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quinta-feira, 28 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1894: Louvores e condecorações (2): CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje (Amaro Samúdio)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) - Os Gringos de Guileje > O Munoz Samúdio, que era 1º cabo enfermeiro, junto à peça de artilharia 11.4 (e não obus 14, que o Coronel Rubim puxa-vos as orelhas!). Ao fundo vê-se a fiada de arame farpado. Last but not the least, em primeiro plano "a nossa cadela Lolita que veio de Gadamael", como fez questão de me chamar a atenção o Samúdio.

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem do Amaro Samúdio, anunciando em 27 de Mraço passado a realização do 1º Encontro dos Gringos de Guileje (19 de Maio, Montemor-o-Movo) (1), e juntando ao mesmo tempo a cópia do louvor que foi conferido à companhia ("Encontrei-o no meio de uma montanha de papéis"):


COMANDO-CHEFE DAS FORÇAS ARMADAS DA GUINÉ > QUARTEL GENERAL

Louvor concedido à CCAÇ 3477 pelo Exmº Brigadeiro Comandante Adjunto Operacional, pub1icado na Ordem nº 63 de 8-12-73 do CCFAGUINÉ.

Louvo a Companhia de Caçadores 3477 pela forma, digna de relevo, como se houve no cumprimento de todas as missões que lhe foram cometidas no decurso da sua permanência no Teatro de Operações da GUINÉ.

Inicialmente colocada no Sul da Província, onde permaneceu, cerca de um ano, em região particularmente sensível, levou a cabo uma intensa e bem conduzida actividade operacional, caracterizada por arreigado espírito de missão, notável agressividade e estoicismo, que lhe proporcionou, num avultado número de acções e operações, com especial destaque para Muralha Quimérica (2), obter resultados apreciáveis e criar acentuada insegurança ao IN num dos seus tradicionais corredores de infiltração.

Sofrendo várias e, por vezes, intensas flagelações ao seu aquartelamento, esta Subunidade, mercê da sua vincada determinação, elevado moral e sólido espírito de corpo, conseguiu sempre reagir pronta e eficazmente abortando todas as iniciativas inimigas.

Deslocada, posteriormente, para outro Sector, de características humanas muito heterogéneas, ainda que dispersa por vários destacamentos, construiu algumas das suas próprias instalações e desenvolveu profícua actividade em trabalhos de reordenamentos em benefício das populações locais, mantendo, simultaneamente, atento e exaustivo labor operacional integrado na segurança próxima de importantes pontos sensíveis.

Pelos serviços prestados, em campanha, a Companhia de Caçadores 3477 honrou a Arma de Infantaria e o Exército, em terras da GUINÉ PORTUGUESA, e ganhou jús ao público louvor com que é distinguida.

Quartel em Bissau, 5 de Dezembro de 1973

O Chefe do Estado-Maior

Hugo Rodrigues da Silva, Cor do CEM


___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio)

(2) Vd. post de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)

(...) "Acção desenrolada entre 27 de Março e 8 de Abril de 1972, no sul da Guiné (Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael).

"Esta operação, na qual participaram as CCP 121, 122, 123 e outras forças, com resultados excelentes, nas zonas operacionais de Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael Porto, foi uma das muitas operações importantes em que intervieram os Paraquedistas do BCP 12 durante o ano de 1972.

"A zona de acção situava-se numa região que o PAIGC considerava libertada e onde os guerrilheiros se movimentavam com relativo à-vontade conforme se viria a constatar.O rio Balana separava o corredor de Guileje, que se estendia a sul entre a fronteira e ia até Salancaur Jate. A outra, a norte do mesmo rio, onde se movimentavam os grandes efectivos do Primeiro Corpo do Exército do PAIGC e que se incluía no troço do corredor de Missirá.

"Para esta operação, além das Companhias de Paraquedistas, também fizeram parte duas Companhias de Comandos Africanos assim como duas Companhias do Exército, as CCAÇ 3399 e 3477, mais a CCAÇ 18 além de um grupo especial do COE. Todas estas forças estavam sob o comando do Tenente-Coronel Parquedista Araújo e Sá, Comandante do BCP 12 tendo como adjunto o Cap Paraquedista Nuno Mira Vaz" (...).

