terça-feira, 29 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24597: Tabanca Grande (553): Souleimane Silá, nascido em 1958, filho da "Rainha de Catió (que afinal era natural do Xitole)", a viver hoje no Luxemburgo: senta-se à sombra do nosso poilão, no lubgar nº 881


Souleimane Silá, nascido em Catió, em 1958:
novo membro da Tabanhca Grande, nº 881


1. O Souleimane Silá, filho da "Rainha de Catió" (*), chegou ao nosso blogue através do Formulário de Contacto do Blogger. Aqui vai a sua primeira mensagem:

Data - segunda, 14/08/2023, 10:10

Agradeço que me seja permitido publicar minha versão da vossa publicação de passado 09/agosto/2023 sobre as recordações do entâo major Pinheiro referente a rainha de Catio (**),

Aceitem um caloroso bom dia de filho daquela madame e, dar meu testemunho. Souleimane SILA (Luxembourg, 14/agosto/2023

Cumprimentos,
Souleimane Silá 


2. Depois de publicar a sua mensagem do dia 13 do corrente, no poste P24556 (*), deixámos-lhe um convite para integrar a nossa Tabanca Grande, convite que ele aceitou;

(...) Aproveito, por fim, para convidar o Souleimane Silá (a quem agradeço estas carinhosas confidências sobre a senhora sua mãe) para se juntar a este blogue que é dos camaradas e dos amigos da Guiné. (...)

 
3. O Benito Neves, seu amigo do Facebook, e nosso camarada (ex-fur mil cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67) faz questão de "apadrinhar" a sua entrada no blogue:

Data - quinta, 17/08/2023, 18:17

Caro Luís, boa tarde e votos de boa saúde.

A seguir transcrevo a troca de mensagens havidas com o Souleimane Silá cujo propósito será com o maj Pinheiro.

Se for necessário padrinho para apadrinhar a adesão ao blogue, podem contar com a minha disponibilidade.

Forte abraço.

“Quero pedir um favor. O ex-major e comandante Pinheiro que esteve em Catio 70/72, amigo e conhecido da minha família postou no blog Camaradas de Guiné fotos da minha mãe, rainha de Catio, no dia 09/agosto/2023 que eu de seguida comentei enviei um comentário meu para Luís Graça por email que pensei ele tornaria público. 

O importante ele admitiu-me na família do blog fazendo saber que existe, vivo, um filho dessa rainha que acaba de se juntar. Foi o que Sr Victor Condeço tentou pôr-me em contacto em 2007, não foi possível. Que me lembre ainda em 2004/2005 através de exaustivas diligências consegui encontrar-me com o Sr Pinheiro em Carcavelos, Cascais, afinal éramos vizinhos. Ele se lembrou de todos membros da minha família, mais ainda da minha irmazinha ferida na época dele (que se encontra junto dele numa das fotos que postou ao lado da minha mãe e pequenas irmazinhas) (...)

Actualmente, com a adesão dele ao blogue, de Luís Graça camaradas de Guiné, ao ponto de ousar postar essa relíquia, rogo você, meu mano Benito, que ajude restabelecimento de contacto dele, à pedido da minha tal irmazinha (hoje mãe, avó e Madame) que lhe quer falar.

Souleimane Silá




"Rainha de Catió" (c. 1972)

Guiné > Região de Tombali > Catió > BCAÇ 2930 (Catió, 1970-72) >  O então maj inf Mário Arada Pinheiro, 2.º cmdt do BCAÇ 2930, com a "rainha de Catió", sua lavadeira,  e algumas das suas filhas... Em chão nalu, ela era fula (*), nascida e crescida em Xitole.

Foto (e legenda): © Mário Arada Pinheiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves (ex-Fur Mil Atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007) >Foto-010 > Catió 1967- Lagoa entre Catió e Priame.



Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves (ex-Fur Mil Atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007) > Foto-022 Catió 1967- Vista aérea na região de Catió

Foto (e legenda): © Benito Neves (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


4. Nova mensagem do Souleimene Silá:

Assunto: Sobre comentários de 16/agosto/2023 no blog
Data - 28 ago 2023 15:50

Mantenhas, queridos camaradas da nossa Grande Tabanca "Luís Graça & Camaradas da Guiné"!

Quero falar um pouquinho dos comentários relatados no dia 16/08/2023 no nosso Blog  (*), que entendi ser necessário trazer ao vosso conhecimento sem de jeito nenhum pretender retirar mérito aos camaradas que abordaram.
 
(i) Quando na verdade reconheci a rainha minha mãe e a mi nha irmazinha com perna ferida, víima dum ataque dos outrora "terroristas" (fev72), ao lado do ilustre comandante do aquartelamento Sr Pinheiro (ex-majo), não hesitei. Veio-me em memória a outra face prestigiosa da missão militar colonial: política de proximidade às populações. Essa presença ilustra também esse sentimento. 

A tabanca de Catio-fula aonde nasci e cresci estava situada directamente na linha de fogo dos "terroristas", porque os tiros provinham da zona norte, de Ganjola e arredores em direcção ao Quartel de Catio (linha recta) e resulta geralmente o nosso bairro de Catio-fula que acabava sofrendo as desastrosas consequências, diferentemente doutras tabancas de Priame ao nascente,  assim como Catio-balanta e Areia ao poente. 

