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terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19471: (D)o outro lado do combate (43): 'Puxão de orelhas' de Amílcar Cabral a Rui Djassi (Faincam) (1937-1964), em carta enviada em janeiro de 1964, sinal precursor da sua substituição na Zona 8, região de Quínara (Jorge Araújo)


Citação: (1964), "I Congresso do PAIGC em Cassacá", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_85097 (2019-1-25) - Grupo de dirigentes por ocasião do I Congresso: Lay Sek, Constantino Teixeira, Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Amílcar Cabral e 'Nino' Vieira (com a devida vénia).




Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue



GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > 
"PUXÃO DE ORELHAS" DE AMÍLCAR CABRAL A RUI DJASSI (FAINCAM), EM CARTA ENVIADA EM JANEIRO'1964, ERA O SINAL PRECURSOR DA SUA SUBSTITUIÇÃO NA "ZONA 8": ENTRE A DESPROMOÇÃO E A MORTE -


1. INTRODUÇÃO

Na sequência das narrativas apresentadas no fórum nos P19433 e P19437 (*), onde se colocava a questão «o que terá acontecido ao Rui Djassi (Faincam)?» entre finais de 1963 e início de 1964, algumas hipóteses foram avançadas tendo por base a literatura consultada, mas nenhuma delas, digo eu, dando respostas fidedignas e esclarecedoras. (**)

Com efeito, na busca de outros pressupostos ou cenários complementares, seguimos em frente no sentido de encontrar novos elementos que nos ajudem a compreender melhor esta problemática, considerada ainda como incógnita.

Eis os elementos que podem contribuir para uma nova leitura sobre a questão de partida.


2.  CARTA DE AMÍLCAR CABRAL ENVIADA A RUI DJASSI (FAINCAM) NO INÍCIO DE JANEIRO'1964


Tendo por base uma leitura hermenêutica, consideramos o conteúdo da carta acima referida como um valente "puxão de orelhas" a Rui Djassi, expresso num duplo desagrado: o primeiro por insuficiente comunicação, o segundo por um comportamento pouco cuidado, rigoroso e muito permissivo na "zona 8", como principal responsável operacional na região, do qual originou um bloqueio da fronteira Sul por parte das NT, inviabilizando o cumprimento da estratégia logística no «Corredor de Guileje».

Da importância deste contexto nos dá conta Leopoldo Amado, no seu livro "Guineidade & Africanidade" (2013), p. 263, onde se refere a gigantesca e complexa rede logística (sem dúvida, a maior do PAIGC) que "estendendo-se desde Conacri e perpassando por outras cidades da República da Guiné como Boké, Kandiafara, Simbeli e Tarsaia, prolongava-se depois pela então Guiné Portuguesa adentro pelo Corredor de Guileje, a partir do qual, sintomaticamente, se despachavam o maior volume (dir-se-ia mesmo a esmagadora maioria) do armamento e munições e ainda os víveres imprescindíveis ao esforço de guerra". [Vidé, também, P2499: Guileje - Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008).(***)

Dito isto, o conteúdo da carta de Amílcar Cabral, que seguidamente se partilha no fórum, era já um sinal precursor do que estava para acontecer ao Rui Djassi, ou seja, o seu afastamento da liderança da "zona 8" e a sua substituição por outro quadro do PAIGC, no caso Guerra Mendes.

Rui Djassi já não marcaria a sua presença em Cassacá, no I Congresso [Fev' 1964], justificando Amílcar Cabral a sua ausência "pelo seu desaparecimento, cujo paradeiro ninguém conhece, embora seja certo que está vivo".



PAIGC (Nov 1970) - Duas imagem obtidas, algures no Sul, pelo fotógrafo norueguês Knut Andreasson.  

 Recorde-se que este fotógrafo norueguês acompanhou uma delegação sueca (tendo à frente a antiga líder do parlamento sueco, Birgitta Dahl) na visita às regiões libertadas da Guiné-Bissau, em Novembro de 1970.

Segundo o sítio da Nordic Africa Institute (uma agência dos países nórdicos, com sede na Suécia, em Upsala ), esta visita deu-lhe oportunidade de falar com Amílcar Cabral, em pleno palco da luta pela independência, e ficar a conhecer melhor o PAIGC, a guerrilha e a sua implantação no terreno.

Andreasson e Dahl publicaram mais tarde um livro em sueco sobre essa viagem. Andreasson, por sua vez, realizou uma exposição fotográfica e publicou um álbum fotográfica sobre esta visita.

A maior parte das fotos deste período foram doadas ao Nordic Africa Institute pela viúva de Andreasson. A exposição foi , por sua vez, doada à Fundação Amílcar Cabral, com sede na Praia, Cabo Verde, pelo Nordic Africa Institute, sendo apresentada por Birgitta Dahl, a antiga líder do Parlamento Sueco, por ocasião das celebrações do 80º aniversário de Amílcar Cabral, em Setembro de 2004.

Fonte: Nordic Africa Institute (NAI) / Fotos: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a autorização do NAI) (As fotografias tem numeração, mas não trazem legenda) (***)


2.1 - Transcrição da carta de Amílcar Cabral:


Recebi as tuas cartas, datadas de 26 e de 30 de Dezembro [1963].

No começo de um novo ano, aproveito para te dirigir saudações fraternais em nome de todos os camaradas do Secretariado e em meu nome pessoal. Que 1964 seja o ano da libertação total do nosso povo e que tu avances sempre no caminho do serviço do nosso grande Partido pela liberdade e pelo progresso real do nosso povo. Saudações para a tua família e para todos os camaradas.

Acho que o que aconteceu na fronteira (emboscada do inimigo e fecho da passagem por Simbeli) não foi causada pela estadia dos camaradas na fronteira. A razão principal é a falta de controlo real da zona de fronteira [Sul] pelos nossos combatentes, assim como a presença sempre para fora do inimigo em Quebo. Se o inimigo não pudesse sair de Quebo sem correr grandes riscos, se nós estivéssemos sempre a chateá-los em Quebo, não teria coragem de vir pregar-nos uma grande partida. Não achas?

Espero no entanto que estás a fazer tudo para acabar com essa situação. Não há outro caminho perto, conduzindo à base?

Como compreendes, não é possível indicar com antecedência dias fixos para transporte de material, porque isso não depende só de nós. Temos de estar dependentes das autoridades, do seu tempo disponível, da sua boa vontade, etc.. O que é indispensável é controlares sempre os caminhos para não deixar o inimigo a possibilidade de nos pregar partidas. Para evitar que o inimigo reforce as suas posições tens de chateá-los por todos os lados, não o deixar em paz, como estar a fazer. Tens de fazer do tempo seco o período da intensificação das nossas acções.

