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domingo, 27 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18683: Blogpoesia (568): "Bom senso...", "Este sol da manhã...", "Minha pena é de oiro..." e "Ruminar o nevoeiro...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Bom senso…

Entre o doce e o ácido mora o bom senso.
Gosta das encostas abrigadas e soalheiras.
Se abriga do sol nas tardes de Verão.
Deita-se com as galinhas e chama por tu ao sono.
Pensa duas vezes antes de sorrir.
Faz-se caro.
Nunca responde à primeira se o chamam.
Não gosta de ser o último nem o primeiro.
Lava sempre a fruta antes de a comer.
Nunca gasta o último tostão. Prefere esperar que venha o segundo.
Nunca adormece sem rezar ao Criador.
E, se se esquece, agradece o acordar…

Ouvindo o barítono Kaufmann
Mafra, 26 de Maio de 2018
20h42m
Jlmg

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Este sol da manhã…

Brindou-nos este sol da manhã,
Com pezinhos de lã,
Com seus raios de luz.
Tudo ficou doutra cor.
As copas das árvores derramam sombra no chão.
Os prados reluzem brandindo humidade.
As ruas secaram.
A lama das bermas enrugou tolhida de medo.
Pairam quietas as nuvens no céu, a ver no que dá.
Os cavalos preferem a palha seca à erva molhada.
Os chinelos da praia de olhos despertos já me fizeram sinal.
Vou esperar para ver como diz o freguês.
Assim, com este sol,
Já apetece sonhar…

Mafra, 25 de Maio de 2018
7h37m
Jlmg

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Minha pena é de oiro…

A minha pena solidária mantém a cadência certa de há vinte anos.
A tinta que consome em cada carga, dá e sobra para os devaneios de cada dia.
Seu bico é de oiro.
Seu traço é fino.
Se a querem ver contente, é pôr-lhe à frente um tema, por mais simples,
O devassa, da popa à ré e sua, sua como um pintor cansado que quer ver na tela sua ideia na forma exacta.
Me espera atenta.
Dorme comigo à cabeceira.
Quanta vez me chama pela madrugada
Porque pressentiu cardume.
Sinto medo de a perder um dia.
Que seria eu sem ela?...

Mafra, 21 de Maio de 2018
18h50m
Jlmg

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Ruminar o nevoeiro…

Amanheceu.
Sonolentas, as árvores, com porte e garbo,
Ruminam a manta do nevoeiro sem fim.
Apático, o prado verde aguarda que o sol o desperte do sono.
O silêncio que toda a noite dormiu,
Espreguiça as asas, prontinho a ir.
O cuco da praxe acabou agora a única ladainha que sabe.
Deserta a rua, desperta faminta dos rodados que a sobem e descem com pressa.
Entretanto, alheios às horas, os cavalos vizinhos que a fome acordou,
Rapam a erva fresquinha, com a boca no chão.

Mafra, 20 de Maio de 2018
8h35m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18656: Blogpoesia (567): "Altos andores...", "Partilhar...", e "Cirurgia dos mistérios...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

domingo, 13 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18627: Blogpoesia (566): "Vi o vento irado...", "Pedras e flores...", e "Pairando no ar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Vi o vento irado... 

Vi o vento irado com as núvens. 
Elas não se entendiam entre si. 
Umas queria seguir para norte. 
Saudosas da neve branca. 
Outras para o sul. 
Mortas por mergulhar no mar. 
Chamou a trovoada para as pôr na ordem. 
Um trovão tronitruante as estremeceu de medo. 
De repente se desfizeram em chuva tão copiosa, fez esbordar os rios. 
O mar subiu três pontos. 
As marés sumiram as praias. 
E as gaivotas, esbaforidas, grasnavam loucas por alimento. 
Foi o fim do mundo. 
Eis que o rei sol, incomodado com toda a desordem, resolveu intervir. 
O céu ficou azul. 
O calor serenou a tempestade. 
Num instante, tudo ficou em paz... 

Roses, 8 de Maio de 2018 
9h7m 
Jlmg

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Pedras e flores... 

O mundo, como a vida,
é tecido de pedras e flores. 
Calcamos um chão de abrolhos,
sorrimos à cor das cores. 
Há sempre um bem para cada mal. 
Uma fonte pura que mate a nossa sede. 
A nossa fé e a nossa esperança. 
É infinito o céu azul. 
Não têm conta as estrelas que só de noite brilham. 
Não tem limites o poder da nossa imaginação. 
É divina a arte do fulgor das sinfonias
como a de combinar as cores num quadro belo de pintura. 
Brilham no tempo os versos geniais de Virgílio e de Homero. 
Ainda hoje, desafiam o poder dos deuses as pirâmides colossais que há no mundo. 
Quisesse o homem e teríamos já o céu aqui na terra... 

ouvindo "Adágios Russos"
Roses, 9 de Maio de 2018 
9h5m
Jlmg

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Pairando no ar... 

