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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14267: Feliz Ano Novo Chinês 新年快樂 Happy New Year - Cabra 羊 Goat (Virgílio Valente / Wai Tchi Lone, ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau,, há mais de 2 décadas;  ex- alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; foto atual à esquerda; agradecemos e retribuímos os votos de  Feliz Ano Novo Chinês, e fazemos, da nossa partem votos para que seja no ano da Cabra que o nosso camarada Wai Tchi Lone nos mande as prometidas fotos de Gampará ou do tempo da tropa para a gente formalizar a sua entrada na Tabanca Grande]:


Data: 16 de fevereiro de 2015 às 16:31

Assunto: Feliz Ano Novo Chinês 新年快樂 Happy New Year - Cabra 羊 Goat


Feliz Ano Novo Chinês
Happy New Year
新年快樂
Boa Saúde
Good Health
身體健康
Kung Hei Fat Choi
恭喜發財



«如果你想要去的快,一個人去! 如果你想要走多遠,走起來!»

«Se quer ir depressa, vá sózinho!   Se quer ir longe, vá junto!» (Provérbio Africano)

«If you want to go fast, go alone!  If you want to go far, go together!» (African Proverb)

sábado, 26 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13047: 10º aniversário do nosso blogue (22): Mensagens de parabéns (Parte I): Virgílio Valente (Macau, China), Albano Costa (Guifões, Matosinhos), Joaquim Luís Fernandes (Maceira, Leiria) e Felismina Costa (Agualva, Sintra)

1. Seleção de mensagens enviadas para a caixa do correio da Tabanca Grande ou comentários a postes anteriores (*):

(i) Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], Macau [ ex- alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74.] [, foto atual à esquerda]

Parabéns à Tabanca Grande pelo 10.º Aniversário.

Parabéns também aos seus mentores e um grande abraço pelo trabalho que vêm fazendo.

É de facto uma Tabanca Grande onde cabem todos os que vêm por bem.

Diariamente acedo ao blogue e diariamente me culpo por ainda não ter contribuído com algo.

Mas tudo virá a seu tempo.

Daqui, de Macau, do longe Oriente, vai um abraço muito especial, neste 10.º Aniversário da Tabanca Grande, para todos os que diariamente constroem e mantém vivo este ponto de encontro.

Para todos os que passaram, viveram e sentiram a Guiné-Bissau um grande abraço.

Para os camaradas da minha CCaç 4142, que estiveram em Gampará, de 1972 a 1974, que lá viveram o 25 de Abril e o primeiro 1.º de Maio, que lá tiveram os primeiros encontros, em paz, com os camaradas do PAIGC e para aqueles que sendo da Guiné se lembram ou estiveram também nesses momentos, um grande Abraço.

Força, ainda há muito para escrever nesse blogue.

Obrigado Luís Graça e restantes Camaradas.
Virgílio Valente
Macau, China.

************


(ii) Albano Costa [ ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74] [., foto à direita  no nosso II Encontro Nacional, Pombal, 2007]

Caros amigos

Não queria deixar passar este dia sem vos agradecer a todos o prazer que me têm dado de vos acompanhar ao longo destes anos todos.

Parece fácil mas não o é, só com pessoas empenhadas como todos os que fazem mover este blogue, desde já os meus agradecimentos, e que Deus vos dê saúde e paciência para continuarem nesta luta que tem feito muitos bem aos ex-combatentes, que os aproximou e fez com que nós todos tenhamos sacudido o pó e que ainda possamos continuar a fazer despertar as nossas mentes para mais estórias.

Um bem haja para todos,
Albano Costa

************

(iii) Joaquim Luís Fernandes, Maceira, Leiria [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974] [, foto à direita]

Caro Luis Graça, Caros Camarigos

24 de abril de 2014; De manhã visitei o blogue e deparei-me com este Post 13030. Apressado li o poema (que já tinha lido noutro post) "Hoje tenho pena de nunca ter escrito a uma madrinha de guerra". Então, senti um tremor e comovi-me até às lágrimas. Senti o impulso de logo comentar e enviar o meu abraço fraterno e os parabéns ao Luís, mas as obrigações profissionais exigiam de mim que saísse do blogue e adiasse o comentário, como tantas vezes acontece.

Foi um dia intenso, exigente. A minha sensibilidade esteve à flor da pele, pelo poema, pelo que me fez sentir, pelo dia em que estava, no muito que me recordava e me fazia reviver em fortes emoções.

Agora já é dia 25, 40 anos depois desse outro dia 25 de abril que me apanhou na Guiné. Apetecia-me escrever muito, exteriorizar os meus sentimentos, registar os meus pensamentos e reflexões sobre esta data e o que ela encerra e me diz, neste confronto de esperanças e desilusões, de interrogações e conclusões, mas não é este o lugar apropriado e também já estou cansado, pelo que vou ser breve.

Quero dizer-te Luís, que gostei muito deste teu poema, em que dizes tanto, naquilo que sentes e expressas e de que comungo. Nesta confissão, vejo a grandeza da tua alma e o teu grande talento. Mas permite-me que te diga: Não tenhas medo do Sagrado. Ele está perto de ti. Ele está em ti e nada te rouba, apenas te engrandece e te devolve em ti, a plenitude do teu Ser.

Postal de aniversário. Autor: Miguel Pessoa
Eu também nunca tive uma madrinha de guerra, mas tinha uma namorada/noiva/mulher. Tinha deixado também a rezar por mim, mãe, pai, futura sogra, irmãs, irmãos. Escrevi e recebi centenas de cartas e aerogramas. Eles foram para mim um bálsamo. Ler e escrever era o meu momento de encontro comigo próprio, livrando-me da alienação da guerra. Momento de interiorização e de equilíbrio emocional.