Foi com prazer que recebi as notícias da luta. Quero felicitar todos os camaradas responsáveis e combatentes de fora pela actividade que estão a fazer. Espero que vamos intensificar cada vez mais a nossa acção, mas sem nos deixarmos levar pelo inimigo, quer dizer, só vamos batermo-nos com ele quando tens a certeza de o vencer, de o destruir.

Espero também que dês notícias mais detalhadas, porque senão é difícil aproveitá-las para comunicados. Dizes por exemplo: "no mesmo dia os camaradas atacaram Fulacunda no momento de içar a bandeira". Boa notícia, mas abateram o quê exactamente, de que maneira, com que resultados? Qual era o objectivo do ataque? Conseguiu-se esse objectivo? Etc. Tu sabes bem que deves dar assim as informações, para eu poder avaliar e poder servir-me delas.

Lamento muito a morte do nosso camarada Malan N'djai. Peço que apresentes sentimentos à família dele. Não deixes de mandar a ficha correspondente, com todos os dados.

No que respeita ao material destinado à tua zona, ele tem seguido e já não há nenhum neste momento. Estamos a fazer esforços para pôr no país todo o material previsto no plano que foi há tempos. Claro que isso não é indispensável para a marcha da nossa luta, mas é conveniente para a nova fase que estabelecemos.

Penso no entanto que muito podem fazer – e estamos a fazer – com o material de que dispõe hoje os nossos combatentes nas zonas de luta. Temos agora de pensar em desenvolver a nossa acção, sem esperar por mais material.

Ficamos todos muito contentes com a missão que vocês fazem. Foi uma grande vitória, camarada. Vamos continuar nesse caminho, como já deves saber.

Acho que o caso entre o José Sanha e o Caetano, que não percebi bem, será brevemente resolvido pela Direcção do Partido, a bem do progresso da nossa luta. Espero que tenhas a paciência de esperar um pouco, sem criar problemas graves e que ninguém poderá aceitar nem compreender, no momento em que tens grandes responsabilidades.

Dá saudações ao povo da zona, a todos os responsáveis e a todos os militantes. Tenho grande saudade de todos. Para ti, o melhor abraço do camarada Amílcar Cabral.

Seguem medicamentos pelo Dino, que esteve doente.

 .
2.2 - Segue-se a reprodução da carta manuscrita por Amílcar Cabral.






Citação: (1964), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35428 (2019-1-25)

Fonte: Casa Comum, Fundação Mário Soares.
Pasta: 07056.008.007.
Assunto: Emboscada do inimigo que teve como consequência o fecho da passagem por Simbeli. Falta de controlo real na zona de fronteira, presença do inimigo no Quebo. Instruções para enfraquecer o inimigo. Material militar e medicamentos para a zona.
Remetente: Amílcar Cabral.
Destinatário Djassi (Faincam) [Rui Djassi].
Data: 1964 [Jan].
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral. Início de 1964. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.



2.3 – Em 30 de Maio de 1964 [três meses e meio após o I Congresso] nova referência a Rui Djassi em carta remetida por Amílcar Cabral a Osvaldo Vieira



Citação: (1964), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35499 (2019-1-25)

Fonte: Casa Comum, Fundação Mário Soares.
Pasta: 04606.045.073.
Assunto: Acusa recepção do relatório sobre as missões em andamento, notícias do Rui Djassi, aumento de base de guerrilhas, pede pormenores sobre a tentativa de complot feito por alguns camaradas.
Remetente: Amílcar Cabral.
Destinatário: Osvaldo [Vieira],
Data: Sábado, 30 de Maio de 1964.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Cartas e textos dactilografados enviados por Amílcar Cabral 1960-1967.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: Correspondência.

Transcrição:

Conacri, 30 de Maio de 1964

Meu caro Osvaldo,

Não te escrevi há dias pelo Yaye, porque estava ocupadíssimo, mas espero que esta carta te chegue às mãos por ela e antes dele. O Yaye te contará a história dos estudantes que fizemos voltar para traz.

Vi com atenção o vosso relatório sobre as missões em andamento, e não deixo de lamentar o que tem acontecido com o Rui Djassi. Aliás até hoje ninguém parece saber onde pára o Rui, e tudo está a atrasar-se, a prejudicar-se por causa disso. […]


Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

25JAN2019.
_____________

(***) Vd. poste de  2 de Fevereiro de 2008 Guiné 63/74 - P2499: Guiledje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (13): Enquadramento histórico (I): a importância estratégica de Guileje

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19433 (D)outro lado do combate (42): A nova estrutura político-militar do PAIGC decidida no I Congresso, de Cassacá, em 17/2/1964: os líderes do 1º Corpo de Exército Popular (Jorge Araújo)


Fig 4

Citação: (s.d.), "O Secretário-Geral do PAIGC e Presidente da Assembleia Nacional Popular, Aristides Pereira, e o Ministro das Forças Armadas, Nino Vieira, passando em revista uma base da Frente. A fotógrafa Bruna Amico, de costas.", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_11290 (2019-1-18)



Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil Op Esp. / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974): coeditor do nosso blogue






GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

A NOVA ESTRUTURA POLÍTICO-MILITAR DO PAIGC DECIDIDA NO I CONGRESSO DE CASSACÁ EM 17FEV'1964

- OS LIDERES DO 1.º CORPO DE EXÉRCITO POPULAR 





1.INTRODUÇÃO


Ainda que o conteúdo inicial da presente introdução nada tenha a ver com o título deste trabalho, ele servirá apenas para conceptualizar o quadro narrativo, e factual, que o precedeu.

Pretendo, deste modo, partilhar no fórum, uma vez mais, o que foi possível apurar no âmbito desta pequena investigação cruzada, onde foram seleccionados e utilizados alguns dos depoimentos julgados pertinentes existentes em cada um dos lados do conflito, e que dão corpo a esta minha primeira narrativa de 2019, abrindo-a a outros (novos) horizontes de análise.




Fig. 1

Por outro lado, é de relevar o património documental existente no Arquivo Histórico do ex-Banco Nacional Ultramarino, produzido pela Administração da Delegação da Guiné [Vd. Fig 1] e remetido para a sua Sede em Lisboa, sobre o qual o nosso camarada, incansável, Mário Beja Santos, nos tem presenteado com as suas «Notas de Leitura», tituladas «Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné», a quem agradecemos.


Como consequência desse seu trabalho de inegável mérito, o seu conteúdo tem captado a minha superior atenção, aproveitando esta oportunidade para o citar.


Estamos, então, perante informações que consideramos de elevado valor historiográfico para a compreensão do processo iniciado em 1961 a nível interno, com diversas acções subversivas, e que evoluíram para a confrontação bélica, preparada e estruturada além-fronteiras.





