sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24563: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (2) Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11, “Os Lacraus” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) - Parte I

Fotoo nº 1 : Lisboa > 20 de junho de 2019 > Uma foto para a eternidade... O último convívio, num restaurante, para uma sardinhada, de quatro Lacraus... Da esquerda para a direita: Renato Monteiro  (1946-2021), Abílio Duarte, Valdemar Queiroz e Manuel Macias, todos ex-fur mil da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70). O Abílio já não estava com o Renato há mais de 30 anos... A pandemia de Covid-19 e os problemas de saúde (do Renato e do Valdemar, ambos vítimas da DPOC - Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica) não permitiram que esta sardinhada se repetisse em 2020 e muito menos em 2021.

Foto  nº 2 > Espinho > Silvalde > Fevereiro de 1969 >  CART 2479 / CART 11 >   IAO, Instrução de Aperfeiçoamento Operacional >  Uma "foto histórica" um "ninho" de lacraus, designação do pessoal da futura  CART 11... "Os operacionais da CART 11: o Pechincha (o 2º) está entre mim (o 3º) e o Macias (o 1º) , na primeira fila, da esquerda para a direita".

Foto nº 3> Lisboa > 1969 > Furrieis da CART 2479 > "Jantar de despedida antes do embarque para a Guiné, com o nosso 1º sargento, Ferreira, que chegou a major e já falecido". [O camarada que, no último plano, está a nível acima dos outros, parece ser o mesmo que aparece em igual posição na foto de cima... À sua direita, parece-me ser o Pechincha. E à sua esquerda estaria o Renato Monteiro].

Foto nº 4 >  CART 2479 (futura CART 11)  (1969/70) > > Jantar-convívio dos furriéis milicianos e sargentos em Espinho, dias antes do embarque , que será em 18 de fevereiro de 1969, no T/T Timor. O Valdemar Queiroz está ao centro, todo aperaltado, de gravata e casaco de xadrez...

Foto nº 5 > A bordo do T/T Timor > Fevereiro de 1969 > CART 2479  / CART 11 (1969/70) >  Da esquerda para a direita, os fur mil Pechincha, Valdemar Queiroz   e Abílio Duarte

Foto nº 6 > Guine > CART 11  (1969/71) >  No cais fluvial do Xime >  1969 "Eu [em primeiro plano, à esquerda] e o alferes Martins [em segundo plano] no Xime" [O Xime era a "grande porta de entrada" do leste]

 Fpoto nº 7 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Nova Lamego > "Porta de armas": continência à bandeira nacional. 

Foto nº 8

Foto nº 8A 

Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Paunca > Guiro Iero Bocari > CART 11 (1969/70) > O refeitório de toda a malta...

"Vemos o ex-fur-mil Cunha, o ex-alf.mil Fagundo, o ex-1º.cabo enf José António e outros que não identifico a almoçar numa mesa, com o tampo feito de canas entrelaçadas, com o célebre garrafão de vinho e sentados nuns bancos de toros e as crianças à espera, no arame farpado, do 'parte' qualquer coisa que sobrar" (Legenda de Valdemar Queiroz).

Foto nº 9 > Guiné > Zona leste > Região de Baftá > Contuboel > CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > 1969 > "Em cima de uma montanha de mancarra". 

Foto nº  10 >  Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Piche> 1970 >  De Piche, para Bafatá, num Cessna dos TAGP

Foto nº 11 > Porto, s/d > Muito provavelmente na casa do ex-alf mil Pina Cabral, cmdt do 4º Pelotão da CART 2479 / CART 11: o Umaru Baldé e o Leonel (ex-1º cabo cripto

Foto nº  12 > Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > A referir nesta foto o 4º. Pelotão, com o ex-alf  mil Pina Cabral (falecido em 2022)  sentado, mais o Valdemar; à esquerda o ex-1º cabo at  Altino, mais o Manuel Macias, o Abílio Duarte Pinto, o Aurélio e a ainda o ex-fur  mil trms Silva.

Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Brasão da CART 11, "os Lacraus"


1. Apresentamos hoje a primeira parte de uma seleção das fotos (*) do Abílio Duarte, ex-fur mil art MA,  CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11), "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70).  

Faz parte da Tabanca Grande desde 27/8/2010. Tem cerca de 7 dezenas de referèncias no blogue. Esteve no CTIG de fevereiro de 1969 e a dezembro de 1970.

Na CART 2479/CART 11 havia pelo menos dois furriéis com máquinas fotográficas: ele e o Cândido Cunha. O Abílio Duarte, bancário reformado, residente na Amadora, continua a fazer alguma fotografia, nomeadamenmte por ocasião dos convívios anuais dos "Lacraus".

Temos dúvidas sobre a autoria de uma ou outra foto (por exemplo, nº 2, 3 e 4). Se não forem do Abílio Duarte, poderão ser do Valdemar Queiroz ou do Càndido Cunha (que ainda não integra, formalmente, a nossa Tabanca Grande)... 

Há "fotos comuns", nas companhias, sendo difícil (ou mesmo impossível hoje) descobrir quem foi o fotógrafo. Os créditos fotográficos, no nosso blogue, são em princípio atribuídos aos donos dos álbuns fotográficos (**) que sáo partilhados connosco...

A numeração das fotos selecionadas (pelo editor LG) segue apenas um critério de conveniència. E ajudam o leitor que queira fazer um comentário (corrigindo ou melhorando a legenda). Peço também ao Valdemar Queiroz que dè uma "olhadela" às imagens e às legendas.