Como gaivota, pairando no ar,
vejo os salpicos brotando das ondas. 
Cardumes bailando a alegria da água,
descrevem bailados, num silêncio sem fim. 
Desafio as nuvens paradas no céu,
zombando de mim. 
O vento tardou. 
Abandonadas, ficaram ali como o destino traçou. 
E o pequenino farol, implantado ao fundo,
parece tão triste,
esperando nevoeiro para tocar. 
No casario ao longe, do lado de lá,
reluzem janelas de vidro, fechadas. 
Bate-lhes o sol, reflectem o céu,
emitindo faíscas. 
As gaivotas em bandos, disputam os cardumes ocultos,
mal sabem o risco que correm. 
Pela estrada, entre a praia e as casas,
zumbem os carros num frémito veloz. 
Enquanto as camionetas de carga,
paradas na berma,
descarregam os géneros que atiça o comércio. 
E penso: Que sou eu tão minúsculo,
no meio de tudo? 
Oiço esta música bem linda e sonho... 

ouvindo "Adágios Russos" 
Roses, 10 de Maio de 2018 
9h33m 
dia cinzento
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18603: Blogpoesia (565): "Sombras nos olhos", "Hora das acácias...", e "O sabor das coisas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18603: Blogpoesia (565): "Sombras nos olhos", "Hora das acácias...", e "O sabor das coisas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:

Sombras nos olhos 

Como as nuvens fazem ao sol, 
As imagens ficam mais pobres 
Quando há sombras no olhar. 
Fica sombrio o pensamento. 
Propício ao entristecer. 
As formas se tornam imperfeitas. 
Se atropelam as ideias. 
As conclusões saem erradas. 
A acção é um desastre. 
Gera choques e atropelos. 
A confusão. 
Fica mais fácil o desentendimento. 
Vem a desordem. 
Morre a paz. 
Se instala a guerra. 
Mais vale a cegueira total. 
Apesar das dependências, 
Onde só reina a inteligência 
E o bem sentir. 
A vontade fica humilde. 
A alma mais reverente. 
Se agradece a entreajuda. 
O respeito gera amizade. 
Desfaz todas as sombras 
E enriquece o coração… 

Ouvindo concerto n.º 1 de Brahms por Hélène Grimaud ao piano
Lindo dia de sol 
Berlim, 29 de Abril de 2018
Jlmg

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Hora das acácias…

Por todos os lados, se revestem os valados dos caminhos, de giestas brancas e amarelas. 
Ficam arbóreas. Pendem de sombra, perfume e cor. 
Fazem o encanto da Primavera, silvestre e rude. 
Esvoaçam os pássaros. Trinados lindos. 
E as borboletas, de cores garridas, parecem flores ou andorinhas. 
Se fazem feiras e romarias. Tudo se vende. 
Tendas de pano. Carroças prenhes. 
Reina a alegria. 
Escorre a vinhaça. Pipas e odres. Das melhores adegas. 
Fervem os tachos. Bolinhos sem espinhas. 
Ó que sabores! 
O bacalhau é rei. 
Pelas alamedas, engalanadas, giram cortejos, 
De novos e velhos. 
Brilham os olhos. 
Canta-se a paz. Reina a harmonia… 

Lindo dia de sol 
Berlim, 30 de Abril de 2018 
6h33m
Jlmg

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O sabor das coisas... 

Há uma lei inscrita em nós: 
- O sabor das coisas é directamente proporcional à sua pequenês e ao quadrado da distância. 
Se agudiza, certeira e viva, 
à medida que a vida passa. 
Transforma a vida num grande lago, 
onde corre uma brisa fresca. 
Onde nos banhamos e mergulhamos em cada dia para revigorar e ganhar coragem. 
Nos surpreendem as mais pequenas no dealbar da infância, 
quando as luzes do universo estavam todas direccionadas para nós. 
Dá tristeza e nos enternece lembrar aquelas mais tristes, também as houve. 
Ó que saudade!... 
Dão-nos o equilíbrio necessário para sempre ter esperança e acreditar. 
A vida é breve mas muito rica. 
O que importa é aproveitá-la... 