Figura 2 – Mapa da Guiné com as principais linhas de infiltração da guerrilha, em 1961/63 – infogravura publicada no P15795: «O início da guerra da Guiné (1961-1964)», de José Matos, historiador – Parte I (com a devida vénia).

O primeiro acto, a Norte, ocorreu em 20 de Julho de 1961, 5.ª feira, com um assalto à povoação de S. Domingos, em particular ao edifício onde estava instalado um pelotão da 1.ª CCAÇ (CCAÇ 3), "fazendo uso de terçados [espadas curtas e largas], armas de caça, espingardas e garrafas de gasolina. Cinco dias depois, outro grupo armado provoca danos materiais na estância turística da praia de Varela e ainda em Susana" - (P15795).

Seguiram-se, depois, novas acções subversivas, desta vez a Sul, com incursões armadas vindas da fronteira com a Guiné [-Conacri], actos registados durante o segundo semestre de 1962.

Como exemplo dessa subversão, refere-se o caso narrado pelo gerente do BNU onde escreve: "é nosso dever levar ao conhecimento da V. Exa que por volta das três da madrugada de ontem [25Jun'1962; 2.ª feira], pequenos grupos de indivíduos, que se supõe pertencerem ao PAIGC, atacaram a tiros de pistola em Catió a Administração do Concelho, a Central Eléctrica, o posto da PIDE e os CTT, cortando os fios telefónicos e atravessando árvores na estrada. Incendiaram também a jangada e três pequenos barcos que fazem a ligação de Bedanda para Catió. Entre Buba, Empada e Fulacunda, foram cortadas as comunicações telefónicas e destruídos alguns pontões feitos de paus de cibe" (P19291).
Como elemento de comparação, dá-se conta da versão escrita e assinada pelo Rui Djassi (Faincam, nome de guerra) [1938-1964], responsável do PAIGC [Zona 8] pelas acções supras, cujo conteúdo se transcreve:

"30.06.1962 [sábado] > Da última hora – EMPADA

Destruíram pontes no dia 27-28 [Junho'62], cortaram fios em grande quantidade. Há dificuldade [de] comunicação para vários pontos, entre os quais Bissira-Empada, Empada-Pam-Tchuma, Sacunda-Aidara.

No dia 28 [Junho] foi morto um comerciante europeu [Januário Simões, irmão de Manuel Simões, 1941-2014] que está [estava] ao serviço da PIDE.


Na mesma noite meteram fogo na casa do Anso Mara, também agente da PIDE.
Todos os professores catequistas daquela área foram presos sem motivo de justificação. Eis os nomes: Domingos Lopes; Mário Soares; Avelino Mendes Lopes; Bernardo Mango. E mais alguns camaradas. Agradecia mandar-me relógio para José Sanha.

ass: [Rui] Djassi (Faincam)"
Eis a reprodução do original [Fig 3]



Fig 3

Citação: (1962-1962), "Comunicados [Zona 8]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40585 (2019-1-18), com a devida vénia.

Fonte: CasaComum; Fundação Mário Siares. Pasta: 04620.104.055. 
Título: Comunicados [Zona 8].
Assunto: Comunicados assinados por Rui Djassi (Faincam): destruição de pontes e comunicações na região de Empada; ataque a agentes da PIDE; prisão de professores catequistas (entre os quais Bernardo Mango); ataque das tropas portuguesas à tabanca de Caur e à população.
Data: Quarta, 27 de Junho de 1962 - Quarta, 4 de Julho de 1962.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1960-1962 (interna).
Documentos anexos a 04620.104.054.
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.


2. A NOVA ESTRUTURA POLÍTICO-MILITAR DO PAIGC DECIDIDA NO I CONGRESSO DE CASSACA EM 17 DE FEVEREIRO DE 1964


Neste segundo ponto daremos conta da decisão tomada durante o I Congresso de Quadros do PAIGC realizado em Cassacá, entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964, nomeadamente no âmbito político-militar, cujos elementos foram retirados de um documento manuscrito de Amílcar Cabral (1924-1973), localizado nos arquivos existentes na Casa Comum, Fundação Mário Soares, constituído por sete folhas, e que serão reproduzidas no fim deste trabalho.

De referir, ainda, que esta narrativa segue na "fita do tempo" uma outra relacionada com o envio de uma carta de Aristides Pereira (1923-2011) a 'Nino' Vieira (1939-2009), escrita igualmente em Cassacá, em 22 de Janeiro de 1964, um ano depois do ataque a Tite, informando-o da intenção de se realizar um encontro, ou seja, o "I Congresso" - P19335.[Fig 4, em cima]

Eis, então, o conteúdo das decisões tomadas.

23 de Junho de 1964 > Decisão

"O desenvolvimento da nossa luta armada exige que se tomem medidas urgentes e concretas tanto no plano político como militar. A VI Conferência de Quadros do Partido (I Congresso) tomou decisões importantes em relação a essas medidas, principalmente no que respeita à organização do Partido, as regiões libertadas, a criação das FARP, com o reforço das guerrilhas em todo o país, a criação do exército popular e a instalação das milícias populares.

Todos os responsáveis e militantes do Partido sabem que a zona 8 sofre ainda as graves consequências duma direcção que não esteve à altura das suas responsabilidades e ainda da acção nefasta e dos erros cometidos por alguns responsáveis dessa zona. Depois do nosso Congresso, os camaradas Arafam Mané e Guerra Mendes, encarregados de melhorar urgentemente a situação da zona 8, fizeram, juntamente com outros camaradas, o melhor que puderam para cumprir a palavra de ordem do Partido. Mas esses camaradas mesmos são os primeiros a reconhecer que as coisas não vão muito bem na "zona 8", onde a situação é agravada pelo desaparecimento do responsável Rui Djassi, cujo paradeiro ninguém conhece, embora seja certo que está vivo".


[O que terá acontecido a Rui Djassi (Faincam)?, uma vez que o seu nome deixou de constar na estrutura da «guerrilha», então aprovada, sendo substituído por Guerra Mendes [† em combate, em 09Mai'65, em N'Tuane (Antuane)], conforme pode ler-se no ponto 8.

A propósito de Rui Djassi, recupero o comentário do camarada Manuel Luís Lomba, feito no P13787, onde refere:

"O Rui Djassi era cobrador da Farmácia Lisboa, foi incorporado no Exército Português e desertou como furriel mil para ir com o Amílcar Cabral e mais 29 para a China, tirocinar "guerra revolucionária" e foi o 1.º a concluir tal formação. Residiu na estrada de Stª. Luzia e quando surgiu na guerra o pai ofereceu recompensa a quem o liquidasse. Foi o 1.º comandante de Quinara e terá sido o responsável do assassinato do irmão do Manuel Simões [, o Januário Simões], ora evocado por falecimento. Foi o comandante dos ataques a Tite, em Janeiro e Fevereiro de 1963, currículo que o terá safado das penas de morte decretadas por Amílcar no I Congresso de Cassacá,  na altura da Operação Tridente".
Alguém tem algo mais a acrescentar, relacionado com este mistério?].