(Continua)

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Notas do editor:

(*) Último poste3 da série > 15 de agosto de  2023 > Guiné 61/74 - P24555: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (1); Luís Graça

(**) Fotos selecionadas dos seguintes postes:


11 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23422: Frase do dia (1): Faz hoje 55 anos que entrei para a tropa, em Santarém. Tinha 22 anos feitos, regressei com quase 26... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil at art, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

10 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22360: In Memoriam (397): Renato Monteiro (Porto, 1946 - Lisboa, 2021), ex-fur mil, CART 2439 / CART 11 (Contuboel e Piche, 1969), e CART 2520 (Xime e Enxalé, 1969/70)... "Morreu o meu querido amigo, no passado dia 7... Escrevo a notícia a chorar" (Valdemar Queiroz)

1 de maio de 2021 : Guiné 61/74 - P22160: Fotos à procura de... uma legenda (150): a continência à(s) bandeira(s) (Valdemar Queiroz)

1 de julho de 2019 : Guiné 61/74 - P19935: (De)Caras (131): Um ninho de "lacraus", em Espinho, Silvalde, fevereiro de 1969, na véspera de partida para o CTIG (Valdemar Queiroz / Abílio Duarte, CART 2479 / CART 11, 1969/70)

30 de agosto de  2017  > Guiné 61/74 - P17714: (De) Caras (93): O (e)terno "puto" Umaru, o Umaru Baldé (1953-2004), da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, 1969) e da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1969/71)... O seu maior desejo era ser... Português! (Abílio Duarte)

12 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15968: Fotos do álbum da minha mãe, "Honra e Glória" (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego e Paunca, 1969/70) - Parte IV: saudades de Contuboel

28 de março de 2016> Guiné 63/74 - P15910: Fotos do álbum da minha mãe, "Honra e Glória" (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego e Paunca, 1969/70) - Parte III

Guiné 61/74 - P24562: Parabéns a você (2194): Maria Alice Carneiro, amiga Grã-Tabanqueira

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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24558: Parabéns a você (2193): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador Metralhadora da CCAÇ 2382 (Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Buba, 1968/70)

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24561: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (4): Tropa depois da Especialidade

Posição relativa de Ingoré


"A MINHA IDA À GUERRA"

4 - TROPA DEPOIS DA ESPECIALIDADE

João Moreira

Em Janeiro de 1969 fui colocado no RC 3, em Estremoz, onde fui promovido a Cabo Miliciano no dia 6.


Cabo Miliciano João Moreira. Estremoz

Em Fevereiro fui para Tancos para tirar o curso de Minas e Armadilhas.

Voltei ao RC 3.
Mobilizado para a Guiné.

Dei instrução aos militares da CCAV 2540, que fazia parte do BCAV 2876. Na semana de campo tive nova crise - Espinha bífida - e o médico mandou-me para o Hospital Militar de Évora, onde estive até ao fim de Setembro de 1969.

Regressado ao RC 3 fui gozar os 10 dias da mobilização, para ir ter com a minha CCAV 2540 que já estava em Ingoré, na fronteira do Senegal.

Ao 2.º ou 3.º dia recebi uma chamada telefónica do 1.º sargento da secretaria do RC 3 a dizer para voltar para o quartel porque tinha sido desmobilizado.

Estive colocado no Gabinete de Estudos até Dezembro. Nessa altura voltei a ser mobilizado para a Guiné.

Em Dezembro de 1969 fui para o RC 4, em Santa Margarida, para formar a CCAV 2721, novamente mobilizado para a Guiné.


O Cabo Miliciano Enfermeiro José Manuel CARVALHO e eu na semana de campo no RC 4 - Santa Margarida
Furriel João Moreira, com a farda n.º 1


Embarquei no T/T Carvalho Araújo em 4 de Abril de 1970. Cheguei a Bissau no dia 11 de Abril.

Quando embarquei já era furriel, embora ainda não tivesse sido promovido, porque já era cabo miliciano desde 6 de Janeiro de 1969 e na data de embarque já tinha 15 meses de cabo miliciano. Por isso a graduação em furriel que me fizeram em 4 de Abril de 1970, foi corrigida para promoção com a data de 15 de Janeiro do mesmo ano.

No embarque já tinha 21 meses de tropa efetiva mais 6 meses das 2 especialidades perdidas, num total de 27 meses desde a data da incorporação.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24547: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (3): EPC - Escola Prática de Cavalaria - Santarém: Especialidade

Guiné 61/74 - P24560: Antologia (98): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: O caso da ajuda ao PAIGC – IX (e última) Parte


O Comité de Desertores Portugueses de Estocolmo manifestando-se contra Portugal. Outubro 1973. (Foto: Aftonbladet Bild) (Cortesia de Tor Sellström, op. cit., 2008, pág. 187)

Não sabemos quantos portugueses refractários e desertores da guerra colonial  foram acolhidos pela Suécia... O grosso sabe-se que  ficou em França. Os americanos, opositores à guerra do Vietname, que a Suécia recebeu, são estimados em 800. Os portugueses, desertores e refratários da guerra colonial, que conseguiram asilo (político) na Suécia, poderão ter sido, no máximo, uma centena, entre 1961 e 1974. (Na foto acima, não parecem ser muitos...)

(...) "O primeiro desertor da guerra em Moçambique a aparecer publicamente na Suécia, foi o capitão português Jaime Morais, que apresentou o seu caso à imprensa no início de fevereiro de 1971. Sendo um dos oficiais de comando durante a Operação Nó Górdio, Morais
denunciou a ”guerra portuguesa de agressão a gente inocente” e declarou que a ”FRELIMO
tem o apoio da população moçambicana” (...). 

"Chegou à Suécia no início de 1971. No ano anterior cerca de trinta (e, de acordo com algumas fontes, quase cem) (...) opositores portugueses à guerra tinham chegado à Suécia, atraídos pela ”crítica feita pela Suécia ao colonialismo português”. (...)

