domingo, 21 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21095: Memórias cruzadas nas 'matas' da região do Oio-Morés em 1963/64 (Jorge Araújo) - Parte I


Foto 1 – Bissum-Naga (Região do Óio) - Tabanca reordenada. (Foto do álbum de Aníbal Magalhães, da CCAÇ 2465, 1969/70), com a devida vénia. - P10427.
Foto 2 – Mansoa (Região do Óio) – Mulheres a lavar. (Foto do álbum de César Dias, do BCAÇ 2885, Mansoa e Mansabá, 1969/71), com a devida vénia. - P3066.

 
O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, indigitado régulo da Tabanca de Almada e da Tabanca dos Emiratos; tem 256 registos no nosso blogue.


MEMÓRIAS CRUZADAS
NAS 'MATAS' DA REGIÃO DO ÓIO-MORÉS EM 1963-1964
- O CASO DE ENCHEIA -
PARTE I 
 
Mapa da região do Óio, com indicação de alguns dos locais de "memórias cruzadas".
Em todos eles, e em todas as gerações de combatentes, com início em 1963, ocorreram factos marcantes para o resto da vida… (de todas as vidas)… em que alguns não tiveram direito a "viagem" de regresso... lamentavelmente!


1.   - INTRODUÇÃO

Em teoria, e na prática, aceita-se que a documentação histórica expressa-se e manifesta-se de diferentes modos ou formas, onde a sua consulta, análise e divulgação, permitem que ela deixe de estar em silêncio nos arquivos, em vez de ficar por conta do passado, caso não seja usada ou recuperada.

Foi exactamente isso o que aconteceu a mais um documento que recuperámos dos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973), existentes na CasaComum, Fundação Mário Soares, este elaborado por Bebiano Policarpo Cabral d'Almada (Farim; 02.12.1915 / Senegal; 22.07.1970), datado de 15 de Fevereiro de 1964, com o título: «Relatório do Bureau de Dakar sobre a viagem à região de Casamansa e às bases do Norte da Guiné».

As dezanove páginas que dão forma ao corpo deste relatório, na sua globalidade considerado como mais um "estilhaço" da "historiografia" do conflito armado em análise, serão cotejadas com outras fontes bibliográficas com elas relacionadas, por se "encaixarem" no primeiro objectivo da «Tabanca Grande», enquanto espaço de partilha, que é (e continuará a ser): "ajudar os ex-combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra colonial, na Guiné", daí a razão de ser do título escolhido.

Esse grande "puzzle" (ou pequenos "puzzles", se o dividirmos por marcadores) é constituído, passe a imagem metafórica, por um número indeterminado de "peças" desiguais recortadas segundo a dimensão da imagem ou do quadro (temático), onde se verifique o seu encaixe com as restantes, que no presente caso aborda a temática da «actividade operacional desenvolvida na região do Óio-Morés» (de cada um dos lados do combate), durante o período identificado abaixo.

Recordamos que não se pretende fazer o "culto do passado", nem tampouco fazê-lo reviver, pois o primeiro já não existe mais e os seus observadores e actores já não estão disponíveis para outros "ensaios". O que se pretende é, tão só, relembrar que a estrutura deste documento (de todos os documentos anteriores e os que se seguirem), consciente ou inconscientemente, é/são produto do contexto onde foi/foram elaborado/s, ainda que saibamos que não existem documentos inocentes.

2.   - A VIAGEM À REGIÃO DE CASAMANSA E ÀS BASES DO NORTE DA GUINÉ: - MISSÃO ATRIBUÍDA A BEBIANO POLICARPO CABRAL D'ALMADA, EM JANEIRO/FEVEREIRO DE 1964

Um ano depois do início da luta armada, levada à prática por um grupo de guerrilheiros do PAIGC, em 23 de Janeiro de 1963, com o ataque ao aquartelamento de Tite, onde se encontrava estacionado o Batalhão de Caçadores 237 [BCAÇ 237], e um mês antes do início do "I Congresso", realizado entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964, em Cassacá (Frente Sul), coube a Bebiano Cabral d'Almada cumprir uma outra "missão", esta reservada, agora, para a Frente Norte.

Bebiano Cabral d'Almada, "braço direito" de Pedro Pires na direcção do "Bureau Político" em Dakar, filial do PAIGC criada a partir de Outubro de 1960, foi incumbido de realizar esta "missão" dividia em duas partes: a 1.ª a ter lugar em território da República do Senegal, na região de Casamansa, entre 11 e 21 de Janeiro de 1964;  e a 2.ª, no interior da Guiné, entre 22 de Janeiro e 05 de Fevereiro de 1964.



Citação: (1964), "Relatório do Bureau de Dakar sobre a viagem à região de Casamansa e às bases do Norte da Guiné", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41387, com a devida vénia.

2.1 - PRIMEIRA PARTE: CIRCUITO NA REGIÃO DE CASAMANSA

A análise do documento referente à primeira parte da viagem será superficial, na medida em que muitos dos assuntos tratados em cada etapa (paragem nos principais locais situados na linha da fronteira Norte da Guiné, onde existiam responsáveis por grupos de militantes do partido), não são relevantes para a presente questão de partida.

Ainda assim, e como mera informação/curiosidade, daremos conta de alguns pormenores desta primeira parte da viagem, tipo "legendas de curta-metragem".

◙ 11-01-1964 (sábado) – Partida de Dakar

Sendo portador do bote que me deve servir para a viagem de deslocação no interior do País [Guiné] e levando em meu poder os respectivos documentos, referentes ao mesmo bote, passados pelo Ministério das Finanças e pela Direcção dos Serviços Aduaneiros da República do Senegal, iniciei nesta data a missão que me foi superiormente incumbida.

◙ 12-01-1964 (domingo) – Reunião em Ziguinchor

Reunião para apuramento de responsabilidades dos factos ocorridos em Ziguinchor, entre os membros do Bureau daquele Comité, com a presença de Lourenço Gomes e todos os membros do referido Bureau composto por Indjaibá Lamine, Malan Nanqui, Djau, Apolinário da Costa e Aniceto Lima da Costa, tendo assistido os camaradas, Samba Djaló, Lassemá Silá e José Évora Ramos. (…)

◙ 13-01-1964 (2.ª feira) – Viagem a Sedhiou

Acompanhado dos camaradas Lourenço Gomes e Yaya Koté, segui nesta data para Sedhiou, tendo logo após a chegada, discutidos com eles, assuntos concernentes à nossa luta e a actos que o camarada Saido Baró tem vindo a praticar, desorganizando todo o trabalho e causando perturbações entre os fulas (…).

◙ 14-01-1964 (3.ª feira) – Viagem a Kolda

Com os camaradas Yaya Koté e Duarte da Mota, segui para Kolda a fim de procurar regularizar a situação dos nossos militantes que o Saldo Baró, fomentando um racismo, tem procurado desmobilizar, incitando-os a não acatarem as instruções do Yaya Koté.

