terça-feira, 26 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20385: (De)Caras (142): O Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) ou a arte do dom: "um homem não bebe um copo sozinho" (Luís Graça / Jorge Pinto)


Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > O Eduardo Jorge  Ferreira (1952-2019) e o Jorge Pinto (Sintra)


Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > O Fernando Policarpo  (Lisboa) e o Eduardo Jorge: ambos estiveram na Guiné na mesma altura (1973/74). O Policarpo prometeu-me, ontem, no cemitério do Vimeiro que vai integrar a nossa Tabanca Grande em homenagem ao amigo e camarada Eduardo. O Policarpo tem pelo menos 6 referências no nosso blogue.


Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 >  O Eduardo Jorge, à direita, o organizador: era sempre o último a sentar-se à mesa, zelando pelo bem-estar de todos os convivas...


Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > Sempre proativo, o Eduardo Jorge era sempre quem fazia o papel "chato" nestes encontros, que ninguém gosta de fazer: o de receber a massa e pagar a conta... 



Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > A nossa querida São mais o marido... Em segundo plano, o João Baptista (Óbidos). Inspetora do trabalho, ainda no ativo, a São não podia, muitas vezes, acompanhar-nos... a não ser aos fins-de-semana.



Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > A nossa querida São mais o marido... A São viveu e cresceu em Bissau: o pai era funcionário dos CTT... Mas ela e o Eduardo conheceram-se cá. Têm dois gémeos, o João (Lisboa) e o Rui (Londres).



Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > O Jorge Pinto e a esposa, Ana.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) 
e a arte do dom

por Luís Graça

Contou-me uma vez o Eduardo a seguinte história: o pai, que deve ter nascido nos anos 20 do século passado, tinha uma junta de bois e costumava deslocar-se na região para comprar vinho a granel. No carro, devia levar um ou mais pipas. Ia muitas vezes do Vimeiro à Moita dos Ferreiros, via Marteleira e Miragaia, no concelho da Lourinhã.  A Moita dos Ferreiras era uma freguesia de grande produção vinícola, nessa época (anos 50/60). Pelas estradas de hoje, são cerca de 15 quilómetros. Com o carro de bois, deviam ser umas duas horas e meia ou três. 


Chegava lá cansado, e com sede. Parava numa tasca, para beber um copo. Mas sabia por experiência própria que um homem não bebe um copo de vinho sozinho. Se há gente na tasca, oferece-se de beber a toda a gente. Era a tradição, era a cultura de convivialidade da terra (e em geral da região). Um homem que entrasse numa tasca, pedisse e bebesse sozinho um copo de vinho,  era um homem “marcado”. Para a próxima poderia vir a ter encontros desagradáveis… e os negócios podiam vir a correr mal. 

O pai do Eduardo, que já não é vivo, tal como de resto toda a família (mãe e irmãos), aprendeu, portanto, cultivar a “arte do dom”, a arte de dar, receber e retribuir… E transmitiu isso ao filho...

O Eduardo era daquelas pessoas que, numa época de forte individualismo como a nossa (em que o dinheiro é que define o estatuto social da pessoa), recebeu do pai (e do “caldo de cultura” da sua região) esta tradição do dom, esta arte do dom: um copo de vinho não se bebe sozinho, partilha-se…

Um dos seus traços de carácter mais sublinhados, nestes dias, em que a família e os amigos lhe fizeram a “última despedida”,  foi justamente a sua “generosidade”, “amabilidade”, “dedicação ao bem comum”, “solidariedade”, "empatia" (*)…

Escreveu, na sua página do Facebook,  a Associação Memória da Batalha do Vimeiro de que ele foi cofundador e dirigente: 


“Hoje perdemos um amigo, um companheiro que pertencia à categoria rara das pessoas que irradiam simpatia, dedicação e generosidade.”

Contou um dos filhos gémeos, ontem, na igreja do Vimeiro, nas bonitas, singelas e comovidas palavras que disse do pai, numa igreja completamente cheia de familiares, vizinhos e amigos, a seguinte história: 

“O meu pai era um homens de valores e princípios. Num dia de Natal, celebrámos o dia e almoçámos juntos. Ainda éramos pequenos. Depois, ele levantou-se e disse que tinha que ir a Alcoentre acompanhar um amigo que tinha o pai na prisão. Era Natal e esse filho também tinha o direito que estar com o pai”.

Dos vários testemunhos (incluindo o meu próprio) que foram partilhados na igreja (*), antes do saída do caixão para o cemitério, ressalta a ideia que o Eduardo Jorge era um homem com um coração grande, daqueles corações que não cabem no peito. Ele cultivava, por excelência, a arte do dom: por isso tinha muitos amigos, e amigos sinceros.

O Jorge Pinto, nosso camarada de armas, que se deslocou também ao Vimeiro, para o “último adeus” ao Eduardo, escreveu o seguinte, como comentário ao poste P20382 (*).

“Hoje foi um dia muito triste. Fui ao funeral do Eduardo Jorge, meu amigo e colega de longa data. Durante a cerimónia religiosa foram proferidas palavras que me fizeram reviver muitos momentos… mas a recordação que mais me assaltava à memória relacionava-se com Bissau: Quando, eu todo mordido pelos mosquitos e suado até ao tutano, chegava de Fulacunda na Dornier do nosso saudoso comandante Pombo e o Eduardo Jorge, ainda no aeroporto Bissalanca, pegava em mim e me levava para os seus aposentos na Base Aérea. Ligava o ar condicionado e dizia: 'pá, agora, já te podes coçar à vontade e tomar banho, porque aqui a guerra é outra'...Depois, passado uma hora pegava na motoreta e levava-me até Nhacra comer umas ostras… Era assim o Eduardo Jorge, generoso, ativo, pensando sempre no bem dos outros. Hoje é um dia muito triste”…


Não sou desse tempo, de Bissalanca, sou um amigo mais recente. Já nem recordo quando e quem mo apresentou. Talvez num dos convívios anuais que ele organizava, por ocasião da festa anual de Ribamar, e cuja origem remontava ao ano de 1994, fez agora 25 anos (vd. poste P20380).

