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terça-feira, 23 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3230: Tabanca Grande (89): José Paracana, ex-Alf Mil, Analista de Segurança das Transmissões, QG do CTIG, 1971/73




José Paracana
ex-Alf Mil
Analista de Segurança das Transmissões
QG do CTIG
1971/73



1. Relembremos as mensagens anteriores do nosso camarada José Paracana (1).

Por puro acaso encontrei um antigo camarada combatente da Guiné, enquanto estou a banhos no Algarve! E ele falou-me no blogue que já li parcialmente!

Fui alferes miliciano lá, de 4 de Setembro de 1971 a 4 de Setembro de 1973.

Prestei serviço no Quartel General e era Analista de Segurança das Transmissões. Por acaso guardo alguns documentos interessantes desse tempo conturbado. Que estão em minha casa, claro.

Conheço o Prof. Dr. Julião Sousa, é meu colega de naipe no coro dos antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra! É um bom homem, ao que me pareceu já.Tenho as minhas histórias, como todos, claro. E muitos slides e fotos da Guiné da época.

(...)

Não peguei em armas quando lá estive (felizmente para mim...); mas de mim dependiam informações/formações para as NT não sofrerem mais flagelos!

Depois contarei a minha comissão!

(...)

2. Comentário de CV

Caro José Paracana, estás apresentado formalmente à tertúlia da Tabanca Grande.

Poderás, quando quiseres, começar a enviar os teus trabalhos, baseados nos documentos que tens em teu poder e que poderão contribuir para o conhecimento total de algumas situações ainda pouco esclarecidas no nosso blogue.

Atravessaste um tempo algo conturbado da guerra da Guiné e muita coisa não terá chegado ao conhecimento geral.

Aguardamos, pois, que nos comeces a contar o que sabes.

Até lá recebe um abraço de boas vindas em nome da tertúlia.

Carlos Vinhal
_______________

Nota de CV

(1) - Vd. poste de 13 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3201: O Nosso Livro de Visitas (26): José Paracana, ex-Alf Mil, QG do CTIG, 1971/73

sábado, 5 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2408: Sistema de cores dos bidões de Combustíveis & Lubrificantes, usados pelas NT no CTIG (Victor Condeço)

Guiné > Zona leste > Sector L1 > Regulado do Cuor > Missirá > Pel Caç Nat 54 > Março de 1970 > O HUmberto Reis, Fur Mil Op Esp, 2º Gr Comb, CCAÇ 12, ostentando um jacaré do Rio Geba... Por detrás, vêem-se bidões de várias cores: Vermelho (gasolina), verde claro (petróleo branco), amarelo (gasóleo)... Recorde-se que este destacamento, no Cuor, a norte do Rio Geba, não tinha gerador eléctrico, sendo o seu perímetro de arame farpado iluminado com garrafas de cerveja de 0,6 l (bazucas), com petróleo.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Ponte do Rio Udunduma > 2º Gr Comb, CCAÇ 12 (1969/71) > O Fur Mil Op Esp Humberto Reis à entrada de um improvisado abrigo, protegido lateralmente por bidões cheios de terra... Pela cor (verde claro), seriam bidões de petróleo branco...

Fotos: © Humberto Reis (2005) . Direitos reservados.

1. Resposta do Victor Condeço, em 31 de Dezembro de 2007, a uma pergunta do Nuno Rubim sobre o sistema de cores dos bidões de Combustíveis e lubrificantes, usado pelas NT no CTIG (1):

Meu Caro Nuno:

Li mais uma vês li o teu apelo sobre a cor dos bidões dos combustíveis. Fui à lista do pessoal do meu batalhão, o BART 1913 (2), agarrei no telemóvel e contactei o Arlindo Dias Costa, que foi o homem da especialidade de Combustíveis e Lubrificantes.

Feita a pergunta, vieram as confirmações:

Vermelho = Gasolina

Azul = Gasóleo

Verde-Claro = Petróleo branco

Amarelo = Óleos

Segundo o meu camarada, no caso dos combustíveis para aeronaves (em Catió também tínhamos) os bidões também eram verde-claro, mas de tampa (topo do bidão) de cor branca.

Havia na categoria dos óleos inscrições nos bidões que os diferençavam quanto à viscosidade. Foi toda informação que consegui obter, ainda alvitrei outras cores, mas ele não se recorda de outras cores.