"Alguns portugueses que tinham saído de Portugal para fugir ao alistamento e que tinham ficado em França e noutros países, tendo como destino final a Suécia (não se trata de desertores das frentes de combate), viram indeferidos os seus pedidos de asilo e foram remetidos para os seus primeiros países de refúgio. Uma vez que esses países, entre os quais se contava a Dinamarca, eram membros da OTAN e havia grandes hipóteses de os opositores à guerra serem enviados de volta para Portugal, formou-se uma corrente den opinião forte a seu favor. Entre 1967 e 1975 a Suécia recebeu também cerca de 800 desertores e opositores à guerra entre os EUA e o Vietname." (Tor Sellström,op. cit., 2008, pãg. 185).

(...) "Foram formados Comités de Desertores Portugueses nas cidades de Lund, Estocolmo e Uppsala. Para além de solicitarem asilo político, os membros dos comités uniam forças com os Grupos de África locais, defendendo activamente o apoio ao PAIGC, ao MPLA e à FRELIMO e dando força aos argumentos políticos a favor dos movimentos nacionalistas". (Tor Sellström, op. cit., 2008, pãg. 186).


1. Tor Sellström, do Instituto Nórdico de Estudos Africanos, é autor de um livro, de 290 páginas, "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau" (publicado em 2008, em versão portuguesa). (Vd. ficha técnica a seguir.)

Nessa publicação ele conta-nos como é que os chamados Grupos de África (organizações suecas de solidariedade com a luta dos povos da África Austral, e nomeadamente contra o apartheid), o partido social-democrata e o governo sueco começaram a interessar-se pelo que se estava a passar na Guiné-Bissau, no final dos anos 60. 

O território, então sob administração portuguesa, com um escasso meio milhão de habitantes, e com um pequeno partido nacionalista, o PAIGC, a lutar pela sua independência, era na altura praticamente desconhecido do público sueco.

A partir de 1969, a Suécia começou a dar, ao PAIGC, uma "ajuda humanitária" substancial, primeiro em géneros, depois em dinheiro, que se prolongou muito para além da independência, até meados dos anos 90. Em meados dessa década, fechou abruptamente a torneira, ao perceber que estava a mandar o dinheiro dos contribuintes para o lixo.

"As exportações financiadas com doações da Suécia representavam, durante este período, entre 5 por cento e 10 por cento do total das importações da Guiné-Bissau". 

Estamos a falar de valores que chegaram aos 2,5 mil milhões (!) de coroas suecas [c. 269,5 milhões de euros] durante o período de 1974/75-1994/95 (sendo de 53,5 milhöes de coroas suecas, ao valor actual, ou sejam, cerca de 5, 8 milhões de euros, de 1969/70 até 1976/77).

São factos que já pertencem ao domínio da História. Mas, passados estes anos todos, julgamos que ainda pode ter algum interesse, para os nossos leitores, saber um pouco mais sobre o envolvimento da Suécia, mesmo que indireto, na "nossa" guerra colonial.

Vamos continuar a seguir esta narrativa, reproduzindo, com a devida vénia, o último excerto do livro de Tor Sellström (na parte da ajuda sueca ao PAIGC, pp. 138-172). Já chamámos, logo no início, a atenção para alguns factos e dados que merecem a nossa contestação ou reparo crítico, nomeadamente quando o autor fala do trajeto do PAIGC e do seu líder histórico, Amílcar Cabrak, não citando fontes independentes e socorrendo-se no essencial da propaganda do PAIGC (ou de fontes que lhe estavam próximas)...

Já apontámos, nos postes anteriores, para alguns exemplos desse enviesamento político-ideológico

(1) a greve dos trabalhadores portuários do Pijiguiti e o papel do PAI (mais tarde, PAIGC); 

(ii) a batalha do Como em 1964: 

(iii) o controlo de 2/3 do território e de 400 mil  habitantes (!) por parte do PAIGC; 

(iv) as escolas, os hospitais e as lojas do povo nas "áreas libertadas"; 

(v) a morte de Amílcar Cabral e o seu contexto; 

(vi) a declaração unilateral da independência em 24/9/1973, na região do Boé;  etc.

O texto (na parte que nos interessa, a ajuda sueca ao PAIGC, pp. 138-172) tem demasiadas notas de pé de página, que são úteis do ponto de vista documental e até têm informação relevante  mas são extremamente fastidiosas para  a generalidade dos nossos leitores. (Vamos mantê-las, para não truncar a narrativa; podem ser lidas na diagonal)

Os negritos são nossos: ajudam a destacar alguns dos pontos importantes do texto."bold" a vermelho são passagens controversas, são uma chamada de atenção para o leitor, devendo merecer um comentário crítico (ou o recurso a leituras suplementares).

Corrigimos um ou outro erro de português. Os excertos, que reproduzimos,  seguem o Acordo Ortográfico em vigor.

Para já aqui ficam os nossos agradecimentos ao autor e ao editor, Nordiska Afrikainstitutekl (em inglês, The Nordic Africa Institute).

Ficha técnica:

Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Nordiska Afrikainstitutekl, Uppsala, 2008, 290 pp. Tradução: Júlio Monteiros. Revisão: António Lourenço e Dulce Åberg. Impresso na Suécia por Bulls Graphic, Halmstad 2008ISBN 978–91–7106–612–1.


Disponível em
https://www.diva-portal.org/smash/get/diva2:275247/FULLTEXT01.pdf

(Também disponível na biblioteca Nordiska Afrikainstitutekl (ou Instituto Nórdico de Estudos Africanos) aqui, em "open acess" .)