Começamos a conviver mais quando ele se reformou em 2009. No blogue está registada a data de 16 de agosto de 2011. Num comentário ao poste P8694 (**), eu deixo um agradecimento, entre outros amigos e camaradas da região do Oeste,  "também ao Eduardo Jorge (professor de educação física, também já aposentado; antigo presidente da assembleia de freguesia do Vimeiro); e ao João Tomás Gomes Baptista, natural das Gamelas/Bombarral, empresário agro-turístico, que nos proporcionou uma tarde maravilhosa em Óbidos"... 

Deve ter sido nessa semana que nos conhecemos, e eu fiquei a saber que tinha estado na Guiné em 1973/74, tendo-o convidado a inscrever-se na nossa Tabanca Grande, o que ele fez no final desse mês (***). 

O nosso convívio intensificou-se a partir daí, tendo o Eduardo sido o primeiro lourinhanense a participar num Encontro Nacional da Tabanca Grande, o VII, em Monte Real, em 21/4/2012. 

Depois disso, começamos a conviver muito mais regularmente, nomeadamente no Vimeiro e em Porto Dinheiro / Ribamar. O primeiro convívio da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã terá sido em 12/7/2015, com a presença do João Crisóstomo e do Horácio Fernandes,entre outros (****). Descobrimos, entretanto, que o João era seu vizinho, de Paradas, A-dos-Cunhados, embora vivesse em Nova Iorque desde 1975. O Eduardo, por sua vez, apresentou-nos o Rui Chamusco, seu colega do Agrupamento de Escolas de Ribamar.

A morte, inesperada, traiçoeira, veio interromper este tão saudável convívio, dentro e fora da Tabanca Grande (*****). Mas, no dia 12 de outubro de 2020, se formos vivos, lá estaremos na festa de Ribamar para lhe fazer uma pequena homenagem, a ele e à  São, a mulher da sua vida. Todos sentimos, os que o amavam e estimavam, que com a sua morte, todos perdemos: "quando um de nós morre, também morremos todos um pouco", lembrei ontem na hora da despedida (*).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Momte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 21 de Abril de 2012 > Dois homens da FAP e de Bissalanca, BA 12: O António Martins de Matos (Lisboa) e o Eduardo Ferreira, lourinhanense, que vive em A-dos-Cunhados, Torres Vedras, uma das "caras novs" do encontro deste ano. "Um foi um dos melhores pilotos de Fiat G91, de toda a guerra da Guiné; o outro foi alferes mil da polícia aérea... Ambos da mesma altura (1972/74, o António Martins de Matos); 1973/74, o Eduardo Jorge Ferreira).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro > A "bajuda do Enxalé", Maria Helena Carvalho (que adotou - e foi adotada por - o pessoal da CCAÇ 1439), e o Eduardo Jorge Ferreira, o organizador do convívio. O Eduardo anda tão entusiasmado com a reconstituição histórica da batalha do Vimeiro, de 17 a 19 deste mês, na sua terra, que até conseguiu convencer o Álvaro Carvalho a fazer a cobertura fotográfico do evento!...





Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Da esquerda para a direita, (i) primeira fila, António Nunes Lopes (ex-fur mil, CCAÇ 1439); João Crisóstomo (ex-alf mil, CCAÇ 1439); Vilma Crisóstomo; Luís Graça; Helena Carvalho (, filha do Pereira do Enxalé, que morreu em Bissau, em agosto de 1974); (ii) segunda fila, Maria Alice Carneiro, Dina (esposa do Jaime), e Álvaro Carvalho; (terceira fila, Eduardo Jorge Ferreira (ex-alf mil, PA, Bissalanca, 1973/74); Alexandre Rato, presidente da junta de freguesia de Ribamar (que, apanhado à boa fila, teve a gentileza de se juntar a foto de grupo "para mais tarde recordar"; Jaime Bonifácio Marques da Silva (ex-alf mil PQ, BCP 21, Angola, 1970/72); Horácio Fernandes (ex-alf mil capelão, de rendição individual, Catió e Bambadinca, 1967/69) e esposa, Milita.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

25 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20382: In Memoriam (356): Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019): elegia fúnebre para um amigo e camarada: quando morre um de nós, também morremos todos um pouco (Luís Graça)

25 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20380: In Memoriam (355): Um alfabravo (ABraço), Eduardo, até qualquer dia!

24 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20379: In Memoriam (354): Eduardo Jorge Pinto Ferreira (1952 - 2019), ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1972/74, régulo da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã: o funeral é amanhã, 2ª feira, no Vimeiro, às 14h00


(...) Camarada (de várias frentes!) Luís Graça:

Pois conforme o prometido, aqui estou a inscrever-me no magnífico blogue que em boa hora criaste e que com os contributos dos muitos aderentes se tem continuado a afirmar como espaço de partilha e de amizade entre aqueles que tiveram (e tem) a Guiné como cenário de passagem.

Confesso que fiquei maravilhado e entusiamado com o (ainda pouco) que li e vi no blogue do qual desconhecia a (já sua longa) existência. (...)



(****) 13 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14872: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (2): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte I): organização 'impex' do Eduardo Jorge Ferreira (ex-1º cabo inf, do exército luso-britânico que se cobriu de glória na batalha no Vimeiro, em 21/8/1808; ex-alf mil, PA, Bissau, Bissalanca, BA 12, 1973/74)


(*****) Último poste da série > 14 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20343: (De)Caras )115): "Nha Maria Barba" ou Maria da Purificação Pinheiro (Boavista, 1900 - Bissau, 1975): expoente máximo da morna e da morabeza da Boavista, esteve no Porto, no Palácio de Cristal, em 1934, na 1ª Exposição Colonial Portuguesa: notas de leitura de um trabalho de pesquisa biográfica, feita por Antonio Germano Lima, da Universidade de Cabo Verde

Guiné 61/74 - P20384: Efemérides (315): Relembrando a sangrenta Op Abencerragem Candente (subsetor do Xime, 25-26 de novembro de 1970) e homenageando o 1º comandante da CART 2715 (Xime, 1970/72), Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014)


Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014)


1. Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, DFA, ex-cmdt CART 2715 (Xime, 1970/72).  Membro da Tabanca Grande, nº 781, a título póstumo, entrado em 26/11/2018, 48 anos depois da trágica Op Abencerragem Candente (sobre a qual temos 20 referências no nosso blogue).