Berlim, 2 de Maio de 2018 
6h24m 
lindo dia de sol 
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18580: Blogpoesia (564): "Depois das cataratas...", "Dos confins dos tempos...", e "Por sebes e veredas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

domingo, 29 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18580: Blogpoesia (564): "Depois das cataratas...", "Dos confins dos tempos...", e "Por sebes e veredas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Depois das cataratas… 

Depois das cataratas, aquele tombo colossal, 
Mais parecia o fim do mundo, 
Aquele estendal de espuma, 
Onde não havia sobrevivência, 
Eis que a paz voltou, na serenidade da planície. 
Onde as águas tumultuosas sossegaram, 
Num paraíso de paz e de harmonia. 
Vieram de novo os peixes. 
Se tingiram de verde as margens e os campos contíguo ao rio, 
Reverdeceram na abundância. 
Foram embora, por evaporação, os males das águas paradas, 
Tudo ficou puro e vivificante. 
Abençoadas cachoeiras e aquele trambolhão, parecia mortal. 
Afinal, não. 
Foi assim um novo começo. 
De novo, tudo mudou para melhor… 

Ouvindo Hauser e Petri Çeku ao violoncelo
Berlim, 22 de Abril de 2018 
7h8m 
Jlmg

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Dos confins dos tempos… 

A história humana marcha em passadas seculares desde os confins dos tempos. 
Caminhos sinuosos. Abruptos, por vezes. 
Outras, benignos. 
Onde vicejaram as páginas mais eloquentes. 
Houve reinados de glória. 
Onde a justiça e a paz foram rainhas. 
Outros houve negros de sangue e carnificina. 
Choveram bênçãos grandiosas. 
Se difundiram crenças e religiões de muitos matizes. 
Todos unidos, voltados para o mesmo Oriente. 
Não se sabe quem vai à frente. 
Há bons sinais no horizonte. 
Uma vontade magistral de implantar a paz. 
Mas também trevas onde serpenteiam a maldade e a desorientação. 
Haja esperança e fé em quem tudo move… 

Ouvindo Vaughan Williams, sinfonia n.º 3
Berlin, 25 de Abril de 2018
6h51m
Jlmg

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Por sebes e veredas… 

Por sebes e veredas circundantes, 
Se sobe ainda, ao cimo dos castros megalíticos. 
Lugarejos e refúgios das gentes primitivas. 
Abrigos contra as chuvas e as neves regeladas. 
Aonde, nem as feras, mais atrevidas, 
Não ousavam. 
Impávidos, como os castelos, 
Resistiram aos tempos através das eras, 
E, hoje, são santuários, 
Dos espíritos. 
Cujos corpos sepultaram. 
Ali sobem, vagabundas e curiosas, 
De perto e longe, 
As gentes hodiernas, como a um museu, 
De arquitectura, sempre aberto, 
E que o tempo não fechou. 

Berlim, 27 de Abril de 2018 
6h39m 
Ouvindo Adagieto de Gustavo Mahler, sinfonia n.º 5 
Dia de sol
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18549: Blogpoesia (563): "As borboletas", "Pressurosos, bem alinhados...", e "Como será o paraíso...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

domingo, 22 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18549: Blogpoesia (563): "As borboletas", "Pressurosos, bem alinhados...", e "Como será o paraíso...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


As borboletas

Bailam contentes as borboletas.
A Primavera chegou.
Já têm flores,
De todas as cores,
Brilhando ao sol.
Podem poisar.
Sugar-lhes o pão,
Seu alimento.
O vento as leva,
Dum lado para o outro.
Não têm fronteiras.
Podem girar.
Se contentam com pouco.
Quando a fome lhes dá.
E levam para casa
O que conseguem levar.
Têm filhos pequenos.
Não conseguem voar.
Foi sempre assim.
Com seus pais e avós.
Se querem viver,
Não podem parar.
Borboletas ladinas,
De asas tão lindas,
De todas as cores,
Parecem flores
Que sabem voar…

Berlim, 17 de Abril de 2018
16h41m
Jlmg

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Pressurosos, bem alinhados...

Pressurosos, bem alinhados,
aqueles dedos percorrem de trás para a frente e no inverso,
sobre as teclas inúmeras,
soltando sons e acordes
que nos enlevam a alma
e fazem sonhar...
Como tudo é belo.
quando a paz e a harmonia
impera e reina.
O sossego vem. Nosso corpo tenso se distende.
Se desenlaça de todos os nós
que lhe atam a alegria do coração.
De olhos fechados, navegamos mundo além,
pairando na serenidade astral
do pensamento,
que não sente limites.
Esta capacidade inefável com que nascemos de vibrar à beleza,
em todas as suas expressões,
são a marca indelével da nossa dimensão espiritual.
Só nós a temos, à semelhança de quem nos deu a vida e forma...

ouvindo "O concerto para piano e orquestra de Grieg", por Alice Sara Ott
Berlim, 20 de Abril de 2018
6h24m
lindo nascer do sol
Jlmg

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Como será o paraíso... 