Resumo dos excertos anteriores (*):

Com base numa decisão parlamentar aprovada por uma larga maioria, a Suécia tornou-se em 1969 o primeiro país ocidental a dar ajuda oficial aos movimentos nacionalistas das colónias portugueses (MPLA, PAIGC, FRELIMO). O PAIGC vai-se tornar o principal beneficiário dessa ajuda (humanitária, não-militar).  
Muito também por mérito de Amílcar Cabral e da sua habilidade diplomática. 

Até então, e sobretudo na primeira metade da década de sessenta, o debate na Suécia sobre a África Austral tinha quase exclusivamente sido centrado na situação na África do Sul, onde vigorava o apartheid.

O êxito da campanha contra a participação da empresa sueca ASEA no projecto de Cahora Bassa em Moçambique, por volta de 1968–69, na altura em que decorria a guerra do Vietname, levou a que os principais grupos de pressão (“Grupos de África”, oriundos de cidade como Arvika, Gotemburgo, Lund, Estocolmo e Uppsala) se ocupassem, quase em exclusivo,  da luta armada nas colónias portuguesas, com destaque para a Guiné-Bissau (Parte I).

Em 3 páginas (pp. 141-143), o autor faz um resumo da "luta de libertação na Guiné-Bissau", usando unilatereal e acriticameente informaçáo propagandística do PAIGC, alguma particularmente grosseira como a pretensão deste de controlar 400 mil habitantes (numa população de pouco mais de meio milhão)... (Parte II).

Nas páguinas 144-147, fala-se dos primeiros contactos com o PAIGC e das primeiras visitas ao território (Parte III).

Nas páginas 148-152, é referido a primeira visita (de muitas) de Amílcar Cabral à Suécia em novembro de 1968 (Parte IV).

As conversações de Ström com o PAIGC foram bastante simples. No seu relatório, descreveu Amílcar Cabral, secretário geral do PAIGC, como ”um jovem agrónomo bastante jovial, elegante, intelectual e um conversador desenvolto e muito animado. Nada de apelos patéticos nem declarações solenes. As suas intervenções eram objectivas, claras e concisas” (Parte V, pp. 152-154).

Os suecos quiseram, na sua ajuda "não-militar", privilegiar os sectores da educação e a saúde. onde o PAIGC estava confrontado com "enormes desafios". O pressuposto era de que,  em 1971, calculava-se que viviam 400.000 pessoas nas zonas libertadas da Guiné-Bissau, (...) na sua maioria artesãos e camponeses (sic) (Parte VI, pp. 154-157. Uma estimativa, disparatada, que fazia parte do arsernal de  propaganda do PAIGC...

Uma das maiores "mistificações" foi a entrega de 100 toneladas de "sardinhas" (ou arenques juvenis)  sob a forma de cerca de 400 mil latas de conservas, de 225 gr cada uma (peso líquido), e que terão sido profusamente distribuídas pelas "zonas libertas" (sic) até chegarem a Bissau... (O nosso amigo Cherno Baldé disse-nos que chegou a provar essas tais "sardinhas", e não lhe sabiam a nada...) (Parte VII, pp. 157-161). 

Referência, por fim, à missão especial da ONU que, em abril de 1972, faz uma visita"clandestina" à Guiné,  concluindo que o PAIGC  "não apenas controlava militarmente, mas governava de facto os territórios libertados" (Parte VIII, pp. 161-168).

Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau: o caso da ajuda ao PAIGC - IX ( e última):

 A independência e para além dela (pp. 168-172) (*)

 Excerto do índice (pág. 4)

O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno

Pág.

As colónias portuguesas no centro das atenções

138

A luta de libertação na Guiné-Bissau

141

Primeiros contactos

144

Caminho para o apoio oficial ao PAIGC

147

Uma rutura decisiva

152

Necessidades civis e respostas suecas

154

Definição de ajuda humanitária

157

Amílcar Cabral e a ajuda sueca

161

A independência e para além dela

168

 


A independência e para além dela

A diplomacia do PAIGC era em grande medida norteada pelo objetivo de obter o máximo de apoio internacional possível para a vindoura declaração de independência, prevista para o início de 1973. Confiante na vitória, num futuro não muito remoto, Cabral usava nesse campo de todo o seu pragmatismo (177). No caso da Suécia e dos outros países nórdicos, a sua disponibilidade para o compromisso não teve, contudo, contrapartida, que teria sido o reconhecimento antecipado da independência da Guiné-Bissau.

Amílcar Cabral acabaria por não assistir à independência do seu país, nem ao fim do colonialismo português em África. Exercendo de facto o controlo sobre a maior parte da Guiné-Bissau, o PAIGC vinha, desde o início de 1970, a discutir a forma como esta situação se deveria traduzir num reconhecimento internacional de jure da independência nacional. Aliás, a questão tinha sido levantada, por exemplo, por Cabral, durante uma reunião no Ministério dos Negócios Estrangeiros em Estocolmo, já em julho de 1971 (178).

O reconhecimento da Guiné-Bissau como estado independente tinha sido recomendado aquando da missão de apuramento de factos das Nações Unidas, em abril de 1972.

O PAIGC organizou eleições populares nas zonas libertadas em Agosto–Outubro de 1972. Um ano mais tarde, a 24 de setembro de 1973, reuniu-se a primeira Assembleia Nacional do Povo da Guiné, na região leste do Boé, na qual se proclamou o Estado da Guiné-Bissau como um ”Estado soberano, republicano, democrático, anti-colonialista e anti-imperialista”. As fronteiras do país coincidiam com as da Guiné continental ”portuguesa” (179).

Luís Cabral foi eleito presidente. Como únicos jornalistas ocidentais presentes (180), a cerimónia solene foi documentada pelos cineastas suecos Lennart Malmer e Ingela Romare (181).  O seu filme exclusivo, com uma hora de duração, ”O Nascimento de uma Nação”(182), foi transmitido via televisão pela empresa oficial sueca de televisão (183).