Faltava-nos as duas fotos da praxe, uma do Vitor como militar no CTIG, e outra mais recente, digamos dos últimos 10/20 anos. O Benjamim Durães mandou-nos há dias  esta, que reproduzimos acima. 

O Vitor Manuel Amaro dos Santos tem uma dezena de referências no nosso blogue.

Recorde-se o que aqui dissemos sobre o falecido cor art ref, DFA, Vítor Manuel Amaro dos Santos (Lousã, 22/11/1944- Coimbra, 28/2/2014), ex-cmdt da CART 2715 (Xime, 1970/72):

(i) em 2012 falei, em vida,com ele  ao telefone algumas diversas vezes (, primeira, em 13/1/2012);

(ii) ele mandou-me também diversas mensagens de telemóvel que já transcrevi, em grande parte, no nosso blogue, em que ele me falava do pesadelo do "inferno do Xime" (sic), um pesadelo que ele ainda vivia ao fim destes anos todos;:

(iii) ao mesmo tempo, procurava defender não apenas o seu bom nome e honra, como militar, mas também a memória dos mortos e feridos da sua companhia. 

Esta operação ditou o fim da sua comissão de serviço no TO da Guiné. Um mês e pouco depois, por razões de saúde,  é evacuado para o HM 241, em Bissau, e substituído pelo alf mil art José Fernando de Andrade Rodrigues, também já falecido. (*)

2. Da Op Abencerragem Candente, há 49 anos atrás (**),  a mais sangrenta (para as NT) operação no subsetor do Xime, durante a guerra colonial,  de que temos registo e memória, resultaram pesadas baixas: 6 mortos e 9 feridos graves, do nosso lado... Não nos cansamos de os relembrar:

(i) Da CCS/BART 2917, ao serviço da CCAÇ 12: guia e picador SECO CAMARÁ, assalariado; está sepultado em Nova Lamego:

(ii) Da CART 2715 / BART 2917 (Xime, 1970/72):

- Furriel Mil Mec Auto JOAQUIM ARAÚJO CUNHA 14138068; sepultado em Barcelos;

- 1º Cabo Atirador JOSÉ MANUEL RIBEIRO 18849069; sepultado em Lousada.

- Soldado Atirador FERNANDO SOARES 06638369; sepultado em Fafe;

- Soldado Atirador MANUEL SILVA MONTEIRO 17554169; sepultado em em Condeixa-a-Nova;

- Soldado Atirador RUFINO CORREIA OLIVEIRA 17563169; sepultado em Oliveira de Azeméis...

Dos feridos graves (9), helievacuados, não temos infelizmente registo dos seus nomes, tirando o Sold Sajuma Jaló (apontador de bazuca do 4º GR Comb/CCAÇ 12, onde eu ia integrado, como comandante de secção). 

A emboscada, em L, apanhou na "zona de morte"  os 3 Gr Comb do Agr C [ CART 2715] e 1 Gr Comb (4º) do Agr B [CCAÇ 12]. Estiveram envolvidos nesta operação 3 agrupamentos, 8 grupos de combate, cerca de 250 homens em armas.

"O ataque durou cerca de 20 minutos, sendo a retirada do IN apoiada com tiros de mort 82 e canhão s/r (!) que incidiram sobre a antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, e especialmente sobre os 2 últimos Gr Comb (1° e 2º) da CCAÇ 12, assim como rajadas enervantes de pistola-metralhadora, de posições que ainda não se haviam revelado, nomeadamente de cima das árvores." (Fonte: poste P1318).

3.  A CART 2715, sita no Xime, teve os seguintes comandantes:

(i) cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos;

(ii)  alf mil art José Fernando de Andrade Rodrigues;

(iii) cap art Gualberto Magno Passos Marques;

(iv)  cap inf Artur Bernardino Fontes Monteiro;

(v)  cap inf José Domingos Ferros de Azevedo.

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Notas do editor LG:

Guiné 61/74 - P20383: Parabéns a você (1715): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Guiné, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20376: Parabéns a você (1113): Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69) e António Levezinho, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20382: In Memoriam (356): Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019): elegia fúnebre para um amigo e camarada: quando morre um de nós, também morremos todos um pouco (Luís Graça)



Eduardo Jorge Ferreira  (1952-2019)


Elegia fúnebre para um amigo e camarada:
quando morre um de nós,
também morremos todos um pouco



Querido Eduardo:


Hoje, em pleno Outono,
O barqueiro de Caronte
Levou-te para a outra margem
Desse rio que nos separa.


É sempre triste a despedida,
A separação,
Pior ainda quando não anunciada.
Mas um dia,
De um qualquer dia das Quatro Estações,
Todos tomaremos lugar
Nesse barco do barqueiro de Caronte.


Alguns dirão: é o fim, é o nada.
Mas, não, mesmo para quem não é crente,
Não é uma miragem,
Do lado de cá,
Continuaremos a ver-te
Com o teu sorriso luminoso,
Com a tua voz de comando,
Com a tua presença tranquila.
Os que te conheceram,
E tiveram o privilégio de lidar contigo,
A começar pela mulher da tua vida, a São,
E os teus filhos, João e Rui,
E os teus netos,
Para quem foste sempre um pai e um avô carinhoso,
  

A São, em Monte Real,
no XIV Encontro Nacional
da Tabanca Grande.
em 25 de maio de 2019.
Foto: Luís Graça (2019)

E aqui deixa-me destacar a tua São,
Discreta, mas magnânima,
Aparentando a fortaleza do rochedo,
A tua São, 
Que passou ontem o teu velório
A afagar o teu rosto, já roxo e frio,
E cujo amor e coragem
São uma referência para todos nós,
Seus amigos.



