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quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19221: Convívios (882): Almoço anual da CCAÇ 557, levado a efeito no passado dia 10 de Novembro, em Sarilhos Grandes (José Colaço, ex-Soldado TRMS)



1. Mensagem do nosso camarada José Colaço, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 11 de Novembro de 2018:

Caríssimo Luís e editores
No dia 10 de Novembro de 2018, a Companhia de Caçadores 557 levou a efeito o seu trigésimo almoço de convívio, em Sarilhos Grandes, organizado pelo camarada João Casimiro Coelho, tendo no mesmo dia a junta de freguesia de Sarilhos Grandes inaugurado um monumento a todos os seus naturais que combateram pela Pátria, onde o nosso camarigo poeta popular Francisco dos Santos foi convidado a depor a coroa de flores no monumento, do qual anexo fotos.
A primeira, à placa, que foquei mais ao perto para se poder ler melhor.
Na seguinte o nosso poeta popular mais um elemento da GNR a transportarem a coroa de flores. Depois, de costas, o nosso Xico a depor a coroa de flores no monumento; e na última o monumento com a coroa de flores.

E de volta aos comes e bebes no restaurante Casa das Lamejinhas, que é uma cópia dos anos anteriores, com os abraços e beijinhos naquelas que fazem parte da família.
Anexo algumas fotos, a começar, à espera que o restaurante abrisse com a "carrinha-bar" e as entradas oferecidas pelo Coelho; a seguinte na sala com todos os convivas; o bolo de aniversário e por último a foto de família com os que restam ou não, mas devido às dificuldades e o peso dos anos é o que por hora se consegue reunir.

Para fechar o programa anexo o poema com que o nosso poeta nos presenteou este ano de 2018

Um abraço.








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Nota do editor

Último poste da série de 20 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19211: Convívios (881): Festa do Magusto da Tabanca de Matosinhos (José Teixeira)

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18842: In Memoriam (318): José Augusto Rocha (1938-2018), ex-alf mil, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65... Um camarada cuja tribuna só podia ser "político-ideológica"...


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > 1964 > Abrigo "Cova do Comando" da CCAÇ 557 no Cachil. Alguém chamou a esta subunidade, que também participou na Op Tridente (jan/mar 1964), "a esquálida e esgroviada Companhia de Caçadores 557". Por detrás desta foto estão cinquenta e cinco dias a ração de combate, cerca sessenta dias sem mudar de roupa nem tomar banho, e com água racionada para beber

Legenda: a começar da esquerda para a direita o 1.º Cabo Enfermeiro Leiria; 1.º Cabo Radiotelegrafista Joaquim Robalo Dias; Dr. Rogério Leitão, que já partiu; atrás o 1.º Cabo Enfermeiro António Salvador, e por último, de quico, a sair do buraco, eu, Soldado de Transmissões José Colaço. mAs barbas com cerca de 90 dias. Os cabelos já tinham levado um corte para melhor se aguentar o calor. Aquela "divisória" entre o 1.º Cabo Dias e dr. Rogério, é uma cobra que durante a noite se lembrou de nos assaltar o abrigo e que só de manhã com a luz do dia foi detectada a um canto da cova. Foi condenada à morte pela catana de um milícia.

Foto (e legenda): © José Colaço (2015). Todos os direitos reservados. [Edição elegendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mandou-me o José Colaço um email, ontem, às 13h32,  a dizer telegraficamemte o seguinte:

"Morreu o Dr. José Augusto Rocha, ex- alferes miliciano e 2º comandante da companhia de CCAÇ 557, 1963/65."

Os jornais de hoje trouxeram de imediato a triste notícia (Público, Expresso, Diário de Notícias...).

O título do Expresso, digital, na secção Sociedade, dizia, às 13h28:

"Morreu José Augusto Rocha, um dos advogados que defenderam presos políticos". [De entre os inúmeros presos públicos que defendeu, conta-se o nome da Diana Andringa, membro da nossa Tabanca Grande.]

E acrescenta-se:

"Defendeu presos políticos no tempo em que ir a Tribunal Plenário era um risco que exigia coragem e vontade de ser solidário. Licenciou-se na Faculdade de Direito de Coimbra onde viveu a Crise Académica de 1962. O Senado da Universidade expulsou-o por ter organizado um encontro de estudantes contra as ordens do ministro da Educação. Partiu esta madrugada, aos 79 anos."

Em dezembro passado, o presidente da República tinha-o condecorado com a Ordem da Liberdade no Grau de Grande Oficial. Nasceu em Viseu, em 1938. Morreu antes de completar os 80m anos. Vai ser  cremado hoje, sexta-feira, dia 13, no Cemitério dos Olivais, às 17h.

Mais algumas notas biográficas sobre este nosso camarada:

(i) foi director da Associação Académica de Coimbra, em 1962;

(ii) foi expulso de todas as Escolas Nacionais, por dois anos, na sequência da crise académica de 62;

(iii) esteve preso no Forte de Caxias; liberto sem culpa formada, ao fim de 4 meses;

(iv) cumpriu o serviço militar e foi mobilizado para a Guiné, como alferes miliciano (CCAÇ 557, 1963/65);

(v) termina a licenciatura em direito, Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, depois de ter regressado do TO da Guiné, em novembro de 1965:

(vi) inscreve-se  na Ordem dos Advogados, em 13 de agosto de 1968;


 2. Blogue "Caminhos da Memória" > Segunda feira, 19 de outubro de 2009 >   Memória breve da história da Guiné > Um texto de José Augusto Rocha

 [Excertos, com a devida vénia...] (*)

A 25 de Novembro de 1963, embarquei no cargueiro «Ana Mafalda» (...), adaptado à pressa para transportar outra e nova carga – homens soldados – rumo à guerra colonial da Guiné. (...)

