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domingo, 18 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6180: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (3): Intervenção do Cor Cmd Ref Raúl Folques

 


 Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril de 2010. Lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, 2010). Intervenção do Cor Comando Ref Raúl Folques.

 Vídeo (8' 43''): © Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes (conta do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)




Raúl Folques, com o posto de major foi o último comandante do Batalhão de Comandos Africanos, antes do 25 de Abril de 1974, mais exactamente entre 28 de Julho de 1973 e 30 de Abril de 1974, tendo sido antecedido pelo major Almeida Bruno  (2 de Novembro de 1972 a 27 de Julho de 1973), e imediatamente seguido pelo Cap Matos Gomes (1 de Maio a 12 de Junho de 1974).  Os dois aparecem aqui na foto, à esquerda, o Matos Gomes, e à direita o Folques.

Foto editada, extraída de Amadu Bailo Djaló  - Guineense, comando, português. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, p., 240 (com a devida vénia...)

Estes três oficiais, juntamente com o cap pára António Ramos, foram os únicos europeus a participar, com os militares do Batalhão de Comandos Africanos, e o Grupo do Marcelino da Mata, na célebre Op Ametista Real, de assalto à base do PAIGC em Cumbamori, no Senegal,  em 19 de Maio de 1973, e cujo sucesso permitiu aliviar a pressão sobre Guidaje. Nessa  dramática operação, o major Folques foi ferido. Os números oficiosos apontam para 9 mortes,  11 feridos graves e 23 ligeiros.

Amadu tem onze páginas (da 248 à 258), de grande intensidade dramática, sobre esta operação, e nomeadamente sobre a retirada dos comandos africanos até Guidaje e depois até Bigene. Cite-se o trecho que começa com a conversa que o Sargento Comando graduado Amadú tem com  o tenenente comando graduado Jamanca , que está ferido [ era o comandante da 1ª CCmds, e será depois fuzilado eplo PAIGC em 1975]:

(...)

- Amadú, anda cá! Mata-me, não deixes o PAIGC levar-me. Mata-me, Amadú, mata-me!
- Tu não ficas, levamos-te de qualquer forma! Não ficas aqui! Descansa um pouco, Jamanca!

Durante esta conversa vi o Alferes Melna, de pé, com dois soldados, um deitado, de frente para eles.
- Melna, de quem é esse corpo ?
- É o Alferes, o Mama Samba Baldé!

Fui para a beira deles. O Melna apontou para uma árvore e perguntou-me se eu sabia de quem era o corpo que estva lá. Não, não sabia, respondi.
- É o corpo do José Vieira,  [sold, 1ª CCmds].

Ouvi o Jamanca chamar-me:
-Vai chamar o Demba.

Dirigi-me para um grupo de soldados e perguntei pelo Demba.
- Já retiraram todos, só estamos nós aqui, respondeu alguém.

Quando transmiti ao Jamanca o que tinha ouvido, ele não queria acreditar. Depois, levantou-se e foi ver com os seus próprios olhos. Não viu nenhum dos seus oficiciais e abanou a cabeça.

No local estávamos 31 militares, três capitães europeus e vinte e oito comandos africanos. Os capitães eram o Folques, o Matos Gomes e o Ramos que era pára-quedista.

O grupo ainda ficou mais reduzido, pouco depois. Quando tentava recuperar o corpo do Alferes Mamassamba, o Melna foi atingido gravemente nas pernas com estilhaços de uma roquetada e os ossos ficaram a ver-se.

(..) De todo o pessoal que partiu, quatrocentos e noventa e tal militares com dois guias de Bigene, estávamos ali vinte e nove, porque um dos soldados do Melna também tinha sido atingido gravemente. Conseguimos abandonar o local, comigo em último lugar, a olhar para trás, de vez em quando, com a imagem, do Melna, que ainda hoje está na minha cabeça. Ele olhava para nós e voltava a cara para o lado de onde faziam fogo contra nós. E ainda consegui ouvir um grito, pareceu-me de contentamento (...). (pp. 252/253).

 Publicam-se mais fotos de camaradas nossos, que se associaram  à festa do Amadu Djaló (*).



Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > O Virgínio Breiote "adiantando serviço" ao Amadú que não teve mãos a medir em matéria de pedidos de autógrafos... A seu lado, inclinado, apenas com a careca visível, o nosso amigo Rui Alexandrinho Ferrera, tratado afdectuosamente como Ruizinho. Recorde-se que foi que o Rui A. Ferreira, nascido em Angola,  cumpriu duas comissões de serviço na Guiné, primeiro como Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67, e depois  como Cap Mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72.




Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Um guineense, Bamba, antigo dirigente do partido Resistência da Guiné-Bissau / Movimento Bafatá, e antigo ministro da Saúde Pública (Partido criado em 1986 como Movimento Bafatá, na sequência da execução de antigos dirigentes do PAIGC como Carlos Correia e Viriato Pã; nas primeiras eleições multipartidárias, realizadas em 1994, o RGB-MB conquistou 19 dos 100 lugares da Assembleia Nacional. Em 1999, tornou-se o 2º maior partido da Guiné-Bissau com 29 lugares dos 102 lugares da Assembleia Nacional). Julgo que viva actualmente em Lisboa. Dei-me o seu contacto de telemóvel.

Na foto, Bamba cumprimenta a Giselda, ladeada pela Alice e pelo Miguel. O Bamba é amigo pessoal do Agostinho Gaspar, recém entrado para o nosso blogue, membro da Tabanca do Centro.



Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010  > Sessão de autógrafos > Na foto, à esquerda e de perfil o nosso camarada António Santos.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010  > O Alberyo Branquinho e o Coutinho e Lima, possivelmente à procura de referências a Guileje no livro do Amadú.


