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terça-feira, 13 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15244: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (24): De 14 de Novembro a 22 de Dezembro de 1973

1. Em mensagem do dia 9 de Outubro de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 24.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

24 - De 14 de Novembro a 22 de Dezembro de 1973

Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

(...)

NOV73/14 – (...) Pelas 20,30 horas deste dia foi comunicado a este Comando pelo Comandante do Pelotão de Milícias 231 que o Soldado Milícia MAMADÚ JALÓ, que se tinha deslocado na madrugada desse dia ao R. GUNOBA, para apanhar peixe, não tinha regressado.

NOV73/15 – Em face do desaparecimento do Soldado Milícia, foi destacado para um patrulhamento à região do R. GUNOBA, um grupo de combate, que encontrou vestígios de presença de um GR IN estimado em 30/40 elementos, que deviam ter retido o referido milícia. (...)

NOV73/20 – Pelas 08,30 horas chega a A. FORMOSA para uma visita a A. FORMOSA, MAMPATÁ E BUBA, Sua Excelência o Governador e Comandante-Chefe. (...).

(...)

NOV73/22 – Conforme notícias processadas, admite-se a passagem de coluna IN de INJASSANE-UNAL-INJASSANE, nos dias 22, 23 e 24. Com forças da 1.ª CCAÇ/4513, CCAV 8350, CCAV 8351, 2.ª CCAÇ/4513 e CART 6250 monta-se um dispositivo de contra-penetração nos corredores de passagem IN.

- Forças da 1.ª CCAÇ/4513, detectaram vestígios da passagem de grupo IN estimado em 20 elementos, no corredor de BUBA, no sentido SUL/NORTE, provavelmente na noite de 21 para 22 de NOV73.

(...)


Histórias marginais (4): Uma iguana de muitas vidas

Estávamos no regresso de mais um patrulhamento para protecção a uma coluna, na picada Nhala-Mampatá. Vejo lá à frente um soldado sair à direita para a mata, possivelmente para urinar e, quando regressa, diz qualquer coisa aos outros e eles entram também na mata. Parou todo o grupo. Quando me acerco estão a sair da mata muitos excitados e dizem-me: “Está ali um grande lagarto com uma lata enfiada na cabeça”. Eles sabiam bem que eu não perdia uma coisa destas, a menos que as circunstâncias não permitissem. Entrei na mata e vi o lagarto logo ali, separado da picada apenas por uma barreira densa de arbustos. Parecia um crocodilo pequeno mas com cabeça de sardanisca que, ainda por cima, não se via. Estava imóvel mas percebia-se bem que respirava e, sentindo a nossa presença, bufava dentro de uma lata ferrugenta de sumos ou chocolate das nossas rações, onde enfiara a cabeça sem remédio. Claro que ninguém reconheceu o lagarto. Até àquela data, o maior que vira na Guiné, era aquele que fazia flexões ao sol, indiferente à nossa presença. Calculei que tivesse um metro e meio da cabeça à ponta da cauda. A nossa primeira admiração: como é que um lagarto tão grande tem uma cabeça tão pequena? E mais: há quanto tempo estará sem comer e a respirar pelos poros da lata ferrugenta? Será perigoso? A minha primeira reacção foi abandoná-lo e seguir viagem, mas a curiosidade foi mais forte. Pensei: é simples, dou-lhe uma cacetada na cabeça enlatada e levámo-lo para ver se alguém nos ajuda a identificá-lo. Vai ser manga de ronco!

Ali a mata era de chão quase limpo e árvores ralas e pouco grossas. Não foi difícil arranjar um cajado. Dei-lhe uma cacetada tão forte na zona da cabeça, que a lata quase se espalmou. Para minha surpresa – e susto -, o réptil deu um salto descrevendo um arco, quase me batendo, e desata numa correria por entre as árvores até “atracar” de frente numa de maior porte. Ofegante, parecia uma bomba prestes a explodir, dando sacudidelas violentas com a cauda na árvore mais próxima, que vibrava até ao extremo da copa. Eu, incrédulo, mantive-me afastado, certo de que, se me atingisse uma perna, a partiria. De onde vinha tamanha energia? Que órgão comandaria os seus estertores? À distância, todos olhávamos perplexos aquela força da natureza que mais parecia algo de sobrenatural.

Quando o bicho parou de bater, aproximei-me e encostei-lhe o tapa-chamas da G-3 a meio da lata e disparei. Esperei então um momento e, vendo-o inanimado, fiz um laço de correr com uma ligadura que pedi ao enfermeiro. De longe, com a ajuda de um pau comprido, passei-lhe o laço pelo pescoço e dei um puxão. Não reagiu. Arrastei-o para a picada e um dos soldados levou-o de rojo até Nhala.

Arrancámos-lhe a lata da cabeça (uma massa) e, exposto à curiosidade de todos, ninguém, arriscou um nome para aquela espécie. Só no dia seguinte, através de um homem grande, indicado como a pessoa certa para o caso, ficámos a saber, por gestos e monossílabos, que se tratava de um, (ou uma) iguana africana. Isto na interpretação de um camarada que acompanhava a mímica do homem.

Ao fim da tarde, quase noite, vem-me dizer que a iguana, esticada frente à caserna do meu grupo, estava cheia de formigas. Deu-me vontade de a atirar logo para o bidon do lixo, mas tinham-me dito que o tal homem grande era especialista em curtir as peles dos répteis e que, a da iguana, era muito mais valiosa que a das grandes serpentes. Agarrei-a pela corda improvisada que tinha ainda ao pescoço e suspendi-a num barrote alto do abrigo da HK-21 ali mesmo ao lado. Pendurada e inerte, sacudimos-lhe as formigas. Já a noite ia alta quando se desencadeou uma tremenda trovoada acompanhada por chuva torrencial, como se os céus se quisessem livrar das últimas águas do ano. A seguir a um relâmpago potente, da minha cama ouvi, para os lados da caserna, pancadas violentas e repetidas em qualquer coisa de zinco. Pensei logo: é a iguana. Peguei na faca de mato e, debaixo do temporal, fui até ao abrigo da HK-21, que ia ficando sem telhado, e dei um golpe na corda aproveitando uma pausa na fúria louca do lagarto. Caiu-me aos pés e ficou estendido, quieto, na sua outra morte.

No dia seguinte foi-lhe retirada a pele (impressionou-me o volume da sua musculatura sobretudo nas patas) e, ao longo do tempo, o homem grande, vaidoso, chamava-me por vezes para me mostrar aquela preciosidade esticada com pregos numa tábua larga para secar. Até que um dia me veio entregar um rolo largo de pele e eu paguei-lhe o combinado. Era bonita a pele, embora um pouco escura. Pensava vendê-la em Bissau quando estivesse de passagem. Eu, que tenho um jeito danado para o negócio...


FOTOS 1 e 2: Nhala, 1973 – O homem grande exibe a iguana. Depois vai extrair-lhe a pele e curti-la.

Um dia, quando fazia preparativos para vir de férias, lembrei-me da pele e fui encontrá-la no fundo de um caixote, com as camadas interiores cheias de larvas: brancas e gordas. Peguei naquilo e atirei-o para o bidon do lixo com repugnância, muito alívio e a certeza de que, se não reagira às larvas, era porque a pele estava mesmo morta.

Foto 3: Iguana africana (Imagem extraída da Net)


22 de Dezembro de 1973 – (sábado) – Nhala: o regresso de férias.

Chegado no dia anterior de Bissau, ainda dormiria uma noite em Aldeia Formosa. Para meu contentamento e contra as expectativas mais pessimistas que trazia, soube que a actividade da guerrilha no Sector era quase inexistente, permitindo um bom avanço nas duas frentes de trabalho da estrada nova. Isto era bom porque todos nós tínhamos que lá estar, quer nas frentes de trabalho, quer ao longo do percurso já construído. Mas o que mais exigia de nós, paralelamente, eram as contra penetrações indispensáveis à segurança afastada e, também, para interceptar os grupos inimigos nos carreiros. Isso implicava a deslocação de muita tropa, normalmente para locais afastados. Verifico agora, pela História da Unidade que, só ao longo do mês de Dezembro, ocorreram cinco situações de movimentos desses, motivadas por informações recolhidas pelo Comando, dando conta da possível passagem de colunas de guerrilha nos carreiros. Em nenhum dos casos ocorreu intercepção, todavia, sendo a ameaça permanente, havia que repor o campo de minas no carreiro de Uane, lá para os lados do Corubal, que eu levantara antes de ir de férias. Eram as normas: levantar as minas antes de uma ausência prolongada e implantá-las de novo após o regresso.

A ida ao carreiro de Uane, ocorrida entre o Natal e o fim do ano, implicou que o meu grupo ficasse à responsabilidade dos dois furriéis em Buba, tendo em vista a protecção às obras de Engenharia nessa frente, aliás, já tinha sido assim durante o meu período de férias. Só após a instalação do campo de minas me juntaria ao grupo.


