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sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20252: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte X: Cabedu, Cantanhez


Guiné > Região de Tombali > Cabedu  > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 > Desembarque em Cabedu. Na foto, a LMD 302.


Guiné > Região de Tombali > Cabedu  > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 > Desembarque em Cabedu, a partir da LDM 302.


 Guiné > Região de Tombali > Cabedu  > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 > Desembarque em Cabedu, a partir da LDM 302... Presuume que o rio seja o Cumbijã.


Guiné > Região de Tombali > Cabedu  > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 >  Chegada ao destacamento de Cabedu.


Guiné > Região de Tombali > Cabedu   CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 >   Posto de vigia,  e rede de arame farpado com garrafas de cerveja vazias, penduradas, funcionando como sistema de alerta


Guiné > Região de Tombali > Cabedu >   CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 >   Posto de vigia, com, em primeiro plano, um cão pastor alemão, cujo dono era o capitão Costa Campos... (Não, era o Toby, de raça Boxer, que irá sobreviver aos ferimentos recebidos em combate, por estas bandas, no Cantanhez...)


Guiné > Região de Tombali > Cufar  > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 >   Bolanha de Mato Farroba


Guiné > Região de Tombali > s/l  > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 >    "Regresso de uma operação"... Veem-se os militares com capacete de aço e os milícias com Mauser...É possível que a foto seja de 1964, do início da comissão...

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cantanhez > Cabedu > 2008 > Restos (arqueológicos...) do antigo destacamento de Cabedu...

Foto (e legenda): © José Teixeira(2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes: (i) ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66); (ii) trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC (Direção Geral de Aeronáutica Civil); (iii) foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.


Emblema da CCAÇ 617 / BCAÇ 619. 
Fonte: Cortesia  de  © Carlos Coutinho (2008)
O lema, em latim, quer  dizer...
 "movimenta-te, se não queres ser visto"
Mais dados biográficos: (iv) estudou no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG): (v) andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente; (vi) é natural de Lisboa; (vii) casado; (viii) tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas); (ix) é membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011; (x) tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue.

Neste poste mostramos algumas fotos que documentam a atividade operacional do alf mil João Sacôto e da sua companhia, nomeadamente na península do Cantanhez: Cabedu, Mato Farroba... 

Recorde-se  que a CCAÇ 617 / BCAÇ 619 esteve em Catió de 1 março de 1964 até 22 de setembro de 1965, altura em que assume a responsabilidade do subsector do Cachil, por troca com a CCAÇ 728.

Será rendida pela CCAÇ 1424, em 16 de janeiro de 1966. Regressa a Bissau, aguardando embarque para a metrópole.

 Não sabemos a data exata em que passou por Cabedu. Terá sido nesta altura que o Toby foi ferido em combate, no Cantanhez...


Guiné > Região de Tombali > Carta de Cacine (1960)  >Escala 1/50 mil > Posição relativa de Cabedu, na península do Cantanhez, entre o rio Cumbijã e o rio Cacine.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 11 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19967: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte IX: O 'bu...rako' do Cachil (set 1965 / jan 1966)

Vd. postes anteriores:

16 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19684: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte VIII: Catió, Destacamento de Ganjola

Vd. postes anteriores:

28 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19628: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte VII: Catió e arredores: contactos com a população civil

20 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19604: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte VI: Em Príame, a tabanca do João Bacar Jaló (1929 - 1971)

3 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19546: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte V: Catió, o quartel e a vida da tropa

28 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19539: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte IV: Catió: as primeiras impressões

17 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19502: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte III: O meu cão Toby, que fez comigo uma comissão no CTIG, e que será depois ferido em combate no Cantanhez

10 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19488: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte II: Chegada a 15/1/1964 e estadia em Bissau durante cerca de 2 meses

4 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19468: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte I: A partida no T/T Quanza, em 8/1/1964

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20230: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXIX: Henrique Ferreira de Almeida, alf art (Sátão, 1947 - Guiné, Cabedu, 1968); pertenceu à CART 1689 / BART 1913.







1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). 

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.


Morais da Silva foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar. É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 784, desde 7 do corrente.

O alf art Henrique Ferreira de Almeida (1947-1968), morto aos 21 anos, já tem várias referências ni nosso blogue. Pertencia à CART 1689 / BART 1913 (Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69).
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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de  setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20187: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXVIII: cap inf Artur Carneiro Geraldes Nunes (Sá da Bandeira / Lubango, 1934 - Guiné, Cabedu, 1968)

domingo, 29 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20187: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXVIII: cap inf Artur Carneiro Geraldes Nunes (Sá da Bandeira / Lubango, 1934 - Guiné, Cabedu, 1968)






1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). 
Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

Morais da Silva foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar. É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 784, desde 7 do corrente.

Ver aqui referências no blogue ao Cap Artur Nunes e à sua CCAÇ 1788.

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Nota do editor:

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20181: Tabanca Grande (485): Carlos Marques de Oliveira, ex-alf mil arm pes inf, cmdt Pel Mort 2115 e, depois, do 5º Pel Art e do 7º Pel Art (Catió e Cabedu, 1969/71): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 796



Carlos Marques de Oliveira, BI Militar


1. Mensagem do Carlos Marques de Oliveira. com data de 26/09/2019 23:36:

Meu caro Luis,

Espero que estejas melhor da intervenção ao joelho e que a recuperação se vá fazendo sem percalços. Que fiques bem o mais rápido possível.

Tenho agora oportunidade de te enviar um breve resumo do meu percurso de vida, enquanto militar.

Fui incorporado no 1.º Turno do COM na Escola Prática de Infantaria, Mafra, em Janeiro de 1968. Após recruta e tendo-me sido atribuída a especialidade de Armas Pesadas de Infantaria, terminei a formação na EPI em Junho de 1968.

Fui colocado no RI 2, Regimento de Infantaria de Abrantes onde, como Aspirante, dei instrução de Armas Pesadas/ Apontadores de Morteiros e Escola de Cabos. Também, como Adjunto do Comando, fiquei com a responsabilidade do Trem Auto.

O pessoal a que dei instrução foi todo mobilizado para diversos Pelotões de Morteiros e de Canhões sem Recuo, que entretanto se constituíram, com destino à Guiné, a Angola e a Moçambique.
Em Dezembro de 1968 fui mobilizado para a Guiné como Comandante do Pelotão de Morteiros 2115. 

Em Março de 1969 formei Unidade no RI 15, Regimento de Infantaria 15, em Tomar, onde fizemos a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO)

Terminado o IAO, embarcámos no navio Niassa a 7 de Maio 69. Chegámos a Bissau a 12 de Maio, onde aguardámos destino operacional.

O Pelotão de Morteiros é uma pequena Unidade Independente, constituída por 1 Oficial Subalterno, 1  2.º Sargento, 2 Furriéis Armas Pesadas, 4 Cabos Apontadores, 2 Soldados Condutores Auto, 2 Soldados Transmissões e neste caso, 35 soldados com diversas funções operacionais atribuídas. Actua  normalmente em apoio a outras Unidades de Escalão superior.

A 16 Mai 69 embarcámos em comboio naval com destino a Catió, na Região Sul da Guiné. Chegados a 17 de Maio foi-nos atribuído o apoio ao Batalhão de Artilharia 2865, ficando a depender logística e operacionalmente deste BArt até Dezembro de 1970.

Por ter terminado a Comissão, o BArt 2865 foi rendido pelo Batalhão de Caçadores 2930, para o qual transitámos o apoio até final da nossa Comissão, em Fevereiro de 1971.

Em Setembro de 1969, fiz parte de um grupo de Alferes e Furriéis de Armas Pesadas de Infantaria que, por necessidade operacional, recebeu instrução e formação em Materiais e Tiro de Artilharia, na BAC 1 em Bissau. Fomos depois distribuídos por diversos Pelotões de Artilharia de Campanha. Fui colocado em Cabedú, a comandar o 5.º Pel Art / BAC 1 desde Outubro de 1969 até Junho de 1970, data em que regressei a Catió para comandar o 7.º Pel Art, cujo comandante falecera em combate.

De Junho de 1970 até final da comissão, em Fevereiro de 1971, passei a comandar cumulativamente os Pelotões de Morteiros e de Artilharia. No período de transição entre o BArt 2865 e o BCaç 2930 fui responsável pelo Serviço de Informações Operações e, Administrativamente, das duas Companhias de Milícias sediadas em Catió.

Apesar de Oficial Miliciano de Infantaria, a minha Comissão de Serviço na Guiné foi, operacionalmente, quase que como Artilheiro, dada a enorme actividade dos Pel Art que comandei , em particular o 7.º Pel Art de Catió, não só em defesa de frequentes ataques e flagelações a que éramos sujeitos, como por iniciativas operacionais do BArt 2865.