Por fim quero manifestar mais uma vez o meu apreço pelo Blogue. Endereçar-te os parabéns pelo seu 10º aniversário, que torno extensivos aos camaradas co-editores a a todos os camarigos de tertúlia. Peço compreensão pela minha parca participação. Quando tiver mais tempo disponível, escreverei mais. Há muitas reflexões e vivências que gostaria de partilhar e perguntas a fazer. Há enormes hiatos na minha compreensão do que foi aquela guerra, que gostaria de esclarecer. Haja tempo para isso.

E por aqui me fico por hoje.

Um forte abraço
JLFernandes

************

(iv) Da nossa amiga tertuliana Felismina Costa de Agualva, Sintra

Ao seu criador Luís Graça,
Aos Editores Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães Ribeiro, e à tertúlia em geral.

É com muita amizade que saúdo o Décimo Aniversário da existência deste Blogue, seu criador e editores, e bem assim quantos que, com o seu testemunho, fazem com que o propósito da sua criação tenha atingido um nível tão alto e tão diverso, tal como foram as vivências aqui relatadas, suas ideias, suas convicções, suas dores, mágoas e alegrias...

Ele, é a página que relata, treze anos de vida da Juventude Portuguesa, perdida numa luta sem sentido, por terras da Guiné entre 1961/1974, e onde os participantes sobreviventes dão testemunho da sua experiência, do seu crescimento e amadurecimento, e o palco do reencontro de velhos camaradas e amigos!

Ele, o Blogue, reuniu uma grande família, que cresceu e se multiplicou nos anos de ausência, na análise do passado, do vivido e aprendido, nos valores da fraternidade que toda a vivência produz!

Aqui, eu mesma, reencontro o tempo, a ligação ao passado, a amizade coexistente num tempo em que também fui "espectadora" ausente e preocupada. Com ele, julgo, também tenho crescido um pouco na compreensão do tema uno.

Ganhei amigos que fazem parte do meu presente, que preenchem as minhas horas, que são tema das minhas referências, com quem partilho vivências, ideias, alegrias e tristezas, pois que é de tudo isso que a vida se faz!

Felicito o tempo de vida desta Página, a Grande Obra, onde se regista muito do vivido "Naquele Tempo"! 

Felicito o seu Criador na Pessoa do Dr. Luís Graça.

Felicito os seus editores, nas Pessoas de Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães Ribeiro.

Todos os seus Colaboradores, todos os que participam com o testemunho da sua vivência e da sua amizade e suas respectivas famílias. Eu, sou-vos devedora, da vossa amizade e do orgulho que sinto por tudo o que atrás refiro.

Desejo a continuação deste Diário, desta Obra-Prima de Organização e testemunho, por muitos anos, que é o relato em primeira mão de uma grande página da História dos Povos.

Bem-hajam Amigos! Obrigada!
Felismina Mealha

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12440: Boas Festas (2013/14) (5): De Macau, com saúde, paz e amor, os ingredientes para a felicidade (Virgílio Valente, ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74)



1. Mensagem do nosso camarada Virgílio Valente [ Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau, desde 1993.  Foi alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74. Aguardamos a sua entrada para a Tabanca Grande e retribuímos-lhes os seus votos de festas felizes. (LG)


Para todos os meus Amigos,

For all my Friends,

送給我的朋友們 



Feliz Natal e Próspero Ano Novo

Merry Christmas and Happy New Year

聖誕快樂,恭賀新禧 



Com Saúde, Paz e Amor, os ingredientes para a Felicidade
With Health, Peace and Love, the ingredients for Happiness

健康,和平,愛是幸福的元素

_______________

Nota do editor:

sábado, 16 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12302: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): Notícias de Macau, do futuro grã-tabanqueiro Virgílio Valente, ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74)

1. Mensagem de Virgilio Valente [, foto à esquerda,, em Macau, cortesia da página do Facebook de Wai Tchi Lone]. com data de 11 do corrente, em resposta a uma mensagem anterior, do nosso editor (*)

Luís Graça,

Obrigado pelo teu e-mail.

Sim, ainda continuo por Macau, terra que me acolheu em 1993. (**)

O Manuel Amante da Rosa já deixou Macau e também não tenho tido notícias recentes sobre onde está ou o que está fazendo agora.
Confesso que tenho andado bastante ocupado nos últimos tempos e por isso mesmo não tenho perguntado por ele. Culpa minha, prque devemos sempre saber dos amigos, ainda que não seja só para saber se estão bem.

O amigo [António] Estácio continua por aí por Portugal. De vez em quando dá notícias, poucas, mas vai dando. Continua a escrever sobre a Guiné. Sempre que vem a Macau costumamos encontrar-nos e falar um pouco. Faço parte de Associação dos Naturais e Amigos da Guiné-Bissau, em Macau, como sócio extraordinário. E é nas actividades desta associação que muitas vezes me encontro com o Estácio.

Reencontrei agora, por email, um amigo da CCAÇ 4142 e que foi furriel no meu pelotão (o 4.º), Dálio João Gil de Carvalho. Temos mantido algum contacto através do Facebook. Já lhe falei neste Blogue. Há três anos estive com o Sargento [Victor] Gonçalves, e esposa, em Vila Real quando aí fui de férias.

Sim, o António Graça Abreu é um nome bastante conhecido por estas bandas. Pessoa com bastantes conhecimentos e experiência sobre a vivência Chinesa. Estou interessado em ler o seu livro "Toda a China". espero que ele leia este email e me contacte pois sei que anda por Macau mas ainda não tivemos possibilidade de nos ver.