O que nunca entendi é o porquê de meu pai persistir em não arredar pé. Lembro-me duns colegas dele (Malam Fulinho, Sori Bombeiro, Samba Dabo, Bôbo Quetcho e tantos outros se foram para novos pousos). Foi nosso destino.

(ii) O Aliu SILA, chauffeur da Administração de Circunscrição de Catio, não foi nem Djacanca, nem Saracolé. Não. Ele foi, sim, filho de mãe e pai da etnia Maninka-morin (Malinké), natural de Kankan e passou infância em Boké, Guemeyré, ambas regiões da vizinha Guinée francesa (Guiné Conakry). 

Quando e em que circunstâncias trocou o país de origem, jovem, solitário, para aquele onde decidiu construir toda sua vida profissional e familiar, na Guiné (ex-portuguesa), poderá vir a ser contas dum outro rosário.
 
Em resumo, todos filhos do famoso e honrado Aliu Chauffeur nasceram, registados e cresceram de mulheres nacionais do país acolhedor, ex-Guiné portuguesa. A minha rainha, essa é natural e cresceu em Xitole (...)

(iii) O meu nome (porque está registado Souleimane em vez de "Suleimane"), poderia abrir uma outra pergunta. Porquê o "Aliu" não foi escrito "Aliou", sabendo-se que ele preservou sempre a naturalidade à francesa? 

Cá para mim a forma de registo de nascimento, dos nomes africanamente, para não dizer universalmente, ainda que a pronúncia dá igual, a ortografia difere.
 
Aceitem um grande abraço (de bom humor), do vosso camarada Souleimane Silá.


4. Comentártio do editor LG:

O Souleimane Silá será o nosso Cherno Baldé de Catió, um menino que cresceu com a tropa e com a guerra. Temos muito gosto em juntá-lo a esta Tabanca Grande, onde cabem todos os bons amigos e camaradas da Guiné. Como em todas as outras tabancas, temos um poilão, à sombra do qual nos sentamos para partilhar memórias e afetos...  Souleimane, és bem vindo. O teu lugar é, pela nossa cronologia, o nº 881. (***)

Para teu governo tens aqui as nossas regras de convívio, resumidas mas 10 regras da política editorial do blogue...

Muita saúde e lomga vida para ti e os teus. Mantenhas. Luís Graça
___________


(**) Vd. poste de 9 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24540: Fotos do álbum do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, antigo 2º cmd do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e cmdt do Comando Geral de Milícias (Bissau, 1972/73)

(***) Último poste da série : 25 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24588: Tabanca Grande (552): António João Alves Cruz, ex-fur mil, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974); senta-se sob o nosso poilão no lugar nº 880

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24596: Notas de leitura (1610): "A Guiné-Bissau Hoje", por Patrick Erouart; Éditions du Jaguar, Paris, 1988 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Setembro de 2021:

Queridos amigos,
Folheiam-se estes guias turísticos da década de 1980 e temos uma Guiné próximo e longínqua, há apelos ao investimento, a indicação de rotas para o lazer a partir de Paris, Banjul ou Dacar, nem uma palavra sobre Lisboa mesmo falando dos voos da TAP. As fotografias de Michel Renaudeau são estonteantes, mostrando um povo a dançar, a trabalhar ou a estudar, um património edificado que já caiu de podre ou que precisa de obras urgentes. Propõe-se programas de caça e de pesca, mostram-se os meandros do Geba, do Cacheu e do Mansoa, há muitíssima informação sobre os Bijagós. Encena-se uma Guiné que procura uma via de prosperidade, tanto agrícola como piscícola, adicionam-se observações referentes à luta pela independência e de vez em quando salta um disparate ou uma incongruência, coisas provavelmente reminiscentes de uma época de heróis lendários que acabam por ser tratados paradoxalmente quando se diz que o golpe de 14 de novembro de 1980 autonomizou a Guiné da opressão cabo-verdiana. Coisas da vida. Estes livros são uma relíquia, deviam constar das bibliotecas portuguesas e guineenses, estas imagens são por vezes testemunhos grandiloquentes de um povo que ultrapassou todos os limites da paciência mas que continua a aguardar com serenidade uma via consistente para o progresso.

Um abraço do
Mário



A Guiné-Bissau hoje, por Patrick Erouart, estávamos em 1988

Mário Beja Santos

Na década de 1980 o Banco Nacional da Guiné-Bissau promoveu e patrocinou um conjunto de publicações de apelo atrativo ao investimento e ao turismo no país. Recorreu a roteiristas com obra feita e a fotógrafos eméritos, caso de Michel Renaudeau. Em 1988 surgiu este livro "A Guiné-Bissau Hoje", das Éditions du Jaguar, Paris, numa versão aparentada com o português, dando-nos um panorama histórico, socioeconómico e cultural, um quadro das cidades e notas práticas para quem pretendesse viajar. Vale a pena seguir cuidadosamente o texto, o país que se descreve está um tanto distante do país de hoje. E as imagens são francamente deslumbrantes.

Temos a localização, superfície, relevo, clima e assim chegamos ao Sahel e à seca, esta é uma verdadeira bomba retardadora: “O Sahel avança e rói. O clima destas regiões, de tipo sudanês, goza apenas de uma pluviosidade inferior a 1250 a 2000 mm por ano. Mas já há vários anos que a disparidade das chuvas inquieta gravemente as populações cujas condições de vida estão intimamente ligadas à água. Entre a independência, em 1974, e 1978, durante cerca de cinco anos, a chuva não caiu em quantidade suficiente para a renovação das culturas: treze anos de independência, metade dos quais sob a seca!”.