◙ 15-01-1964 (4.ª feira) – Convocação dos responsáveis

Por falta de transporte, não foi possível deslocar-me pessoalmente a Sintchã El Hadje, como era meu desejo, tendo contudo para lá seguido o camarada Yaya Koté. (…)

◙ 16-01-1964 (5.ª feira) – Reunião em Kolda

Nada se fez neste dia digno de menção, aguardando-se somente a chegada dos responsáveis.

◙ 17-01-1964 (6.ª feira) – Reunião

Com o fim de procurarmos uma solução para as divergências surgidas entre o camarada Yaya Koté e os outros responsáveis, reunimo-nos nesta data, com a presença do referido camarada Yaya Koté, e dos outros responsáveis, Maunde Embaló, Boncó e Saido Baró, tendo também ainda assistido o camarada Duarte da Mota. (…)

◙ 18-01-1964 (sábado) – Partida para Ziguinchor

Partida de Koldá para Ziguinchor, escalando Sedhiou, onde não encontrei o camarada Lourenço Gomes, que se deslocara a Samine para preparar a minha viagem a Óio, quer dizer, mandar fazer reconhecimento do caminho e do rio Farim, para efeitos de travessia.

◙ 19 e 20-01-1964 (domingo e 2.ª feira)

Aguardo em Ziguinchor a chegada do camarada Lourenço Gomes, que aqui deixou um recado pedindo para o esperar, a fim de combinarmos melhor a nossa viagem.

◙ 21-01-1964 (3.ª feira) – Partida para Samine

Partida de Ziguinchor, acompanhado dos camaradas Lourenço Gomes e Marcelino Indi, este último encontrava-se em tratamento em Ziguinchor, ferido na base do camarada Ambrósio Djassi (Osvaldo Vieira). Já restabelecido,  vai regressar à base.

◙ 22-01-1964 (4.ª feira) – Em Samine - viagem a Sanú

Esperando em Samine o regresso do guia, que foi fazer o reconhecimento do caminho, aproveitei a oportunidade de deslocar-me à povoação de Sanú na fronteira de Barro, acompanhando os camaradas Lourenço Gomes e Biagué, que tinham combinado ali uma reunião para este dia, de acordo com o comerciante António Jamil Sarr, filho de pai libanês e mãe caboverdeana, que nesta fronteira tem desempenhado bons serviços em prol da nossa luta. 

No caminho e já perto daquela povoação, veio ter connosco um portador vindo de Samine, para nos comunicar que o guia já tinha vindo do interior, "trazendo nove feridos evacuados da base de Morés".

# «MC [Memóras Cruzadas]» ▼ A referência a este caso é descrita na bibliografia Oficial, nos seguintes termos: 

"Em 20Jan64, dois Grs Comb da CCAV 567 e duas Sec PCaç 857 (ambas aquarteladas em Binar) bateram a região de Umpabá, armadilhando caminhos. Tendo sido emboscados, reagiram energicamente causando baixas ao In e sofrendo 4 feridos (um dos quais veio a falecer: o fur mil Eurico de Jesus Augusto, natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa)" (Ceca; Vol VI, p.191).

■ Reunião em Sanú

No marco 132, que delimita a fronteira do Senegal com a Guiné, foi efectuada esta reunião, na presença do Chefe daquela povoação de nome Issife Mançal e dos grandes de morança, Dembel Djata, Quebá Mançal, Assià Mané, Beber Mançal, Kussá Djata, Adulai Mançal, Comissere Mançal, Finca Mançal e Infali Mançal, e ainda do responsável do nosso Partido, Poncinho Djata, estando ainda presente Mamadu Biai da povoação de Geba, que esteve preso em Farim, por suspeitas de colaboração com os nacionalistas. 

(…) No mesmo dia passei pela povoação de Sadjuna, onde fotografei o responsável do nosso Partido, Tombom Fati, que ali vive com a sua mulher Imbrunha Sedi, também conhecida por Salimata Sedi e que, desde Bissorã, tem vindo a trabalhar para o nosso Partido.



Foto 3 – Citação: (1963-1973), "Combatentes do PAIGC durante a refeição, base no interior da Guiné", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, Disponível http:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43222, com a devida vénia.


◙ 23-01-1964 (5.ª feira)

Vindos do interior do nosso País em fuga, passou hoje por Samine um numeroso grupo de habitantes da povoação de Bironque, no Óio, que foi incendiada pelos nossos camaradas, em virtude de ter sido lá instalada, a seu pedido, uma base de tropas coloniais. As tropas foram atacadas pelos nossos guerrilheiros e expulsas.

2.2 - SEGUNDA PARTE: CIRCUITO PELAS BASES DA REGIÃO DO ÓIO

Neste ponto, procuraremos aprofundar cada um dos eventos assinalados, cotejando-os com outras fontes bibliográficas, entre oficiais e particulares.

◙ 24-01-1964 (6.ª feira) – Viagem ao interior da Guiné

Em virtude do camarada Lourenço Gomes ter resolvido seguir para Dakar, não fixando data certa do seu regresso, resolvi arranjar um outro guia para não demorar mais a missão que me foi incumbida. Mandei chamar o Augusto Indam, que imediatamente acedeu a servir de guia, tendo sido marcada a partida para a base Central na noite desse mesmo dia, via Bigene.

Fizeram parte da caravana, além de mim e do guia Augusto Indam, um pequeno grupo de camaradas militantes, constituído por Bela Camará, Marciano Djata, Embatate Bessama, Iaia Seidi, Paulo d'Almada e Quebá Mané, que vão ficar na base. 

De Samine para o rio Farim que atravessámos, gastámos cinco horas. Em virtude da escuridão da noite o guia desorientou-se, perdemos o rumo e tivemos de passar a noite no tarrafe.

◙ 25-01-1964 (sábado)

Só hoje de manhã nos foi possível prosseguir a viagem, devido ao facto que atrás referi, o guia ter-se desorientado, tendo por isso dormido alguns camaradas numa margem e outros noutra.

Chegamos à povoação de Iador, onde fomos recebidos pelos camaradas Infamará Sedi e Imbulo Dafé, que nos conduziu a local seguro no mato, onde almoçámos e descansámos. O citado Infamará Sedi, desde há muito que tem vindo a facilitar aos nossos camaradas a travessia do rio Cacheu. 

Partimos de Iador às seis horas da tarde, altura que assim acharam por mais conveniente para prosseguirmos a viagem, evitando que viessem a surgir dificuldades pelo caminho por parte das autoridades coloniais. Chegámos à povoação de Banculém perto da meia-noite, onde pernoitámos. (…)

◙ 26-01-1964 (domingo)

De manhã e antes de partimos de Banculém, reuni-me com o Chefe e "grandes" da morança, aos quais, em nome do Secretário-Geral do nosso Partido, apresentei cumprimentos. (…) 

Finalmente às 08,30 horas, partimos de Banculém com destino a uma nova base recentemente criada pelo camarada Mamadu Indjai e que ficava no nosso caminho junto à povoação de Maqué. 