Quanto a escrever para o Blogue, ando para o fazer desde o primeiro dia. Tenho algumas fotos da Guiné, principalmente da Gampará e dos tempos que lá passei,  bem como histórias que nunca mais me sairão da lembrança.

Vou preparar algumas fotos e respectivas legendas e tentarei enviar para depois veres, se achares bem, se deves publicar no blogue.

Estou em Macau e estes são os meus contactos:

VIRGÍLIO VALENTE
Telemóvel (+853) 66808034
Telefone do serviço (+853) 89896116
Telefone de casa (+853) 28830781
email: oumunlinfa@gmail. com ou patelas@macau.ctm.net
Facebook: Wai Tchi Lone (é o meu nome em chinês)

Aguardo notícias tuas e dos restantes amigos [, acima citados,] para quem igualmente envio este email.

Fica também o voto de que vos possa receber em Macau e outro de que nos encontremos em breve em Portugal, talvez no próximo ano quando aí for em curto período de férias.

Parabéns pelo Blogue. Não há dia que não o leia. Parabéns a todos os que escrevem no Blogue. Nele as memórias de uma época, de um passado, de muitos portugueses. Triste o Povo que não tem Memória. (***)

Alfa Bravo com Afecto,

Virgílio Valente
________________

Notas do editor:

(*) Mensagem de L.G., enviada a 3 do corrente:

Virgílio: Não sei se ainda continuas por Macau ou se já voltaste à santa terrinha, a quem às vezes chamamos Pátria, Mátria, Fátria... ou simplesmente Madrasta. Em qualquer dos casos, muita saúde e longa vida, porque um combatente da Guiné merece tudo!...

Não tenho tido notícas do nosso comum amigo (e camarada) Manuel Amante da Rosa, a não ser há um ano atrás, quando o meu filho, João Graça (e a sua banda musical, os Melech Mechaya), jantou com ele, na Praia, Santiago.

Quanto ao grande Estácio, costumo vê-lo, em Monte Real, nos encontros anuais da nossa Tabanca Grande. Teve uns problemas de saúde que, penso, já ultrapassou felizmente.
Por sua vez, António Graça de Abreu que, penso, também é teu conhecido, nas andanças por China, Macau, etc., publicou mais recentemente um livro, que deve interessar-te: é o 1º volume de um livro de viagens e memórias, "Toda a China" (Lisboa: Guerra e Paz Editoras, 2013), lançado recentemente no Museu do Oriente, aqui em Lisboa.

Escrevo-te, entretanto, para te dar notícias de mais um camarada da tua CCAÇ 4142 que nos visita, por intermédio da sua filha, Elisabete Gonçalves... O Victor Gonçalves é hoje srgt chefe reformado... Deves lembrar-te dele. Tens aqui o link, no nosso blogue.

Escrevo-te ainda porque continuas a ter um lugar à tua espera, debaixo do frondoso, mágico e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande. Já somos 631 (ou éramos, uma vez que quase 3 dezenas jde grã-tabanqueiros á nos deixaram, segundo no "barco de Caronte" para aquela última viagem que nenhum de nós quer fazer.. pelo menos tão cedo)...

Pois, caro Virgílio, ainda não tenho ninguém que represente, no blogue, os valorosos "Herdeiros de Gampará".. Como sabes, o preço é simbólico: 2 fotos e 1 história/10 linhas...Pensa lá nisso. Queria ver o teu nome junto desta valoroso rapaziada que um dia desembarcou na Guiné e alguns, como tu e eu, beberam a água do Geba... 

Um Alfa Bravo com afeto. Luís Graça

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12247: Memória dos lugares (248): Em Gampará, sítio desolador, o dia mais feliz era quando chegava a LDG com as 'meninas' de Bissau... (Amílcar Mendes, ex-1º cabo comando, 38ª CCmds, 1972/74)


Guiné > Zona Leste > COP 7 (Bafatá) > Margem esquerda do Rio Corubal > Península de Gampará > Gampará >  1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará),  assinalando a passagem  por Gampará (e Ganjauará) da 38ª CCmds e de outars tropas especiais. Vê-se que por ali também passaram, ao serviço do COP 7 (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o 29º Pel Art e o Pel Mil 331.




Guiné > Zona Leste > COP 7 (Bafatá)  > Margem esquerda do Rio Corubal > Península de Gamapará >  Gampará > 38ª Companhia de Comandos > 1972 > O Comando Amílcar Mendes, hoje taxista na praça de Lisboa, e membro sénior da nossa Tabanca Grande.

Fotos: © Amilcar Mendes (2007). Todos os direitos reservados.

1. No nosso blogue, temos 12 referências (ou marcadores) sobre Gampará e 3 sobre Gaujauará. Temos falado pouco sob esta pensínsula de Gampará, correspondente à margem esquerda do Rio Corubal e durante muito tempo um "santuário" do PAIGC. Era "chão beafada"... Já a Ponta do Inglês, com 23 referências, em frente a Gampará, na Foz do Corubal, mas na margem direita do rio,  tem tido mais "tempo de antena", uma vez que fazia parte do subsetor do Xime (Setor L1, Bambadinca)...

Nos últimos anos da da guerra (1972/74) passaram por lá, pela pensínsula de Gampará, de acordo com os nossos registos bloguísticos,  a 38ª CCmds e CCAÇ 4142 (*).  Mas houve mais tropa nossa, ao tempo em que Spínola fez uma grande ofensiva contra as chamadas regiões libertadas do PAIGC (por exemplo, o Cantanhez, embora já no fim do ano de 1972).

