Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 27 de março de 2024
Guiné 61/74 - P25309: Parabéns a Você (2255): Ex-Fur Mil Enfermeiro Armando Pires da CCS / BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70); Carlos Vinhal, ex-Fur Mil At Art MA da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) e Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp da CCS / BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1974)
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de Março de 2024 > Guiné 61/74 - P25304: Parabéns a você (2254): Rui Silva, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato e Mansoa, 1965/67)
terça-feira, 26 de março de 2024
Guiné 61/74 - P25308: O Spínola que eu conheci (36): A história do Mário, da CART 2478, contada pelo Manuel Mesquita, da CCAÇ 2614 ("Os Resistentes de Nhala: 1969/71", ed. autor, 2005)
Os três nomes apresentados eram, por ordem de antiguidade no CTIG, Arnaldo Schulz, António de Spínola e Bettencourt Rodrigues.
- António de Spínola (1968/73) > 119 (71,7%)
- Bettencourt Rodrigues (1973/74) > 14 (8,4%)
- Arnaldo Schulz (1964/68) > 10 (6,0%)
- Nenhum deles > 16 (9,6%)
- Não sei / não tenho opinião > 7 (4,2%)
2. Era inegável a "popularidade" de Spínola, no seu tempo, enquanto Com-chefe e Governador-Geral da Guiné (funções que acumulou tal como o seu antecessor, Arnaldo Schulz, e o seu sucessor, Bettencourt Rodrigues), se bem que as opiniões aqui expressas também possam estar "enviesadas" pela época em que os respondentes estiveram na Guiné (e no pressuposto de que todos eram antigos combatentes na Guiné).
Como lembrou, aqui, em comentário ao poste P25238, o cor art ref Morais Silva, "a sua severidade e exigência perante as falhas dos seus militares era proporcional ao grau de responsabilidade e ao posto do infrator. Apreciava quem cumpria e é obrigatório lembrar o especial cuidado que tinha com os feridos em combate que diariamente visitava no HM 241"
São estas e outras "pequenas histórias" que faltam na biografia deste cabo de guerra, escrita pelo historiador Luís Nuno Rodrigues (apesar de volumosa) (Spínola: Biografia". Lisboa. A Esfera do Livro, 2010, 748 pp.. il.)
O Mário
por Manuel Mesquita
Contou-me um pouco da sua vida, convidei-o a ir viver para o meu quarto. Visitou as instalações, agradaram-lhe as condições e aceitou, era por pouco tempo.
Veio de outra companhia, a [CART] 2478 , instalada em [Gadamael] Porto, onde cumpriu 21 meses em rendição individual. Foi bem comportado. O capitão sempre lhe prometeu vir com a companhia no final, apesar de ter menos um mês e meio que eles. Acompanhou a companhia até Bissau, convencido de que vinha.
A [CART] 2478 embarcou [em 23 de dezembro de 1970, juntamente com o resto do BART 2865], o Mário ficou no cais a ver os companheiros embarcar e seguir.
Do barco acenavam-lhe [com] a alegria de partir. No cais o Mário chorava o desgosto da promessa por cumprir. (…) Naquela hora, uns com o coração recheado de alegria e o Mário com o coração apertado pelo desgosto.
Ficou quase dois meses no quartel dos Adidos e, quando contava vir para Lisboa, mandaram-no para a CCAÇ 2614 [em Aldeia Formosa]. Nós com mais de 21 meses, ele com 23. Nós vínhamos em breve, ele não poderia vir connosco, era candidato a ficar lá depois de nós.
− É uma injustiça –digo eu.
− É um castigo, sem nunca ter merecido uma punição. É ter a certeza duma missão cumprida, sem saber quando termina a minha comissão. Já servi a Pátria!
− É uma dor de alma, que só não a sente quem tem um coração de pedra.
O Mário estava no segundo pelotão. Com o pelotão desfalcado há tanto tempo, mandam agora um soldado preencher um vaga. Integrou-se, e a tudo obedecia e cumpria naturalmente (nem poderia ser de outra forma).
Somos [, entretanto,] informados que o Com-Chefe nos iria visitar para provavelmente nos entregar as medalhas de missão cumprida. Tentei a todo o custo convencer o Mário de que se devia dirigir ao Com-Chefe, falar e expor o seu caso, ainda que [ele]fosse o nosso general.
Era um domingo de tarde, nós estávamos [dispensados] de serviço. Uniformizados a rigor, estávamos na parada antes da hora prevista. Não revelámos o nosso plano a ninguém.
Chegou a avioneta e logo o clarim convida-nos à formatura. (…)
É, sem dúvida, sua Excia. o gen Spínola, fiquei contente. Começa o seu discurso, dizendo que tinha as medalhas de comissão cumprida para nos dar. Saudou-nos por tal e informou que ficaríamos ali mais algumas semanas até chegar a companhia que nos [iria substituir, a CCAÇ 3399, em 27 de agosto de 1971].
