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sexta-feira, 21 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6445: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (12): Um PM devidamente fardado apesar das circunstâncias (António Paiva)

1. Mais uma história do nosso camarada António Paiva, (ex-Soldado Condutor Auto no HM 241 de Bissau, 1968/70):

Histórias de um Condutor do HM 241 - 12

Um PM devidamente fardado apesar das circunstâncias


Como todos sabem, a PM (Polícia Militar), primava pela sua apresentação e pelo rigor, no cumprimento do seu dever.
Verdade seja dita, pelo que me tocou, nunca me fizeram qualquer mal, correu sempre tudo às mil maravilhas, na Guiné, talvez por se tratar da Unidade que era, Hospital, do qual poderiam necessitar durante o tempo que lá estavam, tinham-nos sempre em atenção.

Alguns camaradas da PM quando ia haver uma operação de controle de excesso de velocidade, de uma forma ou de outra, nos informavam do dia, local e hora, chegavam mesmo a avisar-nos de que o Oficial que estava na operação não era “gajo” para perdoar. Por vezes até boleia nos davam quando, à noite, perdíamos o ultimo transporte.
Posso mesmo dizer, quase com a certeza, que durante a minha comissão só duas vezes de chatearam.

A primeira foi aquela a que faço referencia no P3615, a segunda no dia 31 de Dezembro de 1969, que pouco me chateou, pois não era eu que ia a conduzir, era o Whisky, era fim de ano, mas quem levou com 10 dias de detenção fui eu.

Mas vamos ao que me leva a esta história:

Como devem saber, dentro do Hospital, a boina não fazia parte do nosso complemento militar, a qual não devia mesmo ser usada no seu interior e mais, sem que fosse uma postura de desmazelo, podíamos andar de chinelos e camisa fora dos calções, consoante as circunstâncias, para melhor liberdade de movimentos, o nosso serviço era assim, não tínhamos tendência para aprumos militaristas.

O 2.º Comandante ainda tentou que no Hospital, os militares andassem devidamente fardados, talvez para lhe baterem a pala quando lá entrava, mas não conseguiu.
O General Spínola, sempre aceitou a forma como estávamos e como éramos.

Dou esta pequena explicação, pelo seguinte:

Certo dia, com sinais emergência, chega ao Hospital um jeep da PM, não era para menos, no banco do pendura vinha um Senhor Oficial devidamente fardado e de boina bem posta, fazendo honras à sua farda e à Unidade que representava, mesmo que o sangue lhe escorresse pela face.

Saiu do jeep e entrou pelo Hospital adentro sem tirar a boina. Logo à entrada do corredor foi chamado à atenção, por um médico, que naquela Unidade não se entrava com boina na cabeça.

Resposta pronta, mais ou menos nestes termos:

- Sou militar, sou oficial (Alferes) e estou devidamente fardado.

No corredor se ouve uma voz, vinda da boca do Alf Mil Med Diamantino Lopes:

- Eu trato dele.

Podem crer que o tratou bem, não descompondo o rigor militar de S. Exª.
Nem entrou no Posto Socorros, foi directo para Pequena Cirurgia.

O Alferes, depois de sentado, ia para tirar a boina, o que foi impedido pelo médico.

- Deixe-a estar, aqui quem manda sou eu.

Recurso necessário:

Uma tesoura, para cortar a boina e pôr metade para cada lado.

Depois do espaço aberto, foi executado na perfeição o tratamento adequado.

Só não sei se foi a quente ou a frio, se levou agrafes ou ponto cruz, a verdade é que saiu de lá tratado e a boina unida com fita adesiva.

Já me esquecia, O Sr. Alferes tinha partido a cabeça ao bater com ela na porta de um armário que se encontrava aberta.

Um abraço
António Paiva
__________

Notas de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6075: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (11): Quando a missão não deixa ver

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Guiné 63/74 – P6125: Guiné 63/74 - P6075: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (11): Um prisioneiro, no fundo, boa pessoa

1. Uma estória do nosso camarada António Paiva*(ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70), enviada em mensagem do dia 4 de Abril de 2010:

Camaradas,
Terminada a Especialidade, Janeiro de 1968, no Regimento de Cavalaria 5, no Porto, por estranho que me tivesse parecido me deram a escolher, assim como a todos do meu Pelotão (o 6.º, composto por, relaxados, preguiçosos, abandalhados e atrasados, por sermos sempre os últimos a formar, sendo todos de Lisboa, mais tarde contarei a história) a unidade para onde queríamos ir.
A maioria, senão a totalidade, escolheu Trem-Auto.
Tendo eu escolhido, Regimento de Infantaria 1, na Amadora.

Logo, por alguns, fui chamado de maluco e parvo, por ter escolhido uma Unidade onde os meus serviços iriam ser de piquetes, plantões, faxinas e guardas. Pois sim, mas a verdade é que o trabalho que eles iriam fazer a mim não me agradava. Ir buscar os Senhores Oficiais para o local de trabalho, depois levar os meninos à escola, levar as madames ao cabeleireiro, deixá-las no cinema e por vezes levá-las ao chá das 5, não era para meu feitio. Mas acima disto tudo, na Amadora morava uma andorinha com quem eu gostava de passar o tempo, quando possível, a dar umas bicadelas de vez em quando.

A minha estadia no RI1, foi perfeita e saudável. Fui colocado numa Companhia em que o Comandante, Capitão, era uma excelente pessoa, o 2.º Comandante era um Aspirante, bom moço, dias em que eu não estava escalado para serviço, me arranjava a dispensa de toque de ordem e de recolher, para eu poder ir a casa, sempre jantava melhor que no quartel.

Fiz plantões à caserna, fiz faxinas ao refeitório, fiz guardas (aqui procurava alinhar na formatura de maneira que não me calhasse a Porta de Armas ou Pinheiros, mas de vez em quanto lá ia) nestas funções, tudo correu sempre bem.
Se a memória não me falha, na escala havia outro serviço que era, Piquete da Guarda, cuja função era a de levar os presos ao Hospital ou Tribunal Militares.


Aqui vai a história de susto e medo, em que nossa liberdade se compromete

Um prisioneiro, no fundo, boa pessoa


Como todos devem estar lembrados, na nossa juventude deu-se o grande fogo da Serra de Sintra (não me ocorre agora o ano), onde morreram 27 militares, assim foi noticiado, não sendo essa a verdade.

A verdade é que se encontrava preso, no RI1, um soldado, não me lembro do nome, acusado de ser o autor do mesmo, muitos não acreditávamos, pela figura, maneira de ser e de estar do dito soldado.

Rapaz pequeno e magro, queimado pelo sol, provavelmente da sua terra onde tinha sido sacristão, calmo no falar e na maneira de estar, cativava-nos com a sua forma de ser. Não fumava, o que dava a entender não usar fósforos ou isqueiro, talvez em Sintra, se tivesse sentido primata, pega-se em duas pedras e fizesse fricção com as mesmas.
Já tinha ido a Tribunal duas vezes, ficava sempre adiado por falta de tempo.

No tempo em que lá estive, chegou a terceira vez, tocou-me a mim e a outro camarada levarmos o pacato prisioneiro à sala das confissões.

Às três é de vez, esperávamos que sim.

Quando lá chegamos, estava em curso um julgamento, antes do dele outro iria ter lugar. Por coincidência, típico e moderno daqueles tempos.

Enquanto aguardávamos pelo corredor, de Mauser ao ombro, no mesmo, de um lado para o outro andava uma saia azul acompanhada de uma blusa creme, com um belo monumento no seu interior.
Bonita e jeitosa, com todas as curvas no seu devido lugar, com passos firmes e segura do que estava ali a fazer. Tinha feito queixa de um soldado que a tinha desonrado.
Mas a sua memória, talvez não fosse a sua melhor companheira, esqueceu-se de a lembrar dos passos que já tinha dado.

Acabado o julgamento que estava a decorrer, quando lá chegamos, foi chamado quem fazia parte do seguinte, onde fazia parte a dita dama.

Podíamos entrar, mas tínhamos de deixar as armas cá fora, num suporte que havia para elas.

A sala tinha uns três ou quatro bancos corridos, quando entramos, já se encontravam os lugares quase completos, o nosso “preso” já se encontrava sentado, nós dois encontramos lugar no banco da frente.
Comentamos, não há problema, ele não se pira.

Decorria o julgamento, há já algum tempo, nada favorável à dama, quando olhamos para trás e não o vimos.
Pensamos, foi mijar.

