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domingo, 9 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6352: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (11): De Empada a Bissau no Batelão Corubal, acompanhando os restos mortais do camarada Mário Caixeiro

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2010:

Caro camarada e amigo Luís Graça,
Envio renovadas saudações que são extensivas a todos os tertulianos da Tabanca Grande.

Como já nos habituamos, o prometido é devido, por isso cá estou escrevendo, e desta feita são “estórias mas com algumas peripécias,” sobre a viagem de Empada a Bissau com inicio a 15 de Janeiro de 1970, do tempo de espera para o regresso à Metrópole, contudo, são ilustradas com extractos do meu álbum fotográfico.


De Empada a Bissau -1

Acompanhando os restos mortais do camarada Mário Caixeiro


Estamos nos primeiros dias de Janeiro de 1970, está a aproximar-se o final da comissão e já vou fazendo alguns preparativos para ir de abalada, desta terra de gente amiga que é lembrada. Ocasionalmente “bruxo, máquegête moço” o responsável pela Secção Auto da CCaç 2381, Fur Mil Auto Rodas, Bertino Cardoso (Fotos 1 e 2), interpelara-me para saber se eu estava interessado em antecipadamente marchar para Bissau a concretizar-se nos próximos dias. A minha missão seria zelar pela urna com os restos mortais do Soldado Mário Caixeiro, que morrera em combate na noite de 14/Nov./69, e de diversos equipamentos que estavam adstritos à Companhia, que iriam fazer carga num Batelão a chegar brevemente. Seriam feitos os depósitos na Morgue do Hospital Militar e no Quartel dos Adidos, em Bissau.

Foto 1 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > Oficina Auto > 1969 > Obtida do cimo do depósito de água, com imagem da Oficina da Secção Auto, em zona posterior situa-se a avenida e a seguir a casa do motor gerador, estando esta com o telhado danificado devido a um ataque IN.

Foto 2 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > O fotógrafo paparazzi estava lá. O ex-Fur Mil Auto Rodas, Bertino Cardoso, aquando do aproximar do final da comissão, também já estava apanhado pelo clima. Gamara um carneiro que tinha sido comprado pelo Vagomestre e este denunciara-o ao Oficial de Dia. Foi efectuada a apreensão do ónus da prova, a fim de ser organizada a participação para processo de infracção disciplinar por furto.

Tendo eu aceitado a proposta de seguir para Bissau, mas com a condição de não ficar aquartelado nos Adidos, em Brá, situação um pouco embaraçosa e que fora tratada a contento com o nosso 2.º Sargento, Fernando Monteirinho, (que posteriormente passara para a vida civil, tornando a vê-lo no Porto, em 1990). O combinado foi o de eu seguir com a guia de marcha e de forma a apresentá-la no Quartel dos Adidos, contudo eu seria o único responsável ao não apresentar-me. Mas caso não houvesse complicações, e logo que a Companhia chegasse a Bissau, ter-lhe-ia de devolver a dita.

Tratei imediatamente de aprontar a minha saída, emalando logo os objectos de recordação (que muitos ainda guardo), uma mala com garrafas de whisky e outros (que já se foram em eventos), o pagamento da mensalidade à lavadeira e a recolha final dos pesos pelos trabalhos das fotografias. Também não esquecendo cumprimentar e despedir-me da população amiga.

Na noite 14/15 Jan./70, o IN atacou o Quartel de Empada que para mim seria o último, ficando-me em lembrança e fazendo a despedida (Foto 3).

Dirigiu-me ao Cabo Quarteleiro efectuando a entrega do equipamento de roupa da cama, da arma e munições, que me estavam distribuídos.

Livrei-me, em 31/ Jan./70, de sofrer um grande ataque ao Quartel, o qual durou cerca de 45 minutos, não havendo qualquer baixa. A notícia chegara célere a Bissau, onde vim a saber, ficando surpreso pelo tempo que durara a acção.

Foto 3 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1970 > Grupo de camaradas e amigos que ainda ficaram em Empada, a partor da esquerda: ex-1.º Cabo Mec Auto José Luís Moreira, de Marco de Canaveses, ex-1.º Cabo Enf. Jorge Catarino, de Vale Vacas - Cardigos, o Soldado Pintassilgo, do Cacém – Lisboa, o Soldado Mec. Auto José António Coelho, de Maiorca – Figueira da Foz e por último um camarada de que não recordo o nome.

Entretanto o Batelão “Corubal,” em serviço de cabotagem, atracara no cais de Empada, na manhã do dia 15/ Jan./70 (foto 4). Foram-me dadas instruções para preparar a saída de imediato, porque o batelão iria zarpar quando logo que a maré o permitisse.

Foto 4 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > Cais de Empada > 1970 > O Batelão Corubal (dizia-se que era dos turras e não dava problemas), a aguardar a enchente da maré. Este barco demandava regularmente e fazia cabotagem no Rio Grande de Buba.

Dando-se o embarque de passageiros, alguns eram portadores de cabritos, porcos, galinhas, peixe seco e outros, também era necessária a entrada da urna com o cadáver do Mário Caixeiro. Não estando devidamente soldada, dela exalava um cheiro cadavérico e por isso os estivadores africanos recusavam-se a transporta-la - “homem grande papeia,” tsi..! djubi, amim ka mist ku péssoal nega,” - dando estalito com a ponta da língua, e com o bater do braço no tronco do corpo.

(i.e., do crioulo: “O chefe falou,” tsi..! olha, eu não quer e o pessoal recusa).

Como ia safar-me desta, porque o batelão tinha que sair? Inspirei o ar e fui ao pé da urna, depois expirei em um só período, eles viram, e tendo explicado no meu precário crioulo, como se faria, ficaram duvidando mas ensaiaram. Transportamos a urna em três levas e tudo se resolvera. “Sibi mesmo nós Cabo, nhabó tem cabeça mesmo. “Ku amim papeia,” ku nhabó ka sibi, nhabó tem cabeça suma nha burri di Bafatá, ió.

(i.e., do crioulo: Sabe mesmo nosso Cabo, tu tens cabeça que pensa. “E eu falei” e tu não sabes, tu tens cabeça igual a burro de Bafatá, sim).

Tendo o Batelão zarpado e tomando o rumo do Cais de Fulacunda, quando lá chegamos já se encontravam militares e civis esperando, feito o respectivo tráfego, descemos o rio com rota para o Cais de Bolama onde chegamos ao pôr-do-sol.

Na viagem, disse-lhes qual era a origem da frase “da cabeça suma a burro de Bafatá.”
Assim, ao tempo encontrava-se em Bafatá a Autoridade Máxima do Islão, na Guiné, Cherno Rachid, (Foto 5) que teria que viajar e instalar-se em Aldeia Formosa (Quebo), para onde era impensável ir a pé. Como mandavam as regras, deveria deslocar-se montado num camelo ou num cavalo, bichos que para aquelas bandas da Guiné há muito não eram vistos. Por conseguinte as entidades religiosas tinham que dar uma solução. Encontraram um burro e a decisão foi tomada, tendo o senhor seguido montado no dito cujo.