Mas logo se alerta que se caminha para uma destruição total da cobertura vegetal. Carateriza-se a sociedade multiétnica, descreve-se a história pré-colonial, desde o reinado do Mansa no Império do Mali até à chegada dos invasores fulas que puseram termos aos reinos mandingas. Dá-se uma breve nota sobre a economia e sociedade no tempo dos Mansa e entramos na colonização, situada predominantemente no litoral dos chamados Rios da Guiné e de Cabo Verde. Daqui passa-se para a alvorada do nacionalismo e o início da guerra da independência. Seguramente por dispor de informação pouco credível ou mesmo falsificada, o PAIGC aparece colado aos acontecimentos de 13 de agosto de 1959, entramos propriamente numa luta armada que envolveu diplomacia de uma vida específica no interior das matas.

E assim se chega à independência e cita-se Mário de Andrade, um importante dirigente político angolano que viveu muito de perto as lutas do PAIGC:
“A nossa luta armada de libertação inscrevia-se como uma das mais avançadas, no quadro geral da luta dos povos oprimidos contra o colonialismo e o imperialismo. Eis a razão da ferocidade dos colonialistas portugueses que se quis abater sobre o arquiteto do nosso edifício, o estratega dos nossos sucessos militares, o diplomata das nossas iniciativas no plano internacional. Tentar por todos os meios intercetar a caminhada da nossa luta e, sobretudo, impedir o triunfo do seu exemplo, em função dos interesses económicos em jogo em Angola e Moçambique, tal foi a principal motivação que orientou a execução dos planos sinistros do governo colonialista português”.

Argumentação apropriada para tentar encobrir a clivagem que todos pretendiam iludir e que levou ao assassinato de Cabral, um complô onde estiveram exclusivamente militantes do PAIGC.

Em 1980 a Guiné muda de rumo, há o golpe de Estado contra Luís Cabral e escreve-se taxativamente no livro que este golpe marcou o desejo de autonomia dos bissau-guineenses em relação aos cabo-verdianos, até então presentes nas engrenagens do Estado. Fala-se nas riquezas naturais, no programa de estabilização, numa nova estratégia para a agricultura, dá-se conta do fabrico do óleo de palma e de um conjunto de fábricas que pareciam caminhar bem e, como é sabido, tudo caiu na água: o complexo agroindustrial do Cumeré, a fábrica de montagem Citroën, a fábrica de oxigénio e de acetileno, a fábrica de farinha e de óleo de peixe de Cacheu e a fábrica de cerâmica de Bafatá. E alude-se às boas perspetivas turísticas, conta-se com Varela e Bubaque. Faz-se menção do sistema educativo e do que se pretende com a política de saúde. A cultura envolve cantares, dançarinos, estatuária, a chegada do cinema. Aqui e acolá pintalga-se o texto com curiosidades, uma delas é uma forma coloquial de relação em que se diz com muita regularidade “Não há problema!”, o mesmo é dizer que tudo se vai resolver.

Temos depois uma digressão pelas cidades, fala-se num certame que decorria em Bafatá, a Feiragril, a 87 desfilava, russa, chinesa e norte-americana. Há uma palavra elogiosa para a panaria, as lojas comerciais icónicas e até os bons tascos de petiscos como a Casa Santos na estrada de Santa Luzia. Sugere-se ao turista interessado uma visita aos bairros de Belém, Sintra, Alto-Crim, Cupelon, Santa Luzia. Estaria em curso a ideia de pôr de pé o Museu Nacional, trabalhava mesmo em Bissau Ahmed Dawelbeit, um historiador natural do Sudão, era o responsável pelo projeto, havia mesmo uma comissão de instalação do museu e dá-se a seguinte informação: Até à independência, existia um centro museográfico cujas coleções foram dispersas, perdidas, traficadas ou revendidas nos países limítrofes e a colecionadores privados. Hoje restam apenas 219 peças, das quais muitas em péssimo estado. A digressão passa por Bissorã, Buba, Cacheu, Canchungo, Catió, Farim, Xitole. Exibem-se lindíssimas fotografias de arquitetura colonial portuguesa, diz-se que as autoridades entendem conservar este património cultural. Aspetos etnográficos e etnológicos são aqui e acolá detalhados, caso do casamento dos Bijagós, aliás a digressão dos Bijagós merece cuidadosas referências, era (e é) a grande atração turística de quem vem diretamente de avião até Bubaque e não põe os pés no continente. No entanto, há referências a eventos como o Carnaval de Bissau, vemos uma imagem do grande hotel e do então complexo hoteleiro do 24 de setembro, tudo também desaparecido e, como se disse, aproveita-se qualquer oportunidade para adicionar uma nota de caráter etnológico, antropológico ou etnográfico, é o caso de um texto bem elaborado sobre a criação do mundo segundo os Bijagós.

Vêem-se todas estas fotografias, há aquelas que nos são muito próximas, como as atividades laborais, o Bissau Velho, os preparativos do penteado das mulheres, o trabalho árduo dos regos e os camalhões dos arrozais usando como instrumento de trabalho uma espécie de remo encurvado que dispõe a terra barrenta em montículos prontos a ser semeados; e há aquelas descrições de que a política de saúde é um êxito, de que a cidade de Bolama está a ser recuperada, de que há voos de Aeroflot, da TAP, pelas Nouvelles Frontières, cruzeiros de pesca organizados pela Africa Tour. E recomenda-se ao leitor uma pequena bibliografia que vai desde volumes sobre a luta armada até a um livro de Michel Renaudeau sobre a Guiné-Bissau. Tanto quanto se sabe, estas publicações desapareceram quando desapareceu o Banco Nacional da Guiné-Bissau que lhes deu origem.