Nos anos sessenta, a ordem de incorporação e a ida para a guerra colonial estava indisfarçavelmente ligada à repressão política e à PIDE. Esta articulação era particularmente visível em relação ao movimento estudantil e em especial aos seus dirigentes. As medidas de repressão do aparelho do Estado, ao nível das forças armadas, eram várias e diversificadas e iam desde a incorporação em estabelecimentos militares disciplinares de correcção, como o de Penamacor, onde foi internado, por exemplo, o Hélder Costa e o João Morais, até incorporações antecipadas e transferências arbitrárias de quartéis, de acordo com estritas ordens da polícia política (PIDE).

No meu caso, libertado do Forte de Caxias, em Julho de 1963, fui incorporado logo em Setembro, para minha total surpresa, no Regimento de Lanceiros 2, conhecido como o quartel da polícia militar, unidade de confiança do regime político do Estado Novo. Vim a encontrar aí outro dirigente associativo, da Associação dos Estudantes da Faculdade de Letras, o João Paulo Monteiro, filho do exilado político Adolfo Casais Monteiro. A surpresa de imediato foi esclarecida. O treino militar do 1º ciclo, naquele Regimento, era muito duro e de verdadeiro castigo e, logo que terminou, ambos fomos transferidos para a Escola Prática de Infantaria de Mafra, por despacho do então Ministro da Defesa Nacional, General Mário Silva.

Cumpre assinalar que ambos gozávamos de forte simpatia entre os cadetes instruendos e mesmo dos Alferes instrutores do Quadro. Fui chamado ao Comando e aí o Capitão Semedo (irmão do actor de teatro, Artur Semedo) fez questão em dizer que a convocatória queria expressar o seu profundo desacordo pela transferência, mas que ela era exterior ao Regimento e provinda de ordens do poder político. Terminada a instrução em Mafra, fui colocado, como Alferes Miliciano, no Quartel de Caçadores 5, em Lisboa. Esta unidade militar era a unidade da confiança política do governo e comandada pelo Major Portugal, conhecido elemento da Legião Portuguesa. Tal como tinha acontecido no Regimento de Lanceiros 2, cedo gozei de grande simpatia junto dos Alferes Milicianos e do próprio Capitão da Companhia, Capitão Vieitas. Por força disso, fui escolhido pelos oficiais milicianos para integrar a mesa do Comando no dia oficial da Unidade e para em nome deles fazer o discurso oficial.

Não tardou que novo despacho do mesmo General Mário Silva ordenasse a minha transferência para Évora, para a Companhia de Caçadores de Infantaria 557 [CCAÇ 557], rumo à Guiné, sendo que a Companhia donde fui transferido embarcou para um lugar relativamente calmo, a cidade da Beira, em Moçambique.

Esta transferência foi muito controversa, com oposição, por escrito, do próprio Comandante da Companhia. Sincero ou não, por sua vez, o Major Portugal chamou-me ao Comando onde manifestou o apreço que os oficiais tinham por mim e sugeriu que apresentasse uma exposição escrita, que ele a remeteria às autoridades superiores. Recusei e lá fui para a Guiné, no «Ana Mafalda».

Cheguei à Guiné em 3/12/63 e, logo em 14 de Janeiro de 64, a Companhia 557, comandada pelo Capitão João Luis Ares e de que eu era o segundo comandante, por ser o Alferes Miliciano mais classificado, foi integrada na maior operação de toda a guerra colonial, a Operação Tridente, destinada a libertar a Ilha do Como, onde o PAIGC tinha a sua bandeira hasteada, simbolizando a primeira região libertada da Guiné Bissau.

Fui, então, transitoriamente retirado da Companhia e fiquei em Bissau como elo de ligação, para o envio de alimentos e o mais necessário à sua sobrevivência.

Em Bissau, acabei por formar uma espécie de tertúlia no «Café Bento» – à data, frequentado também pelo hoje Major Tomé e pelo advogado Orlando Curto – com o cirurgião do Hospital Militar de Bissau, António Almeida Henriques, que conhecia de Viseu, donde ambos éramos naturais, e o reanimador daquela equipa cirúrgica, António Rosa Araújo, que mais tarde, muitos anos depois, viria a defender, como advogado, no conhecido processo judicial «caso dos hemofílicos», também conhecido por «processo do sangue contaminado».

Estes dois oficiais médicos não escondiam a sua discordância com a guerra colonial (...).

Existe informação vária sobre as batalhas e forças militares que integraram a Operação Tridente, mas nenhuma sobre a CCÇ 557, de que eu era, como referi, o segundo Comandante. A Operação Tridente, assim chamada por integrar os três ramos das forças armadas portuguesa, implicou efectivos na ordem de 1200 homens, aviões, fragatas e lanchas de desembarque. Na rigorosa descrição feita pelo oficial do exército da república da Guiné Bissau, Queba Sambu, a ilha do Como tem uma superfície de 210 kms quadrados, 166 dos quais são lodo das marés, sendo constituída por um litoral de tarrafe, lamaçais que, na maré baixa,  chegam a atingir quatro kms entre a terra firme e os canais, de fluxo e refluxo marítimos. Seguindo-se ao tarrafe, estendem-se as bolanhas (arrozais) com alguns palmares, sendo o centro da ilha de matagal. Nas bolanhas, de largos canais de irrigação, o nevoeiro só permite uma visibilidade de três a cinco metros.

Foi nesta ilha que, no dia 14 de Janeiro de 1964, desembarcaram os 145 soldados e oficiais da CCAÇ 557, numa operação muito arriscada em que os soldados foram salvos de asfixia e atolamento completo no lodo, por cordas lançadas pelas lanchas de desembarque. O médico da Companhia, de nome [Rogério] Leitão – aliás um bom fotógrafo – tirou fotografias do acontecimento, mas o rolo acabaria por ser confiscado e perdeu-se esse testemunho documental.