Apesar dos portugueses continuarem a deter o controlo da capital Bissau e dos principais centros do país, o novo Estado foi imediatamente reconhecido por um grande número de nações. Por volta do mês de outubro de 1973, o reconhecimento diplomático tinha-se alargado a mais seis governos e, a 19 de novembro de 1973, a República independente da Guiné-Bissau foi formalmente aceite como o quadragésimo segundo membro da Organizaçãode Unidade Africana (184).

Aplicando, designadamente, o princípio do controlo integral do território (185), o governo sueco teve, contudo, dúvidas em reconhecer o novo Estado, o que provocou fortes reacções dos Grupos de África e do Partido de Esquerda Comunista (186), mas também no seio do próprio partido no poder.

Em dezembro de 1973, a deputada social-democrata Birgitta Dahl que, em finais de 1970 visitara as zonas libertadas da Guiné-Bissau, confrontou o Ministro dos Negócios Estrangeiros Sven Andersson (187) no Parlamento, exigindo que lhe fosse prestada informação sobre a posição do governo (188). 

Menos de seis meses depois a questão foi resolvida, apesar de tudo, pela ”revolução dos cravos” em Portugal. Grandemente influenciada pelas guerras em África, nomeadamente na Guiné-Bissau (189), o Movimento das Forças Armadas (MFA) derrubou o regime fascista de Caetano a 25 de Abril de 1974, abrindo o caminho para a democracia no país e para a concessão da independência nacional às colónias em África. 

No final de julho foi emitida uma declaração oficial de intenções com esse efeito, e dez dias depois, a 9 de agosto de 1974, o governo sueco reconheceu a República da Guiné-Bissau (190). 

A independência formal de Portugal foi concedida a 10 de Setembro de 1974 (191) e, na semana seguinte, o novo estado aderiu às Nações Unidas (192).  Séculos de opressão colonial tinham assim terminado. A Guiné-Bissau podia enfim ocupar o seu legítimo lugar entre as nações independentes do mundo, na difícil senda de transformar espadas em arados.

O PAIGC foi o primeiro movimento africano de libertação com quem o governo sueco criou um programa global de cooperação. Apesar de os primeiros contactos entre as duas partes terem sido estabelecidos apenas em finais da década de sessenta, e de a ajuda humanitária englobar apenas um período de meia década, o relacionamento com o PAIGC viria, de forma significativa, a desbravar terrenos desconhecidos e a preparar o caminho para a posterior participação da Suécia no esforço dos movimentos de libertação na África Austral. 

A possível ajuda ao PAIGC tinha sido mencionada de forma clara nas alocuções históricas do parlamento sueco em maio de 1969. Ao avaliar a nova política, volvidos dois anos, o Ministério dos Negócios Estrangeiros declarou que ”as experiências em termos de ajuda têm sido muito positivas até esta data”, acrescentando que ”a solidariedade com os países em vias de desenvolvimento, de que é exemplo a ajuda dada aos movimentos de libertação, resulta em boa-vontade que, por sua vez, e a longo prazo, acabará provavelmente por ter uma importância cada vez maior para a Suécia” (193). 

 Vista sobretudo como um investimento político, e menos como caridade humanitária, concluía-se na avaliação que ”há todas as razões para continuar na linha daquilo que se fez no passado, mas aumentando o valor da ajuda” (194).

No final da década de sessenta, a decisão de alargar a ajuda oficial directa ao PAIGC e aos movimentos de libertação da África Austral não levantava qualquer celeuma política na Suécia

O Partido Moderado (conservador) viria pouco tempo depois a opor-se aos mesmos argumentos que, em 1969, tinham sido usados como informação para a tomada unânime de posição por parte do Comité Permanente das Dotações, presidido pelo seu futuro líder Gösta Bohman

Em vincado contraste com outros partidos com assento parlamentar, o Partido Moderado retirava conclusões bastante negativas dos primeiros anos de cooperação com os movimentos de libertação. 

Por exemplo, em 1972, numa reunião da Comissão Permanente para os Negócios Estrangeiros, concluía que “apoiar ativamente movimentos revolucionários não está conforme com o princípio da não intervenção, consagrado no direito internacional, nem com a posição de neutralidade assumida pela Suécia. [...] Há, a nível internacional, muitas dúvidas quanto à ideia (do alargamento) da ajuda às populações africanas, sob a forma de apoio a um determinado movimento de libertação. No caso particular de um estado que pretende conduzir uma política credível de neutralidade, dever-se-ia abdicar da concessão de ajuda desta forma" (195).

O Partido Moderado que, na altura, representava cerca de 15 por cento do eleitorado, era o único partido com assento parlamentar que se opunha à ideia de ajuda humanitária oficial direta aos movimentos de libertação.

Depois dos seus primeiros e ainda tímidos passos nos inícios de 1969, o governo sueco  acabaria, ao longo dos anos e de acordo com valores actuais, por canalizar um total de 53,5 milhões de coroas suecas para o PAIGC (196). 

Concebido pelo PAIGC como um programa de ajuda em géneros, a ajuda foi aumentando rapidamente, acabando por cobrira maior parte das áreas da actividade civil do movimento de libertação, centrando-se na alimentação, transportes, educação e saúde, para além de toda a gama de artigos enviados para os armazéns do povo.

De um ponto de vista administrativo, foram utilizados métodos de planeamento semelhantes aos aplicados em programas de cooperação com países independentes, o que simplificou o processo de transformação da ajuda humanitária em programa de ajuda ao desenvolvimento depois da independência da Guiné-Bissau. Tal como viria mais tarde a acontecer com os movimentos de libertação da África Austral, a ajuda humanitária à luta pela governação por parte da maioria e para a independência nacional abriu caminho para a cooperação a mais longo prazo.

