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sábado, 5 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4899: Convívios (159): XIV Convívio dos ex-Combatentes da Freguesia de Campia – 22AGO2009 (Artur Conceição)


1. Mensagem do Artur Conceição, ex-Sold Trms Inf e Cond Auto, CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembém(1965/67):

XIV Convívio dos ex-Combatentes

Freguesia de Campia
22 de Agosto de 2009


Realizou-se no dia 22 de Agosto, mais um convívio dos ex-Combatentes da freguesia de Campia.
O convívio contou com a presença de cerca de uma centena de pessoas, não obstante o mês de Agosto não ser dos mais favoráveis, para este tipo de eventos.

Mas, graças ao esforço de divulgação por parte da Comissão Organizadora, poderá considerar-se mais um sucesso.

Na parte da manhã teve lugar a cerimónia de boas vindas e colocação de uma coroa de flores na base do Monumento aos Combatentes do Século XX, tendo sido proferidas algumas palavras alusivas ao acto, pelo Senhor Presidente da Junta de Freguesia, António Ferreira, também ele um ex-Combatente.

Seguiu-se o desfile até à Igreja Paroquial tendo sido celebrada missa em memória de todos os que, entretanto, já partiram.

Após a Eucaristia teve lugar a romagem ao Cemitério onde, novamente, foi ouvida a oração dos Combatentes. Toque de silêncio e de alvorada, e a colocação de flores nas campas dos mortos em combate.

Do mesmo modo foi colocada, em local apropriado, uma coroa de flores em homenagem a todos os ex-Combatentes que já nos deixaram.

Terminadas as cerimónias religiosas teve início, cerca das 13 horas, o almoçam convívio mais uma vez servido no Restaurante “O Sacristão”.

Está de parabéns o Carlos Duarte que, como vem sendo habitual, se esmerou na confecção dos produtos mais ao sabor dos participantes, deixando-nos a promessa de que para o ano teremos o almoço em novas instalações, mais amplas e adequadas.

Ao fim da tarde ainda houve tempo para um momento cultural, em que o Carmindo Ramos nos brindou com um momento de poesia, bem como umas “modinhas” no seu acordeão.
Que para o ano possamos estar todos de novo.



Capitão Álvaro Dório Correia Tavares, quando se dirigia ao Monumento com a coroa de flores



Interior da Igreja Paroquial durante a Eucaristia


Quem os conhece? Estiveram todos na Guiné:
Da esquerda para a direita: Manuel Marques Pereira (esteve sempre em Bissau 1970-72), Adamastor Dias (esteve sempre em Bissau 1971-73), José Rodrigues (Compª 2316 - Guillege), Mejo (Bula, Cacine, Gandembel e Gadamael - 1968-70), Celso Farias (Compª 2440 - Piche e Nova Lamego - 1967-69), José Marques Pereira (Compª 1591 - K3, Fulacunda e Mejo - 1965-67), Artur Conceição (Compª 730 -Bissorã e Jumbembem -1965-67) e Manuel Pereira Tavares (26ª Compª de Comandos - 1970-72).


Foto de família antes da partida para o almoço




Veteranos da Índia. Da esquerda para a direita: Capitão Hipólito Nogueira (ex-prisioneiro de guerra), Mário Azevedo e Carmindo Ramos



MOMENTO DE POESIA



Quem somos nós...


I
Quem somos nós afinal!
Que estamos aqui presentes
Neste evento tão legal
Como outros feitos antes.

II
Somos aqueles resistentes
De experiências vividos
Um grupo de ex-combatentes,
Seus familiares e amigos.

III
Viemos uma vez mais
Conviver em harmonia
Por causas bem sociais
Na nossa terra, Campia

IV
Prestámos as homenagens
Como sempre se tem feito
E fizemos as romagens
Com grande amor e respeito

V
Por aqueles que já partiram
Desta vida para o além
Que lá no céu as ouviram
E nós sentimo-nos bem

VI
P'ra uns a vida foi curta
Outros, foi assim assim
Mas toda ela uma luta
Com princípio, meio e fim

VII
Estejamos pois atentos
Em cada dia que nasce
Ponderando nos momentos
Que faltam pró desenlace

VIII
E como alguém nos dizia
Sem qualquer tom de vaidade
O tempo da fantasia (para nós)
Acabou. É bem verdade

IX
Estamos mais que maduros
Pensamos melhor agora
Enquanto os dias futuros
Um a um se vão embora

X
Nesta fase das nossas vida
O tempo passa depressa
Prega-nos sempre partidas
Mas a questão nem é essa

XI
Os anos parecem meses
E os meses, as semanas
Nesta ilusão que às vezes
Queima mais que as próprias chamas

XII
Assim... vamos convivendo
E não menos divertidos
E que Deus nos vá guiando
Enquanto estivermos vivos

XIII
Termino o meu poema
É tempo de reflectir
Com a alma bem serena
E o amor sempre a fluir.


Por: Carmindo Pereira Ramos


Um abraço,
Artur Conceição
Sold Trms Inf e Cond Auto da CART 730


Fotos: Artur Conceição (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


domingo, 22 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4066: Humor de caserna (9): Quando os alentejanos de Jumbembem viram cair-lhes os tomates... a seus pés (Artur Conceição)

Guiné > Região do Oio > Jumbembém > CART 730 (1965/67) > Artur Conceição, o hortelão na sua horta onde se gabava de cultivar os melhores tomates e alfaces do CTIG.

Foto: © Artur Conceição (2009). Direitos reservados.

1. Mensagem do Artur Conceição, ex-Sold Trms Inf e Cond Auto, CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembém (1965/67):

Caro Luís Graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote

Para dar continuidade à linha dos dois últimos postes, 4064 e 4065 achei que era ocasião de mandar este texto, que já estava escrito faz algum tempo.