Eu tinha vontade de tocar o meu amigo para se apresentar, mas estávamos em sentido e o grupo é outro. Uma voz forte e determinada se levanta, lá da outra zona e…
− Sua Excelència, meu general, dá-me licença ?
A admiração foi geral, toda a gente queria olhar, mas… Eu tremia.
O general António Spínola interrompe a conversa com o comando do batalhão [BCAÇ 2892, Aldeia Formosa, 1969/71] , e [diz]:
− Avance e apresente-se.
O Mário conhece os cânones militares, cumpre e diz porque está ali, donde veio, o tempo cumprido, este batalhão não lhe podia prometer que o levava, poderia ver partir mais um companhia, era de rendição individual, não poderia saber quando teria a missão cumprida, depois de já ter naquele momento mais de 24 meses de zona de guerra na Guiné…
Aquele frente a rente não foi longo mas toda a gente o ouviu. O general mandou que o seu ajudante de campo (um capitão ‘comando’) tudo registasse e disse:
− Fizeste bem em falar, meu rapaz. Ainda não é hoje que recebes a tua medalha. Ficarias cá depois desta companhia embarcar. Não vais hoje comigo, porque é impossível, mas embarcarás daqui [a] esta semana para Bissau, vais para Lisboa no primeiro barco.
Deu ordens ao comando para deixarem descansar até ao fim, que lhe [tratassem] do espólio, sairia dali dentro de dias para Bissau para aguardar transporte para Lisboa.
O general partiu, nós ficámos com as medalhas de missão cumprida e o Mário estava agora feliz. Parabéns, justiça finalmente [fora] feita, justiça estava a fazer-se.
Todos os militares sabiam que a comissão na Guiné era de 22 a 23 meses no total. E de 22 a 24 no máximo para os de rendição individual.
Passados três dias, o soldado Mário estava a tomar a avioneta na pista de Aldeia,com todo o espólio feito.
Fonte: Excertos de Manuel Mesquita, “ Os resistentes de Nhala: 1969/71”. (Ed. de autor, s/l, 2005, pp. 121/123) (Com a devida vénia...)
(Seleção, revisão / fixação de texto, parenteses retos, correção de gralhas: LG)
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Nota do editor:
Último poste da série > 3 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23225: O Spínola que eu conheci (35): um militar de caracter reservado, com quem me cruzei várias vezes em Bissau no desmepenho das minhas funções na Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica (Ernestino Caniço)segunda-feira, 25 de março de 2024
Guiné 61/74 - P25307: Os 50 anos do 25 de Abril (4): "Geração D - Da Ditadura À Democracia", por Carlos Matos Gomes; Porto Editora, 2024 (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
É um livro de memórias onde logo nas primeiras páginas se dá a entender que estalou uma rebelião espiritual entre a aprendizagem e o sentido da ordem e o tremendo enganador equívoco de uma guerra sem sentido, o militar que vai participar numa grande operação apregoada como aniquiladora da resistência da guerrilha descobre o completo sem sentido da mesma, a operação não passa de um ato de vaidade para fazer esvoaçar as asas do pavão; de Angola para Moçambique, formando uma companhia de comandos e depois de um compasso de espera de novo num batalhão de comandos africanos, desta feita na Guiné, a consciência está plenamente desperta, a guerra caminha para o abismo, e daí um militar conjugar esforços com outros e vamos ouvir a história da formação do movimento dos capitães da Guiné. As memórias continuam, o capitão aderiu ao PREC, dele tirará os seus ensinamentos, como conversaremos a seguir.
Um abraço do
Mário
Porventura o testemunho mais eloquente sobre a guerra colonial e o depois,
Palma de ouro para a literatura nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril (2)
Mário Beja Santos
Carlos de Matos Gomes é o romancista Carlos Vale Ferraz, autor do romance mais influente de toda a literatura de guerra colonial. Agora muda de rosto, volta a ter perto de 20 anos, faz comissões em Angola, Moçambique e na Guiné, prepara muita gente para a guerra, pertenceu ao grupo mais ativo do MFA na Guiné. Posteriormente, envolveu-se no processo revolucionário, chegou a hora de fazer um balanço do que viveu e do que se lembra.
Acaba de sair o seu livro de memórias "Geração D - Da Ditadura à Democracia", agora é, sem margem para equívocos, Carlos de Matos Gomes, Porto Editora, 2024, um assombroso ecrã sobre as primícias da guerra, os seus bastidores, o funcionamento da hierarquia castrense, a burocracia, sobretudo o exame de consciência do que é que um oficial do quadro permanente ia assimilando nas matas e nos quartéis quanto ao tremendo equívoco que era procurar até ao desespero urdir uma ficção sobre a propaganda doutrinal do Estado Novo sobre uma “guerra justa” para aquele império com pés de barro. É esta a parte das memórias construídas com uma assombrosa arquitetura literária que aqui se procura, aos poucos, desvelar.