Natal de 1973

Foi o meu primeiro Natal passado longe da família. Para a maioria também. Mas o constrangimento que isso causasse, dependia em maior ou menor grau, da importância que cada um atribuía a essas festividades, - o Sr. de La Palice, não diria melhor... Daí que, a mim, afectasse pouco, quer por ter regressado recentemente, quer pelo hábito familiar de natais austeros e de pouca religiosidade. Em criança sim, os natais eram épocas de grande alegria e excitação e, todos os anos o meu pai fazia grandes presépios, pouco comuns, cheios de luz e cor e onde não faltavam os moinhos que giravam sem vento e nem as azenhas que rodavam com água a sério. E onde até o Menino Jesus tinha sempre aos pés um pires com moedinhas, antecipando as ofertas dos Reis Magos. Éramos muitos irmãos e precisávamos do imaginário efervescente. E o nosso presépio padrão colocava num nível muito alto as expectativas e as exigências de qualidade: era o presépio monumental da Igreja de Miranda do Corvo, cujas figuras tradicionais eram mais ou menos do nosso tamanho. Mas, antes da adolescência, já tinha acabado a tradição sem que isso nos traumatizasse. Não sonhava, nesses tempos, que voltaria a ver presépios animados (e trabalhosos), agora feitos por mim para extasiar as minhas duas netas.

Para a noite da consoada em Nhala, esmerou-se o Capitão Braga da Cruz, conseguindo atempadamente todos os ingredientes e produtos da tradição, para que nada faltasse na mesa. Ninguém ficou excluído da ceia condigna e do ambiente que atenuasse a dor da saudade. Mau grado o estado de alerta, orelhas no ar, porque, dizia-se, os turras aproveitam sempre estas ocasiões. Sempre, não, porque não aconteceu nada e tudo correu bem. Nessa noite todos se deitaram em paz (menos as sentinelas), cada um sonhando com Menino Jesus da sua preferência.

********

Estava no fim o ano de 1973 sem grandes novidades operacionais neste derradeiro mês, para além das notícias de possíveis infiltrações da guerrilha através dos corredores de passagem; iniciou-se o reordenamento de Colibuia que bem precisava, pois aquilo que lá existia era uma nulidade; a estrada avança a bom ritmo (estando a frente de Buba a 6000 metros de Buba e a frente de A. Formosa a 5100 metros de A. Formosa). É sobretudo para esta obra que convergem as atenções e o entusiasmo de todos. Não é para menos: esta estrada vem revolucionar o modo, o tempo e a segurança (?) na ligação entre Aldeia Formosa, Mampatá, Nhala e Buba.

Foto 4: 1974, estrada Buba-Aldeia Formosa no troço Buba-Nhala, ainda antes de se completar todo o trajecto.

(continua)
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Nota do editor

Poste anterior da série de 6 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15207: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (23): De 27 de Outubro a 12 de Novembro de 1973

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15050: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (17): De 8 a 21 de Julho de 1973

1. Em mensagem do dia 19 de Agosto de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74 

17 - 08 a 21-07-1973 


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

JUL73/08 – Forças da 1.ª e 2.ª CCAÇ durante a acção “ORGULHO” detectaram e destruíram parcialmente em (GUILEGE 3 F 9-68), 1 palhota celeiro contendo arroz estimado em 2 TON e várias palhotas abandonadas provavelmente há 1 ou 2 meses.

Na região (Guilege 3 F 7-62) e (Guilege 3 F 4-52) detectaram e destruíram um conjunto de palhotas abandonadas na ocasião provável das anteriores. Na região (Guilege 3 F 4-47) foi detectado à distância 1 elemento IN que perseguido se pôs em fuga abandonando 10 cargas de RPG-2, 10 cartuchos de granadas do morteiro 82 e 2 petardos de trotil. Entre as regiões (Guilege 3 F 9-68 / 3 F 4-47) foram detectados diversos trilhos de utilização IN muito recentes. [No meu caderno, nesta data, nada registei.]

Nhala com vento ciclónico momentos antes do dilúvio.

Do meu caderno de memórias: 

10 de Julho de 1973 – (terça-feira) – Nhala; Cumbijã a piorar. 

Hoje houve coluna. Como sempre, vêm notícias, mas nunca agradáveis. A situação em Cumbijã é horrível, embora a actividade IN, até agora, tenha sido quase nula. É horrível pelo excesso de esforço exigido ao pessoal que se encontra subalimentado e sem os requisitos indispensáveis para recuperar desse esforço. As saídas, quase sempre a nível de duas ou três companhias, têm sido para longas distâncias e bastas vezes. Numa dessas incursões chegaram a estar a 700 metros [?] do Unal, base IN de grande potencial.

O número de elementos por pelotão, decresce a olhos vistos: o meu grupo, que já andava reduzido a 21 homens, agora conta 16, havendo outros grupos com menos ainda. Mesmo os que ficam inoperacionais, regra geral por doença, são obrigados a fazerem reforços durante a noite, qualquer que seja o seu estado de saúde.

Em Aldeia Formosa houve mais um acidente que encurtou a comissão a um soldado. Não se sabe bem como, pois há várias versões, um soldado matou sem intenção um seu camarada com um tiro de G3. Quer expliquem o acidente assim ou assado, o que é certo, é que já são dois os mortos do meu Batalhão, com apenas três meses e pouco de Guiné e, ambos, sem ser em combate. Hoje, na coluna, passou o caixão com o cadáver do infeliz rapaz.

A minha estadia em Nhala deve estar prestes a findar, e lá terei que voltar para o inóspito Cumbijã, onde se avolumam pessoas e problemas. Mais dia, menos dia, dar-se-á o colapso: todo o pessoal, incluindo graduados, está a acumular tensão e indignação perante a realidade, penosa e opressiva, que se vive naquela base. Agora, para além das más condições já várias vezes referidas, impera um regime disciplinar muito semelhante ao de qualquer quartel da Metrópole, tanto no referente ao aprumo e fardamento, como no referente às normas de procedimentos como, por exemplo, as apresentações formais dos grupos chegados do mato, mesmo que lá tenham dormido e passado todo o dia anterior. O Capitão (...) já ameaçou o Major D. M. de que, qualquer dia, se recusa a sair com a sua Companhia para o mato. No que pode ser visto como um caso de indisciplina, eu só vejo atitude digna, na defesa dos seus homens e coerência com atitudes anteriores que lhe são atribuídas no mesmo sentido. O vapor força cada vez mais o testo da panela e, agora, são vários os vapores que se juntam. Adivinha-se o salto do testo. Veremos.

[Estas foram as últimas linhas dos meus Cadernos de Memórias da Guiné. Como já referi antes, os restantes cadernos ficaram com o meu espólio em Nhala aquando da minha vinda de férias, sem regresso, em Agosto/74, faz agora 41 anos. Oficialmente, desde essa data, ainda não sei que o meu Batalhão regressou definitivamente à Pátria. É uma história lamentável que não cabe aqui, mas que devia mexer com a consciência de quem tinha responsabilidades. 

De ora avante, socorrer-me-ei da História da Unidade do BCAÇ 4513 para relembrar datas, nomes, factos, locais, etc., e das minhas notas dispersas. O resto virá dos fundos da memória até que se esgote o arquivo. Poderá ser que estranhem a fluência e o estilo da escrita, ou as histórias mais pobres de detalhes mas, se isso acontecer, apenas se deve à escassez da informação e ao “português mais moderno” mas sempre com a antiga ortografia. 

Passarei a referir “Das minhas memórias” em vez de: “Dos meus cadernos de memórias”].


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

JUL73/11 – Em 110915JUL73 grupo IN não estimado flagelou BRICAMA (GUILEGE 3 F 3-51) com 10 granadas de canhão S/R (sem recuo) da direcção SALANCAUR JATE (GUILEGE 3 C 4-23) sem consequências.

Em 111835 e 1850JUL73 grupo IN não estimado flagelou o Destacamento de Cumbijã com 20 granadas de morteiro 82 da direcção do R. COEL, sem consequências.

JUL73/12 – Forças da 2.ª CCAÇ patrulharam a região (GUILEGE 3 E 6-85), onde emboscaram durante a noite. Sem contacto.

JUL73/13 – Forças da CCAV 8351 patrulharam a região de NHACOBÁ, TUNANE, R. TEMUDE, não encontraram vestígios IN.

(Da H. da Unidade do BCAÇ 3852, Cap. II / Pág. 75) - Registou-se um acidente durante a realização duma coluna entre A. FORMOSA-BUBA, do qual resultou a morte dum soldado da CCAÇ 18.


Das minhas memórias: 

13 de Julho de 1973 – (sexta-feira) – De Nhala para Cumbijã: o regresso.

Sexta, 13: dia de azar para um soldado da CCAÇ 18 que faleceu num acidente na mesma coluna em que eu seguia de Nhala para Cumbijã. Ao fim de 19 dias em Nhala como Comandante Interino da Companhia, eu sei que vou para o inferno. Desse soldado, só Deus, Alá ou outro qualquer deus saberá.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

JUL73/14 – (...). 