Tive o cuidado de seguir as recomendações do Luís Graças que desde já agradeço.

“Fruto do tomateiro é tomate, e não se escreve no plural”

Deixo ao vosso critério o interesse que possa ter.

Um abraço

Artur António da Conceição
Damaia - Amadora


2.Humor de caserna (*) > Frescos em Jumbembem!... Só tomate e alface
por Artur Conceição


Em Outubro do ano passado, estive em Benfica a cumprimentar alguns camaradas, e também para assistir à apresentação do livro do António Graça Abreu.

Como sempre acontece nestas ocasiões fala-se de muita coisa relacionada com a guerra.

Os mais atentos, e que fazem a leitura de todos os postes, já perceberam que durante os 13 anos de guerra na Guiné houve avanços e talvez recuos como é normal.

A dada altura falou-se da logística e do poderio aéreo de ambas as partes, o que como é evidente gerou debate de opiniões, como seria de esperar, e ainda bem que assim é.

Para mim, combatente entre 1965 e 1967, deixou-me um pouco admirado ouvir falar em distribuição de frescos (couves, pepinos, tomates e outros), por helicópteros e avionetas, a partir de Bissalanca para os aquartelamentos espalhados pelo resto do território.

Não tenho qualquer razão para duvidar desta afirmação, mas parece-me que primeiro é necessário que a acção seja colocada no tempo.

Durante o tempo que estive em Jumbembem, apenas tenho ideia de duas idas de helicópteros para evacuar dois mortos, e uma terceira para evacuar uma doente da população. A avioneta passava uma vez por semana para largar lá do alto os sacos do correio, e nada mais caía do céu, a não ser umas valentes chuvadas no seu tempo. Morteiradas… Graças a Deus, nunca caíram.

Chegaram em determinada altura umas galinhas vindas de Farim, mas em coluna, e que por serem poucas foram parar à messe de Oficiais e à messe de Sargentos. Em má hora o fizeram, porque para agravar a situação aconteceu na ausência do Comandante da Companhia, isto porque os praças fizeram “serenata” junto a essas messes com aquela canção do Conjunto António Mafra: “oh senhora Marquinhas, cuidado com as galinhas porque o meu galo é solteiro"...

Sem pretender meter foice em seara alheia, penso que o solo da Guiné é muito bom para a produção de muitos produtos agrícolas que designamos por frescos. Em relação a alface e tomate, posso afirmar que é um sucesso, porque aqui falo por experiência própria.

Muitos produtos agrícolas não existiam na Guiné porque não eram cultivados, e não eram cultivados talvez por uma questão cultural. Os hábitos alimentares da população não incluem este tipo de produtos.

Ao fundo das moranças de Jumbembem, entre a tabanca e a ribeira existia uma faixa de terreno onde havia um poço que tinha instalada uma bomba de balanço para tirar água onde nos abastecíamos para todas as necessidades antes da abertura do furo. A partir da altura em que foi aberto o furo, esta bomba deixou de ter a mesma utilidade e servia apenas para rega e algumas, poucas, lavagens, pois o furo debitava quanta água fosse necessária para a CART 730 e para a população.

Foi neste bocado de terreno que alguns de nós, os mais dedicados à natureza, plantámos alface e tomate que depois usávamos na alimentação, suprindo assim a falta dos tais frescos que não vinham de lado nenhum.

A produção de alface era de tal ordem que em menos de um mês, depois de sair do alfobre, estava pronta a comer; isto é, quando se arrancava uma para comer, era colocado logo outra naquele local. Quando se chegava ao fim do terreno, era voltar ao princípio e repetir o mesmo processo.

Quanto aos tomateiros, a produção era mais morosa mas havia belos exemplares e de excelente qualidade.

O meu contacto com a agricultura tinha terminado por volta dos 11 anos, mas entre andar a martirizar os peixes, metidos num bidão, para fazer campeonatos de pesca, ou andar a cultivar alface e tomate, eu preferia a segunda alternativa.

Ao lado da “horta das transmissões” havia a horta dos camaradas Alentejanos que, com muito mais experiência iam dando umas dicas e fornecendo sementes, que eles próprios pediam da Metrópole. Algumas dicas eram aceites, mas outras não, e ainda bem!!!

Um certo dia, os camaradas Alentejanos, compartes da horta, receberam da metrópole a seu pedido sulfato de cobre e cal para fazer uma calda bordalesa para tratar os tomateiros. Perguntaram-me se eu queria, mas eu argumentei que os tomateiros não tinham qualquer doença. Venceu a tradição e os tomateiros dos Alentejanos levaram mesmo com a calda bordalesa em cima.

O pior estava para acontecer, porque os tomateiros, todos “capadinhos” e carregadinhos dos mais bonitos exemplares, ficaram completamente queimados como se por eles tivesse passado um incêndio.

Os Alentejanos quando viram o resultado, caíram-lhes.. os tomates aos pés e confesso que não era para menos!

Tinham uma seara de luxo e ficaram sem nada. Os meus safaram-se de boa.

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série > 21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4064: Humor de caserna (8): O Silva cagou-se (António Matos)

Sobre a temática hortofrutícola, vd. também o poste de 21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3747: Fauna & flora (9): Do macaco-cão ao macaco-fidalgo... à mesa (José Nunes / Artur Conceição)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) > 2 de Março de 2008 > Os macacos-fidalgos vinham, de manhã, acordar-nos e dar-nos as boas vindas (*)...

Foto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do José Nunes, com data de 11 do corrente:

Como descrevi no poste sobre a Missão Católica ou missão heróica (**),comi macaco-cão à mesa com os missionários italianos na Missão,não por mero prazer mas por necessidade. O caçador da Missão era um jovem de nome Cabi, os missionários entregavam-lhe uma espingarda de caça e ele saía à caça. Quando regressava tanto podia vir um macaco,como meia dúzia de patos farons,era o que aparecia.