Com os desejos de um Bom Ano de 2008 com saúde e felicidades.

Um abraço do

Victor Condeço

2. Comentário de L.G.:

Victor: Neste último dia do ano, tu mereces um brinde especial!!!... Estou-te muito grato e imagino que o Nuno esteja também muito feliz com esta informação (preciosa)...já que ele quer acabar o seu diorama de Guileje, que vai ser (já é) uma obra-prima...

São estas pequenas coisas que fazem grande o nosso blogue... Se eu fosse teu comandante diria que tinha muito orgulho em ti... Como sou apenas teu camarada (que é o posto máximo que temos cá na nossa Tabanca Grande), eu direi: Dá cá uma Alfa Bravo, ganda Victor!... Muita saúde para 2008. Luís

3. Resposta do Victor:

Camarada Luís:

Grato pela tua mensagem, mas não tens nada que agradecer, nem tu nem o Nuno, fiz o que já devia ter feito logo no primeiro apelo, telefonar de imediato, porque depois passa a oportunidade e acabamos por nos esquecer (...).

___________

Notas dos editores:

(1) Vd. post de 31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2394: Quem se lembra das cores dos bidões de combustíveis e lubrificantes ? (Nuno Rubim)

(2) O Victor Condeço, que vive hoje no Entroncamento, foi fur mil, mecânico de armamento, da CCS do BART 1913 (Catió, 1967/69).

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2247: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (III): Período de 1964 a 1967

Terceira e última parte da transcrição do documento Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas na Guiné, elaborado em 31 de Outubro de 1967 pela 2ª Rep /CTIG (1).

Fixação do texto: vb

__________


CTIG > 2ª Rep > Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas da Guiné (1967) (continuação)


1964

Em Janeiro agrava-se a situação no Sector de Bissau verificando-se a fuga, de Bissau, de elementos do PAIGC considerados recuperados, e a apreensão de material na região de Nhacra.

Por outro lado, o IN começou a desenvolver actividade no sector Oeste (Umpabá) com vista ao alastramento da subversão à área dos Manjacos.

Guiné > Cassacá > 1964. Encerramento do Congresso do PAIGC.

Foto do Arquivo Amílcar Cabral. À Fundação Mário Soares, os nossos agradecimentos e a devida vénia.


Em Fevereiro, realiza-se em Cassacá (Quitafine) uma reunião de quadros do PAIGC onde são tratados problemas de ordem militar, política, administrativa e social tendo merecido atenção especial o problema do analfabetismo.

O IN aumenta a sua actividade nos Sectores Oeste e Sul havendo a assinalar a utilização, pela primeira vez, de morteiro 82 m/m (na Ilha do Como e em Buba).

Em Março, exerce um grande esforço no aliciamento das populações da área de Bula e Geba. É referenciada pela primeira vez o emprego de Metralhadora Pesada 12,7 m/m (Cabedú e Campeane).

Em Abril, com o fim de isolar a região de Bafatá, há uma tentativa de alastramento da subversão para Leste (regulado de Sancorlá), a partir do Sector Oeste, o que provocou a fuga da população. Por outro lado são desencadeadas as primeiras acções a Norte do Rio Cacheu.

Em Julho, é levada a cabo a primeira acção de fogo na região dos Manjacos (estrada Jolmete-Pelundo).

[… Parte do texto ilegível]


1965
(…)

Em Julho, um grupo de elementos do PAIGC começou a actuar na área de S. Domingos, onde do antecedente, apenas havia acções da FLING.

Em Novembro, tornou a revelar-se na Ilha de Bissau, desta vez com um assalto a uma casa comercial e o assassínio de um Chefe de tabanca, Alferes de 2ª linha, colaborador das NT.

Paralelamente, teve particular interesse o facto de elementos IN lançarem um engenho explosivo entre a população que assistia a um batuque na tabanca de Morocunda, em Farim, causando 19 mortos e 70 feridos entre a população civil. Este acto levou à detecção de uma importante rede terrorista.

Em Dezembro, destaca-se um grande número de acções contra os aquartelamentos, com sistemático emprego de morteiros e elevado consumo de munições.

Durante este ano foi assinalado o emprego de 242 engenhos explosivos, dos quais foram levantados 153.

1966

Em princípios deste ano, a FLING encontra-se dividida em duas facções: a chamada “FLING de salão”, apoiada pelo Governo Senegalês, e a “FLING combatente”, sem esse apoio, enquadrando a maioria dos militantes e tendo como Secretário-Geral François Mendy.