JUL73/15 – Forças da 2,ª CCAÇ durante a acção “OLEADO” patrulharam novamente a região de SAMBASÓ, sem contacto.

JUL73/16 – Forças da CCAV 8351 patrulharam a região de SANBASÓ e emboscaram durante a noite em (GUILEGE 3 H 9-65). Choveu torrencialmente.

JUL73/17 – Forças da 2.ª e 3.ª CCAÇ durante a acção “ONDINA” patrulharam a região de SAMENAU, sem contacto. Regressou de BISSAU o CMDT INT do BATALHÃO.


Das minhas memórias: 

17 de Julho de 1973 – (terça-feira) – Cumbijã; Carta para a Metrópole; Regresso às origens?

“ (...). Esta carta, no fim da segunda linha foi interrompida por, de repente, ter ouvido rebentamentos no mato e está lá a minha Companhia. (Eu estou com o meu grupo de serviço ao aquartelamento). Afinal, apesar de não se ter conseguido ligação via rádio, supõe-se tratar-se de Guileje a “embrulhar”. [??? - Suponho que Guileje foi abandonado em 22 de Maio desse ano]. O resto da carta foi escrito ao som dos rebentamentos do ataque do PAIGC. Soube de Bissau que, finalmente, as Companhias do meu Batalhão ocuparão definitivamente as suas posições iniciais”.

[Iria para Nhala, sim, só que ainda correria muita água sob as pontes!].

Nesta data, a meio da noite, sou acordado pelo Major D. M., assim:
- Alferes Murta! Você não tem o pelotão de serviço? - Sento-me de um salto na cama e, confuso, só vejo uma sombra na minha frente. Respondo que sim.
- E não ouviu estes tiros? Vá já ao posto do lado da estrada saber o que se passa.

Enfio o camuflado e as botas sem meias, e corro de G3 em punho para os lados da entrada do aquartelamento, para os fundos da noite, vociferando impropérios e maldições contra o major e a minha sorte.
- Então?! O que é que se passou para estares a dar tiros? - O soldado, embora calmo, via-se que estava apreensivo e com os olhos cravados na mata escura para além da estrada em frente.

Disse:
- Ali mesmo na borda da mata eu vi luzes a mexerem-se e a andarem para o lado de Colibuia. E eu mandei umas rajadas.
- Fizeste bem. A seguir voltaste a vê-las?
- Não, não. Não vi mais nada. - Fixei bem os olhos para onde ele tinha apontado e segui com o olhar a orla para o lado direito. Mas, apesar da proximidade, mal se vislumbrava a mata na noite escura.
- Ok! Vou ficar aqui a fazer-te companhia e a ver se voltam a aparecer.

Estivemos assim quase toda a noite mas não se viu mais nada nem eu esperava ver. Se passaram, passaram e, se regressassem não arriscariam o mesmo caminho, a menos que estivessem a desafiar-nos. Só escuridão e silêncio. Julgo que nem mosquitos havia nessa noite.

“Só luzinhas e mais luzinhas! Os rapazes andam cansados e têm alucinações. Visões! Só pode ser. Olha que não sei, isto tem acontecido às sentinelas de todos os grupos! Tás parvo? Achas que os gajos arriscavam passar aqui mesmo nas nossas barbas? Quer dizer: as sentinelas mandam rajadas para cima deles e eles, uns tempos depois, voltam aqui a fazer fosquinhas?! Achas? Eu não acredito”. Eram os comentários correntes.

No dia 17 de Agosto/73, entre Mampatá e Colibuia, a estrada foi cortada pela quarta vez. Agora, numa extensão de 40 metros, entre os dois pontões destruídos anteriormente. Não restavam dúvidas de que faziam por ali muitas passagens a transportar o material com que, mais tarde, cortavam a estrada. Mas convenhamos que era um grande desaforo.

Aspecto do aquartelamento de Colibuia, provavelmente em 1973.

Eu, de passagem por Colibuia, provavelmente em 1973.

18 de Julho de 1973 – (quarta-feira) – Cumbijã; Aerograma para a Metrópole. 

“ (...) Finalmente irei para Nhala com toda a certeza. Só vamos esperar que chegue aqui o novo Batalhão que está a fazer a IAO em Bolama. Devem chegar, daqui a mais ou menos 3 semanas. Eram para ficar nas localidades que nós ocupámos à chegada, (Buba, Nhala e Aldeia Formos), mas, diz-se, ficarão na zona da “porrada”, apesar da sua inexperiência. Amanhã sairei daqui às 7 horas da manhã para o mato, onde passarei a noite”.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513:

JUL73/19 – Forças da 2.ª CCAÇ durante a acção “OLIMPO”, encontraram um porta-granadas de canhão R/S vazio. Verificou-se a destruição pelo IN do pontão do R. HABI. Continua a chover torrencialmente e os rios apresentam já grande caudal e as bolanhas em estado pantanoso pelo que impossibilita a passagem das NT. [Estive nesta acção mas não recordo nada, embora, como escrevi na data anterior, ela implicasse uma dormida no mato naquelas condições atmosféricas].

JUL73/20 – Forças da 3.ª CCAÇ durante a acção “OLINDA” dirigem o seu esforço ao longo do R. LENGUEL a fim de detectarem uma passagem no mesmo. Emboscam durante a noite. Continua a chover torrencialmente.

JUL73/21 – Na madrugada deste dia, são ouvidos uma série de rebentamentos para Sul, sabendo-se mais tarde que se tratava de uma flagelação ao destacamento de CHUGUÉ. As forças da 3.ª CCAÇ regressaram da acção “OLINDA”, sem terem conseguido detectar qualquer passagem no R. LENGUEL.


Das minhas memórias:

21 de Julho de 1973 – (sábado) – Cumbijã: Carta para a Metrópole. 

[Depois de informar que os “crânios” têm intenções de nos mandar ao UNAL, base do PAIGC ainda mais importante do que Nhacobá, refiro com entusiasmo uma novidade]. “(...) tenho aqui um novo camarada que também já foi teu colega de curso. É um furriel e chegou aqui a Cumbijã no dia 15 deste mês, vindo directamente da Metrópole, até passou aí o S. João na Figueira. Chama-se Leiria e é de Buarcos, e eu lembro-me perfeitamente dele de quando tinha aulas contigo. Temos conversado horas seguidas. Ele já sabia que eu estava na Guiné, (disse-lho uma miúda daí), mas não imaginava que me vinha encontrar precisamente na Companhia onde fora colocado. Vou ver se consigo que ele fique no meu pelotão, pois sempre tive apenas dois furriéis e os soldados estão-se a apagar a olhos vistos: o meu grupo passou de 25 para 13 a 14 homens, porque a maioria está doente e, mesmo assim, o meu grupo é o maior. (...)”.

[O referido furriel nunca chegou a integrar o meu grupo. Mesmo na Companhia, acho que esteve pouco tempo, desconhecendo o rumo que levou. Muitos anos depois, já em Portugal, encontrei-o como Comandante. de um posto da GNR aqui perto da Figueira. Depois disso nunca mais o vi].

(Continua)

Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor

Poste anterior de 18 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15016: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (16): De 23 de Junho a 6 de Julho de 1973

terça-feira, 7 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14844: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (10): De 20 a 22 de Maio de 1973

1. Em mensagem do dia 3 de Julho de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 10.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74 

10 - De 20 a 22 de Maio de 1973

20 de Maio de 1973 – Da História da Unidade BCAÇ 4513:

20 - A CCAÇ 18 e a CART 6250 patrulham e reconhecem uma das diversas tabancas de NHACOBÁ. Permanecem ali e cerca das 20h00 são flageladas com Morteiro 82, sem consequências.

- O Comandante interino do Batalhão deslocou-se a NHACOBÁ para apreciar a evolução dos trabalhos de estrada.


Do meu diário – notas curtas.

20 de Maio de 1973 – (domingo). Mampatá.

Mampatá. Serviço ao aquartelamento. O problema de se comandar uma Companhia (?). O camarada Esteves foi evacuado para Aldeia Formosa por suposta fractura no ombro, motivada por lançamento de dilagrama.
[Recordo uma manhã em que um alferes de Mampatá se levantou cedo para ir com o grupo para os lados de Cumbijã, tendo eu ficado na cama mais um bocado. Quando me levantei estava a passar para Aldeia Formosa uma evacuação e, na altura, disseram-me que se tratava do alferes saído há pouco para o mato e que dormia no mesmo “quarto” que eu. Não recordo o nome Esteves].

Dia sem incidentes (?) na “frente”, apesar do estado psíquico das NT. (Vários dias a dormir no mato e a comer ração de combate). Casos de insolação tratados em Aldeia Formosa. Pessoal excitado por longa permanência no mato não tem energia, mas quer por tudo entrar em Nhacobá. Soube-se que os “cabeças” pretendem que se entre lá de qualquer forma. Na retaguarda há expectativa, ansiedade e revolta muda. Grupos dos “velhinhos” com cerca de 18 dias além da comissão normal. Vão ter muito que esperar.