Se há um lugar, para os humanos,
No condomínio de luxo dos deuses,
Lá no Olimpo,
Ela já ganhou esse direito,
Quando também chegar a hora
Da sua partida no barco de Caronte,
Para ir ter contigo.


Haveremos então, todos juntos,
De reatar as conversas e convívios,
Que a tua morte, súbita,  interrompeu.
Não fiques triste, amigo,
Por ires à frente de todos nós.
A tua vida iluminou-nos
E a tua nobreza nesta terra da alegria
Engrandeceu-nos,
A todos nós,
Teus amigos e camaradas.
Temos muito orgulho em ti.


E, no entanto,
Quantos projetos não ficaram
Por concretizar, Eduardo!
E se tu tinhas ganas de viver,
De vivê-los,
Com os teus filhos e netos,
E com a tua São, que se ia reformar.
E, claro, com os teus amigos
Da Associação Memória da Batalha do Vimeiro!

Guardaremos connosco
As melhores recordações,
Do melhor de ti,
Tu que foste um dos melhores de todos nós,
Um homem inteligente
E bom
E generoso
E amigo do seu amigo,
Com um coração tão grande
Que não cabia no teu peito!
 

Quem fica do lado de cá,
Separado por um rio intransponível,
Fica sempre desolado
Pela perda irreparável
Que é a morte,
A tua morte,
A qual é também a nossa futura morte.


Quem fica do lado de cá,
Como nós,
Fica a dizer-te adeus,
Numa despedida
Que é sempre breve, porém dolorosa,
Tingida já da doce e triste saudade,
Que dizem ser tão típica dos portugueses.


Os teus amigos do seminário, da tropa, da guerra, 
Das nossas nossas tabancas e tertúlias, 
De Porto Dinheiro, de Ribamar, do Vimeiro, 
Da Lourinhã, de Almeida, de Lisboa, de Nova Iorque…
Enfim, de todos os lugares do mundo
Onde foste feliz e/ou onde tinhas amigos…
Ficam no planeta azul a dizer-te adeus,
Convencidos que partiste apenas
Para outro planeta de outra galáxia.


Leva contigo estas últimas palavras
Dos teus amigos,
Que elas te ajudem a atravessar o Caronte,
A fazer boa viagem.
E vela por todos nós.


De regresso a casa,
Vamos ajudar a tua São 
E os teus demais entes queridos
A suportar um pouco melhor
A tua partida,
A dulcificar as lágrimas de sal,
A fazer o luto,
A construir a ponte sobre o Rio de Caronte.
É por isso que aqui estamos,
É para isso que servem os amigos,
Os muitos que fizeste em vida.
Até um dia destes, Eduardo,
Um abraço, um alfabravo,
Um chicoração apertado.


Luís Graça, Alice & demais amigos e camaradas 
aqui presentes, na tua despedida, na igreja do Vimeiro.

Lourinhã, Vimeiro, 25 de Novembro de 2019, 14h00

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Nota do editor:

Postes anteriores:

Guiné 61/74 - P20381: Notas de leitura (1240): Mário Cláudio, nos cinquenta anos da sua obra literária (3): “Tiago Veiga”; Publicações Dom Quixote, 2011 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2019:

Queridos amigos,
Conclui-se a viagem de Tiago Veiga em terras guineenses. Curou-se do paludismo, acompanhou a missão da doença do sono até ao chão dos Felupes, deu-lhe asas à imaginação aquele povo e atirou-se a uma empreitada colossal, um canto heroico com reminiscências bíblicas, homéricas e talvez poemas mesopotâmicos, tudo em torno da criação do mundo até ao desfecho, bem clássico, da morte gloriosa do guerreiro.
Como tudo é fantasia, como Tiago Veiga não existiu e nunca se escreveu o Canto Felupe, diz o autor que restam uns versos dessa passagem por terras da Guiné.
E, de seguida, vamos para a última arremetida de Mário Cláudio na atmosfera guineense, pelo menos até agora.

Um abraço do
Mário

Mário Cláudio

Mário Cláudio, nos cinquenta anos da sua obra literária:
Um notável escritor que é nosso camarada da Guiné (3)

Beja Santos

Em “Tiago Veiga, uma biografia”, Publicações D. Quixote, 2011, Mário Cláudio arquiteta, em completa fantasia, o percurso de um pretenso bisneto de Camilo Castelo Branco que calcorreou Ceca e Meca e olivais de Santarém, conheceu meio mundo, em sucessivas gerações. Inventa-se mesmo um crítico que sobre ele dirá:  
“De facto, o que sabemos da biografia cultural de Tiago Veiga, dos interesses da sua inteligência e da formação do seu gosto, tem pontos de contato com o perfil e o trajeto de Fernando Pessoa e das suas tão variadas relações literárias […] No mentor da geração de Orpheu, conheceu Tiago Veiga o escritor que em Portugal corresponde a T. S. Eliot e que com este partilhava, entre o mais, a conceção intelectualista do processo de criação literária […] Faz sentido, em verdade, a atração que pela figura autoral e textual de Tiago Veiga sente Mário Cláudio”.

É nesta pura fantasia que Tiago Veiga arriba em abril de 1932 à colónia da Guiné, vai desportivamente numa equipa habilitada para estudar a doença do sono, e é neste entremez que fica palúdico.
Como se escreve:  
“Logo a seguir sofreria Tiago Veiga uma forte investida de paludismo, experiência que retém não pouco do rito iniciático, e sem a qual se não realiza a completa aderência à africanidade. Atirado para a sua tarimba, o nosso poeta foi atravessando as intercadências de calor e frio, e feitos da febre quartã, as irregulares diarreias, e as variações respiratórias, tudo o que de súbito o tornava ansioso pelo cautério da morte, ou esperançado na exaltação da vida”.