É na região de Tete, em maio de 1971, que aquele capitão, comandante de uma companhia das tropas especiais, fez a pergunta do que efetivamente estava a fazer naquele fim do mundo. O poder destas memórias de Carlos de Matos Gomes assenta na sinceridade com que fala das razões por que escolheu a instituição militar, como foi descobrindo que se estava a hipotecar uma juventude em nome de um puro devaneio imperial, sem qualquer sustentação temporal, confrontado com decisões operacionais de opereta, caso da Operação Nó Górdio iniciada em 1 de junho de 1970, e que lhe dará alimento fecundo para essa obra-prima que é o "Nó Cego".
“A minha sorte é que rebentou no pé de uma árvore de bom diâmetro, precisamente do lado oposto à minha posição. Mesmo assim, apesar da sorte de a árvore ter ocultado parte da explosão e estilhaços, fui atingido ainda por alguns deles, felizmente pequenos, um dos quais me partiu o dedo mindinho da mão esquerda, outros quatro alojaram-se nas costelas e osso do antebraço direito. Ainda hoje aqueles estilhaços encontram-se alojados nas minhas costelas e antebraço direito. Outros estilhaços muito pequenos espalharam-se pelas costas sem graves consequências.” Bem dita árvore!
Aquelas grandes operações não serviam para nada, não solucionavam a guerra.
Spínola e um direto colaborador, o Major Almeida Bruno, congeminaram a constituição de um Batalhão de Comandos Africanos. Spínola deu uma explicação a Matos Gomes:
“As tropas europeias assegurariam o apoio de fogo e de combate, enquanto não existissem quadros locais para as guarnecer. A Força Aérea e a Marinha continuariam a cumprir as suas missões, mas integrando o maior número de quadros locais que lhe fosse possível. O Batalhão de Comandos Africanos seria a principal unidade de combate ofensivo. Spínola pretendia criar um exército guineense, tendo como objetivo final umas Forças Armadas da Guiné, em que os militares portugueses fossem quadros técnicos.”
O novo centro de instrução de comandos é localizado em Mansabá. Matos Gomes ambienta-se, comanda uma das operações típicas da manobra política e militar de Spínola, no Quínara, a missão consistia em atravessar a península que integra São João, Tite e Fulacunda. Houve fogo quanto baste.
O autor reflete sobre os comportamentos um tanto paradoxais do carismático Spínola que na Guiné parecia um político capaz de ler o “tempo da História” e que depois do 25 de Abril cometeu erros absurdos, chegando a ligar-se aos radicais do Estado Novo, aos vigaristas reunidos no MDLP/ELP, e procura dar uma explicação:
Naquele desesperante mês de maio de 1973, numa tentativa de romper o cerco em Guidage, terá lugar a Operação Ametista Real, que cumpriu o seu objetivo. E o autor dá-nos conta de como se vai dando a fermentação do movimento dos capitães na Guiné, quem é quem, onde se reúnem, e aproveita para nos dar um contexto de tudo quanto ia ocorrendo em 1973, o assassinato de Amílcar Cabral, a reação do PAIGC, tomara a iniciativa de forma espetacular, pois alcançara valores que eram os mais altos de sempre desde o início da guerra: 220 ações provocando às nossas tropas 63 mortos e 269 feridos.
É no aceso desta ofensiva do PAIGC que chega a notícia da realização de um Congresso dos Combatentes, impulsionada pela extrema direita, gera-se uma movimentação contra o congresso, não só na Guiné, em Lisboa também há descontentamento, é um movimento de contestação encabeçado por Ramalho Eanes, Hugo dos Santos e Vasco Lourenço, digamos que é uma ironia, mas aquele congresso realizou-se enquanto se desenrolava uma tragédia em Gadamael, que foi mantida mas onde os militares portugueses sofreram 24 mortos e 147 feridos. E Matos Gomes escreve:
“Durante o mês de maio de 1973, a guerra na Guiné entrou num ponto de não retorno. Ao atacar quase simultaneamente no Norte, em Guidage, e no Sul, primeiro em Guileje e depois em Gadamael, o PAIGC revelou o esgotamento do potencial de combate das forças portuguesas na Guiné e da capacidade de reação a ataques combinados de controlo do território, resistindo e mantendo-se em duas frentes. O PAIGC, do seu lado, ficou a saber que dispunha de capacidade para desencadear dois ataques em força e vencer um. Poderia repetir a manobra e iria fazê-lo no início de 1974 com o cerco a Canquelifá, onde o Batalhão de Comandos Africanos conseguiu resistir duas vezes; porém, se fosse aberta outra frente, já não haveria reserva quando os paraquedistas fossem empenhados.”
Costa Gomes chega à Guiné em 8 de junho, decide-se remodelar o dispositivo, trocar espaço por tempo, aprova-se um plano de retraimento do dispositivo militar que devia ficar com todas as unidades aquém da linha geral rio Cacheu-Farim-Fajonquito-Paunca-Nova Lamego-Aldeia Formosa-Catió, para evitar o aniquilamento das guarnições de fronteira.
Matos Gomes dá a sua versão do nascimento do MFA, chega, entretanto, o sucessor de Spínola, o general Bethencout Rodrigues. Tece um apontamento dos acontecimentos de Canquelifá e assim chegamos à tomada do poder da Guiné de 26 de abril.