Foto 5 > Bissau > Teixeira Pinto > 1970 > Cerimónia religiosa do Ramadão. Autoridades máximas do Islão, na Guiné-Bissau na presença das Autoridades Militares e Civis. Na imagem, no lado direito, o Cherno Rachid, de etnia Futa Fula, (falecido em Novembro de 1973), à sua esquerda, vestido com calça e camisa branca, se bem me lembro, era um dos seus filhos.

Chegado a Aldeia Formosa, foram feitas as formalidades da praxe e havendo festa de arromba com pompa e circunstância, mas foi como uma pedra no sapato, do Chefe Cherno Rachid, de não se ter feito deslocar num meio de transporte adequado e ao nível da sua posição social.

Cherno Rachid, aparentava ser um religioso afectuoso e com um forte ascendente sobre a população do Credo Islâmico A sua presença dizia-se, fazia malograr qualquer intenção de perigo vindo do inimigo pois granjeava o respeito de todos.

Segundo se falava, tinha um sobrinho que integrava o PAIGC com influência na zona, em que os ataques de uma forma geral eram do lado da pista o que befeciava a povoação.

Quando passeava, dando uma volta pela Tabanca Grande de Aldeia Formosa, tendo-o reconhecido, tive oportunidade de lhe dirigir a saudação.

Batelão atracado no cais de Bolama, fora de todo conveniente falar com um camarada que era presença militar efectiva no batelão e a quem eu ficara a confiar, para lhe dizer que não ficávamos no barco e que íamos pernoitar no Quartel.

Na manhã seguinte e após o tráfego inerente à cabotagem, à hora marcada lá estávamos para embarcar e agora rumando a Bissau.

Chegados ao Cais de Pidjiguiti - Porto de Bissau, havia uma viatura do Exército a aguardar-me e transferimos o que estava a meu cargo. Foram feitas as devidas entregas na Morgue do Hospital (foto 6 e 7) e no Quartel dos Adidos.

Pernoitei no Quartel dos Adidos, era fim-de-semana e os serviços estavam fechados, e por isso um camarada emprestou-me um mosquiteiro e dois lençóis para os usar na cama. Quando era dia, porque o camarada estava de serviço, não pude agradecer-lhe por me ter proporcionado aquele conforto. Isto passou-se precisamente há quarenta anos.

Foto 6 > Bissau > Brá > Hospital Militar 241 > 1970 > Local temido e indesejável para as nossas tropas. Era preciso chegar com vida, que o resto os Médicos e Enfermeiros, tratavam e/ou enviavam para o Hospital da Estrela.

Foto 7 > Bissau > Morgue e Capela do Hospital Militar > 1970 > Depois do pesadelo, poderia vir a ser passagem para o destino final
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6336: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (10): Em Empada, o caso do borrego furtado

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6336: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (10): Em Empada, o caso do borrego furtado

1. Última parte da narrativa referente à estadia de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70) em Empada:


A CCAÇ 2381 em Empada

Parte V

Por Arménio Estorninho

O caso do borrego furtado


Conforme o exposto no poste Empada - Bissau, (Parte 1 e Foto 2), sobre o furto de um borrego, que testemunhei presencialmente e lembro-me como se hoje fosse. Sendo o animal morto e confeccionado, só para a classe dos Oficiais e Sargentos, dado que a população se recusava a vender mais e assim as praças acalmaram-se porque já tinham um grãozinho debaixo da asa.

Por conseguinte, depois de ouvidas as partes, o processo terá sido arquivado, devido ao dito furto ter sido perpetrado pelo Oficial Instrutor do Processo, que se tratava do companheiro e camarada José Belo, prova fotográfica (21), há… há.

Aquando tiradas as fotos, se bem me lembro, fora dito ao Bertino Cardoso para não colocar o chapéu na cabeça devido ao suor, mas ele colocou-o por cima da mesma, (a foto confirma).

Companheiro e amigo José Belo, agora tomo também a liberdade de te chamar irmão Maioral, porque fizemos parte do puzzle da CCaç 2381 - Os Maiorais, pisamos as mesmas picadas, bolanhas, tarrafos, Tabancas e Aquartelamentos, o que não foi pouco, mas tive muito menos assiduidade e também claro está excluindo-me de ser voluntário para acções militares ao objectivo In.

Foto 21 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Foi pedida para exaltação do furto do borrego, idealizado pelo próprio Alferes Belo.

Dado que o Posto Administrativo de Empada tinha um telefone público, tinha a possibilidade de entrar em contacto telefónico com a minha namorada, dando-lhe notícias todos os meses pela importância de 100$00 (cem pesos).

Fazendo lembrar que também foram feitos telefonemas para a Rádio Bissau, até em directo para o programa de discos pedidos. Uma vez alguém solicitara em nome da lavadeira do Furriel Taco Taco, “deu cá uma bronca e que belos tempos.”

No Aquartelamento fiquei em parte também instalado em abrigo de defesa como lugar de camarata, para isso era o meu sócio o “Cabo Escritas” quem mexia os cordelinhos e arranjava autorização, depois passando para mim o controlo da gestão e dos trabalhos fotográficos. Diga-se em abono da verdade que em determinadas horas do dia nos servíamos da electricidade do Posto Administrativo, o que facilitava-nos a vida.
Paralelamente às fotografias, também cambiava os escudos da Metrópole com os pesos à taxa de 10%, não tendo concorrência.

E assim, foram apresentados alguns extractos da minha passagem por Empada.

Com cordiais saudações guinéus deste camarada e amigo,
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas
CCaç 2381 “Os Maiorais”
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6316: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (9): Em Empada, O IN em acção, as minhas amizades e uma visita do COMCHEFE

terça-feira, 4 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6316: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (9): Em Empada, O IN em acção, as minhas amizades e uma visita do COMCHEFE

1. Continuação da narrativa referente à estadia de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70) em Empada:


A CCAÇ 2381 em Empada

Parte IV

Por Arménio Estorninho



O IN em acção, as minhas amizades e uma visita do COMCHEFE

Na noite de 14 para 15 de Novembro de 1969, grupo In com grande potencial de fogo de canhão s/r, morteiros 82mm, morteiros ligeiros, bazucas, RPG-2 e armas automáticas, flagelou o Aquartelamento de Empada, causando 01 morto (Soldado Mário Caixeiro) e 01 ferido às NT e 04 feridos (03 graves) à população civil.

- Seguindo-se um interregno de quase dois meses, em que o In não se revelou.

- Assim a 09 de Janeiro de 1970, Grupo In flagelou o Aquartelamento de Empada com canhão s/r (foto 10), morteiro médio, morteiro ligeiro, RPG-2 e armas automáticas, durante 20 minutos, queimando 06 Tabancas e ferindo um elemento da população.

Foto 10 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1970 > Invólucro de granada de Canhão s/r, deixado junto na pista após ataque IN.