Como o leitor recordará, entrou na vida de Tiago Veiga um pequerrucho, Baltasar, que não despegava da companhia daquele branco, “e fixava aqueles olhitos húmidos no homem que, arrendando com asco os lençóis, ou embrulhando-se avidamente neles, soprava e tiritava, estremecia e quedava-se imóvel”. Não há mal que sempre dure e “Na manhã em que recuperou a consciência viu Baltasar, sentado no chão da tenda, brincando com um sapo, coisa que simultaneamente lhe pareceu como execrável abominação, e sinal tranquilizador”. Um ajudante de Fontoura de Sequeira, o chefe da missão, explicou a Tiago Veiga a mezinha que o trouxera à vida: “foi o cozimento de folhas de quinquilibá que a avó do Baltasarzinho o obrigou a beber”.

Tiago Veiga irá embrenhar-se na cultura dos Felupes, cita-se um chefe do posto de Susana, António da Cunha Taborda, que os estudou em meados do século XX. “A recusa a cruzar-se com qualquer outra etnia, e bem assim a sua relutância a sair da área que, havia milhares de anos, lhes servia de solo, explicaria a ausência de indivíduos Felupes fora da sua região. Da independência de que dava mostras o povo Felupe, resulta que ‘só a força tinha conseguido impor-se-lhe, por vezes, tendo de vencer resistências teimosas e encarniçadas’”. Tiago Veiga chega a Varela e “Lançou os olhos àqueles homens altivos, e relapsos a conversas, e àquelas mulheres que sorriam sempre, mas que pareciam fazê-lo por estratégia de defesa de um segredo ancestral”. Sem nada que fazer no trabalho da missão conduzida por Fontoura de Sequeira, o poeta deu asas à sua imaginação e começou a escrever o seu Canto Felupe, uma espécie de epopeia de um povo sem registo literário. Familiarizou-se com a gente da região de Varela, estudou a figura do feiticeiro ou jambacós que o ajudou a esquematizar o poema, alinhou um conjunto de pontos em que se propunha tratar a marcha da existência humana e onde intervinham vários heróis, tudo começaria com a criação do mundo, a que se sucederia o dilúvio, com vários humanos de valor excecional, haveria mesmo casamento e morte, uma tragédia de arromba, com motivos bíblicos, outros que parecem tirados da Canção de Rolando, isto para já não falar na Ilíada e no teatro grego: guerreiros, danças rituais, jogos de sentido mágico, o cerimonial da circuncisão, enfim, Tiago Veiga versava entusiasmado, e apercebendo-se que a brigada estava de regresso à metrópole, meteu empenho para ficar mais uns tempos em Chão Felupe. Mergulhara na cultura africana mas sem desdenhar da matriz greco-latina, e daí o seu versejar meter tanto um Deus da Criação como uma estátua de Zeus da Olímpia.

Segundo o seu biógrafo, restam duzentos e trinta versos deste Canto Felupe, era um projeto imenso que se desdobrava em doze “Cantos”. O biógrafo dá explicação para esta organização poética, seria resultado do ataque palúdico, das beberragens ingeridas, pois tomara casca de bissilão. E o biógrafo desvela alguns versos do Canto VI e a seguir dá-nos conta que o poeta regressou em abril de 1933 a Lisboa, arrumada a bagagem no Hotel Bragança, desembocou numa tasca do Bairro Alto onde conheceu o poeta Carlos Queirós. Tomou conhecimento que Salazar proclamava a sua intenção de presidir ao primeiro governo constitucional, apercebeu-se que muita gente queria fazer chalaça com ele, perguntavam-lhe, caçoando, se tinha morto muitos elefantes lá na Guiné. O poeta não gostou. E depois tudo muda de agulha, parte para Londres, foi na companhia de António Ferro a uma certa conferência, Tiago Veiga divertiu-se à grande, a visita à National Gallery foi um deslumbramento.
Pingarão, ao longo destas oitocentas páginas, ainda algumas referências à Guiné, mas de pouco significado.

Falta-nos agora o último texto, ao que parece muitíssimo controverso, sobre o nefando Capitão Robles, na obra "Para o Livro de Oiro do Capitão Garcez".

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 18 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20361: Notas de leitura (1237): Mário Cláudio, nos cinquenta anos da sua obra literária (2): “Tiago Veiga”; Publicações Dom Quixote, 2011 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 23 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20374: Notas de leitura (1239): "Um ranger na guerra colonial"..., de José Saúde, Edições Colibri, Lisboa, 2019. Prefácio de Luís Graça

Guiné 61/74 - P20380: In Memoriam (355): Um alfabravo (ABraço), Eduardo, até qualquer dia!


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Da esquerda para a direita, Carlos Camacho Lobo, médico (Maia), Jorge Pinto (Sintra) e Eduardo Jorge Ferreira (Lourinhã)... 


Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Soneto de Luís Graça: Os amigos e camaradas não te esquecem, Eduardo!

Que fazes aí, ó Eduardo, grande amigo,
Especado no frio e feio leito da morte ?
E, nós, que em vida sempre estivemos contigo,
Estamos agora, tristes, entregues à nossa sorte.

Quem nos dera ter o poder de te dizer:
Levanta-te e anda, volta a mostrar-nos o caminho,
Lá onde o azul de Montejunto se possa ver,
Levanta-te e anda, não fiques aí sozinho!

A vida é uma picada, cheia de minas e armadilhas,
Mas, para ti, esta era a terra da alegria,
Onde do pouco tu fazias maravilhas.

Foste um líder, davas o exemplo, ias à frente
Fazendo só bom uso da tua empatia.
Ninguém te esquece, nem no Vimeiro a tua gente.