Saímos para ver se o encontrávamos, mas nada, não estava dentro do tribunal.
Pegamos nas duas amigas que tínhamos posto no suporte e saímos do tribunal, talvez tivesse ido beber uma bica.
Nem na rua o encontramos.

Pensamos no pior. Este erro vai-nos custar a liberdade.

Depois de perguntarmos a pessoas se tinham visto por ali um militar, obtivemos respostas negativas.
Quando já nem sabíamos que fazer, avistamos o nosso sortudo, a subir a calçada em direcção a nós, no seu passo pachorrento e com um sorriso de ingénuo nos lábios, dizer-nos:

- Não tenham medo, eu não fujo, vim apanhar ar, já estava farto de estar lá dentro.

Podem crer que não tive reacção, fiquei desarmado, só agradeci a Deus os maus pensamentos que tive.

O nosso sortudo, tinha ido praticar uma boa acção.

Estava cá fora e uma rapariga perguntou-lhe onde podia apanhar transporte para Santos, o nosso bom amigo, foi com ela até aos Caminhos de Ferro, para lhe dizer onde apanhava o eléctrico.

Regressados ao tribunal, ainda decorria o julgamento da dama.
Perdeu por 8 a 0, por a memória a ter atraiçoado, não a lembrando dos passos antes dados, 8 eram as testemunhas dele, que antes dele dormiram com ela na mesma cama.

Quanto ao nosso Soldado desenfiado, mais uma vez ficou adiado por falta de tempo.
Pouco tempo depois sou mobilizado e mandam-me para o RSS Coimbra.

Um abraço
António Paiva
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6075: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (10): Quando a missão não deixa ver

terça-feira, 30 de março de 2010

Guiné 63/74 - P6075: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (10): Quando a missão não deixa ver

1. Mais uma história do nosso camarada António Paiva, (ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70), enviada ao Blogue no dia 22 de Março de 2010.


QUANDO A MISSÃO NÃO DEIXA VER


Onde eu nasci e fui criado, se poderia considerar zona pobre de Lisboa.
Mas rica em juventude, traquina e travessa, que de manhã à noite fazia eco pela calçada, travessa e largo onde existia a escola onde eu andei até à 4.ª classe.
Por baixo era a esquadra da PSP, tudo nos servia para dar largas à nossa meninice. Pular, correr, saltar, jogar ao bilas, à carica, ao peão, dar pontapés na bola feita de papel de jornal metida dentro de uma meia de vidro que as mulheres, depois de rotas, deitavam fora.
Ainda tínhamos a possibilidade de ir à fábrica do sabão buscar caixas de madeira para fazermos uns carros com rodas de esferas, para descer pela calçada a baixo, fazendo um barulho do caraças.
Ainda tínhamos no mesmo largo a Casa das bicicletas, onde se alugavam, para fazermos mais algumas asneiras e quedas à Campeão, a minha era sempre a n.º 7, não sei bem porquê, mas era dela que eu gostava.

Só tínhamos um problema nesse tempo, era quando andávamos de arco com gancheta os policias vinham-nos chatear por causa do barulho, o mesmo servia para lhe pôr uma rede em volta e ir para cima dos pontões que aqui existiam para pescar caranguejos.

Tudo isto para dizer que, onde eu nasci, também nasceu o Domingos, o Matos, o António Fernando, o Fernando e muitos outros, mas estes foram os que estiveram no mesmo tempo que eu na Guiné.

A partir dos bancos da escola, nos fomos separando lentamente uns dos outros, cada um com o seu destino, o meu foi começar a trabalhar aos 12 anos, mas nada impedia que não nos fôssemos encontrando, mais que não fosse para umas tacadinhas de bilhar, no café cá do sítio

Veio a vida militar e eu como destino, tive o HM241, lá parti.

HM 241 em Bissau

Já lá estava há 15 meses quando, na tarde de uma quinta-feira do mês de Setembro de 1969, um camarada vem ter comigo e me diz:

- Oh pá, vai ao pavilhão A, está lá um gajo que te quer falar, disse-me que te conhece.

Lá fui.
Tal é o meu espanto, quando lá chego, vejo o Fernando deitado na cama com um joelho todo lixado.
Como não podia deixar de ser, comecei por fazer a pergunta mais simples:

- Então rapaz, que te aconteceu, quando é que vieste?

A resposta que obtive foi simples e directa, fiquei de boca aberta e penso que os ditos quase me caíram ao chão.

- Tu é que me fostes buscar, nem me falaste, nem para mim olhaste.

- Eu?

- Sim tu, no Domingo, tiraram-me da avioneta, enfiaste-me dentro da ambulância, quando vi quem eras, tinhas fechado a porta, nem tempo tive para abrir a boca, quando chegamos aqui ao Hospital, outros me tiraram e foste-te embora.

Porra, tinha sido numa missão, extraordinária, de Domingo.

Em missão de socorro, perante as responsabilidades, ficávamos mesmo cegos. O auxílio era prestado com eficácia, independentemente de se tratar de um amigo ou desconhecido.

Um Abraço
António Paiva
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4629: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (9): Dois pequenos amigos de quatro patas

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5576: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (28): Mensagens da Tertúlia

Votos da Tertúlia para o Ano de 2010


1. Mensagem de Luís Borrega

Boa noite
Vou enviar novamente as Boas Festas pois enviei para o email do Carlos Vinhal e não sei se foi recepcionada.

Portanto para todos, Alahj Luis Graça, Chernos Carlos Vinhal, Virginio Briote e Magalhães Ribeiro e para todos os Homens Grandes da nossa Tabanca Grande o desejo que o novo ano 2010 vos traga manga di saúde e manga di patacão são os meus votos sinceros.

Mantanhas
Luís Borrega

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2. Mensagem de António Paiva

Caros camaradas

Assim me vou embora
Um pouco esfarrapado,
Espero levar a crise comigo,
Para o povo ficar descansado.

BOM FIM DE ANO PARA TODOS
QUE 2010 TRAGA MAIS FELICIDADE.

Um abraço
António Paiva

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3. Mensagem de Afonso Sousa e Sousa de Castro

O nosso caminho é feito
pelos nossos próprios passos...
Mas a beleza da caminhada...
depende dos que vão connosco !

Para estes meus amigos, desejo um próspero ano de 2010, sobretudo
com saúde e com a concretização das aspirações de cada um.



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4. Mensagem de Manuel Amaro



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5. Mensagem de Mário Gualter Rodrigues Pinto

Para amigos e camaradas vão os meus votos de ANO NOVO

BOM ANO PARA TODOS



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6. Mensagem de Torcato Mendonça

CAMARADA AMIGO

BOM E FELIZ ANO NOVO COM SAÚDE E JUNTO DE QUEM AMAS PARA CONCRETIZAÇÃO DE TEUS SONHOS.

Através de ti abraço o Luís Graça, Virginio Briote Magalhães Ribeiro e TODOS mas Todos os e as Camaradas desta Tertúlia enorme

Abração do Torcato
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5571: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (27): O Pai Natal das minhas netas encheu-me o sapatinho (José da Câmara)

sábado, 19 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5504: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (13): Várias mensagens da tertúlia - II (Editores)

Reproduzimos mais 10 mensagens de Natal de camaradas que se nos dirigiram através de correio electrónico.

Os editores retribuem e agradecem.



1. Mensagem de António Paiva com data de 13 de Dezembro de 2009:

Camaradas,
A todos desejo um FELIZ E SANTO NATAL, na companhia de Vossas famílias.
Ficamos esperando que 2010, nos traga mais alegrias que tristezas.
Aí vos mando uma ternura de NATAL.

Um abraço
António Paiva



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2. Mensagem de Joaquim Mexia Alves com data de 14 de Dezembro de 2009:

Caro Carlos, meu camarigo
Com os desejos de um Santo Natal e um Ano Novo cheio das bençãos de Deus, para ti e todos os teus, convido-te a acederes ao meu blogue para leres um conto de Natal, um hábito que tenho desde há uns anos a esta parte.

http://www.queeaverdade.blogspot.com

Isto do meu blogue não é segredo nenhum, só não falo mais dele na Tabanca porque não é tema da Tabanca, mas tenho muito gosto em que o visitem e conheçam melhor a minha vida.

Abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves

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3. Mensagem de Albino Silva com data de 17 de Dezembro de 2009:

Caro Carlos Vinhal e todos os Tertulianos.
Quero aqui deixar Votos de Um Santo Natal e um Ano Novo com muitas coisas na nossa Tabanca.
Brevemente enviarei coisas novas também.
BOAS FESTAS ...
Albino Silva

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4. Mensagem de Idálio Reis com data de 18 de Dezembro de 2009:

Aos velhos companheiros, que num outro tempo, partilharam comigo o serviço militar por terras ardentes da Guiné, ao manifestar-lhes uma d(o)uradoira amizade, faço votos que no seio dos seus entes mais queridos, usufruam de um feliz Natal.