(continua)
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Nota do editor
Post anterior de 18 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25285: Os 50 anos do 25 de Abril (3): "Geração D - Da Ditadura À Democracia", por Carlos Matos Gomes; Porto Editora, 2024 (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P25306: Tabanca Grande (555): ex-fur mil enf, CCAÇ 2658 / BCAÇ 2905 (Teixeira Pinto, Bachile, Nhamate, Galomaro, Paunca, Mareué e Bissau, 1970/1971): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 885
Foto (e legenda) : © Carlos Fortunato (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Identificação: BCaç 2905
Unidade Mob: RI 2 - Abrantes
Cmdt: TCor Inf Júlio Teófilo de Assunção Vila Verde | TCor Inf Alberto Alves Pinto Baptista
2.° Cmdt: Maj Inf Ernesto Farinha dos Santos Tavares
OInfOp/Adj: Maj Inf Noel da Silva Fernandes Aguiar
Cmdts Comp:
CCS: Cap SGE Albino Pedrosa Viana
CCaç 2658: Cap Mil Inf Hermenegildo Gomes Ribeiro
CCaç 2659: Cap Inf José Eduardo Miranda da Costa Moura
CCaç 2660: Cap Inf Luciano Ferreira Duarte
Divisa: "Firmes e Constantes"
Partida: Embarque em 3lJan70; desembarque em 06Fev70 | Regresso: Embarque em 02Dez71
Após sobreposição com o BCaç 2845, assumiu em 21Fev70 a responsabilidade do Sector 05, com sede em Teixeira Pinto e abrangendo os subsectores de Cacheu e Teixeira Pinto e a partir de 30Abr70 o subsector de Bachile, então criado.
Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos, escoltas e de controlo e segurança dos itinerários, colaborando e fornecendo, ainda, todo o apoio logístico e administrativo à actividade operacional do CAOP (depois CAOP 1) e tendo como missão prioritária a orientação, coodenação e segurança dos reordenamentos das populações a sul do rio Costa (Pelundo) e a sua promoção económico-cultural.
Em 24Nov71, foi rendido no Sector 05 pelo BCaç 3863 e recolheu, seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
A CCaç 2658 seguiu em 13Fev70 para Teixeira Pinto e dois pelotões para Bachile, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 2572 até 28Fev70, após o que substituíu aquela subunidade na missão de reforço do sector do seu batalhão.
Entretanto, em 09Mar70, foi substituída pela CCaç 16 e foi deslocada para Nhamate a fim de render a CCaç 13.
Em 18Jun70, foi substituída pela CCaç 2529 e seguiu em 22Jun70 para a zona Leste, a fim de reforçar os efectivos do Agr 2957, instalando-se em Galomaro e com três pelotões destacados em Paúnca, estes em reforço do COT 1, a partir de 23Jun70.
Após deslocamento prévio de pelotões para Mareué, em 17Dez70 e meados de Jan71, assumiu, em 01Fev71, a responsabilidade do subsector de Mareué, então criado na zona de acção do BCaç 2893, mantendo, no entanto, dois
pelotões em Paiama até meados de Mai71 e depois apenas um até Jun71.
Após deslocamento, em 18Ago71, de dois pelotões para Bissau, foi rendida pela CCav 3405, em 05Set71, tendo seguido, em 08Set71, para Bissau, a fim de substituir a CCaç 2724 no subsector de Brá, ficando na dependência do COMBIS, com vista a garantir a segurança e protecção das instalações e das populações da área.
Em 23Nov71, foi rendida pela CCav 2765 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 141/142
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(*) Vd. postes de
(**) Vd, poste de 19 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3483: Tabanca Grande (97): Rogério Ferreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905, Guiné 1970/71
Guiné 61/74 - P25305: Notas de leitura (1678): "Lay Yong, Bernardo e outros poemas", de António Graça de Abreu (Lua de Marfim Editora, 2018, 90 pp.) (Luís Graça)
Capa do livro "Lay-Yong, Bernardo e outros poemas", de Antónioo Graça de Abreu (Póvoa de Santa Iria, Lua de Marfim Editora, 2019, 91 pp.)
Email do autor: abreuchina@netcabo.pt
1. O António Graça de Abreu, um histórico do nosso blogue, é de há muito também conhecido dos nossos leitores como sinólogo, tradutor dos maiores poetas chineses clássicos... Mas também é, ele próprio, poeta em que "a poesia do velho Império do Meio e do Japão aparece, de quando em quando, como descoberta e inspiração (...) para criar os seus próprios poemas " (lê-se na badana da capa).
(...) "Neste novo livro, os ecos extremo-orientais ressoam na magia do instante e do eterno, em pequenos haikus ou em poemas mais longos, ou mesmo numa prosa excitantemente depurada"...