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) - Os Gringos de Guileje > Imagens de Guileje, que me chegaram sem legendas... (LG)

Fotos: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.


Mensagem do Amaro Samúdio (1):

Caro Luís Graça:

Em 19 de Maio do corrente ano Os Gringos, como se intitularam, encontraram-se em Montemor-O-Velho. Já lá vão 33 anos que não sabíamos de ninguém. Hoje cerca de 50 já sabem que não morremos. Dos diversos Distritos da Metrópole e dos Açores, de França, da Alemanha,dos EUA, estamos ligados.

Naturalmente temos tido algumas más notícias. São 33 anos. Sentí que devia falar desta estória. Dois camaradas no mesmo dia foram feridos. Com um estive a almoçar.Outro morreu.

Imaginas, certamente, quanto difícil foi escrever estes acontecimentos mas há alturas em que contar, transmitir, falar, faz bem.

Isto de falar, e ouvir falar, da Guiné está a mexer com quem por lá passou e também com a ideia de, passados 35 anos, encontrar amigos que connosco estiveram nas longínquas terras da Guiné, nomeadamente em Guileje. Tm as partes boas mas também as más.

Temia quando, com o Fernando Mendes e Amândio Pires, resolvemos pôr mãos há obra para encontrarmos e reunirmos a CCAÇ 3477, deparar-me com as duas situações.

Era norma as Companhias montarem e localizarem as minas e armadilhas montadas daí. Existia, empre que havia uma rendição, o tira umas e põe outras.

Com a previsível chegada de uma nova Companhia, a partir de 25 de Outubro de 1972, pelo que tenho anotado, começaram a levantar-se algumas minas e armadilhas. air para a mata era de facto o mais difícil não só pelo perigo mas também pelas muitas e muitas horas a andar, por trilhos, em corta mato, etc. etc.

A saída, no dia 8 de Novembro de 1972, ás 06.45, era para levantar armadilhas nas imediações do quartel. Era uma saída fácil.

Já tinham sido detonadas três armadilhas quando, sem qualquer aviso, há um rebentamento. O Amândio Pires, furriel de minas e armadilhas, tinha caído numa armadilha.

Estava a dar as duas injecções, obrigatórias naquelas situações, quando se ouve outro rebentamento. O enfermeiro Mário Azevedo tinha tomado a iniciativa de trazer uma maca, enganou-se no trilho e caiu noutra armadilha.

Foram ambos evacuados para Bissau. Ambos regressaram e tal como eu desembarcaram do Uíge em 22 de Dezembro de 1973.

Nesta odisseia de encontrar cerca de 60 Metropolitanos e 101 Açorianos sabia que iria ter muitas alegrias mas também algumas tristezas.

O Amândio Pires está bem e recomenda-se. Almoçámos juntos e a alegria do encontro, estampada nos nossos rostos, durou até ás 17.00 horas

O Mário Azevedo, passados dois anos de ter chegado da Guiné, teve um acidente de automóvel e faleceu.

Isto de tentar reunir, ao fim de 33 anos , os GRINGOS DE GUILEJE tem sido outra Guerra (2).


Os Gringos de Guileje juntos de novo ao fim de 33 anos


Um Abraço
A.Samúdio

_____________

Notas de L.G.:

(1) Amaro Munhoz Samúdio foi 1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 3477 (Nov 1971/ Dez 73) , a companhia de açorianos que ficou conhecida como Os Gringos de Guileje: estiveram em Guileje entre Novembro de 1971 e Dezembro de 1972); foram a penúltima unidade de quadrícula de Guileje, sendo rendidos pela CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) - Piratas de Guileje, a que pertencia o nosso camarada José Casimiro Carvalho, ex-fur mil de operações especiais.