A carne é muito adocicada,como se temperassemos a carne de vaca em vez de sal pormos açucar.
Nas tascas do Pilão e de Bandim era normal ver-se assarem macacos para petiscarem, desde que houvesse água de lisboa sabe!

Sempre me causou muita náusea ver o animal inchar por acção do fogo,muitas vezes era assados tal cpomo eram caçados,e quando espreitei para a panela de bianda que era cozinhada, a primeira coisa que vi foi a cabeça. Fez-me muita náusea,e desde então,nunca mais tive curiosidade de ver.

Para dar comida aos leprosos era necessário recorrer de engenho e tudo era comestível.

Por onde andei vi macacos na ilha de Bissau, ali para os lados de Prabis, na Ponta do Inglés [Xime], e em Bissum-Naga.

Mas parece que eram muito ariscos e não facilmente domesticáveis.

Cordiais Saudaçoes a toda a Tabanca.

José Silvério Nunes
1º Cabo Mec Elect de Centrais
Beng 447
Brá, Bissau, 1968/70

2. Mensagem de Artur Conceição (ex-Sold Trms Inf e Cond Auto, CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembém, 1965/67 ):

Meus caros Luís graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote:

Este será o meu modesto contributo para uma causa tão nobre como é a defesa do nosso “primo” babuíno, em que está empenhada Maria Joana Ferreira da Silva, investigadora portuguesa, a fazer, no Reino Unido, a sua tese de doutoramento sobre o macaco-cão da Guiné,

Quando da minha passagem pela Guiné nos anos de 1965 a 1967, existiam muitos macacos, e de várias espécies.

Insisto: no meu tempo - e com isto quero ressalvar o facto de que a Guerra na Guiné não pode ser tomada como sempre igual, tudo evolui, para não se correr o risco de entrar em contradições inexistentes. A guerra durou 13 anos, e teve várias fases, que eu não me atrevo, por incapacidade, a definir, mas todos sabemos que os militares que passaram pela guerra na Guiné, essa guerra foi muito pior para alguns do que para outros, em função do período em que por lá passaram.

No início da guerra, a fauna era muito mais abundante do que no final da guerra, e não vale a pena inventar as razões, dado que são tão óbvias que todos percebem.
Em relação aos macacos, conheci três espécies diferentes, embora saiba que existem mais para além destas:

(i) O macaquinho sagui, pequenino, engraçado, e que era propriedade de algum militar que os tinha a seu cargo;

(ii) O macaco-cão, o tal babuíno que se procura e que quase todas as unidades militares possuíam como mascote. (Era pertença de todos, embora mais amistosos com alguns, que lhes dedicavam mais atenção);

(iii) E finalmente o macaco-fidalgo, que talvez por ser bastante mais ágil e muito mais barulhento, nunca o vi em cativeiro na Guiné.

Comi macaco em Bissau num restaurante que tinha essa especialidade, e que ficava localizado numa rua em frente aos Correios, para o lado do Forte da Amura, uma ligeira subida do lado esquerdo. O nome cabrito pé da rocha para mim é novidade (***).

Para colocar alguma ordem, eu comi porque me garantiram que era macaco fidalgo, porque. sem tal garantia, o macaco cão penso que não seria capaz de comer, sendo que uma das razões era exactamente o contacto que tinha com eles, o macaco cão.

Para além de macaco fidalgo confeccionado em restaurante, e que já não posso dizer se gostei ou não, comi também gazela, uma ou duas vezes, javali, várias vezes, águia e raposa uma vez. Cobra... embora digam que é um petisco, penso que era mais fácil comer capim.

Utilização de macacos para fins medicinais ou outros nunca me apercebi. Os nativos capturarem macacos para os comer também não me parece, pelo menos na zona dos Fulas onde estive 18 meses.

Macacos cão em grupo também nunca vi, mas macacos fidalgo era frequente aparecerem na estrada que liga Jumbembem a Canjambari, a Oeste de Farim, na região do Oio. Eram grupos constituídos por duas a três dezenas, de pelagem bastante mais escura que o macaco cão, muito ágeis e muito barulhentos, de cauda mais alongada e que pareciam voar de uma árvore para a outra.

A captura do macaco é muito fácil, uma vez que o macaco fecha a mão para apanhar o isco e nunca mais a abre, também há humanos assim…!! Se o orifício for pequeno, a mão não sai e o macaco fica preso.

Uma das grandes virtudes do macaco é ser o grande propagador da semente do cajueiro, uma vez que ele vai roubar as castanhas do cajú e foge, levando-as na boca. Quando tenta trincá-las, a castanha liberta um liquido amargo e ele deita-a fora, dando origem a um novo cajueiro naquele local.

Um abraço do tamanho do Cacheu porque o Cumbijã eu não conheci...