O documento refere ainda:

"Nestas condições, todo o trabalho feito na zona 11 e nas outras regiões do país, está a ser prejudicado pela situação má em que se encontra a zona 8.

Por outro lado, a experiência feita no norte do país em que todas as zonas se encontram sob a chefia e responsabilidade dos camaradas Osvaldo Vieira e Chico Mendes (Té) mostra que é possível fazer o mesmo no sul, enquanto se prepara a nova fase da nossa luta. Quer dizer, todas as Zonas do Sul (11, 8 e 7) devem ficar sob a direcção centralizada dum pequeno número de responsáveis, directamente ligados ao Secretário-Geral do Partido. É portanto necessário fazer uma reorganização da direcção do Partido, da luta no sul do país, com a maior urgência possível.

Por isso, tomo as seguintes decisões, em nome da direcção do Partido.

I – Guerrilhas

1. Todas as zonas do sul do país (11, 8 e 7) ficam sob a chefia do camarada João Bernardo Vieira ('Nino'; Marga), membro do B.P. e actual chefe da região (zona 11). Ele dirige todos os responsáveis de zonas abaixo indicados.

2. O camarada "Nino" é assistido nas suas funções por um grupo de responsáveis constituído pelos seguintes camaradas: João Tomas Cabral, Arafam Mané, Guerra Mendes, Abdoulaye Barry e Constantino Teixeira.

3. O camarada João Tomas Cabral desempenhará junto do camarada Nino as funções de Comissário político para todo o sul do país. Ele deve trabalhar em inteira ligação com o camarada Nino.

4. O camarada Arafam Mané passa a ser o primeiro responsável da região de guerrilha Catió-Cacine (antiga zona 11).

5. O camarada Guerra Mendes é nomeado primeiro responsável da região de guerrilha Fulacunda-Bolama (antiga zona 8).

6. O camarada Abdoulaye Barry passa a ser o primeiro responsável da região de guerrilha Xitole-Bafatá (antiga zona 7).

7. O camarada Constantino Teixeira tem a categoria de primeiro responsável da região de guerrilha e passa a fazer a ligação permanente entre as diversas regiões e o camarada Nino, com função de controlador para todo o sul do país.

8. Os ex-responsáveis de zonas, camaradas Rui Djassi (Faincam) e Domingos Ramos (João Cá) devem vir imediatamente ter com o Secretário-Geral do Partido, passando as suas funções respectivamente a Guerra Mendes e Abdoulaye Barry.

9. O camarada Nino deve passar as suas funções na Zona 11 ao camarada Arafam Mané. Deve, além disso, começar a dirigir todas as regiões do sul do país, para o que deve fazer as inspecções necessárias e tomar todas as medidas que julgar úteis para a melhoria da luta nessas regiões. A base do camarada Nino deve ficar instalada na região de Catió-Cacine, onde considerar mais conveniente para o bom cumprimento dos seus deveres.

10. O camarada Nino tem autoridade para escolher e nomear os diversos responsáveis dos sectores e bases da guerrilha dentro das regiões a sul do país. Pode igualmente destituir ou transferir todo e qualquer responsável, se isso for conveniente para o desenvolvimento da luta.

11. Sugiro no entanto a seguinte reorganização da direcção das guerrilhas nas diversas regiões e sectores:

a) Catió-Cacine (zona 11) – comissão regional da guerrilha – Arafam Mané, Saco Camará, Quade N'dami, Aguinaldo Noda,

Comissário político geral: Sadjo Bambo.

Responsável principal: Arafam Mané

Responsável do sector de Quitafine: Saco Camará 

Responsável do sector de Chão de Nalus e Como: Arafam Mané

Responsável do sector de Canframe: Aguinaldo Noda

Responsável do sector de Calbert (Tombali): Quade N'dami

- Os responsáveis das diversas bases e dos grupos de guerrilha devem ser indicados pelo camarada Nino.


b) Fulacunda-Bolama (zona 8) – comissão regional da guerrilha – Guerra Mendes, João Tomás, Madna na Isna, Bromejo e Cabiru Baldé

Comissário político geral: João Tomás

Responsável principal: Guerra Mendes

Responsável do sector de Quinara: Guerra Mendes

Responsável do sector de Bolama: Caetano Barbosa

Responsável do sector de Buba: Bromejo

Responsável do sector de Cubisseco: Madna Na Isna

Responsável do sector de Fulamore: Yafai Camará

Responsável do sector fronteira (Contabari): Cabiru Baldé

- Os responsáveis das bases e dos grupos de guerrilha são indicados pelo camarada Guerra Mendes, com aprovação do camarada Nino [Vd. Fig 5].

c) Xitole-Bafatá (zona 7) – comissão regional da guerrilha – Abdulai Barry, Suleimane Djaló, Braima Camará, Tito Fernandes.

Comissário político geral: Tito Fernandes

Responsável principal: Abdulai Barry

Responsável do sector de Xitole: Braima Camará

Responsável do sector de Xime: Abdulai Barry

Responsável do sector de Saltinho e Caré: [?] [nome ilegível]

Responsável do sector de Bangacia: Suleimane Djaló

Responsável do sector de Bambadinca: Joãozinho Lopes

- Os responsáveis das bases e dos grupos de guerrilha devem ser escolhidos pelo camarada Abdulai Barry, com aprovação do camarada Nino."




Fig 5

Citação: (1965), "Desfile de um destacamento das FARP, comandadas por Nino Vieira", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43067 (2019-1-1)



II – Criação do 1.º Corpo do nosso Exército Popular


1. Deve-se criar imediatamente o 1.º Corpo do nosso Exército Popular no Sul do País, de acordo com as decisões do nosso Congresso. Nenhuma desculpa, razão ou argumento pode servir para retardar mais a criação do exército. Devemos criar as primeiras unidades do exército com os homens e o material de que podemos dispor neste momento, sem prejudicar grandemente a acção e o desenvolvimento das guerrilhas no sul do país. Temos no entanto que compreender que a criação do exército representará um reforço da nossa força e, portanto, permitirá indirectamente, o fortalecimento das nossas guerrilhas.

2. O camarada Nino deve empregar o melhor do seu esforço para a criação imediata do Exército no sul do país. Para isso deve ser devidamente ajustado com todos os camaradas responsáveis e militantes, que lhe darão a melhor colaboração. Terá, além disso, toda a assistência do Secretário-geral e da direcção do Partido.