Aquele lugar distante com festa a toda a hora. 
Onde a alegria reina e inunda e a luz é suave e colorida. 
Não há espaço ou tempo para o sofrer. 
Não há desejos porque estes são a marca do que não há. 
A passividade é a paz. 
A contemplação o mar da sabedoria. 
Não há fome nem sede. 
Não há o reino dos cinco sentidos, por natureza imperfeitos. 
Não há o mais nem o menos. 
Há o ser mais que perfeito. 
Tudo é e está à mão. 
A segurança é leve. 
E o belo paira infinito pelo ar... 

ouvindo Elgar
Berlim, 21 de Abril de 2018 
6h50m 
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18524: Blogpoesia (562): "Insaciável...", "Irrompeu a Primavera", e "Roda viva", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

domingo, 15 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18524: Blogpoesia (562): "Insaciável...", "Irrompeu a Primavera", e "Roda viva", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Insaciável… 

Insaciável é o cultor da arte. 
Vive dela como respira o ar. 
O poeta. 
Mal acaba um poema, sente viva a fome de dar vida a outro. 
Sua mente num rodopio. 
Não pára mais. 
Até encontrar o tema. 
Depois, segui-lo. 
O escultor. 
Ultimou a obra. 
Contempla-a. 
Se gosta dela, se sente triste. 
Chegou ao fim. 
O pintor.  
Sua alma encheu a tela. 
Amplidão. Harmonia e cor. 
Ali está tudo. 
Já não é seu. 
É outro ser. 
O músico. 
De repente, reluz a luz. 
O conduz ao céu. 
Encantado. 
É sou ouvir. 
O pior é o fim… 
O fogo só aquece enquanto arde. 

Ouvindo Hauser em violoncelo - Vocalise- Rachmaninov
Berlim, 8 de Abril de 2018
8h11m
Jlmg

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Irrompeu a Primavera 

Aquelas alamedas de sebes secas, 
Pareciam mortas. 
Aquelas copas hirtas e desgrenhadas 
Das árvores tristes. 
Aquelas hortas nuas, sempre a dormir, 
Tudo mudou. 
Bastou o sol de um só dia. 
Foi de repente. 
Dum dia para o outro. 
Ficaram verdes. Folhinhas tenras. 
Vieram flores, de várias cores. 
Com alegria. Fazia falta. 
A vida viva brota abundante. 
As vestes negras, de cores sombrias 
Se põem num canto. 
Surgiram braços à luz do dia. 
Brilham os rostos. 
Há algazarra da pequenada 
A jogar ao sol. 
Bailam baloiços. 
Se alcançam alturas 
Nas cordas bambas, 
Parece um circo. 
E os cantoneiros da praxe, 
De engaço em punho, 
Enchem o carro com o que há a mais, 
Pelo chão do bosque. 
Uma feliz ideia que ocupa os idosos 
E os faz felizes, por pouco dinheiro. 
Para eles é muito. 
Em vez da bisca... 

Berlim, 11 de Abril de 2018 
10h28m 
Jlmg

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Roda viva

A vida é roda viva.
Vela acesa.
Sua chama arde,
Brilha e ilumina.
Banha e inunda.
Dá cor.
Semeia a chuva
E sopra o vento.
Mas é o sol que a sustenta.
Um mar sem fim.
Um arco imenso.
Abraça o mundo.
Por vezes, plange,
Outras, sorri.
Tem duas faces.
Como a lua.
Uma brilha.
A outra não.
Para que serve, apagado
O farol na praia?
Moinho sem vento não mói.
Navio fantasma,
Carregado de oiro e de sonhos
Afugenta quem sonha,
Pelo aspecto que tem.
Afinal,
Para que serviu uma vida, sem vida?...