Um grande abraço do
Idálio Reis



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5. Mensagem de Jorge Félix com data de 18 de Dezembro de 2009:

Caríssimos,
Aproveito os endereços para agradecer e encaminhar Votos de um Ano de 2010, (quem pensava chegar cá?), recheado de alegrias e saúde.

Com amizade vos abraço
Jorge Félix

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6. Mensagem de Vasco da Gama com data de 18 de Dezembro de 2009:

Camaradas e Amigos de terra, ar e mar,
Não conheço pessoalmente alguns dos elementos contidos no pacote, proveniente do Idálio, mas isso que importa? Aqui vai um grande abraço natalício para todos e votos de um grande ano de 2010 com muita saúde, pois o resto vem por arrastamento.

Abraços fraternos do,
Vasco da Gama

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7. Mensagem de Artur Soares com data de 19 de Dezembro de 2009:

Olá, Luís Graça e co-editores!
Nesta época Natalícia, desejo a todos os tertúlianos, um Feliz Natal, cheio de saúde, paz, amor e alegria e que o Novo Ano de 2010, traga as maiores felicidades, extensivos aos seus famíliares.

Um abraço para todos
Artur Soares



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8. Mensagem de Jorge Santos com data de 19 de Dezembro de 2009:

Para todos os Tertulianos, seus familiares e amigos:
Votos sinceros de um Natal em paz, com bastante saúde e muita alegria.
Que o ano de 2010 seja de felicidade e de esperança no futuro.
Festas felizes

Jorge Santos

"Um Natal de solidariedade, mas no coração de toda a humanidade"

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9. Mensagem de Torcato Mendonça, via telefone:

O nosso camarada Torcato Mendonça
, em conversa telefónica com o editor Carlos Vinhal, pediu para transmitir a toda a Tertúlia os seus votos de um Bom Natal, de acordo com as convicções religiosas de cada um, e um Novo Ano com saúde que é o que mais queremos na nossa idade. Para os tertulianos mais novos, muitos êxitos nas carreiras profissionais e que nunca falte a oportunidade de serem úteis ao progresso deste país.

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10. Mensagem de José da Câmara com data de 19 de Dezembro:

Caro amigo Carlos Vinhal,
Mais um Natal se aproxima.
Para todos os camaradas aqui ficam os meus votos de um muito Boas Festas, muita saúde, e muita alegria na companhia de todos aqueles que vos são muito queridos. Mas bom mesmo seria que todos nós pudessemos fazer Natal todos os dias do ano.

Um abraço do tamanho do Atlântico que nos une,
José Câmara
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5501: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (12): Vamos ajudar camaradas em dificuldades (Manuel Marinho)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5474: Parabéns a você (54): António Paiva, ex-Soldado Condutor do HM 241 de Bissau

1. Salvé 16 de Dezembro de 2009, dia grande para o nosso camarada Antonio Paiva*, que foi Soldado Condutor no HM 241 entre 1968 e 1970.

Neste dia de felicidade, desejamos o melhor da vida para o António, sempre na companhia dos seus familares e amigos. Toda a Tabanca celebra este dia, esperando que a data se continue a festejar por muitos anos, sempre com o nosso testemunho de amizade.


2. O camarada António Paiva apresentou-se à Tabanca Grande em Novembro de 2008 assim:

Caro Luís Graça,
Há pouco tempo descobri na Internete o blog dos Camaradas da Guiné, se me permite, com intenção de fazer parte do mesmo, me vou apresentar.

António Duarte de Paiva, ex-Soldado Condutor no Hospital Militar 241 em Bissau, de Junho de 1968 a Junho de 1970.

Fiquei surpreendido ao ver que, 40 anos passados, os jovens daquele tempo, alguns, se voltaram a reencontrar e entre eles poderem trocar impressões, histórias e ideias, dos tempos longínquos que nos vieram dar a volta à juventude, com a incerteza no amanhã.

Senti alegria e satisfação ao ver no blog os Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras, e nele estar o ex-Alf Mil Piloto Aviador Jorge Félix. Não nos conhecemos, mas de certeza que muitas vezes nos encontrámos, mais que não fosse, naquela triste missão de… toma lá, dá cá. Mandei-lhe um e-mail, dois dias atrás, talvez ele me possa ajudar a compor melhor os tempos reais do passado.

Prometo Voltar

Um abraço
António Paiva


3. O António prometeu e voltou como prova a listagem dos seus postes. De vez em quando vai alimentando a sua série, além de intervir sempre que acha oportuno.
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de António Paiva de:

20 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3486: Tabanca Grande (98): António Paiva, ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70

24 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3511: O meu baptismo de fogo (23): Uma vacina para o enjoo... (António Paiva)

13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3615: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (1): Corrida com triste fim

17 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3641: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (2): Aventura de Domingo

28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3676: As Nossas Mulheres (3): Um poema da minha Mãe, Leopoldina Duarte (António Paiva)

22 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3775: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (3): Ir a Mansoa, não é perigoso?

20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3917: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (4): Não cobiçar a mulher do próximo

20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4058: Memória dos lugares (20): Hospital Militar 241 de Bissau (António Paiva)

5 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4143: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva ) (5): A Justiça Militar ou um processo... kafkiano

17 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4203: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (6): É uma alegria a notícia de que se vai ser pai

28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4432: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (7): 4 dias de inferno em Junho de 1969

30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4613: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (8): Pôr os pontos nos "is"

2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4629: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (9): Dois pequenos amigos de quatro patas

Vd. último poste da série de 15 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5470: Parabéns a você (53): Francisco dos Santos, 1º Cabo da CCAÇ 557 (Editores)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4629: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (9): Dois pequenos amigos de quatro patas

1. Mensagem de António Paiva, Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 27 de Junho de 2009:

Camarada Carlos Vinhal,

Lembras-te do que me disseste quando me despedi de ti em Ortigosa?

Foi + ou – isto:

- Vê lá se escreves alguma coisa, ultimamente não tens mandado nada.

Pois bem, se achas que tens pouco trabalho, aqui te mando mais uma história, minha e de 2 pequenos amigos meus.

Àqueles Camaradas de quem não me despedi no Encontro, apresento as minhas desculpas.

A história:

Traquinas, travessos, saltitões e corredores de fundo, sempre lado a lado em grande velocidade (até faziam lembrar os nossos “Fiats”), para alcançarem o objectivo com estratégias bem delineadas.

Eram corredores de terra e asfalto, nos dois pisos batiam-se bem um com o outro, as “botas” não escorregavam.

Em vitórias penso que estavam iguais, pelo menos demonstravam isso na amizade que tinham um pelo outro.

Como se sentiam superiores ao número de patas (4), não se davam muito ao convívio, amigável, com os de duas.

Não é que fossem maus “putos”… mas simplesmente sabiam marcar posições.

Tinham dois locais determinados onde passeavam a sua pequenez. Um deles era no terreno em frente á morgue, largo e comprido, que tinha um heliporto asfaltado, que ele não pisava, contornava-o, talvez por não gostar muito de “altos voos”. O outro parava ao pé do refeitório, junto a uma árvore que ali se encontrava.

Foi difícil convence-los que eu era seu amigo mas, com o tempo, foram-se apercebendo que eu era só queria isso mesmo deles… ser amigo.

Quando me baixava com qualquer coisa na mão para lhes dar, lá se aproximavam, com calma… desconfiados, posso dizer que, algumas vezes, lhes dava uma rodelinha de chouriço para lhes ir ganhando a confiança e os ir “trabalhando” a meu gosto.

Os anos foram passando e eles crescendo, tornaram-se irrequietos, imparáveis e já percorriam todo o terreno em redor do hospital.

À noite já não os encontrava com facilidade e pensava: “Se calhar foram até ao Bar das cabritas - e sorria satisfeito - , mas está bem, também têm direito a divertirem-se.”

Até que o dia do meu regresso a casa chegou!

Nunca mais os vi, mas facilmente deduzo que acabaram por “perder” o pêlo e acabaram como costumam acabar todos os da sua raça… serem abatidos por (não)amigos de duas patas… passarem no “REGIMENTO dos TACHOS”... e terminarem barbaramente triturados pelos seus dentes.

Que saudades tenho destes meus amiguinhos de 4 patas.