Lisboa >  Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > O Rui Silva,  Ten Cor Inf Ref, ex-Cap Mil da CCAÇ 18 (1970/72), membro do nosso blogue, veio expressamente de Viseu, para assistir ao lançameno do livro do Amadú. Em contrapartida, teve a agradável surpresa de encontrar ali, por acaso, o Manuel Gonçalves, ex-Alf Mil Mec Auto da  CCS do batalhão  que estava então sediado em Aldeia Formosa. O Manuel Gonçalves, companheiro actual da minha amiga Tuxa, está em vias de se tornar membro da nossa Tabanca Grande. Um dos soldados do seu pelotão do Manuel Gonlçalves era o Silvério Lobo, membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca de Matosinhos. Os dois já se voltaram a encontrar.

Fotos: © Luís Graça (2010).  Direitos reservados
 
__________________

Nota de L.G.:


quinta-feira, 4 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4461: O segredo de... (5): Luís Cabral, os comandos africanos, o blogue Tantas Vidas... (Virgínio Briote)

Guiné > Brá > 1965 > O Alf Mil Briote, à esquerda, ladeado de dois dos primeiros comandos africanos, o Jamanca e o Joaquim. Esta era a 1ª equipa do seu grupo de comandos, os Diabólicos. Em vésperas da Op Atraca.

O Jamanca será mais tarde ofical da 1ª Companhia de Comandos Africanos, participará na Op Mar Verde (invasão da Guiné-Conacri, em 22 de Novembro de 1970) e comandará, em 1973, a CCAÇ 21, da qual farão parte antigos graduados africanos da minha CCAÇ 12.

Enquanto a CCAÇ 12, provavelmente refrescada, foi colocada no Xime, de meados de 1973 até ao final da guerra, a CCAÇ 21, comandada pelo Cap Cmd Graduado Jamanca [lê-se Djamanca], ficará em Bambadinca como unidade de intervenção. O Comandante da CCAÇ 21, Jamanca, será fuzilado, juntamente alguns dos seus homens (o antigo soldado da CCAÇ 12, Abibo Jau, por exemplo) em Madina Colhido, perto do Xime, depois da saída dos portugueses. (LG)
Foto: © Virgínio Briote (2007). Direitos reservados.

1. Das nossas lides bloguísticas eu sabia, talvez há mais de dois anos, que o meu amigo e camarada Virgínio Briote acalentava a secreta esperança de um dia poder entrevistar (ou ter uma conversa franca com) o Luís Cabral... Fez várias tentativas. Em vão. Até que a morte do histórico dirigente do PAIGC, ocorrida há dias em Lisboa, veio fechar-lhe a última porta...

Por outro lado, ele acaba de me confidenciar que vai encerrar a sua actividade bloguística, o seu Tantas Vidas (cujo acesso ele já 'blindou', com password):

Caro Luís,

Estou a proceder a correcções e acertos no meu blogue. Depois de terminar o trabalho vou imprimi-lo em edição de autor e oferecê-lo aos Camaradas que me têm acompanhado nesta aventura internauta. Depois apago o Tantas Vidas. Entretanto, para o caso de te interessar a pw é (...).

Um abraço,vb


2. Um primeiro comentário, de resposta:

VB: Fazer uma edição de autor, tudo bem... É um grande generosidade da tua parte ...mas apagar o registo da Net ? Não te precipites...Além disso, temos que fazer uma FESTA!... Tu mereces, nós merecemos!!!... Obrigado pela pw (...)


3. Mensagem do vb, de anteontem:

Para ti, Caro Luís,

Espero que não leves a mal a ousadia: alterei o teu poste (*), incluí um comentário que, penso, ajuda a clarificar o que realmente me levou a apresentar os meus respeitos ao Luís Cabral.

É certo que o contactei. Depois de várias tentativas consegui falar com ele ao telefone. Talvez me tenha faltado a capacidade de um jornalista. À pergunta de LC, quem é o senhor, respondi que era um antigo comando europeu e que... Ao que ele, pronta e educadamente respondeu que sobre os comandos africanos não tinha nada de importante a acrescentar. Que me deveria dirigir-me a outras entidades, que certamente teriam informações mais precisas. Ponto final, não consegui recuperar a iniciativa da conversa. E fiquei com pena, com a ideia que teria sido capaz de o ter frente a frente, não fora o deslize de me ter identificado logo no início.

Um abraço,
vb


Guiné > Brá > Outubro de 1965 > 1ª equipa de comandos Vampiros > Ao centro, o alf mil Vilaça e â sua rsquerda, o Jamanca e o Justo, futuros comandos africanos.
Foto: © Virgínio Briote (2007). Direitos reservados.








4. Nova mensagem do vb, de ontem:


Caro Luís,

Enquanto espero o Amadu, depois de uma estadia de quase duas semanas em Londres, onde aproveitou para visitar os filhos e a neta e consultar um cardiologista, vou responder-te:

(i) Luís Cabral:

Na breve conversa telefónica com ele, como te disse, fiquei com a impressão que cometi um erro grave. É obrigatório preparar a entrada. Mas eu já não estava à espera de falar com ele, já tinha feito quase mais dúzia de tentativas.

Subitamente reconheci-lhe a voz (vim a saber por ele que estava sozinho em casa) e, talvez, por não contar, esqueci a apresentação que tinha preparado. E foi aqui que falhei, quando me apresentei como um ex-combatente, comando.


A partir desse momento a conversa perdeu interesse para ele. Pela voz apercebi-me que o assunto lhe trazia incómodo e cansaço. Que o assunto era complicado, que não queria eximir-se nem incriminar ninguém, que já tinha dito tudo o que podia dizer, que lamentava o que tinha acontecido, que talvez houvesse pessoas mais indicadas para falar do assunto, que a saúde dele não estava famosa.

Não consegui dar a volta, não insisti.


(ii) Tantas Vidas:

É mesmo para apagar. Depois de arrumar os assuntos e eliminar os que não dizem respeito à minha comissão, vou aproveitar a oferta e o engenho do meu filho, que se prontificou para editar os textos. Vou mandar fazer uma ou duas centenas de exemplares e distribuí-los por alguns Camaradas.