Esta base foi criada com o fim de serem defendidas as povoações de Gam-Uale, Canjogude e Maqué, situadas na estrada Bissorã-Olossato, ameaçadas de serem incendiadas pelas tropas coloniais portuguesas. Antes de chegarmos ao local onde está instalada a nova base, passámos pela povoação de Bissajar que visitámos e que fica também próxima da base. (…)

À chegada na base de Maqué, apresentaram-me guardas de honra um grupo de militantes, constituído por dois pelotões, um de raparigas e outro de rapazes, chefiados pelo camarada Quebá Mussá Seidi, que desfilaram perante mim, demonstrando o maior garbo e disciplina, tudo orientado pelo camarada responsável da base, Mamadu Indjai. (…) 

O camarada Mamadu Indjai, disse-me não puder na altura acompanhar-me pessoalmente à sua base principal, em virtude de ir partir para Iador, a fim de preparar uma emboscada a uma vedeta portuguesa que tem estado a fiscalizar ultimamente o rio Cacheu, junto ao porto de Iador, onde atravessei no início da minha vagem.

Parti pelas cinco horas da tarde, tendo chegado a Fajonquito já de noite, pernoitando ali, onde encontrei o camarada António Embaná, que dirige a mesma na ausência do camarada Mamadu Indjai.

◙ 27-01-1964 (2.ª feira)

(…) Pelas 11,45 horas, parti deste acampamento, agora interinamente e na ausência do camarada Mamadu Indjai, chefiado pelo camarada António Embaná, a caminho da base principal em Morés, aonde cheguei pelas 16,20 horas. Não fui encontrar o camarada Osvaldo Vieira, que segundo me informaram, tinha seguido para Cubajal [área de Gampará], onde foi chamado, para além do mais, transportar material para a Zona Norte, que se encontra na base do camarada Rui Djassi [onde morreu em combate em 24Abr64].

◙ 28-01-1964 (3.ª feira)

Neste mesmo dia, e já depois de se encontrar no Morés, na base Central, chegou o camarada Agostinho Silva, mais conhecido por "Gazela", vindo da base de Biambe de que é responsável, com o fim de pedir mais munições ao camarada Osvaldo Vieira, pois tem sofrido constantemente ataques das forças coloniais portuguesas, vindas de Bissorã, Bula, Bissau, Canchungo e Cacheu, escoltadas por aviões de reconhecimento, bombardeiros e jactos. 

Recebeu do Encarregado do Material [Manuel Azevedo], tudo o que requisitou excepto balas para metralhadoras "Pachangas", por não existirem em depósito na altura. Reclamou o mesmo responsável, armas anti-aéreas, em virtude dos insistentes ataques de aviação, pois quanto a ataques terrestres, embora seja sempre atacado por forças superiores às suas, isso não lhe preocupa muito. Disse-me ter trazido quatro comunicados de acções empreendidas, que foram entregues ao camarada Quintino Robalo.

Aproveitei o resto do dia para descansar.

◙ 29-01-1964 (4.ª feira)

Na madrugada deste dia, saí de Morés para Dando, a fim de visitar aquela base, de que é responsável o camarada Leandro Vaz. (…) 
Nesta base, existem 700 militantes, sendo aproximadamente 600 rapazes e 100 raparigas. Acabada a visita da base do camarada Leandro Vaz, visitei em seguida uma nova base recentemente criada, situada a poucos quilómetros de Dando e de que é responsável o camarada Augusto Pique. (…) 

Encontrei ainda naquela base, um prisioneiro de nacionalidade espanhola, de nome Benigno Gonzalez, que comprava peles de lagarto na Guiné, para a firma Samuel Amram & Filhos, que vinha de Mansoa para Bissorã, numa carrinha por ele mesmo conduzida, quando foi atacado por nacionalistas que lhe destruíram a carrinha, retirando primeiramente toda a ferramenta. O mesmo declarou que fugiu para a Guiné, por ter sido chamado para o serviço militar em Espanha, e que para aqui veio, por saber que a mãe que ele não conhecia ainda, se encontrava na nossa Guiné, onde vivera em tempos com o falecido Frederique da Policia. Diz que não quere voltar para a Terra e que prefere ficar em Conacri, se a Direcção assim o entender. Disse ter dois anos na Guiné. 

Ainda neste mesmo dia, chegaram à base Central os camaradas, enfermeiro Maximiano Gama e Irénio Nascimento Lopes, este último vindo a acompanhar o material destinado à base Central, vindo do Sul do País, notícia de que tive conhecimento, quando me encontrava ainda na base do camarada Leandro Vaz [Dando], tendo nessa altura seguido imediatamente para a base Central, o camarada Agostinho Silva "Gazela", para receber material, tendo-lhe sido fornecido dez carabinas "Mauser", algumas minas e balas de "pachanga".

# «MC» ▼ No dia seguinte ao levantamento do material requisitado pelo Cmdt "Gazela" (nome de Guerra de Agostinho Silva), responsável pela base de Biambe, encontramos referência, na bibliografia Oficial, à realização da «Operação Biambiloi» na região do Óio, onde participaram as seguintes forças: "CCAV 567 (aquartelada em Binar), 1 GC/CART 527 (aquartelada em Pelundo), 1 Pel Sap (?), 1 GC/CCAÇ 413 (aquartelada em Mansoa) e 2 GC/CCAÇ 556 (aquartelada em Porto Gole). Durante a operação foram destruídas 11 casas de mato, apreendido muito armamento e documentação". (Ceca; Vol VI, p. 195).

▬ Será que o material e documentos apreendidos se referem ao material levantado na base Central (Morés) pelo Cmdt "Gazela", referido anteriormente?
Não podemos confirmar!

◙ 30-01-1964 (5.ª feira)

Depois de descansar na tarde deste dia, contactei com alguns "grandes" das povoações em redor, que tendo sabido da minha chegada, me vieram cumprimentar e com os quais conversei demoradamente sobre assuntos concernentes à nossa Luta de Libertação Nacional. Nesta mesma data regressei à base Central.

◙ 31-01-1964 (6.ª feira)

Cerca das nove horas da manhã cheguei à base de Mansodé acompanhado do camarada Quintino Robalo. (…) 

Em seguida o camarada Inocêncio Kani agradeceu em nome de todos as palavras proferidas, passando a fazer-me a apresentação dos camaradas, entre eles a camarada responsável das mulheres, Sanú Sedi, e o responsável dos homens Cedi Seidi. Ainda fui também informado pelo camarada Inocêncio Kani, que formou um campo de instrução em Canjajá, perto do rio Cacheu, com a intenção de cortar a fiscalização da vedeta que aí faz serviço de vigilância, impedindo os nossos militantes de atravessarem o rio.