Um abraço,
António Paiva
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Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

terça-feira, 30 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4613: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (8): Pôr os pontos nos "is"

1. Mensagem de António Paiva, (*), ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 22 de Janeiro de 2009:

Caros Luís, Carlos e Virgínio

Vamos lá pôr os pontos nos iiis. Convém.

Depois de ter mandado duas histórias passadas aos Domingos e outra que tenho para mandar também ter sido passada a um domingo, ainda toda esta família vai pensar que fui condutor de fim-de-semana. Mas não!

Estávamos operacionais, se assim se pode dizer, 24 horas por dia, tudo por amor à esmola que o patrão nos pagava.

Como disse no poste 3511, cheguei com um mês e tal de antecedência, como tal, não fui colocado como condutor, mas sim nos serviços de... telefonista, porteiro ou piquete de urgência.

Quando já estava feito aos meios do hospital, dois meses depois, me colocam com serviço definitivo. Pensei que ia ser por uns tempos, mas não, foi até ao fim de comissão.

Entregaram-me um jeep, não armas, nunca as usei, nem de dia nem de noite, nem fora do hospital mesmo com saídas durante a noite para ir buscar médicos ou enfermeiros, e mandaram-me para a Chefia do Serviço de Saúde, que ficava do lado direito do hospital, depois do pavilhão das consultas externas, ficando a fazer parte do Depósito de Material Hospitalar.

A minha colocação não posso dizer que fosse má, tinha um horário das 9 às l8 de segunda a sexta, pois fora desse horário todo o tempo era meu.

Não gostava, posso mesmo dizer que detestava, preferia estar ligado ao Hospital tempo inteiro, por isso só nos fins-de-semana e noites me sentia útil, quando o trabalho apertava ou complicava... eu estava lá. Era o meu mundo!

Onde param os jovens do meu tempo, que juntos partilhámos das mesmas alegrias e tristezas?

Um abraço
António Paiva
__________

Nota de CV:

(*) Vd. último poste da série de 28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4432: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (7): 4 dias de inferno em Junho de 1969

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4432: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (7): 4 dias de inferno em Junho de 1969


Amigos e camaradas, 

QUARENTA ANOS estão passados. 

Vou tentar descrever o melhor possível como foram os 4 dias de Inferno (7, 8, 9 e 10 de Junho de 69) no Hospital Militar. 

Em Março, tentei obter algum apoio para que a história tivesse melhor composição, para ter nas datas as zonas de onde vieram as evacuações, mas como tal não foi possível, vou descreve-la da melhor forma que poder. 

Dia 07 (sábado) 

Começava o dia com manhã calma e serena, como já muitas anteriores, que nos levava por momentos a pensar que a Guerra tinha acabado. Haviam duas semanas passadas que as evacuações eram escassas, tanto por hélios como pela base, passavam dias e dias sem uma evacuação, a calma tornava-se surpreendente. 

Tinha por hábito passar as manhãs de sábado no hospital, só depois de almoço ia até á cidade, os que não estavam de serviço, na maioria, piravam-se logo de manhã. Almocei, fui lavar a camisa que queria vestir, cortei a barba, tomei banho, enfiei-a no corpo e dirigi-me para a entrada principal para ir na carrinha que nos levava para a cidade, atrasei-me, já tinha saído, fiquei a aguardar pelo próximo transporte. 

Passado pouco tempo sinto a meu lado o médico dia, que me pergunta: 

- Para onde vais? 

Em tom de brincadeira, lhe respondo: 

- Vou ás putas! 

- Ias ! E os que lá estão têm de vir, vamos ter muito trabalho. 

Pensei que ele estava a brincar, não sei como ele soube, mas era verdade. 

Talvez não tivessem passado 5 minutos, ás 13h e 17mn, vejo vir em direcção ao Hospital 2 hélios, sem que o tivéssemos previsto… ia começar o INFERNO. 

Começam as corridas desenfreadas das viaturas do hospital para a cidade, tinha-se de ir buscar médicos, enfermeiros e todo o pessoal que fizesse parte do HM. 

A paga dos dias de calma surpreendente tinha chegado. 

Começavam as perguntas sem resposta, pensamentos sem sentido, tudo isto tínhamos de deixar para mais tarde e dar ao cérebro a liberdade de ocupar-se com as orientações necessárias para o trabalho que íamos ter pela frente, tinha de ser feito. 

Não fui dos que corri á cidade por me encontrar á civil, mas desde o primeiro momento fazia a retirada dos feridos dos helicópteros para dentro do hospital. 

Pelas 3 e tantas da tarde, tenho que mudar de roupa para puder dar apoio á ambulância que está de serviço á base, pois para lá, também já tinha começado a corrida. A tarde não tinha começado bem, mas ia ficar pior, saí do hospital com destino á base onde já se encontrava o outro condutor o B (só ponho a inicial de seu nome) lá nos encontrámos e ao mesmo tempo recolhemos os feridos com destino ao hospital, eu saí pala ultima rua da base, ele pela do meio que vinha de frente á porta de armas, chegados ali, ele sai primeiro e lá fui a trás dele directos ao hospital, como devem calcular a boa velocidade, passado os Adidos, em frente á Engenharia dá-se o azar, o B atropela 7 africanos que se encontravam á beira da estrada, não parámos nem ele nem eu, teríamos que desocupar primeiro as ambulâncias, para os vir recolher, quando lá chegamos já tinham seguido num Unimog da Engenharia, se não me engano 5 morreram. A partir desse momento o HM fica com menos um condutor, quando mais falta fazia. 

Resto do dia, trabalho em força, começa o posto de socorros a não ter capacidade para tantos feridos, começasse a pôr macas em fila no corredor com os feridos menos graves, que prontamente ali são assistidos com os cuidados necessários, deixando assim um espaço maior no P S para os casos mais graves que posteriormente iam chegando, que não foram poucos, pudessem ser encaminhados com mais rapidez ao local adequado ao seu tratamento e recuperação, quero com isto dizer, SO, CI (cuidados intensivos), PC (pequena cirurgia) e BOs (blocos operatórios), aqui sim se terá instaurado o caos, não havia mãos a medir, nem médicos, nem enfermeiros tiveram o mínimo descanso pela noite dentro e restante pessoal tinha muito trabalho pela frente e ajudas a prestar. 

Posso dizer que, até dentro do posto de socorros, foram feitas massagens cardíacas (peito aberto) directas ao coração. 

Por muito que me custe, não posso fugir á verdade, alguns tiveram como destino a ultima morada. 

Cama, nem vê-la. 

Estava aberta a sala da messe de sargentos, durante a noite, para se ir petiscando qualquer coisa, mais que não fosse, pão com manteiga e copos de café com leite. 

Dia 08 (Domingo) 
 
Porra, mas que está a acontecer? 

Rompe o dia, sem termos tempo para um bocadinho de merecido descanso e a casa ainda um pouco desarrumada, com o som característico de hélices em rotação, tinha começado mais um dia sangrento não sei se pior ou igual ao anterior, mas melhor não foi. 

Chegada e partida de helicópteros todo o dia, corrida de ambulâncias para cima e para baixo, mas desta vez, com PM no percurso. 

Spínola, chega de manhã ao Hospital para se inteirar da situação. 

É levantada a ideia de se ter de montar um Hospital de Campanha. 

Não se concretiza. 

Corrida de dois Unimogues 404, durante o dia, para a cidade e Brá a fim de recolher militares para dar sangue. 

Entramos uma vez mais pela noite dentro com o mesmo esquema da anterior. 

Cama, nem vê-la! 

Talvez dada a circunstância de só termos entre 20 e 22 anos, pela força de vontade, com a ajuda de algumas chuveiradas que íamos tomando de tempos a tempos, conseguíamos levar a cruz ao Altar, com dignidade e respeito, mantendo a cabeça bem equilibrada no sitio para não haver nenhum descontrolo. 

A sala do copo de café com leite, continuou aberta toda a noite 

Há!... não posso esquecer que os médicos também precisavam, e bem, de serem tratados. 

Quando tinham a possibilidade de descansar um bocadinho, lá o íamos levar a casa para tomar um bom banho e mudar de roupa, era só esperar e traze-lo de volta, fosse de dia ou de noite, alguns médicos, num bocadinho que tinham durante a noite, vinham ao bar encostarem-se um pouco no sofá para descansar a pestana, mas o tempo era pouco até ao reinicio da próxima viagem. 

Éramos uma grande equipa, talvez possa mesmo dizer… que família! 

Dia 09 (2ª. Feira) 

A manhã surgiu mais calma, que alivio, mas a noite uma vez mais se tinha tornado bastante cansativa, ao encarar a claridade os olhos pediam uma boa chapinhada de água, lá os levei para baixo do chuveiro com corpo cabeça e tudo, pois o dia ainda prometia muito trabalho, não com tanta intensidade, mais compassado tanto por ar como por terra. 

Spínola chega de manhã para se inteirar novamente da situação. 

Chegou a ser posta a ideia de serem substituídos os condutores do Hospital por condutores dos Adidos ou da PM. 

Não foi aceite, nem tão pouco para um serviço daqueles faria sentido. 

O Hospital, se não me engano e creio que não, estava com 15 condutores, no mínimo. 

Alguns já tinham começado a descansar pela manhã. 

Cegada a noite, a 3ª foi de vez, fui para a cama, dormi que nem um anjo, nem o diabo me acordaria. 

Dia 10 (3ª. Feira) 

Levantei-me ás 7, a manhã estava calma no exterior. 

Mas o interior do Hospital continuava com bastante trabalho. 

Durante o dia ainda houveram muitas evacuações, mas nada comparado com os dias anteriores. 

Mas como o azar não podia ser só para os de fora, também teria de tocar uma vez mais a nós… não falhou!  

E calhou ao mesmo. 

Como algum pessoal estava a descansar, isto referindo-me a condutores, e os que não estávamos andávamos atarefados, e bem, com os trabalhos em curso, o B, ao ouvir dizer que era preciso ir arranjar mais malta para dar sangue, se ofereceu para ser ele a fazê-lo. 

Todos sabíamos e ele também que não podia conduzir, motivado pelo acidente de sábado atrás, mas tanto pediu e de boa forma o fez que o Tenente deixou. È claro, filho pede…pai cede! 

E lá foi. 

Levou o Unimog Grande com a parte de trás coberta com a capota. 

De regresso ao Hospital, onde só podia trazer 18, trazia 23, quando já estava perto do hospital, em frente ao Bairro da Ajuda, pelo que disseram, um cão aparece-lhe á frente ele guina para o lado da berma falha e tomba, capotando para a vala. Não podia ser pior. 

Se o trabalho no Hospital ainda andava bastante complicado, pior ficamos. 

Deu mortos, feridos e amputados. 

O 1º a socorrer foi um condutor da Base, vinha a passar e levou dois ou três, ao entrar com o autocarro bateu com o mesmo no ferro que levantava na entrada principal que o virou para o outro lado. 

Mais uma noite entrada por ai dentro. 

O condutor B, ficou bastante mal, teve de ser operado á cabeça e evacuado para Lisboa. 

Não sei se se salvou ou não, não soube mais nada dele. Por esse motivo só ponho a inicial de seu nome. 

NOTA: Se tivesse comigo os apontamentos que trouxe, estariam também aqui os nomes dos soldados evacuados e as zonas de onde vieram. 

Tivemos também o apoio da ambulância da base, a esposa de um médico do Hospital, que também era médica, esteve presente. 

Pelo que se falava, todos que eram médicos em Bissau, para lá foram encaminhados. 

Não foi montado Hospital de campanha, mas foram fretados á TAP aviões para fazerem as evacuações para Lisboa naqueles dias. 

As Nossas Queridas Enfermeira Pára-quedistas, não me lembro bem, depois de um dia bem estafadas, á noite ainda lá iam dar uma mãozinha. 

Houveram evacuações nocturnas. 

Fico por aqui. 

Um abraço para todos, 
António Paiva 

________ 

Nota de MR: 

Vd. último poste desta série em: 


sexta-feira, 17 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4203: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (6): É uma alegria a notícia de que se vai ser pai

1. Mensagem de António Paiva (*), ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 11 de Abril de 2009:

Caros Luís, Carlos e Virgínio

Como é do conhecimento de todos, o vencimento de um soldado na Guiné era fraquinho, com o prémio de especialidade que era de 500 pesos sempre ajudava a reforçar um pouco mais a algibeira. No hospital ainda tínhamos mais uma vantagem que era de três em três meses lhe podermos acrescentar mais 500 pesos com a dádiva de 0,500 litro de sangue, não dava para grandes aventuras, mas ia dando para umas cervejas, umas sandes, de vez em quando uns jantares fora e uns copitos na cidade.

Aos que eram casados, talvez isso não lhes fosse permitido, pois tinham que deixar cá para sustento da sua cara-metade uma parte elevada do seu vencimento.
Por este motivo vou contar o que se passou com um camarada:

Dormíamos na mesma caserna, eu na cama de cima e ele na de baixo mesmo ao lado, era o vizinho do r/c esquerdo, muito bom rapaz. Como era casado não se podia estender muito, se estava de serviço não estava na cama, se não estava de serviço lá o víamos estendido na cama ocupando o seu tempo com a leitura de umas revistas.
Nunca foi menino que se visse na Cantina a beber uma cerveja ou a comer uma sandes, não fumava e se por vezes o desafiássemos logo respondia que não podia, porque tinha a mulher para sustentar.
Não se podia dizer que fosse mau marido, pois tinha muito em conta o sustento de sua mulher.

Em Novembro de 1968, pela hora do almoço, quando estou a entrar na caserna, dou conta de haver uma grande alegria no seu interior. Fiquei surpreso, o meu vizinho do r/c esquerdo, estava alegre e bem disposto, queria pagar uma cerveja a alguns companheiros de caserna, não era para menos, pois tinha na mão uma carta da mulher a dizer-lhe que já era pai de um rapaz.

Posso dizer que fui um dos premiados. Sem ele, 4 ou 5 juntámo-nos e pensámos no caso.
Ele chegou ao hospital em Dezembro de 1967.
Ele era Enfermeiro.
Esqueci-me de lhe perguntar que data tinha a carta, podia-se ter atrasado na viagem.

Um Abraço
António Paiva
__________

Vd. poste de 5 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4143: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva ) (5): A Justiça Militar ou um processo... kafkiano

domingo, 5 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4143: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (5): A Justiça Militar ou um processo... kafkiano

1. Mensagem de António Paiva (*), ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 1 de Abril de 2009:

Caros Luís, Carlos e Virgínio

Vou falar de mim.
António Paiva


A Justiça Militar ou um processo... kafkiano

Soldado e Furriel

Tendo regressado em Junho de 1970 a bordo do Carvalho Araújo com destino à disponibilidade, senti-me feliz, missão cumprida. Estou livre.

Em Novembro do mesmo ano, 5 meses depois, algo me surpreende, recebo em minha casa um postal do Ministério do Exército a notificar-me com apresentação obrigatória, dia tantos de tal, no Serviço de Justiça em Sapadores.
- Mau, que querem de mim, que fiquei a dever, que tenho para pagar?

Muitas perguntas fiz a mim próprio e não encontrei respostas.
Comecei a pensar:

- Como me apresentei com um dia de atraso no CICA 5 em Lagos e ouvi dizer que dava uns dias de prisão, o que não veio a acontecer, segui em frente ficando registado na caderneta como Refractário, apresar de estar registado na caderneta a data certa 18 de Setembro de 1967.

- Por cá, nada mais de anormal se passou, só fui uma vez ao Cais da Rocha e duas ao aeroporto, na segunda vez embarquei por ter faltado um Oficial.

- Na Guiné, em Novembro de 1969, a faltar poucos meses para fim de comissão, tive um acidente com um táxi na Estrada de Santa Luzia, mesmo atrás do Hotel Avenida (penso que era assim que se chamava) tendo o mesmo batido na porta do prédio, a meu lado levava um camarada que me tinha pedido boleia no QG até á Amura, grande amigo, que ficou com leve ferimento na testa por ter batido no pára-brisas, o qual partiu, mas foi-se embora dali para me evitar um Auto de corpo-delito.
No dia seguinte estava no Hospital o senhor António, à minha procura, dono do Restaurante que havia na estrada entre os Adidos e a BA12, onde íamos comer o bacalhau assado, para me informar que tinha ido ao QG assinar um termo de responsabilidade pelo acidente e que o processo iria ser arquivado. Este senhor era também dono do Táxi. Dias depois saiu no Boletim Informativo do Hospital o arquivamento.

- No dia 31 de Dezembro de 1969, não por culpa minha, mas sim do whisky, sou apanhado na estrada do aeroporto com excesso de velocidade, levo 10 dias de detenção, a minha sorte foi não soprar no balão, senão os dias eram mais. Era fim de ano.

