Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xitole > c. 1970 > Uma coluna logística, vinda de Bambadinca, chega a Xitole, atravessando a ponte dos Fulas, sobre o rio Pulom, ao fundo. A viatura civil, em primeiro plano, podia muito bem ser do nosso conhecido comerciante libanês Jamil Nasser, amigo de alguns dos nossos camaradas que passaram pelo Xitole, como foi o caso do Joaquim Mexia Alves (*). Foto do álbum de Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.
1. O José Zeferino é um camarada que hoje faz anos, e de quem não temos tido notícias nos últimos tempos a não ser hoje (agradecendo justamente os nossos voros de parabéns e dizendo que não nos tem esquecido, apesar de não se encontrar no melhor das suas capacidades, presumo que ainda na sequência da intervenção cirúrgica a que foi submetido há um ano atrás)... É menmbro da nossa Tabanca Grande desde 20 de fevereiro de 2008.
Estava no Xitole quando soube do 25 de abril de 1974... Três semanas depois, a 15 de maio, a sua companhia sofreria ainda um tremenda emboscada, de que resultaria a morte do alferes mil inf Aguiar e do soldado de transmissões Domingos (Houve ainda cerca de uma dezena de feridos do lado das NT).
De acorco com a pesquisa na Net que fizemos, o Luís Gabriel do Rego Aguiar, natural de Ponta Delgada, é dado como morto em 20/5/1974, segundo a preciosa listagem dos mortos do ultramar, organizada por concelhos, e disponível no portal Ultramar Terraweb; por seu turno, (ii) o Domingos da Silva Ribeiro era natural de Vila Real, e a data do seu falecimenmto é 15/5/1974; é possível que o alf mil inf Aguiar tenha morrido no HM 241, em Bissau, na sequência de ferimentos graves recebidos nesta emboscada, a última, ao que parece, realizada pelo PAIGC no TO da Guiné, ou pelo menos no setor L1, a seguir ao 25 de abril.
O José Zeferino foi alf mil da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74), o mesmo é dizer que foi um dos últimos soldadoa do império. Ele já recordou aqui, telegraficamente, alguns das datas-chave da sua passagem pelo TO da Guiné. Vamos reproduzir alguns excertos, desde a sua chegada a Bissau até à notícia do 25 de abril, ao mesmo tempo que lhe endereçamos os nossos votos de parabéns natalícios e lhe desejamos as melhoras das suas mazelas. (**)
pro José Zeferino [, foto à esquerda]
(i) Bissau – de 20 de Dezembro 1973 a 4 de Janeiro 1974 - Chegada. A maior parte, como eu, a 2 Janeiro por avião.
(ii) Cumeré - 6 de Janeiro de 1974 – Início da IAO [Instrução de Aperfeiçoamento Operacional].
(iii) Mansoa - 18/19 de Janeiro de 1974. Primeira acção do Batalhão. Segurança / emboscada nocturna no itinerário Bissau – Farim.
(iv) Cumeré - 25 de Janeiro de 1974 - Primeira baixa no Batalhão: o Furriel Humberto, madeirense, da 3.ª Companhia que iria para Farim, suicida-se com a sua G 3. Por motivos sentimentais.
(v) Xitole - 11 de Fevereiro 1974 - Chegada da 2.ª CCAÇ .
(iv) Cumeré - 25 de Janeiro de 1974 - Primeira baixa no Batalhão: o Furriel Humberto, madeirense, da 3.ª Companhia que iria para Farim, suicida-se com a sua G 3. Por motivos sentimentais.
(v) Xitole - 11 de Fevereiro 1974 - Chegada da 2.ª CCAÇ .
(vi) Xitole - 19 de Fevereiro de 1974 - Primeiro combate, na mata. Sem baixas. Indícios de baixas no IN.
(vi) A partir desta data deixa de haver dias de semana. Passam a ser contados por blocos de três dias: dois de patrulhamento e um de descanso. Um grupo de combate fixa-se na defesa da Ponte dos Fulas com rotação mensal.
(viii) Mansambo – 3 e 4 de Março 1974 - Grande operação no Fiofioli. Sem contacto IN.
(ix) Xitole – 9 de Abril de 1974 - Segundo combate na mata. Baixas não confirmadas no IN. O alferes Araújo do 2.º GComb é evacuado para a psiquiatria do HMB. O meu GComb, o 3.º, estava na ponte nesta altura. Foi de onde tirei esta foto.
(x) Xitole – 13 de Abril de 1974 - Visita do general Bettencourt Rodrigues. Transportado por héli Allouette IIIG
(xi) Xitole – 22 de Abril de 1974 - Apresenta-se um guerrilheiro do PAIGC. Má altura, para ele, para desertar das suas fileiras.
(xii) Xitole – 25 de Abril 1974 - madrugada, cerca das 6 horas:
– Zefruíno, alferes Zefruíno!!!