Como resultado do apoio dado ao PAIGC durante a luta de libertação, a Guiné-Bissau foi (como único país da África Ocidental) e a partir do ano fiscal 1974–75, incluído nos ”países-programa” que recebiam ajuda ao desenvolvimento da Suécia (197).  

Com resultados umas vezes melhores que outras (198), o valor total da ajuda sueca à Guiné-Bissau independente, dada durante o período 1974/75 – 1994/95 cifrou-se (a preços fixos de 1995) em 2,5 mil milhões de coroas suecas (199), o que colocava a Suécia entre os três principais doadores ao país (200).

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 Notas do autor:

177. Cabral participou em 1972, em representação dos movimentos africanos de libertação, nos preparativos da Conferência Internacional Nações Unidas/ OUA de Peritos para Apoio às Vítimas do Colonialismo e do Apartheid na África Austral, que se realizou em Oslo, na Noruega, em abril de 1973. 

Ao debater a ordem de trabalhos e com o ”objectivo de sermos ’realistas’ em vez de perdermos tempo em polémicas acesas”, disse que a conferência, para além da questão da ajuda humanitária, devia concentrar-se nas questões de índole política e diplomática, deixando ao cuidado dos governos, cada um por si, decidir quando à questão da ajuda militar (Eriksen em Eriksen (ed.) op. cit., p. 59).

178. Ethel Ringborg: Memorando, Estocolmo, 6 de julho de 1971 (MFA). Na altura, os altos funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros concluíram que ”já se justifica, nesta altura, analisar a forma como uma tal proclamação de independência deve ser formulada, do ponto de vista do Direito Internacional. Esta questão tem tanto mais interesse quando a Suécia é membro da Comissão das Nações Unidas para a Descolonização” (ibid.).

179. A proclamação de independência não incluiu as ilhas de Cabo Verde.

180. Conversa telefónica com Lennart Malmer, 7 de outubro de 1999.

181. Malmer e Romare haviam apresentado, em 1971/72 a luta moçambicana de libertação aos telespectadores suecos (...).

182. Lennart Malmer e Ingela Romare: ”En nations födelse”, Sveriges Television (SVT).

183. Na altura não havia redes comerciais de televisão na Suécia. Em 1973, Malmer e Romare produziram também um documentário sobre as crianças e a luta de libertação na Guiné-Bissau, para a estação pública de televisão, com o título ”Guiné-Bissau är vårt land” (”A Guiné-Bissau é o nosso país”), Sveriges Television (SVT). A seguir à independência,produziram, entre outros, os documentários para televisão ”Guiné-Bissau: Ett exempel” (”Guiné-Bissau: Um exemplo”) e ”Guiné-Bissau efter självständigheten” (”Guiné-Bissau a seguir à Independência”), SverigesTelevision (SVT), 1976.

184. Rudebeck op. cit., p. 55.

185. As outras considerações do governo sueco tinham a ver com o relacionamento com Portugal e a situação em Cabo Verde.

186. Cf. ”Resposta do Ministro dos Negócios Estrangeiros a uma pergunta do Sr. Måbrink no parlamento”, 25 de outubro de 1973, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1973, Estocolmo, 1976, p. 155.

187. Sucedendo a Krister Wickman (1971–73), Sven Andersson foi Ministro dos Negócios Estrangeiros no período crítico entre 1973 e 1976.

188. ”Resposta do Ministro dos Negócios Estrangeiros a uma interpelação pela Sra. Dahl”, 10 de dezembro de 1973, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1973, Estocolmo, 1976, pp. 155–59.

189. Vários oficiais que lideraram o golpe de Lisboa, entre os quais o General António de Spínola e o Capitão Otelo Saraiva de Carvalho, tinham passado muito tempo na Guiné ”portuguesa”. 

Spínola, que em Fevereiro de 1974 levou a cabo um importante prelúdio do golpe, ao publicar o seu famoso livro Portugal e o Futuro, tornou-se presidente da república portuguesa em maio de 1974, mas saiu de cena quatro meses mais tarde. Spínola tinha exercido o cargo de governador e de comandante em Bissau entre 1968 e 1973. 

Otelo de Carvalho trabalhou no sector da informação e propaganda do quartel-general de Spínola na Guiné, onde se convenceu da injustiça moral e política das guerras coloniais. 

Entre as fileiras dos oficiais influentes do Movimento das Forças Armadas destacados para Angola e Moçambique, contavam-se o Almirante Rosa Coutinho que, por exemplo, tinha estado destacado para Angola, onde tinha chefiado o governo militar após o golpe de Abril de 1974.

190. "Press release”, 9 de agosto de 1974, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1974, Estocolmo, 1976, p. 180. Chabal, e outros observadores que se lhe seguiram, engana-se quando declara que ”nem um único governo ocidental reconheceu a Guiné-Bissau até o governo português o fazer” (Chabal op. cit., p. 131).

191. O ministro sueco dos Negócios Estrangeiros, Sven Andersson, fez uma intervenção na televisão portuguesa no dia da independência da Guiné-Bissau (”Declaração pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sr. Sven Andersson, à televisão portuguesa por ocasião da declaração de independência da Guiné-Bissau de Portugal”, 10 de setembro de 1974, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1974, Estocolmo, 1976, pp. 180–81).

192. O processo conducente à independência de Cabo Verde foi mais complicado. Após eleições para a Assembleia Nacional, as ilhas tornaram-se na República Independente de Cabo Verde a 5 de julho de 1975. O PAIGC era o partido dominante na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, até à cisão em janeiro de 1981, altura em que o PAIGC foi substituído nas ilhas pelo PAICV (Partido Africano para a Independência de Cabo Verde).