Berlim, 12 de Abril de 2018
17h12m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18501: Blogpoesia (561): "Natureza humana", "Deslumbramento...", e "Fulgurante o sol...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

domingo, 8 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18501: Blogpoesia (561): "Natureza humana", "Deslumbramento...", e "Fulgurante o sol...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Natureza humana

Muito complicada a natureza dos homens.
Não é simples nem transparente.
Oculta a verdade por trás do rosto.
O que tem dentro só cada um o sabe.
É ardilosa. Omissa, por conveniência.
Finge. Ostenta força para esconder o medo.
Ignorante. Se ostenta sábia.
Esbraceja demais, quando insegura.
Só pensa nela.
Se esconde, se lhe pedem contas.
Esquece fácil quem lhe resolveu a vida.
Só se lembra do próximo, quando precisa.
Só usa o sorrir quando lhe for útil.
A inteligência lhe serve o instinto.
Da lealdade se esqueceu há muito.
Queria voar mas perdeu as asas…

Berlim, 7 de Abril de 2018
9h59m
Jlmg

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Deslumbramento…

Com o sol, cobrem-se de cor e luz as encostas dos montes.
Tingem-se de verde as margens molhadas dos rios.
Enche-se o ar de voos tresmalhados das aves libertinas.
Ressoam coros e trinados pelos meandros sombrios dos bosques adormecidos.
Bailam graciosamente as ondas brancas do mar azul.
Poisam suaves os toucados brancos da neblina sobre a manta dos vales verdes.
Entram pelas janelas ao sol os jorros de alegria.
Ficam leves as nossas almas com o júbilo ardente da Primavera.
Ficam mais brandos os nossos passos apesar das agruras que vão pelo mundo.

Berlim, 7 de Abril de 2018
8h24m
Jlmg

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Fulgurante o sol…

Fulgurante o sol surgiu na linha do horizonte.
Umas nuvens enegrecidas se inflamam diante dos seus raios.
Os telhados frios e ainda dormentes acordam sobressaltados.
Se julgavam para sempre escravos da sombra gelada que os envolvia.
Será mesmo desta que a Primavera vem e fica?
Que cenário grandioso se vai abrindo perante os olhos.
Por detrás o céu azul. Com extensas estrias brancas iluminadas.
Paradas e cismáticas as nuvens em manta retalhada, parecem esperar as ordens de avançar
Por esse mundo.
Agora, é já um balão de fogo o sol, como me aparecia lá para os lados montanhosos do Marão,
“Onde só mandam os que lá estão”…

Ouvindo Rimski-Korsakov
Berlim, 4 de Abril de 2018
7h6m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18476: Blogpoesia (561): "Alegria da Páscoa", "Desapareceram os deuses...", e "A sinfonia dos seres", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

domingo, 1 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18476: Blogpoesia (561): "Alegria da Páscoa", "Desapareceram os deuses...", e "A sinfonia dos seres", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Alegria da Páscoa 

Era de festa o dia de Páscoa. 
Tocavam os sinos. 
Havia foguetes. 
Em cima da estrada 
E dos caminhos da aldeia, 
Semeavam tapetes às cores. 
Exalavam perfume as tenras flores. 
Se respirava a fundo e os olhos brilhavam. 
Havia sorrisos nos rostos em festa. 
Se estreavam os fatos, vestidos e as mantilhas da missa, 
Se adornavam as mesas com toalhas de linho. 
Bordadas com arte. 
Abundavam amêndoas e bolos. 
Se abriam as prendas que os padrinhos nos davam. 
E, na hora exacta, se recebia o compasso. 
Todos com opas, acompanhando a cruz. 
E Cristo, com manchas de sangue, num rosto a sorrir, 
Abençoava a família que lhes franqueava a casa. 
E o miúdo empinado, tocando a sineta, 
Seguia à frente anunciando a visita 
À casa mais próxima. 
Eram quilómetros feitos a pé. 
A alegria era tanta. 
Parecia divina… 

Berlim, 1 de Abril de 2018 
9h5m 
Jlmg

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Desapareceram os deuses…

Desapareceram há muito os deuses no universo.
Ficaram as estrelas brilhando e sorrindo.
Formam famílias.
As constelações.
Canteiros do céu.
O jardim rosáceo.
Que nos obriga a olhar para o alto.
Não vá cairmos nos abismos da terra.
Tela exposta, tecida em pontos de luz.
Abraçando a humanidade peregrina.
Queira ou não,
Rumo à eternidade.
Uma romagem que teve começo
E não mais acaba.
O mistério da nossa existência
Que nos mantém acesos e perplexos.
O tempo é a nave.
O mundo o mar…

Ouvindo Love Songs ao piano
Berlim, 2 de Abril de 2018
7h58m
Jlmg

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A sinfonia dos seres

No palco da existência se sentam os seres.
Cada qual na sua letra e melodia.
Fazem um coro colossal
Que soa certo e harmonioso.
Sem ensaios ou horas certas.
É o espontâneo.
Quem os rege é a Natureza.
Na sua infinita sabedoria.
Tem a queda para a regência.
Sem pauta ou lei.
Sua batuta toca fundo e instantânea.
Dá o ritmo num compasso variável.
Ao sabor da capacidade.
É agradável ouvir e ver.
Cada século tem o seu diapasão.
Desde o alaúde enigmático,
Na Antiguidade
Até à estrepitosa bateria,
Com guitarra eléctrica e viola baixa
Da nossa idade..