A operação terminou de forma dramática para as populações da ilha, tendo sido destruídas e queimadas as tabancas (aldeias indígenas) aí existentes, e abatidas centena e meia de vacas e tudo o mais que constituía a forma de viver daquelas populações, como máquinas de costura, camas, roupas, etc…

As tropas regressaram a Bissau e foi deixada na mata do Cachil a CCAÇ 557, num aquartelamento feito à pressa com troncos de palmeiras na vertical e em tudo parecido a um aquartelamento índio. Sem água potável, sem alimentação e expostos à malária e a severas condições de carência e sofrimento, estes homens,  totalmente isolados e comendo meses a fio só rações, dependiam do mundo exterior de uma barcaça que, de vez em quando, ia ao centro de Comando situado na povoação de Catió. Encurralados naquele curto espaço de mata, lamaçais e bolanhas, estes homens viveram uma verdadeira odisseia de isolamento e condições infra-humanas de sobrevivência, acossados por acções de ataques ao quartel e flagelações das forças do PAIGC, entretanto regressadas à Ilha, após a retirada das tropas da Operação Tridente para Bissau.

 (...) Quando o capitão da Companhia foi de férias, vim de Bissau para o quartel de Cachil, para assumir as funções de comando, tomando contacto com homens destruídos psicológica e humanamente por condições tão duras de sobrevivência e onde situações de saúde física e mental se agravavam, dia a dia, à espera do dia redentor de uma substituição por outros efectivos.

Vivia-se este ambiente, quando um dia apareceram, lá no céu, dois aviões [F 86] [no original, Fiats lapso do autor], que, para surpresa nossa, começaram a picar sobre o quartel e a metralhar toda aquela zona, nomeadamente junto ao improvisado cais do rio, onde estacionava a barcaça de ligação a Catió.

Em desespero, ordenei que fossem lançados para o ar very-lights e um grupo avançasse com a bandeira nacional, para mostrar que éramos tropa amiga, ao mesmo tempo que por via rádio comunicava com o Comando de Catió, para que o engano fosse desfeito. Os aviões desapareceram no horizonte e ninguém ficou ferido. Na minha vida já tive dois acidentes graves de viação, mas aviões a jacto a picar sobre a minha cabeça, é acontecimento digno da linguagem própria de uma crónica de Fernão Lopes, quando no cerco a Lisboa, dizia: «era coisa espantosa de ver…».

Junto ao cais, entretanto, ficaram os destroços dos garrafões de vinho, grades de cerveja e rações de combate, que tinham sido abastecidos naquele dia à companhia!!!… O médico da companhia tirou fotografias do ataque, que infelizmente não disponho para ilustrar esta minha memória.

Fui a Bissau e protestei junto do Comando e encontrei-me com os aviadores que me informaram que tinham acabado de chegar à Guiné e faziam uma operação de reconhecimento, pensando que se tratava de forças inimigas… Que eu saiba, só houve dois enganos em ataques da aviação: este e um outro sobre os fuzileiros navais, de que resultaram, tanto quanto me lembro, dois mortos.

Acabámos por ser rendidos por outra Companhia e enviados para a zona da vila de Bafatá, donde regressei a Portugal a 24 de Novembro de 1965, para terminar o curso de Direito, que a minha expulsão da Universidade de Coimbra e de todas as escolas nacionais, por dois anos, tinha impedido de concluir.(...)


3. O José Augusto Rocha e o nosso blogue:
O alf mil Rocha, em Bissau, 1964...
A única foto que o Zé Coleço
tem deke...


(i) Comentário do nosso editor Luís Graça:

(...) Conheci, pessoalmente, o  José Augusto Rocha em 15 de outubro de 2009 (**).  Foi-me apresentado pela Diana Andringa, na estreia, no Doclisboa 2009, do seu filme Dundo, Memória Colonial.

Tivémos um conversa cordial, mas  dise-me logo que não era homem de blogues nem pretendia "alimentar" o nosso banco de memórias...  De resto não gostava de falar da Guiné e da guerra, a não ser no contexto das suas memórias políticas que estava a (ou tencionava) elaborar.. Falou-me do texto que estava a escrever (e de que reproduzimos uma parte substancial), para o blogue "Caminhos da Memória", uma promessa que tinha feito, "a título excepcional"... Um dos autores que alimentava esse blogue era justamente a Diana Andringa.

Falou-me por alto da Op Tridente, e de vários nomes do seu tempo:  Cavaleiro Ferreira, Barão da Cunha, Saraiva...  Fiquei a saber, por outro lado, que, na altura, em 1962, aquando da crise académica, e quando foi ele expulso de todas escolas do país, tinha a frequência do 5º ano do curso de licenciatura em direito... Só depois de regressar da Guiné, em finais de 1965, é que pôde completar o curso.

(ii) O José Colaço, nosso grã-tabanqueiro, ex-sold  trms da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) acrescentou o seguinte a respeito do nosso camarada José Augusto Rocha:

(...) O ex-alferes miliciano Rocha era o meu comandante de pelotão, o 4º,  ou seja,  o pelotão de armas pesadas. Ele era também o 2º comandante da companhia.

Guardo dele, durante a nossa estada na guerra da Guiné, bem como de todos os oficiais e sargentos e restantes camaradas, as melhores recordações. Mas, para este ambiente funcionar como uma máquina bem oleada, houve, e ainda há, um homem que, além de militar com a sua patente de capitão, via no seu subordinado, no homem que estava à sua frente, outro ser humano como ele... Este homem dá pelo nome de João da Costa Martins Ares, hoje coronel reformado.

O Rocha possivelmente não te contou esta passagem: no início da nossa comissão é recebida uma mensagem dos serviços da PIDE com o seguinte teor, mais ou menos: que  o capitão deunciasse o dia a dia do alferes Rocha pois ele era elemento a ser vigiado na sua conduta diária. As palavras não eram exactamente estas mas o sentido era vigiar o Rocha e informar os serviços da PIDE.

O capitão toma a seguinte resolução: chama o alferes Rocha, tem uma conversa séria de homem para homem, mostra-lhe a mensagem; o Rocha, por sua vez, conta-lhe todo o seu passado politico de oposicionista ao governo de Salazar, mas dá um voto de confiança ao capitão, o qual poderá contar com ele e, mais, que nunca seria atraiçoado.