Recebi à noite directiva de Aldeia Formosa para avançar com o meu GC e com o GC “velhinho” da CCAÇ 3400, para Cumbijã. Um grupo de Colibuia passa a substituir o meu na segurança à retaguarda. Más perspectivas para amanhã.

Hoje, dia sem incidentes. Apenas à noite o rumor distante dos obuses.


21 de Maio de 1973 – Da História da Unidade BCAÇ 4513: 

21 - Forças da CCAÇ 18 estabelecem contacto IN armado de AAutm, RPG e MORT 60 tendo sofrido 1 morto, 1 ferido grave e 2 feridos ligeiros e causado 5 mortos ao inimigo.

- Às 21h15 a CCAV 8351 e a 3ª CCAÇ são flageladas em NHACOBÁ com MORT 60 e 82 e RPG da direcção (GUILEGE 3 D 5-36/3 E 4-34/2 E 7-38) sem consequências.

- O CMDT INTº do Batalhão deslocou-se a NHACOBÁ para apreciar a evolução dos trabalhos de estrada.


Do meu diário – notas curtas: 21 de Maio de 1973 – (segunda-feira). Cumbijã.

Cumbijã. Em princípio ainda não é desta vez que iremos para a frente (Nhacobá). O meu grupo ficou hoje aqui em Cumbijã de reserva e o grupo “velhinho” da CCAÇ 3400 de Nhala ficou de serviço.

Hoje os grupos na frente entraram em Nhacobá e houve recontro grave: morreu um soldado da 18 (Aldeia Formosa) e houve vários feridos graves, entre eles, um alferes com estilhaços na garganta.

O dia foi cansativo e aqui as condições são más: esta base, erguida a punho pela 51, não estava preparada para tanta tropa. Penaliza os que estão de passagem e, mais ainda, os que nos hospedam e tiveram de a construir. Contamos passar cá mais um dia. À noite Guilege foi atacada bem como Nhacobá, onde ainda não temos tropas fixas. Pela primeira vez ouvi tão perto um ataque de canhão e morteiro. Durou uns quinze minutos, tendo entrado em acção, como resposta, os obuses de Cumbijã, assim como o 14 de Colibuia.

Foto 1: 1973 - Cumbijã: Eu, acabado de chegar com o meu grupo de um patrulhamento onde cacei uma galinha-do-mato. E deixei fugir o seu par... Esse camuflado tresandava e, se me rio, deve ser a pensar no jantar melhorado.

Foto 2: 1973 - Cumbijã: Após um temporal, soldados da minha Companhia (2.ª CCAÇ) junto de coisas pessoais destruídas.

Foto 3: 1973 - Cumbijã: O alferes A. C. P. observa os estragos com o pessoal.

Foto 4: O alferes A. C. P. (e o alferes T. B. por trás dele), tentam animar o pessoal.

[Quando entrei em Cumbijã pela primeira vez, em data anterior a esta, foi-me explicado no terreno por um camarada da CCAV 8351, como foi erguer e ocupar aquele espaço agreste, traiçoeiro e minado, quase encavalitado nos terrenos do PAIGC: ia ser, e foi, o aquartelamento mais próximo de Nhacobá, e essa proximidade conferiu-lhe um alto risco de confrontos e flagelações. Isso teve custos altos, inclusive de vidas humanas, mas não afectou o ânimo dos que esticaram o arame farpado, abriram valas, ergueram postos de vigia e acomodações, estando sempre prontos para a sua defesa e para as incursões a que eram obrigados um pouco por toda a zona. Daí que, desde o primeiro dia, tivesse ganho um sentimento de admiração e respeito pelos Tigres de Cumbijã e em especial pelo seu comandante, Cap. Vasco da Gama que, soube eu na altura, tanto era capaz de dizer “não” aos seus superiores na defesa da sua Companhia, como era capaz de a galvanizar para a realização daquilo que, de facto, tinha de ser feito. Perturbava-me reparar que, apesar disto tudo, a “51” – como nós a chamávamos – não era poupada nas missões conturbadas daquela época. Às vezes parecia-me que era bem ao contrário. Aliás, é justo referir que de igual modo aconteceu com os “Unidos de Mampatá” (CART 6250) e com a CCAÇ 18 de Aldeia Formosa com quem, mais de uma vez, partilhei o chão de Nhacobá sob a inclemência das flagelações. Não digo isto, hoje, para ser agradável a quem quer que seja, mas porque é de toda a justiça que o diga, e por ter sabido sempre que o acolhimento que me dispensaram e aos demais grupos de reforço, quer em Mampatá quer em Cumbijã, foi o melhor possível para aquelas circunstâncias.

Esta época difícil marcou-me para sempre. Na qualidade de “periquito” e posto pela primeira vez perante tropa com esta tarimba, - experimentada e sacrificada -, (devo referir que a CCAÇ 3400 de Nhala nos confessou que tinha passado toda a comissão sem problemas), comecei a pôr-me “em guarda”, endurecendo e preparando-me para tudo. Foi por estas alturas e nos tempos que se seguiram que comecei também a conhecer-me melhor. [Grande confissão!]. Fui descobrindo, aos poucos, coragens ignoradas - daquelas que, devido às situações, não dá para confundir com fanfarronices ou bravatas -, maior sentido de responsabilidade e, até, maluqueiras de que não sabia ser capaz. Muita dessa “renovação” da personalidade e amadurecimento, ficou-me até hoje. Para o bem e para o mal].


22 de Maio de 1973 – (terça-feira) – Cumbijã

Hoje o meu grupo de combate ficou de serviço ao aquartelamento mas, por falta de pessoal, teve que fazer também de reserva. O pessoal está a ficar esgotado e desmoralizado: refeições fora de horas, excesso de trabalho, excesso de calor e falta de higiene. Ninguém tem outra roupa para vestir, nem um simples sabonete e uma toalha. Nem dinheiro: do que trouxe, já emprestei ao meu pessoal mais 1.500$00.

Hoje entrámos em Nhacobá para trazer o pessoal da Engenharia e as tropas que lá se encontravam. Aquilo é pequeno [? A base militar e a tabanca não era um conjunto pequeno], e bem no interior da floresta, com uma enorme bolanha do outro lado (oposto ao da nossa entrada). A orla da mata do outro lado da bolanha e na nossa frente, não controlamos. É daí que flagelam as tropas em Nhacobá.
Agora está tudo calmo, embora inspire respeito e recomende precauções. Os soldados já trouxeram de lá recordações (roncos), galinhas, cabras e fruta, só falta trazer o arroz que se encontra em grande quantidade em recipientes toscos.

Meteu-me bastante pena [!] ver a maquinaria revolver aquelas terras, destruir as galerias, abrigos e instalações subterrâneas na parte militar. Para ali se fazer mais um destacamento nosso. É evidente que o interesse é só estratégico e talvez estejam a pensar prosseguir com a estrada que ali chegou, para destinos mais ousados: talvez o Unal ou mais além, tudo controlado pelo PAIGC.

À noite, mas desta vez mais cedo, houve novo ataque IN com canhões aos locais de ontem. Mais uma vez, as nossas peças a responder.

Foto 5: 1973 - Nhacobá: Um aspecto da tabanca bem no interior da floresta e o alferes A. C. P.

Foto 6: 1973 - Nhacobá: Aspecto da tabanca vendo-se alguns recipientes onde guardavam o arroz.

Foto 7: 1973 - Nhacobá: Abrigo antiaéreo subterrâneo camuflado por um “telhado” de palhota.


 Fotos 8 e 9: 1973 - Nhacobá: Entrada de abrigos pouco antes de serem destruídos pelas máquinas da Engenharia.

Foto 10: 1973 - Nhacobá: Orla da mata junto à grande bolanha. À esquerda o Furriel J. C. a comer com o Furriel M. C.


Fotos 11 e 12: 1973 – Nhacobá: Vista da grande bolanha a partir da orla da mata. Era do outro lado, na orla que se vê ao fundo, que os guerrilheiros nos atacavam, sobretudo com canhões e morteiros, sempre que nos pressentia em Nhacobá.

(Continua)

Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14813: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (9): 16 a 19 de Maio de 1973

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14727: Tabanca Grande (467): José João Braga Domingos, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (Colibuia, Ilondé e Canquelifá, 1973/74), 691.º Grã-Tabanqueiro

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo tertuliano José João Braga Domingos, ex-Fur Mil At Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516 (Colibuía, Ilondé e Canquelifá, 1973/74), com data de 3 de Junho de 2015:

Caros Camaradas
Já há alguns anos que frequento o blogue para criar ainda mais saudades.
A sua existência é uma excelente ideia e agradeço reconhecidamente aos que cuidam da sua manutenção.
Reparei que existe pouca participação do pessoal que esteve na Guiné em 1973-1974 (talvez por acharem não ter cumprido o que esperavam deles). Por isso, puxei pela memória e mais de 40 anos depois fiz uma resenha da passagem da minha Companhia (e de mim próprio) pela Guiné.
Se lhe encontrarem algum mérito façam dela a utilização que entenderem.
Quase trinta anos depois do regresso esta Companhia reuniu-se pela primeira vez num convívio e foi formidável. Temos continuado a encontrar-nos e no próximo dia 6 de Junho lá estaremos na Quinta das Carrascas, Carrascas, Alcobaça.