Berlim, 2 de Abril de 2018
11h24m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18458: Blogpoesia (560): "De mim ao infinito...", "As ladeiras...", e "A Praça do Giraldo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

domingo, 25 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18458: Blogpoesia (560): "De mim ao infinito...", "As ladeiras...", e "A Praça do Giraldo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


De mim ao infinito…

Vejo tão alto as estrelas brilhantes,
Parecem distantes,
Pertinho dos céus.
Tão pequeno eu sou.
Que sabem de mim?
 Olho o mar, de olhos fechados,
Imenso e profundo,
Parece sem fim.
À sua beira o que sou.
Que sabe de mim?
Me banho ao sol, ao nascer da manhã.
Fico pensando na hora, quem é que mo dá.
Por vezes, me sinto aflito,
Morrendo de sede.
Absorto comigo, não vejo
Um rio correndo, diante de mim.
Perdido no mundo,
Me vejo sozinho.
Tão surdo e tão cego,
Não oiço nem vejo:
Quem tudo criou
Habita em mim.

Berlim, 23 de Março de 2018
11h1m
Jlmg

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As ladeiras…

Gostava das ladeiras de barro.
Das mais longas.
Expostas ao sol.
As havia na minha aldeia.
Escorregava nelas.
Com vertigem.
Corpo estreme,
Cara ao vento,
Rente ao chão.
Até que a pele
Sangrasse ao sol.
Sensação bem cara,
Quando chegava a casa
E prestava contas,
Mais uns calções…
Bastava a noite.
Tudo esquecia.
No outro dia,
De novo a farra,
Depois da escola.
Mas agora,
Lição sabida,
Sobre uma tábua.
Na barroca funda
Que lá havia.

Berlim, 24 de Março de 2018
8h47m
Jlmg

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A Praça do Giraldo

Me parecia bela
aquela praça ampla,
vetusta em Évora,
pelas tardes quentes de Agosto livre.
Naquela esplanada à sombra,
Nos anos verdes da minha juventude.
Muito finas, de porte fino,
Cirandavam moças, sob as arcadas velhas.
Buscando adornos,
Aquelas penas de anjo
Que nos faziam sonhar,
Tão puras.
Era linda a vida a desabrochar em força.
Que lindo céu, na terra doce.
Quimera azul dum futuro negro.
Só a esperança em réstea,
Nos acalorava a alma.
Qual caravela livre,
Que só a brisa beija.
Ficaram só saudades ao findar da vida
Que só a morte apaga…

Berlim, 24 de Março de 2018
12h31m
Ouvindo Kaufmann
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18431: Blogpoesia (559): "As cores da verdade", "Folha seca...", e "As lágrimas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

domingo, 18 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18431: Blogpoesia (559): "As cores da verdade", "Folha seca...", e "As lágrimas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


As cores da verdade

É vaidosa a verdade.
Quem o diria?
Por vezes, teimosa.
Mas sempre certeira.
De poucas palavras.
Tudo vem ao de cima.
Sem truques ou sofismas.
O que é foi e será.
Não importa o lugar ou o tempo.
Por vezes, se esconde.
Parece ausente.
Renasce das cinzas.
Nada a consome.
Brilha às claras.
Desfaz os enganos.
Apaga as dúvidas.
Transparente, quando se lhe abre a porta.
De uma só cara.
Diz o que sente.
Doa a quem doa.
Não tem duas versões.
Não se deixa enganar.
Castiga quem falha.
Liberta inocentes.
Tudo se acerta.
Tudo melhora quando ela aparece...

Berlim, 14 de Março de 2018
9h43m
Jlmg

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Folha seca...

Esperava um poema ao nascer da manhã.
Vi na minha varanda, quase fechada,
Uma folhinha seca, amarela.
Voava, voava.
Num rodopio constante.
Parecia com vida.
Por vezes, parava.
Conforme o vento lhe dava.
Meu pensamento alado,
Fechado na minha varanda,
Mesmo sem vento,
Voava também.
Procurando uma flor.
Um quadro.
Um sonho.
Um som do além.
Raiado.
Com cor e mensagem.
O ruído constante,
Duma cidade a acordar,
Batia de frente.
Cortina cerrada.
O peso de aviões e de carros,
No ar e na estrada.
Nem o sol aparecia.
À minha frente, na sala,
Tenho um jardim.
Sorrindo.
Poisado, de verde e de cores,
No tampo da mesa.
Parecia ouvi-lo: - porque procuras lá fora,
Se, dentro, em casa,
Tens tudo que queres?...
O silêncio.
A harmonia e a cor.
Basta olhares…

Berlim, 15 de Março de 2018
7h30m
Jlmg

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As lágrimas... 