Deste modo, o capitão conseguiu mais um amigo para levar a bom porto aquela nau durante vinte e três meses. (...) (**)

(iii)  Mensagem de email do José Augusto Rocha para o nosso editor Luís Graça, com data de 22/10/2009 :

(...) Sensibiliza-me o que diz sobre o depoimento que fiz para os Caminhos da Memória, mas permita-me que lhe diga que o seu depoimento sobre a guerra colonial é uma reflexão corajosa e muito lúcida. Se o termo não fosse controverso, acrescentaria: bela!

Bem, agora sim, estive a ler tudo o que consta do seu blogue, que se reveste de importância decisiva para a história da guerra colonial... ainda por fazer, ou não totalmente feita.

E a leitura que fiz, deu-me conhecimento de que, afinal, havia mesmo já alguém (o José Colaço) que tinha escrito sobre o Como e CCaç 557, ao invés do que digo no meu depoimento… Só me admiro que ele [não] fale do engano da avi(ação, até porque penso que foi ele que enviou o meu pedido de socorro para o Comando de Catió! ...) (***)

 (iv) Três dias antes, a 19 de outubro de 2009, o José Augusto Rocha tinha esclarecido, sem qualquer margem para dúvidas, qual era a sua posição face ao nosso blogue e à nossa Tabanca Grande,  razão por que não faria sentido eu vir agora decidir,  a título póstumo, sentá-lo à sombra do nosso poilão... Seria trair a sua confiança, desrespeitar a sua vonatde e fazer batota, violando as nossas próprias regras do jogo... O José Augusto Rocha nunca faria nem fará parte do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 

(...) Quanto ao seu blogue, tenho as maiores dificuldades em nele colaborar. Tenho alguma radicalidade quanto a estas coisas da guerra colonial e sempre entendi que os encontros e confraternizações, a propósito dela, tendem a contar só meia memória, a memória boa, vista do lado de cá… Embora não pretenda julgar quem quer que seja, penso que compreender o passado implica um juízo de valor sobre o certo e o errado e, muitas vezes, nessas manifestações de convívio não é possível esconder a nossa discordância em relação ao que se ouve e isso cria um ambiente pouco propício ao encontro. Fui duas vezes a coisas dessas e jurei não mais ir! 

(...) Por estas e por outras, quanto à guerra colonial, vou ficar-me pela “curta memória da guerra colonial das Guiné”, a publicar nos Caminhos da Memória, dando, quanto a este capítulo, por encerrado o meu dever de memória (...) (***)

(v) O último email que troquei com ele, nestes últimos 3 anos, em 8 de maio de 2015, e em que já nos tratávamos por tu, tirou-me as derradeiras ilusões sobre a possibilidade de ele vir um dia aceitar o nosso convite para se juntar ao nosso blogue, enquanto coletivo de ex-combatentes da guerra da Guiné. A sua posição sobre a guerra colonial era firme, coerente e definitiva, aos 76 anos, e só tive que respeitá-la... Tenho hoje pena de, não obstante a nossa  troca de emails, nunca termos podido, em tempo útil, ou seja, em vida, sentarmo-nos, à mesa para  uma conversa mais franca, "tête-à-tête", olhos nos olhos, sobre a nossa experiência enquanto combatentes e as nossas posições político-ideológicas face à guerra colonial:

(...) Quanto ao mais, tudo é mais difícil e diria mesmo impossível. A minha posição em relação à guerra colonial, a única que  entendo  possível, urgente e inadiável, é a sua denúncia activa, nela tendo um grau de responsabilidade incontornável, todos quantos assistiram e até participaram nos massacres( e depois até foram condecorados por esses feitos em nome da Pátria) de todo um povo cujo único crime foi existir. Ainda hoje vivo memórias horrorizadas de tudo que vi e presenciei e me foi narrado. Daí que pense que blogues como os "Camaradas da Guiné”, usando uma expressão de Roland Barthes,  “ tendem em instituir-se como exteriores à História” e “é lá onde a História é recusada que ela mais claramente age”. Daí que a minha tribuna só possa ser política e ideológica, o que, como é evidente, não cabe no âmbito neutro e apolítico do teu blogue. Mas será que, bem vistas as coisas, existem blogues apolíticos a falar de acontecimentos de uma guerra, mesmo a propósito de camaradagem entre os seus autores e actores? Conversa longa que não cabe neste escrito. Não estaremos perante uma operação mitológica?

Espero que compreendas e não leves a mal esta minha posição, mas as minhas memórias da Guiné são políticas e como tal estão a ser escritas e delas darei justo testemunho cívico e republicano. (...)

Não, não lhe levei a mal... Sei ver, ouvir, ler, parar, escutar... Ou penso que sei... Mas confesso que nunca lhe respondi, por falta de oportunidade ou talvez por laxismo, lassidão, cansaço... E hoje, que ele morreu, eu tenho pena de não ter feito um esforço adicional, não para o convencer, mas pelo menos, para clarificar  a missão (talvez impossível) do nosso blogue e sua íntrínseca ambiguidade.  É possível fazer pontes, tentando concilitar o que é inconciliável ? Às vezes também tenho dúvidas... Mas há 14 anos que o tentamos, recusando as posições radicais...

Aqui fica, entretanto, a posição, intelectualmente honesta, do nosso camarada José Augusto Rocha  (1938.2018) cuja memória eu faço questão de honrar. Porque a função do blogue não é julgar, muito menos a discriminar os camaradas que combateram na Guiné... E o José Augusto Rocha foi um combatente e um camarada...