193. Ethel Ringborg: Memorando (”Stöd till befrielserörelser”/”Ajuda aos movimentos de libertação”), Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 7 de setembro de 1971 (MFA).

194. Ibid.

195. Citado em Olav Stokke: Sveriges Utvecklingsbistånd och Biståndspolitik (”Suécia: Ajuda e política para o desenvolvimento”), Instituto Escandinavo de Estudos Africanos, Uppsala, 1978, p. 17.

196. Consulte a tabela junta de transferências da ASDI para o PAIGC.

197. A República de Cabo Verde receberia, desde 1974/75, uma verba da Suécia, que foi gradualmente aumentando. Expressa em preços fixos de 1994, a ajuda cifrou-se, em julho de 1994, num total de 1,4 mil milhões de coroas suecas (SIDA: Bistånd i Siffror och Diagram /”Ajuda ao desenvolvimento em valores e gráficos”/, Estocolmo, janeiro de 1995, p. 60). Deve notar-se que Portugal recebeu da Suécia, durante um período mais curto, ajuda ao desenvolvimento a partir de 1975/76.

198. A ajuda sueca ao desenvolvimento da Guiné-Bissau independente não foi muito bem-sucedida. Para fazer uma avaliação factual, consulte Peter Svedberg, Anders Olofsgård e Ekman: Evaluation of Swedish Development Cooperation with Guinea-Bissau (”Avaliação da cooperação sueca ao desenvolvimento na Guiné-Bissau”), Secretariado para Análise da Ajuda Sueca ao Desenvolvimento (SASDA), Relatório nº. 3, Ds 1994:77, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 1994. 

Desde 1980, Patrik Engellau, que foi representante da ASDI na Guiné-Bissau no final da década de setenta, publicou um conto bem planeado e estruturado sobre as dificuldades pelas quais passou um cooperante sueco na República (fictícia) do Candjambari. Sem dúvida situada na Guiné-Bissau, esta história retrata os problemas e armadilhas que o movimento de libertação teve de enfrentar depois de assumir o poder, bem como as que passou o país doador, apesar das suas boas intenções (Patrik Engellau: Genom Ekluten (”Passar por dificuldades”), Atlantis, Estocolmo). 

De volta à Guiné-Bissau vinte anos depois da visita que fizera às zonas libertadas do PAIGC, Anders Ehnmark fez, em 1993, uma reflexão semelhante sobre a libertação e a liberdade, a independência e o desenvolvimento, os sonhos e as realidades, num ensaio chamado ”Viagem ao Kilimanjaro”, onde conclui que ”aconteceu algo que não estava previsto” (Ehnmark (1993) op. cit., p. 113). 

Em 1998, as lacunas económicas e as divisões étnicas e sociais não resolvidas levariam ao estalar de uma guerra civil na Guiné-Bissau. Tragicamente, o exemplo aglutinador dado por Amílcar Cabral e pelo PAIGC durante a luta pela libertação, tiveram um fim violento.

199. Sida: Development in Partnership: Sida and Swedish Bilaterial Development Cooperation in Africa (”Desenvolvimento em Parceria: A ASDI e a cooperação bilateral sueca para o desenvolvimento bilateral em África”), ASDI, Estocolmo, 1997, p. 23. 

Os valores correspondentes para a Tanzânia e para os países da África Austral prioritários para a Suécia eram: Tanzânia 20,3 mil milhões de coroas suecas, Moçambique 11,5, Zâmbia 6,9, Angola 3,9, Zimbabué 3,8 e Botswana 3.2.

200. Svedberg, Olofsgård e Ekman op. cit., p. 20.

 [ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / itálicos / bold, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G ]

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Notas do editor:

 (*) Vd. postes anteriores da série >

17 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24482: Antologia (90): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte I

19 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24489: Antologia (91): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte II

24 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24502: Antologia (92): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte III

28 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24510 Antologia (93): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte IV

30 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24518: Antologia (94): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte V

Guiné 61/74 - P24559: Convívios (969): CCAÇ 3398 (Buba, 1971/73): Cinquentenário do regresso (1 set 1973): Freiriz, Vila Verde, a "terra dos lencinhos dos namorados", 2 de setembro de 2023 (José da Silva Lourenço / Joaquim Pinto Carvalho)


Inscrições até ao dia 19 de agosto: telem 916 653 615 (José da Silva Lourenço)





1. Mensagem que nos chegou ontem, às 21h19, da parte do nosso amigo e camarada Joaquim Pinto Carvalho, que tem mais de 60 referências no nosso blogue, e é membro nº 633 da Tabanca Grande, foi alf mil da CCAÇ 3398 (Buba) e CCAÇ 6 (Bedanda) (1971/73); natural do Cadaval, é advogado, poeta e régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã; é autor de uma brochura com a história da unidade, a CCAÇ 3398, distribuída no respetivo XXV Convívio, realizado no Cadaval, em 18/9/2021.


Assunto - Convívio da CCAÇ 3398, em 2 de setembro de 2023

Olá! Mando-te anúncio do convívio que fiz e digitalização da carta qu recebi do organizador. Vê se dá para aproveitar alguma coisa para colocares no blogue.
Obrigado

Um abraço, J. Pinto de Carvalho



Vila Verde, no distrito de Braga,  é a terra dos lenços dos namorados... "Amor juro ser / Sempre tua até morrer / Garda bem este lencinho / Nele tens  o meu saber."