Um abraço
José João Domingos
Ex-Fur Mil At Inf

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BCAÇ 4516 - 2.ª CCAÇ

Esta descrição tem com certeza alguns erros e omissões. As recordações são as de cada um e as versões do mesmo facto serão tantas e tão diversas quantos os seus narradores. Por isso mesmo, não consultei qualquer documentação ou camarada para validar o que escrevi que saiu apenas da minha memória ou da falta dela.

Após formação do Batalhão no RI 15 em Tomar, embarque em Alcântara, no navio “Niassa”, no dia 6 de Julho de 1973 com destino à Guiné. Despedida com a presença de uma multidão de familiares, namoradas e amigos dos militares que partiam.

No barco boas condições de alojamento, higiene e alimentação que, com o decorrer dos dias, se iam nitidamente degradando. Por outro lado, as diferentes condições de transporte dos militares das várias patentes não potenciavam o espírito de grupo indispensável a quem ia viver dois anos em circunstâncias muito duras.

Chegado ao porto de Bissau, após escala no Funchal para receber uma Companhia Independente, uma semana depois, sexta-feira 13 de julho de 1973.

Largas horas entre o fundear do navio (não acostou), em que se processou a distribuição de correio e à desinfestação do navio, e o desembarque para uma LDG com destino a Bolama.

O BCAÇ 4516 estava destinado a Teixeira Pinto mas tinha havido alteração na distribuição das tropas e ficaria como unidade de intervenção. A divisa do Batalhão era “Firmes e Constantes”.

Instalado na LDG, no meio de grande confusão de bagagem, indaguei junto de alguém da tripulação pelo local de satisfação das necessidades básicas e, obtida a resposta, conclui que tinha chegado à guerra.

A LDG de vez em quando andava uns metros mas, meia dúzia de horas depois, ainda víamos as luzes de Bissau. Já clareava quando, finalmente, se pôs a caminho tendo chegado a Bolama cerca do meio-dia.

O desembarque foi um quadro surrealista. Apareceram dezenas de crianças negras propondo-se transportar as bagagens dos militares até ao quartel, que era próximo, a troco de uns pesos. Era doloroso vê-los a arfar debaixo de malas maiores do que eles, sendo frequente os donos das malas pagar-lhes e fazerem eles o serviço. Entretanto, aqueles que não tinham arranjado cliente colocavam-se ao lado dum recém-chegado que transportasse um saco de plástico e, subrepticiamente, no meio da barafunda, com as unhas iam produzindo rasgões no saco até que o seu conteúdo caísse no chão após o que em bando disputavam os despojos.

À vista de uma cidade que tinha sido capital da Guiné Portuguesa fiquei dececionado e perguntei-me que civilização, após 500 anos de domínio, apenas consegue produzir uma cidade daquelas, com edifícios degradados (o hotel, residência dos oficiais, estava escorado) e as ruas sem asfalto. Salvava-se a piscina, junto ao mar, o quiosque perto da entrada onde se bebia um café manhoso e o restaurante do cabo-verdiano onde se comia leitão (já velhote) muito mal escanhoado.

O patriotismo que levava na bagagem: o meu respeito pela nossa bandeira, o arrepio que sempre me causava a audição do hino nacional e o meu orgulho de ser português, contra tudo e contra todos, levou um forte abanão.

Um mês em Bolama a tirar a IAO deu-nos mais preparação do que toda a instrução na Metrópole, em particular para adaptação ao clima na época das chuvas. A experiência com a época seca viria mais tarde e foi bem mais dolorosa pois as noites no mato faziam abanar o corpo todo e as consequências estão hoje bem presentes.

No dia 3 de Agosto de 1973, dia de festa do PAIGC, fomos brindados com cerca de uma dezena de disparos de morteiro 120mm que causaram sete ou oito vítimas mortais, entre militares e população. Só por sorte não aconteceu uma tragédia ainda maior pois o pessoal estava preparado para o jantar e algumas das granadas explodiram bem perto do aquartelamento. O obus do CIM retaliou passada mais de meia hora sendo provável que os autores já estivessem bem longe. Por precaução, fomos dormir para a mata nos arredores da cidade.

Durante a instrução o general Spínola deslocou-se a Bolama para receber o BCAÇ 4516, na presença dos representantes das forças vivas locais, com uma parada de tempo exagerado e alguns desfalecimentos. Na reunião com oficiais e sargentos, realizada no tal hotel, lembro-me bem do general Spínola dizer, entre outras coisas que não fixei, que “a guerra em África não se mantinha devido aos grandes rasgos de visão da retaguarda”.
De facto, era claro que aquela guerra não tinha saída para o nosso lado. A conquista de populações tão diversas teria que ter sido feita muitas décadas atrás se o País tivesse gente com visão no seu comando. Por outro lado, a concessão da independência traria consequências para os territórios mais apetecíveis sob o nosso domínio. Também o final da guerra do Vietname iria com certeza trazer problemas acrescidos para as nossas tropas por maior disponibilidade dos fornecedores de armamento.

Na segunda quinzena de Agosto lá fomos de LDG para Buba, com destino ao setor de Aldeia Formosa (Quebo). O caminho entre Buba e Aldeia, com paragem em Nhala e Mampatá, demorou uma eternidade para um periquito mas perfeitamente normal para o resto do pessoal, atendendo à época das chuvas.

Chegados a Aldeia pôs-se a questão do aboletamento tendo o pessoal ficado muito mal instalado nos primeiros dias, em sobreposição com o BCAÇ 4513.

Passados dias fomos integrados numa força militar conjunta para efetuar uma operação, creio que o nome era “Operação Pertinente”, cujo objetivo era chegar ao Unal. Para além do BAÇ 4516 entraram na força uma CCAV e outra do BCAÇ 4513.
Foram 4 dias de operação a partir de Buba, com chuvadas intensas, cujo objetivo não foi alcançado tendo apenas servido para treino operacional do BCAÇ 4516.
No regresso o primeiro paludismo e, em poucos dias, 10 kg a menos.

E lá fomos todos distribuídos pelo setor de Aldeia: 1.ª CCAÇ: Cumbijã; 2.ª CCAÇ: Colibuia e 3.ª CCAÇ: Nhacobá. A CCS ficou em Aldeia.

Ficou, portanto, a minha companhia estacionada em Colibuia, tendo adstrito um pelotão de milícia e dispondo de um morteiro de 81mm. Fazíamos o patrulhamento diário da zona e, periodicamente, estacionávamos uma noite no mato. Os confrontos mais frequentes foram com as abelhas. Diariamente procedíamos ao abastecimento de água numa fonte entre Colibuia e Aldeia, cuja estrada era de alcatrão, num local particularmente exposto a ataques o que obrigava a medidas de segurança rigorosas.

O aquartelamento não teria maior área que um campo de futebol sem bancadas e o telhado das casernas era em chapa de zinco tornando-as um forno a energia solar. A segurança do perímetro era feita com duas fiadas de arame farpado e, no meio, alguns fornilhos. Mas, finalmente, tínhamos a nossa casa.

A comida era péssima e escassa, não existindo alternativa no aquartelamento. Nestas condições, não faltavam clientes para o posto médico de Aldeia.
Contudo, se houve tempo em que senti grande liberdade em relação ao espartilho militar foram esses dois meses. Ninguém se preocupava com o tamanho do cabelo e da barba, com o ataviamento e com a ordem unida. Tomar banho era uma necessidade diária cuja concretização tinha alguma coisa de épico pois, devido à escassez de água, o caudal saído do buraco do depósito da água (que não chuveiro porque gastava mais) era pouco superior à baba de um menino o que permitia que se fumasse durante o banho, entre o acto de molhar e o de ensaboar, quando se dava a vez a outro.

Em Outubro, substituídos pela 3.ª CCAÇ, deslocámo-nos para Bissau (Adidos), durante alguns dias, tendo sido depois colocados no Ilondé, entre Bissalanca e Quinhamel, em tendas de campanha, sem latrinas, tendo sido aberta uma vala para onde as tropas defecavam directamente, e sem refeitório, sendo a comida feita e distribuída ao ar livre. O tempo passado até serem construídas as latrinas e os chuveiros dava para uma longa metragem de situações caricatas.

Passámos a fazer segurança às colunas de Bissau para Farim, às quintas-feiras, com paragem em Mansoa, Cutia, Mansabá e K3, tendo substituído uma companhia de açorianos que, já com a comissão cumprida, estava a ser bastante castigada. Uma das colunas estendeu-se a Guidaje e vimos bem as sequelas dos ataques de Maio de 1973 quer materiais quer psicológicos com destaque para as campas de algumas vítimas daquela acção que, creio, repousam hoje nas suas terras de origem, graças ao trabalho de camaradas que não os esqueceram e a quem presto homenagem.
Participámos ainda em várias operações no terreno e fizemos segurança entre Bissau e Mansoa ao Ministro do Ultramar.