Artur António da Conceição
Damaia - Amadora

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes desta série:

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3734: Fauna & flora (8): O estudo do Papio hamadryas papio (Maria Joana Ferreira Silva)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3733: Fauna & flora (7): Babuínos, chimpanzés, caçadores, militares, pitéus e... turismo científico (Pepito)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3732: Fauna & flora (6): A mensagem da Maria Joana e a resposta do Patrício Ribeiro

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3727: Fauna & flora (5): Coluna de Macacos Kom dizimada na estrada de Cutia para Mansabá. (Jorge Picado)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3722: Fauna & flora (4): Tudo o que sabemos sobre o macaco-kom (Jorge Teixeira / António Costa)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3721: Fauna & flora (3): Mais histórias de macacos (Henrique Cabral / Luís Faria)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63774 - P3720: Fauna & flora (2): Os macacos-cães do nosso tempo (Luís Graça / J. Mexia Alves)


10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3714: Fauna & flora (1): Pedido de apoio para investigação científica sobre o Macaco-Cão (Maria Joana Silva)

(**) Vd. poste de 13 de Setembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3202: Estórias avulsas (22): Missão Católica ou Missão Heróica? (José Nunes)

(***) Vd. poste de 11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3045: Convívios (72): Em Campia, Vouzela, homenageando os esquecidos da guerra (Artur Conceição / José Manuel Lopes)

Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1965/67) > O Sold Trms Artur Conceição, natural da freguesa de Campia, concelho de Vouzela, residente hoje na Damaia/Amadora e membro da nossa Tabanca Grande desde Maio de 2007... Aqui com duas meninas de Jumbembem, a Fili e a Djar. Que será feito delas ? - pergunta o Artur, apreensivo. Também elas são as esquecidas da guerra...


Vouzela > Campia > Monumento aos Combatentes do Século XX > Inaugurado em 13 de Novembro de 1999 e dedicado aos campienses combatentes deste século. Lembra aos vindouros a participação de muitos naturais de Campia na Guerra Colonial, na Primeira Grande Guerra e em expedições a África e à India. A iniciativa inseriu-se no IV Convívio dos Combatentes e Forças Expedicionárias da Freguesia de Campia. Em 2007, realizou-se o XII Convívio. No início da cerimónia, o nosso camarada Artur Conceição no uso da palavra. Ao centro, o Capitão Álvaro Dório Correia Tavres, que esteve em Bedanda.

___________________



Gostava de vos falar
dos esquecidos,
dos heróis que a história
não narra,
que as viúvas choraram
mas já não recordam,
daqueles
que nem tempo tiveram
de ter filhos
que os amassem,
descendentes
que os lembrassem,
daqueles
que nunca tiveram
o dia do pai,
vítimas de guerras
que não inventaram,
em tempo que já lá vai;
falar deles é prevenir,
se bem que de nada lhes valha,
de guerras que possam vir,
geradas pela ambição
dos que nunca morrerão
num campo de batalha.


josema

[s/d nem local,
possivelmente escrito em Mampatá,
no sul da Guiné,
c.1972/74](*)

Revisão e fixação do texto (pontuação): L.G.

Poema: © José Manuel Lopes (2008). Direitos reservados.
_____________________

1. Mensagem do Artur Conceição. com data de 9 do corrente, dirigida ao José Manuel Lopes (que assina os seus poemas por josema):

Assunto - Permissão

Olá, José Manuel

Os Combatentes da Freguesia de Campia vão efectuar o seu convívio anual no dia 13 de Setembro do corrente ano.

De alguns anos a esta parte cabe-me a missão de Relações Públicas e redactor de algumas palavras alusivas ao evento.

Leio os teus poemas, e procuro entendê-los da mesma forma que me obrigavam a entender os Lusíadas, e juro que não encontro nenhum adjectivo para os classificar.

Seguindo o princípio "O seu a seu dono" ou a "César o que é de César", quero pedir-te permissão para ler o teu poema [,acima transcrito]:

Gostava de vos falar
dos esquecidos
dos heróis que a história
não narra (...)


aquando da homenagem aos que tombaram, junto ao monumento aos Combatentes do século XX, sediado em Campia.

Um abraço

Artur António da Conceição (**)
Damaia / Amadora

2. Comentário de L.G.: Meu caro Artur, ainda não sei qual será a resposta do José Manuel... Mas, como camarada generoso e solidário que ele é, terá todo o gosto que recites este seu poema, no dia do XIII Convívio dos Antigos Combatentes de Campia, no dia 10 de Setembro de 2008.

A pensar em ti, e em futuras declamações, em público, tomei a liberdade de, ao arrepio do poeta (mas procurando sempre respeitar o espírito e a letra), fazer a necessária pontuação. Ajudar-te-á a recitar melhor estes versos que calam fundo na alma da gente. Os poetas têm liberdades que os outros utentes da língua portuguesa não têm E uma delas é o não uso da pontuação, por razões estéticas ou de liberdade criativa. O josema nunca usa pontuação. Para quem diz poesia, a pontuação ajuda muito... Espero que o autor concorde com a minha pontuação... Vou interpretar o seu silêncio como um OK (para ti, Artur, e para mim).

_______

Notas dos editores:

(*) Enviado em 14 de Março e último e já publicado no
Poemário do José Manuel. Sobre o José Manuel Lopes, vd. o último poste publicado: 9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3039: Poemário do José Manuel (20): Mãe, se eu não regressar, lembra-te do meu sorriso...

(**)
Artur Conceição, ex-soldado de Trms, CART 730 (1965/67), Bissorã, Farim e Jumbembem (actual Região do Oio). Vd. os postes do nosso camarada, publicados no nosso blogue:

16 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2355: O meu Natal no mato (1): Jumbembem, 1965: Os homens às vezes também choram... (Artur Conceição)

8 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2335: A trágica morte do Cap Rui Romero: 10 de Julho de 1966, dia de correio (Artur Conceição)

21 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2291: Convívios (36): XII Convívio dos combatentes da Freguesia de Campia, no dia 10 de Novembro de 2007 (Artur Conceição)

24 de Julho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1989: Homenagem ao António da Silva Batista (Artur Conceição, CART 730, Jumbembem, 1965/67)

8 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1824: O Aeroporto de Jumbembem e os ecologistas 'avant la lettre' (Artur Conceição)

21 de Maio de 2007 >
Guiné 63/74 - P1772: Tabanca Grande (5): Também quero estar ao lado dos que não permitem o virar da página (Artur Conceição, CART 730, 1965/67)

domingo, 16 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2355: O meu Natal no mato (1): Jumbembem, 1965: Os homens às vezes também choram... (Artur Conceição)

Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1965/67) > Natal de 1965 > Uma imagem do presépio, construído pelo Artur Conceição e pelo Manuel Mendes...