Atividade laboral em Bubaque, tratar do coconote

Uma expressiva fotografia de Michel Renaudeau
Imagem vigorosa da preparação do campo para a cultura orizícola
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24587: Notas de leitura (1609): "A Guerra e a Literatura", por Rui de Azevedo Teixeira; Vega, 2001 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24595: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (1): Das salinas de Tavira ao CTIG

 

Foto nº 1 >  Tavira >  CISMI >  1972 >  António Alves da Cruz,  em farda nº 3, junto às salinas, tendo o antigo Convento das Berrnardas ao fundo....


Foto nº 2 > Tavira > CISMI >  4ª Companhia >  3º Pelotão >  16/6/1972 >  Salinas... O antigo Convento das Bernardas ao fundo... O António Alves Cruz, atirador de infantaria, em farda nº 2


Foto nº 3 > Tavira > CISMI >  4ª Companhia >  3º Pelotão >  16/6/1972 >  Salinas... O antigo Convento das Bernardas ao fundo... Um pelotão com 38 elementos...

Comentário do editor LG: 

(...) As famigeradas salinas, o terror do instruendo... E ao fundo o Convento das Berrnardas, com a chaminé da moagem, que ainda funcionava no meu tempo (1968)... Hoje é um magnífico e monumental edifício recuperado pelo nosso prémio Nobel da Arquitetura (ou Pritzker), o "morcão" do Eduardo Souto Moura, da grande escola de arquitetura do Porto!...

Que viva Tavira, que tem sabido estimar, preservar e valorizar o seu património edificado, contrariamente a outras terras algarvias onde a especulação desenfreada, a ganância, o camartelo camarário, o 'lobby' imobiliário e o desastre urbanístico é quem mais (des)ordena. (...)



Foto nº 4 >  Tavira, CISMI > c. maio / junho 1972 >  Ilha de Tavira > O instruendo António Alves da Cruz ao centro: "À minha direita, o Machado, à esquerda, não me recordo o nome"...

Foto nº 5 >  Tavira >  CISMI  >   Outubro de 1972 > Fim do CMS >  O António Alves da Cruz  é o terceiro, da segunda fila, de pé, a contar da esquerda para a direita... Contamos 17 infantes... O António seguiu depois para o BC 8, Elvas, como 1º cabo miliciano,  onde foi dar instrução e de onde fui mobilizado para o CTIG, indo formar batalhão (o BCAÇ 4513/72) em Tomar.

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz  (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Damos início à publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz, novo membro, nº 880, da Tabanca Grande. Já em 2014 tínhamos descoberto a sua página do Facebbok, e publicámos dois postes (*). Na altura fizemos o convite, formal, para se juntar ao nosso blogue, mesmo não sabendo a unidade ou subunidade a que ele pertencia: 

(...) "Para já convido-te a sentares-te à sombra do poilão da Tabanca Grande, o mesmo é dizer, integrares este blogue coletivo que conta já com 650 membros, entre vivos e falecidos... Gostaria que aceitasses o nosso convite, e fosses o  nosso grâ-tabanqueiro nº 651... És nosso amigo do Facebook, mas queremos que sejas também camarada... aqui, no blogue. 

(...)  Dei uma salto à tua página, no Facebook, e explorando os teus álbuns encontrei mais fotos que gostaria de poder divulgar e partilhar com os nossos camaradas da Guiné. Tens fotos de Buba, Aldeia Formosa.

(...) Tens por certo histórias para contar. E a gente nem sequer sabe a que unidade pertenceste... Só sabemos que fechaste a guerra e que estiveste na entrega de Buba ao PAIGC presumivelmente em julho ou agosto de 1974. Fala-nos desses tempos, que não foram fáceis, dos últimos soldados do império... Como eu entendo o teu amargo comentário: "Tanto sofrimento para quê ?!... A  entrega de Buba ao PAIGC, o arrear da nossa bandeira nacional,  e o hastear da bandeira do PAIGC" (...)

Por qualquer razão, o António na altura não nos respondeu, mas tentou  contactar-nos... Hoje sabemos que pertenceu à 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Bula, 1973/74). E, a partir de 25 do corrente, passou a sentar-se à sombra do nosso frondoso, fraterno, icónico e simbólico poilão... porque não há tabanca sem poilão (**).
___________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


(**) Vd. poste de 25 de agosto de 2023 : Guiné 61/74 - P24588: Tabanca Grande (552): António João Alves Cruz, ex-fur mil, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974); senta-se sob o nosso poilão no lugar nº 880

Guiné 61/74 - P24594: Fichas de unidade (31): BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Bula, Nhala e Mampatá, março de 1973/setembro de 74)

Tem página no Facebook > Batalhão
Caçadores 4513 



Batalhão de Caçadores n.º  4513/72


Identificação: BCaç 4513/72

Unidade Mob: RI 15 - Tomar

Cmdt: TCor Inf César Emílio Braga de Andrade e Sousa | TCor Inf Carlos Alberto Simões Ramalheira | Maj Inf Duarte Dias Marques

2º Cmdt: Maj Inf Duarte Dias Marques

OInfOp/Adj: Cap Inf Jorge Feio Cerveira

Cmdts Comp:

CCS: Cap SGE Carlos Santos Pereira | Alf SGE Jerónimo dos Santos Rebocho Carrasqueira


1ª  Comp: Cap Mil Inf João Luís Braz Dias

2ª  Comp: Cap Mil Inf Domingos Afonso Braga da Cruz | Cap Mil Inf grad José António Campos Pereira

3ª  Comp: Cap Mil Cav João Carlos Messias Martins Cap Mil Inf Joaquim Manuel Guerreiro Dias

Divisa: "Non Nobis" (em latim quer dizer "não para nós"...)