Em Janeiro, o IN leva a efeito a primeira acção na região de Bassi (Sector Leste).
Em meados deste ano verifica-se um recrudescimento de acções em todos os Sectores, a maioria visando as populações.

De salientar a execução da primeira emboscada na estrada Bissau-Mansoa.

Em Julho é referenciado o emprego, pela primeira vez, de Canhões s/r 8,2 (Beli).

Mais tarde, em Novembro, é referenciado o uso de Canhões s/r 7,5 (Canquelifá).

Em Agosto, é reportada a presença de mercenários cubanos entre os grupos.


Em data que não se pode precisar, François Mendy é expulso da FLING, sendo a chefia do Movimento entregue a Benjamim Pinto Bull (na foto, à esquerda), que dissolvera o seu UNGP e, entretanto, já havia aderido à FLING na qualidade de Secretário da Informação e Imprensa.

Uma das suas primeiras preocupações foi a criação do Serviço de Assistência aos Refugiados da Guiné-Bissau (SARG).

Em Dezembro são interceptadas grande número de comunicações rádio, a maioria em língua espanhola, confirmando-se assim a utilização pelo IN de meios rádio para controlar os movimentos das nossas tropas.

Durante este ano, o “Ano da Informação”, o PAIGC realizou mais dois filmes de propaganda Labanta Negro e Nossa Terra, que foram projectados em vários países.

Neste ano, foi assinalado o emprego de 359 engenhos explosivos, dos quais 242 foram levantados.

1967

No início deste ano, o IN revelou-se da seguinte forma:

(i) Sector de Bissau: prosseguiu o trabalho de aliciamento das populações tanto em Bissau como nas zonas rurais.

(ii) Sector Oeste: mantém-se em Bases ao longo da fronteira com o Senegal, com efectivos retirados do Oio. Alastrou a actividade de guerrilha à região de Teixeira Pinto.

(iii) Sector Leste: concentrou elevados efectivos ao longo da fronteira com o Senegal. ontinuou a actuar com persistência contra os aquartelamentos das NT no Boé. Manteve o controlo de toda a área do Xime e Porto Gole.

(iv) Sector Sul: Manteve o controlo de todo o sector com a excepção das regiões do Forreá, Ilha de Bolama e Arquipélago dos Bijagós.

Utilizou grande número de engenhos explosivos.

Entretanto os laços entre a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN) e o PAIGC são concretizados através da propaganda panfletária e de emissões radiodifundidas pela “Voz da Liberdade” (Argel).

Em Junho é referenciado um movimento de revolta no seio do PAIGC que culminou com uma tentativa de assassinato de Amílcar Cabral. Os chefes dissidentes pretenderam substituí-lo por um “preto da Guiné”. Parte deles teriam sido executados.

Em Julho, no decurso de uma reunião efectuada em Dacar, um certo número de antigos militantes expulsos do PAIGC e da FLING anunciou a criação de um movimento progressista da FLING “FLING progressista”, chefiado por Pablo Gomes Diaz que se proclama pró-cubano e pró-chinês.

No receio de ver prosperar esta organização, Benjamim Pinto Bull, já na qualidade de Secretário-Geral da FLING, intensificou as diligências junto dos países membros da OUA com o fim de obter o reconhecimento oficial da sua organização.

Por esta altura é referida a existência de um novo movimento, Juventude do Movimento dos Resistentes da Guiné-Bissau (JMRGB) de que se desconhecem os objectivos políticos e filiações.

Em Julho, a Rádio “Libertação”, emissora do PAIGC, transmitiu o seu primeiro programa e a partir de 27 Agosto passa a difundir os “Comunicados de Guerra” do PAIGC.

Em Outubro, delegados do PAIGC foram ouvidos num dos Comités da ONU.

Durante este ano, foi assinalado o emprego de 314 engenhos explosivos, dos quais 220 foram levantados.
__________

Nota do co-editor vb:

(1) Vd. posts de:

5 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2243: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (II): Período de 1961 a 1963

4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2240: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (I): Período de 1947 a 1960

22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte

26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVIII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2243: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (II): Período de 1961 a 1963

Dos terçados (*) e cavadores (**) ao fornilho, à mina A/C e às metralhadoras ligeiras (ou a evolução do armamento do então IN entre 1961 e 1963).