Terminada a Comissão, em Fevereiro de 1971, regressámos no navio Angra do Heroísmo que, após passagem pelo Funchal, chegou a Lisboa a 12 de Fevereiro. Passei à disponibilidade no dia 13 de Fevereiro de 1971, no Regimento de Infantaria 15, em Tomar.

Meu caro Luís, este é um brevíssimo resumo do que foi o meu SMO. É longo porque foi longo. Os detalhes ficarão para pequenos textos, se assim o entenderes.

Recheado de factos, de estórias, de sensações, de sentimentos que não nos importamos de compartir e partilhar com quem, como tu, os da tua e nossa Tabanca, das Tabancas de que fazemos parte, os que também viveram e passaram pelos mesmos Chãos, sabem do que estamos a falar. E ouvem e escutam e acreditam nos sentimentos que nos irmanam e igualam.

As fotos, em anexo, não sei se te vão chegar bem. Dá notícias.

Um muito forte abraço com ,uma vez mais, os meus desejos de que tenhas uma rápida recuperação.

Carlos

Carlos Marques de Oliveira

PS. Já agora n.º mecanográfico:   NM 08234765


Foto de família do pessoal do Pel Mort 2115 (Catió e Cabedu, 1969/71). Convívio em 2016. Foto da página do Facebook do seu antigo comandante, o ex-alf mil arm pes inf, Carlos Marques de Oliveira. Reproduzida com a devida vénia...


Guiné > Região de Tombali > Catió > c. 1969 > O 7.º Pel Art de Catió, comandando pelo 2.º Sargento Issa Jau, morto em combate em 27/2/1970. Na foto, o único elemento não guineense, na segunda fila, de pé, o terceiro a contar da esquerda, é o major art José Manuel Mello Machado (1928-2012), 2.º cmdt e mais tarde comandante, depois de promovido a tenente coronel, do BART 2865 (Catió, Cufar e Bedanda, fev 1969 - dez de 1970). 

Segundo informação do Carlos Marques de Oliveira,  nesta foto do 7.º Pel Art não está o srgt art  Issa Jau, faltando aliás  mais elementos: os de recrutamento local eram cerca de 16 soldados. O srgt art  Issa Jau foi ferido nos primeiros rebentamentos de um ataque ao quartel de Catió, a 26/2/1970 tendo falecido durante a evacuação para Bissau. Nessa data já era comandante do BART 2865 o ten cor art Mello Machado, já falecido e amigo pessoal do Carlos. 

Foto do cor art Mello Machado, reproduzida no poste P9514, de 21/2/2012.  Fonte: Mello Machado - Aviltados e traídos: resposta a Costa Gomes. Lisboa: Editora Literal, 1977, 120 pp.


2. Comentário do editor:

Meu caro Carlos, fica então regularizada a tua entrada na Tabanca Grande, com o envio das fotos da praxe, que nos chegaram em boas condições. Já sabes qual é o teu lugar à sombra do nosso mágico e protetor poilão, o n.º 796. à direita do Domingos Robalo (n.º 795) e à esquerda do António Manuel Carlão, infelizmente já falecido. (*)

A tua presença honra-nos a todos, independentemente da arma e da especialidade que calhou a cada um de nós. A Tabanca Grande, já com cerca de 8 centenas de amigos e camaradas da Guiné, é uma pequena amostra da gente valorosa que passou pelo CTIG de 1961 a 1974. Mais de 90% são ex-combatentes, os restantes são familiares de ex-combatentes, mas  também guineenses e demais amigos da Guiné.

A nossa missão é simples e clara: partilhar memórias (e afetos).  É o que fazemos desde há 15 anos, contribuindo de algum modo para que os veteranos da guerra da Guiné não morram na "vala comum do esquecimento". 

Os nossos leitores já têm mais informação a teu respeito: (i) és membro da Magnífica Tabanca da Linha (desde 2 de maio de 2017); (ii) nasceste em Lisboa; (iii) praticaste remo (skiff) antes da tropa e foate campeão; (iii) trabalhaste numa multinacional; (iv) está reformado; (v)  vives em Sintra; tens tem página no Facebook: e (vi) és também membro e administrador da página de grupo Artilharia de Campanha na Guiné . BAC 1 / GAC 7, de que o Domingos Robalo é o administrador. (**)

Carlos, temo-nos encontrado, nos almoços da Tabanca da Linha, mas nunca tivemos oportunidade de conversar sobre as "coisas" da Guiné... por coincidência, somos ambos  homem de armas pesadas de infantaria:  mas tu tiveste o privilégio de ser artilheiro e comandar bravos artilheiros (***)...

Por outro lado, confirma-se, mais uma vez, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... O teu reencontro com o Domingos Robalo, no 45.º Convívio da Tabanca da Linha, no passado dia 19,  já foi aqui devidamente assinalado e documentado.

Espero que outros comandantes de Pel Mort e Pel Art sigam o teu exemplo, dando a cara.  De futuro, já sabes como comunicar connosco: através do email, podes mandar novos textos e fotos. O nosso blogue é voraz e preciso de ser devidamente alimentado todos os dias. 

Bem vindo, camarada!

PS - Obrigado também pela partilha do teu n.º de telemóvel e pelos teus votos de boa saúde... O meu joelhinho esquerdo está em franca recuperação depois de uma artroscopia, no passado dia 24.
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Notas do editor:



quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20122: (De)Caras (135): Carlos Marques de Oliveira, membro da Magnífica Tabanca da Linha, ex-fur mil, Pel Mort 2115, 5º Pel Art e 7º Pel Art (Catió e Cabedu, 1969/71): tive o privilégio de comandar valentes artilheiros


Guiné > Região de Quínara > Fulacundia > Obús 10.5 [ Foto do álbum de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)]

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso camarada Carlos Marques de Oliveira, membro de A Magnífica Tabanca da Linha (desde  2 de maio de 2017), natural de Lisboa, vivendo em Sintra [, tem página no Facebook, temos cerca de 150 amigos em comum: fica desde já convidado para integrar, de pleno direito, a Tabanca Grande, com o nº 796, a seguir ao Domingos Robalo, o nº 795] (*)


Meu caro Domingos Robalo, felicito-o pelo poste sobre a artilharia na Guiné. (*)

O mundo é pequeno. Para além de termos viajado no Niassa de 7 a 12 de Maio de 1969, foi meu instrutor na BAC1/GAC7, quando da minha formação artilheira, de recurso. Fiz parte do grupo de Furriéis e Alféres Milicianos Armas Pesadas de Infantaria que recebeu instrução de Materiais e Tiro de Artilharia tendo sido colocado no 5º Pel Art  em Cabedu e mais tarde, por falecimento em combate do 2º Sarg. Issa Jau, no 7º Pel Art  em Catió. 

Tive a honra e o privilégio de comandar valentes artilheiros. Conheci pessoalmente o Sarg. Issa Jau, que admirei, pois o meu Pel Mort 2115 foi colocado de reforço ao BART 2865 em Catió. 

Na fotografia dos artilheiros de Catió está o então major de artilharia António José de Mello Machado, 2º Cmdt do BART 2865,  mais tarde promovido a ten cor,  passando a comandar o BART até final de comissão. (*)

Meu caro Luis Graça, obrigado pela possibilidade que nos tens dado de podermos partilhar e recordar tanto do que todos nós , os que estivemos na Guiné , temos de comum. Tanto que temos para conversar. 

Um abraço,  Domingos Robalo, e quero que saiba que a instrução que recebemos valeu a pena. Não o deixámos ficar mal.

Carlos Marques de Oliveira (**)
Magnífica Tabanca da Linha
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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17840: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (45): Questões de sangue

Vista a partir da Serra do Pilar
Foto: © Dina Vinhal

1. Mensagem do nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 29 de Setembro de 2017:

Caros amigos,
Junto nova história verídica que poderá ser incluída na série de "Memórias boas da minha guerra".
Informo que os nomes de pessoas e lugares tiveram que ser alterados devido à exigência do personagem principal.

Abraço
José Ferreira Silva da Cart 1689


Memórias boas da minha guerra

45 - Questões de sangue

No início de Janeiro de 1967, vindos de todo o país e em especial da zona norte, chegavam ao RAP 2 - Serra do Pilar, os seiscentos e tal militares, tidos como preparados para seguirem para a Guerra do Ultramar. Vinham formar o BART 1913 - Batalhão de Artilharia 1913 - que se destinava a cumprir uma Comissão de Serviço Militar na guerra, no CTI da Guiné.