Partida: Embarque em 16Mar73; desembarque em 22Mar73 | Regresso: Embarque em 03Set74 (3.ª Comp), 04Set74 (2ª Comp) e 06Set74 (Cmd, CCS e 1ª Comp)

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 26Mar73 a 22Abr73, no CIM, em Bolama, seguiu, em 27 Abr73, para o sector de Aldeia Formosa, com as suas subunidades, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com o BCaç 3852.

Em 13Mai73, após o final do treino operacional, ficou, com as suas subunidades, na dependência operacional do referido BCaç 3852, que manteve, entretanto, a responsabilidade do sector, sendo orientado para reforço da contrapenetração e reacções à pressão inimiga na área.

Em 27Jun73, passou a batalhão de intervenção do CAOP 1, orientado para a interdição do corredor de Missirá e acções na região de Nhacobá, estabelecendo a sede em Cumbijã a partir de 29Jun73, integrando as forças instaladas em Cumbijã e Colibuia, além das suas próprias subunidades estacionadas no sector S2, em Aldeia Formosa e Mampatá.

Em 10Ag073, rendendo então o BCaç 3852, assumiu a responsabilidade do referido Sector S2, com a sede em Aldeia Formosa e abrangendo os subsectores de Buba, Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa. 

Em 06Set73, a função de intervenção já anteriormente executada pelo batalhão foi temporariamente atribuída ao BCaç 4516/73 até 30Out73.

Desenvolveu intensa actividade operacional, tendo comandado e coordenado diversas acções e operações e a realização de patrulhamentos, reconhecimentos e acções de vigilância da fronteira e de contrapenetração. 

A par disso, actuou ainda na protecção aos trabalhos de abertura e melhoramento de itinerários e de segurança e defesa das populações e da sua promoção socioeconómica.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 1 metralhadora ligeira, 5 espingardas, 1 lança-granadas foguete, 61 granadas de armas pesadas e a detecção e levantamento de 30 minas.

A partir de 07Ag074, comandou e coordenou a execução do plano de retracção do dispositivo e a desactivação e entrega dos aquartelamentos ao PAIGC, a qual foi sucessivamente efectuada nos subsectores de Mampatá, em 29Ag074, de Aldeia Formosa, em 31Ag074, de Nhala em 02Set74 e de Buba, em 04Set74. 

Em 31Ag074, foi transitoriamente deslocado de Aldeia Formosa para Buba, onde se manteve até à desactivação e entrega do aquartelamento em 04Set74, após o que recolheu a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

***

A 1ª Comp, após o treino operacional no subsector de Buba com a CCaç 3398, sob orientação do BCaç 3852, passou a reforçar a actividade daquela subunidade no esforço realizado de contrapenetração no referido subsector e depois integrada no seu batalhão, na função de intervenção que lhe foi atribuída, tendo-se instalado, a partir de 17Mai73, em Mampatá.

Em 15Ag073, rendendo a CCaç 3398, assumiu a responsabilidade do subsector de Buba, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 04Set74, após a desactivação e entrega do aquartelamento ao PAIGC, recolheu a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

***

A 2ª Comp, após a realização do treino operacional na região de Nhala com a CCaç 3400, sob orientação do BCaç 3852, foi deslocada para Aldeia Formosa, a fim de colaborar na segurança dos trabalhos da estrada Mampatá-Nhacobá. Em 29Jun73, integrando o seu batalhão na função de intervenção, instalou-se em Cumbijã.

Em l8Ag073, rendendo a CCaç 3400, assumiu a responsabilidade do subsector de Nhala, onde se manteve até à desactivação c entrega do aquartelamento, em 02Set74, recolhendo então a Bissau para efectuar o embarque de regresso.

***

A 3ª Comp, após a realização do treino operacional na região de Aldeia Formosa com a CCaç 3399, sob orientação do BCaç 3852, passou a reforçar o esforço de contrapenetração realizado por aquela subunidade no referido subsector.

Em 211un73, mantendo-se em Aldeia Formosa, ficou integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão, então em função de intervenção naquela zona de acção.

Em 13Ag073, substituindo a CCaç 3399, assumiu a responsabilidade do subsector de Aldeia Formosa, no sector do seu batalhão.

Em 31Ag074, após desactivação e entrega do aquartelamento, recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 113 - 2.ª  Div/4.ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 170/172.

2. Comenmtário do editor LG:

Militares deste batalhão que integram o nosso blogue, ou sejam, fazem parte da Tabnca Grande, a "mãe de todas as tabancas"...

