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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21120: Notas de leitura (1291): “BC 513 - História do Batalhão”, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Quem contesta a importância primacial da leitura da história dos batalhões como documentação-base para a historiografia da guerra colonial, leia a história do BCAÇ 513 e converse depois connosco.
Desembarcam em Julho de 1963, é-lhes destinado um vasto Sul, em turbamulta, a guerrilha devasta, intimida, executa os contestatários. As incumbências que lhe estão cometidas têm um peso enorme: instalar um destacamento em Guileje, outro em Colibuia, irradiar a partir de Aldeia Formosa, interditar o trânsito do inimigo da área do Forreá para o Incassol, patrulhar e emboscar no eixo Buba-Nhala e na estrada Buba-Aldeia Formosa.
Temos aqui relatos que infundem respeito, que deixam bem claro o caos em que se encontra toda região Sul em 1963 e como numa fase de arranque do PAIGC foi possível confrontá-lo com escassos recursos. Quando ali chegaram, Guileje estava totalmente ao abandono e as forças do PAIGC controlavam totalmente Ganturé, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Campeane, bem como o Cantanhez.
Um relato épico, inesquecível.

Um abraço do
Mário


BCAÇ 513, a divisa era “Ceder Nunca” (1)

Beja Santos

Dentro da minha rede de apoios, a Biblioteca da Liga dos Combatentes tem lugar cimeiro. O responsável pela biblioteca, sempre prestável, quando o informo das minhas devoluções também me informa que encontrou mais umas coisinhas, é tudo uma questão de ir ver. Uma das novidades foi a história deste Batalhão, documento que desconhecia inteiramente: BC 513, História do Batalhão, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000. A surpresa começa logo na dedicatória de oferta:  
“De todos nós, combatentes do BCAÇ n.º 513, que prestou serviço na Guiné entre Julho de 1963 e Agosto de 1965, daqueles que por lá perderam a vida e daqueles que voltaram deixando lá parte dela, aqui fica um muito pouco de nós e um grande reconhecimento que os combatentes sabem ter por quem nunca os esquece. Mas a nossa história, essa, ficará sempre por contar. Ela seria o enorme somatório de todas as histórias, de todos nós, amalgamadas com todos os nossos sentimentos, todas as nossas indignações, angústias, inquietações, desesperos, raivas, medos, coragens, esperanças, desilusões, amizades, amores, tudo isso unido pela fortíssima argamassa que é a irmandade que nasce e perdura para sempre entre aqueles que foram combatentes. Vosso, muito grato, José Filipe da Cunha Fialho Barata, ex-alferes miliciano sapador”.

O BCAÇ 513, diz-se logo no pórtico, não foi uma unidade organizada na metrópole e preparada em conjunto numa única unidade mobilizadora. Apenas havia sido determinada a constituição de um Comando de Batalhão e respetiva CCS, com destino a Moçambique. Na antevéspera do embarque teve-se conhecimento da mudança de destino, a Guiné. Embarcam no Niassa em 17 de Julho de 1963, com as Companhias de Artilharia 494, 495 e 496, e o BCAV n.º 490 com as suas companhias 487, 488 e 489. Chegados a Bissau, logo se descobriu a falta de instalações com o mínimo de condições para alojar o pessoal, viveram um pouco aos baldões até que em 26 de Agosto seguiram para Buba. Houvera entretanto alterações no dispositivo militar, resultante da divisão de zona Sul, então na totalidade incluída na zona de ação do BCAÇ n.º 237. Dera-se a designação de Setor E, e a partir de Janeiro de 1965 passou a ser designado por Setor S2, com sede em Buba e abrangendo os subsetores de Buba, Cacine, Aldeia Formosa e mais tarde ainda os novos subsetores de Gadamael, Sangonhá e Guileje. O BCAÇ n.º 513 foi constituído na Guiné com a incorporação das três referidas Companhias de Artilharia, estava em Buba a CCAÇ n.º 411, houve também reforços com um Pelotão de Reconhecimento de Cavalaria, um Pelotão FOX. Recorde-se que o comandante da CART n.º 494 era o então Capitão Alexandre Coutinho e Lima, protagonista cimeiro da retirada de Guileje, em Maio de 1973. O Comando ficou em Buba, uma companhia partiu para Cacine, outra para a Aldeia Formosa, outra para Ganjola, no setor de Catió, onde se instalou provisoriamente.
E escreve-se na história do batalhão:  
“O facto mais grave foi o enfrentar logo no início de comissão a falta de instalações, muitas delas completamente destruídas, outras não possuindo mais que palhotas. As tropas viveram sempre nas piores condições imagináveis. Tiveram de construir paliçadas, abrigos para as armas e para o pessoal, que progressivamente foi necessário transformar em abrigos à prova de morteiro, pistas para a aviões a fim de não se ficar sujeito à única ligação mensal pelo barco dos reabastecimentos”.
E somos informados do inimigo existente, dispunha-se em três importantes zonas de concentração: a região de Incassol, nas margens do rio Corubal (Gã Gregório), a região de Forreá nas margens do rio Cumbijã e a região de Cacine na orla marítima (Campeane). Era tida como zona isenta de atividade inimiga a região da Aldeia Formosa – Contabane.

Era fundamental trabalhar na recuperação do “Chão Fula”. E escreve-se:  
“O regresso das populações às tabancas abandonadas só foi possível colocando um destacamento militar avançado na direção mais perigosa (Colibuia). O mesmo será necessário fazer quando se progredir na direção de Guileje, instalando nesta localidade um novo destacamento. Este sistema de dispersão de efetivos só seria possível desde que houvesse uma força móvel capaz de acorrer prontamente a qualquer ponto atacado. Por essa razão se manteve em Aldeia Formosa o pelotão FOX”. Era igualmente reconhecimento como imperativo paralisar o trânsito na fronteira Sul da Guiné. A tentativa de perfuração da CART n.º 496 em direção a Campeane não funcionou. Toda a região está bastante comprometida pelos terroristas e a progressão das tropas necessita sempre de apoio aéreo e de apoio terrestre dado por autometralhadoras”.

E o relatório elenca o que foi a recuperação do Chão Fula. O autor enquadra a situação:
“Junto à fronteira Sul e tendo como fulcro a tabanca da Aldeia Formosa (Quebo) uma vasta região encontrava-se habitada quase exclusivamente por povos de raça Fula tendo um importante chefe religioso, Cherno Rachide. Abrangendo os regulados de Contabane, Forriá e Guileje, corresponde a uma extensão de fronteira de mais de 40 quilómetros. Iniciada em princípios de 1963 a ação de grupos armados do PAIGC, sem que esses povos de raça Fula se tivessem deixado subverter na fase anterior de aliciamento, foram imediatamente atacados e expulsos das tabancas situadas nas linhas de infiltração escolhidas para passagens de pessoal e material, em especial no corredor de Guileje – Mejo – Nhacobá – Buba – Fulacunda. Atacada, incendiada e saqueada a tabanca de Salancaur Fula, onde se encontrava o régulo de Guileje, espalhou-se o pânico entre todos os povos desse regulado, fugindo uns para a República da Guiné, outros para Bedanda e ainda outros para Contabane e Aldeia Formosa. A tabanca do Mejo e outras próximas viriam também mais tarde a ser incendiadas e destruídas. Todas as casas de construção europeia pertencentes a comerciantes de Salancaur Cul e Bantel Silá foram destruídas. Em Maio de 1963 era chacinado em Samenau um sobrinho de Cherno Rachide e Cumbijã era atacada, ficando completamente incendiada e destruída. Assim avançou o IN na destruição das tabancas que lhe opunham dificuldades a caminho de Buba”.

O autor releva a ação de um pelotão da CCAÇ 41 e um pelotão de Reconhecimento de Cavalaria, Pelotão FOX, que foi incutindo respeito ao IN e dando confiança às populações. Nesse tempo os guerrilheiros ainda não dispunham de minas anticarro embora fizessem largo uso de fornilhos, que tinham pouco sucesso, porque eram comandados à distância. A viragem da situação ocorre com a instalação da CART n.º 495 em Aldeia Formosa, seguindo-se a instalação de um destacamento em Colibuia, em Outubro de 1963. Em Dezembro desse ano iniciou-se a preparação para a recuperação de Cumbijã. Em 4 de Fevereiro de 1964, uma enorme coluna auto, encabeçada pelo Pelotão FOX 888 e um grupo de combate da CART 495 procedeu à reocupação de Guileje. Tropas e população começaram do zero a ocupação de um dos mais importantes locais da fronteira Sul, sobre o ponto de vista militar. No mês seguinte começou a construção de um aquartelamento em Mejo e com a sua ocupação estavam criadas as condições necessárias para atingir Salancaur Fula e efetuar a ligação com Cumbijã através de Nhacobá e Samenau, completando-se a reinstalação dos povos Fulas das tabancas que tinham sido forçados a abandonar.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21099: Notas de leitura (1290): “Amílcar Cabral, Vida e morte de um revolucionário africano”, por Julião Soares Sousa; edição revista, corrigida e aumentada, edição de autor, 2016 (5) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19944: (D)o outro lado combate (51): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - II (e última) Parte (Jorge Araújo)



Guiné-Bissau > Bissau > A antiga rua dr. Oliveira Salazar,  hoje Rua Guerra Mendes, 60 anos depois... Fotograma de um vídeo publicitário, da empresa Revita - Estética e Massagem , disponível no portal www.dailymotion.com (com a devida vénia...)