Está na altura de revisitar um poste antigo, do Amílcar Mendes, da 38ª CCmds, que conheceu o resort de Gampará (**), antes da malta da CCAÇ 4142. Quem tem trágicas memórias de Gampará e o nosso Victor Tavares e os seus camarasas da CCP 121 / BCP 12 que, uns meses antes, em 4/3/1972, sofreram 6 mortos e 12 feridos, no decurso da Op Pato Azul (***).


2. Memória dos lugares >  Gampará (38ª CCmds, agosto/dezembro de 1972)

por Amílcar Mendes [, foto atual, à esquerda]


(i) A cerveja de marca Mijo

Em Gampará não existe gerador. As noites são mesmo noite e, tirando umas chamas improvisadas nas garrafas de Cristal, nada se vê. No arame farpado duplo, os sentinelas esfregam os olhos para tentar distinguir vultos junto ao arame farpado. Pendem do arame centenas de garrafas de cerveja vazias que são o último grito em tecnologia de alarme. Nesta terra do nada, nada há. Temos uns bidões vazios, fizemos umas caleiras em chapa para apanhar a água da chuva e é dessa água que enchemos os cantis e nos lavamos.

A população beafada, embora seja muito hospitaleira, é muito ciosa das suas coisas e não abre mão dos animais, somos então obrigados a ir ao desenrasca até porque já atingimos a saturação dos petiscos de Gampará: cubos de marmelada com bianda, bacalhau liofilizado com bianda, chouriço intragável com bianda e tudo acompanhado por cerveja com temperatura ao nível do mijo...

Dizia-se então em Gampará,  quando os hélis vinham trazer mantimentos, que vinham entregar cerveja marca Mijo. Assim se vive em Gampará!


(ii) Feliz Natal e um Ano Novo cheio de 'propriedades'...

Todas as noites,  e sempre à mesma hora, na ausência de música, ficamos entretidos a tentar contar as morteiradas que brindam o destacamento do Xime! Ficamos à espera quando acaba lá e os tubos sejam virados para o nosso lado... Nunca na Guiné atingi um estado de magreza igual. Nunca na Guiné as condições de vida foram tão miseráveis.

Entramos no mês de Outubro [de 1972]  e vei o cá uma equipa da Emissora Nacional para gravar as mensagens de Natal para a nossa família. Não foi fácil. Todos íamos para um canto repetir vezes sem conta: Queridos Pais, irmãos e irmãs e restante família, desejamos um Natal feliz e um Ano cheio de 'propriedades'!... Esta ultima palavra era emendada mil vezes, que isto com os nervos e emoção não é fácil !

E como a ladainha era igual para todos, só muito depois é que muitos se lembravam que só tinham irmão ou irmãs, mas isso não era problema. Estavam presentes as Senhoras do Movimento Nacional Feminino. Animavam-nos porque a meio da mensagem muitos desatavam a chorar. Uma das Senhoras era de uma simpatia sem igual.(Só anos mais tarde soube que era a Cilinha!) .

(iii) O dia mais feliz: quando chegava a LDG com as 'meninas' de Bissau...

Em Gampará um dia verdadeiramente feliz para os militares era quando chegava a LDG e vinham as meninas de Bissau, trazidas pelo Patrão, e que tinham por missão aliviar o stress do pessoal.

As meninas chegavam, instalavam-se numa tabanca, o pessoal passava pelo posto de enfermagem (?), recebia o sabão asséptico, o tubo da pomada para meter pelo coiso acima a seguir ao acto... Entretanto formava-se a bicha e trocavam-se larachas para matar o tempo, do tipo Quando chegar a minha vez com tanta gente, 'aquilo' parece o arco da Rua Augusto!.

A seguir era rezar para que o esquenta não aparecesse...

(iv) O nosso regresso a Bissau

19 de Outubro de 1972.  Soubemos hoje que metade da 38ª CCmds regressa amanhã e outra metade irá permanecer aqui a fim de dar o treino operacional à CCAÇ 4142 até 3 de Novembro de 1972. O meu Grupo de Combate será um dos que regressa.

Gampará, com todas as privações, teve o mérito de reforçar ainda mais os laços de amizade e confiança da 38ª CCmds. Aprendemos na privação a dar valor às pequenas coisas que a vida nos dá. A amizade entre os praças, sargentos e oficiais é,  na 38ª CCmds, visível  a quem observa a Companhia de fora. Essa amizade irá refletir-se em diversas ocasiões e irá levar a Companhia a muitos sucessos na actividade operacional.

20 de Outubro de 1972. Pela MSG imediata 3831/c , a 38ª CCmds regressa a Bissau, donde segue para Mansoa [, CAOP1,] para um período de descanço, ficando apenas a realizar segurança imediata ao Aquartelamto. (Esse período de descanso só durou três dias, logo aseguir correram connosco para Teixeira Pinto, de tão má memória para a 38ª CCmds). (****)

Amílcar Mendes
1º Cabo Comando
38ª CCmds
Guiné 72-74

2. Comentários do editor:

A CART 3417  foi mobilizada pelo RAL 3. Partiu para o TO da Guiné em 26/6/1971 e regressou a 24//9/1973. Teve 4 comandantes, sendo o 1º o cap art António Ângelo de Almeida Faria...Esteve Mansabá, Bissau, Ganjauará, Quinhamel, Bissau e Quinhamel

A CCAÇ 4142/72 foi mobilizada pelo RI 1. Partiu para o TO da Guiné em 16/9/1972 e regressou a 25/8/1974. Comandante_ cap mil cav Fernando da Costa Duarte. Esteve sempre sediada em Ganjauará.
_________________