3. Devem ser criadas imediatamente duas Subsecções do Exército, com os nomes de "Botchecol" (1.ª subsecção) e "Vitorino" (2.ª subsecção). A organização e a estrutura dessas unidades do Exército popular são descritas pormenorizadas em documento secreto, que segue para o camarada Nino.


4. Estas duas subsecções, com todos os Corpos do nosso Exército Popular, serão superiormente dirigidas pelo Comité Principal do Exército, o qual é subordinado ao Conselho de Guerra. No sul do país, as unidades criadas são directamente dirigidas por um comando-geral do sul e pelos responsáveis indicados pela direcção do Partido.

5. O comando-geral do sul é formado pelos seguintes camaradas:

Nino / Marga – comandante geral

Carlos Leal – comissário político geral

Umaro Djaló – comandante da subsecção

Saturnino Costa – comandante da subsecção

Na qualidade de comandante geral, o camarada Nino, com a colaboração do camarada Comissário Político geral, estuda e planeia, de acordo com o Secretário-geral, ou os seus representantes, todas as acções militares e políticas a realizar pelo exército no sul do país. Os camaradas das subsecções são responsáveis pela execução dos planos e a realização total das acções determinadas pelo comando, de acordo com a direcção do Partido.

6. A subsecção "Botchecol" tem os seguintes dirigentes:

Umaro Djaló – comandante

Humberto Gomes – 2.º comissário político

Gustavo Vieira – chefe dos grupos especializados


7. A subsecção "Vitorino [Costa] tem os seguintes dirigentes:

Manuel Saturnino Costa – comandante

Mamadu Alfa Djaló – 1.º comissário político

Ngalé Yala – 2.º comissário polític

Mário Silva – chefe dos grupos especializados

8. Os chefes de grupo e comissários políticos de grupos devem ser indicados pelo comando geral do Sul

Nota: Tudo isto deve ser feito completamente até ao dia 15 de Julho de 1964".


Segue-se a reprodução das sete folhas originais [Fig 6].











Citação: (1964), "Decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (I Congresso)", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_42295 (2019-1-) (com a devida vénia)

Fonte: Casa Comum, Fundação Mário Soares.
Pasta: 07061.032.017.
Título: Decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (I Congresso). Assunto: Manuscrito de Amílcar Cabral das decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (Congresso de Cassacá). Organização do PAIGC; a situação das regiões libertadas; a criação das FARP; a criação do Exército Popular e a instalação das milícias populares; problemas da Zona 8; guerrilha; criação do I Corpo do Exército Popular; organização e estrutura de uma Subsecção. Em anexo uma carta de Amílcar Cabral para Nino Vieira e uma folha de apontamentos.
Data: Terça, 23 de Junho de 1964.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.


Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
22Jan2019.
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Nota do editor Jorge Araújo:

Último poste da série > 26 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19335: (D)outro lado do combate (41): Carta de Aristides Pereira a 'Nino' Vieira, escrita em Cassacá, em 22 de janeiro de 1964 (Jorge Araújo)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19335: (D)outro lado do combate (41): Carta de Aristides Pereira a 'Nino' Vieira, escrita em Cassacá, em 22 de janeiro de 1964 (Jorge Araújo)


Cassacá em 2018. Foto do camarada Patrício Ribeiro, com a devida vénia [P18697].


Mapa de Cacine, Sector de Quitafine (Frente Sul). Cassacá, local onde foi manuscrita a carta de Aristides Pereira, em 22 de janeiro, e, também, o da realização do I Congresso do PAIGC, organizado entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964, estava situada a quinze quilómetros a sul de Cacine e a trinta da fronteira com a Guiné-Conacri.



Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974): coeditor do nosso blogue


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE  

CARTA DE ARISTIDES PEREIRA A 'NINO' VIEIRA, ESCRITA EM CASSACÁ EM 22 DE JANEIRO DE 1964, UM ANO DEPOIS DO ATAQUE A TITE
  
- AS ORIGENS DO PRIMEIRO CORPO DO EXÉRCITO DO PAIGC - 

Os relatos publicados nos P19254 e P19259 suscitaram-me particular interesse, do ponto de vista histórico, por recuperarem mais alguns dos episódios do período que antecedeu o início do conflito armado no CTIG, nomeadamente durante o ano de 1962, por permitirem identificar os principais actores de cada um deles. 

Estes e muitos outros que, na fita do tempo, se foram sucedendo acabariam por influenciar, para o bem ou para o mal, os comportamentos sociopolíticos em cada um dos lados em confronto, que culminaram com o ataque ao aquartelamento de Tite, localizado na região de Quinara, facto ocorrido em 23 de Janeiro de 1963.

No primeiro caso [P19259], o depoimento do ancião autóctone que surge no vídeo a falar da sua experiência e das suas memórias, e que se considera ser um dos primeiros sete ex-combatentes que tomaram a decisão de aceitar fazer parte do universo da guerrilha nacionalista, dá conta que uma das primeiras "barracas" [acampamentos] criada no Cantanhez, região de Tombali, foi em Caboxanque.

No segundo caso [P19254], é relevante o facto de ser reduzido o número de efectivos militares na Guiné, uma vez que a CCAÇ 153, comandada pelo, então, capitão e infantaria José dos Santos Carreto Curto, era a única companhia em todo o Sul da Guiné em 1961, com um pelotão em Buba e uma secção em Aldeia Formosa. Mais tarde fez deslocar um Gr Comb para Cacine. Estiveram também aquartelados em Cufar numa fábrica de arroz, bem como em Catió, até que a situação se agravou em termos operacionais [Vd. P19264 e P19291; notas de leitura do camarada Beja Santos].

Em função do vasto território em que se movimentou, particularmente nas Regiões de Tombali e Quínara, o capitão Carreto Curto, que no passado dia 30 de Novembro nos deixou, e a sua CCAÇ 153, viveu/viveram momentos difíceis e dramáticos, pois ficaram associados ao começo [oficial] da guerra no CTIG.


Entretanto, em 26 de dezembro de 1962, como reconhecimento da sua acção/ intervenção psicossocial, o capitão Carreto Curto foi agraciado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos com palma [imagem ao lado], devido ao facto de "como comandante de companhia no Comando Territorial Independente da Guiné, desde Junho de 1961, ali vem exercendo, por meio de acções de reconhecimento e de objectivo psicossocial, uma actividade altamente meritória de que tem beneficiado todo o sector do batalhão [BCaç 237], revelando, a par de notáveis qualidades de organização e disciplina, excepcionais dotes de comando, de iniciativa e de audácia, transmitindo a todos os subordinados uma confiança ilimitada, o que permitiu criar e desenvolver na sua unidade [CCAÇ 153] um espírito de corpo tal, que a mesma pode ser apontada como exemplo de disciplina, de eficiência e de sacrifício no cumprimento do dever. Os serviços prestados por este oficial ao Exército e à Nação, na presente conjuntura da Guiné, devem ser considerados relevantes e distintos".

