quadro com a imagem do Sagrado Coração de Jesus, um grande rosário de cortiça numa outra parede e algumas imagens e estatuetas de santos pousados sobre uma cómoda, onde também se encontra um retrato de um soldado garboso, fardado com elegância, dos finais da década de trinta do século passado. Quando o seu Emídio morreu, a nossa mãe foi buscar essa fotografia do seu namorado, à arca onde a tinha guardado, e colocou-a nesse altar junto dos santos. Tinha-lhe sido enviada por ele de Mafra onde esteve na tropa, com uma linda dedicatória e era a única que tinha da sua juventude. A fotografia torna o nosso pai mais presente, a nossa mãe está presente em toda a decoração que ela fez, que as filhas e netas mantêm, com santos, santas e o amor da sua vida.

No silêncio do dia, da aldeia quase deserta, há uma nostalgia que se espalha pela casa vazia que parece trazê-los à vida. Eles continuam vivos, vivos no sangue que nos corre nas veias, vivos no amor, no trabalho, na dedicação, vivos nos ensinamentos e nos exemplos de vida, que foram muitos. Vivos na raça, na coragem, no génio, os nossos pais, vossos avós e bisavós, foram uns heróis e como os heróis eles são imortais!

Tiveram muitas qualidades, que sempre gostámos de ver projectadas em filhos e netos. Legaram-nos uma herança imaterial imensa, muito mais valiosa do que as terras ou sobreiros que nos deixaram, que todas as gerações de Magalhães Baptistas têm que preservar

Francisco Maria Magalhães Baptista
____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de julho de 2018 30 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18470: História de vida (46): O meu saudoso mano mais novo, Carlos Schwarz da Silva, "Pepito" (1949-2014) (João Schwarz da Silva) - III (e última)

Guiné 61/74 - P18818: Os nossos seres, saberes e lazeres (275): De Aix-en-Provence até Marselha (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 20 de Abril de 2018:

Queridos amigos,
Foi bom regressar a Arles, sabe muito bem pôr os pés em diferentes estádios da civilização, aqui prepondera o romano, o romanesco, o gótico e um certo feitiço dos séculos da penumbra, antes da cidade reocupar a atenção que lhe passou a ser conferida por ser Património da Humanidade. Calcorreou-se lugares conhecidos, mas o polo da atração era um museu que tem uma posição fascinante junto do Ródano, pejado de tesouros, só desenhos de Picasso estão lá 57, há para ali fotografia de muitos génios, convém não esquecer que Arles se arroga a possuir um centro de fotografia de fama internacional.
A próxima visita também será de arromba, aquele viandante que já visitou Pompeia e museus arqueológicos em Roma ou Nápoles nunca vira uma arquitetura tão faiscante para acolher peças de tantíssima qualidade do génio romano.

Um abraço do
Mário


De Aix-en-Provence até Marselha (7)

Beja Santos

Antes do viandante voltar a Arles, em plena ponte de Avignon, olhando para a outra margem do Ródano entrou numa certa euforia, naquela vegetação do Sul de França anunciava-se a primavera, apareciam as primeiras folhas, já tinham sido avistadas as chamadas flores bravias, agora é um maciço florestal que começa a vicejar, que bonito, esta ode à alegria, ao renascimento!


Estamos em Arles, é dia para deambulação e de visita a corpo inteiro ao Museu Réattu. Pelo caminho, registam-se detalhes como estes dois, esta porta de gótico final, digam lá a verdade se não há aqui uns sinais de manuelino.


Já muito se disse sobre o portal de São Trófimo, uma inexcedível beleza do romanesco provençal. Entrando na catedral, confessa-se que toca a imponência, mas para se ser franco escasseiam os adjetivos. Ergue-se sobre o antigo fórum romano, é basílica de três naves, diz o guia turístico que é a maior e a mais esbelta desta época da Provença, último quartel do século XII, exalta-se a sua extraordinária parcimónia. Os historiadores de arte têm dificuldade para uma boa datação, há lá construção do início do século XI, muitos elementos do século XII, a cabeceira data do século XV. Enfim, arquitetura compósita, um tanto como por toda a parte, ia-se fazendo aos poucochinhos, remendava-se, alteava-se, os doadores rasgavam capelas, outros benfeitores adornavam com alfaias religiosas, frescos, pinturas.


Também do claustro de São Trófimo já se fez exaltação, mas foi durante o passeio, depois de contemplar a perfeição das esculturas, de admirar o programa teológico, com apóstolos, o túmulo vazio de Cristo depois da Ressurreição, a ascensão de Cristo aos céus, e muito mais, que num determinado ângulo, com céu esborratado de nuvens se apanhou este ângulo até á torre, e nos fica a ilusão de que ela se adornou daquele azul profundamente azul, como se também ascendesse para encontrar Cristo.


A cidade romana está por toda a parte, mas é um grandioso anfiteatro onde os turistas chegam, trata-se do seu monumento maior, mexendo nos guias, folhetos e mapas, aparecem cores que pouco correspondem ao que o viandante visualiza, muito lhe agrada esta imagem com os seus claros-escuros, sombras misteriosas, pois para ali há corredores subterrâneos, mas o que esmaga são estas possantes arcadas exteriores com passagens em corredor, a contornar toda esta monumentalidade. Todos os epítetos são menores perante este exercício de génio. E ponto final.



Cá estamos, o Museu Réattu é o prato de substância para dia tão primaveril. Houvesse espaço e mostrava-se várias imagens para se ver uma certa grandiloquência desta construção, aqui esteve o grão-priorado de uma ordem de cavaleiros. Depois o pintor Jacques Réattu (1760-1833) comprou o edifício que hoje alberga o museu. Há muita produção local, a começar pelas obras de Réattu, mas Picasso ofereceu 57 desenhos da safra de 1970/71, tinha o génio malaguenho 90 anos. A graciosidade disto tudo é que o edifício está na curva do Ródano, tem várias paisagens a seu favor, a intensidade luminosa do céu, o tumulto da corrente do Ródano, uma linda margem e muitos sinais tanto do Império Romano como da Idade Média.




Aqui misturam-se facilmente o antigo e o moderno, pois há diferentes coleções, fruto de diferentes doações e um esplendoroso acervo fotográfico, lá iremos.




Há um belo Picasso dentro de um florilégio de arte contemporânea, vejam-se duas obras de aproveitamento, uma de lixo, outra de junção de instrumentos de trabalho.




O viandante aproveitou a oportunidade para se empanturrar do que há de melhor em fotografia, temos aqui imagens de consagrados como Dora Maar, Edward Weston, Cecil Beaton, Ansel Adams ou Gisèle Freund, só por esta oportunidade, enquanto por aqui se ciranda, já só se pensa em regressar, feita a digestão de tão magnificente banquete. Aquela bailarina, feita torso seco de carnes a sair da escuridão, Virgínia Woolf fotografada por Gisèle Freund, e aquela impagável fotografia de Julia Pirotte, Rapaz perante um cartaz de cinema, imagem de 1944. Sem palavras.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 30 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18794: Os nossos seres, saberes e lazeres (274): De Aix-en-Provence até Marselha (6) (Mário Beja Santos)