Guiné 61/74 - P24558: Parabéns a você (2193): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador Metralhadora da CCAÇ 2382 (Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Buba, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24544: Parabéns a você (2192): Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAÇ 84 (Guiné, 1961/63)

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24557: Historiografia da presença portuguesa em África (381): 1.ª Exposição Colonial Portuguesa, Porto, 1934, os memoráveis clichés fotográficos de Domingos Alvão (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Janeiro de 2023:

Queridos amigos,
Quem quiser conhecer o talento artístico do fotógrafo Domingos Alvão, veja algumas destas imagens que aqui se reproduzem alusivas à 1.ª Exposição Colonial Portuguesa. O evento permitiu um conjunto de publicações de que destaco o álbum fotográfico de Alvão. A par da exposição, houve um conjunto de conferências sobre matérias imperiais, não encontrei nada de verdadeiramente expressivo. Peço a vossa atenção para aquele parágrafo de Castro Fernandes, virá a ser administrado do BNU e grande conhecedor das realidades guineenses, figura grada do regime, ele acentua a importância em torno da exposição de que se estava a levantar o Terceiro Império, perdera-se o segundo devido às malfadadas ideias liberais que pareciam condenar a nação ao apoucamento, interessante este pensamento nacioanlista que acompanha a ascensão do Estado Novo.

Um abraço do
Mário



1.ª Exposição Colonial Portuguesa, Porto, 1934, os memoráveis clichés fotográficos de Domingos Alvão

Mário Beja Santos

O Álbum Fotográfico da 1.ª Exposição Colonial Portuguesa reúne 101 clichés fotográficos de Domingos Alvão, que foi o fotógrafo oficial do evento. É uma recolha soberba de imagens, que exemplifico: o Padrão de Diogo Cão (escrevendo-se que se trata do autêntico), o monumento ao esforço colonizador português, a representação das missões religiosas portuguesas, belíssimas cabeças de Benim, a réplica do Arco dos Vice-Reis. E a Guiné mereceu a melhor atenção do grande mestre da fotografia do Porto, caso da aldeia lacustre Bijagó, a postura soberana do régulo Mamadu Sissé, balantas, destaque para a “Rosinha”, a fotografia do menino Bijagó, o Augusto, que irá aparecer numa publicidade a cigarros, a criança com o cigarro na boca, mulheres e homens, e escusado é dizer que todas estas mulheres e homens mais desnudados que vestidos foram motivo de escândalo, queixaram-se ao governo do sr. capitão Henrique Galvão, como é que era possível permitir-se, contra os bons costumes portugueses, mostrar tanto primitivismo atentado à moral?

Palácio de Cristal transformado em Palácio das Colónias, 1934
Um aspeto da Sala de Exposições
Mapa concebido por Henrique Galvão para a Exposição
Revista Ilustração, Lisboa n.º 205, 1934, aspetos da aldeia indígena guineense
“Rosinha”, a menina balanta que ganhou prémios de beleza, as senhoras do Norte andavam escandalizadas com tanto peito ao léu, pediram decoro, mas as excursões para verem a falta de decoro não tinham conto…
Aspeto de uma aldeia bijagó
A missionária a ensinar a indígena com rendas e bordados
Painel pintado por Eduardo Malta, destaque para o régulo Mamadu Sissé, companheiro de armas do Capitão Teixeira Pinto
Régulo Mamadu Sissé, desenho de Eduardo Malta
Padrão de Diogo Cão

Importa chamar a atenção do leitor para a qualidade de outras publicações à volta desta Exposição Colonial. É o caso do álbum-catálogo onde há textos credores da nossa reflexão. Veja-se este a apontamento de um membro do Governo responsável pelas colónias, Júlio Castro Fernandes:
“Num vale escuro da História, invadidos nas organizações políticas e nas almas, pelas ideologias de 1789, alheados do sentido da nossa grandeza e da nossa missão pelo falso esplendor de novas ideias, perdemos o Brasil e o rumo imperial da nossa nação nas colónias.”

Mais adiante, um texto sobre a Guiné, assinado por Machado Saldanha, intitulado A colónia das terras vermelhas:

“A Guiné portuguesa é um repositório de valiosos subsídios étnicos e morais das raças que descreveram do Oriente as suas linhas migratórias para a África. Xadrez de raças, todas elas cheias de inusitado e de usos e costumes típicos, definem psiquicamente o maravilhosismo dos seus aborígenes, embora a sua vida de hoje se espraie adentro dos preceitos da civilização, que as nossas autoridades têm pouco a pouco introduzindo.

A cerimónia do fanado, as festas do Ramadão, o regime matriarcal dos Bijagós, são notas expressivas da vida dos vários povos que habitam a Guiné portuguesa.

A colónia é, por assim dizer, uma extensa planura lacustre serpenteada por ótimas estradas e por braços de mar, com os contrafortes das ilhas repletos de palmeiras que formam o arquipélago dos Bijagós.

As condições do seu clima incorporam a Guiné portuguesa como colónia de exploração, isto não obstante a permanência dos europeus. A densidade da sua população cria no país condições excecionais de facilidade de mão de obra. O território da Guiné portuguesa confina, caracteristicamente, o verde-escuro dos seus campos de flora com a nota vermelha do desenrolar das suas estradas, pelo que se define bem o país designando-o como a Colónia das terras vermelhas.”


Faz-se ao longo deste álbum-catálogo uma súmula da situação climática, da população (fala-se em pouco mais de 340 mil habitantes), divisão administrativa, estradas, vias fluviais, principais portos de comércio, comunicações telegráficas e telefónicas, linhas de navegação, movimento comercial, agricultura e indústrias.

Imagem espetacular de um dos eventos que acompanharam a Exposição do Mundo Português, em 1940, onde existiu uma expressiva participação guineense
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24542: Historiografia da presença portuguesa em África (380): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (6) (Mário Beja Santos)