Não fora o facto de ter acabado de frequentar o curso de “Rangers” em Lamego - o que me ligou logo à mobilização - e eu poderia sentir-me satisfeito por continuar a cumprir o serviço militar no norte (depois do GACA 3, de Espinho). Efectivamente, depois de uma razoável classificação no Curso de Vendas Novas (o primeiro sobre guerra subversiva), fui atendido nessas “minhas preferências” então registadas: Espinho, Gaia ou Porto. O que eu não sonhava era que esse pretenso percurso me levaria até à Guiné.

Ao contrário das outras chegadas a novo quartel, desta vez eram evidentes os rostos mudos, carregados de tristeza, apatia e resignação. Entravam cabisbaixos, fixando o chão cinzento-escuro dos gastos paralelos de granito enquanto deambulavam por toda a calçada, na subida até ao pavilhão central onde funcionava a recepção Assumiam, assim, o doloroso papel de “condenados”.
Foi ali que, partindo do zero, nos fomos agrupando em Secções, Pelotões, Companhias, formando o Batalhão. Assim, apareceram as respectivas formaturas, dando início à última e decisiva preparação para a guerra. Claro que reencontrámos alguns camaradas já conhecidos em quartéis anteriores, mas muito poucos a seguirem o mesmo percurso. Uma coisa era certa: iríamos todos para a Guiné.

Da Serra do Pilar, desfrutávamos de vistas deslumbrantes em redor, em especial sobre a cidade do Porto e, planando o olhar, sobre o Rio Douro e sua foz. Agora, nos tempos livres, saíamos dali na esperança de saborearmos mais de perto os encantos daquela lindíssima e secular região portuense. Talvez por isso, era notória a movimentação dos militares a aproveitarem a sua passagem por ali. Em poucos minutos, eles afastavam-se, ansiosos, para contactos novos, pontuais ou não, parecendo quererem absorver conhecimentos, divertimento e os prazeres tripeiros.
Ao fim de uns dias, já havia verdadeiros apaixonados pelo “Puârto”, carago! As paisagens, os petiscos, a linguagem, a franca maneira de ser dos tripeiros, as “gajas” sérias e as outras - as “donzelas” - e, até, os “gajos” porreiros, eram razões mais que suficientes para encantar aquela saudável juventude. Embora eu passasse muitas noites fora dali, uma vez que me deslocava para casa (em Fiães, da Feira) a cerca de 20 quilómetros, tive a oportunidade de conhecer peripécias interessantes e de testemunhar algumas lindas histórias de amor.

Nas minhas histórias acerca desta malta, já destaquei a história do rapaz que casou com a prima empregada nos Caldeireiros (O rapaz do “sorriso parvo”) - https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2016/07/guine-6374-p16268-memorias-boas-da.html, referi o caso do Mirandela que se apaixonou pela “donzela” que trabalhava junto ao largo da Cadeia (“Deixem-nos trabalhar”) - https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/09/guine-6374-p12031-memorias-boas-da.html, os engates do Miranda, de Amarante, junto do Café Mucaba e o namoro do Silva “a calcantes” desde a Ponte D. Luís até Gervide, (Cegueira e religião) - https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/09/guine-6374-p6951-memorias-boas-da-minha.html.
Todavia, terei que contar ainda a história do Armindo Baptista, um alentejano de nascença e coração, mas um nortenho de sangue e de grande ligação. Seus pais, funcionários públicos, oriundos do Minho, acabaram por assentar em Beja, onde ainda residem, perto dos dois filhos e seus quatro netos.
Desde miúdo, apercebeu-se de que o sotaque de seus pais diferia do dos seus vizinhos. A par disso, notava também que eles se ligavam facilmente com toda a gente e que se predispunham muito no âmbito social e religioso. E ouvia os vizinhos dizerem:
- Eles são de sangue nortenho. São mais activos.

O Armindo cresceu, estudou e fez-se um rapagão, rodeado de alentejanos, com quem cimentou grandes amizades. Mas, sempre que ia ao norte visitar os avós, trazia o seu ego reforçado pelo que via, ouvia e sentia. Ele até aprofundava ali os seus conhecimentos históricos e sentia-se cada vez mais integrado no mundo dos nossos heróis, especialmente dos que nasceram e viveram no mesmo espaço que os seus parentes mais chegados. Sentia um orgulho enorme nessa ligação nortenha e estava sempre atento a tudo que ouvia desses lados, incluindo as notícias dos sucessos do F. C. do Porto.
Apesar de sentir a aproximação das miúdas mais lindas do Alentejo, parecia que via sempre nelas uma pequena sombra de sua mãe, a mostrar-lhe a energia que lhe sobrava e que não vislumbrava nessas belas alentejanas. Chegou à tropa sem compromisso amoroso e, agora, com 23 anos, na hora da partida para a Guiné, nem endereço levava para fazer uma madrinha de guerra.
Esteve na recruta das Caldas da Rainha e rumou para Tavira, para tirar a especialidade. Seguiu para Tancos, onde tirou o Curso de Minas e Armadilhas. Com esta última formação, ficou mobilizado e foi chamado para o RAP 2 - Gaia, para integrar a CART 1687, do nosso BART 1913, acima referido.

À saída da Porta de Armas do RAP 2, surgia logo de frente na Rua dos Polacos, um tasco/mercearia típico (o “Faca Afiada”), gerido pela família Moreira. Penso que todos os tropas que passaram pela Serra do Pilar visitaram esse tasco. Lá existia um grande balcão, interrompido por uma divisória, provocando uma zona mais reservada, onde se serviam alguns petiscos, se bebia e se faziam algumas ”jogatanas”. Passei por lá várias vezes, para tomar o último “reforço vitamínico”, antes de passar a Porta de Armas. E sempre encontrava lá o Armindo, conversando com os derradeiros clientes, nos intervalos de um quase contínuo assédio à moreninha que tanto ajudava os pais.

Logo nos primeiros dias de RAP 2, testemunhámos a presença de dois militares, regressados de rendição individual, que vinham fazer o espólio. Passavam o tempo todo no tasco “Faca afiada”. Um, o Jorge Ribatejano, era Furriel dos Comandos e exorbitava as suas façanhas guerreiras, fazendo relatos medonhos que nos assustavam. Exibia o seu corpanzil de pegador de touros, assumindo a sua superioridade e valentia, bem aproveitadas na preparação especial de Comando e nos seus relatos de heroicidade. O outro, o Furriel Carlos Barroso, negro, também estivera em Angola, onde não se encontraram e preparava-se para regressar à sua terra natal - a Guiné.

Não se sabia quem bebia mais. Mas notava-se que o álcool “atacava” mais o Comando. Este, farto de se exibir na sua aludida “matança de turras”, entrava agora no campo da provocação ao negro da Guiné:
- Os pretos são uns cobardes. Não valem um caralho!
O Barroso respondeu-lhe:
- Somos todos iguais. Somos todos portugueses e temos todos o sangue igual.
Irritado, o Jorge, eleva a voz:
- O caralho, é que é igual.

Pega no copo do brandy, bebe tudo de um gole, trinca as bordas do copo, estende o braço esquerdo de manga arregaçada e com o copo estalado e agarrado ao contrário pela mão direita, esfrega-o longitudinalmente pelo braço, provocando lanhos na carne, que já sangrava e grita:
- Estás a ver o que é o sangue e a coragem de um branco?
O Barroso, ferido no seu orgulho, tira-lhe o copo da mão e faz o mesmo no seu braço:
- Estás a ver, seu caralho? Onde está a diferença?

Quando cheguei ao tasco, já eles estavam quase apáticos, sentados e encostados à parede, com os braços feridos, encobertos por um pano meio ensanguentado. Por sua vez, o Armindo, aproveitava para assumir um papel de moralizador, muito do agrado do Senhor Moreira e da sua filha moreninha, a quem ele queria impressionar.
Pois, o Armindo ficou preso à Leonor, logo que a viu pela primeira vez. Passava ali todo o tempo disponível, enquanto estivemos aquartelados no RAP 2. Em pouco tempo, todos os militares ficaram a saber que a Leonor do “Faca Afiada” estava inacessível e presa a um Cabo Miliciano que não saía de lá.

Saímos da Serra do Pilar em direcção a Viana do Castelo, de onde seguiríamos para a Guiné, em finais de Abril. Com este afastamento, acentuou-se o amor do Armindo e da Leonor, provocando uma inesperada paixão que os fazia sofrer diariamente. Contra toda a lógica e expectativas, resolveram casar a escassos dias da partida dele para a guerra. Creio que poucos acreditavam no sucesso dessa ligação, com alguns prenúncios de loucura e fatalidade.

