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quinta-feira, 9 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23339: Recortes de imprensa (123): Bubaque: alterações climáticas e educação ambiental (Excertos de reportagem de Carla Tomás, Expresso, 18 de abril de 2019, com a devida vénia...)




Guiné-Bissau > Região de Bolama-Bijagós > Ilhas de Bubaque e Rubane > 11-13 de dezembro de 2009 > Recantos, encantos e... armadilhas. Fotos do álbum de João Graça, médico e músico.

Fotos: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Cartaz do V Congresso Internacional de ed Educação Ambiental. Cortesia da página da ASPEA - Associação Portuguesa de Educação Ambiental.


1. Com a devida vénia à autora, a jornalista Carla Tomás, e ao editor, o semanário Expresso, tomamos a liberdade de reproduzir aqui alguns excertos de uma extensa e interessante reportagem sobre Bubaque, no coração do arquipélapo dos Bijagós, realizada aquando do V Congresso Internacional de Educação Ambiental.Crise Ecológica e Migrações: Leituras e Respostas da Educação Ambiental (Bijagós, 14.18 deabril de 2019).

A reportagem completa (incluindo as fotos da jornalista) pode ser vista, na íntegra aqui:

https://expresso.pt/sociedade/2019-04-18-Em-Bubaque-nos-Bijagos-pensa-se-como-a-educacao-ambiental-pode-ajudar-a-enfrentar-as-alteracoes-climaticas


Em Bubaque, nos Bijagós, pensa-se como a educação ambiental
 pode ajudar a enfrentar as alterações climáticas

Expresso > 18 de abril de 2019 20:04
Carla Tomás, jornalista


Num dos locais do planeta mais ameaçados pela subida do nível do mar e por fenómenos extremos, debate-se “ a crise climática e as migrações”. Mais de quatrocentas pessoas de quatro continentes trocaram experiências e saberes.

Manhã cedo ainda se sente o cheiro das fogueiras onde o lixo foi queimado ou ainda arde. Restos de plástico, pilhas e outros resíduos que não tenham sido limpos pelos abutres que pousam nos telhados, ou pelos cães, porcos ou cabras que andam pelas ruas, acabam incinerados ao lado das casas de adobe e telhado de zinco. Em redor das fogueiras veem-se crianças de roupas gastas e sujas a brincar sem a mínima noção das dioxinas que respiram.
 
Riem-se entusiasmadas com a enchente de gente de fora que inundou a ilha, Bubaque, capital do arquipélago das Bijagós, localizado a hora e meia de Bissau em lancha rápida ou a quatro horas numa espécie de ferry.

Entre 14 e 18 de abril, a pequena cidade de pouco mais de quatro mil habitantes recebeu o maior evento da CPLP organizado pela sociedade civil. Durante quatro dias, cerca de 416 pessoas — originárias de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e da Galiza — debateram “a crise ecológica e as migrações”, no quinto Congresso Internacional de Educação Ambiental, co-organizado, este ano, pela delegação guineense da Rede Lusófona e pela Associação Portuguesa de Educação Ambiental (Aspea).

(...) O arquipélago dos Bijagós e a costa ocidental da Guiné correm sérios riscos de ficar submersos com a acelerada subida do nível do mar. Esta “é uma ameaça muito relevante para a Guiné-Bissau”, confirma Meio Dia Có, técnico do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) perante uma plateia oriunda de quatro continentes que quer saber mais sobre estas ilhas. Sentados nas velhas secretárias de madeira do liceu de Bubaque trocam saberes e experiências.

(...) A memória recente do ciclone Idai, que devastou a Beira em Moçambique, serve de alerta face à urgência de agir na proteção do ambiente e de preparar ou adaptar os países mais vulneráveis face às ameaças que sobre eles pairam, lembram vários dos intervenientes. (...)

(...) A Guiné é um dos 10 países mais vulneráveis às alterações climáticas. Em Bubaque, uma das 21 ilhas povoadas deste arquipélago que resultou da subida de um delta, a erosão costeira já se faz sentir. Com a maré alta a areia quase desaparece das praias e os mangais (ecossistemas que servem de berçário a muitas espécies, de proteção costeira e também de sumidouros de CO2) já refletem a pressão.

Como se as divindades animista por que se regem já os tivessem advertido dos perigos que espreitam, nas ilhas mais isoladas, como Canhabaque ou Orango, as tabancas (aldeias) ficam distantes das praias, algumas a uma hora de distância a pé.

(...) A intrusão salina já começa a afetar os recursos aquíferos e os arrozais. As chuvas tendem a chegar cada vez mais tarde e em menor quantidade e a seca faz-se sentir afetando as hortas comunitárias. O que ainda melhor resiste são as palmeiras de cujo fruto, o chabéu, fazem vinho ou óleo de palma ou de cujas folhas, casca ou ramos fazem materiais para construção.

(...) “A gestão do espaço e dos recursos do arquipélago sempre foi feita pelo povo bijagó seguindo as regras transmitidas oralmente pelos anciães”, conta Meio Dia perante a plateia atenta. “Ser bijagó significa passar pela escola do mato e a comunidade participa na gestão do território e os régulos de cada tabanca transmitem as regras aos que nelas vivem”. Em algumas ilhas estabelecem-se “tabus”, ou regras mais restritas, para impedir a construção de novos resorts turísticos, o crescimento da agricultura intensiva ou a sobrepesca.

“Estes países africanos estão entre os mais vulneráveis. E se não se adaptarem rapidamente, muitas mais pessoas vão morrer”, alerta Luísa Schmidt, Investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e membro do conselho científico do congresso, reforçando que “a educação ambiental na escola pode ajudar na transformação”. (...)

(...) Mas aqui não se fala só de alterações climáticas. Investigadores, professores ou membros de organizações não governamentais assim como técnicos de entidades públicas ou até de empresas privadas apresentam os projetos que estão a desenvolver nos seus países ou em cooperação. Brígida Brito, investigadora na Universidade Autónoma,  explica como um projeto desenvolvido junto de uma comunidade de tartarugueiros de São Tomé e Príncipe conseguiu converter o seu modo de sustento. levando-os a parar de matar tartarugas e a passar a utilizar corno de cabra para fazer os objetos de artesanato que vendem a turistas.(...)