Foto: © Artur Conceição (2007). Direitos reservados.


1. Os editores do blogue lançaram, hoje, o seguinte desafio ao pessoal da Tabanca Grande:

Amigos & camaradas:

Aproxima-se uma data que no TO da Guiné nos era muito cara...Vamos lá a puxar da caneta, ou melhor, das teclas do computador e toca a recordar o melhor ou o pior Natal das nossas vidas... Onde é que eu estava na noite de 24 para 25 de Dezembro de 196.., 197.., algures na Guiné ?... Deve haver para aí muitas estórias (natalícias) por contar...

Um Alfa Bravo. Os editores do blogue, Luís Graça, Carlos Vinal, Virgínio Briote

2. Um pouco antes o Luís Graça tinha deixado a seguinte mensagem:

Amigos e camaradas:

Eu sei que a quadra (natalícia) é esquisofrénica... Desde o regresso às aulas da criançada, que somos bombardeados (é o termo!) com a musiquinha (deliquodoce) do Natal...E com a paranóia das compras e dos preparativos da Grande Noite... Eu sei que a quadra (natalícia) não é a mais propícia para a leitura e a escrita... Mas, por favor, não percam os excelentes posts deste fim de semana... Só do Jorge Cabral - o mais famoso Cabral da Guiné, a par do do outro sósia, o Amílcar - temos 2 (duas!) estórias cabralianas... Um verdadeiro acontecimento, para os seus fãs... O Torcato (ou o José, nunca sei) também nos conta mais um estória de Mansambo (uma delícia!)...O VB, por sua vez, conta mais pormenores dos bastidores da Op Ostra Amarga, operação na qual participaram (facto inédito ?) jornalistas estrangeiros, entre eles, uma bela mulher, francesa de seu nome Geneviève Chauvel... O VB, claro, não descansou enquanto não a descobriu algures, no planeta... O Carlos Vinhal trabalhou que se fartou para vos dar o texto e as fotos do Santos Oliveira que, em 1964, apontava - ele mais os bravos do pelotão - os seus morteiros contra o Nino, na Ilha do Como...enquanto o cabrão do alferes do Pel Mort 912 gozava as delícias do sistema em Bissau... Moral da estória: na Guiné, fomos todos iguais, mas há sempre uns mais iguais do que outros...

Na sexta feira também tivemos a boa notícia de que o DVD do filme, da Diana e do Flora (um documentário de 120 minutos, estreado em 2007), vai estar disponível em DVD antes do Natal... Se querem a minha opinião, ponham o DVD no v/ sapatinho... Por fim, o Tigre de Missirá é colocado em Bambadinca, depois da terrível mina que lhe ia tirando o sebo... O livro do novo Soncó (que um dia ainda poderá vir a ser régulo do Cuor, quem sabe) será lançado a 6 de Maro de 2008, e esse podia ser um bom pretexto para a malta se encontrar, ao vivo, e partir mantenhas...

Deixem por mim referir aqui a agradáve surpresa que foi, há uma semana atrás, encontrar no Porto, no bar e espalo de convíbio Contagiarte, os nossos camaradas António Pimental, Álvaro Basto (e esposa), A. Marques Lopes, Xico Allen (e Inês, a sua filha, simpatiquíssima, amorosa)... Os mais resistentes (ou malucos) - eu, o Álvaro, o Pimentel - saímos de lá às 3 e tal da madrugada... O pretexto foi a musiquinha dos Melech Mechaya onded toca violino) o meu filho João... (Para quem não pôde lá ir, aqui fica a página oficial do grupo: há diversos vídeos/clips ao alcance de um clique.... É claro que o grupo é mais divertido ao vivo, passe a publicidade e o elogio).

Espero ainda ter tempo para vos contactar até ao Natal (como habitualmente, irei passá-lo ao Norte, e depois das festas seria bom encontarrmo-nos na Casa da Teresa, em Matosinhos... Que tal a ideia ?).

3. Uma primeira resposta, ao nosso desafio (natalício), veio do Artur Conceição, que é meu vizinho, aqui da Amadora:

Artur Conceição,
ex-soldado de trms,
CART 730 (1965/67),
Bissorã, Farim e Jumbembem (actual Região do Oio)

Meus Caros: Luís Graça, Virgínio Briote e Carlos Vinhal

Estou plenamente de acordo com o Luís Graça quando diz: Eu sei que a quadra (natalícia) é esquizofrénica... E nesse contexto envio em anexo, só para vocês, uma apresentação que contém uma mensagem que traduz mais ou menos o Natal nos nossos dias.

Quero no entanto mandar qualquer coisa sobre o Natal vivido na Guiné em tempo de Guerra.


Os homens também choram...

Muitos dos nós choraram na noite de 24 para 25 de Dezembro algures na Guiné, em Angola, ou em Moçambique e porque não em Cabo Verde, São Tomé ou mesmo Timor? Então e os que cá ficaram, que não sabiam sequer por onde andávamos ?!

Pela minha parte confesso que foram noites de Natal não muito diferentes das outras. Só que hoje quando assisto a euforias materialistas e consumistas, cai em mim uma tristeza que me leva às lágrimas, pensando exactamente nesses Natais.

Quero apenas recordar que o Natal de 1964, passado em Lisboa, terá sido bem mais marcante do que os Natais de 65 e 66 passados na Guiné. O de 65 em Jumbembem e o de 66 passado em Bissau. Isto porque fui mobilizado em Dezembro de 1964 (meados), e fui enviado para o RAL 1, onde o Cap Garcia Leandro fez o favor de me colocar de serviço na noite de Natal e Fim de Ano, como castigo por me ter recusado a trabalhar na Brigada da Pedra.