Foto 11 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1970 > Porta de Armas, Escola Primária e ao cimo a Tabanca junto ao caminho para a Pista.

Nesta acção do In, o ex-1.º Cabo “Escritas” António Soares (Soure) por imprudência que lhe poderia ter saído cara, ao intrometer-se entre o fogo cruzado, estávamos num abrigo contíguo ao Campo de Futebol, tentei demovê-lo, mas seguira pelo caminho que ladeava a Tabanca e dirigiu-se a outro abrigo que estava junto à pista, a fim de aí dar apoio, só que na Tabanca, os milícias disparavam e se calhar para o ar.”

- Ao tempo, olhando à minha Especialidade, e porque se deslocavam duas viaturas, fui convidado para fazer parte de um GCOMB (fotos 12 e 13) para manter segurança física aos trabalhadores empenhados nos trabalhos agrícolas na Bolanha de Ualada, por ser passível a aproximação do In para flagelar a zona e/ou roubar as colheitas.

Foto 12 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Bolanha de Ualada > 1970 > Companheiros e amigos da CCaç 2381, a quem, nas minhas saídas, me juntava.

Foto 13 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Bolanha de Ualada > 1970 > Eu a ensaiar a forma de introduzir uma granada de Morteiro 81mm.

- Empada era a Sede do Posto Administrativo do Cubisseco, tendo uma população de 2798 habitantes, com 437 contribuintes, sendo na sua maioria de etnia Beafada, apresentando no entanto também Mandingas, Fulas, Manjacos e algumas famílias dispersas de Balantas, Bijagós, Papeis e Macanhos.

Certo dia fui convidado por Bakar Cassamá, Comandante da Milícia, para assistir às exéquias de um jovem da Tabanca, ficando eu receptivo, mas desconhecendo os preceitos da cerimónia achei que não era conveniente a minha presença. Para o efeito fui posto à vontade, seria-me reservado um lugar junto aos Homens Grandes da Tabanca e ele Bakar ficaria junto de mim e dizia-me o que fazer, sendo desculpado por alguma falta da forma de acompanhar.

Tendo eu anuído e me apresentado vestido com roupa civil (foto 14). Ocupando o meu lugar sentado num banco de tripé, ouvia falar mas só entendia em crioulo, não dando a entender desse pormenor. Foi aí que Bakar Cassamá concluiu que eu sabia um pouco de crioulo. Ficaram todos admirados e de imediato fiquei envolvido em diálogos com as perguntas mais diversas sobre os funerais, falando de Lisboa, da minha terra, sobre a profissão, os estudos e outros, surpreenderam-se pela minha espontaneidade nas respostas.

Foto 14 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Eu, seguindo pela avenida de Empada, ao tempo com duas faixas de rodagem e postes de iluminação.

Depois foi-me oferecido em primeiro lugar, a comer bolo de farinha de arroz e agradeci com um járame ánâni (obrigado) na tentativa de recusar, mas disse-lhes que na minha terra essa primazia era concedida aos Homens Grandes e Idosos, assim um ancião serviu-se e depois seguiram-se os outros.

Efectuou-se o féretro, em que o cadáver deveria estar colocado em cima de uma tábua, embrulhado num lençol e devidamente laçado, sendo depositado em cova de sepultura próxima à Tabanca e, enquanto decorreram as cerimonias, havia mulheres que choravam (Choro, Ió.. Ió..! era de tristeza e dor), umas eram da família e amigas, outras eram pagas.

Foi um funeral em que participei de maneira original, cerimónia a que nunca tinha assistido e que me ficou na memória.

Na população (foto 15) arranjei simpatia e amizade, que retribuia com fotografias, petróleo e na falta deste, gasóleo. Havia uma criança muda (foto 16) que me pedia comida, ao que acedi. Ele levava para a sua palhota e, para assegurar e compensar as ofertas, oferecera-se para a “primeira” lavagem da louça e dar de comer a um esquilo.

Foto 15 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Ronco com batucada e dançares tradicionais. Há militares mirones e eu estou de frente.

Foto 16 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Eu, junto de um miúdo, que era mudo e meu protegido. No dia da oferta de uma vestimenta nova, ficando radiante, apresentou-me aos seus amigos.

No decorrer da acção psicológica imprimida pelo Homem Grande, Comandante-chefe General António de Spínola, em Empada, entregaram-se elementos da população que estiveram do lado do In. Tendo chegado a dialogar em Crioulo, entre eles havia um que confraternizava connosco a jogar futebol, era bom jogador e rivalizava com o 1.º Cabo de Trms Pedra Rafael, que era jogador do Tramagal Clube da 2.ª Divisão Nacional. Entre outros havia um que já pedia descanso e autorizou-me a tirar uma foto. (foto 17)

Foto 17 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Elemento da população In que se entregara às NT.

A população era essencialmente agrícola e dotada para a cultura do arroz “bianda,” que era consumida como o seu o principal alimento (fotos 18, 19 e 20).

Foto 18 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Bolanha de Ualada > 1970 > O ex-Furriel Miliciano Tareco, esperando as “Mindjeres Garandis, nha manga di bianda.”

Foto 19 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Bolanha de Ualada > 1970 > O ex-1.º Cabo Enf Jorge Catarino, o Soldado “O Peniche” e as trabalhadoras da Bolanha.

Foto 20 > Guiné > Região de Quinara > Miniaturas de uma enxada e de um Pilão para descasco e pilar cereais.

Havia ainda um conjunto de duas dezenas de pescadores, que no Rio de Empada pescavam a bicuda, a taínha, o barbo, a corvina e a raia, abastecendo a população e o quartel, procedendo ainda à seca de peixe “cassiqué”, cuja exportação se fazia para Bissau, em transporte de Batelão.

A caça era muito abundante na zona, as espécies mais vulgares eram porco do mato, a gazela, a cabra do mato e o sim-sim (espécie de boi do mato), principalmente na época das queimadas, havendo duas equipas de caça que abasteciam a população e o quartel.

-Relativamente à alimentação, penso que não haveria outro Aquartelamento em que a comida tivesse melhor qualidade, fazendo esquecer a paupérrima comida de Buba.
Embora as más-línguas dissessem que se o Vagomestre fosse de férias à Metrópole “acabava-se qualidade e o dinheiro,” diga-se em abono da verdade que a comida e a sua confecção eram de qualidade, dando exemplo de entre outros dos cosidos e dos assados no forno com todos, de bicudas, corvinas, de cabras do mato e de porcos do mato.

Uma curiosidade. O COMCHF António de Spínola, numa das visitas que efectuara a este Aquartelamento, não se esquecera e solicitou uma amostra do rancho, sendo-lhe apresentada bicuda com batatas assadas no forno. Surpreendido disse:

- Vocês comem como num bom Restaurante.

Para comprovar, ficou para o almoço.