Guiné > Bissau > s/d [ c. 1960] > Rua Dr. Oliveira Salazar [, hoje Rua Guerra Mendes]. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 135". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL).

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).




Mapa da região de Antuane (Quinara), com indicação dos nomes das tabancas referidas nos documentos consultados. Sinaliza-se, ainda, o local onde o Cmdt Guerra Mendes morreu [Bulel Samba].




Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue; 


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > A MORTE DE 'GUERRA MENDES' EM BULEL SAMBA [S2-BUBA], A 14FEV1965, NA OPERAÇÃO "GIRA", UM ANO DEPOIS DE TER SUBSTITUÍDO RUI DJASSI (FAINCAM) NO COMANDO DA "ZONA 8" (QUINARA) POR DECISÃO DO I CONGRESSO DO PAIGC:  "HERÓI DA PÁTRIA", TEM HOJE NOME DE RUA EM BISSAU

II (e Última) Parte





1. INTRODUÇÃO

Com este segundo fragmento, damos por concluída a resenha sócio-histórica sobre o contexto
operacional que esteve na origem da morte do Cmdt da "Zona 8", 'Guerra Mendes' [nome de guerra de Jaime Silva], verificada em 14 de Fevereiro de 1965, em Bulel Samba [mapa acima]. Esta ocorrência, da qual fizemos referência em narrativa anterior – P19917 – verificou-se dois anos após o início do conflito e um ano depois de ter sido nomeado substituto do Cmdt Rui Demba Djassi «Faincam», em decisão tomada durante o I Congresso do PAIGC, por desconhecimento do paradeiro deste último.


2.  ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E MILITAR SOBRE A MANOBRA EXECUTADA PELAS NT NA REGIÃO DE QUINARA EM 1964/1965

A execução da actividade operacional desenvolvida pelas NT na região em análise foi determinada pelo Comandante Militar do CTIG, à data o Brigadeiro Fernando Louro de Sousa, incluída na Directiva de Operações n.º 1/64, de 7 de Fevereiro, atribuindo essa missão ao BCAÇ 619 [unidade mobilizada pelo RI 1, da Amadora, tendo desembarcado em Bissau a 15 de Janeiro de 1964], sob o comando do TCor Inf Narsélio Fernandes Matias. De referir que após render o BCAÇ 356, em 17Jan64, aquele passou a assumir a responsabilidade pelo Sector F designado, a partir de 11Jan65, por Sector «S3», com sede em Catió, o qual abrangia os subsectores de Empada, Bedanda e Cabedú.

Os objectivos gerais da manobra eram:

1 - Intensificar a actividade de todos os Sectores por acções de patrulhamentos, nomadizações, golpes de mão e emboscadas em vista a:

(i) - Manter o controlo dos principais itinerários necessários aos reabastecimentos e à ligação entre os comandos das unidades vizinhas.

(ii) - Limitar ou impedir a liberdade de movimentos dos grupos IN.

(iii) - Detectar e aniquilar os grupos IN que se revelem nos sectores.

2 - Em ligação com o BCAÇ 513 [unidade mobilizada pelo RI 7, de Leiria, tendo desembarcado em Bissau a 22 de Julho de 1963, sendo apenas constituído por Comando e CCS], sob a liderança do TCor Inf Luís Gonçalves Carneiro, assegurar o controlo da região de Antuane - Chacoal - Bantael Sila - Queuel Lei. [Recorda-se que esta Unidade tinha assumido, anteriormente, a responsabilidade plena pelo Sector E, designado, a partir de 11Jan65, por Sector «S2», com sede em Buba, o qual abrangia os subsectores de Buba, Cacine, Aldeia Formosa e, mais tarde, os novos subsectores de Gadamael, criado em 19Dez63; Sangonhá, criado em 06Jun64 e Guileje, criado em 25Nov64].

3 - Manter o controlo dos principais itinerários do sector em especial os de:

(i) - Catió - Batambali Beafada;

(ii) - Empada - Batambali Beafada - Buba (limite do sector);

(iii) - Bedanda - Guileje (limite do sector);

(iv) - Cabedú - Bedanda.


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Moranças Balantas. Foto do álbum do camarada João Martins, ex-alf mil art, BAC1 (1967/1969), com a devida vénia [P9947].



2.1.  SUBSÍDIO HISTÓRICO SOBRE A MANOBRA DAS NT NA REGIÃO DE ANTUANE DE 21 DE JANEIRO A 15 DE FEVEREIRO DE 1965


Na sequência da reformulação de responsabilidades determinada pela nova "geografia de intervenção", iniciada em 11 de Janeiro de 1965, com a criação dos Sectores «S3-Catió» e «S2-Buba», houve a necessidade de recorrer à mobilização de mais efectivos operacionais de reforço da Unidade de quadrícula, no caso o BCAÇ 513, de modo a cumprirem-se os objectivos definidos na execução da manobra referida no ponto anterior, já que contemplavam diferentes acções: prolongadas e dispersas.

Para a execução da presente manobra, as principais escolhas recaíram nos efectivos da CCAÇ 594 e CCAV 702, já com antecedentes operacionais na região, como provam os exemplos que seleccionámos da historiografia de cada uma delas, desde a sua chegada ao CTIG até à execução desta missão.

1 – Companhia de Caçadores 594 [CCAÇ 594]

Esta Unidade foi mobilizada pelo RI 15, de Tomar, tendo desembarcado em Bissau a 03 de Dezembro de 1963, sob o comando do Cap Inf Mário Jaime Calderon Cerqueira Rocha.

Seguiu, depois, para Mansabá, onde assumiu a responsabilidade pelo subsector a 23Dez63, substituindo a CCAÇ 461.

Realizou operações, entre outras, nas regiões de Uália e Mamboncó.

Em 12Set64, foi rendida no subsector de Mansabá pela CCAÇ 642, sendo deslocada para Bissau, e integrada no dispositivo do BCAÇ 600.

Em 09Jan65, foi substituída pela CCAÇ 557 e deslocada para Buba, para intervenção e reserva do BCAÇ 513 e, posteriormente do BCAÇ 600 e, mais tarde, do BCAÇ 1861, com intervenção nas áreas de Bantael Silá e Chinchim Dárin, entre outras.

2 – Companhia de Cavalaria 702 [CCAV 702]

Esta Unidade, a primeira do BCAV 705, que era comandada pelo TCor Cav Manuel Maria Pereira Coutinho Correia de Freitas, foi mobilizada pelo RC 7, de Lisboa, tendo desembarcado em Bissau a 24 de Julho de 1964, sob o comando do Cap Cav Fernando Luís Franco da Silva Ataíde.

Em função da intervenção como reserva do Comando-Chefe, com a sua base em Bissau, as três Unidades do BCAV 705 [CCAV 702, 703 e 704], cumpriram o seu treino operacional no sector de Buba, sob a orientação do BCAÇ 507, sendo utilizadas em diversas operações, nomeadamente nas regiões do Cantanhez e do Morés-Óio.

A CCAV 702, para além das operações referidas acima, foi atribuída como reforço do BCAÇ 513, para intervenção na sua área de acção, entre 15 a 17Dez64, na região de Injassane e de 21 a 28Dez64, na região de Unal, após o que recolheu a Bolama.

Entretanto, de 16Jan a 19Fev65, foi novamente atribuída em reforço do BCAÇ 513, para operações na região de Buba, de que é exemplo a presente manobra, recolhendo, de novo, a Bolama.


2.2. FACTOS MAIS RELEVANTES SOBRE A MANOBRA DAS NT NA REGIÃO DE ANTUANE DE 21 DE JANEIRO A 15 DE FEVEREIRO DE 1965

O início da manobra em análise teve lugar em 21 de Janeiro de 1965, 5.ª feira, com a «Operação Garrote», na qual participaram as forças da CCAÇ 594, CCAV 702 e PRecFox 888. No decurso desta missão as NT detectaram duas emboscadas em Galo Bolola, das quais resultaram a morte de uma sentinela e o ferimento em outra, sendo capturada uma carabina, cartuchos e material diverso. As NT assinalaram e destruíram um acampamento com capacidade para quarenta elementos, tendo sido apreendidas duas granadas de mão, restos de medicamentos e algumas munições.