Para deixar uma ideia do Natal da CART 730 em Jumbembem, no ano de 1965, vou enviar uma foto do Presépio que ali foi construído. Obra da iniciativa do Manuel Mendes (MC) e do Artur, mas em que muitos participaram, incluindo o Cap Amaro Rodrigues Garcia.

Como se depreende, até teria sido um Natal bem divertido não fora a distância, e a ausência dos nossos familiares.

Um grande Abraço

Artur António da Conceição
Av. Gorgel do Amaral, 6 - 1º Drt
Damaia
2720-267 AMADORA
Telef: 214901772/ Telem: 919652342

4. Comentário de L.G.:

Obrigado, Artur, pelo teu contributo. Eentendi/entendemos a tua mensagem. Faremos o nosso melhor para que todos os amigos e camaradas da Guiné, que fazem parte desta Tabanca Grande, se sinta menos sós neste Natal de 2007. Sobretudo aqueles de nós que estão doentes, ou que perderam recentemenete alguém muito querido, a companheira, um amigo ou algum familiar mais próximo. Ou que por outros acontecimentos de vida (reforma, desemprego, acidente, etc.) não se sentem física, psicológica, mental e espiritualmente nas melhores condições para celebrar uma festa que é (ou deveria ser) a da paz, da solidariedade, da família, do amor, da amizade... Artur, ficas à vontade para me telefonar, aqui para Alfragide: 21 471 0736... L.G.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2291: Convívios (36): XII Convívio dos combatentes da Freguesia de Campia, no dia 10 de Novembro de 2007 (Artur Conceição)

Artur Conceição
ex-Soldado de Transmissões da
CART 730 (1965/67)
Esteve em Bissorã, Farim e Jumbembem
Região do Oio


Mensagem do camarada Artur Conceição do dia 19 de Novembro

Caro Carlos Vinhal

As minhas desculpas pelo meu atraso, mas tenho andado um pouco ocupado com trabalho.
Quem diria … um reformado a fazer uma afirmação destas.

Acontece que com o fim da DGV e da DGTT e a criação do Instituto da Mobilidade e Transportes Terrestres fui solicitado para dar uma ajuda, nomeadamente em Aplicações Informáticas que foram em tempo por mim desenvolvidas.
São daquelas coisas que passam sempre ao lado de quem tem poder de decisão e que nem lhes passa pela cabeça os problemas que outros vão ter de resolver. Só para teres uma ideia vou ter de alterar mais de 1000 documentos produto de umas dezenas de aplicações, porque têm de sair com o novo logotipo.

Vou mandar-te o texto da notícia que escrevi para o Notícias de Vouzela bem como algumas fotos do nosso convívio.

Vou mandar outro mail com mais fotos e o Estatuto, Heráldica, e Manejo do nosso Guião.

Um grande abraço
Artur Conceição


Foto 1> Monumento aos Combatentes na Freguesia de Campia


Foto 2> No início da cerimónia, o nosso camarada Artur Conceição no uso da palavra. Ao centro, o Capitão Álvaro Dório Correia Tavres, que esteve em Bedanda


Foto 3> Placa invocativa da memória de Adelino das Dores Pereira, morto na Guiné


Foto 4> Placa invocativa da memória de António Marques Pereira, morto em Angola


Foto 5> Em perigos e guerras esforçadas... se vão da lei da morte libertando... Dizia o nosso Camões


Foto 6> O Padre Manuel Henriques da Silva durante a homilia


Foto 7> Romagem ao cemitério, onde foram colocadas 3 coroas de flores


Foto 8> Almoço no Restaurante Casa Duarte "O Sacristão"


Foto 9> Alguns naturais de Campia que estiveram na Guiné

Fotos: © Artur Conceição (2007). Direitos reservados.

Texto enviado para o jornal Notícias de Vouzela

Convívo dos Combatentes da Freguesia de Campia

Realizou-se no dia 10 deste mês o XII Convívio dos Combatentes da Freguesia de Campia que contou com a presença de 52 combatentes muitos deles acompanhados pelos seus familiares e amigos.

Logo a seguir aos aperitivos servidos no local, as cerimónias tiveram início cerca das 10,30 horas, junto ao Monumento dos Combatentes do século XX, que se encontrava rigorosamente decorado graças ao esforço da Junta de Freguesia, da Comissão Organizadora e também de alguns combatentes.
Foram colocadas duas coroas de flores na base do Monumento, sendo uma em homenagem a todos os que tombaram, e uma segunda em homenagem aos que ficaram na retaguarda, pais, avós, irmãos, amigos, em suma, a todos aqueles que viram partir para a guerra o menino da sua mãe.

Durante as intervenções foi mais uma vez salientado o verdadeiro significado histórico do Monumento aos Combatentes, bem como a obrigação que lhes cabe de fazer saber aos vindouros que um grupo de campienses participaram nos conflitos armados do Século XX.

Cerca das 11 horas iniciou-se o desfile encabeçado pelo Guião dos Combatentes em direcção à Igreja Paroquial, onde foi celebrada missa pelo Rev. Padre Manuel, acompanho pelo Rev. Padre António, em memória dos Combatentes de Campia que já não estão entre nós fisicamente. Esta eucaristia é uma dádiva da comissão organizadora, mas verifica-se com alguma tristeza que a maioria dos familiares mais directos não comparece. Talvez porque a tradição já não é o que era.