É o caso, por exemplo, do conto, " Lai Yong e Bernardo, uma História Simples" (pp. 36-57), uma história de encontro e separação de duas culturas, e de amores efémeros se um homem (portuguès, já na casa dos 30 e tal) e uma jovem chinesa de Macau, de 24 anos. Estamos em 1981 e em Macau (ainda sob administração portuguesa, até 1999).
Neste livrinho de 90 páginas o autor oferece-nos uma mão cheia de textos poéticos, onde não falta a evocação de três grandes portugueses, orientalistas, que, como ele, alimentaram uma grande paixão pela China e/ou pelo Japão, e que ele retrata na secção "Très amigos" (pp. 85-89): o grande poeta Camilo Pessanha (Coimbra, 1867 - Ma1cau, 1926), o missionário e historiador Manuel Teixeira (Freixo de Espada à Cinta, 1912 - Chaves, 2003), e o diplomata e escritor Armando Martins Janeira (Felgueiras, 1914 - Estoril, 1988).
Enquanto leio (e toma notas sobre) o livro, na paz bucólica de Candoz e com as "cerdeiras" em flor, para uma próxima recensão, mais completa, aqui com fica, com a devida vénia, a reprodução do que ele escreceu sobre Hong-Kong e Macau revisitadas (ver acima) .
Evocação essa que, com referência Macau, acaba assim:
(...) 70
Pequenas as Portas do Cerco,Estranhos portugueses,
há quase cinco séculos,
lusitanos em sinuosa viagem,
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Nota do editor:
Último poste da série > 22 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25296: Notas de leitura (1677): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (17) (Mário Beja Santos)Guiné 61/74 - P25304: Parabéns a você (2254): Rui Silva, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato e Mansoa, 1965/67)
Nota do editor
Último post da série de 12 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25264: Parabéns a você (2253): SAj Ref da GNR Manuel Luís Rodrigues de Sousa, ex-Soldado At Inf da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4512/72 (Jumbembém, 1972/74)
domingo, 24 de março de 2024
Guiné 61/74 - P25303: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (10): "Tempo fora do tempo"
Ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547
Autor do livro "Contos do Ser e Não Ser"
Tempo fora do tempo
O verão entra hoje, lembrou a velha a comer um pedaço de pão à porta da padaria.
Meio triste por vir tão cedo, meio contente por vir tão tarde, já que a primavera o deixa de mãos a abanar com este tempo sem tempo. Ainda agora caiu um aguaceiro que fez as gaivotas encolherem-se e o rio cobrir-se de um espesso véu.
O verão está à porta como a velha na padaria. Nem entra nem sai.
Também à porta, passa o elétrico na sua lenta e gemida marcha de outros tempos, que nada tem a ver com as velocidades de hoje. O tempo fora do tempo.
O homem do lado de lá da rua, sentado num monte de redes ainda com algas, sacudiu o casaco molhado e praguejou. Um menino brincava a seu lado com uma laranja espetada num pau.
As gaivotas espanejaram as asas quando a chuva parou, como fazem no inverno.
Pelo retrovisor, não me apercebi de que alguém fora atropelado, mas pareceu-me ver um gato a espernear na valeta.
O verão entra hoje, mas não parece verão, lamentou a mulher de preto à porta da padaria a comer um pedaço de pão. É mesmo um tempo fora do tempo.
Já o elétrico dava a curva quando um homem saltou, bem inclinado para trás, como se fazia no tempo dos elétricos. Trazia na mão um vaso com manjerico, este sim, deste e de outros tempos.
Não havia vento. Se vento houvesse, os barcos baloiçariam, mas os barcos mantinham-se serenos e dolentes. Apenas uma brisa quente e salgada cheirava a peixe.
O homem sentado nas redes procurava atiçar as teimosas brasas de um fogareiro, ainda sem tempo de serem brasas de assar.
Balões de muitas cores pendiam das árvores a pingar, lembrando o S. João seco de outros tempos, ou apenas orvalhado.
A velha que comia um pedaço de pão gritava de longe ao velho do fogareiro para que cobrisse as sardinhas por causa dos gatos. Pouca sorte a do gatito escorraçado, assim morrendo fora do tempo.
As nuvens teimavam em gotejar e o homem das sardinhas praguejou de novo, cobrindo as brasas com as mãos e com palavrões mais assanhados, deste e de outros tempos.
Uma pequena lufada de vento errante fez os balões brincarem e um deles rebentou para nunca mais ser balão de S. João. Outro desprendeu-se e voou, subindo quase até ao avião que atravessava o rio. O menino com a laranja espetada num pau correu, correu atrás dele e caiu.
A velha de negro, achando que era o tempo de sair da porta da padaria, atravessou a rua ao jeito das artroses, numa corrida fora de tempo, e foi levantar o menino que chorava. Deu-lhe um beijo de avó e levou-o ao velho do fogareiro. O pescador largou as brasas que já faziam chiar meia dúzia de sardinhas e pegou nele ao colo.
Uma gaivota, atrevida e cansada do tempo, achou que era tempo de pifar uma sardinha.