◙ 01-02-1964 (sábado)

Por iniciativa dos camaradas João da Silva e Quintino Robalo, que ficaram encarregados da base de Morés, na ausência do camarada Osvaldo Vieira e ainda do encarregado do depósito de material, munições e outros artigos, camarada Manuel Azevedo, foi-me prestada carinhosa recepção. (…) 

Ainda no período da manhã e a partir das dez horas do mesmo dia, sentimos tiros na direcção da base do camarada Corca Só, em Sansabato, saindo dois pelotões da base Central em seu reforço. 

Mais tarde ouvimos ruído de aviões que passaram por cima da base de Morés em direcção a Sansabato, verificando tratar-se de 2 jactos, 2 bombardeiros e 2 aviões de reconhecimento, que passaram a bombardear e a fazer rajadas de metralhadoras, com grande intensidade. Este combate prolongou-se até às 4,30 horas da tarde, tendo as tropas coloniais sofrido pesadas perdas [?], tendo os mortos e feridos retirados por helicópteros, sendo um deles atingido pelos nossos guerrilheiros. Da nossa parte temos somente a lamentar a morte dos camaradas António Colbert e Armando da Costa.

# «MC» ▼ Encontrámos na bibliografia Oficial uma referência, não aquela que acima é narrada, mas uma outra, relacionada com o rebentamento de uma mina anti-carro accionada por uma viatura na estrada de Bissorã, durante uma coluna da CCAÇ 413 (aquartelada em Mansoa). 

Esta ocorrência causou a explosão do depósito de gasolina da viatura, que ficou destruída, sofrendo as NT 3 feridos graves (dois vieram a falecer: Albano Ferreira Lourenço, natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, e Joaquim Maria Lopes, natural de Castanheira de Pera. Os seus corpos foram inumados no cemitério de Bissau, campas 675 e 676, respectivamente. (Ceca, Vol VI, p. 195).

◙ 02-02-1964 (domingo)

Vindos do Regulado de Encheia, apresentam-se na base Central os chefes das povoações de Uenkes, Fajá Intumba; de Tinka, Imbunhe Palna; de Cumbulé, Fona Sime; de Untche, Nhatche Emboca; de Quinaqué, Bernardo Sanhá e de Tchombé, Incussa Matché, que vieram avisar que foram chamados para o pagamento do imposto de capitação dentro do prazo de 20 dias, a contar daquela data. Também pediram pelotões armados, para defenderem as populações do regulado de Encheia. 

(…) Em resposta ao pedido de pelotões armados, ficou assente pelos responsáveis interinos da base, que o assunto seria tratado, logo após a chegada do camarada Ambrósio Djassi (Osvaldo Vieira), que no seu regresso esperam traga material suficiente para a criação duma base em Encheia.

# «MC» ▼ Quanto ao "pagamento do imposto de capitação" trata-se de uma decisão levada à prática pelo Chefe Administrativo do Posto de Encheia, à data, José Cerqueira Leiras, ex-militar da Companhia de Caçadores 153 (1961-1963), sendo este um dos temas abordados no seu livro «Memórias de um esquecido», edição de autor, 2003… agora lembrado!

A este propósito é importante destacar o facto de José Leiras não ter embarcado com a sua CCAÇ 153, de regresso ao Continente, viagem iniciada em 24 de Julho de 1963, a bordo do N/M «Niassa», tendo passado à disponibilidade em Bissau. É nessa qualidade que decide deslocar-se ao palácio para falar com o Governador Peixoto Correia [António Augusto Peixoto Correia (1913-1988)], pois que já lhe tinha destinado o comando do Posto de Encheia.

Na qualidade de administrador local, inicia a sua missão com o recenseamento das 30 tabancas existentes, cobra impostos, manda efectuar a plantação de dezenas de mangueiros à beira da estrada principal e trata de reparar o posto sanitário. Neste âmbito escreve: 

"Com a mão-de-obra negra, orientei os trabalhos e então construiu-se uma pequena pista que lá pudesse ir uma avioneta levar correio. Pelos trabalhos efectuados, éramos muito queridos lá na terra só que o terrorismo naquela zona começava também a dar sinal de vida e em pouco tempo alastrou". (P16503).

Sobre a importância deste documento histórico, escrito na primeira pessoa pelo seu autor, natural do Alto Minho, já o camarada Beja Santos nos apresentou, no P16503 acima citado, a sua apreciação crítica. Aconselha-se, pois, a sua consulta para uma melhor compreensão do contexto da fase inicial da luta armada, ainda que tenhamos de a ela voltar na segunda parte deste trabalho.

◙ 03-02-1964 (2.ª feira)

Manhã muito cedo parti em visita à base do camarada [Mamadu] Corca Só ansioso de saber o resultado da luta ali travada no [sábado] dia 01Fev64.

Vim a saber que os portugueses pretendiam atacar aquela base de surpresa, mas que felizmente um grupo de nossos militantes, que tinham partido em serviço de ronda, avistou-os numa campada de mancarra, aproximadamente a cem metros da base, e apesar da grande desproporção numérica a nosso desfavor, procuraram a melhor posição possível e abriram fogo, enquanto mandaram um camarada avisar na base o que se passava. Isso deu tempo que se preparasse melhor a defesa, dando tempo a que dois pelotões saídos da base Central fossem em seu socorro, sendo um pelotão comandado pelo camarada António Colbert e o outro pelo camarada Domingos Catumbela, não tendo este último chegado a entrar em luta, preferindo esconder-se.

Conforme fui informado pelo camarada Corca Só, responsável da base, que lamentou vivamente emocionado a perda dos camaradas, António Colbert e Armando da Costa, que morreram como dois verdadeiros heróis, pois o primeiro tendo sido avisado por um mouro, que deveria ser gravemente ferido em combate, não se conformou e alheio a todo o perigo prontificou-se imediatamente a seguir em reforço, corajosamente se expõe à luta e tendo despejado todo um carregador da sua metralhadora, voltou-se para pedir um outro carregador ao seu municiador, mas este fugiu levando as munições, pegou então numa "Mauser" que se encontrava em poder de um outro camarada, e abrigado por detrás do tronco de uma palmeira, continuou a fazer fogo, tendo sido então infelizmente atingido por uma bala inimiga que perfurou o tronco que se encontrava podre e se foi alojar no seu ombro esquerdo, conduzido ainda com vida para a base Central veio a morrer momentos depois. 

O camarada Armando da Costa, que lançava granadas, causando enormes perdas ao inimigo [?], entusiasmado com o calor da luta, levantou-se e avançou destemidamente dando vivas ao PAIGC [?], quando foi atingido por uma bala na garganta que o matou. Morreram como dois grandes heróis, estes bravos companheiros de luta, que em todos os camaradas, deixaram uma imensa saudade e a maior admiração por seus actos de valentia.