Quanto ao ataque ao aquartelamento de Tite acima referenciado, o nosso blogue tem um vasto espólio de narrativas que pode (e deve) ser consultado. Em cada leitura que se faça, descobre-se, por vezes, novos detalhes que suscitam outros pontos de interesse e investigação, que merecem ser aprofundados. É isso que vamos tentar fazer numa próxima oportunidade, triangulando conteúdos e adicionando-lhe novas informações contraditórias.

Recupero, a esse propósito, entre outras, a entrevista dada em 2001 por Arafam ["N'djamba" Mané; Bissau, 1945.09.29 / Madrid, 2004.09.04] ao jornal "O Defensor", órgão de Informação das FARP – Forças Armadas Revolucionárias do Povo da Guiné-Bissau e reproduzida em 2015 no sítio das FARP, por iniciativa do major Ussumane Conaté. Esta entrevista foi/está dividida em quatro partes, por diligência do camarada José Teixeira, 1.º cabo aux enf CCAÇ 2381, "Os Maiorais", Buba, Quebo, Mampatá e Empada; 1968/1970 – P16794; P16812; P16823 e P16851.

O testemunho do camarada Gabriel Moura [falecido em 2006], do Pel Mort 19, escrito em «Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra», pp 83/88, é outra leitura obrigatória, uma vez que ele foi o primeiro militar português a responder ao fogo da força que atacou o aquartelamento de Tite, pois encontrava-se de guarda naquela ocasião [P17649].

Com o objectivo de fazer a ponte ligando duas peças da historiografia da guerra: o ataque a Tite (23Jan1963) e o I Congresso do PAIGC (Cassacá; 13/17Fev1964), enquanto processo na organização e desenvolvimento da luta armada durante o ano de 1963, tomei a iniciativa de partilhar convosco uma carta manuscrita por Aristides Pereira, em Cassacá, e enviada a 'Nino' Vieira, a 22 de janeiro de 1964, ou seja, um ano após o primeiro evento.

A elaboração deste escrito do dirigente Aristides Pereira [Boavista, Cabo Verde; 1923.11.17 / Coimbra; 2011.09.22] dirigido ao principal Cmdt da guerrilha 'Nino' Vieira [Bissau; 1939.04.27 / Bissau; 2009.03.02 (assassinado)] surge na sequência de alguns acontecimentos que estão na génese da reunião magna [congresso]. 

Recorda-se, pela sua pertinência, por um lado, a visita de Luís Cabral [Bissau; 1931.04.11 / Torres Vedras; 2009.05.30] à zona de Quitafine e tabanca de Cassacá em finais de 1963, por outro, as informações recolhidas em todos os contactos estabelecidos com os combatentes e aquelas que lhe chegavam das frentes. 

Estes factos levaram a que o irmão [Amílcar Cabral (Bafatá; 1924.09.12 / Conacri; 1973.01.20, assassinado dez anos depois de Tite)] aceitasse, como necessária, a realização de uma reunião geral dos responsáveis pelo PAIGC, no sentido de se poder discutir e aprofundar estas questões, de maneira a tirar delas todas as lições para o futuro, numa altura que estava concluído o primeiro ano da luta armada.


Citação: (1965), "Desfile de combatentes do Exército Popular comandados por Nino Vieira", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43728 (2018-12-9)

A operacionalização de cada uma das diferentes acções projectadas para antes, durante e depois do I Congresso podem (devem) ser consultadas no livro de memórias de Luís Cabral: «Crónica da Libertação», (1984), Lisboa, Edições 'O Jornal', Publicações Projornal [Vd. trabalho de recensão realizado pelo camarada Beja Santos – P7216; P7223; P7232; P7241 e P7259].

Como dimensão histórica, cito uma passagem [P7232] onde é referido o seguinte:

 "Em finais de 1963, Luís Cabral faz a sua primeira visita ao Quitafine, a partir de Sangonhá, depois partiram para a base de Cassacá, onde foi recebido por Manuel Saturnino [da Costa; n-1942-]. Em Cacine estava instalado o primeiro quartel das tropas portuguesas [CART 496], a que se seguiu Gadamael [CART 640]. Segundo Luís Cabral, as tropas portuguesas estavam confinadas a Cacine".

Para um melhor conhecimento da evolução do contexto operacional desenvolvido pelas NT - unidades militares -, sedeadas naquela região, sugere-se a leitura do importante trabalho de investigação historiográfica elaborado pelo nosso camarada Manuel Vaz, ex-Alf. Mil da CCAÇ 798, iniciado no P19261, que saudamos.


2. A CARTA DE ARISTIDES PEREIRA A 'NINO' VIEIRA, ESCRITA EM CASSACÁ, EM 22 DE JANEIRO DE 1964

Neste segundo ponto apresentamos, de acordo com o acima exposto, a transcrição da carta, de quatro folhas, manuscrita em Cassacá, por Aristides Pereira, e enviada a 'Nino' Vieira, em 22 de janeiro de 1964.

Eis o seu conteúdo:

"Cassacá, 22 de Janeiro de 1964

"Meu caro Nino,

"É com imenso prazer que te saúdo, bem como a todos os camaradas, daqui deste ponto livre da nossa terra.

"Como sabes, devia encontrar-me contigo e com o Arafam ["N'djamba"] Mané, a 20 [Fev'1964], aqui na Zona. Com efeito, no dia 20 estava no interior, mas não foi possível fazer a reunião, dadas as novas condições que se apresentaram na tua [zona], grandemente atacada pelo inimigo [NT], e também porque o Arafam certamente se atrasou na missão.

"Entretanto, nós, em Conacri, em especial o Amílcar [Cabral], temos tudo preparado e desejamos que o encontro da missão do Arafam se faça o mais breve possível, não sendo possível neste mês, nos primeiros dias do mês de Fevereiro [1964].

"Seria bom se o encontro se pudesse realizar na tua barraca [acampamento], mas as condições não o permitem. Temos, pois, que nos contentar com um local mais próximo da fronteira [Sul], onde as condições de segurança dos presentes são maiores. Sugiro-te Cassacá, que já conheço. Entretanto, espero a tua resposta. Devo dizer-te que consideramos este encontro dos acontecimentos mais importantes na história da nossa luta e ele vai marcar uma nova etapa do nosso combate."


[Este encontro… é (foi) o I Congresso do PAIGC realizado em Cassacá, entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964].