Para a sua família e amigos mais  íntimos, incluindo os seus camaradas de companhia. e nossos grã-tabanqueiros José Colaço e Francisco Santos, endereçamos os nossos votos de pesar e de solidariedade na dor. (ªªª)
 _______________


sábado, 27 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18261: O cancioneiro da nossa guerra (4): "o tango dos periquitos" ou o hino da revolta da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) (Silvino Oliveira / José Colaço)


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > 1964 >Abrigo "Cova do Comando" da CCAÇ 557 no Cachil. Alguém chamou a esta subunidade, que também participou na Op Tridente (jan/mar 1964), "a esquálida e esgroviada Companhia de Caçadores 557". Por detrás desta foto estão cinquenta e cinco dias a ração de combate, cerca sessenta dias sem mudar de roupa nem tomar banho, e com água racionada para beber

Legenda: a começar da esquerda para a direita o 1.º Cabo Enfermeiro Leiria; 1.º Cabo Radiotelegrafista Joaquim Robalo Dias; Dr. Rogério Leitão, que já partiu; atrás o 1.º Cabo Enfermeiro António Salvador, e por último, de quico, a sair do buraco, eu, Soldado de Transmissões José Colaço. mAs barbas com cerca de 90 dias. Os cabelos já tinham levado um corte para melhor se aguentar o calor. Aquela "divisória" entre o 1.º Cabo Dias e dr. Rogério, é uma cobra que durante a noite se lembrou de nos assaltar o abrigo e que só de manhã com a luz do dia foi detectada a um canto da cova. Foi condenada à morte pela catana de um milícia.

Foto (e legenda): © José Colaço (2015). Todos os direitos reservados. [Edição elegendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do  José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), fidelíssimo membro da nossa Tabanca Grande desde junho de 2008:


Data: 30 de dezembro de 2017 às 00:19
Assunto: Contribuição da CCaç 557 para o cancioneiro da Guiné

Caro Luís,  com ou sem razão todos nós sentimos por vezes discriminados e, no que toca às companhias ditas independentes [, caso da CCAÇ 557], eram um pouco os filhos do "vento".

E foi nesta base que o ex-1º cabo condutor rádio telegrafista Silvino Oliveira fez estes versos que eram cantados com adaptação da música "O amor do estudante".Para  mostrar a nossa insatisfação como eramos tratados a nível de comando das Companhias. a que estivemos adidos.

Para demonstrar a nossa  "revolta",  foi-se solidificando a ideia que no dia da despedida organizássemos uma marcha pelas ruas de Bafatá a cantar a nossa canção de despedida.

Mas com tudo isto quando se deu conhecimento ao capitão ele disse por outras palavras mais ou menos isto: "Não façam isso,  uma coisa é o que vocês cantam e dizem entre muros,  outra é a praça pública"... E  ficou sem efeito o acto de "provocação".

Mas mesmo que o nosso programa se mantivesse, ele ficaria sempre sem efeito porque a nossa saída de Bafatá foi bastante  atribulada: quando faltavam três dias para sairmos, o que nós considerávamos a peluda, já depois de termos entregue todo o material de guerra inclusive o fato camuflado, recebemos ordem  para levantar todo o material de guerra para ir para a última operação de dois dias... 

O regresso foi tudo à pressa, entregar novamente o material de guerra e tomar as camionetes Mercedes para Bambadinca e o barco, a Bor, estava já ancorado no cais para nos transportar até Bissau onde o paquete Niassa nos esperava, ancorado ao largo do cais de Pidjiguiti. por este motivo as despedidas pessoais de Bafatá e Bissau ficaram adiadas "sine dia".

Ao nosso administrador e editores se este hino de "revolta" em alguma parte fere os princípios do blogue estão à vontade para não publicar.

Um abraço, José Colaço.
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O Tango dos periquitos

[Com música de "Amores de estudante"]

I

Oficiais e soldados
Estão a ser embarcados
Por motivos esquisitos,
Não respeitam a velhice,
Estes montes de imundice
Que se chamam periquitos.
De avião fazem a guerra,
Mas quem anda por terra
No perigo se meterá,
Mais um louvor que surge
Para quem anda na 'babuge'
Dos velhinhos de Bafatá.

Coro

Queremos que chegue a bola,
Para corrermos Bafatá de cartola,
Para mostrar aos amigos periquitos
Que vamos embora
E ficam os periquitos.



II

Nas bolanhas traiçoeiras,
No capim e nas palmeiras,
O perigo nos espreita,
Com o tempo terminado
É triste ser mandado
Por semelhante seita,
Periquitos manhosos.
Como são vaidosos,
Quando abrem os bicos,
Necessito desabafar,
Por isso vou cantar
O tango dos periquitos.

III

Já estamos habituados
A ser enganados
Na nossa comissão,
Mas nunca previa
Que ainda surgia
Mais outro aldrabão,
Mas que grande periquito
Que em tudo se mete
Mas podes correr e saltar
Que nunca chegas aos calcanhares da 557.

Hino de "revolta",
 autor Silvino Oliveira,
ex-1º cabo condutor rádio telegrafista CCaç 557


Texto: © Silvino Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [ Edição / revisão / fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Último poste da série >  27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18259: O cancioneiro da nossa guerra (3): mais quatro letras, ao gosto popular alentejano, do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18257: Memória dos lugares (372): Cachil, na altura da extinção do aquartelamento, em 1 de julho de 1968 (Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, CCAÇ 1620, Bissau, Cameconde, Cacine, Sangonhá, Cacoca, Cachil e Bolama, 1966/68)


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 1: posto de vigia


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 1A: posto de vigia


 Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 1B: posto de vigia


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 2:  instalações


 Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 2A:  instalações


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 2B:  instalações... "grafitadas"...


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 3:  1 de julho, retração do aquartelamento


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 3A:  1 de julho, retração do aquartelamento. O fur mil Manuel Cibrão Guimarães à direita


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 3B:  1 de julho, retração do aquartelamento. O fur mil Manuel Cibrão Guimarães à direita


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 4:  1 de julho,  partida


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 4A:  1 de julho,  partida


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 4B:  1 de julho,  partida.