- No dia em que cá cheguei, fui aos Adidos, não me aceitaram, teria de ir ao RSS em Coimbra por ser a Unidade a que pertencia e só lá podia passar à disponibilidade e entregar a restante farpela militar.
Tudo bem, fui para casa tomar banho, que bem precisava, almoçar com meus pais e depois parti para Coimbra, onde cheguei pelas l6h e 45m.
Azar, bati com o nariz na porta, a Companhia a que eu pertencia, Auto Macas, tinha fechado mais cedo, só lá estava o cabo com quem falei e lhe disse:
- Já que aqui estou, vou lá cima ao Norte ver a família, Castro Daire, e amanhã mais cedo passo por cá.
E assim fiz, às 15h do dia seguinte lá cheguei, fui ter com o cabo que prontamente me diz:
- Estás f…, o Sargento não me deixou fazer o espólio do que cá deixaste, que vinhas à civil e não te apresentaste a ninguém, tens de ir falar com ele e podes ter 15 dias de prisão à perna.
Quem teve o corpo todo, 33 meses e 7 dias, preso à vida militar, 15 dias à perna não seria grave.
Lá fui ter com o sargento, figura cativa do quadro.
Depois de dizer tudo o que tinha para dizer, ao fim de alguma conversa entre ambos, volta a olhar para os papéis, pensei que antes não os tinha visto bem, olhando para mim me diz:
- Os c… que vem da Guiné, vem malucos, vá-se embora.
- Obrigado. - Agradeci.
Lá fui com o cabo entregar o que tinha.

Tudo isto era os meus pensamentos até ao dia em que tinha de lá ir. Algo teria ficado mal e eu não tinha pago no tempo.

Chegado o dia, lá me dirigi à Secção de Justiça em Sapadores, onde fui recebido por um Capitão.
- Bom dia.
- Bom dia.
- Recebi este postal para me apresentar aqui.
- Sim, senhor. É o sr. António Duarte de Paiva?
- Sou.
- Com o numero mecanográfico O6243167?
- Sim.
- Esteve na Guiné?
- Estive.
- Veio cá de férias?
- Vim.
- Mas não voltou.
- Voltei, sim.
- Como pode ser, se você está aqui.
- Diga o que se passa.
- Você é Furriel, estava numa Companhia do Batalhão 1911 (penso ser este o número que ele disse) veio cá de férias e desertou, pode ficar detido.
- Se fui Furriel, o Estado deve-me dinheiro, recebi como Soldado, aqui tem minha caderneta.

O Senhor Capitão, examinou a Caderneta, só me disse:
- Desculpe, há aqui um lapso.
- Lapso não, erro e bem grande!

Resolvido o problema, lá vim embora em liberdade.

Será que esse Furriel existiu ou foi só imaginário? Se existiu, safou-se bem com o meu nome e nunca foi procurado.

O certo, é ter sido mais um erro dos muitos que se cometeram nesse tempo.

Um abraço
António Paiva


2. Comentário de CV:

É caso para dizer que um homem cumpre o seu tempo de comissão integralmente, já depois de estar a gozar a peluda, não merece apanhar um susto destes.

Sabendo nós como funcionam os burocratas, que logo pela manhã, quando começam a trabalhar, ligam a máquina de complicar e então na Tropa muito pior, devido a uma cadeia hierárquica, em que cada um pisa com prazer o de baixo, o nosso camarada António Paiva teve muita sorte em não ser graduado em Furriel, só para apanhar com a porrada destinada ao outro sortudo desenfiado.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3917: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (4): Não cobiçar a mulher do próximo

sexta-feira, 20 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4058: Memória dos lugares (20): Hospital Militar 241 de Bissau (António Paiva)

Guiné > Bissau > O edifício do Hospital Militar, o HM 241


1. Mensagem de António Paiva(*), ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 17 de Março de 2009:

Caro Luís, Carlos e Virginio

Acordei tarde, será que acordei?
Cheguei até aqui, por vales e montes, becos e travessas, curvas e contracurvas, talvez pelas circunstâncias da vida, perdi o interesse pela evolução dos tempos e das novas tecnologias.
Não acompanhei o meio mais sofisticado da informação - INTERNET - Onde de se encontra tudo - O passado, o presente e se pode deixar para o futuro.

Adquiri o mínimo dos conhecimentos, consegui descobrir o vosso/nosso blogue e, fazendo a minha apresentação, fui aceite. Passei a fazer parte desta grande família.
Sendo assim, tendo dúvidas, devo perguntar para que me dêem a certeza.
Tendo a certeza, penso já estar seguro para não ter dúvidas.

Ao deparar com o Poste 4029 – As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas, li tudo com a devida atenção e passei aos vídeos que iria ver com o maior interesse, como sabem, iria ver coisas que lá nunca vi. Quando cheguei ao 5/6, por 4 segundos, pode reviver as alegrias e tristezas que ali passei, e bem lá no fundo ver com satisfação, igualzinho, aquilo que lá deixei.

2 Heliportos

Cheguei ao HM241 em Junho de 1968 e saí de lá em Junho de 1970, durante o tempo que lá estive só e sempre conheci dois locais com H para aterragem de helicópteros, um em frente do hospital onde havia espaço suficiente para dois, como algumas vezes aconteceu, e outro em frente à casa mortuária, ambos asfaltados.

Quando em Outubro passo a ter Internet, procuro encontrar HM241, fico surpreso e de boca aberta.
Surge-me o poste 1738 de 7 de Maio de 2007 com uma fotografia completamente estranha para mim e fora dos meus horizontes, com a seguinte legenda:

Guiné > Bissau > Hospital Militar 241> 1972> o Heliporto


Reparo também no poste 1578 de 10 de Março de 2007, com a mesma fotografia, mas de outro ângulo, com a seguinte legenda:

Guiné > Bissau > HM241 > 1972 > O tristemente famoso Heliporto

Fotos: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2007). Direitos reservados

Penso que tais fotos, me transtornaram naquele momento o cérebro, não podia acreditar, quando de lá saí não era aquilo, de 1970 a 1972, seria possível tal destruição?

Tentei encontrar fotografia aérea da área do Hospital, não me foi possível.

Sorri anteontem dia l5, o helicóptero que no dia 6 de Abril de 1973 fez a evacuação do Zé de Guidaje acompanhado pela enfermeira pára-quedista Giselda Antunes, mostrou-me que o mesmo H estava lá, tudo como dantes, para receber em segurança quem dele necessitava.

Um abraço a todos
António Paiva
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(*) Vd. poste de 20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3917: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (3): Não cobiçar a mulher do próximo

Vd. último poste da série de 13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4023: Memória dos lugares (19): Porto Gole, 1966, muito antes das tristes valas comuns... (Henrique Matos)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3917: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (4): Não cobiçar a mulher do próximo

1. Mensagem de António Paiva, ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 15 de Fevereiro de 2009:

Caro Carlos

Envio esta história, de um africano que foi surpreendido pelo seu melhor amigo.

Sabia bem, quando chegava o silêncio, com a noite já adiantada e sem vontade de dormir, ir até à entrada principal saborear um cigarro, ver o pouco ou mesmo escasso movimento na estrada e conversar um pouco com o camarada que lá estava fazendo a guarda ao hospital.

Entre as 6 horas da tarde e as 6 da manhã, a guarda era feita por militares vindos dos Adidos.

Numa dessas noites, pelas 0h30, estando tudo em silêncio e nem sequer havendo movimento de viaturas na estrada, avistámos, vindo do lado de baixo pela berma direita da estrada, um vulto cambaleando. Comentámos:

-Grande bebedeira que aquele traz.

Quando já estava quase perto de nós, tenta atravessar a estrada em nossa direcção mas… a meio pára, lentamente começa a enfraquecer das pernas, aproximo-me dele, meto meu braço por baixo do dele e a mão nas costas para o amparar, surpresa, minha mão se ensopa num liquido quente e viscoso ficando toda vermelha. Pergunto:

- Que foi isto?
- Foi o meu melhor amigo.

Colocado numa maca e levado para dentro, se veio a ver que o amigo o tinha condecorado com uma catanada que lhe atravessou as costas do ombro direito à cintura esquerda, (/) vamos lá, meio X.

Quem tinha amigos assim, na sua ausência, não devia ir à tabanca deles meter a foice em seara alheia.

Talvez a companheira deste amigo fosse a mais perita em exercícios sexuais e ele foi apanhado a fazer flexões.

Depois de tratado, foi transferido para o Hospital Civil.

Quando teve alta, não sei se voltou à tabanca para acabar o trabalho ou se foi para o amigo lhe completar a letra.

Um abraço
António Paiva
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Vd. último poste da série de 22 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3775: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (3): Ir a Mansoa, não é perigoso?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3775: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (3): Ir a Mansoa, não é perigoso?