No final da celebração iniciou-se a romagem ao cemitério onde repousam a maioria dos que partiram, para lhes prestar uma sentida homenagem, sendo também aí colocadas três coroas de flores: Uma na Campa do Adelino das Dores Rodrigues Pereira, morto em combate no dia 5 de Junho de 1968, no tristemente célebre corredor de Guilege, na Guiné, num local onde muitos dos nossos tombaram; outra foi colocada na campa do António Marques Pereira, morto em combate no dia 28 de Julho de 1972 em Angola, e finalmente uma terceira foi colocada na cruz ao fundo do corredor central do cemitério, em homenagem aos restantes.
Depois de ouvida a oração dos combatentes foram encerradas as cerimónias religiosas.

O almoço convívio teve lugar no restaurante O Sacristão e prolongou-se até ao fim da tarde, terminando com o magusto e o bolo do XII convívio.
Durante a tarde houve animação cultural levada a cabo por um grupo de amadores voluntários.

De salientar a divulgação que lhe foi dada pela Imprensa Regional, Notícias de Vouzela, pela Imprensa Diária, Correio da Manhã, e também pela Internet, levando assim bem longe o nome de Campia.

Para assegurar a continuidade deste evento foi nomeado o Senhor Capitão Álvaro Dório Correia Tavares, que irá constituir a Comissão Organizadora do XIII convívio, a acontecer em 2008.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1989: Homenagem ao António da Silva Batista (Artur Conceição, CART 730, Jumbembem, 1965/67)

1. Mensagem do Artur Conceição, ex-soldado de transmissões da CART 730 (1965/67), actualmente residente na Damaia, Amadora (Esteve em Bissorã, Farim e Jumbembem, ou seja, na actual Região do Oio) (1):

Um grande abraço para o António da Silva Batista! (2)

Toda a nossa indignação, a nossa solidariedade e o nosso carinho são insuficientes para conseguir encaixar episódio tão marcante para todos nós.

Todos passámos por montes de cenas que nos tocaram, algumas vindas de camaradas nossos que apenas conseguiam pensar que tal só acontecia aos outros, isto a propósito de lhe terem roubado na caderneta os 27 meses de cativeiro, mas este é um mal que infelizmente permanece cada vez mais acentuado na nossa sociedade. Reparem no que funcionários da CGA (Caixa Geral de Aposentações) estão a fazer a colegas seus, obrigando-os a trabalhar até à morte em condições desumanas, sem se lembrarem que um dia lhes pode acontecer o mesmo.

Toda a nossa admiração para com o Batista é pouca; mas há uma outra parte que toca mais profundamente, e que é o sofrimento dos seus familiares, fazer o funeral de um filho, erguer-lhe uma campa com o seu nome, morto em condições tão dramáticas.... e depois receber correspondência de um cativeiro... Não é fácil...!!!

As lágrimas vertidas na retaguarda davam para encher uma bolanha.

Em homenagem a todos os pais, avós, irmãos..., vamos colocar no monumentos situado em Campia uma coroa de flores no dia 10 de Novembro, dia indicado para o convívio dos ex-Combatentes da Freguesia de Campia (1).

Um abraço

Artur António da Conceição
Av. Gorgel do Amaral, 6-1º drt -Damaia
Telem: 919652342
__________________

Notas dos editores:

(1) Vd. post de 21 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1772: Tabanca Grande (5): Também quero estar ao lado dos que não permitem o virar da página (Artur Conceição, CART 730, 1965/67)

(2) Vd. posts de 22 de Julho:

Guiné 63/74 - P1983: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (1) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1824: O Aeroporto de Jumbembem e os ecologistas 'avant la lettre' (Artur Conceição)

Texto do Artur Conceição, ex-soldado de transmissões da CART 730 (1965/67), actualmente residente na Damaia, Amadora. Esteve em Bissorã, Farim e Jumbembem, ou seja, na actual Região do Oio.




O Aeroporto de Jumbembem
por Artur Conceição

Em 1965/66 o correio na Guiné era lançado a partir de uma avioneta na maioria dos acampamentos espalhados no território. Jumbembem não fugia à regra, e lá para quinta ou sexta-feira vinha a avioneta que largava um ou dois sacos, conforme o volume de correspondência.

Este era sempre um momento de grande alegria mas também de alguma ansiedade, se nos lembrarmos de que os telegramas a dar a notícia da morte de um familiar eram também entregues pela mesma via.

Aconteceu que numa dessas largadas de sacos um deles ficou em cima de uma árvore gigante que se encontrava junto da entrada do aquartelamento. Claro que não ficou lá por muito tempo, dado que apareceram logo exímios trepadores para retirar o saco daquele local.

É a partir deste acontecimento que surge a ideia da construção de uma pista onde fosse possível aterrar uma avioneta de pequeno porte, como era o caso. Poupava-se muito esforço mas por outro lado perdia-se a ida semanal a Farim, para levar o correio a expedir, o que também não agradava a todos.

A localização do novo aeroporto não envolvia qualquer polémica, pelo que, após rigoroso estudo de impacto ambiental, ficou decidido que seria construído a noroeste do aquartelamento no sentido de Farincó.

Foram reunidos os meios materiais, que se reduziam a algumas pás, picaretas e alguns machados e serras, ou seja o material que era utilizado na construção de abrigos, incluindo o corte de algumas palmeiras.

Arrancou-se com todo o entusiasmo, mas as árvores no local eram na sua maioria de grande porte, o que exigia um grande esforço para as arrancar, e a construção da pista lá ia andando um pouco aos soluços, tanto mais que a comissão já ia a mais de meio e o pessoal tinha perdido o entusiasmo inicial. As obras estavam quase paradas...