Sinceramente emocionado pelo que ouvira, soube que os nossos guerrilheiros da base do camarada Inocêncio Kani (Mansodé) tinham apreendido a ambulância do concessionário Manuel Saad, donde retiraram as malas de correio, encomendas postais, diversas mercadorias e alguns livros de instrução primária, que vão ser distribuídos por diversas bases a fim de serem leccionados aos nossos militantes: Incendiaram em seguida o carro, prendendo quatro professores de adaptação, um auxiliar da campanha antituberculosa e um pedreiro da Administração de Bafatá, cujas guias vão anexas ao presente relatório. 

Na mesma data foi ainda apreendido o camião industrial da aguardente e comerciante, de nome Simões [, seria o Manuel Simões, de Jugudul, (1941-2014) ?], estabelecido em Cutanga, área do Posto Administrativo de Nhacra, que também foi incendiado, tendo sido preso o motorista Alberto Buássi, de raça mancanha, bem como o seu ajudante.

▬ Sobre estas últimas ocorrências, não conseguimos obter informações.

◙ 04-02-1964 (3.ª feira)

De regresso à base de Morés, tive ocasião de visitar o depósito geral de material e de diversos artigos apreendidos pelos nossos guerrilheiros, constatando a existência de muitos artigos de uso corrente, conforme o original do balanço, que me informaram ter sido enviado para a Direcção do Partido em Conacri e que se encontram bem arrumados e devidamente conservados. 

Notei também com agrado a rigorosa conservação das armas e munições, a cargo do referido encarregado do Depósito, camarada Manuel Azevedo, que no desempenho das suas funções tem todo o material muito limpo e em devida ordem, notando-se o melhor controlo e limpeza das armas também distribuídas ao pessoal. 

De tarde chegou-nos a notícia, por um camarada vindo da base de Biambe, da prisão do camarada Rafael Barbosa, que tendo vindo até Nhacra, escondeu-se ali numa casa, cujo proprietário, traiçoeiramente, o foi denunciar às tropas colonialistas. (…)

Notei que a melhor eficácia das acções dos nossos guerrilheiros, se deve à utilização de minas nas estradas, que muitas baixas têm causado aos inimigos, tanto em veículos, material e vidas, e de que resulta verificar-se ultimamente raro movimento de carros, nas estradas sob o controlo dos nossos militantes.

◙ 05-02-1964 (4.ª feira)

Iniciei nesta data a viagem de regresso, acompanhado de dois feridos, um rapaz e uma rapariga, por acidente na limpeza e manejo de armas sendo remetidos para o hospital de Ziguinchor.
Continua…
► Fontes consultadas:

Ø  CasaComum, Fundação Mário Soares. Pasta: 07071.123.011. Título: Relatório do Bureau de Dakar sobre a viagem à região de Casamansa e às bases do Norte da Guiné. Assunto: Relatório enviado a Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, por Bebiano Cabral de Almada, Membro do Bureau de Dakar, sobre a viagem à região de Casamansa e às bases do Norte da Guiné Bissau. Data: Sábado, 15 de Fevereiro de 1964. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios IV 1963-1965. Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001).
Ø  Outras: as referidas em cada caso.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde
Jorge Araújo.
21MAI2020
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sábado, 20 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21094: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (15): Os Carolos



1. Em mensagem do dia 8 de Junho de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, desta vez a história dos Carolos, primorosamente narrada.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 14

OS CAROLOS

- Ó primo, senta aí. Hoje vais ficar na Mesa Principal.
- Não. Como assim? Sabes que não sou nada neste mundo da cortiça. - protestei um pouco confuso.

Era o industrial Adérito Carolo, que estava duplamente feliz: com a presença a seu lado do seu filho Aldino, que representava ali o sogro, o grande industrial António Almada e, ainda, com a de outro grande, Álvaro Gato, (que obrigou a mais uma cadeira, por ter chegado mais tarde e porque tínhamos ocupado o seu lugar). Do grupo dos maiores, só faltavam ali o Amorim (que não se fizera notar nessa Gala Anual da Associação) e o Grupo Suber, que presidia à Associação e que, com as entidades oficiais, fazia as honras da casa.

A minha filha Ana havia assumido a maioria das quotas na nossa sociedade, com o objectivo de conseguirmos a aprovação de um projecto apoiado, destinado jovens empresários. (Claro que nunca o conseguimos). Apesar da nossa pequena dimensão, ela veio entusiasmada com o ambiente e a simpatia que lhe dispensaram.
- Ó pai, não percebi bem porque aquele senhor Adérito, te chamou primo.
- Ó rapariga, a história dos Carolos é uma coisa interessante. Vou tentar contar-te.
O Adérito é filho do António Carolo, mais conhecido por Tono Caçador. Gostava muito de cavalos, mas, ultimamente, andava mais de motorizada, na sua actividade de capador.
O Tono Caçador tinha vários filhos (seis), mas eram mais conhecidas as suas três formosas filhas.

Nos anos cinquenta, o negócio da cortiça estava em grande ascensão. Um filho de industrial rico, de Lamas, apaixonou-se por uma delas. Foi um amor bastante badalado. O rapaz ficou conhecido como o “Penico de ouro”, por ter presenteado a namorada com essa peça valiosa.
Casou pomposamente e logo criou uma empresa com o sogro, onde incluiu todos os demais familiares da mulher, como sócios. Com a experiência e o apoio do “Penico de ouro” e o orgulhoso e entusiasmado trabalho de cada sócio, a empresa cresceu exponencialmente. Lembro que o Adérito, mais velho uns dois anos que eu, trabalhou comigo na primeira empresa em que fui trabalhar, aos 10 anos e meio.Os dois irmãos mais novos foram estudar, para o Colégio dos Carvalhos; o Antoninho e o Carlos Alfredo. Não eram muito inteligentes e, como viviam à fartazana, nada ligavam ao estudo.
O Antoninho era muito vaidoso e andava sempre de nariz levantado e cara de importante. O outro, o mais novo, só queria brincadeira. Gozava com tudo e mais ainda com a escola. O Antoninho, logo que pôde, meteu-se no escritório, enquanto o Carlos Alfredo ainda penava, a fazer que estudava e nada aprendia. Andava quase sempre arranhado pelos constantes acidentes de motorizada.

Com 18 anos e comportamento de menino rico, apetrechado com carro e roupas do melhor, o Antoninho procurava namoradas compatíveis com as suas exigências e ambições.
O Antoninho, que era da minha idade, “comprou” a tropa, alegando, em tons de gozo, sofrer do “calcanhar de Aquiles”, justificação que, aliás, apontava para o seu fraco rendimento de jogador de futebol na equipa de Lourosa, que era patrocinada fortemente pela empresa. Casou com a moça mais linda da freguesia vizinha, por sinal, boa rapariga e de gente de bem e… de bens.
O Carlos Alfredo, desistiu de estudar. Tinha vergonha da chacota que os colegas lhe dispensavam. Dentro da fábrica, entusiasmou-se com as várias operações que a confecção das rolhas obrigava, vindo a ser um expert na matéria. O Carlos vivia intensamente. Dentro ou fora da fábrica arrastava energia atrás de si. Aloirado, de olhos claros e sempre sorridente, encantava as miúdas. E, quando aparecia de descapotável junto às praias, elas pareciam moscas à volta dele.