Continuação da transcrição do documento Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas na Guiné, elaborado em 31 de Outubro de 1967 pela 2ª Rep /CTIG (1).

Fixação do texto: vb
__________

1961

Em Abril reúnem-se em Casablanca os representantes de algumas organizações clandestinas de Angola, Moçambique, Goa, Guiné, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe (a UPA de Angola e outros movimentos que não gozavam de simpatias dos países do bloco de Leste não compareceram).
Desta reunião resultou a dissolução da FRAIN, que foi substituída por outra nova organização que passou a funcionar naquela cidade marroquina e que adoptou a designação de Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP).

Em Maio, François Mendy consegue fundir, pelo menos transitoriamente, o RDAG com o seu MLG no seio da Frente da Libertação da Guiné (FLG).

Em 27 e 28 de Maio, foi feita em Bissau a distribuição de grande quantidade de panfletos com propaganda subversiva.

Na noite de 17/18 de Julho um pequeno grupo de elementos do MLG, por decisão de François Mendy que pretende passar à luta armada, possivelmente para chamar a si as atenções mundiais, cortou a linha telefónica entre S. Domingos e a tabanca de Beguingue e tentou incendiar a ponte de Campada.

Na noite de 20/21 de Julho um outro grupo mais numeroso atacou o aquartelamento de S. Domingos fazendo uso de terçados (*), armas de caça, espingardas, garrafas de gasolina e cavadores (**). Na maioria envergavam camisas e calções pretos.

Em 25 de Julho um outro grupo provocou danos materiais na zona de turismo de Varela e em Susana, fazendo depredações e pilhando a maioria dos edifícios públicos, inclusive num posto sanitário.

No decorrer de todo o ano o PAIGC envia para a China (Pequim), Checoslováquia (Praga) e Gana grupos de elementos seus, a fim de frequentarem cursos de guerra subversiva e decide “passar da luta política à acção directa” em toda a Província sob o controle do “Bureau Político de Bissau”.

Verifica-se ainda a saída de muitos nativos para a República da Guiné e para o Senegal.
Entretanto, é criada a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG) que é uma organização sindicalista subsidiária do PAIGC sendo seu Secretário-Geral Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral.

1962

Em Janeiro, era anunciada em Dakar a constituição entre a UPA e o MLGC da Frente Africana contra o Colonialismo Português (FACP), réplica à FRAIN.
Apesar do acordo então estabelecido prever o desencadeamento de acção armada na Guiné, prestando a UPA, para o efeito, assistência técnica relativa à guerra de guerrilhas e fornecendo armas e munições, nunca mais se ouviu falar em tal Frente.


Em Março, são detidos em Bissau, o Presidente do Comité Central do PAIGC, Rafael Paula Gomes Barbosa (foto nos anos 90, da autoria de Leopoldo Amado, com a devida vénia), que vivia na clandestinidade e outros elementos responsáveis do “Bureau Político de Bissau”.

É ainda apreendida propaganda e variadíssima documentação, incluindo o planeamento de acções em pontos importantes de Bissau.

Nos meses de Junho, Julho e Agosto são desmanteladas várias redes do PAIGC espalhadas por toda a Província: Binar, Teixeira Pinto, Calequisse, Pelundo, Pecixe, Cacheu, S. Domingos, Suzana, Sedengal, Bafatá, Geba, Nova Lamego, Contuboel, Sonaco, Empada, Darsalame, Fulacunda, Bolama e Arquipélago dos Bijagós.

Além da captura de activistas e suspeitos foi apreendida numerosa documentação, armas e munições.

Através das declarações dos elementos detidos, verifica-se que agitadores e propagandistas tinham “trabalhado” já com uma certa profundidade as populações nativas “tabanca por tabanca”, “homens grandes”, mulheres e crianças.


Em 3 de Agosto, François Mendy conseguiu finalmente a fusão do seu MLG com a UPG, o RDAG e a UPLG no seio da Frente da Luta pela Independência da Guiné (FLING) – “a autêntica emanação do povo da Guiné-Bissau e único instrumento revolucionário para a libertação nacional”.

Nesta frente integram-se, por conseguinte, a quase totalidade dos guineenses radicados no Senegal, com excepção dos Manjacos do MLG-Dakar, que recusam aderir.
O PAIGC recusou o convite para fazer parte da FLING.