Entretanto, a 1.ª CCAÇ foi para Binta fazer segurança à construção da estrada Binta-Guidage e a 3.ª CCAÇ foi para o Ilondé em trânsito para Canquelifá. A CCS ficou no Ilondé.

Em Fevereiro/Março de 1974 estive de férias na Metrópole. Estava em Lisboa quando se deu o levantamento das Caldas da Rainha em 16 de Março e, embora sem êxito, deu para perceber que alguma coisa estava finalmente a mudar. No regresso de férias trouxe na mala um exemplar do livro “Portugal e o Futuro” de autoria do general Spínola.

No final de Março nova mudança, agora para Canquelifá, a substituir a 3.ª CCAÇ que passou lá um mau bocado. Outro buraco, sem comida e sem água potável.

O segundo paludismo, em poucos dias menos 10kg e, na recuperação, uma peritonite que me mandou evacuado para o HM 241 de Bissau, e cujo tratamento correu muito mal. Esta evacuação, a 20 de Abril de 1974, dava também um filme pois evacuado de helicóptero em Canquelifá pelas 12h00 cheguei ao HM pelas 20h00 horas, após paragens em Nova Lamego (para um salto de pára-quedas) e Bambadinca (para receber correio e lanche). Com um peso de 80kg à chegada trouxe 53kg à partida.

No Hospital, ainda nos cuidados intensivos, tomei conhecimento do 25 de Abril. Foi uma alegria enorme plena de esperança em dias melhores para nós e para o nosso País.
Seguiram-se dias de grande expectativa cheios de bocas e palpites que confundiam os que não estavam por dentro da revolução.

Por mero acaso, estava nos Adidos, assisti a uma reunião feita na parada de Brá, com o pessoal dos Comandos africanos, na altura da sua desmobilização, onde lhes foram prometidos benefícios e protecção que, foi depois voz corrente, teriam sido esquecidos.

A minha Companhia regressa de Canquelifá e passa a fazer segurança a Bissau até à independência da Guiné-Bissau em Setembro de 1974.

Em linhas gerais está aqui um pouco da minha história e da 2.ª CCAÇ do BCAÇ 4516.

Foram tempos difíceis mas ficaram recordações para toda a vida, boas e más, tristes e alegres. Talvez um dia me disponha a contar alguns episódios a que assisti e que representam bem a forma como os portugueses são desenrascados ou, antes, como encontram soluções para resolver problemas em contextos complicados.

Gostaria de destacar ainda alguns factos que considero muito importantes na estadia desta Companhia na Guiné:

1 – O seu comandante, capitão miliciano, foi muito competente na defesa dos seus homens e no trabalho operacional.

2 – Todos comiam do rancho, sendo que os soldados comiam primeiro e o que restava era para oficiais e sargentos.

3 – Estando definido o custo unitário de cada refeição, nunca percebi porque comíamos tão mal (estivemos quase sempre dependentes de outros em matéria de alimentação) e outros que fomos conhecendo comiam bem melhor.

Pessoalmente, adorei o povo da Guiné que considero puro e justo apesar de notar aqui e ali a influência perniciosa oriunda da Metrópole. Acho, também, que aquela terra se entranha em nós (ou nós nela) e, apesar das condições difíceis, sinto que ainda hoje a tenho em mim.




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2. Comentário do editor

Caro camarada Domingos
Desde já, bem aparecido na Tabanca Grande, escolhe um lugar sob o nosso poilão e dispõe-te a cumprir a promessa que fazes: Talvez um dia me disponha a contar alguns episódios a que assisti e que representam bem a forma como os portugueses são desenrascados ou, antes, como encontram soluções para resolver problemas em contextos complicados.

Como referes, há algum défice de memórias da nossa presença na Guiné depois do 25 de Abril até à nossa retirada, talvez porque da parte de quem viveu esses tempos haja uma espécie de conflito de interesses, por um lado os momentos difíceis vividos antes da revolução e por outro a euforia do fim da guerra que contrastará com um sentimento de missão não cumprida. Não sei se pensas assim.
No vosso tempo havia já muita malta com convicções e ideais contra a guerra colonial, que ficaram contentes com o desenrolar da situação, e outros camaradas que por formação ideológica ou suposto dever patriótico talvez ficassem frustrados com aquela retirada sem glória.
Acredito que em muitas Unidades a indisciplina imperasse, pois já ninguém teria mão nos militares que queriam regressar depressa a casa e esquecer aquele pesadelo.

Como vês há aqui muita matéria da qual te podes valer para desenvolver a tua colaboração.

Aqui fica um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores Luís Graça, Eduardo Magalhães e eu próprio.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14705: Tabanca Grande (466): Joaquim Fernando Monteiro Martins, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4142 (Ganjauará, 1972/74) - 690.º Grã-Tabanqueiro

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13212: (In)citações (65): Salvemos o elefante africano que 40 anos depois do fim guerra volta a percorrer o corredor de migração de Gandembel, Balana, Cumbijã e Colibuía na época das chuvas!

1. Mensagem do nosso amigo Nelson Herbert Lopes, jornalista da Voz da América (VOA)

De: Nelson Herbert

Data/hora: 29 mai 2014 15:40

Assunto - Elefantes


Quatro dácadas volvidas sobre o fim da guerra pela independência, "elefantes" repovoam mitica floresta de Cantanhez... no Sul da Guine Bissau !

Anexo foto recente (Abril 2014) do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) da Guine Bissau !

Pepito ia adorar saber disso ! (*)



Imagem de um elefante, captado pelo IBAP - Instituto de Biodiversidade e das Áreas Protegidas, da Guiné-Bissau, no dia 1 de abril de 2014, às 17h53. Imagem enviada pelo Nelson Herbert Lopes, sem indicação de fonte. Em princípio, é uma foto automática, tirada por uma câmara especial, "Moultrie", usada para fotografar a vida selvagem... A temperatura ambiente era de 30º.. Estamos no fim da época seca (abril)... (LG)


2. Recortes de imprensa


(i) IBAP confirma presença de elefantes nas florestas da Guiné-Bissau

2014-05-27 13:33:20

Bissau – O Instituto de Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) confirmou a existência, nas florestas da Guiné-Bissau, de animais de grande porte, concretamente na região de Quinara, sector de Buba.

Em comunicado de imprensa que a PNN consultou, esta instituição indicou que, em Fevereiro de 2014, a Direcção do Parque Natural das Lagoas de Cufada foi informada da presença de elefantes nas matas de Sintchã Paté [,entre o Quebo e Xitole], tendo uma equipa do IBAP deslocado-se ao local para confirmar estas informações, onde se observou a presença de elefantes a 6 de Fevereiro, pelas 18.30 horas.

De acordo com os habitantes da povoação de Sintchã Paté e de Samba Só, trata-se de uma pequena manada composta por três animais, dois adultos e uma cria, que se encontram bloqueados numa área restrita com condições favoráveis à sua sobrevivência, dotada de água e alimentos, pois o corredor de migração habitualmente utilizado foi bloqueado devido ao corte de madeira.

Na sequência da presença do primeiro grupo destes animais, a ocorrência foi novamente confirmada em Abril, pelos técnicos do IBAP através da instalação de câmaras de vigilância ultravioleta nas florestas, que conseguiu captar imagens de um casal de elefantes na lagoa de Caruai, Balana, Parque Nacional de Cantanhez.

O instituto informa ainda que esta manada de elefantes parece localizar-se numa zona muito limitada, com frequentes migrações entre a República da Guiné-Conacri e a Guiné-Bissau, em busca de água e alimentos. O elefante africano é o maior mamífero terrestre conhecido. Está classificado na Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza na categoria de animais ameaçados de extinção e também consta no anexo I da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas. (...)

(c) PNN Portuguese News Network

[Excerto, reproduzido, com a devida vénia,  de Jornal Digital - Notícias em Tempo Real]


(ii) Alguns excertos da  nota informativa do IBAP que  foi reproduzida no sítio da IUCN - União Interncional para a Conservação da Natureza:




A época de migração destes elefantes para a Guiné-Bissau (regiões de Quínara e Tombali), em busca de água e alimento,  começa no início das chuvas, em maio e vai até novembro, altura em que voltam  à Guiné-Conacri, para a zona do Rio Kogum (Bouliagne) onde se supõe que se encontra o resto da população. (**)














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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12324: Ser solidário (154): Já corre água na Tabanca do Poilão do Leão (José Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, QueboMampatá e Empada, 1968/70), com data de 20 de Novembro de 2013:

Caríssimo amigo Carlos Vinhal.
Mais uma boa notícia para colocares no blogue.
Há mais uma tabanca na Guiné em festa.

Abraço
J.Teixeira


Já corre a água na Tabanca do Poilão do Leão

A tabanca do Poilão do Leão fica a norte do Rio Cacheu, numa região extremamente isolada. Tem cerca de 370 habitantes na sua maioria da etnia cobiana ou caboiana e 97 crianças frequentam a escola construída recentemente pelo Comité do Estado sediado em S. Domingos com o apoio da Associação  ELX. A água para beber e cozinhar, iam buscá-la, como infelizmente é muito comum na Guiné-Bissau,  a cerca de 3 quilómetros de distância.