(i)  da 1ª companhia (Buba, 1973/74), o camarada Manuel Oliveira,  bem com o António Alves da Cruz a mais recente admissão, o nº 880, com convite pendente desde... 2014!)),  

(ii) da 2ª companhia, já cá temos, há muito,  o António Murta, ex-alf mil inf Minas e Armadilhas (que tem mais de 90 referências, sendo autor da notável série "Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513"); e ainda o José Carlos Gabriel (ex-1.º Cabo Cripto): ambos estiveram en Nhala, 1973/74 (estiveram em Aldfeia Formosa, Cumbijã e Nhala);

(iii) há  um quinto camarada, o Fernando Costa (ou Fernando Silva da Costa), ex-fur mil trms d
a CCS/BCAÇ 4513, que esteve em Aldeia Formosa (infelizmente já falecido, em 2018, segundo informação da página do Facebook, do batalhão; tem 17 referências no nosso blogue, para o qual entrou em 25/10/2009; vamos fazer-lhe um poste In Memoriam: só agora, cinco anos depois temos conhecimento desta triste notícia).
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domingo, 27 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24593: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (5) ex-alf mil cav Jaime Machado, cmdt Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70): vive em Senhora da Hora, Matosinhos - Parte I

Foto nº 1 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá  > Setor L1 > Bambadinca >  Pel Rec Daimler 2046, "Os 14 Furões" (Bambadinca, 1968/70)    > O memorial que o Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) deixou em Bambadinca... Esta subunidade desembarcou no cais fluvial do Xime no dia 7 de maio de 1968, tendo seguido em coluna auto até Bambadinca onde ficou ao serviço do comando do BART 1904 (Bambadinca, maio /setembro 68) e depois do BCAÇ 2852 (Bambadinca, outubro 68/fevereiro 70).

Foto nº  2 > Guiné > Rio Geba > Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  finda a comissão de serviço em Bambadinca. A LDG , possivelmente a 101 Alfange, embarcando tropas e material (nomeadamente de engenharia).

Foto nº  3 > Guiné > Rio Geba > Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  

Foyo nº 4 > Guiné > Rio Geba > Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) >  Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  finda  a comissão de serviço em Bambadinca... Tanto a LDG 101 [Alfange] como a LDG 104 [Montante] estavam equipadas com 2 peças Oerlikon de 20 mm  

Foto nº  5  > T/T Niassa > Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) > Viagem de regresso, Bissau-Lisboa, abril de 1970.

Foto nº  6 > Porto > RC 6 > Abril de 1970 > O Pel Rec Daimler 2046,  na passagem à disponibilidade (1): O Jaime Machado está ao meio na fila de pé. A composição incial das subunidadea eram 14 elementos, em maio de 1968:

Cmdt, alf mil cav Jaime de Melo R. Machado; | 2º srgt cav, Jose Claudino F. Luzia | 1º cabo cav, apontador de Daimler, José Óscar Alves Mendes | 1º cabo cav, apontador de Daimler, João Manuel R Jesus | 1º cabo cav, apontador de Daimler, Manuel Maria S. Alfaia | 1º cabo cav, apontador de Daimler, João de Jesus Cardoso | 1º cabo cav, apontador de Daimler, José Ferreira Couceiro | 1º cabo SM, mecânico, Germano de Oliveira Fonseca | Soldado cav, condutor Daimer, António José Raposo | Sold cav, condutor Daimer, Aníbal José dos A. Duarte | Sold cav, condutor Daimer, Joaquim Pinho Marques | Sold cav, condutor Daimer, José do Nascimento Lázaro | Sold cav, condutor Daimer,  Arlindo da Conceição Silva | Sold cav, condutor auto, Manuel Moreira Tavares.

Foto nº 7 > Matosinhos > Senhora da Hora > Bajuda no Cais de Bambadinca: quadro a óleo pintado, em 2007, pelo Jaime Machado.


Foto nº 8 > Matosinhos > Senhora da Hora > Jaime Machado > "Mulher de Bambadinca -Guiné" (2014),  a partir de foto datada de 1969. Acrílico s/ tela 40/40 cm.

Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Seleção (*) das melhoras fotos do álbum do nosso camarada e amigpo Jaime Machado, ex-alf mil cav,  Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70):

(i)  vive na Senhora da Hora, Matosinhos, mas é minhoto de Viana do Castelo; 

(ii) está connosco, na Tabanca Grande, há 15 anos (desde 21 de maio de 2008) (**);

(iii) tem 65 referências no blogue;

(iv)  disponibilizou-nos uma boa parte dos seus 150 "slides" (publicados na série "Álbum fotográfico do Jaime Machado" de que se publicaram pelo menos 17 postes, entre junho e novembro de 2015) (***); 

(v) tem página no Facebook (503 amigos, 54 em comum); 

(vi) continua a fazer fotografia, além de também se dedicar à pintura como "hobby"; 

(vii) convivemos, eu e o Machado, cerca de seis/sete meses em Bambadinca (entre julho de 1969 e fevereiro de 1970); 

(vii) era (e é ainda hoje) alto e magro: as bajudas chamavam-lhe o "alfero fininho";

(ix) faz 78 anos hoje (nasceu a 27 de agosto de 1945 (: 

(x) está ligado a causas solidárias, sendo membro, nomeadamente, do Lions Clube Lusofonia.

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Notas do editor:

(*) Vd. o último e o primeiro poste:

10 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15347: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XVII: Bambadinca, um quartel onde há homens, bichos e flores...

21 de junho de  2015 > Guiné 63/74 - P14775: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte I: Chegadas e partidas...