Citação: (1964), "I Congresso do PAIGC em Cassacá", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_85098 (2018-12-9)

Fonte: CasaComum; Fundação Mário Soares. Pasta: 07223.002.046. Título: I Congresso do PAIGC em Cassacá. Assunto: Amílcar Cabral e grupo de (dezanove) milicianos em Cassacá [região libertada do sul da Guiné-Bissau], por ocasião do I Congresso do PAIGC. Data: Fevereiro de 1964. Opaco/Transparente: Opaco Negativo/Positivo: Positivo. PB/Cor: Preto e Branco. Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade. Tipo Documental: Fotografias.

"Esperamos fazer vir para assistir no último dia da reunião [I Congresso; 17Fev1964], alguns jornalistas estrangeiros, aos quais seria distribuído um documento sobre os problemas tratados na reunião. Queremos ainda que no fim dos trabalhos e diante dos jornalistas, o Secretário-Geral do Partido faça o "baptismo" do primeiro destacamento do nosso Exército. Esse corpo teria cerca de 150 homens cujas fardas viriam ainda de Conacri.

"Estou certo que compreendes bem o interesse que esta reunião tem para a fase nova da luta que estamos vivendo, no plano interior, e no plano exterior, o que isso pode representar como reforço da nossa posição no plano internacional e sobretudo, junto dos países vizinhos, em especial o Senegal.

Tinha muito interesse em ver-te também para discutirmos o problema do material que te falta. Autorizei que fosse tirado do material do Norte, 10 carabinas e 10 cxs de balas 7,62 mm PM para te mandar. Não compreendo com o que se teria passado com as balas 7,62 mm. No barco em que vieste estavam 30 cxs para a Zona 11. Houve engano com certeza. Estão no barco 2 morteiros para a tua Zona, assim como algumas minas antitanque e antipessoal.

Continuo aqui na barraca do Manuel [Saturnino da Costa?], aguardando a tua resposta amanhã, para poder regressar depois de amanhã. O Embaná vai comigo para trazer as coisas [será que se trata do Fiere Embaná, que desertou do PAIGC e se apresentou no quartel de Tite, em Maio'1971, ao tempo do BART 2924 (P18746)?].


"O Zé traz uma grande barraca e 3 macas para doentes.

"Devo dizer-te que o Comité dos 9 soube reconhecer e avaliar os trabalhos do nosso Partido. Esperamos, no entanto, ainda, qualquer coisa de mais concreto.

"O segundo assunto importante que queria tratar contigo é o da vinda dos dois amigos que deviam vir ver e filmar coisas no interior. Eles chegam a Conacri a 29 [Jan de 1964] e devem vir, como combinámos, a 1 ou 2 de Fevereiro. Dá-me a tua opinião sobre o caminho que devem seguir. 

"Entretanto, sugiro que estejas em Sangonhá, que visitem Bricama para ver gente do povo no mato, sem casa. Vêm depois a Cassacá, onde fariam o resto do filme (combatentes, casas destruídas, etc.). Seria decerto mais interessante se lhes fosse possível ver a base central, mas não creio que isso seja possível. Diz o que pensas sobre o assunto. Eles regressariam de barco à República da Guiné."







Reprodução do original da carta de Aristides Pereira

Citação: (1964), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_39103 (2018-12-9).

Fonte: CasaComum; Fundação Mário Soares. Pasta: 07062.034.025. Assunto: Constituição do primeiro destacamento do Exército [Popular]. Visita do Comité dos 9 [OUA]. Vinda de "dois amigos" para filmar no interior. Remetente: [Aristides Pereira]. Destinatário: Nino Vieira. Data: 22 de Janeiro de 1964. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral. Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de BOAS FESTAS.

Jorge Araújo.

15DEZ2018.
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quinta-feira, 31 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18697: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (6): Os meus passeios: de Buba a Cassumba, passando por Cacine, Sangonhá, Cameconde, Cassacá e Campeane, março de 2018 - Parte III


Foto nº 20 > Cassacá, hoje.. Foi aqui que o PAIGC realizou, em 1964, o seu 1º Congresso...


Foto nº 21 >  Cassumba: "onde montámos as tendas"



Foto nº  22 >  Cassumba: na foz do rio Cacine


Foto nº  23 > Cassumba: já no outro lado da Guiné-Conacri


Foto nº 24  > Cassumba: o efeito da erosão


Foto nº  25 > Cassumba: pôr do sol


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Península de Quitafine > Cassumba > 11 de março de 2018

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação das fotos da viagem de Buba a Cassumba, de 11 de março último (*)

[ Patrício Ribeiro é um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

(Continuação)


Foto [nº 20] do monumento que o PAIGC construiu com os restos de uma casa da família Regala, “que alguém deitou abaixo”.

Por aqui, decorreu o 1º congresso do PAIGC, (em 1964, como se pode ler no blogue). Na tabanca há postes de energia elétrica nas ruas, que já funcionaram, tem abastecimento de água, centro de saúde, escola secundária, etc. Aqui também estive a trabalhar.

Praia de Cassumba:

Algumas fotos [, de 21 a 26]: lugar muito bonito, lá montamos as tendas à beira mar para dormir, junto ao rio Cacine, por lá comenos a usual lata de atum, abrimos uma garrafa de vinho, para dormir bem.

Bom lugar para uns “desembarques”, praia só de areia sem lodo.

Para chegar à praia, passamos por lindas matas e por uma savana só de capim, com mais de um metro de altura e vários quilómetros de comprimento. Do outro lado, um mato de palmeiras impenetrável, onde certamente muita gente se refugiou. Muito bonito.

Enviarei outras fotos tiradas este ano, de outros passeios em outros lugares.

Abraço

Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau, Guiné-Bissau
Tel, 00245 966623168 / 955290250

sábado, 28 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16998: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (5): O I Congresso do PAIGC em fevereiro de 1964, em Cassacá, a sul de Cacine, e a importância social da saúde e da instrução literária, analisada na base central do Morés em março de 1964 - Parte II







O nosso colaborador assíduo do blogue, Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74): tem já mais de 110 referência no nosso blogue; ainda está no ativo, é professor universitário, doutorado em ciências do desporto. Este texto, a publicar em duas partes, foi submetido ao blogue em 4 de janeiro de 2017]



O I CONGRESSO DO PAIGC EM FEVEREIRO DE 1964 NO SUL E A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA SAÚDE E DA INSTRUÇÃO LITERÁRIA, ANALISADA NA BASE CENTRAL (MORÉS) EM MARÇO DE 1964


II (e última) Parte


Um mês após a conclusão do I Congresso de Cassacá, na Frente Sul, os responsáveis da Frente Norte, Ambrósio Djassi [nome de guerra de Osvaldo Vieira; 1938-1974] e Chico Té [nome de guerra de Francisco Mendes; 1939-1978] tomaram a iniciativa de convocar uma reunião para o dia 21 de março de 1964, sábado, a realizar na Base Central [Morés] entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários [políticos] com o objectivo de estudar e discutir as novas fases do desenvolvimento da luta, e ao mesmo tempo para pôr todos os camaradas ao corrente das resoluções aprovadas na reunião de Cassacá.