Chegou de surpresa, mas as pessoas da cozinha eram profissionais na vida civil.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6284: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (8): Em Empada, Natal de 1969 - A esposa do Cap Mil Eduardo Moutinho visita Empada

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6284: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (8): Em Empada, Natal de 1969 - A esposa do Cap Mil Eduardo Moutinho visita Empada

1. Continuação da narrativa referente à estadia de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70) em Empada:


A CCAÇ 2381 em Empada

Parte III

Por Arménio Estorninho


Natal de 1969 - A esposa do Cap Mil Eduardo Moutinho visita Empada

Pela Quadra Natalícia de 1969, tivemos a visita da esposa do ex - Capitão Mil. Inf. Eduardo Moutinho, a qual viera expressamente da Metrópole (foto 5).
A sua presença foi de curiosidade para todos os militares e para as mulheres africanas, ao tempo era raríssimo encontrar no mato uma senhora branca, jovem e simpática.

Foto 5 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Quartel > 1969 > Zona do “Aparthotel” reservado para a passagem da Quadra Festiva

Os da Companhia organizaram uma Saigada, a ferrugem colocou junto às casernas uma viatura “Matador” que foi transformada em “O Autocarro do Amor,” enfeitada com pernadas de palmeira e ostentando dísticos, pensava eu, alusivos ao Capitão.

Do pessoal, ficaram-me na memória o pseudo “Guitarrista” o Soldado Francisco Maria (com um instrumento emprestado pelo ex-1.º Cabo de Transmissões Franklin Arménio), eu que levara o jipe para fazer mistura de apitos e animar a malta, actuei com um batuque (foto 6), houve reportagem, sendo o 1.º Cabo Enfermeiro Zé Teixeira o animador como Comentador e Operador de Câmara TV, entre todos fora uma tarde de “farrabadó.”

O Capitão tomou as precauções de ocasião, parte da Companhia estava de prevenção nos abrigos e na generalidade estávamos apreensivos por possíveis acções do In, no entanto o mesmo não se manifestara e nesse período não teve qualquer actividade de registo.

Foto 6 > Guiné > Região de Quinara > Empada> 1969 > Instrumento musical batuque adquirido em Empada

Para se realizar a Consoada, o Refeitório das Praças serviu de Salão de Festas, assim no local foi erigido um nicho dedicado a Nossa Senhora (fotos 7, 8 e 9)

Foto 7 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Jantar de Natal > 1969 > No meio do mato, a imagem vale mais que as palavras

Foto 8 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Festa de Natal > 1969 > Eu, com o pensamento nos meus, um companheiro cujo nome está na lista

Foto 9 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Um companheiro, a fazer a sua prece e a venerar a imagem
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Nota de CV:

Vd. poste de 27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6256: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (7): Em Empada, peripécias de um 1.º Cabo a substituir um Furriel Miliciano

terça-feira, 27 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6256: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (7): Em Empada, peripécias de um 1.º Cabo a substituir um Furriel Miliciano

1. Continuação da narrativa referente à estadia de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70) em Empada:

A CCAÇ 2381 em Empada

Parte II

Por Arménio Estorninho


Duas situações com ameaças disciplinares, quando o Fur Mil, Bertino Cardoso, fora de férias à Metrópole ficando eu fiquei a responder pela Secção Auto


- Certo dia é chegada uma DO-27, que nos trazia a correspondência, frescos, legumes, frutas e outros, era necessário uma viatura para ir à pista com pessoal para segurança e trazer o que for deixado. Não havendo um condutor na Secção (estavam em outras funções e/ou desenfiados) para o serviço, de imediato aprestei-me para o fazer embarcando militares e civis na carroçaria. Dando início à marcha da viatura, eis que um taipal mal trancado se abre, tendo um militar caído para o pavimento e sofrido uma luxação num pulso. Caso a Enfermagem não o recuperasse, teria de ser feito um auto de ocorrência e o militar evacuado para os Serviços do Hospital Militar 241, em Bissau.

Devido à situação clínica do militar, sou chamado à Secretaria perante o 2.º Sargento João Gouveia, tendo-lhe sinteticamente exposto o acontecido. Por sua vez, o sargento retorquiu que eu não podia conduzir a viatura porque estava distribuída a um condutor. Dando-lhe a resposta que não havia no momento um condutor disponível e a viatura não estar distribuída, sendo eu possuidor de carta de condução militar, e estando como responsável pela Secção, sendo urgente a segurança à Pista e outro pessoal, resolvi fazer o serviço.

O Sargento “armado em pudico”, com ameaças impróprias (avancemos, ele não chegara ao fim da comissão), continuando o diálogo disse-lhe: se tenho carta e sou o responsável, porque não posso conduzir viaturas da Companhia em situações prementes e o senhor que não tem Carta Militar, pega na chave leva o jipe quando quer e lhe apetece e vai com ele passear pela povoação. (sic)

Moral da “estória,” com resposta pronta do Sargento Gouveia: sabes que eu tenho boné com pala só posso olhar para baixo, não posso olhar para cima e assim como tu também não.

Contudo ainda me disse que não podia olhar para o nosso Alferes que estava presente e do qual não me vem à memória o nome.
Da situação fiquei grato e reconhecido aos meus Companheiros Enfermeiros, pelos esforços postos e não sendo necessária a eventual evacuação.

- Quando foi de férias à Metrópole o responsável pela Secção Auto, o ex-Fur Mil Bertino Cardoso, deu-me instruções de que não era necessário requisitar combustíveis, embora eu lhe observasse que a quantidade existente poderia vir a ser insuficiente.
Com o avançar do tempo a reserva de gasóleo para o gerador eléctrico ia baixando (mas também me pareceu que houve rato) e pela média de gastos verifico que até à reposição ia faltar para uma semana. Do facto dou conta ao Capitão Aidos.
Apanhei logo ameaças de um processo disciplinar, que ele nada tinha a ver de quem era a culpa e eu é que respondia caso não houvesse gasóleo para o gerador. Contudo a sorte esteve comigo, tendo em conta na data de estar em fase de Lua Cheia. Propus ao Capitão que o gerador funcionasse somente enquanto a luminosidade do luar fosse insuficiente. Concordara após verificar não haver qualquer inconveniente e foi amigo, contudo em caso de ataque In seria imediatamente ligado, eu comprometia-me a ir accioná-lo, não dormindo nas horas suspeitas.

Rezei a todos os Santinhos da minha Paróquia e de mais algumas, felizmente nada acontecera que ficasse prejudicado pela situação deparada.

Com a chegada do Furriel Mec Auto foi um descarregar da bateria e focando a inadmissível situação deixada.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6246: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (6): Em Empada, primeiras impressões e morte de um camarada por electrocussão

domingo, 25 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6246: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (6): Em Empada, primeiras impressões e morte de um camarada por electrocussão

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 14 de Abril de 2010:

Camarada amigo Carlos Vinhal e Tabanqueiros, envio uma mão cheia de mantenhas.