(2) Sobre os Gringos de Guileje, vd posts:

11 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1750: Com os Gringos de Guileje... em Nhacra (Herlander Simões)

8 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1574: Uma estória dos Gringos de Guileje (CCAÇ 3477): Estás f..., pá! (Amaro Samúdio)

31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1478: Unidades de Guileje: Coutinho e Lima, ligado ao princípio e ao fim (Nuno Rubim)

27 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1466: Mário Bravo, médico de Guileje (Amaro Munhoz Samúdio)

15 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1431: Guileje: Quem (e quando) construiu os abrigos de cimento armado (Pepito / Nuno Rubim)

3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1334: Guileje: espectacular foto aérea de 1972 (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726)

10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)

11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973 (Nuno Rubim / Pepito)

quarta-feira, 7 de março de 2007

Guiné 63/74 - P1570: Convívios: Almoço-convívio de camaradas de Matosinhos (Albano Costa / Carlos Vinhal)

Matosinhos > 3 de Março de 2007 > No almoço-convívio que reuniu muitos camaradas nossos que estiveram na Guiné, a nossa tertúlia e o nosso blogue estiveram muito bem representados pelo Albano Costa, o Amaro Samúdio e o Carlos Vinhal (na foto, da esquerda para a direita).

Matosinhos > 3 de Março de 2007 > No almoço-convívio dos ex-combatentes da Guiné, naturais do concelho, não faltou um espectacular bolo com o mapa da Guiné-Bissau.

Fotos: © Albano Costa (2007). Direitos reservados.


Caro Luís:

Votos de boa saúde. O meu amigo Manuel José Agostinho (Guiné, 1968/69), frequentador assíduo do nosso blogue, coadjuvado pelo também meu amigo António Maria (Guiné, 1969/71), tomou a iniciativa de promover um almoço-convívio, no dia 3 de Março de 2007, entre os ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos.

Tirando uma iniciativa existente a nível de freguesia em Guifões, terra do nosso camarada Albano, nunca se tinha feito nada a nível concelhio.

Responderam ao desafio cerca de 55 camaradas, um deles muito especial, o Rui Moreira, que foi um dos nossos prisioneiros libertados em Conakry, em 22 de Novembro de 1970, e que se deslocou da Galiza onde vive, para o efeito.

Como me disse a propósito o nosso camarada Samúdio, a Guiné e os ex-combatentes estão a surgir em Matosinhos e, digo eu, terás tu bastantes culpas no cartório. És (somos) muito lidos por camaradas que por muitos motivos não aderem ao blogue. Mas que mexemos nas consciências de muita gente é inquestionável.

Não sabemos se irá ser formada no futuro alguma associação de antigos combatentes da Guiné no Concelho de Matosinhos. Sabemos, sim, que o primeiro passo foi dado e que para o próximo ano seremos muitos mais, porque isto pega-se.

O nosso Blogue esteve representado ao mais alto nível por Albano Costa (Guifões), Amaro Samúdio (Matosinhos) e Carlos Vinhal (Leça da Palmeira). Seguem duas das fotos do acontecimento, tiradas, como não podia deixar de ser, pelo camarada Albano Costa.

Carlos Esteves Vinhal
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732
Mansabá

sábado, 27 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1466: Mário Bravo, médico de Guileje (Amaro Munhoz Samúdio)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) > O Alf Mil Médico Mário Bavo (1)- ao meio, na foto - esteve na CCAÇ 6 em Bedanda, mas também ia regularmente a Guileje, no tempo do Samúdio (1º cabo enfermeiro, o primeiro à esquerda).

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados


Caro Luís Graça:

O Mário Bravo era o médico que ia regularmente a Guileje.

Um abraço

Amaro Munhoz Samúdio (2)

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 23 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1457: Tertúlia: Apresenta-se o Alf Mil Médico Mário Bravo, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72)

(2) Vd. post de 10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)

domingo, 14 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1429: Lusofonia: este cá fala próprio heróis do mar... (Amaro Samúdio)

1. Há tempos (1 de Dezembro de 2006) recebi uma mensagem do Brasil que rezava assim:

Caro Luís Graça (e seus camaradas):

Estava procurando na internet algum lugar que me pudesse informar a respeito das características peculiares do português que é utilizado na Guiné-Bissau e encontrei seu maravilhoso blog.

Dou meus parabéns a você pelo estupendo trabalho e solicito que me ajude a conseguir informações a respeito do tema de minha pesquisa [Características do português da Guiné-Bissau] Desde já agradeço.

Amilton de Sousa Júnior

Salvador/Bahia/Brasil.



2. O Amaro Samúdio, de Matosinhos, nosso camarada de tertúlia, veio dar uma ajudinha, dizendo-me:

Caro Luís Graça

Não conheço nenhum sítio que possa ajudar o Amilton. Não resisto,no entanto, a transmitir-te o hino nacional em crioulo que me cantava um balanta.

Este cá fala próprio heróis do mar.......

Que é nobre povo.........

Que está fugí........

Que está morrí........

Em Conacrí .......



Um abraço

Amaro Munhoz Samúdio

Ex-1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 3477 (1971/73)
Os Gringos de Guileje

domingo, 3 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1334: Guileje: espectacular foto aérea de 1972 (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

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Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) > Foto aérea de 1972 do aquartelamento e tabanca de Guileje, tirada no sentido oeste-leste. A avaliar pela foto, havia um conjunto de moranças, fora do perímetro de arame farpado, a norte do aquartelamento, junto ao trilho da água e no início da estrada que dava para Mejo e Bedanda. Ao fundo, são bem visíveis: (i) a pista de aviação; (ii) o campo de futebol; e (iii) o heliporto
Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados. Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.

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Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1973 > Croquis do aquartelamento e tabanca, desenhado à mão pelo Fur Mil Operações Especiais José Casimiro Carvalho (CCAC 8350, 1972/73) (1).


Foto: © José Casimiro Carvalho (2005). Direitos reservados. Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


Colagem de duas mensagens recentes do Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 3477 (1971/73), a companhia de açorianos que ficou conhecida como Os Gringos de Guileje: estiveram em Guileje entre Novembro de 1971 e Dezembro de 1972); (ii) foram a penúltima unidade de quadrícula de Guileje, sendo rendidos pela CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) - Os Piratas de Guileje, a que pertencia o nosso camarada José Casimiro Carvalho, ex-fur mil e ranger.


1. Era inevitável que a pergunta sobre o que se passou com o chimpazé-bebé fosse feita (2). Outra coisa não era de esperar.

Num dos passeios que gostava de fazer, do abrigo até à estrada, um safado dum açoriano, condutor daqueles monstros que iam buscar água, resolveu, sem qualquer intenção, parar em cima dele. O caçador, que observou isto, disse-me que o animal ia morrer. O que é certo é que deixou de comer e veio a falecer.

Ficaram a Lolita e o Bobi, os nossos amigos vindos de Gadamel Porto, pedidos pelas transmissões.

2. O desenho efectuado pelo herói Casimiro corajosamente enviada a seu pai, é o que mais se aproxima da realidade de Guileje até 21 de Novembro de 1972. Calculo aquela saída pela pista em direcção a Gadamael Porto, depois de não poderem sair dos abrigos e o pessoal das tabancas também lá dentro, a fazerem todas as suas necessidades lá... Nós, em Nhacra, sabíamos o que se estava a passar em Guileje. Tínhamos saído de lá há três meses.

Os Obuses eram 11.4 , substituídos posteriormente por 14.0 Porquê ? A psico de Mr. Spínola? O não responder pela mesma forma de defesa ? É que, segundo o que me era contado pelo pelotão de artilharia, os 11.4 atingiam zonas que os 14.0 , embora mais potentes, não atingiam.

3. É muito difícil dizer tudo o que me está na alma, isto porque poderia, neste momento, quebrar o princípio de que nós éramos os ocupantes e eles os ocupados

As mina, armadilhas e fornilhos também existiam. O heliporto também, salvo erro, construído pelos Gringos.

Os abrigos, construídos pela engenharia, estão quase perfeitamente localizados, muito embora um deles estivesse localizado do lado direito para quem saía para a estrada de Gadamael Porto.

Entretanto, e salvaguardando os muitos conhecimentos do Nuno Rubim, recordo que antes da CCAÇ 3477 (Gringos de Guileje) - esta sim, uma companhia essencialmente açoriana (B.B.I. 18 – Ponta Delgada, S. Miguel, Açores), esteve uma Companhia de Madeirenses e depois é que veio CCAV 8350 (1972/73) , metropolitana, segundo o uso da designação.

Os Gringos de Guileje estiveram lá de 21 de Novembro de 1971 até 22 de Dezembro de 1972

Falta-me encaixar a CCAÇ 3325 pois, para mim, tinha sido a companhia madeirense, a CCAÇ 2617, que nos antecedeu .
4. Caro Luís Graça: Peço desculpa mas agora pregaste-me o vício de pensar e falar sobre a Guiné, nomeadamente sobre Guileje.

De tal forma se tornou vício que te vou transformar em responsável por, ao fim de trinta e três anos, tentar reunir, em Maio de 2007, os Gringos de Guileje (CCAÇ 3477), principalmente os do continente - já que vai ser muito difícil trazer os Açorianos, visto a maioria deles terem imigrado.
Continuando no vício, e pretendendo colaborar com o Pepito, anexo a fotografia que penso ser de início de 1972.

Um abraço
Amaro Munhoz Samúdio
_______

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 1 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1234: Guileje: croquis do aquartelamento e tabanca (José Casimiro Carvalho)
(...) " Comentário de L.G.:
(...) "O aquartelamento e a tabanca de Guileje formavam um rectângulo, todo minado à volta, na parte desmatada, com minas, armadilhas e fornilhos.
"A orientação parece ser norte/sul, tendo as peças de artilharia de 11.4, em número de três, apontadas para a fronteira com a República da Guiné-Conacri. Originalmente, eu pensava que os obuses de Guileje fossem de calibre 14 cm. Podem ver-se ainda as posições dos morteiros: dois 81 (incluindo o 'meu', o que era operado pela secção do Furriel Carvalho, do lado oeste, junto a um dos abrigos) e dois 10,7.
"A oeste, há um campo de futebol, uma pista de aterragem de aeronaves e um heliporto. Ao longo do perímetro do aquartelamento, há arame farpado, postos de iluminação, postos de sentinela, abrigos e valas, todos devidamente assinalados. As palhotas da tabanca situam-se dentro do perímetro do aquartelamento. O trilho que corre a norte da pista de aviação era o trilho da água, o que significava que as NT e a população precisavam de sair do perímetro defensivo para se abastecer do precioso líquido.
"A estrada que atravessava o aquartelamento e a tabanca, no sentido norte/sul era a que seguia para Mejo e Bedanda (a noroeste) e ligava a sul à estrada de Mampatá - Gadamael - Cacine, ao longo da fronteira.
"O Pepito e o Nuno Rubim (...) saberão melhor do que eu interpretar e completar estas informações" (...).

(2) Vd. posts de

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)

sábado, 18 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/77) > Oráculo, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres... Na imagem, o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro, está a pegar ao colo um bébé, não de macaco-cão (1), mas de chimpazé que ele comprou a um caçador local por 500 pesos... Foi um gesto bonito por parte dele, salvando de morte certa um animal que pertence à Ordem dos Primatas, como nós, e que é dos grandes símios o que partilha mais genes connosco (ou seja, o chimpanzé é nosso primo, o nosso primo mais próximo de acordo com a zoologia, a genética e a biologia evolutiva)...
Na altura 500 pesos era metade do pré de um soldado... Isto também dá uma ideia do valor que o chimpanzé tinha na época (e continua ter) no mercado local africano como animal de estimação (mas também como iguaria, já que a sua carne é muito apreciada), sem esquecer a sua triste condição de cobaia nos laboratórios da nossa indústria farmacêutica, a sua exploração nos nossos circos ou a sua prisão dourada nos nossos modernos jardins zoológicos...
Indepentemente disso, eu gostaria de saber o que terá acontecido ao pobre chimpanzé depois da saída dos Gringos... Talvez o Amaro nos possa falar mais um pouco desta estória... Eu sei que na altura nenhum de nós tinha a consciência ambiental e o conhecimento dos direitos dos animais que temos hoje...
Os grandes símios africanos (o chimpanzé, o bonobo e o gorila) estão em vias de extinção (poderão deixar de existir em estado selvagem por volta de 2050) e nós também podemos ajudar os nossos amigos da Guiné-Bissau a preservar o seu habitat (no caso de Guileje, a mata do Cantanhez)... O Pepito e os seus colaboradores da AD - Acção para o Desenvolvimento terão também interesse em conhecer o resto desta estória... (LG)

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.
Texto do Amaro Munhoz Samúdio, com data de 7 de Novembro de 2006 (1):

Caro Luís Graça:

Parabéns pelo trabalho desenvolvido.

Vou, finalmente, tentar humildemente recuperar algumas memórias dos tempos passados em Guileje, não deixando, no entanto, de fazer os seguintes comentários: como é possível que passados tantos anos a Guiné, no caso, esteja permanentemente na memória de todos aqueles que por lá passaram?

O normal, penso eu, é recordar os momentos bons... Mas, por estranho que pareça, aquilo – peço desculpa mas tenho que lhe chamar aquilo – é sempre transportado para os nossos pensamentos como exemplos. Comigo acontece isso.

Decorridos tantos anos como é possível que, ainda hoje, todas as situações lá vividas permaneçam vivas nas nossas memórias e uma tão grande necessidade de as contar a quem também as viveu: (i) é um arame que não se pode tocar, pode ser uma armadilha; (ii) é um papel no chão que não se pode pisar, pode ser uma mina; (iii) é uma lata a que não se pode dar um pontapé, pois pode estar armadilhada...

Os mosquitos trazem-me à lembrança que, antes de dormir, mesmo depois do mosquiteiro bem metido no colchão, e de proceder à necessária matança de todos eles, apareciam sempre, de madrugada, de barriga cheia. Inevitavelmente, esses, já não engordavam com o meu sangue na noite seguinte.

As abelhas recordam-me o safado do Arruda, um monstro açoriano do morteiro 60 que, na mata, quando pressentia um enxame, protegia-se com aquelas redes que levávamos e, depois de passar, abanava os ramos. Chegavam , muitos, inchados ao quartel.

E as formigas que mordiam mesmo, etc., etc., etc

Existem montanhas de exemplos de toda uma geração que, depois de ter passado por aquilo, mesmo que queira, não consegue esquecer. São marcas para toda a vida.

Desculpa este inicial desabafo e vamos a Guileje.

Recordo, no entanto, que o que estava ao meu colo não era um macaco -cão mas sim, o meu chimpanzé–bebé, comprado a um caçador africano por 500 pesos, e que fazia a vida negra aos açorianos do meu pelotão. Quando andava agarrado aos meus calções, às pernas ou aos braços não chorava... À noite, quando o deixava numa casota, na entrada do abrigo, não deixava dormir ninguém .

Sobre uma questão que foi posta - se a engenharia esteve em Guileje -, posso garantir que esteve. Além dos abrigos feitos artesanalmente com aqueles troncos de árvores e chapas dos bidões, existiam pelo menos quatro abrigos que se constava serem à prova de 122 perfurante (3), construídos pela engenharia.

Não foram construídos no tempo dos Gringos (Guileje, 21 de Novembro de 1971/ 22 de Dezembro de 1972), nem na companhia de madeirenses que nos antecedeu [, CCAÇ 3325 Jan 1971/Dez 1971] (2) e o aspecto deles era bom.

As companhias em Guileje estavam, no máximo treze meses, pelo que os abrigos construídos pela engenharia devem ter sido construídos em 1966/67.