Guiné 61/74 - P24592: Parabéns a você (2199): Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24582: Parabéns a você (2198): António Fernando Marques, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1968/70)

sábado, 26 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24591: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (42): Saudades da caldeirada de peixe de antigamente... Valha-me a "Chef" Alice e o "chef" Tony Levezinho




Lourinhã > "Chez Alice" > 25 de agosto de 2023 > O almocinho hoje foi caldeirada de peixe para seis, incluindo a neta, o filho, a nora e a vovó da Madeira

Foto (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em matéria gastronómica, havia coisas na Guiné que eram um luxo, sendo difícil ao "pobre do vagomestre" fazer, já não digo uma surpresa, mas uma gracinha na messe (também já não falo do "rancho" onde se rapava fome...).  

No mato, não havia carne decente, não havia bom peixe, muito menos marisco... Uma vez por outra, lá se arranjava um cabrito, um leitão, umas galinhas raquíticas... e alguma caça: gazela, lebre, galinholas, javali... Mas isso era só para alguns, servido como petisco "semi-clandestino", fora da messe ou do rancho... Para se comer um "bifinho com ovo a cavalo e batatas fritas"(supremo luxo de um operacional do mato!)  só em Bafatá, Bissau e pouco mais...

Esses tempos de fomeca (houve gente que passou dois anos a comer arroz ou espargute com conservas...) vêm a propósito da carestia de vida hoje em dia: o preço do peixe disparou (e o melhor do peixe português vai para Paris, Roma, Madrid, Londres, Bruxelas...),  o polvo, os moluscos, o marisco, etc. que eram comida dos pobres e servidos nas tabernas do meu tempo de infância e adolescència, tornou-.se proibitivo para a maior parte das bolsas portuguesas.

Ainda me lembro, no anos 50/princípios dos anos 60,  da lagosta vendida na lota, em Porto das Barcas, Porto Dinheiro ou Paimogo a sete e quinhentos (escudos) o quilo (!), enquanto o tamboril se deitava fora, por ser muito feio, e por não ter valor comercial  nem gastronómico... A sapateira, a santola, a navalheira, o polvo, os ouriços do mar, as lapas, os mexilhões, os percebes, as enguias, etc. não íam à mesa dos ricos...

Tudo isto para dizer que é difícil, hoje em dia, comer uma boa caldeirada de peixe, num bom restaurante à beira mar, com cheirinho a maresia, a não ser pagando uma boa nota preta... 

Por isso eu prefiro ir ao "Chez Alice": com très ou quatro qualidades de peixe (raia, safio da barriga, cação, etc.), mais uns camarões, umas navalheiras e umas amêijoas para pôr no  fundo do tacho  e "não deixar torrar", faz-se uma caldeirada de cinco estrelas, mesmo assim relativamente económica e de fazer criar água na boca... 

Claro, a batata tem que ser boa, e a Lourinhã, nessa matéria,  é umas das melhores terras não só de Portugal como da Europa para produzir batata (de diversas qualidades)... Caldeirada com batata de puré é uma desgraça!... O resto é o gémio culinário do/a nosso/a chef(s)... Neste caso, a Alice (que aprendeu com a minha mãe a cozinha estremenha).

E, por favor, não estraguem a caldeirada adicionando-lhe umas sardinhas... gordas!... É um desastre culinário... Adoro a sardinha (que é também do mar do Cerro, Lourinhã, e desembarcada em Peniche), mas só grelhada, com uma batatinha e pimentos ou até  só com uma boa fatia de pão caseiro, comida de preferència na Tabanca do Atira-te ao Mar...

Bom apetite!

PS1 - Estou à espera da caldeirada  do Tony Levezinho, que tem ganho prémios nas festas dos pescadores em Sagres!... Ele prometeu vir aqui um dia à Lourinhã mostrar os seus dotes culinários (que de resto já tinham alguma fama em Bambadinca e que nós temos mostrado no blogue)...

PS2 - Com os restos da caldeirada (a "auguinha") faz-se uma sopa de peixc divinal para se comer à noite!... De massinhas. Picantezinha, como convém...

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Guiné 61/74 - P24590: Os nossos seres, saberes e lazeres (587): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (117): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Junho de 2023:

Queridos amigos,
A minha intenção é exclusivamente partilhar as alegrias vividas no meu regresso a um museu que andou 11 anos em remodelação e que tem um acervo de preciosidades que o põe na primeira linha dos principais museus europeus. Depois da visita ao núcleo temático de James Ensor, preferi um certa versatilidade, do tipo daquela que encontramos no Museu Metropolitano de Nova Iorque em que saímos de uma sala com arte do Norte de África e entramos na sala do califa de Bagdad e daqui partimos para um faustoso núcleo da pintura de Monet ou Pissarro. É certo que me bandeei para os movimentos mais tumultuosos do fim do século XIX e a alvorada do modernismo, mas de vez em quando fui a épocas anteriores, fiquei assombrado com um Fra Angelico e uma Madona de Dieric Bouts, contemplei com prazer George Grosz e Ben Nicholson. Fiz agora uma pausa, segue-se a última ofensiva dentro de um museu que tem uma remodelação admirável, como aqui se procura mostrar.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (117):
Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas ! (8)


Mário Beja Santos

Vim propositadamente a Antuérpia para visitar o remodelado Museu Real de Belas-Artes, possuiu um acervo impressionante e de altíssima qualidade em milhares de peças de pintura, desenho e escultura, abarcando da Idade Média à atualidade.
Depois de uma barrigada de um santo do meu culto, James Ensor, lancei-me em obras do acervo, dei preferência aos tempos de transição/evolução do figurativismo para a abstração. O que aqui deixo são meras notas de viagem, impressões muitíssimo pessoais de autores que aprecio profundamente, limito-me a tecer alguns comentários, alguns deles, para mim inevitáveis, têm a ver com ligações decorrentes com escolas, pretéritas ou do tempo, ou até mesmo profecias, as tais viagens das ideias em que uma geração acende a candeia e as seguintes estabelecem a eletrificação geral. É esse desfile de artes plásticas que agora sucede, um mero registo das alegrias e descobertas que fui sentindo na abençoada decisão que tomei de vir até Antuérpia, está aqui um pouco da história das artes plásticas europeias, ao longo de séculos.