1. Mensagem de António Paiva, ex-Sold Cond no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 18 de Janeiro de 2009:

Caros Luís, Carlos e Virgínio

Quando a oportunidade surgia, tínhamos que a aproveitar e, ala que se faz tarde, lá ia eu uma vez mais até Nhacra, com mais dois ou três camaradas para uns banhos na piscina, ao mesmo tempo se aproveitava para o bacalhau assado da tia Carlota.

Se quando vim da Guiné não tivesse feito a maior asneira da minha vida, casar com a mulher errada, talvez hoje as histórias que vou contando tivessem dia e hora, mas como tudo o que trouxe foi destruído, não me é possível dar com exactidão os factos.

Mas vamos à história:

Ir a Mansoa? - O susto ou o medo?

Mansoa > Ponte sobre o Rio Mansoa.
Foto de J. Mexia Alves, editada por CV



Um domingo, igual a outros lá passados, que veio a ser diferente. Arrancámos para Nhacra, sete ou oito em dois jeeps, para o nosso requintado banho, sem sauna nem massagens, para aliviar um pouco o espírito das desgraças do nosso trabalho.
Quando lá estávamos a tomar o nosso banho, pela primeira vez, ouvimos com mais intensidade os rebentamentos em Mansoa, o cantarolar daquelas bocas férreas, expelindo seus dentes para fazer suas vítimas. Penso que nunca tínhamos ouvido a guerra tão perto. Mal pensávamos na surpresa que aí vinha.

Estávamos no banho, quando um furriel ou sargento veio à piscina e só disse:
- Pessoal do hospital, já para baixo.

Tudo foi espontâneo ou característico da prontidão.
Enfiamos camisas, calções e sapatos, ainda um pouco molhados e arrancámos.
Posso dizer que aqueles 32Kms, se a memória hoje não me engana, foram feitos em tempo recorde.
Quem devia ter ficado com as cabeças a abanar foram os senhores Oficiais que se encontravam em Safim, acompanhados de suas esposas ou amantes, amigas ou companheiras a bebericarem refastelados as suas cervejas e whisky com acompanhamento de ostras e camarão, quando viram passar à frente dos seus olhos dois jeeps voadores.
Sim, porque a ponte que estava uns metros antes fazia lomba, o que, à velocidade a que vínhamos, fez levantar as rodas do chão. Logo pensei:
- Estamos feitos com estes gajos, vão participar de nós. Tal não veio a acontecer.

Chegados ao hospital, deparámos com um cenário nada familiar. Companheiros do dia-a-dia com camuflados vestidos e com G3, em frente à escadaria do hospital. Tal foi meu espanto que me levou a pedir ao Altíssimo que não me desse maus pensamentos.

O Tenente Teixeira, me diz:
- Paiva, vai vestir o camuflado e levanta uma pistola na Formação.

Olhei-o com espanto.
- Vá despacha-te, devemos ter de ir a Mansoa.

Bem, lá fui direito à caserna vestir, pela primeira vez, o meu fato de trabalho no exterior, já o tinha vestido mais vezes, mas só para a fotografia.
Passo pela Formação e levanto a maquineta dos supositórios, foi a primeira vez que em tal menina peguei, nem sabia como trabalhar com ela, se dava coices ou não, olhei para ela e ri-me. Esquerdo ou direito, que lado queres? Não tinha praticado para pistoleiro. Levei-a na mão e passei pela Cantina para beber um whisky, talvez o último. Quem saberia?
Segui para cima, a juntar-me aos que lá estavam, para me inteirar da situação que era a seguinte:

Como os helicópteros não podiam lá descer, teríamos de ser nós, por terra, a lá entrar para trazer os mortos e os feridos que lá houvesse.
Cada ambulância ia com o condutor, como era óbvio, mais dois elementos armados com G3.
Aguardava-se ordem para sair.

Entretanto, ia-se questionando:
Como entramos? Por onde? Como vamos ser recebidos? Não somos operacionais, não temos conhecimento de mato, talvez não ataquem as ambulâncias. Quando lá estivermos vai ser tudo ao molho e fé em Deus. Tudo isto, santa ignorância.

O Tenente Teixeira tranquilizou:
- Não tenham medo, vão ter à vossa espera tropas de lá, com dois blindados para vos acompanhar.

Em forma de brincadeira ainda se dizia:
- Vamos armados, ninguém se mete connosco, somos guerreiros do melhor.

Uma porra, era o medo que se tinha instalado em nós, que comprimindo-nos os nervos e o corpo, nos obrigava a frases estúpidas.
Pela minha parte, estava tão seguro que disse a um companheiro do dia-a-dia, dando-lhe nome e morada, se me acontecer alguma coisa de maior escreve para esta rapariga e conta-lhe a verdade, ela o saberá dizer a meus pais de forma mais suave.

Passada uma hora ou coisa assim, tudo voltou ao principio, a nossa saída para Mansoa ficava sem efeito.

Sabíamos perfeitamente, que antes de lá chegarmos teríamos o apoio das NT para nos indicarem o caminho e nos protegerem, nós íamos ser os estranhos num mundo desconhecido.
Só não cheguei a entender a razão de irmos armados. Juntos com as NT o melhor era ficarmos quietinhos para não fazermos asneiras, se encontrássemos o IN teríamos de nos sentar em círculo com uma garrafinha de aguardente de cana para decidir quem passava primeiro.

Fui á Formação e entreguei a maquineta dos supositórios que me tinham dado.
Fui à caserna e tirei o fato de trabalho no exterior.
Fui à cantina e bebi outro whisky, para fazer ver ao primeiro que não tinha sido o último.

Aos jovens daquele tempo estávamos sempre prontos a ajudar, dentro ou fora, não hesitávamos.

Gostava de saber onde param os jovens do meu tempo, com quem partilhámos a vida do Hospital.

Um abraço
António Paiva
__________

Notas de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3641: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (2): Aventura de Domingo

Vd. último poste de António Paiva de 28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3676: As Nossas Mulheres (3): Um poema da minha Mãe, Leopoldina Duarte (António Paiva)

domingo, 28 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3676: As Nossas Mães (1): Um poema da minha Mãe, Leopoldina Duarte (António Duarte de Paiva, ex-sold cond, HM 241, BIssau, 1968/70)


A minha Mãe


Caros Carlos, Luís e Virginio

Andando por aqui, nesta casa só, vasculhando malas e caixinhas, algumas do meu tempo de menino, pertences de minha mãe que me deixou em 96, sou surpreendido por uma folha de papel dobrada em 12 partes, da qual não tenho a mínima ideia de ter tido conhecimento e com os nossos tertulianos quero partilhar. Minha mãe também a eles se dirigia.

Se entenderem, que merece ser publicada, podem fazê-lo.

Minha mãe, mal sabia ler ou escrever, mas em quadras soltas era mestra, hoje tenho pena de nunca ter escrito o que ela dizia. Não sei quem lhe escreveu isto à máquina, mas pouco importa.

Está com data de 10 de Dezembro de 1969, em cima, mas não consegui aqui no scan apanhar data e assinatura, preferi assinatura Leopoldina Duarte.

Quero aqui deixar a todos os tertulianos e suas famílias um Feliz ANO NOVO.

Um abraço a todos


António Paiva


Meu filho, a tua mãe
Tanto suspira por ti,
Até chego a pensar
Que não te lembras de mim.

Se tu soubesses, meu filho,
O amor que a tua mãe te tem,
Vejo vir os aviões
E notícias tuas não vêm.

Será que tu me esqueceste
Ou a carta se perdeu ?
Mas perdoa-me, meu amor,
Se a criminosa sou eu.

Tinha a carta quase feita
E ainda fui ao correio,
Agora estou satisfeita
Porque a notícia já veio.

Lá vinha o meu querido filho
A ler o que me mandava,
Com uma cara de riso
E eu com saudades chorava.

Agora estou satisfeita
Assim como tu também,
Já recebeste notícias
Da tua mãe por alguém.

Adeus, meu filho querido,
Eu do coração te peço
Que não esqueças a tua mãe
Que aguarda o teu regresso.

Trago-te no coração
Mas ando sempre em cuidados,
Daqui mando um forte abraço
Para todos os nossos soldados.

Eu aqui peço, a Deus
E à Virgem Santa Maria,
Que seja a vossa protectora
E de todos a vossa guia.

Adeus, amor, que eu cá fico,
Com o coração em pedaços
E saudades de não te ver
Para te apertar nos meus braços.