(iii) Blogue:

O blogue da Guiné é o do Luís Graça & Camaradas da Guiné. É único. Pela vastidão e interesse de testemunhos presenciais, de soldados a coronéis e generais, por alguns trabalhos de investigação, pelo período todo da guerra. Está lá a alma da gente lusitana, ou melhor, da gente portuguesa. O sofrimento até ao limite, o desenrascanço, a capacidade de se adaptar, o viver tu cá tu lá com fulas, manjacos, mandingas, felupes, balantas, com outras culturas. É um documento inestimável, como se comprova diariamente pelas citações em livros e blogues. Não pode morrer.
Se vires interesse em alguns textos do Tantas Vidas podes publicá-los. Para mim, como compreendes, é uma honra (**).

Um abraço, vb

5. Comentário (final) de L.G.:

Sáo muitas emoções para um dia só... É uma prova extraordinária de amizade e camaradagem por parte do meu/nosso co-editor Virgínio Briote que eu sinto, cada vez mais, com vontade e necessidade de encerrar, na sua vida, ou na sua base de dados neuronal, o "capítulo da Guiné". Ou da guerra, como quiserem. Se calhar isso vai acontecer com todos nós, mais cedo ou mais tarde.

Vou respeitar a sua decisão final, qualquer que ela seja... mas reservo-me o direito de manter afixado, e bem alto, o seu "brazão de armas" à porta da nossa caserna... No entanto, ainda é muito cedo para despedidas... Venha de lá esse livro (aliás, dois, com o do Amadu Djaló) e o ronco que a gente vai fazer!... LG

__________

Notas de L.G.:


(*) Vd. postes de :

1 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4447: PAIGC - Quem foi quem (7): Luís Cabral (1931/2009) (Virgínio Briote)

1 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4449: In Memoriam (23): Luís Cabral ou o respeito por um homem que lutou por um ideal (Virgínio Briote)

(**) O último poste, de 1 de Junho de 2009, reza assim:

Guiné, Ir e voltar, 1965 a 1967.

Histórias de factos que aconteceram, vistas por um certo olhar. Outras vistas por esse olhar e que mais ninguém viu.

Os factos aqui descritos, uns foram vistos pelos olhos do editor, outros por quem os viveu, outros ainda foram recolhidos em fontes diversas: relatos de combatentes de ambas as partes, Arquivos Históricos e na literatura disponível sobre a Guerra travada pelas tropas portuguesas na Guiné. Apesar de continuamente actualizados, confrontados e corrigidos, não pode o editor garantir que os factos aqui relatados tenham ocorrido exactamente da forma como estão escritos.

Escrito por Gil [alter ego do VB]

domingo, 29 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4102: Os nossos camaradas guineenses (6): Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)

Operação Ametista Real


Tropas de Comandos Africanos assaltaram, por volta das 8h00 do dia 19Mai73, a base de Cumbamory, no Senegal, logo após uma parelha de Fiats G-91 ter procedido ao bombardeamento da área de acção.

Colhidas de surpresa, forças do PAIGC e militares do Exército Senegalês tentaram rechaçar o ataque e empurrar os comandos para a fronteira. Fardas, equipamentos, armas, combatentes (todos negros, excepto os 4 oficiais brancos que enquadravam os cmds africanos), quase tudo igual.

Os comandos para se orientarem e não se perderem uns dos outros, no meio da confusão, gritavam "Comandos", "Comandos"... Ouviam-se apitos e o capim ardia.

Os cmds portugueses tinham recolhido e juntado os foguetões apanhados na base. Quando o fogo os aqueceu, seguiram como torpedos pela bolanha…

Estas não são histórias para contar, a não ser através da escrita do Amadu. A verdade é a confusão que ele descreve, muito longe da ideia de combate organizado com forças de um lado e de outro. Não, aqui tudo é um inferno, como ele diz, em que às tantas não se distinguem amigos de inimigos.

(...) Havia que sair rapidamente de Guidaje. Com os efectivos do BCmds, o nº de militares ultrapassava os 300 homens, dentro do aquartelamento. O que seria um desastre para as NT, se a povoação fosse atacada, e as retaliações eram esperadas. Não havia tempo para recuperar.

O Major Almeida Bruno decidiu seguir na direcção de Binta. Ainda pensaram seguir directamente ao Cufeu, para desencadearem um ataque a uma possível localização da base de lançamento de Strela, segundo a informação da FAP. De facto, parece ter sido a primeira ideia que veio à cabeça do major A. Bruno e terá chegado mesmo a apontar a Cufeu. Mas a tropa já não andava, arrastava-se.

Um dos agrupamentos, o Bombox ainda chegou às proximidades do local, mas os comandos não estavam em condições para desencadearem o assalto. Finalmente, foi decidido seguir para Binta, até à estrada Farim - Binta – Barro. E foi aí, que foram recolhidos em viaturas e transportados para a LDG, comandada pelo 1º Tenente Bilreiro.


Do diário de Amadu Bailo Djaló, Sargento e comandante de um dos grupos da CCmds Africanos, chefiada pelo Tenente Abdulai Queta Djamanca, transcrevo a passagem abaixo:



Amadu Djaló e Adriano Sisseco, em Brá, em 20 de Junho de 1966, na cerimónia da extinção da CCmds do CTIG. Foto de vb.

Chegada a hora, partimos, decididos, não me lembro de olhar para trás, na direcção da estrada Farim-Binta. O objectivo desta etapa era Binta. O calor começou a apertar e ainda era de manhã. As baixas começaram a surgir, sem ataques armados. Alguns afrouxaram a marcha, um ou outro caiu.

Era para aí meio-dia quando o major Bruno mandou fazer um alto para o pessoal descansar um pouco. Trinta minutos, mais ou menos depois, recomeçámos a marcha. Escrever sobre o calor que fazia, não adianta. Toda a gente da Guiné sabe como é.

A marcha forçada estava a ser difícil para alguns colegas, até o guia se foi abaixo. A partir de certa altura, o comandante Bruno e eu fomos para a frente, eu a abrir a coluna, o nosso major em segundo, o segundo guia era o terceiro homem, sempre a andar sem parar, com a estrada Farim-Binta ainda longe.

Ao pôr do sol, chegámos ao local. O comandante Bruno pediu pelo rádio “cavalos” para nos virem buscar. Quando chegou a 1ª viatura, pensei que íamos embarcar. O nosso comandante, disse 'Amadu, vamos andando'. Chegou a 2ª e disse o mesmo.

Nessa altura, eu disse para mim, 'se eu sabia, ficava para trás'. Cada viatura que chegava, o nosso comandante mandava passar para trás de nós, sempre a dizer 'Amadu, vamos andando'.

Eu estava muito cansado, mesmo muito. Continuámos assim até que voltou uma viatura sem ninguém e, então, ele disse 'já não há ninguém para trás, agora é a vossa vez'.

Entrámos em Binta em últimos, com cerca de 40 homens para trás, entre Guidaje e Binta.(...)



Amadu Bailo Djaló:

(i) Nasceu em Bafatá, oficialmente em 1940.

(ii) Aos 14 anos, o irmão mais velho levou-o para Boké, para casa de um tio, de onde era natural a mãe. O pai era de Fulamori, também da República da Guiné-Conackry.

(iii) Um ano depois, com a morte do tio, regressou a Bafatá.

(iv) Aos 16 anos conheceu, pela primeira vez, Bissau e aos 17 Bolama.

(v) Desde muito jovem deu sinais de querer ganhar dinheiro e ser independente. Começou por organizar bailes e festas, juntamente com um primo, para a juventude de Bafatá, a quem cobrava as entradas. As meninas de então chamavam ao Amadu "Mari Velo".

(vi) Enquanto não foi incorporado, foi trabalhando na construção civil, primeiro no Gabu, como capataz, um pouco mais tarde em Bafatá. Estávamos em 1958.

(vii) Nos princípios de Janeiro do ano seguinte, regressou a Bafatá. Como sabia ler e escrever, foi para a campanha da mancarra. Aos 20 anos quis dar um salto, tornar-se verdadeiramente independente. Conseguiu abrir uma banca para negociar no Mercado de Bafatá.

(viii) Mas a incorporação estava à porta. Depois da recruta em Bolama, seguiu-se o CICA/BAC, em Bissau, depois Bedanda na 4ª CCaç, a 1ª CCaç em Farim.

(ix) Regressou à CCS/QG, os Comandos de 1964 a 1966, a CCS/QG, outra vez.

(x) Depois, Bafatá, no BCav (705?) conhecido pelo “Sete de Espadas”, a 1ªCCmds Africanos, o BCmds, a CCaç 21, com base em Bambadinca, o 25 de Abril.

(xi) Depois entregou a arma e começou outra história.

_________


Nota de vb:
1. Na operação a Kumbamory, o BCmds foi dividido em 3 Agrupamentos: "Bombox", comandado pelo cap Matos Gomes; "Centauro", comandado pelo cap Folques e o "Romeu", comandado pelo cap pára António Ramos , onde seguia o comandante da operação, o major Almeida Bruno.

2. artigo da série em

27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4086: Os nossos camaradas guineenses (5): O making of do livro do Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3185: Notícias e fotos de José Maria Gonçalves Dias, ex-Alf Mil (Guiné 1971/73) (Miguel Ribeiro de Almeida)

Em 25 de Novembro de 2020:

Texto e imagens removidas deste poste conforme o solicitado pelo autor dos mesmos em mensagem de 25 de Novembro de 2020 que se reproduz:

De: MRA
Date: quarta, 25/11/2020 à(s) 00:29
Subject: Remoção de fotos/texto
To:


Caro Dr. Luís Graça e co-editores do blogue:
Esperando que se encontrem de saúde, venho por este meio pedir-vos que, por motivos de ordem pessoal, sejam removidos do vosso blogue fotos e texto que eu próprio vos enviei há alguns anos. O link para as fotos/texto é este:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search?q=gon%C3%A7alves+dias
Agradecendo desde já a vossa compreensão pelo meu pedido, envio-vos os meus melhores cumprimentos, votos de saúde e a continuação do sucesso do vosso blogue - que continuarei a seguir e a apreciar.

Atentamente,
Miguel Ribeiro de Almeida

_________________

Nota de CV

(1) - Vd. postes de

3 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3016: Em busca de... (32): Margarida Dahaba, professora, filha do 2º Sargento Fodé Dahaba (M. Ribeiro de Almeida / J.M. Gonçalves Dias)

de 10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3043: Em busca de ... (33): Memórias do príncipe Abdulai Jamanca, irmão do meu tio Gonçalves Dias (Miguel Ribeiro de Almeida)

de 19 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3074: Tabanca Grande (79): Miguel Ribeiro de Almeida

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3043: Em busca de ... (33): Memórias do príncipe Abdulai Jamanca, irmão do meu tio Gonçalves Dias (Miguel Ribeiro de Almeida)

Guiné > Brá > 1965 ou 1966 > O Alf Mil Briote, à esquerda, ladeado de dois dos primeiros comandos africanos, o Jamanca e o Joaquim. Esta era a 1ª equipa do seu grupo de comandos, os Diabólicos. Em vésperas da Op Atraca. O Jamanca será mais tarde ofical da 1º Companhia de Comandos Africanos, participará na Op Mar Verde (invasão da Guiné-Conacri, em 22 de Novembro de 1970) e comandará, em 1973, a CCAÇ 21, da qual farão parte antigos graduados africanos da CCAÇ 12 Enquanto a CCAÇ 12, provavelmente refrescada, foi colocada no Xime, de meados de 1973 até ao final da guerra, a CCAÇ 21, comandada pelo Tenente Jamanca [lê-se Djamanca], ficará em Bambadinca como unidade de intervenção.


Guiné > Bissalanca > o 1º Cabo Abdulai Jamanca a ser condecorado com a Cruz de Guerra pelo Coronel Kruz Abecasis (Cmdt da BA 12) em 10 de Junho de 1967 (?).

Abdulai Queta Jamanca (1937-1975), de seu nome completo, Príncipe Fula por nascimento, era natural de Farim. Foi alistado nas NT a 12 de Janeiro de 1956. Foi um dos militares que em Outubro de 1963 se deslocaram a Angola para frequentar o curso de comandos. Fez parte do grupo que actuou na Ilha do Como, na Op Tridente (Jan-Mar 1964).

Em Brá colaborou na instrução do 1º curso de comandos e, em data não determinada, foi evacuado, por acidente em serviço, para o HMP, de Lisboa , onde foi tratado durante alguns meses. Regressou à Guiné, já o curso tinha terminado, ficando a pertencer ao grupo de comandos Panteras. Em Setembro de 1965, ingressou nos Comandos do CTIG, tendo feito parte, no período de 1965/66, dos Grupos Vampiros e Diabólicos (neste último, sob o comando do Alf Mil Comando Virgínio Briote).

Mais tarde, fez parte, em 1969, ingressou na 1ª CCmds/BCA, tendo participado na invasão a Conacri, Op Mar Verde, que levou à libertação dos nossos prisioneiros de guerra, em poder do PAICG.

O então 1º tenente Jamanca foi, em Junho de 1973, nomeado como comandante da CCAÇ 21, extinta em Agosto de 1974. Regressou à CCmds a que pertencia. Foi fuzilado em Bambadinca, em dia não apurado de Março de 1975.

Fotos e legendas: © Virgínio Briote (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem de Miguel Ribeiro de Almeida, sobrinho de do ex-Alf Mil J. M. Gonçalves Dias, que pertenceu à CART 3492 ( Xitole) e depois à CCS do BART 3873 ( Bambadinca) (1971/74):


Meu caro Luís Graça,

Venho agradecer-lhe, bem como ao seu camarada Beja Santos, pessoalmente e em nome do meu tio, a vossa inestimável ajuda, sem a qual não teria sido possível localizar o 2º Sargento Fodé Dahaba e família [, que moram em Mem Martins].

Acabo de abrir a minha caixa de correio e encontro a sua mensagem, pelo que vou de imediato telefonar ao meu tio para lhe dar esta magnífica notícia [, a morada, o telefone e o telemóvel do Fodé Dahaba, 2 ºSargento do Pel Mil nº102, Finete].

Tenho pesquisado no seu blogue para encontrar notícias de um outro camarada vosso, infelizmente assassinado pelo PAIGC em 1975. Trata-se do Tenente Abdulai Jamanca. O meu tio conheceu-o em Bambadinca, e ficaram muito amigos, como irmãos. O Tenente Jamanca ofereceu-lhe uma foto, tirada no aquartelamento de Bambadinca aí por 1972/3, dedicando-a ao meu tio, e nela escrevendo "Para o meu irmão José M. Gonçalves Dias". Esta foto está na sala de casa do meu tio desde que ele regressou da Guiné.

Pesquisando no vosso blogue, como dizia, encontrei uma foto do Tenente Jamanca a ser condecorado com a Cruz de Guerra, a alguns posts a ele referentes que mostrarei ao meu tio assim que estivermos juntos. Um desses posts é escrito por um cidadão guineense, hoje a residir e a trabalhar em Lisboa, que viu o camião do PAIGC levar o Tenente Jamanca para o local onde seria assassinado. No post, que é de 2006, estão os telefones de contacto dessa pessoa. O Luís acha que nós, eu e o meu tio, poderíamos contactá-lo?

Sei que é também um desejo de longa data do meu tio encontrar familiares do Tenente Jamanca. Caso o Luís, ou um seu camarada, saibam de alguma forma de contactar com algum parente do Tenente Jamanca, por favor diga-me.

Continuarei a acompanhar o vosso blogue, com muito gosto e todo o interesse. É um espaço que preserva a memória da nossa história contemporânea e que abre lugar ao debate e à convivência entre os antigos combatentes. Numa época em que se fala tanto de serviço público, talvez fizesse bem a muitos programadores dos canais de televisão portugueses ler o vosso blogue.

Assim que entrar de férias e estiver com o meu tio, que vive em Viseu, levo comigo o PC portátil para ver se o convenço a aderir ao ciberespaço e a entrar na vossa tertúlia. Ele ficou entusiasmado com as coisas que eu lhe contei sobre o vosso blogue - a infinidade de posts, textos e fotos, a possibilidade de ele próprio vos enviar textos e comentários e, sobretudo, a facilidade de contactar com os seus camaradas da Guiné de uma forma rápida - , por isso espero "levá-lo"
em breve até vós.

Mais uma vez, o nosso muito obrigado pela ajuda prestada. Um abraço da minha parte, um Alfa Bravo para o Luís Graça e Beja Santos da parte do meu tio, e votos de boa saúde. Até breve.

Miguel

2. Comentário de L.G.:


Meu caro Miguel: Tens uma missão delicada: converter o teu tio à nossa mística bloguística, e ajudar a desenvolver a sua literacia informática de modo a poder comunicar connosco. Para já, podes servir de elo de ligação. Mais tarde, teremos todo o gosto em recebê-lo como camarada nosso, nesta Tabanca Grande, de que tu passas de imediato a fazer parte como amigo... (Temos vários familiares de camaradas nossos, a maior parte já falecidos - o que não é felizmente o caso do teu tio Gonçalves Dias - nessa condição).

Aqui te deixamos mais alguns elementos informativos sobre o Abdulai Jamanca, que eu conheci em Fá Mandinga e em Bambadinca, em 1969/70, e que uns anos antes (1965/66) fez parte do grupo de comandos liderado pelo nosso co-editor Virgínio Briote. Se puderes, e com a autorização do teu tio, manda-nos a tal foto autografada que o Jamanca lhe ofereceu, possivelmente em meados de 1973 quando ele foi comandar a CCAÇ 21 (que também tinha graduados africanos da minha antiga CCAÇ 12, a que eu pertenci entre Junho de 1969 e Março de 1971; homens, portanto, que eu ajudei a formar e que enquadrei).

Quanto ao nosso amigo José Carlos Mussá Biai, que é natural do Xime, é engenheiro agrónomo e trabalha no Instituto Geográfico Português, estás autorizado a telefonar-lhe. Oxalá consigas o contacto de algum familiar do saudoso amigo do teu tio e grande combatente fula ao serviço das NT. O seu fuzilamento foi uma tragédia e, como todos os outros, ensombrou a festa que deveria ser a independência da Guiné-Bissau.

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Notas de L.G.:


(1) Vd. poste de 3 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3016: Em busca de... (32): Margarida Dahaba, professora, filha do 2º Sargento Fodé Dahaba (M. Ribeiro de Almeida / J.M. Gonçalves Dias)

(2) Sobre o 12 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIX: O fuzilamento do Abibo Jau e do Jamanca em Madina Colhido (J.C. Bussá Biai)

18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXII: Dos comandos de Brá ao pelotão de fuzilamento (Virgínio Briote)

23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

14 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2843: Ainda os Comandos fuzilados após a independência (III): Alguns dados de 1965/66: Abdulai Queta Jamanca (Virgínio Briote)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Guiné 73/74 - P2843: Ainda os Comandos fuzilados após a independência (III): Alguns dados de 1965/66: Abdulai Queta Jamanca (Virgínio Briote)

Abdulai Queta Jamanca, Príncipe Fula



o 1º Cabo Abdulai Jamanca a ser condecorado com a Cruz de Guerra pelo Coronel Kruz Abecasis (Cmdt da BA 12) em 10 de Junho de 1967 (?).

Abdulai Queta Jamanca, Príncipe Fula, nasceu em Farim, em 5 de Janeiro de 1937.
Foi incorporado em 12 de Janeiro de 1956.

Foi um dos militares que em Outubro de 1963 se deslocaram a Angola para receber instrução "comando". Fez parte do grupo que actuou na Ilha do Como na op. Tridente.

Em Brá colaborou na instrução do 1º curso e, em data não determinada, foi evacuado, por acidente em serviço, para o HMP  Lisboa onde foi tratado durante alguns meses e regressou à Guiné já o curso tinha terminado, ficando a pertencer ao grupo "Panteras".

Em Setembro de 1965, ingressou nos Comandos do CTIG, tendo feito parte dos Grs Vampiros e Diabólicos.

Mais tarde, fez parte da 1ª CC/BCmds, tendo participado no ataque a Conakry, a operação Mar Verde, que levou à libertação dos nossos prisioneiros de Guerra.

Em Junho de 1973 foi nomeado para a CCaç 21, extinta em Agosto de 1974, e regressou à CC a que pertencia (documento em arquivo no ex-Regimento de Comandos) (1). Foi fuzilado em Bambadinca, em dia não apurado de Março de 1975.

Texto do louvor que lhe foi atribuído pelo Brigadeiro Reymão Nogueira, então Comandante Militar do CTIG, publicado na O.S. nº 27 de 07Jul66.

“O 1º Cabo nº 143/Rd, Abdulai Queta Jamanca, do Gr Cmds 'Vampiros' e posteriormente do Gr 'Diabólicos', pelo alto rendimento operacional dado em todas as operações em que tomou parte.

Tendo sido ferido em combate, depois de curado salientam-se as suas actuações nas operações Martingil, Narceja e Naja.

Na primeira abateu frente a frente um elemento IN armado de pistola-metralhadora, tendo pelo seu esforço permitido a captura desse material.

Na segunda, quando da batida feita pelo seu grupo na periferia da zona onde fora atingido um helicóptero e em que se encontrava instalado o IN, voltou a abater outro elemento IN.

Na terceira operação foi destacado com mais dois elementos do seu grupo para o interior da mata a fim de tentar localizar o acampamento IN. Missão de extrema dificuldade já que detectados perder-se-iam todas as hipóteses de êxito da operação. Mais uma vez se houve com êxito e tendo estado perto de um elemento IN, este não o conseguiu detectar.

(…).

Elemento muito disciplinado, com apurada técnica de progressão no mato, conhecedor de algumas línguas nativas, foi em grande parte das operações, o 1º homem do seu grupo, a ele se devendo, portanto, muitos êxitos conseguidos.


Militar muito dedicado ao Exército que serve há nove anos, já anteriormente condecorado com a Cruz de Guerra, com uma vida familiar irrepreensível, é em todos os aspectos do seu procedimento um exemplo de bem servir a Pátria pelo que merece o reconhecimento do Exército.”

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Notas de vb:


(1) Dados obtidos pelo Coronel Manuel Amaro Bernardo e publicados em Guerra, Paz e Fuzilamentos. Ed. Prefácio, 2007.

Artigos relacionados publicados em:




(...) "Eu (com os meus quase 11 anos) e muitos outros, em 1974, vimos os militares do PAIGC em dois camiões de fabrico russo, um deles completamente tapado de toldo. Passaram por Xime, de manhã, para Madina Cudjido (Colhido, como vocês dizem).

"Passados uns 30 minutos ouvimos muitos tiros. Só que por volta da hora do almoço ouvimos [dizer] que foram lá fuzilados 8 pessoas. E das pessoas que nós ouvimos que tinham sido fuzilados - não sei se corresponde a verdade ou não - um deles era o tal Abibo Jau (2) que esteve na CCAÇ 12 em Xime. A outra pessoa seria o Tenente Jamanca, da CCAÇ 21 que estava em Bambadinca.

"Mas tudo isso não me espanta porque os meus irmãos e primos que cumpriram o serviço militar no exército português, em Farim e depois em Bissau e Bambanbadinca, também foram presos, mas felizmente não lhes aconteceu o pior" (...).