A etnia cobiana muito próxima da etnia cassanga, com os mesmos usos e costumes e com muitas parecenças linguísticas, é das que atualmente tem menos população e corre o risco de desaparecer a curto prazo. Em 2002 eram cerca de 650 pessoas.

Dado o isolamento em que se encontra, com difíceis condições de acesso, falta de água potável para beber e para desenvolver horticultura, a falta de assistência à saúde, etc, acentua-se a tendência da juventude para a fuga com destino às grandes cidades.

Uma das formas de combater o êxodo é melhorar as condições de vida, sobretudo na saúde, sendo a água um dos fatores fundamentais.

A Tabanca Pequena, com o apoio de ex-combatentes, seus familiares e outros amigos da Guiné-Bissau,  juntou o capital necessário para mandar abrir,  junto à escola, um poço equipado com bomba de imersão movida a energia solar, cujo painel solar foi oferecido pela ONG Alemã Tabanka.

A água já corre em jato, para alegria da população local e subúrbios. O fontenário que via ser construído vai facultar água de melhor qualidade a cerca de 700 pessoas, da tabanca e redondezas. Este é o sexto poço de água que a Tabanca Pequena com a ajuda de ex-combatentes, construiu na Guiné-Bissau.

Completado um projeto, pensa-se no seguinte. O próximo poço será aberto em Colibuia,  na Mata do Cantanhez, por onde andou o nosso amigo e camarada Vasco da Gama.

A Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau apela à colaboração dos camaradas que passaram pela Guiné para que contribuam para este projeto.

Texto e fotos: José Teixeira (2013)




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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12214: Ser solidário (153): Expedição solidária Dakar Desert Challenge arranca de Coruche, em 26/12/2013, e apoia a AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau. Inscrições até 31 do corrente.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7845: Álbum fotográfico de Vasco da Gama (ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) (2): Aldeia Formosa, 1973; Cumbijã, 1974


Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > Janeiro de 1974  > Foto 12> Da esquerda, Califa, o homem mais velho de Aldeia Formosa com 83 anos de idade, Aliú, chefe da antiga Tabanca do Cumbijã, eu, Sekúna (filho do Cherno Rachide, há pouco falecido, e seu herdeiro no "posto") e o Cherno da República do Senegal ( irmão do falecido Cherno Rachide).


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > Foto 9 >  Com alguns homens grandes de Aldeia. O que tem a "seta" na mão é o Califa, o homem mais velho de Aldeia Formosa e antigo chefe religioso. [Em Janeiro de 1973, o Cherno Rachide ainda era vivo, tendo presidido, em Aldeia Formosa,  à "festa do carneiro" ]. 




Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > Foto 13 > A população,  na sua maioria constituída por "homens grandes",  segue a leitura do alcorão pelo Cherno Rachide. Os fatos que envergam não os usam habitualmente mas só em dias festivos como o "Ramadão" ou "Festa do Carneiro", que significa para eles o início de um Novo Ano. 



Fotos (e legendas): © Vasco da Gama (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


Mais três fotos do álbum do Vasco da Gama (ex-Cap Mil, CCAV  8351, Cumbijã, 1972/74), disponibilizadas ao Pepito e, através deste,  ao seu amigo Califa Aliu Djaló, filho do falecido Cherno Rachide) (*). 


Recorde-se, aqui, entretanto, as andanças da CCAV 8351 (1972/74) por terras da Guiné, e em especial na Região de Tombali:






(i) Cumeré,  entre 27 de Outubro e 15 de Novembro de 1972;  


(ii) Aldeia Formosa,  desde Novembro de 1972 até inícios de 73; 


(iii) a partir daqui, "dormíamos no mato na zona de Colibuía (desértica) quatro vezes por semana"; 


(iv) "ocupámos o Cumbijã em Março de 1973 e ficámos lá até finais de Junho de 1974";


(v)  O Vasco e os seus homens ainda estiveram em NHACOBÁ: "depois de ter assaltado este local em 17 de Maio de 1973, estivemos lá, dia sim dia não, recebendo ordens para aí nos  fixarmos em definitivo a 23 de Maio, e tendo abandonado esse local  às 22h00 do dia 24 de Maio após ordens superiores"); 


(vi) finalmente em Bissau,  em Julho e Agosto de 1974.
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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7747: Tabanca Grande (266): Nuno Dempster, autor do poema K3, agora publicado em livro, ex-Fur Mil SAM, CCAÇ 1792 (Saliquinhedim/K3, Mampatá, Colibuía e Aldeia Formosa, 1967/69)






Capa do livro de poesia, K3, de Nuno Dempster (Lisboa: &etc, 2011, 63 pp). Sinopse: "Nuno Dempster (autor de Londres, ed. & etc) revisita o Horror. Felizmente para elas, as jovens gerações (também de poetas) desconhecem esse Horror que foi, para quem o sofreu nos ossos e no que houvesse de alma, a Guerra Colonial. Algures na Guiné e algures num quartel subterrâneo: o K 3. Nossa palavra: não conhecemos, na literatura sobre o tema, tão fundo, tão magistral testemunho desse Horror. Elegia, catarse, contrição, K 3 combate o esquecimento".


Dedicatória do autor à nossa Tabanca Grande: "Para o Luís Graça &  Camaradas da Guiné, todos meus companheiros nesta guerra que em muitos ainda está por digerir, com o afecto e a camaradagem do Nuno Dempster. 3/2/2011. Na Guiné, de [1967-1969,], no K3, Mampatá, Colibuía e Quebo (Aldeia Formosa), por esta ordem".






Um excerto do belíssimo longo poema K3 que se lê de um fôlego...

Fotos: © Nuno Dempster (2011). (Com a devida vénia...)






Guiné > Zona Leste > Gabu > Canjadude > CCAÇ 5 (1973/74) > Canjadude, a Ilha dos Amores. Ou: os tugas e a psico... E no meio, uma bajuda fula, linda de morrer, objecto de desejo... Sob o olhar vigilante da mamã, e rodeada dos manos mais pequenos... Repare-se como os tugas, passada a primeira surpresa da exposição ao nu étnico, se apoderaram rapidamente do termo psico e deram-lhe uma outra conotação... mais épica, mais erótica, mais camoniana...

Foto: © João Carvalho (2006). Direitos reservados

1. Mensagem, de 1 do corrente, do nosso camarada Nuno Dempster, que mora em Viseu [ foto à esquerda, retirada da sua página no Facebook]... O Nuno Fur Mil SAM, ou seja, vaguemestre, da CCAÇ 1792, a companhia dos lenços azuis, que andou por Farim, Saliquinhedim/K3, a norte, mas também, Mampatá, Colibuía e Aldeia Formosa, a sul... Pertenceu ao BCAÇ 1933 (Nova Lamego, Bissau, S. Domingos). A CCAÇ 1972 teve 3 comandantes:  Cap Mil Art Antóno Manuel Conceição Henriques (que ficaria sem as pernas numa mina A/C);  Cap Art Ricardo António Tavares Antunes Rei, Cap Inf Rui Manuel Gomes Mendonça. A companhia foi mobilizada pelo RI 15, tendo partido para a Guiné em 28 de Outubro de 1967 e regressado à Metrópole em 20/8/1969.

O Nuno tem três livros de poesia publicados: Londers, Dispersão, K3. É engenheiro técnico agrícola (trabalhou em cooperativas, é hoje empresário). Nasceu em São Miguel, Açores (donde é originária a família paterna, enquanto a família materna é de Amarante). Vive em Viseu. E vem pedir para se sentar sob o poilão da nossa Tabanca Grande.

Caro Luis Graça:

Além de eu ter estado também na Guiné, em [1967-69], na CCaç 1792 / BCAÇ 1933 (no K3  durante seis meses, ainda o aquartelamento era semi-subterrâneo, e depois em Mampatá, Colibuia e Quebo), julgo termos algo mais em comum. Uma amiga minha, que está a doutorar-se com uma tese sobre a obra do meu avô paterno Armando Côrtes-Rodrigues [1891-1971], de S. Miguel, Açores, onde também nasci, disse-me que tinha notícia de que Luis Graça (que pode ser outra pessoa) recebera das mãos do meu avô dois livros da sua autoria quando da partida para a Guiné.



Se assim for é uma razão acrescida para o que aqui me trouxe. Se for outra pessoa, o objectivo permanece intacto, que é o de solicitar-lhe que me envie uma direcção para lhe oferecer o meu livro K3, constituído por um só poema, em que abordo a minha experiência da guerra em que estivemos. 


O livro foi publicado pela &etc,  uma editora de referência em poesia, caso a não conheça já. Estará disponível a partir do próximo dia 3 nas livrarias do país, incluindo as da cadeia da FNAC e da Bertrand. Julgo que também será do interesse dos nossos camaradas que escrevem no seu blogue. 


O motivo deste email não é material, pois já recebi o que tinha a receber, em livros, que entretanto vão já chegando ao fim, nenhum vendido, só oferecidos. Por outro lado, a editora não faz mais edições que a primeira de cada obra. Quero com isto significar que o meu interesse é partilhar com os meus camaradas de guerra a minha experiência e esperar que seja um testemunho da guerra colonial, de resto até hoje único em livro de poesia, sobre o nosso sacrifício, que o foi para muitos de nós.


Se, caso aceitar receber o livro e depois de o ler, achar pertinente a sua divulgação no blogue, ficar-lhe-ei agradecido. Gostaria entretanto que me confirmasse por favor se é a mesma pessoa que refiro acima.

Mando a imagem da capa do livro em anexo, cuja ilustração é da autoria da pintora Maria João Fernandes. De algum modo já aponta o que está nas páginas. Envio igualmente um link sobre a editora, no caso de o Luis Graça a não conhecer.

http://bibliotecariodebabel.com/blogosfera/eles-etc/


 
Com os meus cumprimentos e na expectativa de uma resposta,
Nuno Dempster



2. Resposta de L.G., com data de 3 do corrente:

Nuno: Antes de mais os meus parabéns pela coragem de editar um livro de poesia sobre a experiência da guerra da Guiné. E em segundo lugar pelo teu gesto, "camarigo", de me mandares um exemplar do teu livro (e já agora com uma dedicatória, autografada, a todos os membros, que já vão a caminho dos 500, do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné). 

Tomo a liberdade de te tratar por tu por termos, para além da geração, mais duas coisas em comum: a Guiné e a poesia. Infelizmente não conheci o teu avô, a não ser de nome. Há mais pessoas com o nome Luís Graça, na nossa praça: o Luís Graça, obstetra e ginecologista, director  do  departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital Santa Maria, e meu colega da Faculdade de Medicina; o Luís Graça, escritor, jornalista, cronista, crítico literário,  também bloguista (que não conheço pessoalmente)...

Aqui tens o meu endereço: Prof Dr Luís Graça, Gabinete 3A 42, Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, 1600-560 Lisboa

Telefone (gabinete): 21 751 21 93 / telemóvel: 93 141 5277.

Tomei boa nota do teu blogue, que prometo revisitar com mais atenção. Gostaria de ter o teu nome na lista alfabética dos membros do nosso blogue. Votos de bom sucesso para o teu livro e a tua poesia... Logo que receba um exemplar, farei a devida rencensão... e divulgação.

Um Alfa Bravo (ABraço)
Luis Graça

PS - Infelizmente ainda não temos ninguém da tua antiga companhia... Mas há referências, no nosso blogue, ao teu batalhão.

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/BCA%C3%87%201933

3. Resposta do Nuno, em 3 de Fevereiro de 2011 14:06:

Obrigado, Luis. A divulgação do livro entre os meus camaradas da infortunada guerra em que estivemos era o que eu mais desejava dele. Em muita coisa se hão-de rever, embora, forçosamente, a posição não seja em todos próxima da expressa no livro. O certo é que alguém nos deve esse tremendo sacrifício. O meu modo de receber esse crédito incobrável foi escrever o poema de que te dou no link abaixo uma das primeiras manifestações públicas, sendo embora do meu editor, Vitor Silva Tavares, que nunca vi expressar-se assim. De resto, deve ser raríssimo nele publicamente. É um jovem de 73 anos, vertical nas suas posições, com quem é muito grato estar a conversar e mais ainda a escutá-lo. É um homem mais que conhecido no meio, além de estimado e respeitado, de grande prestígio e também temido por não ter papas na língua. Enfim, um homem sério de que este país deveria orgulhar-se, através dos seus governos, coisa impensável, sei-o bem.

http://editoraetc.blogspot.com/2011/01/k3.html


Acho óptimo tutearmo-nos. Afinal era assim que nos trataríamos, se nos encontrássemos no tempo comum a ambos na Guiné.


Há uma referência à CCaç  1792 no teu / nosso blogue, que em boa hora descobri quando da busca de dados esquecidos sobre a Guiné, isto desde Março de 2010. Tenho-o nos meus favoritos, e continuo a visitá-lo com regular frequência. Vou hoje pô-lo nos meus links. Essa referência refere-se à importância do cabo mecânico, com quem me dava. Mais que a dele, porém, era a do furriel Ferreira. Era ele que desenrascava tudo, orientando a secção com inimaginável competência e inventividade. Morreu há uma dúzia de anos ou mais com uma cirrose alcoólica. Não se aguentou. Éramos amigos de petiscos e cervejão, e também de uma sortida a Bissau para calar, num corpo alugado, o nosso vigor de jovens.

Tenho muita honra em que conste o meu nome entre os quinhentos camaradas. O outro Luís Graça deve ser último que citaste.

O livro deve estar a manhã na direcção dada, segue hoje por correio verde, que tem a prioridade do azul. Ainda bem que me lembraste da dedicatória colectiva, pois seguiria apenas com o teu nome. Assim vai melhor, devo e julgo que todos devemos muito uns aos outros

Um Alfa Bravo, lembro-me bem, do grato

Nuno Dempster

P.S. Não tenho nem uma foto desse tempo, nem sequer minha, e tive muitas, que o cabo Simões tirava, com que juntou 400 contos no fim da comissão, o que daria para comprar 8 carros novos como o meu primeiro (um Fiat 850 http://www.netcarshow.com/fiat/1968-850_special/800x600/wallpaper_01.htm). Perdi-as nos trambolhões que a vida muitas vezes dá.

4. Segundo mail do L.G.:

Nuno: Posso, desde já tratar-te como "camarigo", um neologismo, nosso, que quer dizer camarada e amigo... Fico à espera do teu livro para fazer a devida apresentação, da obra e do autor... Confirma: afinal és da CCAÇ 1792 ("Os Lenços Azuis) e não da CCAÇ 1972 (como consta do teu 1º mail)... É isso ? Um abraço. Luís



5. Resposta do Nuno:

Data: 3 de Fevereiro de 2011 20:11

Assunto: Re: Ainda o k3 (precisando dados)


Camarigo, então. É a [CCAÇ] 1792, a dos lenços azuis, sim, e no blogue fala-se da coluna que trouxe os três obuses, que o poema, perto do final cita, sem pormenores. Demorou dois dias.

Recordei, no link que enviaste, o capitão Rei, de carreira, que teve a ideia dos lenços e que substituiu o capitão miliciano, cujo nome já não recordo, um homem lúcido, vítima de um fornilho, na estrada de Farim, uma das passagens mais intensas do poema [, Cap Mil Art António Manuel Conceição Henriques]. Isso sucedeu dentro dos seis primeiros meses do início, quando estávamos no K3. Até sairmos de lá, o aquartelamento ficou entregue ao alferes miliciano, segundo comandante, bem como em Mampatá e Colibuia, penso. O Cap [Art  Riacrdo António Tavares Antunes] Rei chegou já no tempo de Quebo.

Errei nos anos em que estive na Guiné, foram os de 1967-69, e não os de 1968-1970, infelizmente o que pus na dedicatória do livro, que já seguiu. De qualquer modo fica aqui a rectificação para eventual emenda. Em 1970 casei-me eu, em Março, e os meus três filhos nasceram quase sem descanso da mãe e foram feitos de propósito. Era o baby boom do fim da minha guerra.

Pouco tempo antes de partir para Bissau, para prepararmos a peluda, é que veio aquela tropa toda para Quebo (Aldeia Formosa, que de formoso nada tinha), com o pouco gramado Major Azeredo, braço do Spínola. Ainda me lembro do ar desasado dos periquitos da CCaç 2382 que nos rendeu. Metiam verdadeira pena.

Faltou-me dizer que o livro, que é barato (12 €), vi agora o preço, já está anunciado em algumas livrarias online, nomeadamente a Wook.


Não tenho foto do tempo da guerra, como disse, mas tenho uma mais ou menos recente, que é pública.

Alfa Bravo,
Nuno

6. Comentário de L.G.:

Nuno, estás apresentadíssimo. És bem vindo à nossa Tabanca Grande. Já falámos duas ou três vezes ao telefone. Teremos seguramente de nos conhecermos ao vivo, em carne e osso, um dia destes. Até lá, convido os nossos amigos, camaradas e camarigos da Guiné a ler, de um trago (como eu fiz), esta litania de seis dezenas de páginas, onde o poeta revisita, em viagem dorida e dolorosa, mas sempre alucinante, como se fora uma via sacra, os lugares onde sofreu e viu sofrer, matar e matar, do K3 ao Quebo... K3 é o poema que todos escrevemos, com sangue, suor e lágrimas.

Tudo começa estes três versos, com a evocação do alto navio negro que levou para a guerra (p. 7):

Que sabia eu do cais de Alcântara
que não tivesse lido
em romances de guerra ? (---)

Um poste com notas de leitura deste livvro será publicado oportunamente.

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Nota de L.G.:

Último poste desta série > 8 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7745: Tabanca Grande (265): José Figueiral, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/72)