Luís Graça,

Os amigos do seminário
e os camaradas e amigos da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã
25 de novembro de 2019


Seminário de Almada > Convívio de antigos alunos > 24 de junho de 2017 > Foto de grupo: na primeira fila,  o Eduardo Jorge Ferreira aparece ao centro, com um joelho no chão, tendo à sua direita o Joaquim Pinto Carvalho e o Luís Graça, e à direita o o Miguel Franco...(Todos os quatro passaram pela Guiné, durante a guerra colonial...).


Seminário de Almada > Convívio de antigos alunos > 24 de junho de 2017 > O Eduardo Jorge Ferreira,recordando os bons tempos das partidas (a quatro) de "spiribol" (1)



Seminário de Almada > Convívio de antigos alunos > 24 de junho de 2017 > O Eduardo Jorge Ferreira,recordando os bons tempos das partidas (a quatro) de "spiribol" (2)

Foto (e legenda): © João Vinagre  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição; Blogue Luís Graça / Camaradas da Guiné]




Lourinhã > Ribamar > Festa de Nª Sra. de Monserrate > 14 de outubro de 2019 > 25º convívio dos antigos alunos de seminários, da região do Oeste: 

Este convívio era organizado pelo Eduardo Jorge Ferreira. O próximo, o  26º,  em 2020, já não será organizado por ele. Lá no céu, fará a supervisão. Mas há aqui um  lugar vago, aqui, difícil de preencher, porquanto o perfil do Eduardo era exigente. 

Na foto, o João Vinagre, à esquerda, um "rapaz" da Benedita, Alcobaça, que vive em Lisboa (engenheiro, empresário, reformado),  e o Forival Ferreira, da Lourinhã, que vive na Azambuja (, professor de história, reformado). Salvo melhor opinião, o João Vinagre reúne todas ou quase todas as condições  para integrar a comissão organizadora do 26º convívio,  que será em 12 de outubro de 2020, e onde faremos (,proposta minha, ) um singela homenagem ao nosso Eduardo. Outros nomes que me ocorrem para a comissão organizadora:

Carlos Silvério (Ribamar), Rui Chamusco (Lourinhã), Luís Manuel Silva (Estrada / Peniche, a viver em São Martinho do POrto / Alcobaça)), Jaime Bonifácio Marques da Silva  (Seixal / Lourinhã), Joaquim Pinto Carvalho (Vilar / Cadaval)...  Como se costuma dizer, o poder tem horror ao vazio... 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


2. Mensagem do engº João Vinagre,  um dos dinamizadores dos convívos dos antigos alunos dos seminários dioceses de Lisboa (Santarém, Almada e Olivais), dos anos de 50/60/70:

Com pesar transmito a notÍcia, recebida agora do Luís Graça a informar do falecimento do nosso colega Eduardo Jorge Pinto Ferreira,

Daqui para a frente as caldeiradas do Oeste, em Ribamar, organizadas pelo Eduardo, terão com certeza, se as houver , um sabor diferente.
Eduardo, não sou do teu tempo do seminário , mas recordo-te desde que colaboraste na organização do último encontro em Almada e ficámos amigos como se nos conhecêssemos há 50 anos...

Partiste muiti cedo... fazias-nos falta...

Recordo com saudades a entrega que punhas naquilo que fazias, a tua maneira de enfrentar as dificuldades sempre com sorriso e uma calma que se tornavam contagiantes.

Nas fotos que envio a própria bola de spiribol fez-me lembrar a tua vida ....caiu muito cedo.

Não cheguei a ver-te fardado a rigor como os militares das antigas guerras, que tinhas tanto gosto em representar, na tua terra, o Vimeiro.

um abraço, Edurado, até qualquer dia !!

João Vinagre

Lisboa, 24 de novembro de 2019



3. Mensagem, do João e Vilma Crisóstomo (Nova Iorque):

"Um abraço, Eduardo,  até qualquer dia !!”

Foi assim que o Vinagre se despediu do Eduardo, exprimindo, melhor do que eu sei fazer, a dor e os difíceis momentos que eu e todos os que conheceram o Eduardo estamos passando, depois de "recordar com saudades a entrega que Eduardo punha naquilo que fazia , a sua maneira de enfrentar as dificuldades sempre com um sorriso e uma calma que se tornavam contagiantes".  

Permito-me repetir as palavras do Vinagre porque não sei fazer melhor:" um abraço, Eduardo, até qualquer dia !!"

Por mais que a gente queira,  em ocasiões assim, não há palavras, apenas saudade, dor e tristeza; porque, de repente,ficamos sem jeito, sem saber o que dizer, sem saber o que fazer.

Tentar encostar a cabeça a um ombro amigo como eu tentei, não ajudou; no outro lado da linha,  deparei com dor e tristeza igual à minha, seres devastados também, também eles necessitando um ombro para repousar a sua cabeça cansada. 

Lembrado de ensinamentos de catecismo e ulterior educação religiosa , tentei refúgio e auxílio na fé, de que "a morte é o começo de uma nova vida". E, numa tentativa de respeito, evitando tentações de revolta que não podia deixar de sentir, obrigava-me e obrigo-me a aceitar o que não dá para compreender.

"Um abraço, Eduardo, até qualquer dia!"... Sentimos a tua falta!

Entretanto, meus caros Rui Chamusco, Luis Graça e demais caros camaradas,  ser fortes é o que nos resta, mesmo que cada um de nós tenha de controlar lágrimas e emoções. Que o contagiante sorriso (triste embora neste momento que não dá para melhor) e a calma do Eduardo permaneçam connosco e nos ajudem "até qualquer dia” também!

A Vilma junta-se a mim num grande e fraterno abraço para todos.
João e Vilma



Lourinhã > Ribamar > Festa de N. Sra. Monserrate > 14 de outubro de 2019 > Convívio anual dos antigos alunos de seminário, da região Oeste... Celebrando 25 convívios organizados pelo Eduardo Jorge Ferreira.. Infelizmente este seria último. Mas não iremos deixar morrer esta tradição, nem o Eduardo irá parar a "vala comum do esquecimento". [Na foto, à esquerda em primeiro plano, o Rui Chamusca, professor, da Malcata / Sabugal, que trabalhou com o Eduardo no Agrupamento de Escolas de Ribamar, e era um dos seus amigos do peito. Hoje reformado, vive entre a Lourinhã, a Malcata e Timor. Foi o Eduardo quem apresentou o Rui Chamusco ao João Crisóstomo]

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


4. O Eduardo era o grande dinamizador de, entre outros, do convívio dos antigos seminaristas do Oeste, que se realizava todos os anos em Ribamar, Lourinhã, na segunda feira da festa de N. Sra. Monserrate... O último foi em 14/10/2019. Aqui ficam os versinhos do Luís Graça que o organizador, Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) mandou a todos os convivas.

Ribamar, 10/10/1994 | 14/10/2019: 25 anos de Convívio dos ex-seminaristas do Oeste.


Tradicional caldeirada, organizada pelo Eduardo Jorge Ferreira,
na 2ª feira da 2º semana de outubro, no âmbito da festa anual de Ribamar, em honra de Nª Sra. de Monserrate.

O Eduardo é um dos professores-fundadores da Escola C + S de Ribamar (mais tarde, Escola Básica de Ribamar) no ano letivo de 1992/93…

Com início em 1994, por ocasião da Festa Anual de Ribamar iniciou-se o nosso convívio… A iniciativa foi dele. No princípio era uma escassa meia dúzia de ex-seminaristas, do seu curso…Vinte e cinco anos depois temos já cerca de 7 a 8 dezenas convivas, tudo malta do Oeste Estremenho e arredores…

A efeméride merece ser recordada. Para lembrar essa iniciativa pioneira e em homenagem ao nosso conterrâneo, amigo, condiscípulo e camarada de armas (O Eduardo, voluntárioo da Força Aérea Portuguesa, entre 1971 e 1977, esteve na Guiné em 1973/74, como alferes miliciano, na BA 12, Bissalanca), o poeta de serviço, Luís Graça (n. Lourinhã, 1947; Santarém e Almada, 1958/64; Guiné, 1969/71), escreveu, para todos os participantes do convívio de 2019, e para os mordomos e voluntários da festa de Ribamar que o tornararm possível, os seguintes versinhos (26 quadras populares encadeadas):

Se és ex-seminarista,
E o passado queres recordar,
Vem daí, simples turista,
Até nós, em Ribamar.

Até nós, em Ribamar,
Da Lourinhã, bela terra,
Mesmo se não foste ao ultramar,
E te livraste da guerra.

E te livraste da guerra,
Dando às balas o teu peito,
Nas contas é que não erra,
Eduardo Jorge, o prefeito,

Eduardo Jorge, o prefeito,
Que te chama a capítulo,
Só tens que vir a preceito,
Orgulhoso do teu título.

Orgulhoso do teu título,
Ex-aluno do seminário,
Foste nosso condiscípulo,
Agora septuagenário.

Agora septuagenário,
Mente sã em corpo são,
Não foste padre nem vigário,
Mas é mano de coração.

Mas é mano de coração,
E nessa exata medida,
O seminário de então
Foi uma escola de vida.


Foi uma escola de vida,
Esquece agora a santidade,
Que há muito te é devida,
Com essa proveta idade.

Com essa proveta idade,
Nem jejum nem a abstinência,
Seria até crueldade,
Passares fome, que indecência!


Passares fome, que indecência!
“Carpe diem”, camarada,
Vive, sim, com sapiência,
E ataca-me a caldeirada.


E ataca-me a caldeirada,
Da Senhora de Monserrate,
Cozinheira bem esmerada,
Até no bife de espadarte.

Até no bife de espadarte,
Iguaria desta festa,
Hás de comer a melhor parte,
E rapar o que ainda resta.

E rapar o que ainda resta,
Que já nada é pecado,
Dormes depois uma sesta,
E vais daqui perdoado.

E vais daqui perdoado,
Ó cabeçorra grisalha,
E p’la santa abençoado,
Garante o padre Batalha,

Garante o padre Batalha,
Nosso vizinho e amigo,
Nunca o ouvimos chamar canalha,
Nem ao seu pior inimigo.

Nem ao seu pior inimigo,
Diz o Alexandre Rato,
Patrão desta terra-abrigo,
Veio da Holanda, tem bom trato-

Veio da Holanda, tem bom trato,
O freguês-mor da freguesia,
Vamos com ele tirar um retrato,
E agradecer a companhia.

E agradecer a companhia
De todos vós, afinal,
Danados para a folia,
Mas sem a bula papal.

Mas sem a bula papal,
Excessos não cometemos,
Adeus, não levem a mal,
Já comemos e bebemos.

Já comemos e bebemos
Com esta gente de Ribamar,
P’ró ano cá voltaremos,
Se o Eduardo nos convidar.

Se o Eduardo nos convidar,
E se Deus Nosso senhor quiser,
Cá haveremos de estar,
P’ra comer o que ele nos der.

P’ra comer o que ele nos der,
Um manjar digno de Cristo,
Cá na terra enquanto houver,
Já que no céu não há disto.

Já que no céu não há disto,
A todos, muito obrigado,
Fica o Eduardo bem visto,
E o poeta emocionado.

E o poeta emocionado,
Por ser do clã Maçarico,
De exemplos de vida, rico,
Tem cá muito antepassado,

Tem cá muito antepassado,
Até frade e missionário,
Vai daqui bem confortado
C’o as memória do seminário.

C’o as memórias do seminário,
Termina esta oração,
E, como fraterno corolário,
Deixa-vos um chicoração.