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2358: A CCAÇ 726, a primeira Companhia a ocupar Guileje (1): em memória do Alf Mil Comando António Vilaça (Virgínio Briote)



O alferes António Vilaça, ao centro, rodeado pela 1ª Equipa do Gr Cmds Vampiros, em Setembro de 1965. À sua esquerda, o Jamanca e o Justo que fizeram parte da 1ª Companhia de Comandos Africanos, tendo sido executados pelo PAIGC, já depois da independência, sendo na altura tenentes graduados (1). À direita do Vilaça, dois camaradas que sairam da secção do Fur Mil Comando João Parreira, na CART 730 e depois do 2º Curso de Comandos ficaram na 1ª equipa do Grupo Cmds Vampiros: António Paixão Ramalho (Monte Trigo) e o João Maria Leitão (2).


Foto: © Virgínio Briote (2007). Direitos rerservados.


A CCAÇ 726 em terras da Guiné. Uma Companhia ainda à procura da sua história (3). À Memória do António Vilaça, alferes da CCAÇ 726, colega e camarada, onde quer que estejas.

Colega, nos nossos tenros anos do liceu Sá de Miranda, nos cafés da Arcada, na Lusitana, na Rua do Souto em Braga.



O Vilaça (de costas), o Furr. V. Sousa, (...) o alf Gião do QG, o V. Briote, o Furr Marques e o Alf Toni Ramalho, à mesa do Hotel Portugal, em Bissau.

Foto: © Virgínio Briote (2007). Direitos reservados.


Camarada, poucos anos depois, com 20 e poucos anos, nas bolanhas e nas lalas de Iracunda e de Canquelifá, naquela Guiné que ambos odiávamos e amávamos. Nas nossas desavenças em Brá, no quarto que repartimos meses e meses, nos jantares no Hotel Portugal, em Bissau, nas brincadeiras em que nos metemos, nos castigos, punições em linguagem militar, que ambos sofremos, no solene frente a frente com o Brigadeiro Sá Carneiro, o Comandante Militar, a ler-nos nas trombas as redacções das infracções que cometemos, a vergonha que devíamos sentir, contra o espírito da psico-social, então a iniciar-se nos meados daqueles anos.

E depois da Guiné, dois ou três anos passados, os nossos encontros em Braga, as conversas que tivemos sobre a vida à nossa frente, com a Guiné para trás, como se nunca por lá tivéssemos andado. Lembras-te, António?

Não tiveste a vida que gostarias de ter tido e, no entanto, isto cá entre nós todos, pouco fizeste para teres outra. Quando te avisaram que a despedida estava próxima, ainda me telefonaste. Apanhaste-me num táxi, no Marquês, quiseste dar-me a honra de ser o primeiro a saber do mal que tinhas e dos dois ou três meses que nos restavam para pormos a conversa em dia. Não houve tempo para mais, António. E assim te foste, sem mais nada dizeres, quiseste ir só, com os teus à beira.





Curvamo-nos perante todos os que defenderam aquilo que lhes ensinaram que era Portugal. A nossa História a isso nos comprometia. Uma História feita de Albuquerques, Gamas, Egas Moniz, Magalhães e tantos e tantos outros que honraram, por feitos desmedidos, o sagrado nome de Portugal.
Tinhamos então pouco mais de 20 anos. Poucos anos antes, tinhamos trazido das escolas a ideia que a Pátria era una e indivisível. Depois, nas Mafras deste país, ensinaram-nos a usar as armas, a jurar que se o nosso precioso sangue tivesse que verter, que o fosse, que só assim seríamos realmente dignos de cá termos nascido.

Dulce et decorum est pro patria mori, doce e honroso é morrer pela Pátria. Assim mesmo jurámos, alguns com os pêlos da pele eriçados.

De pouco mais de meia dúzia de nomes ilustres faz parte a nossa lembrança escolar, mas não foi só deles que a história deste País se fez. De muitos também se fez o esquecimento e, no entanto, eles estiveram lá e outros foram mesmo decisivos nesses declinares da história.

vb

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Notas de vb:

(1) Vd. posts de:

23 Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

22 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXVII: O Justo foi fuzilado (Leopoldo Amado / João Parreira)

18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXII: Dos comandos de Brá ao pelotão de fuzilamento (Virgínio Briote)

12 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIX: O fuzilamento do Abibo Jau e do Jamanca em Madina Colhido (J.C. Bussá Biai)

(2) Vd. posts de:

8 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2037: Memórias dos Lugares (2): de Elvas a Bissorã e de Lamego a Biambe, com a CART 730 (Parte II) (João Parreira)

1 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2020: Memórias dos Lugares (1): de Elvas a Bissorã, e de Lamego a Biambe, com CART 730 (Parte I) (João Parreira)

(3) A CART 726 foi comandadq pelo ex-Cap Art Nuno Rubim, nosso muito estimado amigo, hoje coronel, e grande especialista em história da artilharia. Vd. posts de:

14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726)

11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973 (Nuno Rubim / Pepito)

sexta-feira, 12 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P749: O fuzilamento do Abibo Jau e do Jamanca em Madina Colhido (J.C. Bussá Biai)



Guiné > Brá > 1966 > O Alf Mil Briote, à esquerda, ladeado de dois dos primeiros comandos africanos, o Jamanca e o Joaquim. Esta era a 1ª equipa do seu grupo de comandos. Em vésperas da Op Atraca. O Jamanca será mais tarde ofical da 1º Companhia de Comandos Africanos, participará na Op Mar Verde (invasão da Guiné-Conacri, em 22 de Novembro de 1970) e comandará, em 1973, a CCAÇ 21, da qual farão parte antigos graduados africanos da CCAÇ 12. A CCAÇ 12, provavelmente refrescada, foi colocada no Xime, de meados de 1973 até ao final da guerra, e dela fez parte o furriel miliciano António Duarte, membro da nossa tertúlia. A CCAÇ 21 ficou em Bambadinca como unidade de intervenção (LG)

Foto: © Virgínio Briote (2005)


1. Texto do nosso querido amigo José Carlos Mussá Biai (outrora, o nosso menino do Xime) (1):

Caro Luís:

Acabo de ler depoimentos muito impressionantes que me fizeram recuar a minha infância em Xime, que você e muitos outros tertulianos bem conhecem de outros tempos.

Aquilo que o António Duarte escreveu e que lhe foi transmitido por um estudante guineense no ISEG é pura verdade.

Eu (com os meus quase 11 anos) e muitos outros, em 1974, vimos os militares do PAIGC em dois camiões de fabrico russo, um deles completamente tapado de toldo. Passaram por Xime, de manhã, para Madina Cudjido (Colhido, como vocês dizem). Passados uns 30 minutos ouvimos muitos tiros. Só que por volta da hora do almoço ouvimos [dizer] que foram lá fuzilados 8 pessoas. E das pessoas que nós ouvimos que tinham sido fuzilados - não sei se corresponde a verdade ou não - um deles era o tal Abibo Jau (2) que esteve na CCAÇ 12 em Xime. A outra pessoa seria o Tenente Jamanca, da CCAÇ 21 que estava em Bambadinca.

Mas tudo isso não me espanta porque os meus irmãos e primos que cumpriram o serviço militar no exército português, em Farim e depois em Bissau e Bambanbadinca, também foram presos, mas felizmente não lhes aconteceu o pior.

Um abraço.

José Carlos Mussá Biai

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Nota de L.G.

(1) Vd posts anteriores do (ou relacionados com o) J.C. Mussá Biai:

10 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XVI: No Xime também havia crianças felizes (2)

20 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXII: Estou emocionado (J.C. Mussá Biai)

20 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXI: Sete mortos civis no ataque ao Xime (Dezembro de 1973)(J.C. Mussa Biai)

(2) Soldado Arvorado 82 107 469 Abibo Jau, 1ª secção, 1º Grupo de Combate, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), Comandante: Alf Mil Op Especiais Francisco Magalhães Moreira...

O Abibo era o nosso bom gigante, um poço de energia... Era ele que transportava às costas os restos dos nossos mortos ou até os nossos feridos... Estou ainda vê-lo a levar um dos embrulhos macabros dos camaradas, tugas, da CART 2715 que foram massacrados na Op Abencerragem Candente. Quem sabe, talvez do malogrado Cunha, do meu amigo furriel Cunha... Vd post de 25 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VII: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970)...

Mas o Abibo também era o nosso torcionário: o trabalho sujo era para ele... Nós fomos embora da Guiné, repressámos a casa e dormimos, hoje, tranquilos (?), em camas com lençóis lavados... É certo que, pelo menos no nosso tempo, travámos alguns dos impulsos de morte do Abibo... Mas, que sei eu ? Ele interrogava os nossos prisioneiros (o Malan Mané, o Jomel Nanquitande, o Festa Na Lona...), e a essas cenas eu poupei-me, nunca assisti... Eu e todos (ou quase todos) nós, os milicianos, os gajos decentes da CCAÇ 12 e das outras unidades estacionadas em Bambadinca...

Imagino o pó que os gajos do PAIGC lhe tinham... O Abibo há muito que apodrece em Madina Colhido. Mas não podemos ignorar ou escamotear que o Abibo foi uma criatuar nosso, uma peça da nossa máquina de repressão... Hoje ele teria ficado livre da tropa: sofria de epilepsia e de elefantíase... Tinha ataques frequentes. Era preciso meia dúzia de homens possantes para o segurar. Um dia vi o diagnóstico da doença dele numa ficha médica, no nosso posto clínico. O seu mau génio e o seu corpo de gigante foram postos ao serviço do exército português. Nunca houve um cabrão de um miliciano (médico, alferes, furriel...) ou de um oficial do quadro do exército (civilizado) do meu país (civilizado) que dissesse: este homem é um doente, não pode ser soldado!... Eu sabia que algo estava errado no comportamento, bipolar, do Abibo Jau... Simplesmente, também eu me calei... Todos nós gostávamos do lado bom do Abibo, do bom gigante do Abibo...

José Carlos, que raio de notícia é que me trazes!... E, no entanto, não era nada que eu não temesse... Mas fizeste bem: é assim, falando - mesmo com o coração apertado - que a gente, tu e nós, o teu povo, os guineenses, os fulas, os mandingas e os demais povos da Guiné, vamos fazendo as contas com passado que nos atormenta, a todos, de uma maneira ou de outra... É assim que vamos exorcizando os nossos fantasmas, libertando-nos dos diabos da floresta...

Abibo, paz à tua alma e que a tua morte não tenha sido totalmente inútil, para que os meninos do Xime e de Madina Colhido, livres, possam hoje contar outras estórias, dos bons gigantes da floresta, expulsos os diabos que um dia os atormentaram...

Vd post de 9 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - CXLVII: Malan Mané, guerrilheiro, vinte anos, mandinga

(...) "O intérprete é o Abibo Jau, o bom gigante epiléptico com o seu metro e noventa e tal de altura e os seus mais de 100 quilos de peso. Não sei quem lhe descobriu o seu talento para torcionário. Pertence ao 1º Gr Comb, do Alferes Moreira. É visível o medo que o Abibo inspira ao Malan Mané. Um fula e um mandinga, frente a frente. Velhos ajustes de contas com a memória colectiva de cada grupo vêm provavelmente ao de cima.

"Fulas e mandingas já foram os donos destas terras. Cada um, no seu tempo. Teixeira Pinto vingou os aristocráticos mandingas, ao subjugar os fulas. Em contrapartida, deixou a estes os papéis subalternos, mais sujos, do aparelho de repressão administrativo-militar. Os pobres dos fulas tornam-se os maus da fita, aos olhos dos outros povos da Guiné. Aqui, pelo menos na zona leste, os mandingas e os balantas têm um ódio de estimação aos fulas. Um ódio que é recíproco. O poder sempre soube dividir (e aterrorizar) para reinar" (...).