Em 29 e 30 de Janeiro de 1965, 6.ª e sábado, realizou-se a «Operação Papaia», em que intervieram as mesmas forças da operação anterior, reforçadas com a CART 494, do Cap Art Alexandre da Costa Coutinho e Lima. No primeiro dia da missão foi destruída parte da tabanca de Unal e derrubado um acampamento a norte de Bricama com 5 casas.

As NT foram flageladas pelos guerrilheiros, tendo-lhes causado dois mortos. Foi, ainda, levantada uma macar "TMH-46" na estrada Nhacobá - Cumbijã, junto a Galo Cumbijã. No segundo dia, forças da CCAÇ 594 destruíram um acampamento entre Teque e Bricama, próximo de Sambasó. O IN flagelou as NT, causando três feridos. Foi destruído um acampamento em Unal, tendo as NT surpreendido três elementos, dos quais um morreu.

Em 5 de Fevereiro de 1965, 6.ª feira, teve lugar a «Operação Toupeira» em que estiveram envolvidas as forças da CCAÇ 594, CCAV 702 e do Pel Rec Fox 888. O IN emboscou as NT na estrada Galo Bolola - Bantael Silá, causando-lhes 1 ferido. Foram capturadas uma granada de mão e diversas munições. Os guerrilheiros lançaram fogo ao capim, retardando a progressão das NT para Darsalame.

O IN voltou a flagelar na área de Cancasso, tendo causado um ferido e sofrido um morto. As NT destruíram a tabanca de Cancasso e grande quantidade de arroz e apreenderam cartuchos de diversos calibres, granadas de não defensivas, medicamentos e outro material diverso. (p313)


Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC.", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44096 (2019-5), com a devida vénia.



2.2.1. FACTOS MAIS RELEVANTES DA «OPERAÇÃO GIRA», NA REGIÃO DE ANTUANE EM 13 E 14FEV65, DATA DA MORTE DE GUERRA MENDES

A última missão prevista na manobra em análise decorreu em 13 e 14 de Fevereiro de 1965, sábado e domingo, com a participação da CCAÇ 594, CCAV 702, Pel RecFox 888, ou seja, as mesmas da acção anterior, reforçadas com a CCS/BCAÇ 513 e Pel Mort 979, instalado em Buba, a qual foi baptizada de «Operação Gira».

No decurso desta acção, foram destruídos acampamentos em Umbaná, Bulel Samba e três tabancas situadas para leste desta. O IN ofereceu resistência causando um morto às NT [o soldado radiotelegrafista Albino António Tavares, do PMort 979, solteiro, natural de Cardigos - Mação. Foi sepultado em Bissau; campa 1402], tendo sofrido três mortos confirmados. Foi-lhe capturado material diverso, entre o qual granadas de mão defensivas, carregadores e munições.

Sobre os factos acima narrados, em particular as três baixas no seio do PAIGC, onde se inclui a do Cmdt 'Guerra Mendes', é 'Nino' Vieira (1939-2009) que o confirma em carta por si dirigida a Aristides Pereira (1923-2011), datada de 16Fev65, ou seja, dois dias após a ocorrência, conforme se dá conta no texto abaixo colocado no interior da caixa a vermelho.





Entretanto, no decurso desta acção, o IN emboscou as NT a sul de Darsalame, fazendo um ferido e consentindo mais cinco baixas. As NT destruíram um acampamento de grandes dimensões a norte de Darsalame e as tabancas de Dalael Balanta e Bantael Silá. Aqui as NT foram flageladas pelo fogo IN, que teve mais uma baixa, tendo sido capturado material diverso e munições. Também abriu fogo durante a travessia do rio Insane pelas NT.

Na reacção desencadeada pelas NT, com apoio aéreo, o IN retirou com mais dez baixas confirmadas, sendo-lhe capturada uma metralhadora ligeira, um espingarda, uma pistola-metralhadora, uma pistola, quatro "longas" e diverso material de guerra. Nesta operação foi, ainda, destruída grande quantidade de arroz e abatido gado. (p. 314)

3. AINDA A CARTA ENVIADA DE SALANCAUR EM 16FEV1965 - DE NINO VIEIRA PARA ARISTIDES PEREIRA, DANDO CONTA DE UMA OFENSIVA DAS NT [OPERAÇÃO GIRA]

Caro camarada Aristides Pereira

[…] Por infelicidade n/ [nossa] perdemos o n/ [nosso] camarada Guerra Mendes, Infaly e Isnaba Naberiaguebandé. Estes camaradas foram mortos pelas tropas que avançavam por Bulel Samba. [H]ouve também 3 dos n/ [nossos] camaradas que ficaram feridos: Imbaná Sambú, Bien Naína e Beínha Natchandi.

Nestas três tabancas, as tropas destruíram uma grande quantidade de arroz e casas do povo. Espero no entanto que me dessem a vossa opinião no que respeita à pessoa capaz de seguir imediatamente para Quinara, a fim de ocupar o lugar do Guerra Mendes. Quanto a mim proponho "Saco" [nome de guerra de Mário Camará] ou Arafam [Mané?]. Se estes não servem é favor de arranjarem um responsável vindo do Norte. [Recorda-se, neste contexto, que foram estes dois elementos do PAIGC que elaboraram e assinaram o comunicado relacionado com a «Operação Alvor», levada a efeito na península de Gampará e referida em postes anteriores, a propósito da morte do Cmdt Rui Djassi «Faincam», em 24 de Abril de 1964].

Claro que proponho estes 2 camaradas porque não tenho cá alguém capaz de tomar essa responsabilidade sem serem eles. […]


3.1 - A RESPOSTA DE ARISTIDES PEREIRA RELACIONADA COM A MORTE DE GUERRA MENDES E A SUA SUBSTITUIÇÃO


Conacri, 28 de Fevereiro de 1965

Caro camarada Nino,

Recebemos a tua carta de 16 do corrente [Fev1965], tendo que lamentar a perda dos camaradas, nomeadamente do responsável Guerra Mendes [Jaime Silva]. Infelizmente a nossa luta tem de ser assim, mas lamentamos ainda mais quando temos perdas desse género devido a erros nossos. Por exemplo, há quanto tempo vimos dizendo ao camarada Guerra para deixar Antuane e seguir para o seu posto – Quinara!... Sugerimos mesmo suprimir a base de Antuane, mas tudo debalde, até chegar a esse puro azar, visto ter sido resultado de bombardeamento. Enfim, importa é que tiremos sempre lições, amargas sim, de casos como este e que suportemos as responsabilidades que sempre aumentam quando faltam-nos um elemento como este infeliz camarada responsável.

Em relação a um camarada a enviar para Quinara, achamos que dos nomes que propões, qualquer dos camaradas parecem capazes de dar conta do recado. Assim, tu é que podes melhor ver o que mais convém. No entanto, se o Secretário-Geral tiver qualquer modificação a fazer, dir-to-emos depois. Assim, talvez mandares um dos camaradas Seco ou Arafan, mas a título provisório, para confirmar depois. […]

Saúde e bom trabalho. Saudações, as melhores do camarada de sempre, Aristides.



Citação: (1965), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35310 (2019-5), com a devida vénia.

Fonte: Casa Comum; Fundação Mário Soares. Pasta: 04618.082.032. Assunto: Lamenta a perda dos camaradas, nomeadamente do responsável Guerra Mendes. Remetente: Aristides Pereira. Destinatário: Nino Vieira. Data: Domingo, 28 de Fevereiro de 1965. Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência dactilografada (de Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral para os Responsáveis da Zona Sul e Leste). Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.

4. 'GUERRA MENDES' [JAIME SILVA] – HERÓI DA PÁTRIA

Hoje, o nome de Guerra Mendes [Jaime Silva], enquanto Herói da Pátria Guineense, faz parte da toponímia de "Bissau-Antigo", cuja localização se indica nos dois mapas abaixo.



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Fontes consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002); pp 313-314.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); p 113.


Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

28Jun2019
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Nota do editor:

Último poste da série >  25 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19918: (D)o outro lado do combate (51): a morte de Jaime Silva ("Guerra Mendes"), na versão de Bobo Keita

Vd. também:

25 de Junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19917: (D)o outro lado combate (50): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - Parte I (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P19943: (Ex)citações (353): Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 1 de Julho de 2019, com uma achega à circunstância da morte de Guerra Mendes:

Citação: (1963-1973), "Jaime Silva (Guerra Mendes)", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43473 (2019-4), com a devida vénia.


Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC

Os ventos semeados pela História transformaram a Guiné em filial do inferno, os combatentes (dos dois campos) em seus diabos, mas as suas tempestades sobraram para o Povo bissau-guineense… 

A carta de Nino Vieira à sua hierarquia contém a evidência que levou o Jorge Araújo, no seu labor, a comunicar que o Comandante Guerra Mendes morreu em 14 de Fevereiro de 1965, na região de Buba/Antuane, no decurso da “Operação Gira”, manobrada pela CCav 702, o Pel Rec Fox 888, o Pel Mort 979 e a CCS do BCaç 513.