É nesta fase que surge o episódio do “cabrito escondido com o rabo de fora”.
Nessa altura na Guiné ainda havia manga de vacas só que não eram leiteiras, como certamente se lembram, pelo que o comandante da companhia resolveu comprar uma cabra para dar leite para o pequeno almoço na messe de oficiais. A cabra vinha acompanhada de dois cabritos menores que a chibinha tinha também de alimentar. Alguém muito atento e entendido na criação de cabritos, e amigo dos animais, achou que para a pobre bicha, era um esforço demasiado, alimentar dois cabritos e cinco oficiais...

Então resolveu aliviá-la de um deles. Detectado que foi o desaparecimento do animal foram iniciadas as buscas para o localizar, tendo sido encontrado após algumas horas de busca dentro de um caixote, daqueles onde eram guardadas as botas e outros apetrechos, isto porque o raptor tinha deixado o animal com o rabo de fora.

O raptor e seus cúmplices foram penitenciados a arrancar vinte árvores na pista em construção. Saíam de manhã, vinham almoçar ao meio dia e voltavam da parte da tarde sempre acompanhados de uns baralhos de cartas e alguns alimentos e bebidas.

Para além de gostarem de cabrito, também eram amigos do ambiente, pelo que volvidos quinze dias as árvores continuavam de pé. Para que a penitência não fosse alterada ou agravada foi-lhes dado um prazo e as árvores lá tombaram. Foram as últimas !!...

Depois de tanto esforço nunca tivemos o prazer de ver uma aeronave mesmo pequena a aterrar no Aeroporto de Jumbembem.

Depois da companhia 730, devem ter passado por Jumbembem mais umas cinco ou seis. Tanto quanto sei nenhuma delas concluiu a obra, mas que a 730 começou isso é verdade !!!!.....

Artur Conceição

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1772: Tabanca Grande (9): Artur Conceição, ex-Soldado de TRMS da CART 730 (Região do Oio, 1965/67)

Vouzela > Campia > Monumento aos Combatentes do Século XX > Inaugurado em 13 de Novembro de 1999 e dedicado aos campienses combatentes deste século. Lembra aos vindouros a participação de muitos naturais de Campia na Guerra Colonial, na Primeira Grande Guerra e em expedições a África e à India. A iniciativa inseriu-se no IV Convívio dos Combatentes e Forças Expedicionárias da Freguesia de Campia.

Fonte: A Guerra Colonial, página de Jorge Santos > Monumentos (com a devida vénia...)



1. Mensagem do novo membro da nossa tertúlia, o Artur Conceição, ex-soldado de transmissões da CART 730 (1965/67), actualmente residente na Damaia, Amadora.Esteve em Bissorã, Farim e Jumbembem, ou seja, na catual Região do Oio.

Quero estar ao lado dos que não permitem o virar da página... O meu nome é Artur António da Conceição... Estive na Guiné (1965/1967). Fui Soldado de Transmissões de Infantaria e Condutor Auto. Pertenci à Companhia de Artilharia 730. Estive em Bissorã, Farim e Jumbembem. A minha comissão de serviço foi de 9 de Fevereiro de 1965 a 14 de Fevereiro de 1967.

Permitem-me a entrada na tertúlia ? Em que posso ajudar ?

Sou natural de Campia onde temos anualmente um convívio de todos a ex-combatentes da freguesia. Levantámos um monumento em memória dos ex-combatentes do século XX, conforme foto acima inserida.

Não tenho estado ausente desta causa, e tenho algumas obras feitas, ntre elas uma base de dados onde constam todos os que tombaram, e também os que foram condecorados, a partir da qual é possível tirar muita informação.

O ficheiro Tabela4.xls, que envio em anexo, é uma tabela criada a partir dessa mesma base e onde podemos ver algumas curiosidades. Ver por exemplo que morreram mais em combate na Guiné do que em Angola (que é 35 vezes maior).

Por hoje não mando mais nada, a não ser um grande abraço a todos os elementos da tertúlia.

Conheço dois …. o que é muito bom !!!! Mas gostava de conhecer muitos mais…….!!

Artur António da Conceição

Av. Gorgel do Amaral, 6-1º D
Damaia - Amadora
Telem: 919652342
E-mail > artur-conceicao@netcabo.pt


2. Comentários do Carlos Vinhal:

2.1. Caríssimo Artur Conceição:


O editor do nosso blogue, Luís Graça, encarregou-me de te dar as boas vindas à nossa Caserna Virtual. Sê bem-vindo e esperamos que nos venhas contar as tuas estórias e nos mandes mais tuas fotos. Vai ao baú das recordações e conta-nos o que fazia um militar que tinha duas especialidades. Ser condutor e ainda exercer a especialidade de transmissões devia ser complicado.

Como saberás, aqui toda a gente se trata por tu, porque temos em comum o chão que pisámos, os perigos por que passámos em emboscadas, colunas, operações, etc.

Recebe em nome de toda a tertúlia um abraço.

O camarada
Carlos Vinhal

PS - O teu ficheiro em excel não pdoe ser reproduzido automaticamente no nosso blogue (que só aceita tectos em html ou imagens, com formato.jpg ou equivalente). Mas prometemos aproveitar o conhecimento que produziste.

2.2. Camaradas e amigos desta tabanca grande:

Abram alas para dar entrada a mais um amigo. O Artur da Conceição apresentou-se já há alguns dias, mas só agora consegui pôr a escrita em dia. Acrescentem à vossa lista de endereços o deste nosso camarada para ele se sentir um tertuliano de pleno direito.

O camarada e amigo
Carlos Vinhal


Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1965/67) > "Estes eram meninos de Jumbembem que eu gostava de ensinar. Na fila da frente e de camisa branca está o Tomás que era esperto que nem um rato. Era o menino querido dos estica fios".

Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1965/67) > "O que terá acontecido a estas duas meninas ??? Eram de Jumbembem, a Fili e a Djar".


Fotos e legendas: © Artur Conceição (2007). Direitos reservados