Leopoldina Duarte

[Revisão e fixação do texto: L.G.]
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Nota de vb:

1. António Paiva foi Sold Cond no HM 241 de Bissau, entre 1968 e 70

2. Artigos da série em

22 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3662: As Nossas Mulheres (1): As que casaram com ...a Guiné. (Virgínio Briote)

24 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3667: As Nossas Mulheres (2): De Bissau a Lisboa, com amor (Cristina Allen)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3641: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (2): Aventura de Domingo

1. Mensagem de António Paiva, ex-Sold Cond no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 15 de Dezembro de 2008:

Caro Carlos
Ter sido condutor no HM 241 tinha, por circunstâncias do momento, variações de serviços.

Num domingo, vinha eu da caserna para a cantina, sou apanhado pelo Tenente Teixeira da formação, que me diz:

- Ó pá, já que aí estás, vai lá com eles levar o lixo.

Boa, lá fui eu fazer um serviço que nunca tinha feito, pois eram os africanos assim como o condutor que o faziam, todos bons rapazes, o condutor, creio que por motivos familiares, não estava.

Peguei no Unimog 404, carregado de lixo e lá fui eu para destino desconhecido com mais quatro africanos. Próximo dos Adidos, virou-se à esquerda por um caminho ou estrada de terra que ali havia, a distância era longa, lá para o fim do mundo a meu ver, mas os meus companheiros de percurso sabiam onde era.

Chegados ao local, despejado o lixo, fez-se o monte característico daquilo que não presta.

Pensei que despejado o lixo me vinha embora, mas não, tinham por hábito meter o Unimog numa bolanha ali próxima para o lavarem, tinha de ser metido de marcha atrás até meio da caixa. Não estava muito convencido, pensei, estes gajos estão malucos, mas tanto insistiram, porque era assim que faziam, que eu acabei por ceder.

Feita a lavagem, meto-me nele para o tirar, vai começar o inferno:

Começo a tentar tirá-lo lentamente… mas quê, sob as rodas de trás começa o terreno a ceder e ele a ir mais para baixo, penso cá para mim, estes cabrões lixaram-me. Tento rotores… e nada, tenho água a chegar à cabina e eu dentro dela a olhar o céu sem ter de levantar a cabeça.

Aflito e descontrolado tento sair, com certas dificuldades consigo pôr os pés em terra, logo lhes digo:

- Estão f..., enganaram-me, mas eu também os vou f…, agora metam-se dentro da bolanha e peguem nele às costas.

Gesticularam, resmungaram e não sei que mais diziam.

Não digo que o fizessem por mal, mas porra, eu é que estava em jogo. Ainda lhes disse:

- Agora vão a pé até ao Hospital e tragam ajuda.

Claro que não iam, era longe como o caraças, pensei muito mal da minha situação, sem apoio, sem nenhuma comunicação e perdido no deserto…, só me restava um milagre vindo do céu.

Passou tempo e o tempo não mais findava.

Olha, começamos aos saltos e a gesticular com os braços, o helicóptero vinha do lado de Bissau para a Base, bem alto lá longe.

- O gajo não nos vê, estamos feitos.

Mentira, vimo-lo virar à esquerda na nossa direcção, deu a volta e foi para a base.

As viaturas tinham escrito na frente Hospital Militar, o que levaria aquele piloto a pensar: - Olha, aqueles que pensam que só ajudam, também precisam dela. É verdade, todos precisavamos uns dos outros. Longo tempo depois vejo vir pelo caminho, onde tinha passado, um carrão da Engenharia que até metia medo. Lá se engatou ao, adormecido e fraco das pernas, unimog e o retirou de dentro de água.

Quero aqui, passados 38 anos, deixar o meu sincero agradecimento a esse piloto que lá do alto me deu a mão. Não sei quem foi, mas, entre os gloriosos, se vasculharem na memória feitos dos tempos passados, talvez o próprio se vá lembrar de ter visto o Hospital a olhar para o céu.

Um abraço a todos
António Paiva
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3615: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (1): Corrida com triste fim

sábado, 13 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3615: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (1): Corrida com triste fim

1. Mensagem do nosso camarada António Paiva, ex-Sold Cond no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 30 de Novembro de 2008, contando uma história que esperamos seja a primeira de muitas.

2. Corrida com triste fim
António Paiva

Rompe a manhã, como tantas outras, daquele domingo de 26 de Abril de 1970.
Muitos acordam, só com uma ideia em mente… ver o jogo. Soltar de dentro de si, naquele dia, um grito de alegria e felicidade, que o tempo de comissão lhes ia comprimindo.
Às 15 horas, ia realizar-se o jogo entre Clube Ténis de Bissau e o Sporting Clube de Braga a contar para a Taça de Portugal, era a final, no campo do UDIB sito em Benfica.
Eu não ia, mas um condutor que fazia serviço à Base, das 13 às 19 horas, pediu-me na véspera para eu lhe fazer o serviço, ele queria ir ver o jogo, não lhe tirei esse prazer, só lhe disse:

- Vai descansado, à volta pagas uma cerveja.

Depois de almoço, pelas 12,30, pego na ambulância e sigo para a Base a render o outro condutor que lá se encontrava desde as 7 da manhã. Na Base faziam-se 2 turnos todos os dias, das 7 às 13 e das 13 às 19. Lá chegado, estacionei a ambulância no sitio habitual e fui até ao bar, não sei se beber uma bica ou uma cerveja. Podíamos lá estar, porque assim que viesse uma evacuação éramos informados pelo altifalante.

Quando lá cheguei, reparei que faltavam 3 avionetas de alerta, se a memória não me atraiçoa era assim que se dizia, logo concluí que ia ter trabalho.

Por volta das 14,30, mais ou menos, sou alertado para a chegada de uma avioneta com evacuação. Dirigi-me ao local onde ela tinha parado, e é-me entregue uma menina de 7 anos. Quem a vinha a acompanhar diz-me:

- Condutor, o tempo é pouco, já sabe o que tem a fazer.

Arranquei, levando comigo uma criança em sofrimento que tinha sido atropelada. Rolei o mais rápido que pude para o Hospital Civil. Ao chegar a Teixeira Pinto, 1.ª rotunda com esse nome, e vejo a multidão que se encontrava em Benfica, junto ao campo do UDIB, a tapar a rua toda, eu respirei fundo… ó Deus. O sinaleiro, que estava no seu pelourinho, penso que saltou…, a multidão abriu alas, lembrou-me quando o mar se abriu nos 10 Mandamentos, sempre em frente, praça do Império, Santa Luzia e Hospital Civil.

Começa o inesperado. Estaciono onde devia para levar a menina para dentro, mas que tristeza, não se encontrava ali ninguém que me desse uma ajuda para levar a maca e sozinho era impossível. Entre 5 a 10 minutos depois, aparece uma rapariga que me ajudou a levar a maca com a menina.
Azar a mais, o médico não estava. Perguntei por ele e dizem-me que deve estar no 1.º andar. Subo a escada de 2 em 2, passado algum tempo lá o encontro. Viemos para baixo directos ao posto de socorros, entramos… O Anjo tinha subido ao Céu.

Senti uma pancada no peito, lágrimas nos olhos, como era linda a menina.
Revoltei-me, não sei se comigo próprio ou com o sistema, minha missão não tinha sido perfeita. Onde errei?

Ao chegar cá fora, o que não estava à espera, para me prestarem homenagem tinha 2 cálices de sangue venoso transportados na bandeja que se encontrava estacionada atrás da ambulância, um alferes e um soldado da PM. Diz o alferes para mim:

- Então condutor, vem doido ou quê? Depois da porrada que vai apanhar nunca mais corre.

Só lhe disse:

- Corri para salvar uma criança, acabou por morrer.

Ligou pouca importância, mas depois de tirar os apontamentos necessários para me oferecer a medalha, deixou-me ir embora.

Voltei para a Base. No fim do serviço voltei para o Hospital, fui ter com o médico de dia e contei-lhe o ocorrido.

No dia seguinte, o Director, Dr. Felino de Almeida, mandou-me chamar, contei-lhe o sucedido e ele mesmo tratou do assunto, não levando castigo.

Agora dirijo-me aos Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras

Os pilotos, nunca chegam a saber como os evacuados acabam, mas este recorrendo-se da sua caderneta de serviços, saberá o triste fim duma evacuação que ele começou.
Será que chego a saber quem foi esse piloto?

Um abraço a todos
António Paiva
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

20 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3486: Tabanca Grande (98): António Paiva, ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70

24 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3511: O meu baptismo de fogo (23): Uma vacina para o enjoo... (António Paiva)