Luís Graça, em seu nome pessoal,
e em nome da organização,
Eduardo Jorge Ferreira & Companhia Limitada.
Ribamar, festa de N. Sra. Monserrate, 14/10/2019
Contacto do organizador:
Eduardo Jorge > telemóvel > 964 485 269
email > ejp.ferreira@googlemail.com

Contacto do poeta:
email > luis.graca.prof@gmail.com
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com

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domingo, 24 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20379: In Memoriam (354): Eduardo Jorge Pinto Ferreira (1952 - 2019), ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1972/74, régulo da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã: o funeral é amanhã, 2ª feira, no Vimeiro, às 14h00


Lourinhã > Porto Dinheiro > Tabanca de Porto Dinheiro > Convívio anual > 18 de agosto de 2017 > A chegada do régulo, Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019). O Eduardo era uma "festa" onde e quando chegava. TInha uma invulgar capacidade de empatia, simpatia, altruísmo... Além de ser um "proativo", um agregador, um organizador, um líder nato..

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição; Blogue Luís Graça / Camaradas da Guiné]


1. A notícia chegou-nos ontem, no sábado, ao fim da tarde. Brutal... Pela voz da Maria do Céu Pinto de Carvalho, do outro lado da linha. E o primeiro a quem eu a retransmiti, depois de confirmada, foi  ao nosso João Crisóstomo, com conhecimento a alguns dos nossos amigos comuns, ligados à Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã:


Data - sábado, 23/11/2019, 20:29

Assunto - Terrível notícia



João: assim de chofre...Acabo de saber e confirmar que morreu o nosso querido Eduardo Jorge... Não tenho grandes pormenores: terá sido no hospital, no bloco operatório, na sequência de uma cirurgia de rotina (extração de uma pedra no rim)

Estamos destroçados: era um dos melhores de todos nós: um grande coração, generoso, solidário, afável, prestável, voluntarioso, amigo do seu amigo...

Um chicoração fraterno... Luis


2. Fui de imediato repescar alguns dos dados que constam na base de dados da Tabanca Grande sobre o nosso querido e já saudoso Eduardo Jorge Pinto Ferreira (1952-2019), para editar  este primeiro In Memoriam (*)

O nosso amigo, vizinho e camarada Eduardo Jorge Ferreira, que morre agora aos 67 anos...

(i) era natural do Vimeiro, Lourinhã, onde nascera em 1/10/1952 (, no Dia Mundial da Música, diz o Ruii Chamusco, seu colega de profissão, seu amigo do peito);

(ii) a família reside na Rua Nova, 16, Pinheiro Manso,  Sobreiro Curvo, 2560 A dos Cunhados;

(iii) passou pelos seminários diocesanos de Lisboa (Penafirme, Santarém e Almada)

(iv) ofereceu-se para a Força Aérea, em 1971, como voluntário, por um período de 6 anos;

(v) foi alf mil da Polícia Aérea, na BA 12, Bissalanca, de 20 de janeiro de 1973 a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre);

(vi) passou ainda, em Lisboa, pela Comissão de Extinção da PIDE/DGS (Gabinete de Imprensa) e pelo Estado Maior General das Forças Armadas (1ª Divisão);

(vii)  passou à disponibilidade em junho de 1977;

(viii) tirou entretanto o curso de Instrutores de Educação Física e,  mais tarde, a licenciatura em Administração Escolar, realizando o percurso normal de professor até uma determinada altura a que se seguiram 15 anos de ligação à gestão escolar, no Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã dos quais 12 como presidente;

(ix) voltou a ser unicamente professor nos 9  últimos anos lectivos,  acabando a sua  carreira profissional em abril de 2011;



(x) era destacado membro da  Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro (AMBV), de que cujos órgãos sociais fez parte, tendo dedicado os últimos anos da sua vida a esta causa;

Esta Associação deixou na sua página do Facebook as seguintes palavras de homenagem: 

"Hoje perdemos um amigo, um companheiro que pertencia à categoria rara das pessoas que irradiam simpatia, dedicação e generosidade.
"A AMBV apresenta a toda a família as mais sentidas condolências e o nosso abraço apertado! Obrigado, Eduardo, por tudo o que nos deste...Até sempre,  Comandante!"

(xi) entrou para a nossa Tabanca Grande em 31/8/2011 (**);

(xii) tem cerca de meia centenas referências no nosso blogue;

 (xiii) era casado com a São, inspetora do trabalho, na ACT - Autoridade das Condições de Trabalho; deixa dois filhos, João e Rui, e 4 netos;

 (xiv) noutra encarnação  sabemos que foi sargento, integrado no exército luso-britânico que derrotou o exército napoleónico na batalha do Vimeiro, Lourinhã, em 21 de agosto de 1808;

(xv) repousa agora no Olimpo dos nossos Heróis, aqueles que são mais doque homens, e menos do que deuses;  e contamos com a sua proteção, enquanto a vida nos deixar andar por cá, por esta Terra da Alegria, que ele tanto amava.


3. Algumas das primeiras homenagens que nos chegaram,  da autoria de amigos, condiscípulos e camaradas:

João Crisóstomo (Nova Iorque), sábado, 23/11/2019, 21h30

Não sei o que dizer…

Juntamo-nos e estamos com vocês neste momento de dor. Entregamo-lo nas mãos do Senhor . Como há uma missa agora vou assistir e pedir ao Celebrante que o lembre também. Grande abraço, 
João e Vilma




À
BOA MEMÓRIA
DO
EDUARDO




Quem foi? quem te abateu tão de traição,
Meu bravo e generoso companheiro?!
Na última batalha do Vimeiro
Tombaste, já não és mais "sargentão"

Foste mestre do bem e do amor,
Ensinaste os caminhos da concórdia;
Se aonde foste, houver misericórdia,
Ela te sirva glória e louvor!

Que a tua eternidade agora seja
O prémio dessas lutas que travaste,
E tenhas paz onde quer que estejas!...

Não foste tu que nos abandonaste…
Foi Deus que te recrutou, com inveja
Daqueles que te amam e que amaste.
















Joaquim Pinto Carvalho (Vila Nova / Vilar / Cadaval)


Rui Chamusco (Lourinhã, Malcata / Sabugal, Timor)