(...) Nesta ilha, onde não há água potável, nem saneamento básico, nem tratamento e recolha adequada de lixo, um guineense fica incrédulo quando Sofia Quaresma e Paula Sobral, da Associação Portuguesa de Lixo Marinho, explicam que o flagelo da poluição de plástico não se fica pelo que é visível, mas que é muito maior se pensarmos nos microplásticos ou nanoplásticos que resultam da degradação dos plásticos no mar ou das microfibras das roupas sintéticas que lavamos.

Durante os dias do congresso não se vê muito lixo pelo chão, nem nas praias dos hotéis. Em alguns pontos surgem amontoados, prontos para a fogueira. Um jovem da associação ambiental local Andorinha explica que recolhem alguns dos resíduos para diferentes fins: muitas garrafas de plástico e de vidro são reutilizadas por quem vai buscar água aos poços espalhados pelas ilhas ou por quem faz vinho ou óleo de palma, outras acabam compactadas e transformadas em blocos para construção. (...)

(...) Nesta troca de aprendizagens e de projetos novas ideias surgem. Janó Face Te, da associação de Jovens pela Produção do Ambiente, com sede em Bissau,  fica entusiasmado com a possibilidade de replicação do projeto da ONG portuguesa Educafrica, que promete levar luz elétrica a muitas aldeias que não a têm. Dirigido por Inês Rodrigues, uma professora em constante nomadismo profissional, o projeto iniciado em 2011 permite transformar uma simples garrafa de plástico numa lâmpada solar. (...)

Carla Tomás

[ Seleção / revisão e fixação de textos  para efeitos de publicação deste poste: LG ]

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23336: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXVII: O "meu" regresso à Guiné (3): Os Bijagós que muitos de nós nunca vimos - II (e última) Parte


Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Um guia, e, em vez de um grupo de combate, um grupo de excursionistas...


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > “E o que vês tu, marinheiro, lá desse mastro real”?..." Vejo paisagens de sonho e um país surreal"...


Foto nº 12 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 >  Mariscador... Não, não é uma pintura, é mesmo uma fotografia


Foto nº 13 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Um pequeno e frágil paraíso... Com menos 48 m2 (e 4 mil habitantes), mais de um terço fica inundado na maré-cheia..



Foto nº 14 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Um paraíso (ainda) para a vida selvagem... e com uma grande mancha florestal... 


Foto nº 15 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Ave marinha...


Foto nº 16 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Os bijagós têm sido apontados com uma das escalas do tráfico de droga internacionao... Bubaque é a ilha mais afetada, desde há mais de um século, pela presença dos europeus.. Chegou a ser colónia alemã! (*)


Foto nº 17 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > O turismo é das poucas atividades económicas da região de Bolama / Bijagós... Uma oportunidade e uma ameaça: a ilha não tem água potável, saneamento básico, recolha de lixo...  E os Bijagós são um dos dos 10 sítios mais vulneráveis do planeta...


Foto nº 18 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Ainda havia gado à solta... Mais recentemente tem havido denúncias de roubos... Os ladrões também gostam do paraíso..


Foto nº 19 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > "Para onde vamos?"... " Só sei que vamos... Para onde não sei!"...


Foto nº 20 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 >-Bissau > Bijagós > Adeus… Até ao meu Regresso

Fotos (e legendas) © Tiago Costa / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Joaquim Costa, ontem e hoje. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor do ensino secundário
(os últimos 20 anos em Gondomar.

Já saiu o seu livro de memórias (a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça. Setá apresnetado dia 11 de junho, sábado, na Tabanca dos Melros, em Fânzeres, Gomdomar (**).


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (***)

Parte XXVII - O "meu" regresso à Guiné (2): Os Bijagós, que muitos de nós nunca vimos - II (e última) Parte  (**)

A visita ao Arquipélago dos Bijagós (por interposta pessoa, o meu filho, Tiago Costa)  > Ano de 2008 > Num fim de semana de descanso na construção da ponte de S. Vicente (Ponte Europa)  (Vd. acima fotos, numeradas  de 10 a 20)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13132: Notas de leitura (590): Bubaque foi uma colónia alemã... antes da I Guerra Mundial (Luís Vaz)

(...) A ilha de Bubaque, com uma área de 48 km2, dezoito dos quais são pântanos alagados pelo oceano durante a maré alta, está situada no canto sudeste do arquipélago (...).

É a ilha mais afectada pela presença dos europeus, escolhida pelos colonizadores alemães antes da I Guerra Mundial e pelo Governo Português depois de 1920, como o centro principal das suas actividades no arquipélago. Os alemães construíram aqui uma fábrica para a extracção do óleo de palma (Elaeis guineensis); um porto para navios de pequena e média tonelagem na parte setentrional e uma quinta experimental em Etimbato.

Durante a ocupação colonial, que terminou em Agosto de 1974, Bubaque era o centro dos serviços administrativos de todo o arquipélago, com um administrador português residente e outros funcionários. Em 1952, a igreja católica, através de presença permanente de um missionário, e a missão protestante, começaram a sua acção na ilha. A construção de um pequeno hotel para turistas aumentou a presença dos europeus. A enorme praia de Bruce, situada na parte meridional, constitui uma atracção especial para os turistas e está ligada ao centro administrativo de Bubaque por uma estrada asfaltada desde 1976.

As comunicações com Bissau são possíveis através de pequenos aviões e barco. Todos os sábados à tarde chega um navio com capacidade para 200 passageiros e regressa a Bissau no dia seguinte. Mais hotéis e um grande aeroporto estão agora a ser construídos para desenvolver a capacidade turística da ilha.

O clima é do tipo subtropical, com chuvas abundantes, cuja precipitação média anual é de 1500 a 2000 mm, durante a estação das chuvas, de meados de Maio até meados de Novembro. A temperatura média é cerca de 33°C durante a estação seca e de 25°C durante a estação das chuvas, e a sua variação diária é muito ampla. À noite, sobretudo entre Dezembro e Fevereiro, a temperatura desce para 10°C ou mesmo 8°C e as pessoas têm de abrigar-se nas suas cabanas para se aquecerem.