No final da reunião do Morés foi elaborado o respectivo relatório, que foi remetido ao Secretário-Geral, e por este recebido em 4 de abril de 1964, onde se fez referência aos temas tratados, ao conteúdo de cada intervenção e ao nome de todos os responsáveis que nela tomaram parte, num total de cinquenta e seis elementos.

Eis os dez pontos da Ordem do Dia [dos Trabalhos]:



1. - Mudança de Táctica

2. - Criação de novas bases
3. - Recrutamento e treinos
4. - Política
5. - Disciplina Militar
6. - Alimentação
7. - Saúde
8. - Instrução literária
9. - Segurança e controle
10. - Ligação.



Como ponto extra foi abordado o “ataque ao Enxalé” e analisada a sua necessidade.

Considerando a extensão do documento, constituído por doze páginas A4 manuscritas, iremos abordar neste texto somente os pontos 7 e 8, relacionados com os assuntos sociais – saúde e educação –, aliás em conformidade com o exposto na introdução.

Esta opção é justificada pelo facto de termos vindo a tratar o tema da saúde utilizando as memórias e experiências vividas por médicos cubanos no apoio à guerrilha, cujos relatos são posteriores a este evento (dois anos; com início em junho de 1966).

Já reproduzimos ao altop deste poste a folha de rosto, ou 1.ª página, onde consta o que acima foi referido.


Ponto 7 - SAÚDE


{Ambrósio] Djassi
– Tudo o que já fizemos e pensamos fazer é devido ao estado normal da nossa saúde. Passo a palavra ao nosso camarada Simão Mendes [enfermeiro] para nos apresentar o relatório elaborado em colaboração com os outros camaradas da saúde.


Simão Mendes
– Digo aos camaradas que vou relatar 10 pontos principais conforme o relatório que fizemos:

1 – Medicamentos: - os medicamentos passarão a ser requisitados trimestralmente, requisitando só os medicamentos de maior consumo na Guiné, dando uma regalia aos guerrilheiros como ao povo. Requisitar materiais de pequena cirurgia o mais breve possível.

2 – Doentes para a fronteira: - mandar urgente para a fronteira todos os feridos ocasionados por ferimento de balas uma vez que não há já recursos locais para a sua extracção. Formar um grupo de transporte de doentes ou feridos graves para a fronteira. Esse grupo será nomeado pelo responsável pela Zona Norte.





3 – Preparação de Ajudantes de enfermagem para outras bases: - serão escolhidas meninas e rapazes para receberem noções de socorros urgentes e de enfermagem.

4 – Escala de Serviço e sua conveniência: - far-se-á uma escala de serviço nomeando cada enfermeiro para a sua responsabilidade diária.

5 – Ginástica, sua necessidade e inconveniência: - a ginástica continuará a ser feita como dantes, isto é, todos os dias principalmente para os recém-chegados.

6 – Visitas guiadas às bases: - deslocação quinzenalmente às bases; nesta visita o enfermeiro escolhido procurará colaborar com o povo estudando assim as doenças de 1.ª instância. Serão construídas duas barracas para consultas.

7 – Noções ligeiras de primeiros socorros aos guerrilheiros: - fazendo parte da guerrilha é lícito que todos os guerrilheiros tenham noções de primeiros socorros. Oferecemos a nossa boa vontade neste momento.

8 – Higiene e sua conveniência: - fazendo parte da saúde, para evitar certas doenças, devem todos os guerrilheiros seguir os princípios da higiene do vestuário e limpeza de barracas.

9 – Escala de serviço e sua conveniência: - far-se-á uma escala de serviço, nomeando cada enfermeiro para a sua responsabilidade diária. (Este ponto é igual ao 4).

10 – Colaboração mútua em tudo que diga respeito ao nosso movimento com o povo e guerrilhas: - colaborar com a nossa população explicando a todos as inconveniências que o abuso excessivo dos medicamentos pode ocasionar. Paciência absoluta, dando ao povo explicações do emprego de medicamentos.




Resolução:


Todos os camaradas estiveram de acordo com as proposições dos camaradas da saúde e resolveram criar forças para garantir a execução do que está acima indicado.



Ponto 8 - INSTRUÇÃO LITERÁRIA



Djassi
– Depois de tudo devemos começar a pensar na instrução dos guerrilheiros e do povo. Hoje podemos dispor de alguns livros apanhados e que já empregamos para o mesmo fim. Os camaradas que vieram de Bissau vão ser distribuídos nas bases para começarem a instrução literária.

Chico Té
– Devemos fazer esforços para pôr isso em prática o mais breve possível apesar de poucos meios do que nos dispomos actualmente.


Luís Gomes – Neste ponto posso dizer que é muito importante para a nossa vida e o desenvolvimento da nossa terra. A instrução não é só para crianças mas sim também para adultos.






Resolução:


Todos os camaradas estiveram de acordo neste ponto, e os camaradas que vieram de Bissau vão ser distribuídos nas bases a fim de começar com a instrução literária. Devido à falta de material escolar solicitamos aos dirigentes superiores do Partido o envio de algum material neste campo.


Citação:
(1964), "Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40112 (2016-12-28)


Fonte (,com a devida vénia...):

Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 04613.065.157
Título: Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central.
Assunto: Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central, assinado por Chico Té (Francisco Mendes) e Ambrósio Djassi (Osvaldo Vieira). Ordem do dia: mudança de táctica, criação de novas bases, recrutamento e treinos, política, disciplina militar, alimentação, saúde, instrução literária, segurança e controlo e ligação. Ataque de Enxalé.
Data: Sábado, 21 de Março de 1964.
Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul e Leste).
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: Documentos


Em função do exposto, e em jeito de conclusão, podemos dizer que a organização do PAIGC, passados quinze meses do início da sua luta armada, ainda era excessivamente precária, onde os adjectivos: instável, delicada, insegura, débil e pobre, enquanto sinónimos, completam o seu quadro mais global.

Mas poderia ser diferente para melhor? Não creio… pois tudo na vida é processo e projecto.

Obrigado pela atenção.
Um forte abraço de amizade e votos de boa saúde.
Jorge Araújo.
4jan2017.

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Nota do editor:

Último poste da série 26  de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16991: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (4): O I Congresso do PAIGC em fevereiro de 1964, em Cassacá, a sul de Cacine, e a importância social da saúde e da instrução literária, analisada na base central do Morés em março de 1964 - Parte I