Notas do editor:

Vd. poste de

(*) 3 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12246: O Nosso Livro de Visitas (168): Elisabete Gonçalves, filha do nosso camarada Victor Gonçalves, Sargento-Chefe que pertenceu à CCAÇ 4142 (Ganjauará, 1972/74)

(**) Vd 19 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2775: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (3): Nem só de guerra vive um militar

Vd. postes anteriores. desta série:

7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1930: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (1): Um sítio desolador

(...) 15 de Agosto de 1972 - Pelas 09H30 do dia 15 de Agosto 1972, a 38ª CCmds segue via fluvial na LDG Alfange com destino a Gampará nos termos da mensagem Confidencial Imediata 3054/c, de 9 de Agosto de 1972, do COMCHEFE (REPOPER). Chega pelas 14h30 deste dia fazendo a sua apresentação e, passando a reforçar o COP-7 [Zona Leste, Bafatá], rendendo a 2ª Companhia de Comandos Africanos. (...)

(...) Gampará à vista! Desolador! O quartel é só tabancas que a tropa divide com a POP, arame farpado a toda a volta e uma dúzia de torreões com sentinelas. É aqui que iremos viver até quando calhe. (...)

16 de julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1956: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (2): Passa-se fome, muita fome

 (...) 2ª quinzena de Agosto de 1972

Passa-se fome, mesmo muita fome. Saímos em patrulhamentos ofensivos dia sim dia não, para as regiões de Campana, Nhala, Guebambol, Ganjaurá, Sama, Gambachicha, etc. etc.

Dormimos em colchões pneumáticos mas já há muito que não tenho esse luxo porque as formigas roeram-me o colchão por baixo e estou a dormir no chão. A luz vem de candeeiros improvisados: uma garrafa de cerveja com gásoleo e com corda a servir de pavio.

Come-se muito mal, a não ser algum cabrito roubado ou alguns papagaios que se matam e o resto é bianda com marmelada, bianda com chouriço, bolachas com bianda e assim se vai vivendo. Perdi cerca de 10 kg até agora.

Tivemos problemas sérios com a população. O 1º cabo Simão (que meses mais tarde viria a morrer na estrada Teixeira Pinto -Cacheu) roubou um porco que se matou e assou no forno do padeiro para melhorar um pouco a diete do pessoal. Só que, e sabe-se lá como, o Homem Grande da tabanca descobriu e foi-se queixar ao comandante. Fomos obrigados a pagar o porco e de castigo fomos p'rá mata. (...)

(***) Vd. postes de:


9 de março de 2011 > Guiné 63/74 - P7916: Efemérides (61): 4 de Março de 1972, uma data trágica para a família pára-quedista: 6 mortos e 12 feridos, em Gampará, na margem esquerda do Rio Corubal (Victor Tavares, CCP 121/BCP 12, 1972/74)

21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os pará-quedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gampará (Victor Tavares, CCP 121)

(...) Desta tragédia para a família pára-quedista, que jamais esquecerá este dia, resultaram seis mortes, Alf Mil Pára-quedista Abreu, Furriel Pára-quedista Cardiga Pinto, PCB/Pára-quedista 47/68 Santos , PCB/Pára-quedista 129/69 Almeida , Sol/Pára-quedista 318/69 Jesus , PCB/Pára-quedista 412/69 Sousa, 2 feridos graves e nove com menos gravidade, Furriel Pára-quedista Casalta (Comandante da 1ª secção do 2º Pelotão) , Sol Pára-quedista Inês (evacuado para a metrópole ), Ferreira, Tavares, Ventura, e 1º Cabo Pára-quedista Figueiredo, todos do 2º Pelotão, e o Sold Pára-quedista Salgado - Estilhaço, de alcunha - do 1º Pelotão, faltando três por identificar pois, passado todos estes anos, já não me recordo, e ficará para sempre uma saudade enorme D’AQUELES EM QUEM PODER NÃO TEVE A MORTE" (...).

domingo, 3 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12246: O Nosso Livro de Visitas (168): Elisabete Gonçalves, filha do nosso camarada Victor Gonçalves, Sargento-Chefe que pertenceu à CCAÇ 4142 (Ganjauará, 1972/74)

1. Mensagem de Elisabete Gonçalves (filha do nosso camarada Victor Gonçalves, Sargento-Chefe de Inf que fez parte da CCAÇ 4142, Ganjauará, 1972/74), com data de 22 de Outubro de 2013:

Caros Senhores,
Tenho vindo a publicar vários textos com memórias do meu pai, tendo sido bem aceites por camaradas e grupos do facebook. Se o achar digno de publicação no seu blogue, disponha.

Um abraço.
Elisabete Gonçalves



Guiné - Região de Quínara - Mapa de Fulacunda (1955) / Escala 1 por 50 mil - Posição relativa da Península Gampará e do destacamento de Ganjauará à guarda da CCAÇ 4142.

Ainda hoje, no desespero com que nos obriga a comer a última folhinha de alface da terrina da salada, eu sei que é verdade que nos 730 dias que passou em Gampará, aturdido em trincheira com o quase permanente arraial dos tiros de canhão sem recuo e mísseis (soviéticos?) dos “turras”, a beber água de um poço profundíssimo que entupia o sorvedouro com rãs e tão pouca que apenas dava para o rancho, em que o banho era tomado debaixo do pingante do telhado de zinco, esperando de sabão e toalha na mão que viesse a chuvada depois do aviso do trovão ao longe... que os parcos legumes frescos que comeu se contam pelos dedos da mão.