A fachada neoclássica do Museu Real das Belas Artes de Antuérpia, reaberto ao público em 2022
Floresta Mágica, por Jan Toorop.
Toorop é um artista bastante ignorado fora destes cantinhos do Norte da Europa. Não é por acaso que se assinala a sua atração pelas cores de Van Gogh e pelos processos surrealizantes de Ensor, para mim há aqui um fim do simbolismo e uma retorção entre o modernismo da sua dimensão expressionista.

Já estou no andar superior, agora posso ver quem anda a contemplar as obras geniais de James Ensor, no seu núcleo temático
Escultura de George Minne, intitulada Solidariedade
Ossip Zadkine, Cabeça de Orfeu
Escultura de Edgar Degas, Mulher Grávida.
Considero Degas um escultor fora de série, há quem pense que ele se fixou primordialmente em bailarinas, no entanto ele possuía uma diversificação de olhares e a sua escultura tem um elevado poder estético em rutura com o academismo e o realismo.
Andei sempre com cuidado de legendar as obras que mais me entusiasmavam, aqui falhei, mas pretendo partilhar esta figura que me parece um centauro e, não sei bem porquê, recorda-me as soberbas esculturas elaboradas por António Pedro na alvorada do surrealismo, uma espantosa torção nas formas em que a soma das partes é tudo tornar mais visível.
Anthony van Dyck, estudo de cabeça
Uma das alterações de fundo neste gigantesco edifício, foi a introdução de claraboias que permitem ao visitante ter um outro modo de olhar a obra de arte e sentir-se em diálogo ou contemplação de quem anda lá por baixo, rendi-me a esta luminosidade e à solução de leveza e transparência gerada pela comunhão dos espaços.
Victor Servranckx, Opus 20. Deste a primeira visita que fiz ao Museu de Belas-Artes e História, em Bruxelas, tomei contacto com este homem que me lembra um construtivista, há aqui formulações que me lembra aquela escola russa que depois foi asfixiada pela ortodoxia soviética, que aboliu o vanguardista futurista.
Ben Nicholson, outro mal-amado fora da Grã-Bretanha, tive o prazer de ver as suas obras conjuntamente com os seus colegas na Tate Saint Ives, na Cornualha, consigo ver o diálogo destas construções, que me lembram Arpad Szenes, com a arte escultórica da sua mulher Barbara Hepworth, uma santa do meu culto, pela sua capacidade de síntese, ela e Henry Moore são os meus escultores modernos britânicos da minha predileção.
Amadeo Modigliani, Nu sentada
George Grosz, O escritor Walter Mehring.
Cada vez que vejo as obras deste espantoso expressionista alemão lembro-me de alguém que frequentou Berlim daquele tempo e que captou bem a crítica social de Grosz e, sobretudo, se apoiou nesta revolução das formas e que tornou Mário Eloy num dos pintores portugueses mais audaciosos do modernismo, na sua geração.

A Miséria de Job, Ossip Zadkine
Fra Angelico, S. Romualdo recusa a entrada na igreja ao imperador Otto III
Obra de Lucio Fontana.
Consigo ver na arte de Lucio Fontana a rotura perante o conteúdo e a apresentação da obra, todos estes golpes, sempre recorrentes no seu trabalho, são passaportes para uma antevisão de que um monocromatismo sujeito a alterações visuais é a representação singela da realidade, era essa uma das lições maiores da corrente plástica em que ele se filiou, a Arte Povera.

Dieric Bouts, Madona
Paul Delvaux, Os Laços Cor-de-Rosa
Pieter Bruegel, O Recenseamento de Belém.
Aqui está uma das provas provadas de que Bruegel e a sua descendência recebiam encomendas da clientela abastada para andar à volta do mesmo tema, neste caso o recenseamento de Belém, ludibriando o olhar do espectador, há uma extensão no conteúdo, uma paisagem até ao fim do horizonte, no canto esquerdo decorre o recenseamento, no extenso tapete de neve a vida continua, há idas e voltas e crianças a brincar e com um toque de discrição vemos a Virgem no seu burrico, esta a portentosa visão bíblica de Bruegel num animado cenário flamengo.

Jean Chastellain e Noël Bellemare, Pietá.

Por ora não canso mais o leitor, eu aproveito para descansar um pouco os pés e preparar a última ofensiva, a esta hora ainda não sei que não vou conseguir nenhum transporte público até à gare central de Antuérpia, tive tudo a ganhar, foram uns quilómetros a pé desde o Zuid, deu para ver o interior desta bela cidade e apreciar uma sociedade multicultural, conversas animadas na rua entre gente africana e asiática e bastantes casais mistos.
Até já!


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24567: Os nossos seres, saberes e lazeres (586): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (116): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (7) (Mário Beja Santos)