Naquele tempo e durante um ano, o BCav 705, aquartelado no Forte da Amura, esteve de reserva às ordens do Comando-Chefe, que investiu a valente malta da sua CCav 702 nessa operação, enquanto investia a sua CCav 703 a nomadizar em Cufar e, durante 65 dias, dormimos no chão, alimentámo-nos de rações de combate e andámos aos tiros com o Saturnino Costa, o Nino Vieira e a sua malta.

Se a memória não me engana (já lá vão mais de 50 anos!), em 10 e 11 de Abril desse ano, nós, a CCav 703 andámos de intervenção naquela região, na “Operação Faena”, em interacção com os Comandos "Os Fantasmas", o Destacamento de Fuzileiros 7, a CCaç 594, o Pel Rec Fox 888 e o Grupo de Milícia do João Bacar, com o apoio duma parelha de aviões de combate T6.

Nesta operação passámos 48 horas, “non stop” ou H24, como diz a malta da Força Aérea, num inferno de tiros e rebentamentos com os endiabrados Nino Vieira, Quebo Mané e a sua malta.

O Pelotão de Reconhecimento Fox 888 operava com a auto-metralhadora Fox “Simone” (de Oliveira) e com o granadeiro Whait e, em conversa com a sua malta, tenho a ideia que tinham abatido o Guerra Mendes (filho) e, duas horas depois, o Guerra Mendes (pai), que tentou vingar a morte do filho com uma granada em cada mão. Ou foi nessa operação ou na anterior.

Bobo Quetá diz que ele(s) eram de Bissau e como ele e o Nino Vieira não cultivavam o rigor pela verdade dos factos, perfilho a versão daquela malta, fã da “Simone”…
___________

Notas do editor

Vd. poste de 25 de Junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19917: (D)o outro lado combate (50): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - Parte I (Jorge Araújo)

Último poste da série de2 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19736: (Ex)citações (352): In illo tempore, o Alferes José Cravidão, no CISMI de Tavira (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

terça-feira, 25 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19917: (D)o outro lado combate (50): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - Parte I (Jorge Araújo)


Citação: (1963-1973), "Jaime Silva (Guerra Mendes)", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43473 (2019-4), com a devida vénia.




Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue; 


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE: A  MORTE DE 'GUERRA MENDES' EM BULEL SAMBA [S2-BUBA], A 14FEV1965, NA OPERAÇÃO "GIRA", UM ANO DEPOIS DE TER SUBSTITUÍDO RUI DJASSI (FAINCAM) NO COMANDO DA "ZONA 8" (QUINARA) POR DECISÃO DO I CONGRESSO DO PAIGC : "HERÓI DA PÁTRIA", TEM HOJE NOME DE RUA EM BISSAU  (Parte I)


1. INTRODUÇÃO

Depois de nas últimas narrativas ter percorrido "um pedaço do inferno", como foi o caso do Xime (*), local de muitas memórias para a vida daqueles que lá viveram durante as diferentes épocas ou períodos, regresso, de novo, à actividade operacional desenvolvida na região de Quínara, no ano de 1965, recuperando alguns acontecimentos que fazem parte da historiografia da Guerra, com recurso, uma vez mais, às informações obtidas "(d)o outro lado do combate", e da sua triangulação com os documentos "oficiais" das NT.

Como o título acima sugere, o presente texto, que será dividido em duas partes, terá como objecto de análise, o aprofundamento do contexto sócio-histórico que originou a morte do Cmdt da "Zona 8", Guerra Mendes [nome de guerra de Jaime Silva], ocorrida em 14 de Fevereiro de 1965, em Bulel Samba [S2-Buba], dois anos depois do início do conflito e um ano após ter substituído Rui Demba Djassi «Faincam», morto em 24 de Abril de 1964 na península de Gampará [P19532 e P19536], durante a «Operação Alvor». (**)


2. SUBSÍDIO HISTÓRICO DAS ACÇÕES DE 'GUERRA MENDES' APÓS SUBSTITUIR RUI DJASSI NO COMANDO DA ZONA 8 (QUINARA)  (***)


Nomeado na reunião de quadros do PAIGC (I Congresso) realizada em Cassacá, em Fevereiro de 1964, como novo responsável pela Zona 8 (região de Quinara) [P19433], em substituição do anterior Cmdt Rui Djassi (Faincam) (1937-1964), "Guerra Mendes" viria a tombar na área da sua intervenção, a 14 de Fevereiro de 1965, domingo, exactamente um ano após ter assumido esse cargo, no decurso da «Operação Gira», na qual participaram as seguintes unidades: CCaç 594, CCav 702, Pel Rec Fox 888, CCS/BCaç 513 e Pel Mort 979.

O modo como esta operação se desenrolou será abordado na Parte II.

Considerando o período em que decorreu o desempenho da sua missão, os subsídios históricos considerados para a elaboração desta narrativa são exclusivamente os que constam no espólio documental de Amílcar Cabral (1924-1973), existentes na Fundação Mário Soares,  disponíveis no portak Casa Comum, em particular a correspondência trocada entre si e alguns dos seus responsáveis directos.


Citação: (1963-1973), "Reunião de responsáveis do PAIGC com a população", CasaComum.org Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43984 (2019-4), com a devida vénia.


2.1. A PRIMEIRA CARTA - [JAN1965] ENVIADA DE ANTUANE: DE GUERRA MENDES PARA LUÍS CABRAL, DANDO CONTA DA ACTIVIDADE DESENVOLVIDA EM ANTUANE

Exmo. Camarada Luís Cabral

Em primeiro de tudo,  estimo que esta carta lhe vá encontrar em bom estado de saúde, ao lado da sua família.

Eu por cá vou indo bem de saúde,  enfrentando somente grande dificuldade que é para o bem do nosso povo.

Recebi as suas duas cartas a qual li e fiquei contente com a sua exposição e mormente com o meu estado em N'tuane [Antuane]. Por bem dizer posso-lhe afirmar que não me fixei em N'tuane [Antuane], ando por poda a parte da área que o Partido me incumbiu de controlar. Se estaciono em N'tuane [Antuane] é devido à análise da condição ou da decisão que os nossos inimigos tomaram a fim de fechar a linha de fronteira, e por essa razão a minha estadia em N'tuane [Antuane] é da possível necessidade a fim de dirigir camaradas.

Da minha estadia em Quínara que o Camarada Luís [Cabral] menciona, e que podia ficar descansado, porque tenho um camarada de grande confiança que é o Quemo Mané, e devido também os meios que já desenvolvi, tanto a politização da massa como bases novas que abri, tenho a certeza que tudo corre bem e há-de continuar. Mas contudo isso não passa um mês sem chegar lá, assim como a toda a parte que o Partido me ordenou de controlar.

Junto o portador agradecia enviar linhas de nylon e pilhas para fazer gerador eléctrico para instalar minas nos rios. Agradecia mandar-me oferecer jornais e livros de política.

Termino, esperando com toda a esperança o seu favor. Sou Guerra Mendes.

[Revisão / fixação de texto: JA]




2.1.1.  ORIGINAL DA PRIMEIRA CARTA






Citação: (s.d.), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34412 (2019-4), com a devida vénia.


Fonte: Casa Comum; Fundação Mário Soares. Pasta: 04613.065.092. Assunto: Explicações sobre o facto de permanecer em N'tuane. Estadia em Quinara; politização de massas e abertura de novas bases. Solicita material para um gerador eléctrico. Remetente: Guerra Mendes. Destinatário: Luís Cabral. Data: s/d. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.




Citação: (1963-1973), "Dois combatentes do PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43751 (2019-4), com a devida vénia.



2.2. A SEGUNDA CARTA - [09FEV1965] ENVIADA DE CONACRI:  DE ARISTIDES PEREIRA  PARA GUERRA MENDES SOLICITANDO A ESTE A SAÍDA DE ANTUANE, CINCO DIAS ANTES DA SUA MORTE

Caro Guerra [Mendes]

Saúde e bom trabalho.

Recebemos a tua carta [Jan65], mas continuamos a estranhar saber-te em Antuane, quando há tanto tempo contamos contigo em Quínara. Palavra que não compreendemos. Temos como indispensável a tua presença e o teu trabalho em Quínara. Esperamos que arrumes tudo aí, e que sigas o mais urgentemente para a tua área, a fim de efectuares o trabalho que te está determinado, e com o que contamos absolutamente.

Tomamos devida nota das notícias, mas torna-se necessário mais pormenores nelas.

Regressam os camaradas que vieram buscar medicamentos e artigos escolares. Levam o que é possível, conforme as notas de que são portadores.

Quanto à questão de Bolama que pões, assim como outro qualquer assunto militar ou político local, deves pô-lo ao 'Nino' [Vieira], e discutir com ele o melhor caminho a seguir. Deves, pois, pôr esses problemas ao 'Nino', para ele decidir.

Continuamos recebendo cartas tuas sem assinatura, o que não nos permite identificá-las. Chamamos a tua atenção para esse facto, que já se vem repetindo e que pode trazer prejuízos à identificação das cartas que vêm do interior.

A questão do comércio está sendo devidamente estudada e a nossa Secção encarregada desse assunto ocupa-se inteiramente do caso. Assim, podes estar descansado que tudo irá pelo melhor nesse campo. O encarregado do Depósito dos Armazéns do Povo nessa zona deve dirigir-se à sua sede e expor os problemas que há, pois tu tens que te mexer e ocupar de muitos outros assuntos, embora devas ajudar sempre na medida do possível.

Esperamos é que possamos receber dentro em breve as tuas notícias, mas vindas de Quínara, conforme dissemos acima.

Saudações de todos os camaradas, com votos de saúde e o melhor trabalho possível.

Abraço amigo do camarada, Aristides Pereira.

[Revisão / fixação de texto: JA]


2.2.1. ORIGINAL DA SEGUNDA CARTA





Citação: (1965), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35306 (2019-4), com a devida vénia.


Fonte: Casa Comum; Fundação Mário Soares. Pasta: 04618.082.030. Assunto: Instruções para sair de Antuane indispensável a sua (Guerra Mendes) presença e trabalho em Quinara. Remetente: Aristides Pereira. Destinatário: Guerra [Mendes]. Data: Terça, 9 de Fevereiro de 1965. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência dactilografada (Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral para os Responsáveis da Zona Sul e Leste). Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.





Mapa da região de Antuane, com indicação dos nomes das tabancas referidas nos documentos consultados. Sinaliza-se, ainda, o local onde o Cmdt Guerra Mendes morreu [Bulel Samba].



2.3. A TERCEIRA CARTA - [16FEV1965] ENVIADA DE SALANCAUR:  DE 'NINO' VIEIRA PARA ARISTIDES PEREIRA, DANDO CONTA DE UMA OFENSIVA DAS NT [OPERAÇÃO GIRA] E DA MORTE DE GUERRA MENDES E MAIS DOIS ELEMENTOS


Caro camarada Aristides Pereira

A continuação da vossa saúde, assim como a dos c/ [camaradas] são os m/ [meus] maiores desejos. Nós bons.

Tenho a informar-vos que no dia 13 e 14 [Fev65], as tropas portuguesas desencadearam uma grande ofensiva nas áreas de Antuane, donde eram apoiados de 2 aviões de caça e 2 de reconhecimento armado. Conseguiram avançar até Indaliel, Banta e Bulel Samba. Os n/ [nossos] camaradas conseguiram aguentar esse duro ataque de 48 horas, onde conseguiram pôr fora de combate dezenas de soldados inimigos, além de feridos. Como prova disso o helicóptero aterrou 3 vezes para transportar cadáveres e feridos.

Por infelicidade n/ [nossa] perdemos o n/ [nosso] camarada Guerra Mendes, Infaly e Isnaba Naberiaguebandé. Estes camaradas foram mortos pelas tropas que avançavam por Bulel Samba. [H]ouve também 3 dos n/ [nossos] camaradas que ficaram feridos: Imbaná Sambú, Bien Naína e Beínha Natchandi. […]

[Revisão / fixação de texto: JA]


2.3.1. ORIGINAL DA TERCEIRA CARTA




Citação: (1965), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39148 (2019-4), com a devida vénia.


Fonte: Casa Comum; Fundação Mário Soares. Pasta: 04613.065.078. Assunto: Informa sobre a ofensiva das forças portuguesas na área de Antuane, tendo avançado até Indaliel, Banta e Bulel Samba. Lista de combatentes mortos. Destruição de uma grande quantidade de arroz e casas. Solicita opinião sobre a substituição do Guerra [Mendes] em Quinara, propõe o Saco ou o Arafam. Remetente: Marga (Nino Vieira). Destinatário: Aristides Pereira. Data: Terça, 16 de Fevereiro de 1965. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos responsáveis da Zona Sul e Leste). Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.


[Continua…]

Nota:

Em função da extensão da presente narrativa, e como referido na introdução, darei conta na segunda parte do modo como decorreu a «Operação Gira», de que resultou a morte de 'Guerra Mendes' [Jaime Silva] e de mais alguns guerrilheiros.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

27Mai2019.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste  de 24 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19822: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: Os três acidentes na hidrografia guineense (IV e última Parte)


sábado, 27 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16423: Recortes de imprensa (80): Os "últimos tugas" de Bafatá: João e Célia Dinis, entrevistados pelo "Público", em 13/4/2013... O nosso camarada João Dinis, hoje empresário, vive na Guiné desde 1963. Pertenceu à CART 496 (Cacine e Cameconde, 1963/65)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > Outubro de 2015 >   A nossa amiga e grã-tabanqueira Adelaide Barata Carrelo com o João Dinis, empresário, antigo militar português, da CART 496 (Cacine e Cameconde, 1963/65), integrada no BCAÇ 513 (com sede em Buba). Vive na Guiné desde 1963.

Foto: © Adelaide Carrêlo (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 15h13 > O João Graça, médico e músico, fotografado com a Célia Dinis e o filho, Bruno, no seu estabelecimento (Restaurante Ponto de Encontro).  O Bruno virá a morrer mais tarde, devido a acidente de moto. O casal tem duas filhas, casadas, a viver em Portugal.


Em 5 de janeiro de 2015, o Patrício Ribeiro mandava-nos a seguinte mensagem, complementando a legenda da foto acima, bem como o texto do "Público", que reproduzimos abaixo:

"Luís e João, a cidade de Bafatá, está de acordo com as fotos do João, mas há algumas diferenças:
O filho do [João] Dinis e da Célia, o Bruno, infelizmente faleceu a aproximadamente 2 anos, por acidente de moto o que deixou os pais muito abalados, continua a morar em Bafatá, depois de alguns meses passados em Portugal.


Abastecimento de água á cidade: desde há mais de 3 anos, foram instaladas duas bombas solares, estão extrai 80 m3 de água diários, para a canalizações na parte alta da cidade, onde reside a maior parte da população. 

Neste momento estão a ser instaladas outras bombas solares, para mais 250 m3 diários, a partir destas novas bombas, a parte baixa da cidade [, a zona velha,.] também vai ter agua canalizada. Assim como [o bairro d]a Ponte Nova.


Estes trabalhos estão a ser financiados pela União Europeia, em parceria com a Cooperação Portuguesa. A coordenar os trabalhos está a ONG Portuguesa TESE, com o escritório em Bafatá.
A ONG Portuguesa FEC, há longos anos no ensino em Bafatá, reforçou a sua equipa, com apoio da Estado Português, com mais professores: neste momento moram em Bafatá, mais dezena de Portugueses nascidos em Portugal, a maioria são mulheres.

Tenho casa em Bafatá, que tem estado aberta a investigadores portugueses, que na zona fazem os seus estudos. Por vezes também lá passo algum tempo. Patrício Ribeiro."


Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: L.G]


1. Os "últimos tugas" de Bafatá > João e Célia Dinis: “Portugal era um atraso de vida em comparação com a Guiné”

(Excerto do "Público", de 13/4/2013)

Na casa de João e de Célia nunca faltava fruta enlatada, vinho Casal Garcia e pelo menos dez garrafas de whisky “do bom” para receber as visitas. Durante anos, puderam ter na Guiné-Bissau uma série de luxos que na chamada "metrópole" eram ainda uma miragem. Esses foram outros tempos. Hoje todos os gastos são controlados. Bebem vinho do mais barato e só comem bacalhau ou queijo quando algum amigo os visita. A vida obrigou-os a uma cambalhota do 80 para o oito, mas nem por isso deixam de falar com alegria, com um brilho nos olhos e esperança no futuro. A bola é para chutar para a frente e apesar de Célia ter 58 anos e João 71, não duvidam que ainda vão conseguir marcar golo.

João e Célia Dinis são dos portugueses que há mais tempo vivem na Guiné, chegaram numa altura em que “tudo era bonito, não havia falta de trabalho e tinham uma vida mais que boa”. João foi o primeiro. Chegou em 1963 como militar. Gostou tanto que ficou e já como funcionário da administração do porto de Bissau acenou aos colegas da Companhia 496, Batalhão 513, que viu partir num navio. “Não troque os números, são muito importantes para se algum amigo dessa altura me quiser telefonar”, pede ao PÚBLICO.

Só voltaria a Portugal em Setembro de 1971. “Estava há nove anos sozinho e ia com o objectivo de casar, mas não podia ficar muito tempo. Tinha de resolver o problema rapidamente e graças a Deus consegui”. Conheceu Célia num baile e meteu logo conversa. “Ó menina, não se importa que a gente vá bailar um bocadinho? Mas olhe que eu vivo em África há muitos anos, já não sei bem dançar as músicas de cá...”, perguntou-lhe. A resposta foi afirmativa. Casaram no dia 9 de Janeiro e dia 20 vieram juntos para a Guiné. Célia tinha 18 anos e Dinis 31.

Nessa altura, tudo lhes corria bem. Dinis era dono de duas escolas de condução e, alguns anos mais tarde, Célia decidiu abrir o restaurante Ponto de Encontro, que mantém até hoje em Bafatá (no centro-norte do país). “Era uma cidade espectacular, estava tudo pintadinho, arranjadinho. Se vissem esta avenida e aquela ali em baixo. Lindas, lindas. As pessoas juntavam-se para fazer piqueniques, remo, ir ao cinema. E as lojas? Tinhas de entrar só para ver, mesmo que não comprasses. Era uma coisa que atraía. Portugal era um atraso de vida em comparação com a Guiné”, descreve Célia.

O Ponto de Encontro servia mais de 70 almoços por dia e Célia chegou a ter de pedir aos tropas para tomarem conta da filha enquanto despachava o mais depressa possível os almoços. Não tinha mãos a medir. Agora há dias em que não faz cinco mil francos CFA (7,50 euros). De 17 empregados passou para dois e mesmo assim queixa-se que a receita não cobre as despesas. Podiam-se ter ido embora depois do 25 de Abril de 1974. Chegaram a vender tudo, mas os guineenses não os deixaram partir: "Não, não se vão embora porque ninguém vos vai fazer mal. Vocês também não fizeram mal a ninguém.”

“Se eu tenho ido depois da independência, era um senhor em Portugal. O meu cunhado ainda me disse para montarmos uma escola de condução, se eu o tenho ouvido... Teria muito mais dinheiro, mas não tinha esta terra”, projecta Dinis. É um apaixonado pela Guiné. Quando ia a Portugal de férias, não queria ficar mais de 15 dias, “chegava para ver a família”. “Só desejava voltar àquelas pessoas que me conheciam e, do mais pequeno ao maior, me chamavam pelo nome. Nem sequer consigo dizer o que menos gosto neste país porque gosto de tudo. Até das faltas, fomo-nos habituando a elas”.

Foi depois de 1974 que tudo piorou. Durante dez anos ainda viveram bem mas, pouco a pouco, as coisas começaram a escassear. Primeiro faltaram o queijo, as batatas e os chocolates. Até que acabou tudo. “Foi um processo: apetecia-me beber uma garrafa de vinho Casal Garcia e não havia, mas ainda se podia comprar Dão. Quando o Dão acabou, tínhamos o Pias...”, recorda Dinis.

Às vezes perguntam-lhe como consegue viver assim. Ri-se e responde: “Tu também cá estarias se tivesses vivido o que eu vivi. Tínhamos uma vida mesmo bonita. Luz 24 horas por dia, boas estradas, tudo limpo. Onde é que os portugueses comiam pêra enlatada? A nossa bebida era whisky com água das pedras, a cerveja era só para acompanhar as ostras e os camarões”.

A Guerra Civil, em 1998, foi o golpe fatal para a Guiné: “Foi desde aí que deixámos de viver como portugueses na Guiné e passámos a ter condições de vida semelhantes à de um guineense: a ter de carregar água, andar a pé...”, conta Célia.

Apesar do Ponto de Encontro estar quase sempre vazio e dos poucos alunos da escola de condução demorarem mais de dois anos a pagar (a carta custa menos de 150 euros), apesar de dizer que agora já estava na altura de voltar a Portugal, não é isso que Dinis sente. Quando fala das suas dezenas de projectos, quando diz que as coisas vão melhorar – e di-lo muitas vezes como se a sua vida pudesse durar o dobro da do comum dos mortais –, a Guiné é sempre o palco principal da sua felicidade.

As saudades das duas filhas são mesmo o que mais pesa a Célia e Dinis. Há oito anos que não as vêem e há netos que ainda nem conhecem. Mas já lá vai o tempo em que uma viagem a Portugal custava cinco mil francos CFA e a família se juntava toda para passar as férias grandes.

Custas-lhes terem trabalhado a vida toda e não terem nada. “Nem cá nem lá”. Entregaram-se à Guiné e é a ela que pertencem. Por isso, sempre que pensam regressar perguntam “para fazer o quê". “Tenho direito à reforma porque fui militar e funcionário público de Bissau, mas na altura que a porta estava aberta não pude ir a Lisboa e agora está fechada a cadeado. Lá as pessoas vivem lado a lado, mas não se conhecem. Aqui sou o professor, dou cartas de condução desde 1968, ensinei pessoas que já morreram”, gaba-se Dinis.

Célia também tem medo do regresso mas confessa já estar cansada de levar a casa e o restaurante às costas. “Dizem que Portugal está mau mas para nós é um mundo de rosas. Não há dinheiro, é verdade, mas aqui também não há. Lá não se compra mais, compra-se menos, mas não sentes saudades de comer. Abres a torneira e tomas banho de chuveiro. E aquelas auto-estradas todas direitinhas? É uma alegria”, diz num português que já mistura com sotaque crioulo.

Por agora, só têm uma solução: aguentar. “Ando há muitos anos com a palavra esperança na ponta da língua mas ainda não a encontrei. Penso vir a ter uma vida boa na Guiné. Hoje não temos, não saímos de Bafatá há anos. Mas se calhar ainda vamos conseguir ter um carrinho melhor para ir a Bissau dar o nosso passeio. Dançamos, ao toque da música. Se a música saltar, também saltamos. E bem alto”, deseja Dinis.


Fonte: Sofia da Palama Rodrigues > Guiné: entre o paraíso e as saudades de Portugal > Público, 13/04/2013 - 08:02 (Excerto reproduzido com a devida vénia)

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P16010 Recortes de imprensa (80): João Paulo Diniz (,que vai estar mais logo no Jornal da Meia Noite, da SIC Notícias, para relembrar o seu papel no 25 de abril): "As minhas melhores amizades são do tempo da Guiné, quando fui locutor do PFA - Programa das Forças Armadas, em Bissau, em 1970/72" (Excerto de entrevista, DN -Diário de Notícias, 30/8/2015)

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15217: História de vida (42): Clube dos Octogenários - Narrativa de 80 anos de vida (Coutinho e Lima)

1. Mensagem do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), com data de 17 de Setembro de 2015:

Caro Amigo Carlos Vinhal
Junto envio o texto em epígrafe, no qual relato a minha vida, com relevo para a vida militar e dou algumas informações relativas ao próximo livro que comecei a escrever.

Um Abraço Amigo
Coutinho e Lima

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CLUBE DOS OCTOGENÁRIOS

Narrativa de 80 anos de vida

Ao entrar, por direito próprio, no Clube dos Octogenários, entendi fazer o que agora se designa como “narrativa” dos meus 80 anos de vida. É o que se segue.

Nome: Alexandre da Costa Coutinho e Lima
Nascimento: 21 de Setembro de 1935
Local: Freguesia de Vila Fria – Concelho de Viana do Castelo
Instrução Primária: 4 Classes, na Escola Primária de Vila Fria
Ensino Secundário: 5 anos no Liceu Nacional de Viana do Castelo 6.º e 7.º anos, no Liceu Camões, em Lisboa


Vida militar, postos, colocações e funções

Escola do Exército – 1953/56 
- 53/54 – Curso Geral Preparatório, no Aquartelamento da Amadora

- 54/56 – Curso de Artilharia, em Gomes Freire


Tirocínio para Oficial – 56/57 – na Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas.
Tive o privilégio de ter, como Comandante da Bateria de Instrução, o Sr. Capitão de Art.ª ERNESTO PASSOS RAMOS, um dos mais prestigiados Oficiais do Exército Português. Foi barbaramente assassinado pelo PAIGC (era Major), juntamente com outros Oficiais, em Abril de 1970, na região de Pelundo/Jolmete – Guiné.


Alferes e Tenente – 1957/61

- Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 – Serra do Pilar – V. N. de Gaia.

Durante este período, frequentei:
- Curso de Observador Aéreo de Art.ª na EPA e Base Aérea 3 – Tancos .
- Curso de Instrutor de Educação Física Militar, no CMEFED (Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos), em Mafra.


Capitão – 1961/70 

- Regimento de Artilharia Ligeira n.º 2 – Coimbra

- CMEFED

- CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné) – 1.ª Comissão – 63/65
Comandante da CART (Companhia de Artilharia) n.º 494 - Gadamael

- CMEFED

- CTIG – 2.ª Comissão - 68/70
Adjunto da Repartição de Operações do Comando-Chefe - Bissau

- Academia Militar


Major – 1970/76 

- Academia Militar

- CTIG – 3.ª Comissão (72/74)
Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama - Director de Instrução
Comandante do Comando Operacional n.º 5 (COP 5) – Guileje
Bissau - Prisão Preventiva (MAI 73/MAI 74), como consequência da Retirada de Guileje

- Estado Maior do Exército – 5.ª Repartição

- Quartel General da 3.ª Divisão – Santa Margarida – Chefe de Estado Maior (CEM)

- Academia Militar – Gabinete de Estudos

- Escola de Artilharia dos Estados Unidos da América – Fort Sill, Oklahoma
Curso Avançado de Artilharia – Field Artillery Officer Advanced Course (2-76)


Tenente Coronel - 1977/82 

- Academia Militar

- Comando da Área Ibero-Atlântica (COMIBERLANT) – Oficial de Pessoal e Segurança (JUL 77/NOV 80)

- Quartel General da Região Militar dos Açores (QG/ZMA) - CEM

- Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea e Costa (CIAAC) – 2.º Comandante


Coronel – 1982/89

 - Direcção do Serviço de Educação Física do Exército (DSEFE) – Inspector

- QG/ZMA – CEM

- DSEFE – Inspector

Passagem à situação de Reserva – 1 de Setembro de 1989

Passagem à situação de Reforma – 1 de Setembro de 1995


Desempenho de funções não militares

- Director de Segurança do Metropolitano de Lisboa – 1989/1997

- Presidente da Direcção da Casa do Minho em Lisboa – 1988/89; 1992/93

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Depois desta descrição, penso que posso concluir que tive, durante 80 anos, uma vida militar muito variada e intensa, tendo aprendido sempre em todas as situações e circunstâncias.

Nas actividades, em tempo de paz, saliento as dedicadas à Educação Física: Curso de Instrutores no CMEFED (58), onde fui Instrutor em 62/63 e 65/68; mais tarde prestei serviço na DSEFE, antes e depois de ter sido, com o Posto de Coronel, CEM do Q/ZMA; na DSEFE desempenhei a função de Inspector.

Na guerra, têm especial relevância as 3 Comissões, por imposição, na Guiné, nas quais conheci os 3 Comandantes-Chefes: Senhores Generais ARNALDO SCHULZ, ANTÓNIO DE SPÍNOLA e BETTENCOURT RODRIGUES.  Por esta razão, tive oportunidade de verificar a evolução da guerra: no que respeita o IN, desde o baptismo de fogo, em 17 SET 63 (primeiro dia da CART 494, que eu comandava, em Ganjola – Norte de Catió) – 1.ª Comissão, até ao ataque em força a Guileje (3.ª Comissão), no período de 18/22 MAI 73, onde eu era o Comandante do COP 5.

Relativamente à actividade operacional, na 1.ª Comissão, a CART 494 (integrada no BCAÇ 513 – sede em Buba), ocupou a localidade de Gadamael (com um destacamento em Ganturé), materializando no terreno a Missão atribuída ao Batalhão, pelo Sr. Comandante-Chefe, Sr. General Arnaldo Schulz, de ocupar a fronteira Sul com a Rep. da Guiné Conacri. As outras posições ocupadas pelas NT foram Guileje, Sangonhá (com um destacamento em Cacoca) e Cameconde - destacamento da Companhia com sede em Cacine.

Na 2.ª Comissão, como Adjunto da Repartição de Operações do Comando-Chefe, em Bissau, (era Comandante-Chefe o Sr. General Spínola), tive oportunidade de viver a outra face da guerra, esta muito mais confortável.

Na 3.ª Comissão, (ainda era Comando-Chefe o Sr. General Spínola) com o posto de Major, comecei por ser Director de Instrução do Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama e a seguir Comandante do COP 5, em Guileje; em 22 MAI 73, decidi retirar desta localidade todos os militares, milícias e população, por ter considerado, face à negação de reforços, solicitada ao Comando-Chefe, conjugada com a intensa e constante pressão do IN (37 flagelações em 80 horas), a posição insustentável.

Como consequência, foi ordenada a minha prisão preventiva, com a instauração de um auto de corpo de delito.

Sobre este assunto escrevi o livro “A Retirada de Guileje”.

Presentemente, estou a escrever um 2.º livro (ainda na fase inicial), cujo título será “As minhas 3 Comissões, por imposição, na Guiné”.

Relativamente à 3.ª Comissão, não faz nenhum sentido e não o farei, repetir o que consta no livro já publicado. Nestas condições, é minha intenção:

- incluir no próximo livro, cópia da “Acta da Reunião de Comandos realizada em 15 de Maio de 1973, no Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, em Bissau” ; é um documento da maior importância, que será objecto de dois comentários: um sobre o seu conteúdo geral; outro analisando a decisão da retirada de Guileje, face ao que consta, na referida acta, das declarações de alguns dos participantes, nomeadamente o Sr. Comandante Adjunto Operacional e os Senhores Chefes das Repartições de Informações e Operações;

- publicar as críticas, positivas ou negativas, que chegaram ao meu conhecimento, sobre “A Retirada de Guileje”; das críticas negativas, algumas muito contundentes, destaco as de 4 Senhores Oficiais da Força Aérea (todos Pilotos Aviadores): 3 Oficiais Generais e 1 Tenente Coronel;

- solicitar, a todos os militares que estavam em Guileje, no período de 18/22 MAI 73, uma opinião sobre a decisão de retirar de Guileje, se assim o entenderem.

Importa referir que, destes militares, apenas um apresentou no nosso blogue, uma crítica, muito severa, sobre este assunto – Soldado Constantino Costa; embora eu lhe tenha respondido, a opinião deste militar perde toda a credibilidade, ao afirmar que os relatórios de operações da Companhia eram todos iguais (qualquer que fosse a missão), apenas mudava a data e que, depois do 25 de Abril (na sua designação 25 A), fora eleito representante dos Oficiais, Sargentos e Praças da Companhia, junto da estrutura do MFA na Guiné; tais afirmações, como terei oportunidade de provar, são puras mentiras.

Aproveito esta oportunidade para sugerir aos componentes da nossa Tabanca Grande, se assim o entenderem, que me façam chegar a sua opinião sobre a decisão que tomei de retirar de Guileje, para serem incluídas no meu próximo livro.

Alexandre da Costa Coutinho e Lima
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15197: História de vida (41): Regressei a 6/11/1968 e casei-me a 29/6/1969, com uma das minhas madrinhas de guerra...Soube pelo padre que a tropa me tinha dado como morto... (Mário Gaspar,ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

sábado, 22 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3499: Controvérsias (10): Vi em 1961 chegarem, a Bissau, as primeiras tropas equipadas com a espingarda automática G3 (Mário Dias)




Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > O Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, da CCAÇ 84, com o capacete na mão, e o seu camarada e amigo Maximino, de G3 ao ombro (*).

Foto: © Alberto Nascimento (2008) Direitos reservados


A G3, espingarda automática, de calibre 7,62 mm,de origem alemã, começou a aparecer na Guiné em meados de 1961... Com punho e fuste de madeira.


1. Resposta do Mário Dias a um pedido de esclarecimento do editor, Luís Graça, sobre a G3 e o início da sua introdução no TO da Guiné (vd. ponto 2).

Comandante Luís:

Mais uma vez me fazes "descalçar as tamancas e largar a ronceirice de gato enroscado no borralho" para responder às tuas dúvidas e lançar alguma luz sobre questões levantadas na nossa Tabanca Grande. Sobre elas recordo o seguinte:

I- Em 1959, ano em que "fui às sortes", ainda não havia "G3" na Guiné. Era a velha Mauser.

II- Vi as "G3" pela primeira vez a uma (duas?) companhia(s) que em 1961 chegou(chegaram) à Guiné,  constituindo a segunda vaga de reforço de tropas. Também duas companhias da Caçadores especiais que para lá foram em 1962 já iam armadas de "G3".

A primeira a ser enviada para a Guiné, ainda em 1959 no seguimento dos acontecimentos de Pidjiguiti, foi uma companhia mobilizada e pertencente ao Batalhão de Caçadores 5 (Campolide) cujo comandante era o capitão Ressano Garcia. Ainda iam armados com Mauser.

III- De facto os primeiros actos de guerra foram em 1961 na área de S. Domingos e Varela feitos pela FLING, organização cuja existência o PAIGC procura ignorar. Era precisamente a referida Companhia de Caçadores 5 que aí se encontrava e aguentou os ataques.

Quanto aos acontecimentos de Guidaje relatados pelo Alberto Nascimento (*) não me recordo deles nem me lembro de os ouvir comentar em Bissau onde tudo se ia sabendo, tal como aconteceu no caso de S. Domingos. Talvez por não ter chegado a haver "troca de tiros" entre os "beligerantes" conforme julgo entender da descrição feita. É possível que algo me tenha escapado pois nessa altura, 1961, já tinha passado à peluda e estava a trabalhar no Sindicato.

A controvérsia gerada sobre a data da utilização da "G3" na Guiné deve-se ao entendimento que alguns têm de, tendo essa arma começado a ser fabricada em Braço de Prata apenas em 1963, então só a partir dessa altura ela esteve disponível. Nada disso, pois as primeiras G3 que equiparam o exército foram cedidas (vendidas?) pela Alemanha e sobretudo pela Espanha e tinham a coronha e o guarda-mão de madeira ao contrário das fabricadas em Portugal que passaram a ser de material plástico. Alguns se lembrarão certamente de ver as primeiras a que me refiro.

Espero ter contribuído para o esclarecimento desta questão da "G3" e continuo à disposição para clarificar dúvidas que estejam ao meu alcance.

Um abraço para todos os "moradores da tabanca".

Mário Dias


2. Pedido de esclarecimento enviado anteriormente ao Mário Dias, pelo editor do blogue L.G.:

Mário:

Eu sei que queres que te deixem em paz, nas tuas tamanquinhas, à lareira, a curtir a tua musiquinha... Mas acontece que tu és o pai de nós (como dizem ainda hoje alguns guineenses, a nosso respeito, a respeito de nós, tugas...). Tu és o pai da velhice, uma testemunha privilegiada dos acontecimentos político-militares na Guiné entre 1959 e 1966... Na nossa Tabanca Grande tens o estatuto de Homem Grande, de mauro, de sábio, de marabu... Se fosses fula, tratava-te por Cherno (tio), Cherno Mário Dias...

É por isso que, de vez em quando, eu venho pedir-te dois cêntimos para este peditório: refiro-me às nossas blogarias, esta conversa mole e amigável, que vamos mantendo entre antigos camaradas de armas, que querem esclarecer (e esclarecer-se sobre) alguns aspectos da nossa história, a pequena e a grande...

Hoje as questões que eu te ponho, meu caro Cherno Mário Dias, são as seguintes:

(i) No teu curso de sargentos milicianos, em 1959, ainda não tinhas obviamente a G3, mas sim eventualmente a Mauser; certo ?

(ii) Em que data é conheceste a G3, menina que tu, de resto, nunca trocarias pela Kalash; (Publicámos um excelente poste teu, sobre as qualidades e as virtudes da menina G3):

(iii) Tens conhecimento de escaramuças, na região do Cacheu (Guidage) ou no Óio (Farim), em meados de 1961 ? O nosso amigo e camarada Alberto Nascimento, soldado condutor auto da CCAÇ 84 (1961/63), foi em coluna, a Farim, nesse mês e ano, a partir de Bissau, para socorrer os comerciantes e população de Guidaje... E já levava a G3, como testemunham inequivocamente as fotos que publicámos...

É um testemunho precioso que nos obriga a contestar a ficção do PAIGC que estabeleceu a data do ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963, como a data oficial do início da luta de libertação, se bem que a fundação do PAIGC (ou melhor, do PAI) seja de 1956...

As escaramuças de que eu já tinha ouvido falar, em 1961, eram as do chão dos felupes, em São Domingos e Varela, ligadas a gente da FLING... Confirmas ?

Para terminar: Sabes mais alguma coisa que queiras partilhar com os teus amigos e camaradas da Guiné ? E, já agora, por onde andavas em 1961 ? Sei que em 1960 andavas a dar instrução militar como 1º cabo miliciano...

Sei que és um homem de palavra, que medes as palavras, e que detestas as luzes da ribalta. Mas já em tempos tive que discordar de ti, quando me pediste discrição em relação à história do Domingos Ramos, alegando que os mais fantáticos do PAIGC nunca entenderiam o estranho comportamento dos dois amigos inimgos (tu e ele)...

Cito o qu então escrevi:

"Estou em total desacordo contigo neste ponto: acho que tens a 'obrigação' (histórica, moral…) de divulgar este momento (raro, se não único…) em que dois antigos camaradas e amigos se encontram, de armas na mão, em campos opostos... Esta história é fabulosa e diz muito dos grandes seres humanos (e dos grandes profissionais) que vocês eram (e tu continuas a ser, agora 'paisano')…


"Não creio que os 'fanáticos' do PAIGC ou dos teus 'comandos' saibam entender estas coisas da grandeza da alma... Que faria o Domingos Ramos, se fosse vivo ? Morreria com este segredo ? Eu acho que esta história já não te pertence mais, desde o momento em que a partilhas comigo ou com outros amigos… Fazia-te bem divulgá-la… Mas eu respeito inteiramente a tua decisão"...

Felizmente, tu reconsideraste, de imediato, a tua posiçáo, e eu tive a o privilégio de publicar, em 2 de Fevereiro de 2006, na I Série do nosso blogue, uma das histórias mais fantásticas e bonitas que eu já ouvi sobre a amizade entre homens, e que tocou muitos dos nossos amigo e camaradas da Guiné.

Um Alfa Bravo, querido Mário.
Luis

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)

21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim, em Julho de 1961, com a G3, com o 1º Gr Comb da CCAÇ 84 (Alberto Nacimento)


(**) Sobre a G3, Hedder & Koch G3 ou HK G3 > Vd. Wikipédia

A G3 (em alemão: Gewehr 3, Espingarda 3) é uma espingarda automática fabricada pela Heckler & Koch (daí ser também conhecida por HK G3) e adoptada como a espingarda de serviço pela Bundeswehr (Exército Alemão) em 1959 (e até 2001), e depois por outros exércitos, nomeadamente dos países da NATO.

A G3 é tipicamente um espingarda, de calibre 7,62 mm, capaz de fogo semi-automático ou totalmente automático. Pode ainda ser anexada uma baioneta à G3. Foi desenvolvida pelos engenheiros da Mauser. A versão original da G3 era com punho e fuste de madeira.


Do mesmo fabricante é a HK 21, a metralhadoras em calibre 7,62, igualmente usada pelas NT nos TO da Guiné, Angola e Moçambique.

Face à Guerra do Ultramar, no incío dos anos 60, e ao embargo de armas imposto a Portugal pelo Governo Kenedy, uma nova arma. Por causa do embargo dos Estados Unidos, na época do Kenedy, a escolha acabou por cair num outro país da NATO, a Alemanha, disposto em transferir a tecnologia para a fabricação da arma em Portugal, neste caso para a Fábrica de Braço de Prata.

Quando chegou a África, em comparação com as antigas armas ligeiras das forças armadas a G3 era vista como extremamente sofisticada. Tratava-se de uma arma automática, que podia disparar rapidamente uma considerável quantidade de munição.

Foi necessário bastante treino de forma que a tropa se habituasse a entender que a posição normal da arma deveria ser a posição tiro-a-tiro, porque do ponto de vista operacional, gastar rapidamente a munição no meio do mato, seria um problema.

Em 1965, já o número de espingardas automáticas G3 tinha ultrapassado as 150.000 nas forças armadas, e mesmo assim, ainda existiam em funcionamento 15.000 espingardas automáticas FN, fornecidas de emergência pelo exército alemão, antes da introdução da G3.

17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)

27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2485: O nosso armamento no princípio da guerra: G-3, FN, Uzi (Santos Oliveira)

(...) Notas de L.G.:

(...) "Sobre armamento usado pelo Exército Português no início da guerra colonial / guerra do ultramar, vd. sítio do Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra:

(...) "Para acorrer às necessidades imediatas, a RFA [República Federal Alemã] prontificou-se a ceder, dos seus stocks, 15 000 espingardas FN usadas, sem restrições de emprego, que deveriam ser devolvidas depois de beneficiadas e à medida que fossem fabricadas as G-3. De facto, foram recebidas 14 867 FN por esta via, mas quanto à devolução, parece não ter havido pressa, porquanto, em 1965, havia já cerca de 140 000 G-3 de fabrico nacional e estas FN continuavam em Portugal.

"Ainda quanto às espingardas FN, foram também adquiridas directamente à fábrica, ou através de outros utilizadores (África do Sul). Mais concretamente, dado o carácter de urgência, houve um lote de armas cedido por este país dos seus próprios stocks, posteriormente repostos pela fábrica belga. No total seriam fornecidas cerca de 12 500 destas armas.

"Antes da adopção da G-3, a distribuição prevista de armas automáticas era a de FN para Moçambique e de G-3 para Angola, mas problemas políticos levaram a que, em certo período, a G-3 fosse mantida “fora de vistas” nesta última. O total de armas adquiridas, antes do fabrico nacional, foi de 8000 G-3, 12 500 FN belgas e de 14 500 FN alemãs, repartidas pela metrópole, Guiné, Angola, Moçambique e Timor.

"A produção julgada necessária em Junho de 1961 era de 105 000 armas, sendo 75 000 para a metrópole e 30 000 para o ultramar. O conceito inicial era de manter na metrópole o número de armas destinadas à instrução e ter em depósito as necessárias para equipar as unidades mobilizadas, mas o futuro se encarregaria de inverter esta distribuição. É curioso notar que só por despacho de 18/9/65 do CEMGFA a G-3 foi considerada 'arma regulamentar'. (...)
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