Sei-o na raiva com que não deixa ficar nada que seja verde no prato, mesmo que esteja já satisfeito... que é verdade!

Gampará ficava apenas a 60 km de Bissau e facilmente alcançável rio Geba acima, tal como fez o navegador Diogo Gomes no ano de 1456, numa planura que faz sentir à altura de 6 metros as marés do Atlântico. Um dos rios que são dele afluentes, o Corubal, faz no subir de maré alta o estranhíssimo “macaréu”, que ao fazer uma onda de quase três metros rio acima, obriga a saltar das pirogas os navegantes de “água-que-deveria-ser -doce", (...mas é apenas salgada e barrenta!) em verdadeiro pânico. A gigantesca onda varre tudo à sua passagem, galgando margens até se desfazer vencida por uma cota mais alta.

Do outro lado do rio,  mesmo em frente da península de Gampará.  fica Porto Gole, onde em "zebros" foram buscar gatos bravos, que os esfarraparam de arranhadelas na renitência de se verem metidos em sacos de serapilheira que antes estavam cheios de batatas, para debelarem a praga de ratos que assolou a península dos “Herdeiros de Gampará”... e a preciosa despensa da Companhia.

Durante dois anos, apenas interrompidos por uma breve visita à Metrópole que mal deu para afogar as saudades, a Companhia de Caçadores 4142 sobreviveu e resistiu, em surdez colectiva ao tiroteio cerrado, à escassez de alimentos frescos, ao racionamento da água potável, aos mosquitos e ratazanas, ao paludismo, ao calor húmido e abafado dos trópicos, ao macaréu... sucumbindo apenas às intermináveis barrigas de "lutador de Sumô” que lhes fazia a cerveja, mesmo no contragosto de quem nada mais tem de fresco para beber. Nas fotos que enviava, quase sempre em tronco nu, calções e grande bigode, invariavelmente a legenda dizia, depois dos beijos e saudades: “Pareço o Gungunhana!”

O 25 de Abril apanhou-o de surpresa em Bissau enquanto saia do Banco, fardado e de maleta preta com o dinheiro para pagar à Companhia, que preparava o tão ansiado regresso.

Às pauladas que o puseram como Cristo, a “esguichar sangue” cara abaixo, que lhe deu a turba eufórica de Guineenses que festejava a “queda do Império”, reagiu calado e aceitou-as sem se defender em troca de proteger a mala contra o peito... com o único “passaporte” que lhes garantiria o regresso.

Depois de dias a fio com músculos retesados da vigília, noites de sonos interrompidos e nunca silenciosos no medo de ter a garganta cortada à catanada, encontro agora explicação para os saltos de pânico que ainda hoje, volvidos tantos anos, dá em grito de “Que foi isto?!, quando no silêncio de uma casa na hora de almoço... se deixa cair um garfo estridente, na tijoleira da cozinha.

Chama-se a isto, sei-o agora, “Síndrome de Guerra”!
(Com Victor Gonçalves, Sargento Chefe de Infantaria, meu Pai).

Elisabete Gonçalves

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Sobre a CCAÇ 4142/72

Unidade Mobilizadora: RI 1 (Amadora)
CMDT: Cap Mil Cav Fernando da Costa Duarte
Partida: 16SET72
Regresso: 25AGO74


Síntese da actividade operacional:

Após realização da IAO, de 20SET72 a 17OUT72, no CMI, em Cumeré, seguiu em 18OUT72 para Ganjauará, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CART 3417.

Em 15NOV72, assumiu a responsabilidade do subsector de Ganjauará, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 7 e depois do BART 6562/72, tendo orientado a sua actividade para a redução do esforço inimigo na região e coordenação dos trabalhos de reordenamento das populações.

Em 01AGO74, foi rendida no subsector de Ganjauará pela 2.ª Companhia do BCAÇ 4612/72, recolhendo a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

(Pág. 413 da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) - 7.º Volume - Fichas das Unidades-  Tomo II - Guiné)

OBS:- Emblema da colecção do nosso camarada Carlos Coutinho
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11873: O Nosso Livro de Visitas (167): Francisco Maria Magalhães Batista, ex-Alf Mil, integrado na CART 2732 em Setembro de 1971 (Carlos Vinhal)

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11941: Em busca de... (227): Pessoal da CCAÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, 1972/74 (Joviano Teixeira, residente em Tavira)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > Mapa de Fulacunda (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Gampará e da Ponta do Inglês na Foz do Rio Corubal 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Joviano Teixeira:

De: Joviano Teixeira (joviano59@gmail.com)
Data: 11 de Agosto de 2013 às 16:27
Assunto: Pedido

Boa tarde,  camarada

Desde que voltei da Guiné que não sei nada dos meus camaradas. Apenas sei que quase todos eram da região norte: Lamego, Mondim de Basto, Viana do Castelo, Porto etc.

Pertenci à CCÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, Guiné. 1972/74.

Se te for possível localizar alguém, nomeadamente saber o local e data do próximo encontro, agradeço.

Resido em Tavira e, como disse, nunca mais soube da malta.

Obrigada pela dedicação (já visitei o blogue e gostei).
Cumprimentos,
Joviano.