Na sua decisão de “passar da luta política à acção directa”, o PAIGC desenvolve intensa acção de propaganda e de aliciamento das populações do Sul da Província. Apesar da acção desenvolvida pelas nossas autoridades, o PAIGC desencadeia no segundo semestre deste ano, as suas primeiras acções violentas, em especial terrorismo selectivo visando autoridades tradicionais e agentes da ordem, em especial no sector Sul.

São apreendidas as primeiras pistolas (calibres 9 e 7,65 m/m) e destruídas diversas “casas de mato” já com camaratas, carreiras de tiro e pistas para treino físico.

Em Outubro, são referenciados os primeiros sobrevoos suspeitos, em especial de helicópteros.




Conakry nos finais dos anos 60 (?). A devida vénia ao autor desconhecido da foto.

Entretanto, partidários do PAIGC continuam a receber instrução de guerra subversiva na Checoslováquia, no Gana, em Marrocos, no Mali e na República da Guiné, onde em Conakry um grupo de instrutores argelinos (FLN) (***) se encontra desde Maio deste ano.

Em Dezembro, Amílcar Cabral apresentou-se como peticionário perante a Comissão de Curadorias da ONU, onde, além de pedir a independência da Província da Guiné, declarou que os seus partidários deveriam ser considerados soldados da ONU pois desempenhariam funções semelhantes às dos “capacetes azuis” que se encontravam no Congo.

1963

Em Janeiro, recrudesce a actividade IN no Sector Sul havendo a registar um ataque ao aquartelamento de Tite em que faz largo uso de PM, P e GM e ainda a execução das primeiras emboscadas na região de Bedanda. Simultaneamente, faz-se sentir a sua presença no Sector Oeste.

Em Março, roubou os navios “Mirandela” e “Arouca” perto de Cafine (Sector Sul), que mais tarde utilizou para transporte de pessoal e material da República da Guiné.

Em Junho, elementos do PAIGC desencadeiam actividades no Sector Leste, em especial na área de Xime.

Em Julho, faz explodir pela primeira vez um fornilho (****) à passagem de uma viatura no Sector Sul (estrada S. João - Fulacunda) e tentou efectuar sabotagens no Sector Leste (Paunca e Pirada).

Em Agosto, registaram-se as primeiras acções violentas no Sector Oeste (Oio) e o emprego da primeira mina A/C no Sector Sul (S. João).

Em meados deste ano, o IN começou a utilizar MLs.
__________

Notas:


(*) espada de folha curta, recta e larga.
(**) paus com ponta afiada em forma de trapézio.
(***) FLN, Frente de Libertação Nacional, o movimento independentista que levou De Gaulle, num célebre referendo, a "dar" a independência à Argélia.
(****) carga explosiva colocada numa cova de um percurso, frequentemente misturada com todo tipo de material dilacerante (pregos, granadas, bombas de avião não detonadas...)
__________

Nota do co-editor vb:

(1) Vd. posts de:

4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2240: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (I): Período de 1947 a 1960

22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte

26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVIII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte

domingo, 4 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2240: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (I): Período de 1947 a 1960

Transcrevemos sem comentários, Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas na Guiné, ou como os Serviços de Informação da 2ª Rep /CTIG viram a evolução dos acontecimentos.

Documento datado de 31 de Outubro de 1967.

Fixação de texto: vb
__________


CTIG > 2ª Rep > Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas da Guiné (1967)

1946

Entre 19 e 21 de Outubro, reuniu-se em Bamako (Mali, então Sudão Francês) o Congresso da fundação da Reunião Democrática Africana (RDA), um movimento que, surgido na costa do Marfim, viria a constituir o principal instrumento de infiltração comunista na África Ocidental Francesa (AOF) e na África Equatorial Francesa (AEF).

Criado por Felix Houthouet-Baigny, deputado à Assembleia Nacional Francesa pela Costa do Marfim, o RDA contava entre os seus dirigentes mais destacados Gabriel Darbousier, um africano galardoado com o Prémio Estaline da Paz, e Raymond Barbet, membro influente do Partido Comunista Francês e Chefe do Gabinete do Governador da Costa do Marfim.

O programa da RDA baseava-se em três princípios: igualdade política e social dos indígenas e brancos, organizações locais democráticas e união livremente consentida com a França.