Apareceram mais dois a tempo, um dentro do tempo, vermelho e corcunda, e outro fora do tempo, pálido e esguio como vela de cera, falando dos diabetes e deitando o rabo do olho a um rabito de sardinha.
- Podem ficar. O meu genro está a chegar do mar com mais e bem fresquinhas, disse a velha fora de tempo, dado que o cérebro de cada um já impusera, uns segundos antes, o tempo de se sentarem no caixote mais à mão.
- Entra hoje o verão. Mas que verão! Não há nada mais triste do que o tempo fora do tempo.
- Deixe lá que estas sardinhinhas vieram mesmo a tempo.
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Nota do editor
Último post da série de 17 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25280: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (9): "Maruja"
Guiné 61/74 - P25302: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XII: Parece que houve um golpe de estado militar em Lisboa...
Mensagem: Relâmpago | Grupo Data Hora: 25Abr74 22h45 | De: Com-Chefe | Para: Geral (CTIG )
Fonte (e legenda): © João Dias da Silva (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar (Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]Passámos todo o dia à volta do rádio, ouvindo as edições especiais da BBC em língua portuguesa, a tentar saber algo sobre o sucedido.
Por enquanto está tudo muito, muito confuso, pois todas as notícias são precedidas de "parece que" ou finalizadas por "não confirmado".
Pelas 22H45 chegou uma mensagem relâmpago confidencial do Com-Chefe Bettencourt Rodrigues) a informar que corriam notícias que o Governo de Marcelo Caetano tinha sido derrubado, mas que eram só boatos, com o seguinte texto:
Mensagem: Relâmpago | Grupo Data Hora: 25Abr74 22h45 | De: Com-Chefe | Para: Geral (CTIG)
AGÊNCIAS NOTICIOSAS INFORMAM QUE GOVERNO PROFESSOR
MARCELO CAETANO FOI DERRUBADO POR MOVIMENTO DAS
FORÇAS ARMADAS. NÃO RECEBIDA QUALQUER COMUNICAÇÃO
OFICIAL. ADMITINDO QUE IN POSSA TENTAR EXPLORAR
SITUAÇÃO INCREMENTO SUA ACTIVIDADE SUBVERSIVA. TODOS OS
COMANDOS DEVEM ADOPTAR MÁXIMA VIGILÂNCIA E GARANTIR
PRONTA CAPACIDADE REACÇÃO. COMANDANTES UNIDADES SÓ
DEVEM RESPEITAR ORDENS QUE RECEBAM APÓS RIGOROSA
AUTENTICAÇÃO SUA ORDEM. AUTENTICADO.
Transcrição manual da mensagem original, em impresso normalizado, recebido em Guidaje.
(...) 26 de Abril de 1974 – Farim embrulhou às 6h00.
Continuámos a aguardar com certa ansiedade notícias daquilo que se está a passar na Metrópole quer no RCP (emissor do Movimento das Forças Armadas – é agora a emissora oficial), quer na BBC.
O gen Spínola deu uma entrevista sintética. Saiu o 1.º comunicado oficial com o programa. É sensacional, se for cumprido integralmente. A situação ainda não está bem definida. Aguardemos.
(**) Vd. poste de 6 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2812: Tabanca Grande (66): João Dias da Silva, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 4150 (Guiné 1973/74)
sábado, 23 de março de 2024
Guiné 61/74 - P25301: Agenda cultural (851): "Noite de Solidão no Capim", peça de teatro da autoria de Castro Guedes, levada à cena pela Companhia de Teatro Seiva Trupe. Pode ser vista na Sala Estúdio Perpétuo, no Porto, até ao próximo dia 27 de Março (Jaime Bonifácio Marques da Silva)
1. Mensagem de Jaime Bonifácio Marques da Silva (ex-Alf Mil Paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72) com data de 22 de Março de 2024:
Luís
Vai, aqui, uma pequena referência à peça de teatro sobre a Guerra Colonial que vimos no Porto, na passada 2.ª feira dia 11.3.24 na Sala Estúdio Perpétuo. “Noite de Solidão no Capim”.
Para mim, foi um momento interessante de revisitação e memória. Não esqueço as noites infindas a dormir no mato, tendo por companhia os ruídos da natureza, a incerteza da morteirada que poderia rebentar a qualquer momento ou a surpresa que nos poderia reservar o amanhecer do dia seguinte, quando o meu pelotão teria de iniciar a progressão rumo ao objetivo IN. Só nos breves momentos – de absoluta solidão no meio daquele - nada – à noite, quando, no Leste de Angola, tentando dormir e, deitado de costas sobre o capim enrolado no cobertor e no impermeável, contemplava o universo estrelado, duma beleza indescritível, é que conseguia esquecer a guerra em que estávamos atolados e evadir-me dali.
Enfim, as memórias são como as cerejas!... Quando puxas uma…
A peça, “Noite de Solidão no Capim”, levada á cena pela companhia de teatro Seiva Trupe, foi escrita e dirigido por Castro Guedes e conta com a interpretação dos atores Óscar Branco e Fernando André, acompanhados pelo cenário sonoro concebido pelo músico Fuse.
- O personagem Kizua, Óscar Branco, interpreta um soldado Flexa (tropa especial da dependência da PIDE (DGS, em Angola) que, de Kalashnikov na mão, dá de caras com um militar do exército (Fernando André) que empunhava uma G3.
Do iminente confronto inicial – quem dispara primeiro? – prevaleceu, depois, o diálogo e, após algumas cervejas pelo meio, a amizade e despedem-se os dois, ao alvorecer, a cantar a Internacional.
Nota: os textos que se seguem, foram editados pela – Seiva Trupe.
Se considerares que tem interesse divulga
Abraço para ti e a Alice e boa estadia aí em Candoz
Jaime
“A trama desenrola-se em África, numa ex-colónia portuguesa, na fatídica noite de 24 para 25 de Abril de 1974. No meio do capim, ocorre um encontro inesperado entre Kizua e Pedro, dois homens em farda militar, cada um com suas próprias incertezas, medos e memórias. Entre cervejas, cigarros e uma teia de diálogos carregados de tensão, os personagens compartilham reflexões sobre saudade, medo da morte, preconceitos morais e a absurda realidade da guerra.
À medida que a noite avança, a incerteza do que o amanhecer trará gera uma atmosfera de suspense e desconfiança mútua. No entanto, um momento de descoberta inesperada, catalisado pela notícia do que se passa em Lisboa, leva os protagonistas a uma reflexão profunda sobre a humanidade e a irmandade em tempos de conflito.”
“A companhia de teatro Seiva Trupe está de regresso com “Uma Noite de Solidão no Capim”. “É uma abordagem sem complexos à guerra colonial”, como afirma Castro Guedes, autor do texto e encenador da peça que estreia na próxima quinta-feira (7), na Sala Estúdio Perpétuo. Vai estar em cena até ao Dia Mundial do Teatro, 27 de março, para depois seguir em digressão pelo país.
O espaço é África, algures no meio do capim. O tempo é a célebre noite de 24 para 25 de Abril de 1974. E a ação é desencadeada por um acontecimento inesperado: o encontro de um africano, interpretado por Óscar Branco, e um caucasiano, por Fernando André, ambos em fato militar. Dois homens de ideias e lutas opostas confrontam-se sozinhos no meio do Capim.
O medo da morte e do próprio capim escuro onde se encontram leva-os à cooperação e ajuda mútua. E de uma suposta relação de conflito nasce uma amizade e empatia pelo outro. Os preconceitos morais e as barreiras sociais desaparecem nesta peça, que explora o acesso à humanidade do outro ainda que em lados opostos da guerra.
Nesta situação paradoxal assistimos a este encontro entre um africano que é soldado e integra o exército colonial português, e um caucasiano que é oficial de baixa patente (ou miliciano). Sozinhos no capim, depois de um sentimento inicial de medo e desconfiança, “compartilham cigarros. Compartilham até liamba, que se fumava muito na guerra. Compartilham as histórias das famílias, das terras de onde vieram, dos seus familiares. Compartilham cervejas e compartilham o espaço, as estrelas, os pássaros à noite, que em África são exuberantes”, explicou o encenador Castro Guedes ao JPN. É através “destas coisas simples da vida” que a amizade nasce, acrescentou.
No meio disto tudo, o medo diminui e a noção do absurdo da guerra só aumenta. Depois, surge um rádio. O rádio que relata o que se está a passar em Lisboa na noite de 24 para 25. Anuncia-se a liberdade. Se antes a guerra era por motivos não justificáveis, agora era claramente por uma causa perdida e passada. E, então, acontece o êxtase. Abraços. Talvez beijos de entusiasmo? O certo é que a intensidade de emoções tomará conta do palco.
Dois homens de lados opostos, se colocados no mesmo espaço, sozinhos e confrontados com a presença só um do outro, serão capazes de aceder à humanidade um do outro? Para Castro Guedes, sim. “O essencial é que um homem mais um homem não faz a guerra, faz a a amizade“, disse. Existem “belíssimas amizades” que se “sobrepõem a ideias”, exceto em casos extremos, como exemplifica com o fascismo, nazismo e estalinismo.