2. Comentário de L.G.:

Obrigado, camarada Joviano Teixeira, pela tua mensagem, pelo teu pedido e pelas tuas simpáticas palavras de apreço em relação ao nosso blogue... Infelizmente só tínhamos, até a esta data, duas referências à tua CCAÇ 4142.  Há dois anos atrás tivemos uma primeira (e única)  visita de um camarada teu, que nos escreveu o seguinte:

(...) "Olá. Sou Virgílio Valente, actualmente a viver e a residir em Macau, amigo de muitos dos amigos do Blogue Luís Graça e Camaradas, nomeadamente do António Estácio, que recentemente lançou o livro Nha Bijagó. Fui alferes miliciano, atirador e com a especialidade de minas e armadilhas, na Guiné, mais precisamente em Gampará, de 1972 a 1974, na CCAÇ 4142. Cheguei a Bissau a 16 de Setembro de 1972 e fui directo para o Cumeré e depois para Gampará, por LDG, em Outubro de 1972 donde só saí em meados de Agosto de 1974, tendo chegado a Lisboa a 30 de Agosto de 1974.

"Soube deste blogue pelo camarada e amigo Manuel Amante da Rosa, do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, que foi Secretário-geral do Forum Lusófono aqui em Macau, até finais de Junho deste ano". (...)


Não sei se ele ainda está em Macau... Mas tenta contactá-lo através do seguinte endereço de email: oumunlinfa@gmail.com
O ideal era termos duas fotografais tuasm, uma atual e outra do teu tempo de Guiné, para a malta te poder reconhecer e contactar. Ficas, desde já, coinvidado a integrar a nossa magnífica Tabanca Grande. Entre camaradas e amigos da Guiné, vivos,  somos já cerca de seis centenas. Serás bem vindo, tanto mais que não temos ninguém que represente os "Herdeiros de Gampará". Por outro lado, sobre Gampará também só temos nove referências. Espero que nos contes hsitórias do teu tempo de Gampará.

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Nota do editor:

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8515: O Nosso Livro de Visitas (113): Virgílio Valente, a viver e a residir em Macau, ex-Alf Mil, CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)


Actual brazãod e armas de Macau, terra indelevelmente ligada à nossa história, à nossa cultura e ao nosso imaginário e sobre a qual o nosso poeta António Graça de Abreu escreveu este belíssimo poema:

Macau, na foz de um rio de pérolas.
A cidade cicia segredos,
envolta em bruma.

Macau,
exultação e júbilo.
Festas na alma.

Macau,
as portas da baía
abertas para o coração dos dias. (...)



1. Mensagem de Virgílio Valente:

Data: 4 de Julho de 2011 11:35

Assunto: Blogue Luis Graça e Camaradas


Olá. Sou VIRGÍLIO VALENTE, actualmente a viver e a residir em Macau, amigo de muitos dos amigos do Blogue Luís Graça e Camaradas, nomeadamente do António Estácio, que recentemente lançou o livro Nha Bijagó.


Fui alferes miliciano, atirador e com a especialidade de minas e armadilhas, na Guiné, mais precisamente em Gampará, de 1972 a 1974, na CCAÇ 4142.

Cheguei a Bissau a 16 de Setembro de 1972 e fui directo para o Cumeré e depois para Gampará, por LDG, em Outubro de 1972 donde só saí em meados de Agosto de 1974, tendo chegado a Lisboa a 30 de Agosto de 1974.

Soube deste blogue pelo camarada e amigo Manuel Amante da Rosa, do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, que foi Secretário-geral do Forum Lusófono aqui em Macau, até finais de Junho deste ano.

Gostava de enviar um abraço de parabéns aos responsáveis pelo blogue e pretendo colaborar neste mesmo blogue pois também tenho muitas recordações para partilhar.

Da minha Companhia ainda só encontrei um comentário. Mas a verdade é que o tempo também tem sido pouco para fazer mais buscas.

Um abraço também ao António Estácio pelo seu livro.

Sou sócio honorário da Associação dos Guineenses e Amigos da Guiné, em Macau.


Um abraço a todos os amigos e camaradas que contribuem para o blogue e para a divulgação de tantas histórias da Guiné, fazendo assim História.

Virgílio Valente
Macau, China
Telemóvel + 85366808034

«Quem fica na ponta dos pés, tem pouca firmeza» / «He who tiptoes cannot maintain equilibrium».


2. Comentário de L.G.:

Meu caro camarada Virgílio: Não precisas de mais nem de melhores cartas de apresentação, Guiné, Gampará, Rio Corubal, CCAÇ 4142, Macau, António Estácio, Manuel Amante da Rosa... 

Entra e senta-te no bentém na nossa Tabanca Grande, sob o nosso secular, mágico, fraterno, frondoso poilão que já dá sombra, protecção e inspiração a mais de meio milhar de amigos e camaradas da Guiné... 

Manda as duas fotos da praxe (uma antioga e outra actual) e começa a contar as tuas histórias de Gampará e da CCAÇ 4142 de que, infelizmente, não temos nenhum representante inscrito... Julgo que serás o primeiro e seguramente bem vindo. 

Um Alfa Bravo para ti e para os nossos camarigos Estácio e Amante da Rosa.
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8342: O Nosso Livro de Visitas (112): Campelo de Sousa, ex-radiotelegrafista de rendição individual (Bafatá, 1970; Nova Lamego, 1971/72), relembrando a sua passagem por Bambadinca

sábado, 19 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2775: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (3): Nem só de guerra vive um militar



Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > "Nunca como aqui rapei fome" (AM)...

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > "Em Gampará com o meu grande amigo Furriel Cmd Ludgero dos Santos Sequeira, a quem mais tarde na picada do Cufeu (outra vez) numa mina iria ficar às portas da morte, ficando quase cego até aos dias de hoje. Continuamos grande amigos.Um abraço para ti, Sequeira!" (AM).

Foto: ©
Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.

1. Texto do Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Comando, 38ª CCmds (Guiné, 1972/74), cumprindo o seu compromisso connosco (1) de dar continuidades às suas crónicas de Gampará (2).

Diários de um Comando > Gampará (Setembro - Outubro de 1972) > Nem só de guerra vive um militar (3)

por Amílcar Mendes

(Subtítulos: L.G.)

(i) A cerveja de marca Mijo

Em Gampará não existe gerador. As noites são mesmo noite e, tirando umas chamas improvisadas nas garrafas de Cristal, nada se vê. No arame farpado duplo, os sentinelas esfregam os olhos para tentar distinguir vultos junto ao arame farpado. Pendem do arame centenas de garrafas de cerveja vazias que são o último grito em tecnologia de alarme.Nesta terra do nada, nada há.Temos uns bidões vazios, fizemos umas caleiras em chapa para apanhar a água da chuva e é dessa água que enchemos os cantis e nos lavamos.

A população beafada, embora seja muito hospitaleira, é muito ciosa das suas coisas e não abre mão dos animais, somos então obrigados a ir ao desenrasca até porque já atingimos a saturação dos petiscos de Gampará: cubos de marmelada com bianda, bacalhau liofilizado com bianda, chouriço intragável com bianda e tudo acompanhado por cerveja com temperatura ao nível do mijo... Dizia-se então em Gampará quando os hélis vinham trazer mantimentos, que vinham entregar cerveja marca Mijo. Assim se vive em Gampará!

(ii) Feliz Natal e um Ano Novo cheio de 'propriedades'...

Todas as noites e sempre à mesma hora, na ausência de música, ficamos entretidos a tentar contar as morteiradas que brindam o destacamento do Xime! Ficamos à espera quando acaba lá e os tubos sejam virados para o nosso lado... Nunca na Guiné atingi um estado de magreza igual. Nunca na Guiné as condições de vida foram tão miseráveis.

Entramos no mês de Outubro e vei-o cá uma equipa da Emissora Nacional para gravar as mensagens de Natal para a nossa família. Não foi fácil .Todos íamos para um canto repetir vezes sem conta: Queridos Pais, irmão e irmãs e restante familia, dezejamos um Natal feliz e um Ano cheio de 'propriedades'!... Esta ultima palavra era emendada mil vezes, que isto com os nervos e emoção não é fácil !

E como a ladainha era igual para todos, só muito depois é que muitos se lembravam que só tinham irmão ou irmãs, mas isso não era probolema. Estavam presentes as Senhoras do Movimento Nacional Feminino. Animavam-nos porque a meio da mensagem muitos desatavam a chorar. Uma das Senhoras era de uma simpatia sem igual.(Só anos mais tarde soube que era a Cilinha!) .

(iii) O dia mais feliz: quando chegava a LDG com as 'meninas' de Bissau...



Em Gampará um dia verdadeiramente feliz para os militares era quando chegava a LDG e vinham as meninas de Bissau trazidas pelo Patrão, e que tinham por missão aliviar o stress do pessoal.

As meninas chegavam, instalavam-se numa tabanca, o pessoal passava pelo posto de enfermagem (?), recebia o sabão asséptico, o tubo da pomada para meter pelo coiso acima a seguir ao acto... Entretanto formava-se a bicha e trocavam-se larachas para matar o tempo, do tipo Quando chegar a minha vez com tanta gente, 'aquilo' parece o arco da Rua Augusto!.

A seguir era rezar para que o esquenta não aparecesse...


(iv) O nosso regresso a Bissau


19 de Outubro de 1972. Soubemos hoje que metade da 38ª CCmds regressa amanhã e outra metade irá permanecer aqui a fim de dar o treino operacional à CCAÇ 4142 até 3 de Novembro de 1972. O meu Grupo de Combate será um dos que regressa.

Gampará, com todas as privações, teve o mérito de reforçar ainda mais os laços de amizade e confiança da 38ª CCmds. Aprendemos na privação a dar valor às pequenas coisas que a vida nos dá. A amizade entre os praças, sargentos e oficiais é na 38ª CCmds visivél a quem observa a Companhia de fora. Essa amizade irá refletir-se em diversas ocasiões e irá levar a Companhia a muitos sussecos na actividade operacional.

20 de Outubro de 1972. Pela MSG imediata 3831/c , a 38ª CCmds regressa a Bissau, donde segue para Mansoa para um peróodo de descanço, ficando apenas a realizar segurança imediata ao Aquartelamto. (Esse período de descanso só durou três dias, logo aseguir correram conosco para Teixeira Pinto, de tão má memória para a 38ª CCmds)

Amílcar Mendes
1º Cabo Comando
38ª CCmds

Guiné 72-74


PS - Com um abraço para ti, Luís, e todos os tertulianos e continuarei aqui.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2742: Blogoterapia (46): Promessa de comando: vou retomar as minhas crónicas de guerra (Amílcar Mendes, 38ª CCmds)

(2) Vd. postes anteriores:

7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1930: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (1): Um sítio desolador

(...) "Gampará à vista! Desolador! O quartel é só tabancas que a tropa divide com a POP, arame farpado a toda a volta e uma dúzia de torreões com sentinelas. É aqui que iremos viver até quando calhe" (...).

16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1956: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (2): Passa-se fome, muita fome

(...) "Tivemos problemas sérios com a população. O 1º cabo Simão (que meses mais tarde viria a morrer na estrada Teixeira Pinto - Cacheu) roubou um porco que se matou e assou no forno do padeiro para melhorar um pouco a diete do pessoal. Só que, e sabe-se lá como, o Homem Grande da tabanca descobriu e foi-se queixar ao comandante. Fomos obrigados a pagar o porco e de castigo fomos p'rá mata" (...).