(viii) Mansambo – 3 e 4 de Março 1974 - Grande operação no Fiofioli. Sem contacto IN.
(ix) Xitole – 9 de Abril de 1974 - Segundo combate na mata. Baixas não confirmadas no IN. O alferes Araújo do 2.º GComb é evacuado para a psiquiatria do HMB. O meu GComb, o 3.º, estava na ponte nesta altura. Foi de onde tirei esta foto.
(x) Xitole – 13 de Abril de 1974 - Visita do general Bettencourt Rodrigues. Transportado por héli Allouette IIIG
(xi) Xitole – 22 de Abril de 1974 - Apresenta-se um guerrilheiro do PAIGC. Má altura, para ele, para desertar das suas fileiras.
(xii) Xitole – 25 de Abril 1974 - madrugada, cerca das 6 horas:
– Zefruíno, alferes Zefruíno!!!
Era o Jamil, comerciante libanês com grande influência política, social e económica, tanto na Guiné como na restante família, árabe, dispersa por três continentes.
Estávamos a iniciar mais um patrulhamento, a dois Gr Comb, talvez à zona do Duá.
Na varanda da sua casa, tipo colonial, claro, estendiam-se fios de antenas que acabavam num rádio antigo, de válvulas, por onde estava a ouvir a BBC em árabe.
Diz-me:
– Zefruíno, o... (não me lembro, ou não quero, das palavras exactas) do Spínola está a fazer uma revolta.
O Jamil tinha tido um contencioso com o general Spínola: tinha querido transferir as suas casas de comércio na zona, para Bissau, no que foi impedido pelo general. Era uma base de apoio para as nossas tropas e para a população.
Foi assim que tive conhecimento do que se passava em Lisboa.
O Jamil tinha tido um contencioso com o general Spínola: tinha querido transferir as suas casas de comércio na zona, para Bissau, no que foi impedido pelo general. Era uma base de apoio para as nossas tropas e para a população.
Foi assim que tive conhecimento do que se passava em Lisboa.
Regressámos de imediato ao quartel. Ficámos na expectativa nos dias seguintes. Patrulhamentos, só o mínimo indispensável-até Endorna. Montagem de segurança nocturna: poucas. Estávamos literalmente presos pela avidez dos comunicados. Acreditámos que o fim da guerra era desejado pelas duas partes. Pelo menos para a população era-o. E muito.
Entretanto chegou ao nosso conhecimento, não me lembro como, que no PAIGC havia duas correntes: uma para atacar em força aproveitando uma possível desorientação nossa; outra para entrar de imediato em conversações de paz no terreno. (...)
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Entretanto chegou ao nosso conhecimento, não me lembro como, que no PAIGC havia duas correntes: uma para atacar em força aproveitando uma possível desorientação nossa; outra para entrar de imediato em conversações de paz no terreno. (...)
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Notas do editror:
(*) Vd. poste de 11 de julho de 2006 > Guiné 63/74 - P952: Evocando o libanês Jamil Nasser, do Xitole (Joaquim Mexia Alves, 1971/73)
(*) Vd. poste de 11 de julho de 2006 > Guiné 63/74 - P952: Evocando o libanês Jamil Nasser, do Xitole (Joaquim Mexia Alves, 1971/73)
Quase todos os dias, ao fim da tarde, ía a casa do Jamil e no seu alpendre de entrada, bebiamos uns uísques, acompanhados de pedaços de tomate com sal, enquanto ele ouvia as notícias do Libano no seu rádio, em árabe, claro está, e comentava o que por lá se passava.
Para mim era como sair um pouco da tropa e entrar numa vida social, o que dava um certo equilíbrio emocional.
Um dia, quando me preparava para ir ter com o Jamil, apareceu o seu criado Suri, oriundo da Gâmbia, salvo o erro, para me dizer que o Jamil pedia para eu não ir ter com ele naquele dia.
Fiquei admirado, mas bebi o que tinha a beber no quartel. Mal anoiteceu, houve um tremendo ataque ao Xitole que, graças a Deus, não provocou quaisquer vítimas ou sequer ferimentos, mas destruiu bastante alguns edifícios.
Percebi o recado do Jamil, mas nunca falámos nisso. Tenho algumas histórias com ele e até fotografias, se não me engano, não tenho é muito tempo, mas logo verei o que posso arranjar.
A memória falha de vez em quando, mas penso que ainda me encontrei com o Jamil em Lisboa depois de ter vindo da Guiné. Lembro-me que ele costumava ficar num Hotel, ao lado do Cinema Tivoli, se não me engano Hotel Condestável. (...)
(**) Último poste ds asérie > 30 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13073: No 25 de abril eu estava em... (23): Porto, e o meu irmão, Manuel Martins (1950-2013) em Bissau (José Martins, ex-fur mil, trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)
(***) Vd. poste de 17 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4545: Alguns apontamentos sobre a acção da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74) (1) (José Zeferino)