Depois da estreia no Porto, a peça segue, em abril, para Santa Maria da Feira e, depois, para Freamunde. Em maio, chega às Caldas da Rainha e, em setembro, a Vila Praia de Âncora. “
Editado por Inês Pinto Pereira
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Nota do editor
Último post da série de12 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25266: Agenda cultural (850): Síntese da apresentação do livro "MARGENS - VIVÊNCIAS DE GUERRA", da autoria de Paulo Cordeiro Salgado, ex-Alf Mil Op Especiais da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), que esteve a cargo do Coronel António Rosado da Luz (Paulo Salgado)
Guiné 61/74 - P25300: Os nossos seres, saberes e lazeres (620): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (147): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (7) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Com a continuação da visita ao Paço dos Condes de Basto, a que se seguiu assistir a um recital de violoncelo e guitarra num espaço esplendoroso do Museu Nacional de Évora, e depois de ter vistoriado, com muito gosto, a esplêndida obra azulejar de Jorge Colaço, um artista que em Paris chegou a trabalhar para Le Figaro e que durante muitos anos compôs os seus magníficos trabalhos na Fábrica de Cerâmica Lusitânia (que ainda conheci, estava prantada onde é hoje a sede da Caixa Geral de Depósitos, restam alguns vestígios como uma chaminé), regressei a Lisboa, de coração afogueado, um belo fim de semana, procurei meter o Rossio na Betesga, impossível, não deu para registar os valores da arquitetura popular tradicional, desta arquitetura civil manuelina não passei do Páteo de São Miguel e do Paço dos Condes de Basto, embora tenha visto por fora o Palácio dos Condes de Cadaval, confesso que foi uma revelação visitar o que já se designou por casas de Vasco da Gama e Palácio da Inquisição e que hoje é o Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida, bem gostei das casas pintadas e das belas exposições ali patentes. Basta de me lamuriar, há palácios, conventos e igrejas, a universidade e até o Teatro Garcia de Resende a pedir nova visita, assim me dê Deus vida e saúde, até lá dar-vos-ei notícias de umas andanças por Arraiolos e Torre de Moncorvo.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (147): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (7)
Mário Beja Santos
A arquitetura civil manuelina em Évora tem belíssimos espécimes. O que se costuma designar por estilo manuelino é uma combinação do tardo-gótico, do mourisco e dos primeiros sinais do Renascimento. Atestam esta riqueza a Galeria das Damas do Palácio Real de S. Francisco ou de D. Manuel, o Páteo de São Miguel da Freiria ou dos Condes de Basto (onde viveram os reis D. Sebastião, Filipe II e D. João IV) assente nos muros romano-árabes do castelo, com janelas de arcos de ferradura e tendo no interior as célebres pinturas mitológicas e históricas; mas há também o Paço do Almirante, o Palácio dos Duques de Cadaval, o mirante da Casa Cordovil e outras reminiscências, como o varandim da Casa Soure, a janela da casa do cronista Garcia de Resende, o Solar dos Condes de Portalegre, os restos arquitetónicos do Paço dos Condes de Vimioso.
Continuo a visita neste Paço dos Condes de Basto, Túlio Espanca descreve-o no seu livro Évora, encontro com a cidade, uma edição de 1997, faz saber que é um edifício de grande caráter e diversidade arquitetónica, refere as majestosas salas, as tais pinturas murais do estilo renascentista e outras maneiristas, dá conta da linhagem dos Castros que aqui viveram, referindo que o Palácio no período de 1678-89 recebeu grandes melhorias para nele se alojar o arcebispo de Évora, primo de D. Pedro II, e aqui esteve temporariamente instalada, em 1699, D. Catarina de Bragança, a viúva de Carlos II de Inglaterra. Em 1958, após longa agonia de ruína e degradação, o palácio foi adquirido por Vasco Eugénio de Almeida que o restaurou cuidadosamente com a assistência da Direção-Geral dos Monumentos Nacionais e nele instituiu a Fundação que tem o seu nome. Mais impressionado se fica quando se deambula por estas instalações ricamente intervencionadas e se pode ver um vídeo que mostra o estado de degradação em que se encontrava este monumento e as instalações anexas antes destas obras magnificentes. São estas as derradeiras imagens que se mostram do interior do palácio, há divisões que estão fechadas, o que está patente é exibido com muito bom gosto e mostra as cuidadas intervenções.
Aquando da visita ao Museu Nacional de Évora (estávamos a 1 de outubro) noticiava-se que a pretexto de ser o Dia Mundial da Música se ia realizar neste belo espaço um concerto com a violoncelista Sofia Azevedo e o guitarrista Marco Banca, pareceu-me um duo bem ousado, foi um belo recital com música brasileira para violoncelo e violão, música adaptada do rock onde não faltou Mozart e composições a partir de José Mário Branco. Uma bela despedida do centro histórico, agora ponho-me rumo à estação e não posso deixar de exaltar a classe da azulejaria da responsabilidade de Jorge Colaço, painéis que envolvem a estação rodoviária com motivos eborenses, desde a Sé Catedral, quadros históricos como a Revolta do Manuelinho de Évora (1637), um auto vicentino que aqui se estreou em ambiente régio, cenas de trabalhos agrícolas, impressiona não só o estado de conservação, mas também a combinação cromática que Jorge Colaço urdiu, emoldurando o azul e branco de belas molduras que fazem ressaltar as cenas que nos remetem para Évora, isto passa-se numa estação ferroviária que vem de meados do século XIX e que já teve ligações a ramais, hoje extintos. Regresso a Lisboa, mas já estou saudoso de voltar. Entretanto, vou viajar até Arraiolos e Torre de Moncorvo, não deixarei de dar notícias.
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Nota do editor
Último post da série de 16 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25278: Os nossos seres, saberes e lazeres (619): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (146): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (6) (Mário Beja Santos)