Em 1967, a Guerra do Ultramar estava numa fase difícil e o Carlos não conseguiu livrar-se, à primeira, de ser apurado para o serviço militar. Mexeram os cordelinhos bem untados, mas só ao fim de uns 10 meses de tropa, conseguiu baixar de vez ao Hospital Militar, vindo a livrar-se. Foram 10 meses em beleza, vividos à grande na cidade de Lisboa. Levou um bom carro e, com o “forte carinho” dos familiares, embrenhou-se em ambientes de aparente Jet Set. Nas divagações da noite, conheceu uma lustrosa moça da zona de Cascais, que o fez sentir-se galã e responsável por uma relação …séria. Após mais umas tantas viagens forçadas e umas promessas de amor eterno, casaram. Viviam muito bem numa bela mansão que ele mandara construir, perto de Espinho e do Porto, por forma a usufruir um bom nível de vida familiar.
Foram anos faustosos para toda a família. Com os casamentos consagrados por maior ou menor interesse, mais forte ou menos fraco “amor eterno”, nunca se assistiu à exuberância de tanta felicidade. Ainda hoje se podem ver, reluzentes, algumas das suas moradias similares, alinhadas, à face da rua principal da vila.

O Adérito que fora, dos três mais novos, o primeiro a casar, andou lá por Fiães, junto à igreja e à JOC, até conquistar a mulher dos seus sonhos. Sempre moderado e simpático, transmitia optimismo e confiança. Todos gostavam dele. Por sinal, não foi só ele que vi fazer-se, pontualmente, um religioso fervoroso. Uns 15 anos mais tarde, o Adérito, apercebendo-se da “enorme nau” em que a empresa se transformara, numa de humildade, chegou a acordo com os irmãos, que lhe compraram a quota. Depois montou uma pequena fábrica, onde eu tive a oportunidade de o contactar. Vivia feliz com o “pouco” que dizia ter. O filho fora estudar gestão e vivia ansioso por se desenvolver no ramo da cortiça. E assim aconteceu. Só que o rapaz veio a casar com a filha de um dos maiores industriais da cortiça, o António Almada. E era na qualidade de representante do sogro que estava ali, orgulhosamente, na mesa, ao lado do pai. Eles, que me acompanhavam naquela “coisa” da canoagem, por isso se fartaram de te fazer perguntas sobre esse tema, em que tu, uma Campeã, também tinhas muito que contar.

Entretanto, a Anabela, uma filha do Antoninho, que era uma fotocópia melhorada da imagem da mãe, incitada pelos pais, começou a namorar com o filho do “Rei do Ferro”, um homem que se enchera com os seus negócios escuros conseguidos sub-repticiamente na altura do “controlo operário” da Siderurgia Nacional. Dada a empatia criada entre estas duas famílias, o casamento dos jovens seria a chamada “cereja no topo do bolo”.
Marcaram o casamento e foram efectuados os numerosos convites a tudo que era socialmente destacável naquela região de Santa Maria da Feira, Espinho e arredores. E, nesses “honrosos” convites, pedia-se vestimenta a rigor, incluindo o “charmoso” chapéu de coco.

Os modelos em voga

Só que, enquanto se encenava o mais formal dos desfechos de uma relação pró conjugal, aconteciam outros relacionamentos de proximidade pouco oportunos. É que a bela rapariga nunca eliminara de todo a sua paixoneta por um rapaz, o Luís, meio perdido pela droga, que conhecera, ainda adolescente, na Escola de Fiães.

As modelos em voga

Nunca se vira casamento igual. Carros topo de gama, farpela à maneira e vestidos do último grito. Não sei se Hollywood poderia competir com coisa assim.

Os carros em moda na alta roda

A cerimónia estava marcada para as 11H00 e era já quase meio dia sem a noiva aparecer. Não era normal tanto atraso, mas como se tratava de um casamento de outra dimensão, parecia que o atraso fazia parte dessa excepcional grandeza. Telefonemas para um lado e murmúrios para o outro, mas, quanto à verdade, nada se sabia. Até que o Senhor Antonino avisa que não há casamento, porque a noiva… desaparecera. Foi uma bomba!

E agora, que fazer aos chapéus?

O seu parceiro, preocupado, pergunta-lhe:
- E agora, está aqui a malta toda emproada, feitos pavões e de chapéu à maneira, que vamos fazer?
- Que se fodam lá os chapéus! Olha, vamos mas é todos comer e beber à puta d’alma, porque a despesa já está feita e este mundo são dois dias.

Não havia nada a fazer, o rapaz de “mau porte”, passara lá de madrugada e levou a noiva numa motorizada, não se sabia para onde.
Grande nau, grande tormenta. A Empresa Corticeira fartou-se de dar dinheiro. Mas quando se verificou que as despesas (e os desvios) aumentavam e as receitas nem por isso e que os encargos se avolumaram em toda a linha, teve início a uma crise, também agravada pelo menor fulgor neste sector industrial. Em pouco tempo tudo se comprometeu e todos tentaram safar-se. Porém, os que mais se assumiram (os quatro que compraram as quotas) ficaram hipotecados à banca, que lhes foi comendo os valores.
Foi tudo à falência. Valeu ao Antoninho, os valores da mulher que não estavam sob hipoteca. O “Penico de ouro” também estava salvaguardado parcialmente, pela empresa do pai. O Senhor António Caçador até perdeu a casa, porque tinha apostado tudo naquele projecto. O Carlos Alfredo ficou também sem casa e sem nada. A mulher, que tanto gastara e tanto gozara, fugiu para Lisboa, deixando os dois filhos já moços, às custas do pai. Os filhos mimados e o pai meio aburguesado, não viam maneira de se defenderem. Foram anos de desespero para eles. Valeu ao Carlos Alfredo a sua capacidade técnica nos mais variados serviços. Sem instalações e sem máquinas minimamente adequadas, ele inventava esquemas incríveis para se desenrascar nesses chamados “serviços especiais”.

Apareci por essa altura e até fiquei prejudicado, devido às habilidades de um dos filhos. Dormia no Pavilhão de trabalho e mandou os filhos para a casa do avô, enquanto não entregou a casa. Mais tarde, ele, já sem os filhos, e com outras capacidades, pediu-me que voltasse a dar-lhe serviços. Efectivamente, não lhe faltavam máquinas nem espaço para trabalhar. Tinha mais serviço. Conseguira entrar como fornecedor no Grupo Amorim, mas receava ficar preso ao alegado comportamento monopolista desse grupo.
Tivemos um bom relacionamento nestes últimos anos. Ele recuperou a estabilidade e voltou a exibir o seu largo sorriso. Estava escaldado de todo o tipo de relacionamento e muito cru em desenvolver novas amizades. Nesta fase, já ele andava com um moderno Mercedes, comia e bebia do melhor, tal como já o fizera noutros tempos. Bebia já de manhã. Por vezes tomávamos o primeiro cafezinho juntos e ele nunca dispensava um bom whisky. E lá recordava ele, bem-disposto, em jeito de intimidade:
- As nossas avós deviam ser umas putas de primeira. Coitadas, vieram lá de “casa do caralho mais velho”, nos tempos de fome e guerra e andaram por aí à balda.
E eu, acrescentava:
- E ninguém diz que teriam sido casadas. O que eu sei é que a minha avó teve três filhos de pais diferentes.
Voltava ele:
- A minha teve dois e também não teve marido.

Lembro que quando a minha Mãe Bia faleceu eu era, ainda, criança. Sei que ela trabalhava para o Azeiteiro da Feira dos Dez, onde nasceu o meu pai. Era magra, morena e muito reservada. O que mais me chamava a atenção era vê-la sentada em pose, muito calma, a beber café/cevada (que me oferecia sempre) e a… fumar. Coisa raríssima naquele tempo: mulher pobre a fumar.
Um dia, vejo o Carlos Alfredo menos receptivo e a dar sinal à “empregada” para me atender. Era a Lina, uma senhora bem vistosa, de uns 50 anos, que me segredou:
- A cabra da mulher, voltou e ele anda desanimado.

Quase a chorar, a Lina queria desabafar e lamentar mais uma vez a sua triste sina. Disse-lhe para ter calma e deixei-lhe a orientação do serviço que desejava e afastei-me.
A Lina era uma linda loira de sorriso reservado, de olhar calmo e comportamento introvertido. Aos 16 anos sentia uma certa atracção por um rapaz da JOC que era mais velho uns 4 anos. O Arlindo, o tal rapaz, também de Sanguedo, foi mobilizado para a Guiné. A Lina sentiu que teria que se aproximar mais dele e, num Domingo, à saída da missa das 11H00, abeirou-se dele, a desejar-lhe boa sorte e deixou-lhe o recado:
- Olha, se precisares de Madrinha de Guerra…

Não levou um mês para que a Lina recebesse uma carta agradável do Arlindo. Ela entendeu esse contacto como uma importante decisão nas suas relações. Esse relacionamento aproximou-os mais. Quando, um ano depois, ele veio gozar férias e teve alguns encontros com ela, eles culminaram com alguns abraços e beijos mais avançados. Ela sentiu-se “comprometida” e interiorizou a condição de fiel namorada. Escreveram mais vezes e em modos mais apaixonados.
O Arlindo regressou da Guiné logo em Maio, após o 25 de Abril. Vinha eufórico. Feliz por ter terminado a comissão de serviço na guerra, feliz por a guerra ter terminado e muito feliz pela sua situação amorosa.
A oferta feminina era grande e a Lina, afinal, não era a única madrinha nem a única namorada. O Arlindo, perante a situação de engatatão, teve que tomar opções sérias. E como a Lina, parecia a mais apagada das suas conquistas, ele deixou-se embalar por outros sonhos. Se a Lina era reservada e introvertida, a partir dali, ainda mais ficou. Sofreu muito com essa desilusão e “escondeu-se” na igreja, chegando a parecer mais devota que a Stª. Teresinha do Menino Jesus. …

Tinha ido trabalhar para a Empresa Corticeira, onde acompanhou de perto a sua maior ascensão e a sua queda. E quando o Carlos Alfredo lutava para sobreviver e tinha sido abandonado pela mulher, sentiu-se na obrigação moral de o ajudar. Chegou a sacrificar o seu salário, para o auxiliar em situações aflitivas.
Um dia, ela disse que tinha que ir a Fátima a pé, para cumprir uma secreta promessa, tal como nos outros anos. Só que ele estava apertado com o serviço e precisava dela. A Lina, ciente da situação, lembrou-se de ir falar ao Padre Abílio e expor-lhe o assunto.
Ele, condescendente, disse-lhe:
- Ó rapariga, andaste a cumprir a promessa pela salvação do Arlindo na guerra, mas ele casou com outra. Já há uns anitos. Isso demonstra bem que és uma fiel criatura de Deus e que mereces ser mais feliz. Olha, não deixes de ir a Fátima, mas não precisas de ir a pé. Vai à minha responsabilidade.

No dia seguinte, a Lina confessou ao Alfredo que o padre lhe dissera que poderia cumprir a sua promessa indo de viatura.
- Ó Lina, se eu te levasse a Fátima e te trouxesse de seguida, tu aceitavas?
Ela pensou e respondeu-lhe:
- Vamos, mas eu vou ver se arranjo alguém para ir comigo, percebes? Podemos ir a tempo da Procissão das Velas e virmos embora.

Partiram já da parte de tarde daquele dia 12 de Maio. Como ela não levou companhia, ele perguntou-lhe porquê.
Ela respondeu-lhe:
- Afinal, já não tenho nada a perder, uma vez que nunca cheguei a ganhar nada. Já perdi o melhor tempo da minha vida. Resta-me continuar a viver de bem com Deus.

Seguiram o programa dela. Por ele, viria embora logo após a Procissão das Velas. Porém, ela sugeriu:
- Podíamos ficar para amanhã e assistir ao “Adeus à Virgem”, até porque a esta hora, iríamos perder quase a noite toda na viagem. Que achas?
Arranjaram uma pensão nos arredores de Fátima, no único quarto que havia de vago. Mesmo assim, ele pensou em dormir no chão, para dar a cama à Lina.

A Lina cumpria promessas em benefício alheio.

Foi uma noite de muita conversa e muita aproximação. Finalmente, ela falou abertamente. E confessou que já há muito tempo que sentia essa aproximação por ele. E que sentira sempre revolta por ver a sua mulher a tratá-lo tão mal. Não se aproximara mais dele porque, com a desilusão que sentira com o Combatente Arlindo, a levara a prometer nunca mais querer saber de homem algum. Além disso, o Carlos continuava casado. Desde então, viveram de forma diferente. Ele mantinha as aparências de um viver discreto, mas que acabou por aumentar a sua assiduidade nas pernoitas em casa da Lina.”

************

Quando voltei à fábrica do Carlos, para receber a mercadoria, apercebi-me de uma senhora, de cabelos engalanados, presos por um lenço, para se proteger da finíssima camada do pó das rolhas.
- Que se passa, Carlos, quem é essa senhora?
Ele respondeu prontamente:
- É a filha da puta da mãe dos meus filhos, que veio cá acima ver se colhia mais alguma coisa. Olha que ela deu-se ao desplante de querer trabalhar, para mostrar a sua “humildade”, agora tantos anos depois. Nem se lembra que ainda estou fodidinho, controlado por Finanças, Bancos e Tribunais, devido à falência da Empresa Corticeira.
E continuou:
- O que vale é que ela já disse para lhe arranjar algum dinheiro, para voltar para Lisboa. Vou ver se a despacho ainda amanhã, porque no Sábado quero ir para a beira-mar, para Paramos e almoçar uma “parrilhada de peixe” no amigo Orlando com a minha Lina. Essa sim, é uma mulher de cinco estrelas! Coitada, tem sofrido tanto que nunca será recompensada como merece!

A Parrilhada do “Camarada” Orlando é um espectáculo!

Passei a vê-los habitualmente felizes, especialmente da parte de tarde, depois de ele ter complementado bem o almoço com o indispensável digestivo. No ano passado, ele teve uma recaída da sua doença pulmonar e deixou de trabalhar. Lá me desenrasquei com uma alternativa. Porém, umas semanas mais tarde, telefonei, a saber se já havia recuperado. Atendeu a Lina, a chorar:
- Ó Senhor José, o meu Carlos já morreu. Nem lhe disse nada, para não o entristecer. Estou para aqui desolada, a sofrer este desgosto. Éramos tão felizes!


Uns 15 dias depois, telefonámos-lhe a convidá-la e passámos por sua casa. Fomos almoçar ao Casarão de Paramos. O patrão esmerou-se em elogios ao casal que costumava ocupar aquela mesa do lado do mar.
A Lina chorou mais uma vez. Porém, senti que lhe havíamos dado uma alegria que, por certo, iria suavizar a sua dor. No final, ela pegou na rosa vermelha que ornamentava a mesa e disse:
- Ó Senhor Orlando, vou levar a rosa que o meu Carlos costumava oferecer-me.

E mais à saída, virando-se para mim, murmurou em tom saudoso:
- Sabe, Senhor José? Ele ficava tão amoroso depois de beber um copito.

Notas:
1 – A Anabela e o Luís, que fugiram na motorizada no dia da grande boda, fizeram uma família muito feliz. Possuem uma cadeia de lojas de Moda.
2 – O Antonino continua a aparentar muita importância. Anda sempre de Mercedes, pasta preta e óculos escuros. Interpelado, em casa, pelos agentes de execução, respondia jocosamente: - Estou para aqui desterrado nesta quinta, onde vivo da caridade da minha filha. Não tenho nada em meu nome. Roubaram-me tudo.
3 – Há dias vi a Lina a sorrir, numa foto do facebook, com uma criança ao colo e os dois filhos do Carlos ao seu lado, com as respectivas mulheres. Afinal, esta é que é a verdadeira mãe que sempre tiveram.
# - Esta história é fictícia. Porém, como assenta em factos reais, pode descrever algumas coincidências.

José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
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Nota do editor

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Guiné 61/74 - P21093: Os nossos seres, saberes e lazeres (398): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2019:

Queridos amigos,
Aqui ficam algumas recordações de uma tarde passada na Certosa di San Martino, a Cartuxa que hoje é monumento nacional. É um imenso mosteiro, com posicionamento esplêndido na colina Vomero, por baixo do Castelo de Sant'Elmo. O interior da igreja é um verdadeiro tesouro, possui frescos de Luca Giordano e a Pietá é obra de Ribera. Veja-se a harmonia do claustro, a imersão no museu é um mostruário de riqueza e espiritualidade que supera a nossa conceção do que é um museu nacional, está ali o melhor da história de Nápoles, entre os séculos XV e XVIII.
Fica uma grande vontade de voltar ao assunto.

Um abraço do
Mário


Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (9)

Beja Santos

Depois do Castelo de Sant’Elmo o viandante faz uma pausa, chegou o momento de mitigar a fome, senta-se numa cantina, pede canelones, continua sem entender porque é que o preço da sopa custa couro e cabelo, remata com cappuccino e irrompe na Cartuxa e Museu Nacional de S. Martinho, hoje monumento nacional, com este estatuto obtido em 1870 conseguiu-se evitar a degradação desta antiga cartuxa e do seu extraordinário património, um verdadeiro museu de arte. No guia que sobraça e que o acompanha pelos díspares itinerários, lê a propósito da Certosa di San Martino: “Em 1325, Carlos, Duque da Calábria, iniciou a construção de um dos mais ricos monumentos de Nápoles". Os frades cartuxos tinham visão, e entre os séculos XVI e XVIII os maiores artistas da época trabalharam na Certosa (convento de frades cartuxos). Alterou-se tudo com a passagem do tempo, houve reconstruções maneiristas e barrocas, os franceses secularizaram o mosteiro e assim, com a extinção das ordens religiosas, chegámos ao museu nacional. A igreja tem uma decoração barroca sumptuosa, veem-se estas imagens e percebe-se facilmente que custou uma fortuna, é um verdadeiro Eldorado para os aficionados do barroco.






E da igreja passa-se ao museu, o que aconteceu no século XIX não era uma ideia completamente nova, os frades cartuxos tencionavam que San Martino fosse um depósito da história e civilização napolitana. As coleções documentam as ricas e variadas formas de expressão artística encontradas em Nápoles, entre os séculos XV e XIX: desde pinturas a joalharia de coral, cenas tradicionais de presépio, porcelana, gravuras e esculturas de marfim.




Os corredores e as antecâmaras são ricamente ornamentados, tinha o viandante saído das cenas da Natividade e deu consigo a contemplar esta ilusão ótica, não há corredor nenhum, tudo se detém naquela parede, não é original mas não é por isso menos encantadora.


Há muita pintura neste museu. O guia destaca a arte napolitana do século XIX, o viandante não se sentiu seduzido. Achou fora de série este Martírio de S. Sebastião, de Ribera, um mártir muito sexy, bem preparado para levar mais uma frechadas e partir para o paraíso. Há quem deteste Ribera, mas temos que lhe reconhecer que ele sabia de anatomia a potes, a colocação da figura humana nos termos que ele fez introduz elevação, êxtase, só um grande mestre podia confinar a massa corporal num amplexo de arte religiosa sem a perda de horizonte do melhor património da pintura europeia.


Nada de atafulhar o leitor com os detalhes minuciosos da visita, muito se podia falar de pinturas, mobiliário, etc., reconstituindo os momentos-chave da história política, social e cultural de Nápoles, desde as dinastias de Aragão aos Bourbon, o que aqui se mostra tem a ver com as dimensões e a harmonia do claustro, a capela do prior da Cartuxa, um bergantim dos Bourbon e não se resiste a mostrar o vestígio de um arco que seguramente vem do primitivo convento, e aqui está tão delicadamente conservado.





Vale a pena regressar a este mosteiro, recolheram-se imagens de coleções maravilhosas e o Belvedere é também de uma enorme beleza, tem a cidade de Nápoles a seus pés.

(continua)
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Nota do editor

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