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 5:  1 de julho,  partida


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 5A:  1 de julho,  partida


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Foto nº 5B:  1 de julho,  partida


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1620 >  1968 > Em 20 de março de 1968, por troca com a CCAÇ 1621, assumiu a responsabilidade do subsector de Cachil, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BART 1913, tendo entretanto, cedido um Grupo de Combate para reforço de forças daquele batalhão em operações, de 22 de março a 27 de abril de 1968.  

Em 1 de julho de 1968, por retirada das forças aquarteladas em Cachil e consequente extinção do subsector, a CCAÇ 1620 recolheu a Bolama, onde permaneceu até ao embarque de regresso, no T/T Uíge. A ordem de retirada (e consequente destruição) do aquartelamento foi dada por Spínola, que esteve no local quinze dias antes. De há muito que o Cachil não oferecia condições para a permanências das NT: por exemplo, não havia água potável; o abastecimento era feito a partir de Catió, através de uma lancha, que vinha num dia, na maré-cheia, e só podia regressar no dia seguinte...

Fotos (e legendas): © Manuel Cibrão Guimarães (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, de 22 do corrente, do novo membro da
Manuel Cibrão Guimarães:
 vive em Rio Tinto, Gondomar
Tabanca Grande, nº 766, Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, da CCAÇ 1620 (Bissau, Cameconde, Cacine, Sangonhá, Cacoca, Cachil e Bolama, 1966/68):

Caros colegas,
Espero que esteja tudo bem convosco.

Conforme vosso pedido, envio em anexo fotos com identificação dos locais [Sangonhá, Cacine e  Cachil] em que foram tiradas.

As fotos no Cachil são do momento da extinção do aquartelamento [, em 1 de julho de 1968, já no tempo de Spínola] (*).

Grato pela postagem de fotos no blog!

Um abraço,

Manuel Cibrão Guimarães

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Notas do editor:

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18238: Tabanca Grande (457): Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, CCAÇ 1620 (Cameconde, Sangonhá, Cachil, Cacine, Cacoca, Gadamael, 1966/68)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 766.


Manuel Cibrão Guimarães, foto atual (Tabanca da Linha, Oeiras, Algés, 18 de janeiro de 2018). Foto de Manuel Resende (2018)


Foto nº 1 A > Cachil (?) > Progressão na picada..


Foto nº 1 > Cachil (?) > Progressão na picada..


Foto 2 >  Cachil: capelinha


Foto nº 3 >  Cachil:  aquartelamento e palmeiras desoladoras


Foto nº 4 >  Grupo de furriéis e sargentos no T/T Niassa


Foto nº 5 > Gupo de furriéis e sargentos no T/T  Niassa




Foto nº 6 > Desfile de tropas em parada, à chegada ao CTIG


Fotos (e legendas): © Manuel Cibrão Guimarães (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Apresenta-se, à Tabanca Grande, o nosso camarada Manuel Cibrão Guimarães. Era fur mil, da CCAÇ 1620. Vive em Rio Tinto, Gondomar. Faz anos a 16 de novembro. Tem página no Facebook

Dos cinco "bandalhos" (leia-se: "autodesignados membros do Bando do Café Progresso, Porto), que vieram ao 35º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha (Oeiras, Algés, Restaurante "Caravela d Ouro", 17/1/2018), era o único que ainda não era grã-tabanqueiro (leia-se: membro da Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas...). (*)

Manifestou o seu acordo ao meu convite "instantâneo" e logo ali, no "Caravela de Ouro", me mostrou um molhe de fotos do seu tempo do Cachil,  Cameconde, Cacine e Gadamael... Fotografei umas tantas, vamos lá ver se não baralhei os lugares: as primeiras do Cachil, as duas ou três últimas serão de Gadamael.

Não tínhamos, até agora, ninguém da CCAÇ 1620, mobilizada pelo RI 1. Partiu para o CTIG em 12/11/1966 (, ao que parece, no T/T Niassa) e regressou a 16/8/1968. Esteve em Bissau, Cameconde, Sangonhá, Cachil e Bolama. Comandante: cap mil Fernando António de Magalhães Oliveira.

O Manuel Cibrão Guimarães passa a honrar-nos com a sua presença, sentando-se à sombra do nosso poilão, mágico, fraterno e protetor, no lugar nº 766 (**). As nossas regras de convívio estão aqui descritas. ele de resto conhece-as bem, sendo membro do Bando do Café Progresso (Porto) e da Tabanca dos Melros (Gondomar).


2. Ficha de unidade: CCAÇ 1620:

A páginas 360 e 361 da Resenha Histórico Militar da Guiné das Companhias:

Companhia de Caçadores N.º 1620

Identificação CCAÇ 1620

Unidade Mobilizadora: RI 1 – Amadora

Comandante: Capitão Miliciano de Infantaria Fernando António de Magalhães Oliveira

Partida: Embarque em l2NOV66; desembarque em 18NOV66

Regresso: Embarque em 16AGO68

Síntese da Actividade Operacional:

Em 18NOV66, substituiu a CCAÇ 762 nas suas funções de segurança e protecção das instalações e das populações da área de Bissau, na dependência do BCAÇ 1876, efectuando, simultaneamente, uma instrução de adaptação operacional na região de Nhacra, de 25NOV66 a Dez66.

Em 05JAN67, rendendo, por troca, a CCAÇ 799, assumiu a responsabilidade do subsector de Cameconde, com um pelotão destacado em Cacine, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 e depois do BART 1896.

Em 01AGO67, por rotação com a CART 1692, assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá, com um pelotão destacado em Cacoca, mantendo-se no mesmo sector do BART 1896.

Em 20MAR68, por troca com a CCAÇ 1621, assumiu a responsabilidade do subsector de Cachil, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BART 1913, tendo entretanto, cedido um Grupo de Combate para reforço de forças daquele batalhão em operações, de 22MAR68 a 27ABR68.

Em 1JUL68, por retirada das forças aquarteladas em Cachil e consequente extinção do subsector, recolheu a Bolama, onde permaneceu até ao embarque de regresso.

Observações: Tem História da Unidade (Caixa n.º70 2.ª Div./4.ª Sec. Do AHM).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18229: Convívios (839): 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, Algés, 18/1/2018 - As fotos do Manuel Resende - Parte I

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18119: Blogues da nossa blogosfera (86): Do Blogue "reservanaval", do nosso camarada Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, 1966/68, o artigo de sua autoria "Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte II"


Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte II
 
Afundamento do batelão “Guadiana” por EEA–Engenho Explosivo Aquático 

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 15 de Julho de 2010)

(Final)

Resumo do acidente

Pelas 13:30 do dia 27 de Maio de 1969 na posição de latitude 11º 14’.3 N e longitude 15º 18.1’ W, quando o comboio naval RCU 09/69 navegava no rio Cobade estreito, no percurso rio Cumbijã – foz do rio Tombali com o apoio aéreo de dois aviões T6, o batelão «Guadiana» nele integrado foi atingido pela explosão de uma mina flutuante fundeada, a meio de uma passagem do rio que não teria mais de 20 metros de largura.

Muito provavelmente, a detonação terá sido accionada electricamente de terra, com resultado agravado pelo transporte de bidons de gasolina e detonadores que seguiam como carga. Houve a lamentar 5 mortos e 8 feridos com diversos graus de gravidade, todos autóctones, sendo 2 tripulantes e 11 passageiros.

 
O batelão «Guadiana» afundado pelo rebentamento de um EEA - Engenho Explosivo Aquático


A posição relativa das LDM e dos batelões no comboio, na altura em que ocorreu o avistamento do EEA

O batelão começou a alagar rapidamente e, em face desta situação, o oficial que comandava operacionalmente o comboio, 2TEN FZE RN José António Lopes da Silva Leite ordenou o imediato reboque, por uma das LDM, para um local mais afastado da área forte do inimigo – a ilha de Como – onde a embarcação pudesse ser encalhada numa das margens.

Efectivamente o batelão «Guadiana» ainda percorreu rebocado cerca de uma milha, ficando imobilizado de proa na margem esquerda do rio Ganjola, de popa para montante e a cerca de 300 metros da confluência com o rio Como.


Análise da situação e reconhecimento local

No dia seguinte foi efectuado um heli-reconhecimento pelo Chefe do Estado-Maior do CDMG, acompanhado pelo responsável do Serviço de Assistência Oficinal (SAO), Comandante do DFE 12 e Chefe da Secção de Mergulhadores para, com base nos elementos recolhidos, se proceder a uma análise prévia da possibilidade de recuperação do batelão.

Entretanto, o Comandante-Chefe alertou as FT sediadas na margem norte do rio Cobade, para a possível utilização daqueles meios, antecipando uma tentativa de recuperação a efectuar no dia 29 de Maio. Deveriam aguardar o contacto directo do CDMG.

Era responsável por aquele sector o BArt 2865, com sede em Catió, englobando Catió, Cufar e Bedanda, tendo sido determinado à CArt 2476 (Catió) para efectuar fogo de artilharia de interdição, durante duas noites, para a área de Cachil. Simultaneamente, sobre a Ilha de Como, foram ordenados ataques com heli-canhão e bombardeamentos utilizando aviões Fiat G91, quer por haver conhecimento de numerosos alvos de interesse a atingir quer por represália.

Neste reconhecimento local, para ser apreciada a estrutura, resistência e forma de recuperação possível do batelão, deslocaram-se técnicos do SAO-Serviço de Assistência Oficinal e mergulhadores, além de outro pessoal e equipamento diverso. Participaram ainda a LFG «Cassiopeia», 2 LDM - Lanchas de Desembarque Médias e ainda um grupo de assalto do DFE 7 com 6 botes de borracha. Os trabalhos foram acompanhados de helicóptero pelo próprio Comandante do CDMG acompanhado do Sub-Chefe do Estado-Maior.


Mapa da zona do rio Cobade entre os rios Tombali (ponto TT) e proximidade do rio Cumbijã (ponto CC); assinalada a parte do Cobade estreito, próximo de Catió

O «Guadiana» tinha como principais características 17 metros de comprimento, 5.5 metros de boca e 2.2 metros de pontal. Possuía duas anteparas, a de ré que limitava os alojamentos da tripulação e a de vante que limitava o porão da amarra. Tinha duas bocas de porão, a de ré com 7.3 x 3.0 metros e a de vante com 3.2 x 2.0 metros. As balizas e a sobrequilha, em ferro, eram rebitadas ao costado.

Na continuação da vistoria efectuada pela Secção de Mergulhadores e outro pessoal técnico embarcados na LDM 105, constatou-se que o batelão estava enterrado cerca de um metro no lodo fino da margem com caimento a ré e adornado a estibordo, com balizas bastante danificadas, rebitagem desfeita e a própria sobrequilha retorcida, tudo numa extensão apreciável (cerca de 10 m). O lodo tinha invadido o fundo numa altura próxima dos 50 cm.

A impossibilidade de tornar a embarcação estanque, a estrutura fragilizada, a dificuldade na utilização de bidons que aumentassem a flutuabilidade e o intervalo de tempo entre marés disponível, deixava colocar sérias dúvidas quanto a uma tentativa de recuperação com resultados positivos.

A impossibilidade de concretizar, com os meios disponíveis, qualquer salvamento levou a que todo o pessoal e meios presentes regressassem às suas unidades de origem.


A LFG «Cassiopeia» que participou nas operações de apoio


Conclusões

No final do reconhecimento, vistoria, estudos efectuados e relatórios técnicos de todos os intervenientes concluiu o Estado-Maior haver remotas possibilidades de recuperação, questionando simultaneamente a razoabilidade de tal decisão. Assim:

– Militarmente, seria importante transformar um navio afundado numa unidade temporariamente avariada, evitando uma moralização do inimigo que incentivasse prosseguir com a utilização de minas flutuantes nos rios da Guiné, podendo vir a tornar insegura a navegação.

– Do ponto de vista de princípio, o salvamento de um navio afundado ou encalhado, deveria ser sempre encarado como meta a atingir desde que existissem consideráveis probabilidades de êxito, em função dos riscos e encargos que daí adviessem.

– Em face de informações e relatórios técnicos disponíveis, o batelão teria necessariamente reduzido valor residual e os elevados custos de reparação previstos desaconselhavam a prossecução desse objectivo.

Assim veio a suceder por determinação do Comandante-Chefe e, mais tarde, o que restava do «Guadiana» veio a ser destruído por uma equipa de mergulhadores sapadores utilizando cargas explosivas

(final)

Fontes:
Pesquisa e compilação de texto a partir do relatório do 2TEN FZE RN José António Lopes da Silva Leite, núcleo 236-A do Arquivo de Marinha; fotos do Arquivo de Marinha; imagens do autor do blogue efectuadas a partir de extractos da carta da Guiné (cortesia IICT);

mls
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Nota do editor

Vd. poste anterior de 19 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18106: Blogues da nossa blogosfera (85): Do Blogue "reservanaval", do nosso camarada Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, 1966/68, o artigo de sua autoria "Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte I"

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17799: Fotos à procura de... uma legenda (91): Equilibristas ou artistas de circo na cambança dos cursos de água, esquálidos e esgrouviados...Os bravos do Cachil, entre eles o ten mil médico Rogério Leitão (1935-2010) (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)


Foto nº 1 A


Foto nº 1 > 

Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 > 23 de janeiro de 1964 > Op Tridente > Travessia de uma ponte improvisada, no seguinte do desembarque numa zona próxima de Cachil... Na foto o ten mil médico, Rogério Leitão (1935-2010), natural de Aveiro
Foto (e legenda): © Victor Neto / José Colaço  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > 1964 >

Abrigo "Cova do Comando" da CCAÇ 557 no Cachil. Alguém chamou a esta subunidade, que também participou na Op Tridente (jan/mar 1964) "a esquálida e esgroviada Companhia de Caçadores 557".  Por detrás desta foto estão cinquenta e cinco dias a ração de combate, cerca sessenta dias sem mudar de roupa nem tomar banho. Se a água era racionada para beber pensem bem no que seria em termos de higiene, excepção à secção que fazia escolta à lancha de reabastecimento de água e géneros, que aproveitava a ida a Catió para fazerem um pouco de higiene pessoal "e outras necessidades fisiológicas".

Legenda: a começar da esquerda para a direita o 1.º Cabo Enfermeiro Leiria; 1.º Cabo Radiotelegrafista Joaquim Robalo Dias; Dr. Rogério Leitão, que já partiu; atrás o 1.º Cabo Enfermeiro António Salvador, e por último, de quico, a sair do buraco, eu, Soldado de Transmissões José Colaço.

As barbas com cerca de 90 dias. Os cabelos já tinham levado um corte para melhor se aguentar o calor. Aquela "divisória" entre o 1.º Cabo Dias e Dr. Rogério, é uma cobra que durante a noite se lembrou de nos assaltar o abrigo e que só de manhã com a luz do dia foi detectada a um canto da cova. Foi condenada à morte pela catana de um milícia.

Foto (e legenda): © José Colaço (2015). Todos os direitos reservados. [Edição elegendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde Junho de 2008:.

Data: 26 de setembro de 2017 às 00:51

Assunto: Equilibristas ou artista de circo

Equilibristas ou artistas de circo

Caríssimo amigo Luís Graça,  ao consultar o poste P17792, dei com a foto do Luís Mourato de uma vida de equilibrista na cambança de pequenos cursos de água. (*)

A fotografia fez-me um clique!  Eu tenho nos meus arquivos de fotos da Guiné uma foto com estas características mas a minha foto tem direito a recordar o equilibrista.
Estávamos no dia 23 de Janeiro de 1964 em Catió e a ordem de serviço foi a CCAÇ  557 embarcar nas lanchas LDP e LDM da marinha onde se iria juntar ao 7.º destacamento de fuzileiros do 1.º tenente Ribeiro Pacheco para ocuparem a zona do Cachil (Operação Tridente).

Tudo ok até ao desembarque na zona próximo do Cachil onde aconteceu o tal atribulado desembarque em que alguns fuzileiros tiveram que ser puxados por uma corda já que,  devido ao lodo movediço, estavam quase a submergir. Mas,  com alguns fuzileiros em terra, com a ajuda de uma catana e as facas de mato,  cortou-se tarrafo,  partiu-se ramos de árvores e fez-se uma passadeira por cima do lodo para o pessoal passar.

Desembarque resolvido, e logo a ordem vinda de um navio patrulha através de um megafone foi: para a frente é que é o caminho, não perdoar!.

Marchamos aí cerca de 500 metros a 1 km, mais ou menos,  encontrarmos a tal ponte de que envio foto em anexo:  o artista ou equilibrista que está na imagem a atravessar a geringonça ou baloiço já não se encontra entre nós,  é o nosso saudoso e amigo Dr. Rogério Leitão [1935-2010], tenente médico miliciano [ foto à direita] (**), mas de um em um todos ficaram bem na primeira prova,  muito ajudou a juventude dos vinte anos.

Foto,  com a devida vénia, do álbum  do ex-furriel Victor Neto, CCAÇ  557

Abraço,
José Botelho Colaço,
soldado de transmissões
CCAÇ 557
(1963/65)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de setembro de  2017 > Guiné 61/74 - P17792: Fotos à procura de... uma legenda (90): uma vida precária de equilibrista na cambança de pequenos cursos de água ... (Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf, CCAÇ 4740, Cufar, 1.º semestre de 1973)

(**) 13 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5264: Os nossos médicos (8): O Dr. Rogério da Silva Leitão, aveirense, cardiologista, CÇAÇ 557, Cachil, Como, 1963/65 (José Colaço)