Pouco convivemos na Guiné. A minha companhia saiu do barco Uíge, fundeado ao largo de Bissau, seguindo directamente em barcaça para Bambadinca, enquanto o Batalhão ficou sediado em Catió. O Armindo pertencia à Cart 1687, que se fixou em Cufar, após uma passagem pelo Cachil. Quando estivemos em Catió, vindos do norte, fizemos várias operações militares com passagem por Cufar. Ali convivemos pontualmente e recordámos algumas ligações anteriores. Porém, era evidente que o Armindo acusava um estado bastante sorumbático e cansado. Parece que passou grande parte do tempo afastado das operações, justificando-se com doença e deslocações a Bissau. Sempre pensei que esta relação se iria desvanecer. Com tristeza minha, porque nutri bastante simpatia pelo casal, especialmente pelo Armindo.

Alguns amigos bem conhecidos no nosso Batalhão

No dia 29 de Abril de 2017, participei no Convívio do 50.º aniversário da partida do nosso Batalhão para a Guiné. Teria que ser o mesmo local - a lindíssima e simpática cidade de Viana do Castelo. Quando estávamos dentro do quartel, do Castelo, precisamente no largo onde fora a Parada das tropas, vejo o Francisco Machado (O Chico d’Alcantara) - https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/02/guine-6374-p7710-memorias-boas-da-minha.html, a “puxar “ um casal, ao mesmo tempo que dizia:
- Ó Silva, olha aqui o Armindo.
- Qual Armindo? - perguntei.
A Senhora avançou:
- O Armindo que casou com a moreninha do “Faca Afiada”?

Que surpresa agradável! E mais agradável se tornou, à medida que eles iam contando a sua vida deste meio século e aparentando uma felicidade imensa.

Quando me afastei do Convívio, aproveitei para dar uma última olhadela ao baile onde o Armindo e a Leonor dançavam sem cessar.

Nota: - Das conversas que trocámos nesse dia, fiquei a saber que o Armindo perdera o rasto do Comando que trincava o copo de brandy, mas mantivera uma boa relação com o Carlos Barroso, que veio, muito mais tarde, a desempenhar um alto cargo na estrutura do Estado da Guiné-Bissau.
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Nota do editor CV:

Último poste da série de 13 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17462: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (44): O Zé Manel dos Cabritos e a mula transexual

terça-feira, 13 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17462: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (44): O Zé Manel dos Cabritos e a mula transexual




1. Em mensagem do dia 10 de Junho de 2017, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), autor do Livro "Memórias Boas da Minha Guerra", enviou-nos uma história, no mínimo, estranha. Não é que nós até conhecemos os intervenientes?

Caros amigos
Tal como na anterior história sobre o Zé Manel dos Cabritos, existem várias coincidências que podem induzir em interpretações precipitadas. Quero-vos garantir que esta é mais uma história de ficção que quase nada tem a ver com os amigos, acontecimentos e lugares que nos rodeiam.

Grande abraço do
JFSilva da Cart 1689


Memórias boas da minha guerra

44 - O Zé Manel dos Cabritos e a mula transexual

O Zé Manel dos Cabritos é sobejamente conhecido entre os ex-combatentes em geral e muito em particular com os que lutaram na guerra da Guiné. Entre estes, acentuou a fama de açambarcador de cabritos, ao ponto de ser acusado da sua exterminação numa importante zona dessa região africana.
Por outro lado, o facto de ter sido um emigrante de sucesso, parece ter despertado algum sentimento de inveja, por parte desses “amigos mais chegados”.

Ultimamente tenho tido um relacionamento mais próximo do amigo Zé Manel. Ele, que é sistematicamente acusado de “açambarcador mafioso” no controlo e no proveito dos cabritos no leste da Guiné, esconde, naquele fundo de guloso e de espertalhão, muita bondade e muita ânsia de sã camaradagem. Por isso, ele tem desabafado comigo sobre essas acusações infames e de outras coisas que ele não quer que se saiba. Porém, há uma a que não posso resistir.

Perguntei-lhe se tinha emigrado logo que veio da Guiné e ele respondeu:
- Não. Voltei ao Antero, para me dedicar aos trabalhos na pedra. Já andava lá há uns meses, mas como eu era muito desenvolvido no trabalho de série e rápido noutros serviços, o patrão não me dava oportunidades para me desenvolver na arte de esculpir figuras. E foi num dia de verão que decidi que aquele seria o meu último serviço em Portugal.
O patrão pediu-me para eu ir perto de Bragança levar a escultura de um macho, para ser colocada sobre uma fonte que iria ser inaugurada no Domingo seguinte. Carregaram a escultura numa carrinha Datsun, de caixa aberta, bem amarrada e bem protegida. Levei a carrinha para casa, a fim de seguir, directamente, no Sábado, para Trás-os-Montes. Ainda em casa, pus-me a mirar a obra em toda a volta do carro e cheguei à conclusão de que o “badalo” do burro estava demasiado grande e torto. Peguei no cinzel e fui dar-lhe uns retoques. Só que, não sei porquê, o “badalo” caiu e partiu-se em vários bocados. Fiquei aflito e não sabia como havia de o recolocar no macho. Pensei, pensei e, quando já estava mais calmo, voltei a retocar a zona sexual do animal, destruindo-lhe os tomates e o resto que ficara do badalo. Perdi um tempão naquelas operações delicadas mas, no final, convenci-me de que conseguira travesti-lo numa bela mula.
Faltava, agora, convencer o cliente, que estava a aguardar o macho há várias horas. Ribeira da Raia ficava para lá de Bragança, perto da fronteira, por onde passavam os emigrantes clandestinos. Passei por uma placa que dizia FRANÇA, onde, vim a saber depois, era onde os passadores mais vigaristas, largavam alguns clientes como etapa final desse “salto” clandestino. Fui andando e acabei por parar junto a um rio, onde me apercebi de algum barulho em redor de uma fogueira.

Passava das duas e meia da madrugada. Ouvi alguém dizer:
- Deve ser o gajo que vem trazer o matcho.
- Ó diatcho, agora não vem nada a calhar. Ali o Tono já está a dormir co’ a borratcheira, tuJaquim, estás meio fodido e eu, sozinho não aguento.
- Deixa-te estar Alfredo, que tu estás melhor.

Aproximei-me, passaram-me a caneca colectiva e indicaram-me o local exposto do presunto, salpicão, alheiras, queijo, chouriço, pão etc. etc.
- Olhe, o que o safou é que o Regedor trouxe para aqui material, para esperarmos por si até de manhã. Foi-se deitar e disse que você pode ficar cá, mas que convinha, antes, colocar o matcho, para lhe cimentarmos as patas. Mas estou a ver que isto vai ser difícil.

Pensei logo em desenrascar-me o mais depressa possível. Acompanhei-os nos comes e bebes e ajudei-os a alegrar-se. Acordámos o Tono e fomos descarregar o macho.

Logo que desamarramos a escultura, ali junto à fonte e sob um poste de luz eléctrica, o Tono exclamou:
- Olhem, o matcho não tem margalho!
- É porque vem capado – disse o Jaquim.
- Ó amigo, isto parece mais uma mula. Não me parece que seja o que o Regedor encomendou. – disse o Alfredo.

Olhei para ele, abeirei-me e, lamuriento, exclamei:
- Vocês têm razão. Estou aqui desesperado porque me aconteceu isto, assim, assim… e assim.

Perante o silêncio prolongado, o Tono arrebitou e ordenou:
- Vamos descarregar a puta da mula e colocá-la no sítio do matcho. Afinal sempre gostamos mais de fêmeas e o rapaz, coitado, tem de ir à sua vida. E querem saber uma coisa? A mula vai chamar-se Lola, em homenagem ao nosso amigo Betinho da Rosita, que era unha com carne com o Regedor, e que num dia de Benfica-Porto foi para Lisboa com o Tininho de Bragança e nunca mais voltaram. Parece que o jogo foi em 1963 ou 1964 e empataram a 2-2.

O Alfredo, que não se mostrou muito de acordo, foi avisando:
- Vocês sabem que o Regedor não vai gostar dessa brincadeira, até porque dizem que ele ficou solteiro, à espera desse Betinho.

O Jaquim acrescentou:
- Não sei se sabem que o Betinho fez uma operação, cortou a piroca, abriram-lhe um buraco e que agora se chama Lola e que é um bom pedaço de mulher. O Tono já a viu, não é verdade?
- Sim, é verdade. – disse o Tono, que continuou:
- Um dia em que fomos a Lisboa procurá-la numa boite, perguntámos-lhe pelo Betinho mas ela não nos passou cartão. O Regedor ficou pior que estragado. Até lhe chamou paneleiro. Ela respondeu-nos que não se lembrava desse nome, que era transexual e que se chamava Lola. Quando vínhamos embora, o Regedor confirmou-me que, quando comprara à D. Rosinha, o campo das hortas, fora para pagar a tal operação.

O Jaquim ainda lembrou os tempos de infância do Betinho, dizendo que ele “tinha a mania de tocar ao bicho dos colegas”.

De repente colocaram a mula lá em cima, foram buscar a caneca e brindaram:
- À nossa Lola, a primeira mula transexual de Portugal! 

Nota:
Acredito nesta história do Zé Manel dos Cabritos porque, por volta de finais dos anos 70, eu costumava ir pescar nessa zona raiana e lembro-me de ver o carinho e a admiração que essa gente local prestava às mulas. Também vi a estátua sobre uma fonte. E, enquanto bebíamos uma cerveja no Bar de uma Associação Recreativa e Cultural, contaram-nos que por altura do 25 de Abril, tinham retirado a Lola, “porque era ofensiva à honra das nossas mulas e, ao mesmo tempo, se identificava com o único panasca transmontano”.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17438: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (43): O Zé Manel dos Cabritos e os amigos invejosos

terça-feira, 6 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17438: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (43): O Zé Manel dos Cabritos e os amigos invejosos



1. Em mensagem do dia 29 de Maio de 2017, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), autor do Livro "Memórias Boas da Minha Guerra", enviou-nos uma história, no mínimo, estranha. Não é que nós até conhecemos os intervenientes?

Caros amigos,
Esta história pode, até, parecer verdadeira. É que há nela muitas coincidências com nomes de pessoas e com moradas que nos podem levar a essa conclusão. No entanto, quero desde já declarar que tudo é pura ficção.

Um abraço do
JF Silva


Memórias boas da minha guerra

43 - O Zé Manel dos Cabritos e os amigos invejosos

Nasceu nos arredores de Penafiel, mais precisamente na zona descendente ao Rio Tâmega, ali à esquerda de quem vai para Entre-os-Rios. Desde miúdo, ajudou os pais no amanho das terras e no pastorício do gado. Gostava muito de animais e, se possível, de os domesticar. Para além das vacas e ovelhas, ele perdia-se com cães, gatos, pegas, melros etc., etc. Mas o que ele mais gostava era de “dominar” os cabritos. Mais as cabras, porque se afeiçoavam a ele facilmente. De tal forma se dedicava a eles que os seus amigos de infância o baptizaram por Zé Manel dos Cabritos.

Pouco se sabe dele nessa época de juventude. Deve ter decorrido normalmente, para um jovem do campo, de aspecto feliz e brincalhão. Apenas se lhe destaca essa paixão desmedida pelos cabritos. A tal ponto que sua mãe, ao contrário de seu pai que o que mais queria era o rendimento que o rapaz lhe proporcionava com essa dedicação, enquanto ela, preocupada, ia dizendo:
- Ó home, bê se tiras o teu filho de trás das cabras, porque o pobo inté lhe arranja alguma fama feia.

Ele ria-se, ria-se, sem se preocupar de nada. Até que a mãe, D. Ana, tomou a decisão de arranjar uma ocupação para o rapaz numa fábrica de trabalhar a pedra. Porém, ele não assentava, com as saudades da vida do campo e foi despedido mais que uma vez, por estragar o granito tentando esculpir imagens dos animais da sua estimação. O pai até achou piada quando o empresário Antero lhe disse:
- Ó Manel, olha que o teu filho pode vir a ser um grande artista. Manda-o para as Belas Artes, antes que se perca por aqui a fazer estragos. Eu, é que já não o posso aguentar mais porque dá me muito prejuízo. Ainda lhe expliquei que se fizesse crucifixos, alminhas, pias para água-benta ou pias para porcos, talvez se safasse, mas ele é teimoso e só pensa em figuras de animais.

Curioso que, quando veio da Guiné, voltou a ir trabalhar para o Antero e, desta vez, foi ele que se despediu. Foi para a Bélgica. A mãe foi ter com o Antero culpabilizando-o de o filho ter emigrado. O Antero meio desanimado, justificou-se junto da amiga Ana e disse-lhe:
- Eu gostava dele. Era trabalhador mas fazia muitas maluqueiras. Parece que ainda veio pior da Guiné. O último prejuízo que me deu foi quando, armado em escultor, fodeu-me uma estátua, já pronta, que valia um dinheirão. Ó rapariga deixa-o ir que só lhe vai fazer bem. E vai safar-se a fazer qualquer coisa, ainda que seja a encher pneus.

Tudo estaria bem e tudo seria esquecido se não fossem os “amigos” que ele arranjou na tropa. Com a alcunha que já trazia da terra e mais as histórias que se foram contando lá pela Guiné, ele ficou marcado para sempre. E tudo por causa dos cabritos. O que lhe vale é a excelente mulher (muito linda, por sinal) que teve a sorte de arranjar e que o compreende e o acarinha como ninguém.
Eu, que o conheci em convívios de ex-combatentes, chego a ter pena dele, só pelas supostas infâmias que ouço, acerca dele. Coitado, ri-se muito (dizem que sai ao pai) e, também, tem muita dificuldade em defender-se do veneno de alguns desses “amigos”. Não imaginam o que eles dizem a seu respeito.
O Neca da Régua, nunca mais lhe perdoou as privações que passou na Guiné por causa dele. Quantas vezes ele percorreu as tabancas de Mampatá e arredores, à procura de cabritos, e sempre lá ouvia:
- Cabrito cá tem. Zé Manel fodéo-o todos.

Segundo este conceituado poeta duriense, o Zé Manel organizou uma pequena mafia que açambarcava os cabritos, provocava a sua procura e especulava os preços de venda. Tinha o esquema tão bem montado, que ninguém o poderia atacar. Diz que veio a descobrir que o Zé Manel se infiltrara nas tabancas, negociando com cipaios, gilas, lavadeiras e, até, com feiticeiros. Por outro lado, tinha o Capitão, o seu Alferes, o Primeiro Sargento, o Enfermeiro, o Vagomestre e o grupinho da sueca, caladinhos como ratos, porque também “mamavam” à grande.
Conta também que, um dia, tentou sensibilizá-lo, explorando o facto de serem ambos do norte, quase vizinhos e que, se calhar, até seriam do mesmo clube.- “Quando eu lhe disse que era do Benfica, então é que fodi tudo. Nunca mais nos entendemos”.

Ainda hoje, quando estamos por perto (nos convívios), vemos que vai um para cada lado, por forma a não estragarem o ambiente com tanta provocação.
Outro que também lhe guarda rancor é o Augusto Carvalho, o ilustre Mayor de Meladas City, que foi veterinário no tratamento de carne para canhão, e se especializou também em tratar de gazelas e cabritos para o tacho, peixinhos da bolanha em escabeche e nhecas com piri-piri. Também era conhecido por alguns excessos como aquele de aconselhar a utilização de preservativos usados, desde que virados do avesso. Dizem que em campanha eleitoral, lá na terra, chegou a referir o mau exemplo da oposição, açambarcadora e insaciável, que lhe “fazia lembrar uma certa pessoa de Penafiel que conhecera na Guiné e que roubava os cabritos aos pretinhos, para se banquetear apenas com os seus capangas mais chegados”.

Todos sabemos que os Enfermeiros (também chamados de Veterinários) gozavam de um estatuto especial; partilhavam mezinhas e recebiam chorudas compensações. Pois o Carvalho viu-se fracassado no exercício das suas nobres funções. E como os indígenas já não lhe podiam trazer galinhas ou cabritos, talvez por vingança, passou a cortar-lhes nos medicamentos. O Zé Manel diz que ele chegou ao ponto de colar os comprimidos na testa dos doentes para que não os gastassem. Também o acusa de comilão insaciável, que apanhou a bicha-solitária lá na Guiné e que nunca mais a largou. E ainda acrescenta:
- Agora até lhe dá muito jeito porque anda sempre em comezainas, a mamar à custa do povo e dos amigos. Cuidado, porque com ele só interessam contas à moda do Porto. Vá comer ao caralho!!!

O Carlos Rocha, sabia de tudo. Como era vizinho do Zé Manel, este bonacheirão também era amante de cabritos… no forno (e não só), cedo se comprometeu numa relação de franca amizade, selada pelo apadrinhamento de um descendente e pela sua união em festas tradicionais e patuscadas intermináveis, ou periódicas, como se fossem telenovelas brasileiras.
Porém, já o ouvi lamentar-se que um dia ficou envergonhado. Foi pelas festas de Rio de Moinhos, quando passeava na companhia do Zé Manel, e se viu observado por um grupo de alunos seus que estavam a cochichar e lhe perguntaram:
- Ó Sô Pro’ssor, veio ver se consegue algum cabritinho? Olhe que a Festa do Cordeirinho já passou. Vai ver que desta vez não leva nada.


A festa do Cordeirinho realiza-se na véspera da Quinta-feira do Corpo de Deus. De acordo com a tradição lá na terra, os miúdos das escolas desfilam com oferendas ao seu professor. Todos levam o cordeiro ainda vivo, acompanhado de salpicão, chouriço, queijos, batatas, cebolas etc., etc.
Conta o Rocha que um dia teve que chumbar um aluno pela terceira vez consecutiva. Dizia:
- É que ele não aprendia mesmo nada!


Quando chegou ao dia da festa do cordeirinho verificou que o cordeiro melhor era o do rapaz que chumbara. Ficou meio encaralhado, sem saber como reagir. E quando se ia a esquivar da tribuna dos professores e das outras entidades, apareceu-lhe o pai do rapaz que o quis abraçar:
- Obrigado, Sôr Pro’ssor, não imagina o favor que me fez. A minha, mulher que é ainda mais burra que o filho, passava-me o tempo a teimar que o rapaz tinha esperteza para chegar a presidente. E eu, o inteligente, que me fodesse a amanhar as terras, sozinho.


Quando o Zé Manel emigrou para a Bélgica, ganhou umas coroas e reformou-se cedo e bem. Juntou ainda a reforma de escultor e a de militar. Mexeu os cordelinhos de tal maneira que nem o Presidente Cavaco ganha tanto como ele. Ora, isto dá azo a que os seus “amigos”, invejosos, passem grande parte do tempo comum, acusando-o de se andar a aproveitar da bagunça que tem reinado em Portugal.
E o que é mais flagrante é que o Zé Manel, que não consegue gastar o que ganha, vive à grande e à francesa, consolado de gargalhadas contínuas, contagiando o ambiente que o rodeia.


Ainda muito recentemente, vimos fotos dele, parecendo assediar cabritos em Mampatá, numa das várias viagens que tem feito à Guiné. O Neca da Régua sabe que aquilo é uma provocação. Sempre afirmou que devido àquela revoltante razia, estes cabritos, que agora são tratados como animais sagrados, tipo vacas na Índia, são descendentes de uma cabrita prenha que conseguiu escapar ao bando do famoso Zé Manel dos Cabritos.
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17341: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (42): O Arturinho do Bonjardim, a relojoaria, o negócio das carnes, os vários circuitos e destinos, até ao reagrupamento do… Bando

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17341: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (42): O Arturinho do Bonjardim, a relojoaria, o negócio das carnes, os vários circuitos e destinos, até ao reagrupamento do… Bando

O Bando


1. Em mensagem do dia 26 de Abril de 2017, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), autor do Livro "Memórias Boas da Minha Guerra", enviou-nos mais esta história para a sua série...


Memórias boas da minha guerra

42 - O Arturinho do Bonjardim, a relojoaria, o negócio das carnes, os vários circuitos e destinos, até ao reagrupamento do… Bando

O Alferes Artur Bastos está ligado a algumas das histórias que venho relatando aqui no blogue. Já o referi em “A honra não tem preço” (P16511) e em “O galã de Nhacra” (P15836). Porém, dada a sua ligação e importância da sua convivência com vários companheiros, desde a escola até à guerra da Guiné (e posterior tempo de convívios de ex-Combatentes), julguei oportuno registar com mais pormenor algumas passagens da sua vida.

“…Nos primeiros anos da década de 1920, terminada a Grande Guerra, a instabilidade cresceu: para além dos governos se sucederem a um ritmo alucinante (foram 23 os ministérios entre 1920 e 1926), os atentados bombistas e a forte actividade anarco-sindicalista criavam no país um clima pré-insurreccional que fazia adivinhar um fim próximo para o regime….” 
(in Wikipédia – Revolução de 28 de Maio de 1926). 

Gomes da Costa e suas tropas desfilam vitoriosos em Lisboa (6 de Junho de 1926) 

Foi por essa altura que a Emília do Campo casou com o Zé da Serra. Ela, uma mulheraça carregada de vida, bonita e bastante desejada e ele, um rapagão, capaz de satisfazer o mais exigente patrão madeireiro e qualquer mulher. O desejo de se unirem era mais forte do que a instabilidade política e social reinante. Todavia, esse golpe de 28 de Maio parece ter provocado alguma esperança entre os portugueses (já bastante cépticos quanto à governação republicana).

Em poucos anos, a Emília dera à luz uma meia-dúzia de filhos. Todos saudáveis e robustos como os pais. Porém, mesmo com as medidas rígidas de poupança e restrições, impostas pela crise e pelo novo regime político, a sua sobrevivência tornara-se um grande problema. Foram tempos muito difíceis. Tempos de fome. Tempos em que muitas vezes o trabalho era pago com uma frugal refeição. Desde crianças, muitas das raparigas eram distribuídas na serventia das famílias mais abastadas e muitos dos rapazes eram aproveitados para ajudar nas fábricas e na construção civil. A escola era luxo difícil de conseguir.

Das três filhas assim distribuídas, uma delas foi para o Porto. Foi a Rosita, a tal que sempre se entusiasmava quando a tia Candidinha vinha de visita à terra, por altura da Páscoa, Natal e de outras festas familiares.

A Candidinha foi uma rapariga de sucesso numa casa de putas, na zona do Bonjardim. Dizia-se que ela se havia especializado em Lisboa, junto dos meios republicanos, então muito voltados para a rebeldia e estrangeirismos, modernices ou libertinagem. Era muito disputada pelos frequentadores mais exigentes nesse “negócio de carnes”. Foi tal o sucesso que a Candidinha passou de protegida da Madrinha do Lar para a amiga/amante do senhorio desse Lar das Donzelas. Uns anos atrás, o Senhor Lopes fora abandonado pela sua mulher que o deixara só e que, após algumas tentativas de gravidez falhadas, mudou de homem, talvez na convicção de que o “defeito” era dele. Mais tarde, ela quis regressar mas o Lopes sentia-se muito bem servido com a Madame Candidinha.

A Rosita, embora auxiliasse a tia nos serviços domésticos, teve a oportunidade de frequentar a Escola Primária da Fontinha. Nas visitas à aldeia, a Rosita mostrava algumas saudades dos irmãos e do calor do ambiente familiar. Como as dificuldades continuavam, o pai Zé da Serra, viu que seria oportuna e desejável a entrada de mais uma féria na família. A Rosita lá ficou para trabalhar numa fábrica de cortiça, em Lourosa. Inicialmente não lhe desagradou a mudança mas, cedo se apercebeu de que agora, o futuro que esperava deveria ser diferente. Cresceu e amadureceu naquele ambiente de fábrica, cerimónias de Igreja, festas pagãs e de santos. Em poucos anos, deitou corpo de mulher. Agora, com 16 anos, já se via cortejada pelos rapazes da terra.

Subitamente, a Rosita foi de novo para o Porto. A tia Candidinha adoecera e passava a maior parte do tempo na cama. Pediu para que a Rosita a fosse ajudar, com a promessa aos pais de que, agora, os compensaria monetariamente.

A Rosita apareceu grávida. Há quem diga que isso fora o resultado de um namorico, iniciado com um colega de fábrica, lá de Lourosa. Porém, a Rosinha não queria comprometer o rapaz. Mas, como ela era menor, o pai não aceitava que o assunto ficasse assim. Valeu-lhe a ajuda da tia Candidinha, que a protegeu e lhe assegurou o apoio, até ao nascimento do Arturinho.

O Arturinho foi muito bem recebido pelo Lopes e pela Candidinha. E a Rosita foi ficando por ali, pelo Bonjardim, sem vontade de ir à aldeia mostrar o filho.
Porém, a Emília do Campo veio a ter um problema de saúde e insistiu que deveria ser a filha Rosita a ir ajudá-la. A tia Dina concordou e até gostou de ficar com o Arturinho.

Nos dias que se seguiram, a Rosita encontrou-se com o Eduardo Valente, o tal rapaz com quem ela já havia namorado. O Eduardo mostrou-se interessado em reatar o namoro com a Rosita. Desta vez, ele apareceu bastante credenciado pelo suporte social da pequena empresa corticeira que o seu pai havia criado. A empatia que os ligava veio ao de cima e, em pouco tempo, assumiram apaixonadamente a desejada relação amorosa e amadurecida.

O casamento foi muito bonito. O Arturinho levou as alianças e a tia Candidinha e o Senhor Lopes foram os padrinhos. Até teve vários automóveis. Tínhamos que parar o jogo da bola no largo, para que eles passassem. Eu teria já os meus 7 anos.

A reforçada paixão dos noivos foi tal que nem se preocuparam com a tutela do Arturinho. Embora o Eduardo estivesse convencido de que teria de assumir a paternidade do miúdo, a Rosita conseguiu libertá-lo dessa pressão, facilitando a sua permanência no Porto junto da tia Candidinha. Digamos, de passagem, que o Arturinho, graças ao mimo que o envolvia, sentia-se um principezinho no Bonjardim.

O Artur frequentou a escola primária perto de casa, na Fontinha. Na escola era conhecido por filho do Lopes da Relojoaria e da Dona Nandinha, apesar da idade já um pouco avançada que aparentavam. Não era mau aluno, mas um bocado preguiçoso. Porém, a Mãe Dina sabia impor-lhe a disciplina necessária. Por outro lado, o Pai Lopes era um bolas, entretido com o trabalho da relojoaria e com algumas tardes de pesca, junto à Ponte D. Maria.

Quando o Arturinho passou a frequentar a Escola do Infante Dom Henrique apanhou alguns colegas novos, oriundos de várias zonas típicas do Porto e de outras fora da cidade. Foi desta forma que começou a tomar maior contacto com gentes e costumes portuenses.
Por sua vez, o Arturinho cedo ficou referenciado como o puto vizinho das Donzelas do Bonjardim. É que ele, sem se aperceber, dava o seu endereço que era próximo de uma casa de putas, precisamente por cima de uma loja de relojoaria e jóias. A relojoaria do Pai Lopes era onde, segundo a especificação do Teixeira de Salgueiros, se vendiam os “broches” que eram fabricados ali mesmo por cima. E o Arturinho, muito fascinado nas jóias e relógios do Pai Lopes não fazia ideia dessa actividade “artística”, fora de Gondomar.

Efectivamente, o Arturinho sempre manteve uma ligação privilegiada com as vizinhas do prédio da relojoaria do Pai Lopes. Ainda criança e já sentia o carinho das vizinhas que o beijocavam quando se cruzavam, lá no Bonjardim. E muitas das vezes via lá a Mãe Dina a conversar com a Dona Laidinha (a Madrinha do Lar), aparentando sempre uma boa relação. E sempre recebia alguma carícia doce, acompanhada pelo cumprimento especial:
- O Arturinho está a ficar um homem!

Um dia, podia tê-las ouvido cochichar:
- Olha que ele já deve andar a tocar ao bicho. Qualquer dia temos que o levar lá para cima.
- Já notei isso e confesso-te que ando preocupada. Tenho medo que se meta com as badalhocas, sem controlo sanitário, e lhe peguem alguma doença. E tu sabes bem o que isso é.
- Fica descansada que vou preparar um bom petisco para ele. Vais ver que ele nunca mais vai esquecer as Donzelas do Bonjardim! Quando entenderes que é oportuno, manda-o ir lá acima levar-me um recado, para se ir ambientando.


Ele já sabia qual o verdadeiro ramo de actividade do Lar das Donzelas. E a malta da Escola espicaçou-o de tal forma que ele já passava grande parte das horas livres junto do Pai Lopes. Creio que ele ainda não teria feito os catorze anos. A Mãe Dina mandou-o levar um pequeno embrulho à Dona Laidinha. Ele, surpreendido, fitou-a de tal forma que ela o esclareceu:

- Ó rapaz, não tenhas medo, que elas não te fazem mal nenhum. São mulheres como as outras.

Propositadamente, a Dona Laidinha fê-lo esperar, enquanto lhe mandou servir um refrigerante. Algumas Donzelas estavam em serviço de quarto mas outras vieram cumprimentar o rapaz com reforçados carinhos. Quando vinha a descer as escadas, a Dona Mariota acompanhou-o, para lhe segredar:
- Leva o meu relógio para arranjar. Quando estiver pronto, vem-mo trazer.

Quando o Arturinho chegou à relojoaria junto do Pai Lopes já tinha pensado num esquema:
- Pai Lopes, podias arranjar este relógio de um amigo meu, lá da escola.


A Dona Mariota era já entradota na idade para aquele métier. Era a última das colegas da Madrinha Laidinha e da Madame Candidinha. Mantinha-se ainda ao serviço, graças às suas renovadas capacidades. De cara, já acusa os seus 50 e tal anos mas, do resto, conserva o aspecto de “bambolona”, tão do agrado dos olhares masculinos de quase todas as idades.

Logo que o Arturinho apanhou o relógio arranjado, aproveitou o período da sesta daquele dia primaveril e subiu ao Lar das Donzelas. Entrou e encontrou tudo muito calmo e não se via ninguém. De uma porta entreaberta viu surgir a Dona Mariota que lhe fez sinal para entrar. Recebeu o relógio com manifesta simpatia, puxou-o e abraçou-o agradecida. De seguida, disse-lhe para se sentar na cama e ficar à vontade. Fechou a porta, abriu a camisa e enquanto abanava a saia ligeiramente levantada na frente, dizia:
- Ui que calor!

Mostrou que lhe queria pagar o concerto do relógio mas ele recusou qualquer valor monetário. Cada vez mais grata, ia-lhe manifestando simpatia. Seguidamente, enquanto se coçava sobre a anca direita, voltou-se de costas e pediu-lhe:
- Ó Arturinho, por favor vê se encontras aí alguma coisa. Sinto comichão.

Com a saia levantada, ele regalava os olhos para o seu avantajado traseiro. E como ele dizia que não encontrava nada, ela mandou-o apalpar, mas com cuidado. De repente, virou-se de frente, de forma a aparecer-lhe com a “entreperna” diante dos olhos, e desafiou-o:
- E agora, vês?

Ele sorriu, enquanto ela lhe agarrou numa mão e pousou-a sobre o seu farto e escuro ninho.
- Não tenhas medo. Isto ferra mas não magoa.

Fê-lo levantar, e ao apalpa-lo entre as pernas, exclamou:
- Carago, tens aqui um pedaço de categoria, deixa-me ver.

Sentou-se de pernas abertas, enquanto lhe desapertava a portinhola, para soltar o leão. Desceu-lhe calças e cuecas e pôs-se a fazer-lhe caricias eróticas. Chegou a beijar-lhe o animal. Como ela sentiu que o rapaz já estava bastante excitado e antes que ele ejaculasse precocemente, abriu mais as pernas e encaminhou-o para a desejada penetração. O Arturinho andava nas nuvens; já fora ao pito, já era um homem. Agora parecia ver o mundo de uma forma diferente. E não olhava mulher alguma sem a imaginar de pernas abertas e acessível como a Dona Mariota.

Entretanto, o tempo ia passando mas sempre que se olhava ao espelho, sentia alguma preocupação com a escassez de barba e com o excesso de borbulhas. Na Escola do Infante, onde passava despercebido, agora sentia-se mais homem que os outros. Já discutia sexo com outros colegas mais velhos. E, até, acabou por entusiasmar alguns, que levou ao Lar das Donzelas.

Um dia a Dona Mariota, que lhe andava a dar umas “borlas” às escondidas, disse-lhe que podia marcar com os seus colegas de Escola uns “servicinhos” mais acessíveis e em segredo, mas fora do Lar.

Quando sussurrou essa proposta a alguns colegas, foi surpreendido com o entusiasmo do Marinho da Sé. Inicialmente, imaginou-o demasiado amaricado e um tanto identificado pela popularidade do vizinho Carlinhos da Sé. Depois, ficou bem esclarecido quanto às suas capacidades e experiência no “negócio das carnes”. Não fora a “escola” recebida do tio Júlio, e ninguém lhe imaginaria tais capacidades.

Quando o Arturinho perguntou ao Marinho a confirmação da sessão colectiva, foi logo esclarecido:
- Não te preocupes, já seleccionei a malta que vai, leva a gaja para o sítio combinado, que está tudo organizado.

Quando a Mariota entrou naquela casa abandonada, manifestou logo a sua discordância. Porém, o Marinho acalmou-a e adiantou-lhe uma verba jeitosa, fazendo-a hesitar quanto a uma possível desistência.
O Arturinho foi aguentando mas quando se apercebeu da real situação, tentou reagir. Logo foi ameaçado, especialmente pelos mais velhos, que agora estavam em maior número. O Marinho havia arranjado os clientes, recebera o dinheiro e controlava a situação. A Mariota, que já fora ameaçada e agredida, agora, via-se amarrada sobre uma improvisada cama: o tampo de uma mesa antiga.

À saída, o Marinho estendeu a mão ao Arturinho com algum dinheiro:
- Pega lá e vai buscar a gaja lá dentro.

O Arturinho esquivou-se e respondeu:
- Fica com o dinheiro todo e não me apareças mais.

Revoltado, o Arturinho abandonou a Escola do Infante. Ainda pensou ir para o Liceu Alexandre Herculano mas teve receio de encontrar dificuldades de adaptação às Letras e, também, aos meninos queques, mais frequentes nessa escola. Acabou por se decidir pela Escola Oliveira Martins, onde se veio a sentir muito bem.
Entretanto, sentia-se inibido em voltar ao Lar das Donzelas. Foi precisa a intervenção da Madrinha Laidinha. Ela nada soube do que se passara, mas estranhou o seu afastamento do Lar. Todavia, tinha conhecimento de que ele andara a desenrascar-se minimamente com a Mariota. Pois, a Madrinha esmerou-se em agradar e prender aquele jovem, tido como filho da casa.

Arranjou-lhe um serão espectacular. Meteu-o num quarto onde estava escondida uma jovem menor, acompanhada de uma amiga mais madura. Agarraram-se a ele e atiraram-no para cima da cama. Ele limitou-se a deixá-las despi-lo e descalçá-lo. O resto, foi um mundo de meiguices, de loucura e de prazer. Deram-lhe tudo. Até de comer. Foi nessa fartura que se apercebeu da fama do Bonjardim, onde se comiam os 3 pratos.

O Arturinho adaptou-se facilmente à nova escola. Foi ali que ficou esclarecido sobre os “Chulos da Sé”, os Carteiristas da Costa Cabral e Areosa e dos Pipis da Foz, tidos como ricos. Porém, estes também tinham a fama dos Manteigueiros, devido à pobreza de outros Fozeiros (os da parte velha, mais do lado da Cantareira), sem dinheiro para os cremes protectores solares. Também ficou a saber que os gajos da Ribeira eram tidos como Rufias, os do Marquês e Paranhos tinham a mania de ser Dândis e Cinéfilos, enquanto que os de Campanhã eram famosos pela boa vida, bons passeios e muitas festas. Ah!... e os das Antas eram os Andrades.
Foi com estes que mais conviveu e mais cresceu. E foi com alguns destes amigos que “percorreu” o Porto, desde a Ribeira ao Amial ou do Castelo do Queijo até Campanhã. Também foi com eles que rompeu panos de bilhares e fundilhos das calças nos cafés Embaixador, Palladium, Imperial, Guarani, etc. E com um grupo mais restrito, “passou” para fora do Bonjardim, conhecendo muito do mundo nocturno portuense, do Marquês à Ribeira ou dos Caldeireiros à Trindade ou Santos Pousada.

De tempos a tempos, iam enfiar umas cervejolas na “CUF”, na “Sá Reis” ou no “Pereira”, uns petiscos no “Buraquinho”, “Flor dos Congregados”, na “Mãe Preta” e no “Olho” e umas francesinhas na “casa mãe”, Restaurante Regaleira, precisamente onde foi criada essa famosíssima especialidade da culinária portuense.

A autoria desta criação pode não ser tão debatida como a da Ilíada, mas aqui o Homero é Daniel David Silva, um ex-emigrante que pegou na tradição da tosta francesa (ou croque-monsieur), adicionando-lhe molho, e criando uma iguaria que rapidamente ganhou fama. Corria o ano de 1953 e um dos actuais sócios, Augusto Marinho, era então seu ajudante. Hoje, guarda consigo o segredo do molho (que é bem picante), e mantém a tradição de usar carne assada entre fatias de pão de bijou, o que lhe permite dizer que a sua francesinha é "única". Como os juízos de valor são complicados, só podemos garantir que, por ser tão purista, se trata de uma versão diferente. Augusto Marinho ironiza: "Se tivesse registado a patente, agora éramos donos do mundo."

Enquanto a maioria dos amigos já andava na tropa e na guerra, o Arturinho, que ficara adiado para acabar o curso, ia mantendo a tradição de alimentar alguns dos seus hábitos de vida nocturna. Entretanto, acabara por conhecer a vizinha Lenita, a tal especialista em sexo oral, cuja bicha de clientes, por vezes, se estendia pela estreita escadaria de madeira, desde a entrada até à pequena sala de estar do 1º andar. Curiosa a fama desta “artista” que não admitia que lhe tocassem no corpo, o qual escondia até ao pescoço, enquanto, de mangas arregaçadas, exercia os serviços de criteriosa limpeza das mãos, da boca e do instrumento do cliente.

Também frequentava os bares de streap. Foi no Gata Preta que se perdeu um pouco mais. A Joaninha, a jovem menor que conhecera no Lar das Donzelas, actuava ali em grande estilo. De tal forma que ganhava umas boas coroas. Entusiasmada com o seu relacionamento com o Arturinho, pagava todas as despesas. Ela preocupava-se com o seu aspecto e até insistia que ele deveria puxar o cabelo para trás e assapá-lo com fixador e brilhantina. Um dia levou-o a Sta. Catarina, para lhe oferecer um fato ao seu gosto, um fato escuro de listas largas, inspirado nos personagens do filme “O Padrinho”.


Quando chegou o tempo de tropa já o grupo se havia desfeito. Haviam seguido um para cada lado. O Teixeira tinha ido para as Artes Reunidas, o João fez-se Professor, o Jorge entrou na área Comercial de componentes de Escritório, o Manel seguiu Mecânica, o Jotex foi para Delegado de Propaganda Médica, o Carvalho entrou na Petrogal, o Monteiro andava no Instituto de Contabilidade, o Arturinho em Eng. Civil e o Francisco em Eng. Electromecânica. Com o desaparecimento da malta, foi crescendo a curiosidade de se saber por onde andavam.

Quase por instinto, a malta quando estava livre, passava à tarde pelo Café Progresso, na esperança de encontrar alguém que desse notícias dos outros. E foi assim que se soube que seguiram uns poucos para a recruta nas Caldas da Rainha e para a especialidade em Vendas Novas. E que a estes se juntaram outros, vindos de Santarém e Mafra, os quais se foram misturando por Espinho, Gaia e… Guiné. Por vezes juntos, mas com tempos de serviço diferentes. Desta forma, o Café Progresso foi servindo cada vez mais, como ponto de encontro da malta, cujo percurso muito coincidira em importantes momentos da sua vida.

Dessa malta, lembro bem o Egas e o Rio Tinto, em Santarém, o Delfim no GACA 3 e nos Rangers, o Teixeira, em Catió e o Gonçalves em Vendas Novas e Cufar. Eu conhecia o Arturinho pelas suas origens lá da terra, pela sua família e pelas suas regulares e pontuais visitas. Nunca consegui encontrá-lo durante o serviço militar. Porém, mais tarde, vim a contactar bastante com ele, quando era engenheiro na construção da Barragem de Crestuma. Foi nessa altura que também me contou que o Pai Lopes o declarara único herdeiro, pouco antes de falecer. E que a mãe lhe segredara recentemente, que o Pai Lopes era o seu pai verdadeiro.

Passada a fase da Guerra do Ultramar, cada um fez-se à vida, constituiu família, andou por casa do carago e amadureceu. As visitas ao Café Progresso foram rareando e reduzidas aos mais vizinhos. Até que o Teixeira (Portojo), recentemente falecido, e o Jotex se lembraram de “determinar” que, pelo menos uma vez por mês, se efectuasse um Almoço Convívio, para se perpetuarem a camaradagem e as amizades conquistadas. E até lhe deu um nome: “Bando do Café Progresso - das Caldas à Guiné“.

Com a chegada do Facebook, acentuaram-se os contactos e alargaram-se as relações. Actualmente, o Bando agrupa ex-combatentes com percursos guerreiros diferentes mas de sensibilidades coincidentes.

Agora, para além do bom convívio mensal, onde diversificamos o local, o programa e a componente gastronómica, por vários pontos de interesse do norte de Portugal, mantemo-nos diariamente em contacto, o que tem contribuído imenso para uma boa camaradagem entre todos.

Por outro lado, tem sido maravilhoso poder ouvir, reviver e registar histórias que perdurarão e que vincarão o nosso envolvimento na Guerra do Ultramar.

Nota: - Mais tarde, o Arturinho passou a loja de Relojoaria e Jóias e criou uma Casa de Alterne. Porém (estranhamente!) essa sua iniciativa empresarial viria a tornar-se desastrosa, o que o obrigou a dedicar-se definitivamente aos trabalhos de engenharia. 
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17095: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (41): Dimensões guerreiras