Desta feita irei escrever por partes algumas das “estórias” e apresentando fotos, sobre a minha estada em Empada (incluindo o gamanço do borrego) no período que foi de 01 de Maio de 1969 a 15 de Janeiro de 1970.

Dado tratar-se de uma crónica muito extensa e pertinente, sugeria que fosse subdividida aquando da sua colocação no Blogue.


A CCAÇ 2381 em Empada

Parte 1

Primeiras impressões e morte de um camarada


Quando cheguei a Empada, a mesma era considerada um lugar calmo e dizia-se por ser a Tabanca do guerrilheiro Nino, vínhamos para recuperar do stress e das várias formas de mazelas.

A situação militar que encontrei, fez-me muita confusão na cabeça e “areia de mais para a minha camioneta”. Qual o motivo que levara a retirar a Unidade deste Aquartelamento a fim de ir descansar para Quinhamel e não foi concedido à CCaç 2381, que estava numa zona bastante complicada do eixo de Buba - Inhala -Mampatá - Aldeia Formosa – Gandembel, encontrando-se toda estoirada?

Depois, o que vimos era notório a qualquer militar mais atento, o In estava instalado nas Penínsulas de Cubisseco e da Pobreza “parecia que havia uma paz podre,” a minha Companhia começou a executar acções de reconhecimento e de combate na zona, aproximando-se da colmeia das vespas (abelhas) assanharam-nas e de retorno no Quartel de Empada viemos a sofrer ao todo 15 ataques.

- Da História da Unidade, retirei um resumo do estudo sobre o Subsector de Empada.

"O qual dependendo operacionalmente do COP 4 e administrativamente BCAÇ 2834, passou a pertencer para todos os efeitos ao B CAÇ 2892 a partir de 10/Nov./69. Dentro do Sector S-2, tem como limites das zonas de acção: Orla marítima – Rio Grande de Buba – Rio Jassonca – Rio Banga – Rio Perárona – Rio Gandosara – Rio Galendogo – Rio Suante –Rio Mandisse – Rio Tombali. O In mostrava-se activo actuando em diversas flagelações a Empada, mas tendo-se sempre furtado ao contacto com as N/T. Sempre que pressentiam ou suspeitavam de tropa fora, preferiam retirar-se e tentar sempre sem êxito, flagelar as N/T em progressão ou emboscadas".

Em 16/Junho/69, quando era noite e estando na camarata deitado, escrevendo assim como outros camaradas o faziam, sempre com máxima atenção de ao primeiro sinal suspeito e procurar um lugar mais seguro.

Eis os sons (saídas) e o grito de guerra “ai estão eles!”, corremos para protegermo-nos como era normal, há um que se atrasa e logo que chegou ao exterior da caserna na mesma (foto 1) explodira uma granada de canhão s/r.
Quando cinco de nós já estávamos acoitados ali ao lado e ao monte numa cova, que fora aberta para colocação de uma antena de rádio, cada um que ali entrava magoava os que já lá estavam e havia os vocabulários vernáculos de ocasião (foto2).


Foto 1 > Região de Quinara > Empada> 1969 > A Caserna > O Soldado Martins, saiu pela porta da direita e para sua sorte seguiu para o lado oposto.

Foto 2 > Região de Quinara > Empada > 1969 > Eu, mostrando a cova, que esteve na mira de seis militares e ainda dava para mais um.

Passado o ataque, formamos um grupo para ir ver os estragos das granadas que caíram dentro do Quartel, e uma caiu no telhado da caserna, mesmo ali ao lado, espalhando estilhaços por todo o compartimento e ficando uma mala toda cravejada, a qual era pertença daquele que se atrasara, o Soldado Condutor Manuel Mateus Martins, que a usava como escrivaninha e na altura estava escrevendo. De seguida fomos para a zona do comando e ai havia dois feridos, o Soldado Acácio Marques “O Gazela” (S. João do Monte - Nelas) e o Soldado Francisco Maria (Estói – Faro).

Na noite do meu aniversário a 09/Julho/69, deu-se uma morte estúpida e que poderia ter-me saído na rifa. Estando num abrigo mais outros camaradas (foto 3), deu-se um corte de luz, efectuando-se a troca da lâmpada e nada resultara, quando já era dia fora solicitada a reparação ao pretenso electricista, o qual desmontou o suporte da lâmpada, ficando as pontas do cabo junto da minha cama e à vista, pensando eu que ele iria desligar a extensão.

Foto 3 > Região de Quinara > Empada> 1969 > Local do acidente, um dos sete abrigos tipo e instalados no perímetro da Povoação.

Ao anoitecer, o gerador foi posto a funcionar, havia muito calor e humidade do ar, antes de se deitar o Soldado Albino Oliveira foi tomar um banho “tipo à fula” (foto 4) e molhado dirigiu-se para o abrigo. Ai devido a algo deslocou o dito cabo eléctrico, em que a ponta da linha de fase estava em carga, por isso era o fio do neutro que estava partido, tudo propício a uma forte descarga eléctrica. Por conseguinte, para segurança, o electricista deveria ter desligado a extensão o que por esquecimento não fez.

Foto 4 > Região de Quinara > Empada > 1969 > Eu, tomando banho à fula, na Fonte Frondosa, principal zona de banhos e de lavadouro.

Os enfermeiros Furriel Chico e os 1.ºs Cabos Jorge Catarino, José Teixeira e o Lemos, foram em seu socorro, mas foram gorados os seus esforços embora prestassem todos os cuidados adequados. O Soldado Albino Oliveira era um amigo e brincalhão, leia-se o nome de guerra “O Cantiflas.” Já tinha viagem marcada para ir de férias à Metrópole, ao encontro da sua mulher, filha e restantes familiares. Alguém da Companhia se propusera a enviar-lhes a notícia, com a narração do acidente e da morte do inditoso.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6238: Efemérides (44): Dia do Combatente. Comemorações do 9 de Abril em Lagoa (Arménio Estorninho)

Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6114: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (5): As colunas auto de Aldeia Formosa-Gandembel

terça-feira, 6 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6114: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (5): As colunas auto de Aldeia Formosa- Gandembel

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 25 de Março de 2010:

Dando o meu testemunho de “Estorias” das colunas auto de Aldeia Formosa – Gandembel e vice-versa, em que participei e/ou tive conhecimento de algo de realce.


As minhas memórias da guerra - V

Guiné - As colunas auto de Aldeia Formosa-Gandembel

Ponto 1
- A coluna-auto que se realizara de Aldeia Formosa – Gandembel - Aldeia Formosa, em 20 de Agosto de 1968 e na qual fui incorporado, em que é extraída da História da Unidade a descrição que se segue:

Durante a escolta à coluna de Aldeia Formosa – Gandembel - Aldeia Formosa, foram detectados 02 fornilhos e 05 minas A/P, tendo-se procedido ao seu rebentamento por não darem condições de segurança no seu levantamento. Uma das armadilhas foi accionada provocando um ferido às N/T.

Das lembranças tenho, que desde o início da marcha da coluna até Chamarra, fomos instalados “comodamente” nas viaturas e a partir desse lugar apeamo-nos para prosseguir, sendo organizado o sistema defensivo inerente a cada situação (foto 1). Quando da formação da escolta apercebi-me que tropas de elite Pára-quedistas que iam integradas, ainda não estavam elucidados no seu todo e nomeadamente nas precauções a tomar numa coluna-auto deste tipo. Assim, um elemento dessa Unidade de elite perguntara-me como proceder, disse-lhe que ele estava a experimentar os meus conhecimentos para me dar algumas dicas, ao que me retorquiu que era a sério, porque tratava-se da primeira coluna que se incorporava e necessitava de informação.

Foto 1 > Guiné > Região de Tombali > Subsector de Aldeia Formosa > 1968 > Eu e o meu grupo, levando a arma de forma nada ortodoxa e ia tomar posição.

Dizendo-lhe que deveria seguir afastado cerca de dez metros dos camaradas e na mesma linha, e nunca fazendo ajuntamentos porque seria um alvo apetecível para o In, levaria a arma apontada para o lado oposto à forma como levasse aquele que lhe ia na vanguarda e marchando sempre pelo trilho do rodado das viaturas. Quanto ao resto seria com ele, porque estava treinado e como um dos melhores do mundo, não tenho lembrança do seu nome, mas a sua naturalidade é de uma cidade conhece bem.

Iniciou-se a marcha, indo eu com a minha fé na folhinha com a oração da Nossa Senhora de Monserrate e quanto às ocorrências havidas já foram antes mencionadas.

Chegados a Ponte Balana, o Comandante da Coluna deu a permissão para que vários elementos da CCaç 2381, não se deslocassem a Gandembel a fim de evitar que neste Aquartelamento houvesse grande concentração de pessoal e por sua vez os que ficavam montavam segurança.

Tendo eu ficado e dando uma olhadela pelo reduto de Ponte Balana, as lembranças que me ficaram são de que situava-se em lugar isolado, no lado esquerdo da estrada, junto à ponte e na margem direita do rio que lhe davam o nome, era bunker/fortim com sistema defensivo e cercado por duas fiadas de arame farpado que estavam armadilhadas.


Ponto 2 - Da História da Unidade também foi extraída a actividade, relativa à coluna auto Aldeia Formosa – Gandembel e que no regresso se deu uma emboscada entre Chamarra e Mampatá, no dia 22 de Agosto de 1968:

Assim, no decorrer da Coluna Auto Aldeia Formosa - Gandembel, foram detectadas 27 minas A/P e das quais 15 foram rebentadas por não oferecerem condições de segurança. Tropa Pára-quedista coadjuvava as nossas forças de segurança à coluna, detectaram e levantaram no mesmo local mais 37 minas A/P. No regresso entre Chamarra e Mampatá, grupo In estimado em 70 elementos emboscou as NT com fogo de RPG-2, metralhadoras pesadas e armas automáticas, causando 05 feridos graves (01 Caçador Natuvo) e 02 ligeiros, e estragos ligeiros numa viatura. Efectuada batida foi encontrado um elemento In morto, variadíssimos rastos de sangue e material diverso.

Que subjacente à mesma presenciei situações de forma pertinente e que foram fundamentais para contrariar a intenção do In e tendo-lhes causado baixas:

Por conseguinte a coluna auto marchara de Aldeia Formosa para Gandembel e logo apareceram os Bombardeiros T-6, os quais foram estacionar na pista e aguardando para que em caso fosse necessário dar-lhe a devido apoio.

Foto 2 > Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa (Quebo) > Pista de Aviação > 1968 > Parque de estacionamento das aeronaves que demandavam esta Pista.

Só que o T-6 com dois ninhos de foguetes (dois tambores Lança Rockets) avariou-se e foi preciso vir uma DO 27, transportando um Sargento Mecânico e equipamento, para efectuar a devida reparação (tendo presenciado e oferecido os meus préstimos).
Concluída que fora a reparação e após, porque a coluna estava de regresso e a chegar a Chamarra, por isso a DO e o T-6 com as bombas, levantaram voo seguindo para a Base Aérea 12 – Bissalanca. Contudo outro T-6 ainda ficara estacionado no parque, talvez porque o Piloto tivesse que aquecer o motor e/ou tratar de algumas anotações.

Assim, o In provavelmente foi informado que as aeronaves para apoiar a coluna tinham partido, suponho que foi só aguardar no intuito da surpresa, em zona considerada segura para as NT e que agora seguiam montados nas viaturas, mas a Avioneta “DO 27” é que fez confundir o In.

Conquanto a coluna fora emboscada, ouvia as explosões das granadas, o matraquear das metralhadoras pesadas e tendo eu conhecimento que há pouco saíram de Chamarra. Como um T-6 ainda estava na pista e estando eu com o jipe dirigi-me para lá e entrei em diálogo com o Piloto (que estava dentro do cockpit) e informando-o da situação, ao que me disse que por via rádio também estava a ser informado do mesmo e que de imediato iria levantar voo e dirigir-se para aquele local. Solicitara-me para que me posicionasse junto da Tabanca e do Quartel (onde havia acessos transversais), de forma a evitar a entrada na Pista, de pessoas e/ou animais (foto 3).

Foto 3 > Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa (Quebo) 1968 > Panorâmica da Pista de Aviação, estando eu no jipe, vimos um bidão pintado marcando o limite da pista e assim como lateralmente a estrada que ligava a Mampatá.

E em poucos minutos, por contraste com o aproximar do pôr-do-sol, era visível o T-6 estar em acção na zona de intervenção e efectuando por várias vezes voos picados, lançando de rajada os Rockets, apanhando o In de surpresa e pondo-o em debandada.

Caberá ao Piloto Aviador do T-6, que teve esta intervenção, se houver mais algum facto a mencionar e ainda com mais a propósito das situações havidas.


Ponto 3 - Noutra coluna para Gandembel em que fui incorporado, o qual deu-se por rotatividade de serviço e realizada no dia 08 de Outubro 1968, e consta na História da Unidade da CCaç 2381 o seguinte:

Durante a escolta à coluna - auto de Aldeia Formosa – Gandembel - Aldeia Formosa, foi detectada e levantada por forças desta CCaç 2381, 01 mina A/P. Foram encontrados vestígios In, assim como rastos de sangue deixado por elementos In, que ao aproximarem-se do Destacamento de Chamarra caíram numa armadilha montada pelas NT e accionando-a. A coluna realizou-se sem consequências.

Para eu entender o que era o Aquartelamento de Gandembel, foi necessário lá entrar e houve uma grande tensão, indaguei se havia algum conterrâneo e/ou a ver o seu sistema defensivo. Não identifiquei ninguém e relativamente às instalações e aos abrigos eram de uma forma geral de tipo de construção meia enterrada (diferente de outras que conheci), somente as frestas e as coberturas com duas camadas de cibos sob terra e chapa de bidão é que pouco mais se elevavam do solo, havia as normais fiadas de arame farpado em toda a volta do Aquartelamento e claro está entre as mesmas estavam as armadilhas.

Pelo que me disseram no local, a artilharia de defesa, em muitos dos ataques In só eram accionadas no início, tal era a profusão e concentração de fogo In.


Ponto 4 - Pela última vez a 28 de Novembro de l968, incorporei uma coluna auto Aldeia Formosa – Gandembel – Aldeia Formosa, na História da Unidade somente consta, sem consequências (foto 4).

Foto 4 > Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Estrada de Gandembel > 1968 > Eu, algures entre Chamarra e Ponte Balana, quando a actividade In já tinha amainado.

Nesta data, fui pela segunda vez ao mítico Aquartelamento de Gandembel, houve tempo para conversas e ai tive conhecimento de várias situações sendo algumas adversas para “Os mártires de Gandembel”: - Que aquando de um ataque In, com baterias de morteiros e canhões s/r, instalados nas proximidades da vedação de arame farpado e tendo havido elementos do In que chegaram à vedação no lado esquerdo de quem entrava na porta de armas, pretendiam o assalto e ai morreram (não era só café e/ou a bala do branco que não matava..!).

Também nesse ataque, um dos abrigos sofrera três impactos na mesma zona, por granadas de canhão s/r e perfurando-o, ocasionando vários feridos e a morte de um Alferes;

- De quando alguns camaradas da CCaç 2317, efectuavam apoio logístico a uma coluna de Aldeia Formosa – Gandembel, no pontão de Changue Laia, caíram num campo de minas, ocasionando 4 mortos e 2 feridos. A minha Unidade CCaç 2381 “os Maiorais” ia integrada nas forças de segurança dessa coluna. Foi encontrado posteriormente um morto (Furriel Miliciano) e levantado por camaradas da minha companhia, as ossadas foram colocadas em campa, no cemitério de Bissau.

À margem das colunas é de salientar o que me ficou na memória, aquando eu estava em Aldeia Formosa, penso que foi no mês de Setembro de 1968, e que supostamente era mês de aniversário do PAIGC, em que perdi a contagem, do numero de ataques a Gandembel, pois sofrera mais de meia centena (era um “Regabofe” de dia e de noite);

A situação acalmou no Subsector de Aldeia Formosa, só após tropas de elite Pára-Quedistas, sediadas em Gandembel/Aldeia Formosa, serem preponderantes em várias operações de surpresa e com sucesso junto à fronteira da Guiné Conakry, de terem aniquilado praticamente dois Bi-grupos In e capturado imenso material de guerra, de que parte esteve exposto em Aldeia Formosa e assim como um ferido In capturado (estava em maca, fora dito que tinha os testículos esfacelados, pelo aspecto deveria ser quadro do PAIGC e recusava-se a falar).

Do que mencionei sobre a CCaç 2317 “Os Mártires e heróis de Gandembel,” e que tenho como referência, é uma pequena e singela descrição, relativa às condições difíceis que enfrentavam estes valorosos camaradas e sendo a ponta de um iceberg.

Por força das circunstâncias “descrito em outra estória” estive a vê-los chegar a Buba e ficamos acomodados na mesma camarata.

Neste Sector não tive conhecimento de quem passasse tanto as passinhas do Algarve (as voltas que os figos dão, desde a apanha e até que sejam torrados no forno).

Foto 5 > Guiné > Algures no Sector de Buba > 1968/69 > São os amigos da CCaç 2381 (uma Secção) em posição de expectativa, identificando Furriel Mil Tareco, seguido do 1.º Cabo Enf Jorge Catarino.

São lembranças que estavam cheias de pó e guardadas no Baú, tratam-se de algumas versões em segunda mão, mas contadas no local e como quem conta um conto altera um ponto, mas a sua essência está toda escrita.

Com cordiais cumprimentos a todos os bloguistas,
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas,
CCaç 2381 ”Os Maiorais”
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6089: Os nossos regressos (21): No dia 1 de Abril de 1970, a CCAÇ 2381 finalmente despede-se em Parada Militar (Arménio Estorninho)

Vd. último poste da série de 21 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5857: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (4): Operação Grande Ronco (2)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5857: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (4): Operação Grande Ronco (2)

1. Segunda parte da Operação Grande Ronco*, trabalho de autoria de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70).


Operação Grande Ronco (2)

Parte 2

A 26Jul68, depois do sol nascer, ouve-se uma voz de comando:

- Vá, levantem-se que vamos arrancar.

Era o Comandante da minha Unidade que parou por detrás de mim. Não me tendo apercebido deste facto, porque estava deitado no capim, levantei-me e dou meia volta com a arma na mão. Pelo movimento tive azar, fui ameaçado de prisão pelo superior hierárquico, desfiz-me em pedir desculpas porque não sabia que ele ali estava. Aceitou o meu pedido com ar de sorriso, mas com voz forte disse-me:

- Se houver uma segunda vez não te safas de uma porrada. (já lhe falei no assunto, mas não lhe viera à memória esta situação).

Alguns momentos depois chegara o Coronel Hipólito que dialogou com o Capitão. Como após o primeiro embate as coisas ficaram complicadas, delegou neste funções de orientação operacional e do que achar por conveniente, dada a sua experiência. Deste caso lembrou-se o Capitão, hoje, Coronel.

Tudo pronto, é reiniciada a marcha, são percorridos alguns quilómetros e a ponte móvel a servir, detectaram-se minas que são levantadas ou deflagradas, contudo sempre que necessário a frente ia informando e passando a palavra para não haver sobressaltos.

O IN desencadeara uma emboscada na zona frente da coluna auto, que se estendia desde as viaturas que eu seguia para o centro, eram as balas das kalashs e das PPSH (costureirinhas) sobre as árvores só para chatear. Via a certa distancia explosões de vários tipos de granadas que podiam também ser de granadas lançadas pelas NT, dado que também batiam a zona.

Pensando que no caso de haver uma emboscada, iria proteger-me numa das viaturas próximas, no entanto para esta situação, o pensado não surtira efeito. Logo que acontecera, acercara-me de um bagabaga que me estava próximo e o melhor onde podia proteger-me, mas quando reflecti sobre esta posição achei que poderia ter sido perigosa, dado que era um local propício para aí o IN colocar mina e/ou fornilho (servira-me de lição).

Sendo a primeira embosca em que intervinha, mirava para algo suspeito e apercebo-me de uma elevação com mata muito densa, o que dava a entender que o IN deveria estar instalado em zona privilegiada e de contra encosta.

Entre outras, uma granada explodira a cerca de 40 metros do local onde estava amochado, que depois foi identificada como do RPG 2, pois fui posteriormente apanhar a parte do foguete que saltara do corpo da granada, para guardá-lo como ronco (foto 5).

Logo alguém disse:

- Tens que ir apanhar muitas. - E eu respondi: - Não vou, porque esta tem significado.

Considerando o alcance máximo do RPG 2 e provavelmente o IN estaria emboscado a cerca de 300 metros da coluna.

Foto 5 > Guiné-Bissau> Buba> Sinchã Cherno> 1968 > Resto do foguete depois da explosão, que esteve acoplado ao corpo da Granada do RPG 2.

Eis que há uma pausa no cair granadas nas proximidades, não se ouvindo a passagem das balas das costureirinhas ou outras. De repente um camarada aproxima-se de nós e grita para não dispararmos, porque os que vão flanquear estão próximos dos gajos e a chegar à nossa frente.

Viemos a saber que a malta do Pelotão de Caçadores Africanos que iam no flanco, deram um enxerto de porrada no IN e como estes foram surpreendidos tiveram que se pôr em fuga.

Nesta intervenção, as NT não sofreram quaisquer baixas.

Refeita a marcha, algum tempo depois, a coluna sofreu nova emboscada, agora na retaguarda, tendo ocasionado às NT um ferido ligeiro. Por sua vez o IN deveria ter levado um embrulho e/ou sentirem-se pressionados pelas tropas dos flancos, puseram-se em fuga e não mais incomodaram.

Continuando a progressão, é montada a ponte móvel, são detectadas e levantadas minas, sem outros incidentes.

Pelo meio da manhã apareceram dois Fiat's quase de simultâneo, que nos sobrevoaram quase rasando as copas das árvores, talvez para nos verem e/ou comunicar. Mas pelo barulho dos motores e conjugando com o som da deslocação do ar, deram-se acontecimentos de grande incerteza, foram para mim situações que mais pareciam de bombas e que o céu ia desabar.

A partir de agora já havia contacto com o exterior e com apoio aéreo, a tensão amainou e com isso veio a emoção.

Posteriormente pelo menos deu-se a observar a chegada de um helicóptero, trouxera equipamento de Rádio de Transmissões e efectuara os Tevs para o HM 241 de Bissau.

Foto 6 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Sector de Buba > 1969 > Helicóptero Alouette III a efectuar TEVS. Eu estou mantendo segurança a pedido do Piloto, estando um ferido no banco de trás.

Refeitas as transmissões via rádio, logo se soube que ao encontro da coluna vinham tropas de Aldeia Formosa e Mampatá. A sua frente teve contacto quase ao fim da tarde. Como vieram a picar a estrada, detectaram uma mina e por isso estava supostamente livre.

Como o aproximar da noite ocasionara que as viaturas levassem as luzes acesas e que as da frente fossem em marcha acelerada, a existência de poças de água ainda mais ajudava a maltratar a já depauperada estrada de terra, dificultando a marcha das que procediam.

Estivemos perante uma situação em que se o IN nos atacasse, com aquela forma dispersa, umas dezenas iam parar aos anjinhos.

Os mais velhos diziam que já não haviam problemas porque estávamos a chegar a Mampatá, que era já ali, mas foi uma eternidade para lá chegarmos (foto 7).

Chegados, estava população a ofertar água a quem seguia na coluna, era sua tradição o que muito nos sensibilizara.

Foto 7 > Guiné Bissau >Região de Tombali > Mampatá > 1968 > Paragem de uma coluna e tempo de espera para se recompor. Os camaradas que estão na foto são da minha Unidade. Em cima da esquerda, sou eu e depois o ex-Condutor Auto Vítor “O Lisboa”; em baixo, não ligo o nome com o camarada, a seguir o Soldado Isaac das Trms e o Soldado Albino Oliveira “O Cantiflas,” que devido a acidente nos deixara em Empada.

A marcha prossegue, passando pelas Tabancas de Bacardado e Afia. Por conseguinte são cerca das 20 horas, do dia 26 de Julho de 68, passamos pela estrada contígua à pista de aviação, quando finalmente chegamos a Aldeia Formosa (Quebo) onde nos aguardavam.

Ufa, até que enfim, que ansiedade de chegar ao cabo de cerca de 36 horas.

Deduzindo o tempo de pernoita, temos que os 30 quilómetros de distância foram percorridos à média de 1,5 Km/h.

Foto 8 > Guiné-Bissau > Região de Tombali >Aldeia Formosa (Quebo) > 1968 > O que restou do Unimog sinistrado pela mina AC (agora com colocação de rodado), a ser rebocado para a oficina (em fundo) a fim de ser desmantelado para peças sobressalentes. Na viatura, em cima e da esquerda: sou eu, e os restantes são da CCaç 1792, o ex-1.º Cabo Condutor Auto, o ex-1.º Cabo Mecânico Auto e um Condutor Auto; em baixo, o ex-1.º Cabo Mecânico Auto José Luís Moreira, da minha Secção, e um Soldado da CCaç 1792.


Parte 3

Da posição: Guiné 63/74 –P5699 estórias avulsas (70) A.E.; Rubrica de Perdidos e Achados, sou de dar o seguinte conhecimento.

Após receber vários E-mails e usando o GPS, finalmente descodifiquei os caminhos para chegarmos ao epicentro da Unidade Militar do celebre desconhecido e localizei a estátua “O Pensador.”

Sendo convocado o Soldado Condutor Manuel Martins, o barbeiro de serviço, hoje comerciante a residir em Aldeia do Carrasco - Portimão, que a solicitação do José Belo, retirara a boina da cabeça do dito cujo, não sendo o suficiente fez-lhe o cortes do cabelo e da barba. Tendo-se feito luz sobre de quem se tratava, aí está o homem e deixem-no tratar do seu bloco de notas (Foto 9).

Há mais “estórias” amigo e camarada Zé Teixeira, virá a vez de outro haja saúde e boa disposição.

Não esquecendo que revelando fotografias, ainda fiquei com a cara de muitos camaradas, não tendo mais por ter enviado material para revelar na África do Sul, provavelmente parte foi confiscado e outro já se deteriorou.

Relativamente ao convívio no almoço de cozido, em Monte Real, digo, que por ali não reconhecia o camarada e amigo José Belo, a neve da Lapónia branqueia-lhe a barba, o ar deverá ser gélido e não há a amenidade dos meus Algarves.

Diga-se que tenho dele uma fotografia como recordação que irei mostrar no momento adequado. Penso que deixei de o ver pessoalmente em Abrantes, no entanto em datas posteriores ao 25 de Abril, voltei a vê-lo pelas imagens da RTP.

Foto 9 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > Porta de Armas> 1969 > Momento de concentração de um pensador, escrevendo belos poemas e/ou estórias.

Nesta data, completara a primeira etapa da minha comissão de serviço, sendo um quadro do que no futuro eu teria intervenção, tornando-se mais ou menos de rotina.

Porque para além da minha Especialidade e em escoltas às colunas auto, também era escalado para a defesa dos aquartelamentos e para apoio nocturno a população em auto defesa, com intervenção na protecção à abertura e construção do troço de estrada Buba - Nhala.

Com um grande abraço deste amigo e camarada, subscrevo-me,
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas
Um Maioral
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5845: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (3): Operação Grande Ronco (1)