Brotam da alma e inundam os olhos. 
São quentes. 
São doces. 
Escorrem pela face 
E lavam os rostos 
De pobres e ricos, 
Fortes e fracos. 
Apagam a dor. 
Acalmam, serenam os ímpetos. 
Uma arma secreta, 
Ao serviço da paz. 
O primeiro sinal 
De que algo está mal. 
Dizem também 
Do bem que se sente 
Quando morre a tristeza 
E renasce a alegria. 
Por algo ou alguém. 
Tanta falta fazia e, por fim, que chegou. 
Acompanha o abraço que aperta e aquece. 
É a chuva que vem na seca sem fim. 
A mão que aperta na hora de aperto, 
Sem força nem esperança. 
Nascem em nós. 
Só nossas. 
Ninguém as ensina. 
Não se aprende na escola. 

Berlim, 17 de Março de 2018 
8h49m 
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18404: Blogpoesia (558): "Como desconhecido...", "Fome de paz...", e "A gente quastiona-se...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

domingo, 11 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18404: Blogpoesia (558): "Como desconhecido...", "Fome de paz...", e "A gente quastiona-se...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Como desconhecido…

A idade não perdoa.
O tempo transforma os corpos e os rostos da gente.
Me sinto mascarado.
Entro na minha terra como um desconhecido.
Só meu nome perdura ainda na memória dos mais velhos.
Minha aldeia está transformada.
Nada igual.
Tanta casa nova onde nenhuma havia.
Mais largos os velhos caminhos.
Todos virados para os automóveis.
Não sobra nada para os pedestres.
Só a velha ermida branca e o cruzeirinho em pedra ali estão.
Eu os olho e eles a mim.
- Olá, Quim Luís - parece ouvi-los.
Por onde tens andado?
Lhes respondo só em pensamento.
- Como estás mudado!
Eras um garoto a sério, sempre na brincadeira.
Já poucos restam da tua idade.
Vai aparecendo sempre. Fazes falta aos da velha guarda. Quando, para vós, éramos o centro de tudo…

Berlim, 4 de Fevereiro de 2018
19h34m
Jlmg

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Fome de paz…

Minha alma caminha célere para o infinito.
Sente fome de paz.
Deambula no mundo, feita migrante.
Desde o começo.
Uma chama viva a seduz.
Ora acesa ora escondida.
Farol ao longe que a conduz.
Uma voz a chama. Como sereia.
Caravela branca, alucinada.
No mar da vida. Tão agitado.
Fitando ao alto.
Estrela polar.
Transpõe desertos.
Verdes oásis.
Nuvens de sonhos.
São só quimeras.
Não perdeu a esperança.
Vai alcançar…

Berlim, 7 de Março de 2018
7h20m
Jlmg

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A gente questiona-se...

Nascemos apardalados.
Mas que vem a ser isto onde estamos mergulhados?
Onde é que eu vim parar!?
Donde se vem e para onde se vai?
O real é estático e é dinâmico?
O que é o movimento?
Real ou ilusório?
Propagação dos seres.
Tudo morre e desaparece?
Que acontece?
De que se compõem?
Hoje, acordei mergulhado nestas questões.
Tudo me parecia claro.
Vi o yin e o yan.
Claramente.
Compreendi o Buda.
Tudo em movimento tende para a quietude.
Do começo ao fim.
O verdadeiro estado é o ondulatório.
Como um farol.
Acende e apaga.
Permanece no mesmo lugar.

Bar dos Motocas, Berlim, 8 de Março de 2018
15h35m
Tarde linda de sol. 10 graus!...
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18390: Blogpoesia (557): No Dia Internacional da Mulher - "Mulher", por Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor do BCAÇ 3872

domingo, 4 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18377: Blogpoesia (556): "Devasso minha alma...", "Moinho de vento", e "As regras...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Devasso minha alma...

Devasso minha alma aos raios luminosos deste sol nascente
E mergulho na profundidade da beleza.
Oiço Chopin na sua majestade sublime.
Abro todas as janelas, apesar do frio.
Entre a paz e a mansidão nas ondas deste mar de luz.
Desfraldo ao vento minhas asas e me baloiço como ave que despertou para a liberdade.
Minhas preces se elevam em oração aos céus.
Meu corpo fica etéreo como uma pena ao vento.
Avanço e brinco a dança das quimeras e da concórdia,
atrás das notas dum piano a arder.
Quem me dera saber cantar solfejos de oiro e diamante como retinem harmónicas as suas cordas tão vibrantes.
É luminoso este sol que faísca os olhos.
Meu peito quente arfa de consolação.
É o mês de Março que nasce da alvorada, anunciando a suave Primavera.
Pelos telhados brancos e copas nuas, cintilam os matizes que dormiam em invernosa sonolência.
Enquanto o piano como um gamo à solta, corre atónito pela encosta verde.
Bendito o sol que tudo alegra...

ouvindo Concerto nº 1 de Chopin, com Martha Argerich
Berlim, 1 de Março de 2018
7h51m
Jlmg

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Moinho de vento

Moro no topo do monte.
Perto das nuvens,
Vizinho do céu.
Me alimento do vento.
Brinco com ele.
Solto-lhe as asas.
Dou tantas voltas.
Fica sem norte.
Puxo a mó.
Moo o centeio.
Farinha tão branca,
Como a neve que cai.
Às vezes, eu choro,
Sozinho e sem vento.
Muitas, eu canto.
Feliz de contente.
Nasci um moinho,
Sou filho do vento.
Nada mais sei.
Bendigo a sorte
De morar onde moro
E ser o que sou…

Berlim, 2 de Março de 2018
19h44m
Jlmg

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As regras…

Apontam condutas.
Impõem deveres.
Ordenam o mundo.
Trazem a paz.
Reúnem as forças.
Remos dos braços.
Sulcam as águas.
Cortam as ondas.
Alcançam os fins.
Marcam o ritmo.
Abrem caminho.
Boas sementes,
Garantem bons frutos.
Nem demais nem de menos.
Sem elas o mundo
Se transforma num caos…

Berlim, 3 de Fevereiro de 2018
7h58m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18361: Blogpoesia (555): "Simplesmente um homem", por Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor do BCAÇ 3872

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18353: Blogpoesia (554): "Pedra Maria", "Feira das ideias...", e "Filho da natureza...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Pedra Maria

Aquela encosta suave…
Lembro aquela encosta suave dum breve monte.
Voltado a nascente.
À frente e longe,
Na linha do horizonte,
O Marão imponente,
Afagando o céu.
Para cá dele, uma cumeada longa,
Com casario, efervescente ao sol.
Era a Serrinha. Onde formigavam fábricas que faziam de tudo.
A seguir uma Várzea verde,
Montes e campos, altas latadas,
Carregadas de uvas, nos breves outonos, coloridos.
Lugares e aldeias.
Viviam da terra.
Veredas e caminhos,
As veias.
Campanários solitários,
Bradavam as preces das horas.
Solfejando as Avé-Marias.
Eirado e lugar de Sestais.
O campo da bola e da Tripa.
Ao fundo a estrada de terra batida.
Por onde o comboio passara e não era.
Uma meia dúzia de casas singelas,
Subindo a costeira,
Uma delas era a minha.
Pedra Maria onde cresci…

Berlim, 19 de Fevereiro de 2018
9h8m
Jlmg

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Feira das ideias…

Encho meu açafate de ideias belas e boas e sigo para a vila a vendê-las ou para trocá-las.
Não tolero a pasmaceira de parar nelas.
Agitar, fazer vento, tentar passá-las,
Trazer as novas. As que prometem a novidade.
As que incendeiam e iluminam.
Preciso delas. Me alimentam.
As trabalho e elaboro.
As moldo a mim.
E faço minhas.
As desfio em linhas.
Depois teço.
Poesia e prosa.
Dou-lhes sabor.
Dou-lhes cor.
A seguir as dou.

Berlim, 22 de Fevereiro de 2018
19h12m
Jlmg

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Filho da Natureza…

Trata bem a tua mãe, ó filho da natureza.
Cuida dela como rainha ou como princesa.
Ela é bela. Delicada. Generosa.
Mora bem nela.
Não a maltrates nem a estragues.
Ela te paga a cem por um.
Dá-te sol. Dá-te vinho e te dá pão.
Dá-te o mar. Um céu azul.
E, à noite, tão estrelado.
Parece um reino
Onde a lua é a rainha
E o luar é uma bênção.
Brilham nela tantos sonhos
Como de estrelas tem o céu.
Dela nasces. A ela voltas.
Dela partes.
Ela fica.
Sua vida não tem fim.
Mas precisa que a trates bem.

Berlim, 23 de Fevereiro de 2018
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18329: Blogpoesia (553): "Sobressaltos...", "Libertação...", e "Poesia do calcanhar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728