Um abraço

Amaro Munhoz Samúdio

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)

(2) Vd. post de 11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973 (Carlos Schwarz / Nuno Rubim)

Aqui fica, para informação da nossa tertúlia, a lista das unidades que passaram por Guileje (Fonte: Carlos Schwarz/Nuno Rubim, 2006)


CCAÇ 495 (Fev 1964/Jan 1965)

CCAÇ 726 (Out 1964/Jul 1966) (contactos: Teco e Nuno Rubim)

CAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966)

CCAÇ 1477 (Dez 1966/Jul 1967) (contacto: Cap Rino)

CART 1613 (Jun 1967/Mai 1968) (contacto: Cap Neto)

CCAÇ 2316 (Mai 1968/Jun 1969) (contacto: Cap Vasconcelos)

CART 2410 (Jun 1969/Mar 1970) (contacto: Armindo Batata)

CCAÇ 2617 ( Mar 1970/Fev 1971) > Os Magriços (contacto: Abílio)

CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971) (contacto: Parracho)

CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) > Os Gringos de Guileje (açorianos)

CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) > Os Piratas de Guileje (contacto: José Casimiro Carvalho)
(3) O Amaro deve estar a referir-se aos temíveis foguetões 122 mm, usados pelos guerrilheiros do PAIGC.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Crachá dos Gringos de Guileje : a açoriana CCAÇ 3477 (1971/73).

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/77) > Oráculo, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres... O Culto de Santo Cristo está bem patente na lápida, onde se lê: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açoreanos (sic)"... (A propósioto: a grafia correcta é açoriano, embora alguns dicionários registem também a variante ortotográfica açoreano).

Na imagem, o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro, pegando ao colo um bébé de macaco-cão (?). O Samúdio é amigo do Albano Costa, o nosso tertuliano de Guifões, Matosinhos, que nos fez chegar estas fotos.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/77) > O Samúdio, na porta de armas. Na base do monumento, à direita, pode ler-se: Vencer sem perigo é triunfar sem glória. Homenagem da CCAÇ 3325 aos seus mortos e feridos e aos portugueses de todas as cores, raças e credos que tombaram em defesa da Pátria" (1) .

Fotos. © Amado Munhoz Samúdio (2006). Direitos reservados.


Mensagem do nosso querido amigo e camarada Albano Costa:

Caro Luis: Já enviei mais umas fotos que arranjei para o projecto do Pepito, espero que ele vá ficar contente e que lhe sejam úteis.

Estou a enviar para ti para no caso de quereres utilizar no nosso blogue. Estás à vontade, elas são de um colega que fez parte da CCAÇ 3477 , «Os Gringos de Guileje»[, residente em Matosinhos]. E ele mostrou-se muito interessado em conhecer o blogue e vai tentar aprender a funcionar com a Net para poder contar as suas estórias.

Vou entregar ao Carlos Vinhal um CD com fotos que o Hugo [Costa] fez quando esteve na Guiné em Abril de 2006, para te oferecer no Sábado quando vocês se encontrarem no convívio [, na Ameira, em Montemor-O-Novo]. Se quiseres utilizar algumas, estás à vontade. As fotos de Guileje são de autoria de Amaro Munhoz Samúdio e as do CD são do Hugo Costa.

Um abraço,
Albano Costa


Comentário de L.G.:

Sei que o Pepito ficou entusiasmado ao receber estas fotos, já que não tenha notícias dos Gringos Açorianos. Estas últimas férias andou pelos Açores à procura deles, mas as pesquisias foram frustrantes. De repente, é localizado o Amaro Munhoz Samúdio que eu espero, eu e todos nós, se possa juntar, a partir de agora à nossa tertúlia. Um grande abraço de agradecimento ao Albano, que está sempre atento ao que se passa no nosso blogue e na nossa tertúlia...
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Nota de L.G.:

(1) CCAÇ 3325: esteve em Guileje de De Fev a Dez 1971. Contacto: Parracho. Vd. post de 10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLV: Projecto Guileje (7): recuperação do quartel (Pepito / Luís Graça)

Vd. também post de 2 de Dezembro de 20005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73) (Magalhães Ribeiro)