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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6699: Parabéns a você (129): Viva o senhor professor Peixoto, membro do selectíssimo Clube dos SEXAS! (Luís Graça)



Monte Real, Palace Hotel, 26 de Junho de 2010. V Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > Uma foto, muito feliz, do Manuel Carmelita, grande fotógrafo: o Joaquim e a Margarida, o nosso casalinho de professores de Penafiel, apanhados num belíssimo momento de descontracção e de ternura... O Joaquim é também habitué da Tabanca de Matosinhos, frequentada igualmente (e fotografada) pelo Manuel Carmelita. Hoje faz 61 anos. Está connosco há uma ano. A melhor prenda que lhe podíamos era encontrar gente da sua açoriana CART 3414, que andou por Bafatá e Saré Bacar (1971/73).


Fotos: © Manuel Carmelita / Carlos Vinhal  (2010). Direitos reservados


1.  Em 11 de Julho do ano passado, apresentava-se formalmente à Tabanca Grande o senhor professor Joaquim Carlos Rocha Peixoto, casado com outra senhora professora, Margarida Peixoto, um casal encantador que entretanto veio a tornar-se amigo e visita da nossa família no Norte (Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses).

A explicação é fácil: primeiro, o Joaquim foi Fur Mil Ap Inf, com o curso de Minas e Armadilhas, na CCAÇ 3414 (Bafatá e  Sare Bacar, 1971/73) (*), e andou lá minhas bandas da zona leste...  Depois, mora em Penafiel e é professor do ensino básico, 1º ciclo, tendo leccionado durante anos na Casa do Gaiato, em  Paços de Sousa. Aí o professor também foi aluno, recebeu lições grandes de vida, por que naquela instituição acolhem-se e educam-se meninos da rua, alguns dos quais com dramáticas histórias de abandono, violência, exclusão social...

O Joaquim ainda está no activo, enquanto a Margarida já se reformou. O Joaquim é um homem discreto, sensível, reservado. A Margarida é uma típica nortenha, de verbo fácil e a sensibilidade à flor da pele. Já tive o privilégio de estar com eles, na sua belíssima casa nessa belíssma terra, que é Penafiel da qual sabia pouco, no tempo da guerra colonial: era apenas, para mim, a capital do vinho verde (ah!, como bem sabia, o verdinho de Penafiel em Bambadinca!).

Hoje Penafiel, a dois passos do Porto,  é o coração da Rota do Românico do Vale do Sousa, uma região que merece uma prolongada visita não só pelas suas gentes, gastronomia e paisagens naturais como sobretudo pelo seu património edificado, e nomeadamente o Românico de Resistência, vasto, rico e único  (Sugestão de roteiro para visitar os 21 monumentos que compõem a Rota do Românico do Vale do Sousa: 4 mosteiros beneditinos, 10 igrejas, 1 ermida, 2 pontes, 2 torres e 2 monumentos funerários dos quais só existem 6 exemplares conhecidos em Portugal).

Por outro lado, a Margarida está ligada por laços afectivos à freguesia de Paredes de Viadores, no vizinho concelho de Marco de Canaveses, em cuja escola (a Escola de Passinhos / Foz) trabalhou um ano, o primeiro ano da sua vida como professora primária (como então se chamavam as nossas queridas professoras).

Margarida Peixoto, também natural de Penafiel (com 6 anos vividos em Angola, dos 10 aos 16, em plena guerra colonial), voltou a Paredes de Viadores, em 2009,  para reencontrar e homenagear os seus "meninos e meninas" da Escolinha de Passinhos / Foz, no já longínquo ano de 1972... Tinha acabado de sair do Magistério. Foi o seu primeiro ano de trabalho. Tinha cerca de três dezenas de alunos, de ambos os sexos, da 1ª à 4ª classe... Nunca mais se esquecerá deles, das suas caras, dos seus nomes, das suas histórias...

Conhecera a Alice por ocasião do IV Encontro Nacional do Nosso Blogue,  na Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria, em 20 de  Junho de 2009. Por um feliz acaso: apresentei-as por que eram da mesma região... Hoje são duas belas amigas. A Alice proporcionou logo a seguir, na sua casa,  nesse verão o reencontro da senhora professora com alguns dos seus antigos meninos e meninas... Eu e o Joaquim estivemos naturalmente presentes... Encantados. Foi um momento único, irrepetível. Como têm sido, para muitos de nós, alguns momentos aqui proporcionados pelo nosso blogue... De tal modo que já paga direitos de autor a frase  O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande. A que se deve acrescentar: Honni soit qui mal y pense  (sem pretensões nem maldade...).

Espero reencontrá-los, de novo, este mês, ou em Penafiel, ou em Candoz, Paredes de Viadores, na nossa casa e na festa da Senhora do Socorro, daqui a quinze dias. Mas antes disso temos que celebrar aqui a festa de anos do Joaquim, membro já do nosso selectivo Clube dos SEXAS.

Em meu nome, dos demais editores e do resto da Tabanca Grande, aqui fica aquele Alfa Bravo que já é marca distinta no tratatamento social entre os amigos e camaradas da Guiné que se reunem sob o frondoso poilão da Tabanca Grande.

Um Alfa Bravo muito especial, comprido, caloroso e largo, tão comprido como o Rio Geba, tão caloroso como o Rio Douro, tão largo como o Rio Tejo que é o rio da minha aldeia... Um beijinho ternurento da Alice para ti e para a Margarida. Esperamos revê-los em breve. Infelizmente, em Monte Real, como sempre, o tempo de convívio é como a areia da ampulheta...Foi bom mas foi curtíssimo... Resta-nos os reencontros em Penafiel, em  Candoz, no Blogue, no Facebook...

Joaquim, hoje não é dia de falar da tropa. Bebo um copo à tua longevidade e saúde. Faz o favor de continuares a ser feliz! Parabéns! Teu amigo e camarada,

Luís Graça

______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4667: Tabanca Grande (160): Joaquim Peixoto, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 3414 (Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)

Vd. poste anterior desta série > 1 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6665: Parabéns a você (128): Mensagens para a Tertúlia (José Firmino / Manuel Maia)

domingo, 18 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5126: Um Casal Garcia, para desinfectar o dente... (Joaquim Peixoto, ex-Fur Mil, CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)

O Joauqim Peixoto, natural de Penafiel, a bordo do T/T Niassa

"Ilha de Bolama. Primeira fotografia tirada na Guiné" (JP).

Fotos: Joaquim Peixoto (2009). Direitos reservados




Marco de Canaveses > Paços de Gaiolo > Ambrões > 4 de Setembro de 2009 > Foi aqui que a jovem professora Margarida Peixoto (hoje já reformada do ensino básico) viveu um ano, enquanto deu aulas na Escola de Passinhos / Foz... Na foto, tem à esquerda o marido, o Prof Joaquim Peixoto (ainda no activo) e a Maria Alice, à sua esquerda.

Fonte: A Nossa Quinta de Candoz > 10 de Setembro de 2009 > A Homenagem da Professora Aos Seus Primeiros Alunos (Escola de Passinhos, 1972) (*)

1. Texto do Joaquim Peixoto, professor do 1º ciclo ensino básico, residente em Penafiel, membro da nossa Tabanca Branca, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73:

É com grande expectativa e curiosidade que diariamente ao ligar a “caixinha das surpresas” qual cartola de mágico fazendo sair um coelho da cartola, ou lenços coloridos fazendo lembrar um arco-íris em movimento, o meu computador me leva ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

De olhos bem abertos e com toda a atenção leio e releio todos os artigos, deliciando-me com todos os casos narrados e parecendo viver ou mesmo reviver alguns deles.
Logo penso cá comigo:
- Também vou escrever.

Sem mais demandas pego numa folha de papel em branco para o colorir com factos vividos na Guiné. As ideias surgem-me em catadupa, mas a força, a dinâmica para arrancar afrouxa, porque surge o pensamento:
- O que vou escrever?

Os textos que li são tão elucidativos, estão tão bem escritos que … vou repetir por outras palavras o que outros já disseram ?...

E assim, de dia para dia, de pensamento em pensamento eis que surge luz na caverna dos meus pensamentos … Dessa luz nasceu algo que passo a narrar.

Fins de Junho de 1971. Embarquei no Niassa, viajando num meio de transporte diferente do que habitualmente utilizava, tendo como estrada o rasgar das águas do Atlântico e como paisagem um céu azul reflectindo a sua cor nas águas turbulentas e agitadas onde aquele barco se agitava com um sem número de gaiatos, jovens, julgando que já eram homens, partindo não sei bem para onde, nem sabendo muito bem o que os esperava, rumava eu com os outros camaradas com destino à Guiné.

E eis que já farto de água e céu, chegamos à terra prometida Bissau.

Que admiração!
Que espanto!
Que curiosidade!
Tudo era diferente…

Já tínhamos visto negros, mas assim. Tão diferentes na maneira de ser, nas roupagens, nos olhares!... E no entanto tão iguais a nós. Seres humanos, seres com sentimentos sonhos e necessidades como as nossas.

A paisagem deslumbrante, de uma vegetação diferente e uma terra barrenta com um cheiro tão característico, que passados tantos anos ainda o reconheceríamos. O clima dum calor húmido, que nos humedece o corpo mas não o arrefece. Tudo era diferente! Transportava-nos, com os nossos tenros vinte e poucos anos, a um mundo quase irreal. Naquele momento não podíamos nem queríamos fazer juízos de valor nem aprofundar onde estávamos.

Assaltou-me um pensamento:
- Como seria a guerra?

Não tive tempo de imaginar. Uma voz que me pareceu surgir do nada informa:
- Agora vão para a ilha de Bolama. Lá é tudo muito calmo. Não há guerra. Vão tirar a IAO. Só podem usar balas de salva.

E sem mais explicações, nem tempo para pensar, fomos metidos num barco (penso que seria uma LDM ).

Numa calmaria, baloiçando nas águas tranquilas, ladeados por uma vegetação inigualável, surgiu o primeiro contratempo. Um soldado deixando-se embalar por aquele calor tórrido, deixou-se adormecer, sonhando talvez com umas férias paradisíacas. No final da viagem no lugar do sonho que o embalava, tinha um grande escaldão que precisou tratamento médico durante muito tempo.

À chegada a Bolama o espanto foi total. Então não íamos para a guerra? É que no local onde iríamos viver durante um mês, tinha escrito em letras garrafais, embora já comidas pelo tempo:
HOTEL DE BOLAMA

Então isto é a guerra? Como diria o nosso saudoso Raul Solnado : “Cheguei à guerra … mas a guerra já tinha acabado. “

Estava na Guiné, estava num hotel. Não havia guerra. O que havia de pensar?

O tempo ia decorrendo e os corações agitados com a perspectiva duma guerra que não conhecíamos, ia acalmando.

Mas … como não há bela sem senão… Eis que ao segundo dia sou abanado pelo primeiro ataque. Não, não pensem já em vítimas … Foi um ataque de uma enorme dor de dentes. Daquelas que uma pessoa não sabe se grita, se chora, se toma uma piela … ou se simplesmente vai ao dentista.

Era de noite, as estrelas bailavam no firmamento e este silêncio contrastava com o ressonar de alguns camaradas que no meu quarto de hotel (que compartilhava com mais dezassete) dormiam a sono solto, sem se aperceberem que eu estava a ser atacado.
Mas, eis que, no meio da minha dor, do ressonar composto por diversos sons, um barulho muito esquisito feriu os meus ouvidos e contendo a respiração por alguns segundos ouvi um grande rebentamento. De um só salto, todos abandonamos as nossas camas e saímos do quarto.

Era mesmo um ataque a sério. Estávamos a ser atacados por mísseis. (Julho de 1971). Era o nosso baptismo de fogo. E nós, pobres indefesos e inocentes a este tipo de despertar, o que podíamos fazer? Como nos defender? Atirar as balas de salva?

Alheios ao perigo que corríamos ficámos minutos e minutos a falar como se de um fogo de artifício de alguma romaria se tratasse.

E assim, sem reagirmos ao inimigo recolhemos à caverna. Perdão, hotel. Para meu espanto verifiquei que a dor de dentes me tinha passado. Remédio milagroso!!!

Aliviado pela anestesia que tinha apanhado preparava-me para dormir o sono dos justos, quando por artes mágicas o maldito ataque do dente deu a sua réplica e enquanto a dor me martirizava ia recordando com uma certa perplexidade se tinha assistido a um ataque a sério ou se tinha havido uma romaria próximo do nosso local e nós nem a música ouvimos.

Ao romper o dia fui direitinho meter uma cunha ao enfermeiro Furriel Silva para ser o primeiro a ser atendido quando viesse o médico. Amparando a dor com analgésicos fui aguentando a dor até à chegada do médico.

Qual o meu espanto, ao fim do dia, o médico tinha ido embora e eu não tinha sido chamado. O enfermeiro tinha-se esquecido de pôr o meu nome na lista.

Não será difícil de pensar qual foi a minha reacção a tão cruel esquecimento. Procurando no mais profundo do meu ser encontrei as palavras mais cultas e eruditas que se possa dizer a quem nos faz um favor. Assim desde “filhinho da mamã”… até à árvore mais frondosa que nos protege do sol quando o calor nos sufoca, o “carvalho”, surgiram em catadupa uma série de vocábulos que jamais imaginaria um dia transmitir a quem quer que fosse.

No meio do meu desespero, alguém me contou que o médico havido tirado dois dentes a um paciente, quando este se queixou só de um dente. Enganos!!! Ouvido isto, agradeci sinceramente ao enfermeiro Silva o ter-se esquecido do meu pedido e retirei-lhe toda a sabedoria com que o tinha brindado.

Algum tempo depois deste incidente chegou finalmente a minha vez de ir ao dentista. Desta vez já estava em Sare Bacar e desloquei-me a Bafatá numa coluna de reabastecimento. O consultório era no rés-do-chão, com uma cadeira de barbeiro e na parede alguns posters alusivos à nossa mente jovem, com o intuito de nos ir distraindo. Uma janela, aberta de par em par, dava para o exterior e como se de um circo se tratasse o tratamento aos dentes, tinha assistência garantida. Duas negras lindas olhavam boquiabertas (com os dentes duma alvura invejável) para a boca aberta de quem se sentava numa cadeira de barbeiro, não para fazer a barba ou cortar o cabelo, mas para extrair um dente.

E, um gajo já com a cabeça à roda, olhando para o colo desunado daquelas musas encantadas, apontava ao dentista, já meio anestesiado, qual o dente que me doía.
E assim, o competente dentista, apertando o alicate e puxando, como se de um prego se tratasse, arrancou-me o dente mau, sem que eu tivesse qualquer dor e mandou-me sair. Não houve direito a palmas, a assistência limitou-se a observar.

Saí e fui directo a um café comprar uma garrafa de água para limpar a boca.
Hoje, passados quase quarenta anos, posso afirmar que foi o dente que me custou menos a extrair.

Eram dez horas da manhã. Aproximava-se a hora do almoço. Ao meio dia juntei-me com os outros camaradas da companhia para irmos almoçar ao Restaurante Transmontano, o célebre bife com batatas fritas. O proprietário do restaurante, o Sr. Anis, ao ver-me fez a perguntar habitual da qual já sabia a resposta:
- Uma garrafinha de vinho da sua terra, “Casal Garcia”, de Penafiel?
Respondi:
- Certamente, para desinfectar a ferida.

_______________

Nota de L.G.

(*) Margarida Peixoto, natural de Penafiel (com 6 anos de Angola, dos 10 aos 16, em plena guerra colonial), volta a Paredes de Viadores para reencontrar e homenagear os seus "meninos e meninas" da Escolinha de Passinhos / Foz, no já longínquo ano de 1972... Tinha acabado de sair do Magistério. Foi o seu primeiro ano de trabalho. Tinha cerca de três dezenas de alunos, de ambos os sexos, da 1ª à 4ª classe... Nunca mais se esqueceu deles...

Conheceu a Alice por ocasião do IV Encontro Nacional do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, em 20 de Junho de 2009, na Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria. O seu marido, também professor, Joaquim Carlos Peixoto, fez a guerra colonial na Guiné e é amigo do Luís..

A Alice proporcionou agora este reencontro com alguns dos seus antigos alunos: a Laurinda, a Leonor, o Fernando... No dia 4 de Setembro de 2009, um dia de semana... Alguns, contactados, não puderam comparecer, por trabalharem no Porto e no estrangeiro... Fica em preparação um encontro alargado para o verão do próximo ano (...).

sábado, 11 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4667: Tabanca Grande (160): Joaquim Peixoto, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 3414 (Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Peixoto (*), ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73, com data de 10 de Julho de 2009:

Caro amigo e Camarada Carlos Vinhal:
Em primeiro lugar quero pedir mil desculpas por estar a ser um clantestino.
Tenho imenso gosto e prazer em ser membro da Tertúlia.
Embora não queira fugir à responsabilidade de não ter enviado tudo o que me era pedido, passo a explicar:

Em 1 de Abril recebi email para enviar dados pessoais, fotos e outras coisas que tais.
No dia seguinte enviei tudo, mas só agora me apercebi que o email não foi recebido por erro no endereço.
Peço desulpa.

Agora faço seguir o meu "curriculum", mas como sou periquito em informática, não sei se vai nos moldes que pediste.

Despeço-me, esperando, a partir de agora, ser membro do maior clube do Mundo.

Um abraço do camarada
Peixoto

OBS:-Em breve, enviarei um artigo para ser publicado

Dados pessoais:

Nome - Joaquim Carlos Rocha Peixoto
Posto militar - Furriel Miliciano
Especialidade - Atirador de Infantaria com o curso de Minas e Armadilhas
Unidade - CCAÇ 3414

As principais localidades onde estive: Bafatá e Sare Bacar

Morada:
PENAFIEL

Ainda a estou a exercer como Professor do 1.º Ciclo


O nosso camarada Joaquim Peixoto deu-nos o prazer da sua presença, acompanhado de sua esposa Margarida, no nosso IV Encontro em Ortigosa, como documenta a foto.


2. Comentário de CV:

Caro Joaquim Peixoto.
Obrigado por teres respondido tão prontamente.
As tuas amáveis palavras enviadas em sucessivas mensagens, em curto espaço de tempo, são para nós um incentivo, e bem estamos a precisar de algum neste momento, para continuarmos nesta espinhosa missão de mantermos o Blogue da Tabanca Grande, vivo e actuante, onde se discutam os assuntos relacionados com a guerra da Guiné de forma correcta, educada e sem violência verbal. O respeito pela diversidade de opinião, cor, opção política, religiosa e outras, é indispensável para uma convivência sã, e própria de verdadeiros camaradas e amigos que queremos ser.

Dizes que queres pertencer ao maior clube do mundo. Não pertencerás, mas uma coisa é certa, somos o maior blogue dedicado à guerra da Guiné. Pelo número de visitas registado na nossa página, tendo nós um registo de cerca de 350 tertulianos, vê-se a quantidade enorme de pessoas nos consultam para os mais diversos fins, entre os quais os didáticos.

Tu poderás ser mais um a narrar factos e a mostrar fotos que ajudem a reconstituir a parte da história em que nós, os ex-combatentes, fomos protagonistas.

Recebe então 352 abraços de boas-vindas.
Um especial deste teu camarada
Carlos Vinhal
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1774: A morte do Fernando Ribeiro: eu ia nessa fatídica coluna e era seu amigo (Joaquim Peixoto, CCAÇ 3414)

16 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4039: O Prémio: Sirvam , em nome da Pátria, uma bica quente a estes rapazes!, dizia o Gen Spínola... (Joaquim Peixoto)

21 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4557: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (3): Um dia caloroso, em que fizemos novos amigos (Joaquim e Margarida Peixoto)

9 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4659: Parabéns a você (12): Dia 9 de Julho de 2009 - Joaquim Peixoto, ex-Fur Mil da CCAÇ 3414 (Sare Bacar, Cumeré, Brá, 1971/73)

Vd. último poste da série de 9 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4662: Tabanca Grande (159): António João Sampaio, ex-Alf Mil da CCAÇ 15 e Cap Mil da CCAÇ 4942/72 (Guiné, 1973/74)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4659: Parabéns a você (12): Dia 9 de Julho de 2009 - Joaquim Peixoto, ex-Fur Mil da CCAÇ 3414 (Sare Bacar, Cumeré, Brá, 1971/73)

Guiné > Zona Leste > Contuboel > Tabanca dos arredores > CCAÇ 2479 (1968/69) > Um instruendo, de etnia fula, cuja identificação se desconhece... A placa rodoviária assinala alguns das povoações, mais importantes, mais próximas, incluindo Sare Bacar (39 km), mesmo na fronteira com o Senegal (vd. carta de Paunca), onde esteve o nosso aniversariante de hoje, o Joaquim Peixoto, professor do 1º ciclo do ensino básico... É uma pequena lembrança dos nossos editores que aproveitam, para lembrar ao Peixoto, a necessidade de ele mandar "notícias e fotos" lá da terra (Sare Bacar)... Parabéns ao Peixoto que entra para o Clube dos SEXA, Suas Excelências.

Foto: © Renato Monteiro (2007). Direitos reservados


1. Hoje dia 9 de Julho de 2009, entra no clube dos sex... agenários o nosso camarada Joaquim Peixoto (*), ex-Fur Mil da CCAÇ 3414, Sare Bacar, Cumeré, Brá, 1971/73.

O nosso camarada Joaquim Peixoto não foi apresentado formalmente à Tertúlia, já lhe fiz ver que é considerado clandestino, mas foi um dos presentes no nosso Encontro deste ano em Ortigosa.

A propósito da sua presença no nosso Encontro, fez estas declarações:

20 DE JUNHO DE 2009, Quinta de Paúl, Monte Real, Leiria

Dia inesquecível para mim!

Foi a primeira vez que partilhei um convívio com antigos camaradas da Guiné. Tive imensa pena de não encontrar camaradas da minha CCAÇ 3414.

As lembranças, boas e más, de uma guerra já passada vieram ao de cima e acordaram um turbilhar de ideias que pairavam na minha cabeça.

O mau, vivido num clima de medo a uma temperatura quase em ebulição, onde um rebelde e intruso mosquito teimava em picar as nossa peles ainda tão tenras, quase de meninos... Um barulho estranho, no sussuro da noite, despertava-nos dos nossos sonhos quase infantis. Um numero infinito de vivências e emoções estão guardadas na caixa negra do nosso ego.

Esse mau deu lugar a uma alegria imensa, onde pude recordar os bons momentos (que também os houve) e partilhar com os camaradas as experiências vividas há mais de 30 anos.

Foi um emaranhado de emoções, foi um recordar de situações, foi um convívio magnífico cheio de calor humano.

As conversas convergiam no mesmo sentido: A GUINÉ. Outros assuntos não tinham aqui lugar.

De longe a longe, parecia que o cheiro a terra barrenta nos entrava pelas narinas e recordava o cheiro inegualável de Bissau, Bafatá, Sare Bacar e tantas outras...

Cerrando os olhos, por breves momentos, as formas perfeitas das bajudas apareciam como num ecrã virtual.

Foi bom. Foi perfeito. Espero voltar.

Obrigado a ti, Luis Graça. Obrigado ao Carlos Vinhal, ao Virgínio Briote, ao Magalhães Ribeiro e ao Mexia Alves.

Obrigado a todos que trabalharam e organizaram este convívio.

Obrigado a todos os camaradas presentes. Obrigado a todos quantos ainda hoje recordam os momentos passados em agonia.

Joaquim Peixoto



Depois destas palavras bonitas, Joaquim, considera-te membro de pleno direito da nossa Tabanca.
Agora, mais a sério, tens de participar mais activamente no Blogue. A tua primeira intervenção, há dois anos, foi para falares do teu malogrado camarada Fernando Ribeiro e, daí para cá pouco ou nada escreveste. Lembro-te que é da responsabilidade de todos deixar um testemunho para memória futura. Contamos contigo.

A Tertúlia deseja-te uma longa vida junto da tua bajuda Margarida e restante família, sempre plena de alegria e saúde.




Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Joaquim Peixoto, assinalado com um círculo a vermelho, na segunda fila, entre o Manuel Amaro, à esquerda, e o Manuel Traquina à direita... O Joaquim Peixoto (que esteve em Sare Bacar, na zona leste, junto à fronteira com o Senegal (carta de Paunca), vive em Penafiel, é casado com a Margarida, que também veio ao nosso encontro... Ambos são professores do 1º ciclo do ensino básico...

Guiné > Zona Leste > Sare Bacar > CCAÇ 3414 (1971/73) > O Fernando Ribeiro, de pé, ao lado do seu amigo Joaquim Peixoto (hoje professor do ensino básico, em Penafiel). Morreu em Julho de 1973, na estrad de Binta-Faria, já no final da sua comissão.
"Algum tempo depois de regressarmos da Guiné, fizemos um almoço em Coimbra e fomos depositar um ramo de flores no cemitério em Condeixa. Haveria muito a dizer deste amigo que nos deixou tão cedo. Envio também uma fotografia em que estou com ele. (O Fernando está de pé.) Chamo-me Joaquim Carlos Peixoto, vivo em Penafiel, sou Professor do 1º Ciclo do ensino básico" (JP).

__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1774: A morte do Fernando Ribeiro: eu ia nessa fatídica coluna e era seu amigo (Joaquim Peixoto, CCAÇ 3414)

16 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4039: O Prémio: Sirvam , em nome da Pátria, uma bica quente a estes rapazes!, dizia o Gen Spínola... (Joaquim Peixoto)

21 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4557: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (3): Um dia caloroso, em que fizemos novos amigos (Joaquim e Margarida Peixoto)

Vd. último poste da série de 30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4607: Parabéns a você (11): Dia 30 de Junho de 2009 - Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610

domingo, 21 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4557: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (3): Um dia caloroso, em que fizemos novos amigos (Joaquim e Margarida Peixoto)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Joaquim Peixoto, assinalado com um círculo a vermelho, na segunda fila, entre o Manuel Amaro, à esquerda, e o Manuel Traquina à direita... O Joaquim Peixoto (que esteve em Sare Bacar, na zona leste, junto à fronteira com o Senegal (carta de Paunca), vive em Penafiel, é casado com a Margarida, que também veio ao nosso encontro... Ambos são professores do 1º ciclo do ensino básico...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > A Alice Carneiro, esposa do Luís Graça, em animada conversa com a sua nova amiga Margarida Peixoto, esposa do nosso camarada Joaquim Peixoto... A Alice veio a saber que a Margarida, em 1972, fora professora primário em Passinhos, na freguesia de Paredes de Viadores, concelho do Marco de Canaveses... A Alice nasceu em Candoz, Paredes de Viadores... É caso para dizer: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande.


1. Mensagem de Joaquim Peixoto (ex-Fur Mil, CCAÇ 3414, Sare Bacar, Cumeré, Brá, Julho de 1971/ Setembro de 1973, uma companhia açoriana, comandada pelo Cap Inf Manuel José Marques Ribeiro de Faria; Unidade mobilizadora, BII 17) (*)


20 DE JUNHO DE 2009, Quinta de Paúl, Monte Real, Leiria

Dia inesquecível para mim!

Foi a primeira vez que partilhei um convívio com antigos camaradas da Guinè. Tive imensa pena de não encontrar camaradas da minha CCAÇ 3414.

As lembranças, boas e más, de uma guerra já passada vieram ao de cima e acordaram um turbilhar de ideias que pairavam na minha cabeça.

O mau, vivido num clima de medo a uma temperatura quase em ebulição, onde um rebelde e intruso mosquito teimava em picar as nossa peles ainda tão tenras, quase de meninos... Um barulho estranho, no sussuro da noite, despertava-nos dos nossos sonhos quase infantis. Um numero infinito de vivências e emoções estão guardadas na caixa negra do nosso ego.

Esse mau deu lugar a uma alegria imensa, onde pude recordar os bons momentos (que também os houve) e partilhar com os camaradas as experiências vividas hàá mais de 30 anos.

Foi um emaranhado de emoções, foi um recordar de situações, foi um convívio magnífico cheio de calor humano.

As conversas convergiam no mesmo sentido: A GUINÉ. Outros assuntos não tinham aqui lugar.

De longe a longe, parecia que o cheiro a terra barrenta nos entrava pelas narinas e recordava o cheiro inegualável de Bissau, Bafatá, Sare Bacar e tantas outras....

Cerrando os olhos, por breves momentos, as formas perfeitas das bajudas apareciam como num ecrã virtual.

Foi bom. Foi perfeito. Espero voltar.

Obrigado a ti, Luis Graça. Obrigado ao Carlos Vinhal, ao Virgínio Briote, ao Magalhães Ribeiro e ao Mexia Alves.

Obrigado a todos que trabalharam e organizaram este convívio.

Obrigado a todos os camaradas presentes. Obrigado a todos quantos ainda hoje recordam os momentos passados em agonia.

Joaquim Peixoto

2. Mensagem da Margarida Peixoto:

QUINTA DE PAÚL

Bajuda não sou, mas não me importo de ser confundida como tal. Sou a mulher de Joaquim Peixoto, e para mim foi um dia especial, esse que passei com os camaradas do meu marido e respectivas esposas...

Foi um sentir de calor humano, foi a partilha de algo que nunca vivi, mas que, por uma ou outra razão, vai tomando forma na nossa mente, situações que mesmo não vividas por nós, estão vivas nos nossos maridos acabando por fazer parte de nós próprias.

Agradeço a todos quanto trabalharam para este convívio, agradeço a todos os presentes a oportunidade que tive em partilhar um pouquinho das vossas emoções.

Mas tenho de dizer um especial obrigado ao Luís Graça por me ter apresentado à sua esposa, Alice, com quem mantive um diálogo, que por várias e variadas razões foi muitas vezes interrompido, mas tenho a certeza deixou uma marca que irá crescendo com o tempo.

Poucos minutos após nos termos conhecido, parecíamos amigas de longa data e eu, um pouco reservada por natureza, soltei sem preconceitos o que me ia na alma.

"Agarra um verdadeiro amigo com ambas as mãos". Foi um provébio que li algures, há muito tempo, mas que quero acreditar seja verdadeiro, para poder contar com a amizade que iniciei ontem.

Obrigado, Alice, pela sua simpatia, pela sua frontalidade e pela maneira tão franca de se relacionar com as pessoas.

Obrigada pela companhia que me fez. Espero ter correspondido à sua delicadeza e desejo sinceramente que este tenha sido o primeiro de muitos encontros que haveremos de ter, tanto a nível de convívios ligados a ex-combatentes, como a nível pessoal.

Em breve mandarei o nome de alguns dos meus ex-alunos, como foi combinado. Espero, eu e o meu marido, recebê-los em nossa casa o mais rápido possível.

Os laços que nos une e os amigos comuns irão concerteza alargar-se a nós.

Um bem haja pelo dia tão caloroso e um abraço com muita ternura.

Margarida Peixoto

3. Comentário de L.G.:

Agradeço ao Joaquim e à Margarida as amáveis palavras que dirigem à comissão organizadora do nosso encontro: ao Carlos Vinhal, Joaquim Mexia Alves e Miguel Pessoa deve-se o mérito principal deste encontro de convívio dos membros da nossa Tabanca Grande.

Depois, em meu nome pessoal e da Alice, quero retribuir a gentileza e a simpatia com que vocês nos tratam nos vossos mails...Afinal, somos vizinhos e de certo que nos iremos encontrar, mais vezes, em Penafiel ou no Marco de Canavezes.

Por razões que devem compreender, não me foi possível estar mais tempo com vocês. Tinha mais 130 pessoas, entre camaradas, bajudas e mulheres grandes (sic), que estiveram presentes no nosso Encontro.... Fico feliz por saber que a Alice e a Margarida descobriram que tinham memórias em comum... Um Alfa Bravo (abraço) para o meu camarada Joaquim, um beijinho para sua mulher grande, Margarida. L.G.
___________

Nota de L.G.:

(*) V. postes de:

16 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4039: O Prémio: Sirvam , em nome da Pátria, uma bica quente a estes rapazes!, dizia o Gen Spínola... (Joaquim Peixoto)

22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1774: A morte do Fernando Ribeiro: eu ia nessa fatídica coluna e era seu amigo (Joaquim Peixoto, CCAÇ 3414)

segunda-feira, 16 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4039: O Prémio: Sirvam , em nome da Pátria, uma bica quente a estes rapazes!, dizia o Gen Spínola... (Joaquim Peixoto)

Guiné > Zona Leste > Sare Bacar > CCAÇ 3414 (1971/73) > O Fernando Ribeiro, de pé, ao lado do seu amigo Joaquim Peixoto (hoje professor do ensino básico, em Penafiel). Morreu em Julho de 1973, na estrad de Binta-Faria, já no final da sua comissão.

"Algum tempo depois de regressarmos da Guiné, fizemos um almoço em Coimbra e fomos depositar um ramo de flores no cemitério em Condeixa. Haveria muito a dizer deste amigo que nos deixou tão cedo. Envio também uma fotografia em que estou com ele. (O Fernando está de pé.) Chamo-me Joaquim Carlos Peixoto, vivo em Penafiel, sou Professor do 1º Ciclo do ensino básico" (JP).

Foto: © Joaquim Peixoto (2007). Direitos reservados

1.Mensagem do Joaquim Carlos Peixoto, de Penafiel:


Amigo Luis:

Se vires que há algum interesse neste artigo, gostava que o publicasses.
Já escrevi para aí, mas o endereço era outro.
Agora tenho um novo mail.
Um grande abraço para todos
Joaquim Carlos Peixoto



2. O prémio que nunca me deram...
por Joaquim Peixoto

Amigo Luís Graça:

Há [dois] anos escrevi um artigo para este blogue (*), e em boa hora o fiz, porque através dele já fui contactado por vários camaradas da Guiné, dos quais já pensava ter perdido o contacto.

Frequentemente leio os assuntos publicados e tenho uma grande vontade de também escrever.Mas, ou por falta de tempo ou por preguiça vou adiando…

Agora resolvi escrever. Se achares oportuno, publica-o.

Identifico-me:

Joaquim Carlos Peixoto (59 anos ); Professor do 1º Ciclo, a exercer funções em Penafiel.

Já deixei de utilizar o mail antigo:
joaquim.peixotomegamail.pt

[Revisão / fixação do texto: L.G.]


O PRÉMIO

1970 - De um jovem, quase adolescente, com um nome próprio...

... vivendo no seio de uma família, um ser humano, (como tinha aprendido o que era um ser humano desde os bancos da escola primária) passei de uma hora para a outra (sem que tivesse consciência de todo do que me estava a acontecer) a fazer parte de um número, um número frio e sem identidade.

Autómato... Maria vai com as outras... o caminho é este que te mandam seguir. Não perguntes, não reajas, não penses, segue em frente… o teu caminho é defender a Pátria. Mas, no escuro do subconsciente perguntava:
- Como vou defendê-la?O que me irá acontecer? Porque tenho de abandonar a minha família.. e fazê-la sofrer? O que vou fazer? Onde guardo os meus sonhos de menino?Quando voltarei ? …Ou não voltarei?

Perguntas e mais perguntas e sempre perguntas que não tinham e não havia resposta .
- Carne para canhão - ouvia-se, de longe a longe, esta frase.

O quê ? Eu ? Eu, era um ser humano que tinha ilusões, sonhos, desejos, sentimentos, gostos… Eu era aquilo ?

Não havia tempo para pensar. O tempo era de agir, obedecer e seguir o caminho indicado.

A roupa escolhida por mim ou pela minha mãe, passou a ser igual à de todos os outros, tratada e arranjada por mim.

As botas, essas - pesadas e desconfortáveis - tinham de andar sempre um brinquinho .

Fazer a recruta. Tirar a especialidade (atirador de infantaria). Tirar curso de minas e armadilhas. Ida para os Açores formar Companhia.


1971 – Chega o dia do embarque.

Para um sítio desconhecido, uma terra com usos e costumes totalmente diferentes. Uma terra que nos embriagava com tanto calor e humidade. ERA A GUINÉ. Uma terra onde havia guerra. Guerra a sério, não um simples jogo de cow boys. Era a doer,… era desesperante. Eu, como todos os outros, confrontado com um ataque, reagia, atacando.

Sofri muito... Vi morrer amigos (**). Saudades. Pergunto:
- Combatíamos por instinto? Porque nos haviam ensinado? Porque queríamos defender a Pátria? Porque nos queríamos defender a nós? Porquê ?

HOJE, passados trinta e seis anos, pergunto:
- PORQUÊ ?

Alguém lúcido e com as ideias bem ordenadas poderá responder-me?

A minha juventude, como a de tantos milhares de camaradas, foi passada entre tiros, medo, mato, vivências terríveis, desilusões, sonhos desfeitos…

Alguém, de vez em quando, dava-nos uma esperança, dizendo que ao regressarmos teríamos a recompensa, o tempo de tropa contaria a dobrar para efeitos de reforma, seríamos reconhecidos pelo contributo que estávamos a dar à Pátria, teríamos orgulho de ser portugueses, a consciência confortada com o dever cumprido.

Um General, muito conhecido, fiel aos seus compromissos, honrando a farda que usava, dizia-nos muitas vezes e passo a citar:
- Quando chegarem à metrópole e vos servirem uma bica fria, reclamem e digam: 'Quero uma bica quente, porque estive a servir a Pátria, na GUINÉ'!

Que ilusão !!! Que desespero !!!

Quem se lembra de nós ? Quem nos estende uma mão de reconhecimento? Que falta de memória !!!

Ao regressar da guerra, ao confrontar-me com a realidade, dura e crua, o que vi, o que senti? O que recebi?

Quando pedia uma bica, não a recebia, nem quente, nem fria. Simplesmente não ma serviam.

Verifiquei que ninguém me reconhecia, nem queriam saber o que tinha feito pela Pátria. Recebi incompreensão, falta de emprego (Os empregos eram para outros) no pós-25 de Abril.

Senti uma tremenda desilusão, um vazio que doía, doía e se transformava, aos poucos, numa frieza que eu não queria.

Queria constituir família. Onde estava a recompensa do dever cumprido? Que era feito das promessas?

Como a minha namorada era Professora Primária (como ainda hoje gosta de ser chamada), incentivou-me a tirar o curso de Professor. Em boa hora o fiz, porque foi sempre muito gratificante trabalhar com crianças. Profissão que abracei com gosto e profissionalismo. Ao longo destes 30 anos de trabalho, raras foram as faltas e sempre por motivos justificados.

A vida foi mudando, o regime político alterou-se, o nível de vida subiu, mas as marcas, o pesadelo, os traumas, o estigma de guerra, esse continua implacável dentro das mais profundas entranhas.

A vida foi pouco a pouco tomando o seu rumo e com este ou aquele projecto de vida, com este ou aquele sonho em melhorar cada vez mais as condições, essas marcas de guerra foram-se camuflando e cada vez mais ténuas foram quase passadas ao esquecimento.

Eis se não quando, por magia ou brincadeira do destino, tudo desaba sobre os ombros e tudo que parecia adormecido vivo e em chamas, prostrando-nos a uma apatia tal que a força para lutar escapa-se-nos pelos dedos, qual água gélida de um glacial a derreter…

Não há mais força, não há mais sonhos…

As leis mudaram, o tempo de tropa já não conta para o regime especial a que os Professores Primários tinham direito. Esse tempo conta só para o regime geral.

E então, tudo o que passei, tudo o que dei à Pátria, todo o meu contributo que prestei com o meu serviço militar só serviu para ser injustiçado ?

Mas que erro cometi em ser Professor Primário só depois de ter cumprido o serviço militar? Que culpa tenho eu em ter ido cumprir esse serviço? Onde se encontra a justiça deste país?

Porque tantos Professores, por não terem cumprido o serviço militar e não irem para o Ultramar, muito mais novos do que eu, já estão aposentados?

Eu, que defendi a Pátria na zona mais perigosa das nossas colónias- a Guiné; que não tive logo emprego quando cheguei porque eram todos ocupados pelos retornados (o que não tenho nada contra eles); que tirei um curso para poder viver e trabalhei sempre com o maior profissionalismo, não me posso aposentar se não aos 65 anos?!...

Que justiça é esta que em iguais condições de trabalho dão a aposentação aos mais novos que tiveram a possibilidade de tirarem o curso mais cedo, que não sabem o que é deixar família, que não sabem o que é uma guerra, que não defenderam a Pátria em detrimento daqueles que, pelo menos 5 anos , como eu, me desfiz de sonhos, que vivi horrores e por esses horrores tirei o curso mais tarde, tenho o PRÉMIO de trabalhar ainda mais !!!...

Vejo muitos dos meus amigos professores a aposentarem-se aos 52 ou 55 anos.Não chegou o que já fiz pelo meu país?

Senhor General Spínola, onde quer que esteja, ilumine os nossos governantes dizendo-lhes:
- Sirvam um café quente a estes ex-combatentes pois estiveram na Guiné...

Joaquim Peixoto

3. Comentário de L.G.:

Pois é, camarada Peixoto, dois anos (tu dizias 'alguns', mas são só dois, o que não deixa de ser muito tempo, era uma comissão em África, dias e dias, noites e noites, semanas e semanas, meses e meses, que nunca esqueceremos, uns pior passados do que outros, com sangue, suor e lágrimas, com muita camaradagem e amaizade, também...).
Mas a verdade é que, desde Maio de 2007, passaste a fazer parte da nossa Tabanca Grande, pudeste reencontrar velhos camaradas da tua CCAÇ 3414, tiveste oportunidade de ler os nossos escritos - já lá vão cerca de 2300 a mais, desde esse dia em que nos contaste a história do teu malogrado amigo e camarada Fernando Ribeiro...

Pois é, a tua/nossa Pátria não foi Mátria, foi Madrasta, para ti, para todos nós, para toda uam geração de portugueses quye combateu em África... Como eu percebo a tua amargura, quando te referes ironicamente ao Prémio que os valorosos e generosos combatentes de África era pressuposto virem a receber, no regresso, depois de cumprido galhardamente o seu dever... No mínimo, o reconhecimento do sacrifício da sua juventude (e em muitos casos da sua vida), por parte dos seus compatriotas, da sociedade e do Estado, do regime democrático instaurado a seguir ao 25 de Abril...
Mas, não, esqueceram-te, arquivaram-te, arrumaram-te a um canto, ao canto das velharias e dos anacronismos da História... Os ex-combatentes são sempre uma pedra no sapato para as novas elites dirigentes, as que assinam a paz antiga e preparam os cenários das novas guerras...

Como entendo a tua ironia, ao citares o General Spínola, uma das suas frases que o tornaram tão popular entre as nossas tropas da Guiné:

"Quando chegarem à metrópole e vos servirem uma bica fria, reclamem e digam: 'Quero uma bica quente, porque estive a servir a Pátria, na GUINÉ'"

Não sei se a frase é apócrifa, mas tu deves tê-la ouvido... Podia ser tão sincera como demagógica, mas a verdade é que tinha o seu efeito emocional: no mínimo, fazia bem ao ego, à auto-estima, de milhares de homens que regressavam das bolanhas, das picadas e das matas da Guiné, amargurados, uns, 'apanhados do clima', outros...

Automaticamente fez-me lembar esse grande poema do Álvaro de Campos / Fernando Pessoa, que tu, como professor, e homem nortenho, deves conhecer, e bem. Permite-me que o reproduza aqui, socorrendo-me, com a devida vénia, do Arquivo Pessoa, disponível em linha:

Álvaro de Campos
DOBRADA À MODA DO PORTO


Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.


(s.d. In: Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).- 310).

Pois é, Peixoto, serviram-nos o amor da Pátria frio, como dobrada fria, quando a dobrada é sempre quente, à moda do Porto, da Cidade Invicta... E nem direito tiveste/tivemos a um cimbalino, quente... Em Lisboa, diz-se uma bica, e eu peço-a sempre... escaldada.

Olha, o único consolo que te posso dar é que gostei do teu 'regresso' e do tom intimista da tua mensagem... Daqui para a frente não tens desculpas, sejam as da perguiça ou da timidez: o nosso blogue, em Penafiel, está à distância de um clique...Um Alfa Bravo. Luís
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1774: A morte do Fernando Ribeiro: eu ia nessa fatídica coluna e era seu amigo (Joaquim Peixoto, CCAÇ 3414)

(**) Sobre o Fernando Ribeiro, vd. postes de:

24 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1544: Quem conheceu o Furriel Mil Art Fernando J. G. Ribeiro, morto na picada de Binta-Farim em Julho de 1973 ? (Luís Graça)

25 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1547: O Furriel Mil Atirador Fernando Ribeiro pertencia à açoriana CCAÇ 3414 e morreu entre Mansabá e Mansoa (A. Marques Lopes)

28 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1554: As mulheres que ficaram na rectaguarda (Luís Graça /Paulo Raposo / Paulo Salgado / Torcato Mendonça)

terça-feira, 22 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1774: A morte do Fernando Ribeiro: eu ia nessa fatídica coluna e era seu amigo (Joaquim Peixoto, CCAÇ 3414)

Guiné > Zona Leste > Sare Bacar > CCAÇ 3414 (1971/73) > O Fernando Ribeiro, de pé, ao lado do seu amigo Joaquim Peixoto (hoje professor do ensino básico, em Penafiel). Morreu em Julho de 1973, já no final da sua comissão. A viatura blindada que aparece atrás, na fotografia, parece ser uma Chaimite... (LG)

Foto: Joaquim Peixoto (2007). Direitos reservados


1. Mensagem do Joaquim Peixoto:

Caro Luís Graça:

Muitas vezes recorro à Internet para saber notícias dos camaradas da CCAÇ 3414. Fiquei muito surpreendido ao verificar que alguém queria saber algo sobre o meu amigo Fernando Ribeiro (1)

Tal como ele, também eu fui furriel. Pertencíamos à mesma companhia, mas a pelotões diferentes. Formámos batalhão no BII 17, em Angra do Heroísmo. Partimos para a Guiné em 26 de Junho de 1971, a bordo do navio Niassa.

Durante um mês fizemos o IAO em Bolama. Depois partimos para Sare Bacar, a poucos metros do Senegal. Estivemos aqui muitos meses e, quando pensávamos regressar, (felizmente não tínhamos sofrido qualquer baixa) soubemos que ainda tínhamos de cumprir mais alguns meses. Ficámos em Bissau e então começaram os azares.

Numa coluna apanhámos uma mina anticarro que vitimou o condutor Parreira. Mais tarde, quando regressávamos de uma missão, sofremos uma emboscada, que vitimou o Furriel Fernando Ribeiro. Fiquei muito chocado com esta morte, porque poucas horas antes tinha estado a ter uma conversa com ele.

Pouco antes da emboscada tivemos que atravessar um rio.( Onde anos antes tinha havido um grande desastre). Essa travessia foi feita em jangadas. A minha vez de fazer essa travessia era anterior à do Fernando Ribeiro, mas este fez questão de me acompanhar e nessa viagem falou-me da namorada, do irmão, etc … Essa emboscada aconteceu numa estrada alcatroada. O F. Ribeiro seguia duas viaturas à frente da minha.

Foi muito sentida esta morte. Quando chegámos ao quartel houve alguns camaradas que ficaram em estado de choque e precisaram de receber assistência médica. Esta CCAÇ 3414 era formada por soldados açoreanos e nós, os graduados, éramos de cá.

Algum tempo depois de regressarmos da Guiné fizemos um almoço em Coimbra e fomos depositar um ramo de flores no cemitério em Condeixa. Haveria muito a dizer deste amigo que nos deixou tão cedo.

Envio também uma fotografia em que estou com ele. (O Fernando está de pé.) Chamo-me Joaquim Carlos Peixoto, vivo em Penafiel, sou Professor do 1º Ciclo .

Um grande abraço

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Joaquim, pelo teu testemunho. Tu eras camarada e amigo do Fernando. O teu depoimento é muito importante. Tu estavas lá, nessa emboscada fatídica... Foste o primeiro, da tua unidade, a CCAÇ 3414, a responder ao nosso pedido... Bem hajas. Gostaria que te juntasses a nós. Temos muito gosto em que faças parte da nossa tertúlia, tabanca grande ou caserna virtual. Como queiras. (LG)

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Nota de L.G.:

(1) Sobre o Fernado Ribeiro, vd. posts de:

24 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1544: Quem conheceu o Furriel Mil Art Fernando J. G. Ribeiro, morto na picada de Binta-Farim em Julho de 1973 ? (Luís Graça)

25 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1547: O Furriel Mil Atirador Fernando Ribeiro pertencia à açoriana CCAÇ 3414 e morreu entre Mansabá e Mansoa (A. Marques Lopes)

28 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1554: As mulheres que ficaram na rectaguarda (Luís Graça /Paulo Raposo / Paulo Salgado / Torcato Mendonça)