1947

Em Maio, Sekou Touré, actual presidente da Guiné e a principal figura da penetração comunista na Guiné Francesa, funda a secção guineense da RDA – o Partido Democrático da Guiné (PDG).

Até 1945, Sekou Turé havia desenvolvido as seguintes actividades pró-comunistas:

(i) Criação da União de Sindicatos da Guiné (USG), ligada à organização internacional comunista Federação Sindical Mundial (FSM);

(ii) Exercício da vice-presidência da FSM;

(iii) Ocupação do cargo de Secretário do Comité de Coordenação dos Sindicatos da Confederação Geral do Trabalhador (CGT) para toda a AOF.


1952

O Eng.º agrónomo Amílcar Cabral, nascido em Bafatá, filho de pais cabo-verdianos, ao tempo funcionário dos Serviços de Agricultura da Província da Guiné, sugere a criação de um “clube desportivo” reservado aos naturais da Guiné.

A não admissão de europeus e de cabo-verdianos deixava adivinhar a verdadeira finalidade do “clube”, que se pretendia fundar – “lançar as bases de uma organização de nativos, irmanando-os na mesma fé e nos mesmos destinos”.

O “clube” não chegou a ser autorizado pelo Governo da Província, mas a ideia de “uma união de nativos” estava lançada. Com o apoio de guineenses radicais, Amílcar Cabral organiza na clandestinidade o Movimento para a Independência da Guiné (MIG).

1956

Em meados deste ano são detectados, no sul da Província, nas tabancas das áreas de Cacine e Bedanda, “clubes de trabalho”, accionados por agitadores e propagandistas da RDA. A actividade destes “clubes” cessou com a prisão dos responsáveis.

O MIG, agora com o apoio das “organizações operárias e populacionais”, dá lugar a um partido que vem mais tarde a chamar-se Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

1957

No Outono deste ano, coincidindo com o II Congresso dos Partido Comunista Português (PCP), reuniram-se em Paris, os principais dirigentes do MPLA (Angola) e alguns revolucionários de Cabo Verde, Moçambique e S. Tomé e Príncipe com a finalidade de criarem uma organização susceptível de pôr em execução a nova táctica ordenada por Moscovo ao PCP, relativamente às províncias ultramarinas portuguesas. Desta reunião, resultou o Movimento Anti-colonialista (MAC) com os seguintes objectivos:

(i) "Estudar os problemas registados na luta travada pelas organizações patrióticas.

(ii) "Contribuir para uma orientação mais lúcida desta luta, tendo em conta a concreta evolução da política internacional.

(iii) "Trabalhar a favor de uma unidade de acção dos movimentos de libertação das colónias portuguesas.

(iv) "Formar as forças que actuam no interior dos territórios, reservas revolucionárias inesgotáveis, com o fim de subtrair ao colonialismo português qualquer possibilidade de abafar a luta libertadora dos povos”.

Era assim, fomentada a criação de organizações comunistas “autónomas” nas províncias portuguesas do ultramar, que já não dependiam do PCP, mas que estavam a ter a possibilidade de contactar directamente com a máquina comunista internacional.

Em 18 de Setembro, em Thiés (Senegal), é fundado o Partido Africano de Independência (PAI). A sua criação foi precedida de uma série de conferências realizadas naquela cidade sob a égide da RJDA (Juventude da RDA) e por uma intensa propaganda desenvolvida, em especial, no meio ferroviário.

O manifesto do novo partido declarava que o PAI lutaria “pela conquista do poder político, no âmbito da independência nacional, e pela entrega dos bens sociais àqueles que os produzem, no âmbito do socialismo”. O seu objectivo fundamental era a “eliminação da dominação imperialista e a construção da futura sociedade socialista africana.

Mais tarde, em data que não se pode precisar, são acrescentadas as palavras da “Guiné e Cabo Verde” formando a actual sigla PAIGC que virá a ser do mais importante e único partido que desenvolverá a actividade armada na Província. No entanto, em 1967, o PAIGC comemorou o seu 11º aniversário indicando o dia 19 de Setembro de 1956 como o da sua fundação.

1958

Em 28 de Setembro, a população da Guiné Francesa, sob a influência do PDG, recusa por esmagadora maioria a integração da Guiné na Comunidade Francesa.

Em 2 de Outubro é proclamada a independência da República da Guiné. O Senegal, por seu turno, surge como “república autónoma” a partir de 25 de Novembro. Desde então, foram surgindo nestes dois territórios limítrofes da Guiné Portuguesa diversos “movimentos emancipalistas” desta nossa Província.