A maior parte da ilha é coberta de palmeiras de óleo, cuja cultura foi desenvolvida pelos colonizadores alemães no princípio do século. A outra vegetação, do tipo floresta, inclui uma variedade de plantas da Região subtropical. As árvores de grande porte mais importantes, muitas vezes centros sagrados para as cerimónias religiosas, são os chamados poilões (Eriodendrum anfractuosum) e os embondeiros (Andansonia digitata). 

Nos arredores das tabancas, as árvores de fruto mais comuns são as mangueiras, os cajueiros, as laranjeiras, os limoeiros e as papaeiras. A caça, que se encontra nas outras ilhas (gazela, cabra-do-mato, hipopótamo, crocodilo), desapareceu da ilha de Bubaque. No entanto os macacos e os tecelões (Proceus cucullatus), tão perigosos para a agricultura, são ainda bastante numerosos.

Em Novembro de 1976, e ilha contava com 2172 habitantes (1054 dos quais eram homens e 1118 mulheres), cerca de 757, metade dos quais não bijagós, habitavam no centro de Bubaque e 1415 viviam nas doze tabancas da ilha (...)


Excerto do livro de Luigi Scantamburlo, trad. de Maria Fernanda, "Etnologia dos Bijagós da Ilha de Bubaque", Lisboa : Instituto de Investigação Científica Tropical ; Bissau : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 1991, 109 pp. Disponível, em texto integral, aqui.

terça-feira, 7 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23334: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXVI: O "meu" regresso à Guiné (2): Os Bijagós que muitos de nós nunca vimos - Parte I


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá >  Saltinho > 2008 >A engenharia (sendo o Tiago Costa o segundo da esquerda) bebendo umas cervejas no antigo "Clube de Oficiais no Saltinho"



Foto nº 2


Foto nº 2 A


Foto nº 2B

Fotos nº 2, 2A e 2B  > Guiné-Bissau > Região de Bafatá >  Saltinho > Rio Corubal > A engenharia foi a banhos nos rápidos do Saltinho 










Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor e adminsitrador escolar no  ensino secundário  (os últimos 20 anos em Gondomar

Já saiu o seu livro de memórias (a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça. Será apresentado dia 11 de junho, sábado, na Tabanca dos Melros, em Fânzeres, Gondomar (*).



Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (*)


Parte XXVI - O "meu" regresso à Guiné (2):  Os Bijagós, que muitos de nós nunca vimos - Parte I (**)



Enfim! Pontes e não mais muros, sejam eles de betão ou de arame farpado.

Mas só pontes não bastam, mais que tudo é preciso educação… paz, pão, habitação…Liberdade...

A Guiné entranhou-se de tal forma no nosso corpo que a tudo o que aí acontece os nossos sentidos reagem. Ansiamos mais que tudo por boas notícias, que infelizmente tardam a chegar.

Este poste  mostra as extraordinárias potencialidades deste país que teima em não encontrar o caminho da paz e do desenvolvimento. Meio século após a proclamação da independência as notícias que ainda chegam são de guerra. Não contra um inimigo externo, mas sim, inexplicavelmente, uma guerra fratricida sem fim.

Como já alguém disse (com muita propriedade) a Guiné não nos sai da cabeça... Extraordinário a quantidade de ONG criadas por ex combatentes na ajuda ao desenvolvimento desta terra, que se nos entranhou.

Eis a Guiné que muitos de nós nunca viu Ue de que chema imagens atrvavès do Tiago Costa, meu filho Tiago, engenheiro civil da Soares da Costa,  que esteve a a trabalhar na Soares da Costam na Guiné, de 2007 a 2009, na construção de uma ponte sobre o rio Cacheu, junto a S. Vicente, financiada pela União Europeia, a pomte



A visita ao Arquipélago dos Bijagós  (por intreposta pessoa, neste caso o Tiago Costa, meu filho) > Ano de 2008 > Num fim de semana de descanso na construção da ponte de S. Vicente (Ponte Europa) - Parte I




Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque >  2008 >  A mulher dos Bijagós: “O que dizem os teus olhos”?



Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 >  Dia de festa (creio que o carnaval)...“Manga de Ronco”!!


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque >  2008 > Em dia de festa a melhor indumentária...para impressionar as Bajudas!!!


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Não parece mas estamos na Guiné. Um resort numa das Ilhas paradisíacas dos Bijagós.


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Ainda há encantos destes...


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Aves marinhas...


Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Encantos de recantos...



Fotos (e legendas) © Tiago Costa / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23245: Agenda cultural (811): Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, 11 de junho de 2022, sábado, 11h00: Luís Graça apresenta o livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul"

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23259: Notas de leitura (1445): “Guiné-Bissau, aspetos da vida de um povo” por Eva Kipp; Editorial Inquérito, 1994 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Agosto de 2019:

Queridos amigos,
Uns dias passados na Biblioteca Nacional deram-me oportunidade para reler e confirmar o valor deste trabalho de Eva Kipp, uma holandesa que andou enfronhada em vários projetos de divulgação da cultura tradicional da Guiné. Sente-se à vista desarmada o seu deslumbramento pela cultura bijagó, nomeadamente nas vertentes da antropologia, etnografia e etnologia. Trata-se de uma revisitação, em 2011 publicou-se aqui no blogue uma recensão que saudava o trabalho de Eva Kipp, ele era e é bem merecedor de ser reeditado.

Um abraço do
Mário



Revisitar um belo texto etnográfico e etnológico, com fotografia ímpar:
“Guiné-Bissau, aspetos da vida de um povo” por Eva Kipp


Beja Santos

Em 2011, aqui se fez uma primeira menção ao livro de uma perita holandesa que colaborou com o Governo da Guiné-Bissau em vários projetos de divulgação da cultura da Guiné com publicação da Editorial Inquérito, 1994. Reler pode significar nova iluminação, desapontamento, descoberta de uma apreciação excessiva ou injusta. Confesso-vos que valeu a pena voltar ao livro de Eva Kipp: pela organização, pelo deslumbramento, pelas pistas que abre sobre a arte dos Bijagós, a sua religião, as suas pinturas murais, as suas práticas funerárias, a vivência da mulher guineense no trabalho.[1]

Quanto à arte dos Bijagós, diz a autora que segundo uma lenda Bijagó, a vida começou assim: Deus, o Criador, existiu sempre e, no início da vida, foi criada a primeira mulher – Orango, que era o mundo. Uma lenda que dá uma interpretação para o influente papel da mulher na sociedade Bijagó. A arte Bijagó está estritamente ligada à religião. A representação dos Irãs encontra especial relevo na escultura em madeira, a qual se alarga à representação de outras cenas da vida quotidiana e mesmo à produção de objetos de uso comum, caso de colheres ou bancos.

Uma religião que assenta nos Irãs e nos seus santuários. Os Irãs Grandes, chamados Irãs do Chão, são os mais poderosos da tabanca. Além de forma humana, eles são multiformes. O Irã Grande da tabanca de Entiorp, em Canhabaque, por exemplo, tem uma forma abstrata. Faz lembrar uma panela com a tampa decorada e envolvida num pano vermelho.

Em princípio, os Irãs Grandes devem estar na chamada “baloba dos defuntos”, que é o santuário das mulheres. Ficam depositados em casa dos régulos por motivos de segurança. Com o Irã Grande da tabanca é possível realizar muitas cerimónias pessoais, como para pedir que alguém tenha saúde ou sucesso no trabalho.

Não se pode falar de arte Bijagó sem relevar as suas pinturas murais. É sobretudo nas ilhas de Canhabaque, Bubaque e Formosa que existem pinturas murais em santuários e em casas. Na atualidade estas pinturas podem ser encontradas sobretudo nas balobas (santuários) e nelas retratam-se cenas do dia-a-dia da sociedade local. Assim, encontramos imagens de Irãs, feiticeiros, defuntos e animais.

O pequeno fanado é um acontecimento iniciático que tem uma profunda envolvente religiosa. Em cada período de seis ou sete anos, realiza-se nas ilhas dos Bijagós o fanado das raparigas. São cerimónias de iniciação em que participam raparigas de idade compreendida entre os 17 e os 25 anos. Essas raparigas são chamadas aos “defuntos”, pois nessa cerimónia vão receber a reencarnação do espírito de uma pessoa já falecida.

Continuando nos aspetos religiosos, Eva Kipp refere os djambacós ou curandeiros. São mediadores procurados por pessoas que precisam de conselho, possuem artes de vidência e poderes de curandeiro. Realizam cerimónias com conchas, orientam sacrifícios de animais; casos há em que os djambacós praticam a cartomancia ou prescrevem tratamentos para pessoas doentes.

Os aspetos da reencarnação são crença inabalável das sociedades animistas da Guiné-Bissau, pois as pessoas continuam, para além da morte, a participar na vida diária dos que permanecem vivos. Eva Kipp estende estas considerações de índole religiosa que abarcam, por exemplo, o funeral de um Homem Grande, o fanado, o Kussundé, que é dança tradicional de algumas etnias animistas, e não esquece o papel dos “mouros”, que são os sacerdotes muçulmanos. No Islamismo, a religião está no centro da organização social, e ela refere a mesquita, a peregrinação a Meca para a obtenção do título de El Hadj e o jejum por altura do Ramadão, tudo está presente na vida diária do crente muçulmano. Aliás, os mais novos são induzidos à aprendizagem dos versículos do Corão em escolas. Nessas escolas corânicas inicia-se a criança. A criança deverá fazer os dois níveis que compõem a escola corânica, ela memoriza, através da repetição cantada, os versículos e aprende a escrever os mesmos em curiosas tábuas. Os mouros mais famosos reúnem em si o filósofo, o conselheiro familiar e político, o curandeiro e a autoridade religiosa.

Na recensão aqui publicada em 2011 concluiu-se dizendo que se tratava de um livro de grande valor fotográfico e que bem merecia ser reeditado. Mantém-se o apelo, é evidente que tem continuado a investigação da sociedade dos Bijagós mas há aspetos essenciais inquestionáveis: na religiosidade, na arte, no papel do djambacó ou curandeiro, nas práticas funerárias, até no fanado.

Durante muito tempo correu a lenda de que a sociedade Bijagó era patriarcal, hoje sabe-se que não é assim, a despeito da mulher Bijagó ter um desempenho relevante e incomparável face às outras etnias. No quadro geral da mulher guineense no trabalho, quando a família é poligâmica, é a mulher mais velha a dona da casa, é ela que atribui, no dia anterior, a distribuição das tarefas pelas outras. Mas na sociedade bijagó é bem claro que a mulher não goza da submissão das mulheres das outras etnias, tem plena liberdade, por exemplo, de manifestar o desejo de divórcio, que exterioriza pondo os tarecos do marido à porta, é deste modo que se torna evidente no local a sua decisão.

Não se pode estudar a sociedade Bijagó sem dar atenção ao belíssimo trabalho de Eva Kipp. E ponto final.


Barco Bijagó: estatueta de Bubaque.
O Irã Grande da tabanca de Angura, em Canhabaque, rodeado de objetos sagrados. À esquerda está o Irã de Mão do régulo.
Em frente do Nan, o régulo da tabanca de Angura com o tridente numa mão e o Irã de Mão na outra.
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Notas do editor

[1] - Vd. poste de 7 DE JANEIRO DE 2011 > Guiné 63/74 - P7567: Notas de leitura (185): Guiné-Bissau, Aspectos da Vida de um Povo, de Eva Kipp (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 9 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23248: Notas de leitura (1444): "Histórias da História da Guiné-Bissau", por Manuel Grilo, obra financiada pela Fundação do BCP para o Comissariado-Geral da Guiné-Bissau da Expo 98, 1998 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22837: O meu sapatinho de Natal (18): Boas festas 2022: Patrício Ribeiro (Grupo de Bijagós com as suas tradições, Bubaque); Hélder Valério de Sousa; Tibério Borges; José Barros Rocha


Grupo de Bijagós, com as suas tradições, na Casa do Ambiente de Bubaque.

Cartão de boas festas enviado em 23/12/2021, 16:45.

Patrício Ribeiro
Impar Lda, Bissau

Há mais de 30 anos na Guiné-Bissau
impar_bissau@hotmail.com
https://www.imparenergia.com/

********************

Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72:

Meus caros e estimados Amigosbr > Desta vez não vos vou incomodar com as minhas evocações de recordações menos boas.
Escrevo, apenas e só, para formular os desejos de que, na medida do possível, tenham umas "Festas Felizes" e que o Novo Ano, que se avizinha, nos possa trazer a esperança de que se consiga viver estes tempos de vida que nos restam (sim, cada dia que passa estamos mais próximos da "partida") com a alegria dos nossos convívios, pois através deles revivemos e vivemos os tempos de juventude e que ajudaram a cimentar as nossas amizades.
Como uma "família", que também somos, temos os nossos períodos de harmonia, as nossas zangas, tal como nas famílias de sangue, mas temos o dever de valorizar o que é bom e ultrapassar o que pode ser incómodo, sempre, mas sempre, no respeito pelas opiniões e pontos de vista "dos outros".

Assim nos saibamos comportar.
Boas Festas

Abraços
Hélder Sousa


********************

Mensagem deixada no Formulário de Contacto do Blogger pelo nosso camarada Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726, Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72:

A toda a equipa deste Blogue, votos de Boas Festas de Feliz Natal e para que o ano que se aproxima venha com muita saúde.

Um abraço para todos
Cumprimentos,
Tibério Borges


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Mensagem deixada no Formulário de Contacto do Blogger pelo nosso camarada José Barros Rocha, ex-Alf Mil da CART 2410 - Os Dráculas, Guileje e Gadamael, 1968/70:

Aos Caríssimos Editores do Blogue (Luís Graça, Carlos Vinhal, Magalhães Ribeiro e Jorge Araújo), bem como a todos os Membros da Tabanca GRANDE:
Votos de um Feliz Natal - com muita saúde ! - e que o próximo ano nos permita o Reencontro.

A todos um grande Abraço de camaradagem e Amizade!
Cumprimentos,
José Rocha

______________

Nota do editor

Último poste da série > 23 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22834: O meu sapatinho de Natal (17): O meu Natal no mato em 1966 (José António Viegas, ex-Fur Mil)

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20888: Historiografia da presença portuguesa em África (206): Algumas curiosidades respigadas do Boletim Geral das Colónias (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Junho de 2019:

Queridos amigos,
Que grande surpresa, uma imagem do porto de Bambadinca, com mais de um século, o território desencravava-se, Calvet de Magalhães, Administrador de Bafatá, inaugurara a estrada de Bafatá até Bambadinca. É o limite da navegabilidade para barcos de transporte de mercadorias com algum calado, para cima do Geba estreito circulavam uns barquinhos à vela, de dimensão reduzida. É o porto da minha vida, quando diariamente patrulhava Mato de Cão sabia que era essencial manter aquela via aberta para o Leste, até Bambadinca chegavam as embarcações com os contingentes militares, mantimentos, armamento, munições, tudo o que era indispensável para dar continuação à guerra, transportavam-se civis e também o coconote e a mancarra. Quando visitei em 2010 a Guiné, o porto desapareceu completamente, restavam umas chapas de ferro.
Pareceu-me bem interessante este artigo sobre as madeiras da Guiné, os conhecimentos evoluíram muito depois, o engenheiro Xavier da Fonseca olhava para o cajueiro não pela riqueza que hoje dá mas pela madeira e pela resina, não deixa de ser curioso.
A seguir iremos ver o que ele nos diz, noutro número do Boletim Geral das Colónias sobre a que se deve o êxito da cultura do amendoim na Guiné.

Um abraço do
Mário

O Porto de Bambadinca em 1917


Algumas curiosidades respigadas do Boletim Geral das Colónias (1)

Beja Santos

O Boletim Geral das Colónias surgiu na década de 1920, teve longa vida, veio a ser substituído pelo Boletim Geral do Ultramar. Era inequivocamente uma publicação oficial, de exaltação, formação e informação. Foi a percorrer um número de 1947, mês de janeiro, que encontrei um curiosíssimo artigo sobre as madeiras da Guiné assinado pelo Engenheiro Agrónomo Armando Xavier da Fonseca. Permitam-me que saliente alguns aspetos que reputo do maior interesse. Começa por dizer que “A Guiné foi a primeira colónia que forneceu madeiras para a construção das naus, e para a do velho Arsenal da Marinha”. Confessa ter tido dificuldades na classificação das madeiras, e discreteia sobre as que conhece. “Uma das árvores mais vulgares na Guiné é a alfarroba de lala, que dá uma madeira amarela lindíssima, e muito apreciada pela marcenaria. Há, que eu saiba seguramente, duas qualidades, uma de cor amarela mais clara e outra de cor amarela mais escura. Os Fulas chamam-lhe marroné. Outra árvore que é muito comum na Guiné é a que, em crioulo, é cognominada por pau conta. É uma árvore de grande porte. O pau veludo é uma linda árvore, no Congo belga é muito empregada na construção marítima. O bissilom, como é conhecido na Guiné, é o célebre mogno africano, que é procuradíssimo, e é a árvore mais vulgar na Guiné. Há diversas qualidades, que se distinguem pela cor da madeira. O pau sangue é madeira que pesa 700 quilos por metro cúbico. O célebre pau-ferro é uma árvore que dá uma madeira preciosa para minas e travessas de caminho-de-ferro, mas da Guiné ainda se não fez qualquer exportação, que seria de desejar que se fizesse para ser experimentada como travessas para os nossos caminhos-de-ferro”.

Uma das riquezas da Guiné é o pau-sangue, tem grande acolhimento nos mercados mundiais, é madeira exótica muito apetecida.

O autor dá prioridade ao estudo da classificação, era imperioso tornar uniformes em todas as colónias as condições da exportação, tendo em conta que as madeiras brasileiras tinham uma maior preferência nos nossos mercados, e dá as suas sugestões de que em todas as colónias devia haver taxas absolutamente uniformes quanto aos direitos de exportação. Passando para os preços, observa: “Na Guiné, não há quem não repare em que os preços das madeiras de produção local são iguais aos das madeiras importadas da metrópole. Quem se der ao trabalho de somar todos os encargos que oneram o corte de madeiras, desde a concepção até à exportação, acaba por se convencer que são muito pesados”. Remete a questão para a Junta de Investigações Coloniais, onde havia especialistas, quanto à classificação de todas as essências e do seu valor comercial.

Avança com um episódio que viveu na Guiné:  
“Passei uns dias na sede da administração civil de Bubaque, capital do arquipélago dos Bijagós, e estando com o administrador, na excelente varanda do palácio, admirando a mansidão das águas do mar, no canal de Canhambaque, chamaram a minha atenção as belas cadeiras de espaldar, que julguei serem de verga da ilha da Madeira.
O administrador informou-me que as cadeiras eram feitas ali em Bubaque, com uma madeira branca, muito bonita, conhecida pelo nome de cavoupa, madeira que depois é recoberta, como se fosse com verga, mas é afinal uma trepadeira que acompanha as palmeiras de azeite, e se presta muito a ser cortada em lâminas muito finas que se sujeitam a revestir a madeira em obra, sem estalarem.
Fui depois ver à floresta alguns pés de cavoupa, dos raros que existem à volta da sede da administração. As árvores que vi inteiras não têm ramos laterais, e as folhas são terminais, muito grandes, como as folhas mais pequenas das bananeiras. As árvores que vi cortadas, por meio dos palmares que tinham sido limpos para a melhor produção das palmeiras do azeite, tinham três ou quatro rebentos em haste com mais de meio metro de diâmetro, resvés da terra.

Uma vez que me encontrei de novo no continente da Guiné, procurei reencontrar a cavoupa, mas na maior parte das regiões não a conheciam por esse nome, até que, tendo ido a S. Domingos e visitado o posto de Sedengal, na sua área, vi várias cavoupas, e pedi a um cipaio que me indicasse o nome da árvore, o que fez prontamente: nós chamamos-lhe pau bóia, e outros, poucos, cavoupa; estas cavoupas que estão aqui nas lalas, são os machos, e as que estão nas bolanhas são fêmeas.
Relacionei o que podia relacionar, mas o que não consegui saber foi a identificação científica, e a classificação da árvore, mesmo sem saber se o nome crioulo de pau bóia lhe dá a qualidade de boiar, porque então mais valiosa se torna.
E o que se dá com esta árvore, uma das menos abundantes da flora da Guiné, dá-se com outras tantas incompletamente conhecidas, quer pelas suas madeiras, quer por outros produtos valiosos.

Certo dia, tendo percorrido uma das mais densas matas da margem direita do rio de Farim, onde já estavam marcadas para corte umas centenas de árvores de bissilom, reparei que todas as feridas estavam abundantemente providas de uma goma linda, não inferior à da goma-arábica, e não pude saber que outras qualidades possam ter, inclusivamente para o fabrico de alimentos.
E, quanto ao cajueiro, não só quanto à sua madeira, como à sua resina, são incompletíssimos os nossos conhecimentos”.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20859: Historiografia da presença portuguesa em África (205): Monografia-Catálogo da Exposição da Colónia da Guiné - Semana das Colónias de 1939 (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20490: Notas de leitura (1249): “Dias Sem Nome, Histórias soltas de um médico na guerra da Guiné”, por João Trindade; By the Book, edições especiais, 2019 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
Enquanto lia estas peças memoriais de João Trindade, inevitavelmente que a memória rodopiou até aos meus médicos de Bambadinca que assistiram os meus doentes civis e militares, o David Payne Pereira e o Joaquim Vidal Saraiva. Nunca se pagará este dívida de gratidão e eles, os profissionais de saúde, também não nos esqueceram.
Já aqui se fez referência às ditosas enfermeiras-paraquedistas que deixaram relatos pungentes, em 2014 aqui se saudou o relato "Senhor médico, nosso alferes", de José Pratas, um soco no estômago, um estilo económico, bem castigado, com sorrisos e lágrimas.
E saúda-se agora este médico que nos vai deixar um relato impressionante da sua passagem por Guidage. Afinal, Salgueiro Maia tem concorrente na descrição apocalítica do que se passou naquele ponto da fronteira, em maio de 1973. Acompanha-se o relato de João Trindade de forma compulsiva, é faceto, não esconde os prazeres da vida, não há vislumbre de farronca em ter feito o bem que fez e é de uma sinceridade que nos comove na tragédia que viveu em Guidage e que o deixou marcado para toda a vida.
Os médicos entram com o pé direito na literatura de guerra, está visto.

Um abraço do
Mário


O médico que presenciou os dias infernais de Guidage (1)

Beja Santos

São inúmeras as referências a profissionais de saúde na literatura de guerra. Deixa-se aqui o desafio a candidatos a mestrados e doutoramentos, trará revelações, nalguns casos bem surpreendentes, trazer à tona médicos, enfermeiras e enfermeiros, maqueiros que acompanharam tão carinhosamente os feridos, que assistiram os moribundos, que fizeram partos, que foram flagelados, emboscados e participantes em cenários infernais.

O relato do médico João Trindade em “Dias Sem Nome, histórias soltas de um médico na guerra da Guiné”, By the Book, edições especiais, 2019, tem uma pitada de tudo, como se suportou Mafra, como se desgostou da Escola do Serviço de Saúde Militar, e quando a vida parecia estar a correr bem, em novembro de 1971, recebe-se um telefonema do Hospital Militar para receber um envelope urgente, a Guiné está à vista.

“Saí de casa com as duas filhas ainda a dormir, despedi-me da Lígia. Saí debaixo de uma chuva miudinha, chata, e de um frio de rachar. Eram cinco e meia da manhã”. Embarca num avião a jato na Base Aérea de Figo Maduro. É uma comissão que começa a 15 de janeiro de 1972 e termina a 9 de dezembro de 1973. É um livro de caráter memorial, com belíssimas fotografias, logo que possa encontrar este médico reformado irei de mão estendida pedir-lhe que autorize a publicação de algumas destas imagens no blogue.

Chega e tem como destino Empada, nas imediações do rio Grande de Buba. Experimenta as primeiras flagelações, e faz um registo de toda a comissão:

“Em Empada estive dez meses e eram pelo menos três ou quatro por mês; na intervenção militar na zona de Guidage, onde estive dezassete dias, eram vários ataques diariamente; e em Cufar, a Sul, na operação em Caboxanque, onde estive um pouco mais de duas semanas, também os sofri por várias vezes”.

Tem muitas histórias para contar, logo o seu primeiro parto, nas condições mais deploráveis:

“Ao entrar, duas sensações me assaltaram: a grata surpresa de ouvir o choro de um recém-nascido e uma náusea e vómito, que consegui reprimir, pelo cheiro quente e fedorento do ambiente. Três máscaras de cirurgia embebidas em álcool disfarçaram o nojo. Calcei luvas e observei o bebé que já merecia os cuidados da velha que o ajudou. Só que a placenta não havia meio de sair. Pedir à parturiente para fazer força e ajudar às nossas massagens no abdómen era inútil. Nem ela tinha já forças nem sequer para gemer, pois estava em trabalho de parto há muitas horas. Decidi fazer o toque, meter a mão, o colo ainda muito aberto permitiu-me entrar na cavidade uterina e, a dedo, ir descolando a placenta. O sangue, o cheiro, o calor intenso, a casa mal iluminada constituíram o cenário tétrico, indescritível e tremendamente difícil que tive de viver durante largos períodos”.

Não esqueceu o muito peixe que comeu em Empada, aliás, foi à pesca numa lancha de fiscalização pequena, arrependeu-se da temeridade.

Dá-nos conta do seu trabalho em Empada, não conseguiu esquecer a burocracia da Delegacia de Saúde, tudo a carimbar, como mandava a lei. Presta por vezes serviço a Aldeia Formosa, foi lá três vezes, pelo menos. “Era em Aldeia Formosa que eu passava, de quando em vez, quinze dias que me sabiam a férias. Ataques, raríssimos; comunicações, fáceis”. Relata um novo parto, também com algumas peripécias. É em Aldeia Formosa que recebe uma prenda inesquecível. Cherno Rachide, uma verdadeira entidade espiritual do islamismo na Guiné, ofereceu-lhe um Corão escrito pela sua mão a tinta de ouro.

Após todos aqueles meses em Empada, é transferido para Bissau, vai para o Hospital Militar. Mas há um acontecimento inesperado, o avião em vez de o deixar em Bissau, aterra em Cufar, então ocupada por centenas e centenas de militares, o cenário lembrou-lhe o filme Apocalypse Now, acontece que ele tinha sido destacado para dar apoio médico durante a operação do Cantanhez, a “Grande Empresa”. Vai fazendo voos para as diferentes posições que estão a ser ocupadas pelas forças portuguesas.

Passa o Natal no mato. No dia 31 de dezembro recebe ordem para regressar a Bissau. Desdobram-se as peripécias, tem trabalho em Bubaque.

“Durante a minha comissão estive por duas vezes em Bubaque. Não de férias, mas antes cumprindo uma missão que cabia, semanalmente e por escala, a cada um dos médicos militares sediados em Bissau. Partia-se a meio da manhã e aterrávamos numa pista rasgada na mata, de bom piso e bem cuidada. Alguém nos vinha buscar e íamos cumprimentar o administrador no seu local de trabalho. Feita a conversa, ia ao posto médico onde um enfermeiro dava conta dos doentes inscritos. Fazia-se a consulta sempre com a tradução de alguém porque a etnia dominante era o Bijagó, uma fala muito rápida e com sons esquisitos, gente que pouco ou nada entendia de português”.

O melhor vinha depois, o bom peixe e o marisco, com regresso a Bissau de avioneta. Trabalhava igualmente no Hospital Civil em Bissau.

“Ao nosso serviço tínhamos um empregado a quem devotávamos todo o carinho porque cuidava do nosso bem-estar, da limpeza das instalações e das nossas refeições. Permanecia por ali desde manhã cedo até perto das dez horas da noite. Falava bem o português. Tinha apenas uma dificuldade que era pronunciar o nome das especialidades médicas. Resolveu-a usando uma fórmula curiosa que todos nós percebíamos e adotámos. Ao ortopedista chamava dótou di osso, ao oftalmologista, dotou di olhio, ao dermatologista, dótou di peli, e assim por diante.

- Pergunta lá a este gajo do que é que ele se queixa, o que é que tem, se lhe dói alguma coisa…
Ele ouvia o paciente e traduzia-nos. Mas antes tinha sempre o cuidado de, baseado no seu diagnóstico, feito de longa experiência, adiantar a orientação.

- Esti é para o nosso dótou di barriga, está com diarrêa desdi muitos dias.

Raramente se enganava na especialidade indicada para a patologia do doente. Mas certo dia aconteceu, e acho que não foi só comigo, que chegou um homem magro, muito ativo, como quem vem a protestar, sem aparente queixa, que falava, falava, falava e ninguém o calava nem entendia. Chamámos o João. Ele ouviu o homem durante um, dois, três, cinco minutos, e eu, já com pouca paciência e com mais que fazer, interrompi o discurso.

- João, diz lá o que é que o homem está para aí a dizer há meia hora, porra!

E o João mandou calar o tipo e disse-me com ar paciente.

- Dótou, o gajo té agora só falou, não dissi nada!”

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20474: Notas de leitura (1248): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (37) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 18 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19599: Notas de leitura (1160): “Bijagós, Património Arquitetónico", por Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade, Fotografia de Francisco Nogueira (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2016:

Queridos amigos,

O livro é irresistível, pelo rigor do conteúdo e pela preciosidade das imagens. Os Bijagós sempre provocaram um grande fascínio tanto pelos dons naturais, pela cultura, pela identidade do povo que durante séculos viveu em contenda com o continente, nomeadamente com os Beafadas, os vizinhos mais próximos.

Não se pode ficar indiferente com estes cadastros do legado colonial, impressiona o que se construiu e o que ainda está a tempo de ser conservado. Felizmente que alguma cooperação garante restauros e trava o aniquilamento de edifícios emblemáticos do que fora concebido com capital com contornos imperais.

Quem perdura o seu amor pela Guiné não pode deixar de olhar esta obra primorosa sem orgulho e indignação.

Um abraço
do Mário



Bijagós e o seu património arquitetónico: que beleza de livro!

Beja Santos

O património arquitetónico dos Bijagós é uma edição da Tinta-da-China, tem por autores Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade e fotografias de altíssima qualidade de Francisco Nogueira. Tem história, enquadramento urbanístico, análise do espaço tradicional Bijagó e do espaço colonial e desvela os mais significativos edifícios coloniais. 

Na base do empreendimento está o projeto “Bijagós, Bemba di Vida! Ação cívica para o resgate e valorização de um património da humanidade”, uma parceria do Instituto Marquês de Valle Flôr e da organização não-governamental Tiniguena. Trata-se de um estudo que se insere no projeto de conservação dos recursos naturais e de desenvolvimento socioeconómico numa das zonas centrais da Reserva da Biosfera do Arquipélago de Bolama-Bijagós: as ilhas Urok.

Os autores preparam-se bem e o resultado está à vista, nesta edição cuidada, edição para guardar pelo cuidado posto no grafismo e na riqueza das imagens, fala-se dos Bijagós e de um património colonial que ameaça ruína, as imagens são tão impressivas que ninguém pode deixar de indignar-se com o descalabro que por ali vai.

A herança arquitetónica bijagó compreende o passado, através da compreensão dos textos, dos enquadramentos e das suas influências em comparação com outros patrimónios guineenses e coloniais; está o registo fotográfico do património existente e indaga-se o futuro, alguém tem que responder pela salvaguarda de um património comum de uma região com 88 ilhas e ilhéus, num total de 10 mil quilómetros quadrados. 

Há menção dos Bijagós em documentos dos descobridores a partir de 1457, são da maior importância as narrativas do navegador veneziano Luís de Cadamosto e do navegador genovês Uso de Mare. Os primeiros registos cartográficos surgiram em 1468 quando o navegador alemão Valentim Fernandes terá chegado às imediações de Canhabaque.

O processo de crescimento de Bolama está relacionado com a história e a cultural mercantil na região de Quínara e no rio Grande de Buba. O povo Bijagó vivia em permanente tensão com os Beafadas que se espraiavam entre Tombali e Fulacunda. A presença portuguesa era episódica e a hostilidade Bijagó indisfarçável aos colonos. Bolama foi fundada em 1752, muito depois de outras vilas e cidades da Guiné, quando o governo português ordenou ao Coronel Francisco Roque de Sotto-Mayor, Governador de Bissau, que tomasse posse da ilha, erguendo um padrão esculpido com as armas dos reis de Portugal. Recorde-se que a ilha de Bolama só pertenceu oficialmente a Portugal em 1870, após a arbitragem pelo presidente norte-americano Ulysses Grant do conflito luso-britânico.

A estrutura urbana baseia-se em modelos europeus: grelha ortogonal, reticulada, implantada a nordeste da ilha, e em contracto direto com o mar. Impuseram-se inicialmente os edifícios da Alfândega, o Palácio do Governador e Casa Comercial Gouveia. Surgiram depois outros edifícios-chave: o Banco Nacional Ultramarino, a Escola, o Arsenal e o Hospital, a Câmara Municipal e os Paços de Concelho. A escala da cidade de Bolama, observam os autores, é definida por um grande número de edificações térreas, pontualmente marcada por construções com dois ou mais pisos. Nos anos 20 do século XX, surgem planos da autoria do engenheiro Guedes Quinhones inspirados nos modelos humanos ingleses do final do século XIX, da Garden City, de Sir Ebenezer Howard e dos ideais norte-americanos da City Beatiful Movement.

Quando Bolama deixou de ser capital, em 1941, tentou-se torná-la um destino turístico muito apetecível, daí as piscinas municipais, o cineteatro e o complexo balnear da praia de Ofir. Hoje, os seus largos e praças perderam grande parte do caráter, em virtude do abandono dos serviços públicos. Era tal a beleza e a graciosidade da cidade que muitos a tratavam por Nova Mindelo e nos meios intelectuais dizia-se que aqui se tinha radicado o berço do crioulo.

Folheia-se o álbum fotográfico e sentimos o coração pequenino com as ruínas do antigo Palácio do Governador, as ruínas de Bubaque, estão entregues às ervas a casa de férias de Luís Cabral e as casas inacabadas para generais. De premeio, os autores mostram-nos a organização das tabancas Bijagós, construídas em clareiras, têm um ar delicado na envolvente paisagística.

Uma imagem muito bela pode potenciar no leitor um cruel sofrimento, ele tem que perguntar porquê a decomposição daquele edifício da central elétrica, como ainda guarda majestade a Câmara Municipal em ruínas, como é grotesco o belo exótico das ruínas do Hospital Militar e Civil, e como ainda resiste o Palácio do Governador e o Quartel Militar. Há uma Bolama que nasce e renasce. Por exemplo, o edifício da Alfândega foi totalmente recuperado pela cooperação espanhola, AICCID. O cineteatro de Bolama resiste, é um assombro de Arte Deco já tardio. A Escola Superior de Educação é um dos equipamentos de maior interesse da Bolama atual. Ficamos sem fôlego a ver a notável Imprensa Nacional, os autores advertem para o seu enorme potencial turístico e museológico.

A análise patrimonial não se circunscreve à ilha de Bolama, já se falou de Bubaque, Canhabaque tem património em decadência, aqui se mantém de pé o monumento comemorativo das operações de pacificação de 1935-1936.

Os autores concluem que é muito grande a qualidade patrimonial deste arquipélago e que é iniludível a importância do legado patrimonial do colonialismo português, ainda há muita recuperação, conservação e restauro que podiam tornar esta região muitíssimo apetecível pelos dons que a natureza que lhe ofereceu.

Enquanto lia com sentimentos contraditórios este álbum de indiscutível interesse, procurando conhecer as linhas da presença colonial, tanto na fase de consolidação de Bolama como capital da província da Guiné e o período posterior, até ao momento da independência, sempre de coração contrito com o património em ruínas, lembrava da visita que aqui fiz em 1991, a embarcação a chegar ao cais de onde se avista aquele espantoso monumento em pedra que Mussolini ofereceu à cidade de Bolama em homenagem aos aviadores italianos mortos, procurava as placas esmaltadas com os nomes insignes dos políticos da I República que aqui ficaram consagrados, passeara-me neste mar de ruínas perplexo como era possível dois povos espezinharem esta esplendorosa memória de uma vida em comum.

Pescadores bijagós
Imagem retirada do blogue LusONDA, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19588: Notas de leitura (1159): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (77) (Mário Beja Santos)