Enquanto em Conakry eram concedidas ao PAIGC todas as facilidades exigidas pela estruturação de um agrupamento subversivo, no Senegal, em especial em Dakar, iam surgindo “movimentos” que, fiéis ao princípio “A Guiné para os Guineenses”, se revelaram, na sua quase totalidade, como acérrimos adversários do PAIGC, a quem atribuíam o objectivo de querer manter na Guiné “a secular preponderância dos cabo-verdianos sobre os guineenses”.

Entre os movimentos com sede em território senegalês, contavam-se os seguintes:

- Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde (MLGC), dominado por cabo-verdianos que pretendiam a independência conjunta da Guiné e Cabo Verde. Este era um dos poucos movimentos que no Senegal tinham adoptado, na sua generalidade, a linha de acção do PAIGC;

- Movimento de Libertação da Guiné (MLG), a que aderiram a maior parte dos manjacos guineenses residentes no Senegal, que não aceitavam qualquer associação com os cabo-verdianos. Com sede em Dakar, chegou a ter filiais em Dakar e Bissau. Era seu chefe François Mendy, um estudante de Direito de ascendência manjaca nascido no Senegal;

- União Popular para a Libertação da Guiné (UPLG), que enquadrava alguns fulas residentes no Senegal;

- União das Populações da Guiné (UPG), à qual estava filiada uma minoria de guineenses residentes em Koldá (Senegal);

- União dos Naturais da Guiné Portuguesa (UNGP), movimento chefiado por Benjamim Pinto Bull que reclamava a autonomia da Guiné Portuguesa através do diálogo com o Governo Português;

- Reunião Democrática Africana da Guiné (RDAG), accionado por elementos da RDA e que integrava a colónia mandinga do Senegal.

1959

Em 3 de Agosto, perante uma reivindicação de salários dos trabalhadores do cais do Pindjiguiti (Bissau) seguida de greve, ocorre grave incidente de que resulta a morte de nove estivadores manjacos (1). Este acontecimento que não teve qualquer relação com os “movimentos nacionalistas”, passou a ser explorado por eles como sendo a primeira reacção contra a autoridade portuguesa e assim o PAIGC e o MLG disputam entre si a “responsabilidade” por este incidente.

Em Setembro, Amílcar Cabral, sob o pretexto de uma visita a familiares seus, permanece na Província da Guiné apenas sete dias. Contudo, este curto período de tempo foi suficiente para insuflar, entre os seus amigos e entre os companheiros das reuniões para a formação do “clube desportivo” já referido atrás, a ideia da necessidade da “luta emancipalista”, desenvolvendo a organização clandestina e iniciando o recrutamento de “quadros”.

Em 19 de Setembro, o PAIGC decide, no decorrer de uma reunião clandestina em Bissau, “passar da luta política à acção directa”.

No final do ano Amílcar Cabral fixa residência em Conakry.


1960

Em Janeiro, Amílcar Cabral, na qualidade de membro do MAC, assiste à Conferência de Tunes (a 2ª Conferência dos Povos Africanos). Foi por esta ocasião que o MAC foi extinto, sendo criada em sua substituição a Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas (FRAIN ou FRAINCP), órgão que visava principalmente a acção directa e que pretendia alargar o campo de acção comunista a “todas as organizações que lutam pela liquidação do colonialismo português”.

Em Março, Amílcar Cabral, sob o pseudónimo de Abel Djassi, divulga em Londres a acção da FRAIN, através de um comunicado à imprensa.

Em Maio passa à clandestinidade e no segundo semestre visita Pequim, onde garante a instrução revolucionária de um grupo de elementos do seu partido.

Por esta altura, começam a ser detectadas na Guiné Portuguesa actividades subversivas reveladoras de uma organização com uma amplitude que não seria de prever, apesar do incidente do Pindjiguiti e das emissões rádio difundidas de Conakry tendentes a agitar a população guineense.

Em Outubro, o PAIGC, já com escritório em Dakar, faz publicar uma carta aberta dirigida ao Governo Português, propondo-lhe “uma solução pacífica do problema colonial da Guiné e de Cabo Verde” e em Dezembro, envia o seu primeiro memorando à ONU.

(Continua)

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Nota do co-editor vb:

(1) Vd. posts de:

22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte

26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVIII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte