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terça-feira, 8 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15832: Controvérsias (130): O "nosso Cabo Miliciano", que em 1965 ganhava 90 escudos de pré (34,24 euros, hoje), fazendo o serviço de sargento... (Mário Gaspar)


Artigo do nosso camarada Mário Gaspar, publicado na revista da ADFA, "Elo", de 15 de janeiro de 2016. Foi-nos na mesma altura também enviado para publicação no blogue. Ficou em lista de espera... 

Achámos por bem publicá-lo agora, na nossa série Controvérsias (*)... Por curiosidade, o 1.º Cabo Miliciano em meados dos anos 60, no tempo do Mário Gaspar, ganhava 90 escudos de pré... Ficam os nossos leitores a saber quanto equivalia essa importância hoje, em euros, conforme o ano: em 1960, 38,72 €; em 1965, 34,24€; em 1970, 25,64 €; e 1974, 14,58 €... Já em tempos recuados o nosso camarada Libério Lopes escreveu um poste semelhante (**), nesta série (que tem tido pouco uso, ultimamente) ...

1. Mensagem,  com data de 20 de janeiro de 2016,  do Mário Gaspar,

[Foto à esquerda: Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; lapidor de diamantes, reformado; cofundador e antigo dirigente da APOIAR - Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra]

Camaradas,

Enviei este texto para o Jornal ELO, e foi publicado. Se considerar ser de publicar no Blogue podem fazê-lo

Mário Vitorino Gaspar
_______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 6 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12402: Controvérsias (129): Pequena reflexão (António Matos)

(**) 26 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4584: Controvérsias (26): Cabo Miliciano: Cabo, Sargento ou Soldado? (Libério Lopes)
(...) Dizia o Manuel Maia, há alguns dias, que o único país do Mundo onde existiu o posto de Cabo Miliciano foi em Portugal. E tem razão. Só em Portugal isso podia acontecer e foi devido à lucidez brilhante de um Ministro do Exército do Governo de Salazar que isto podia acontecer. Se não me engano foi o Santos Costa. Se não for, e se alguém souber ao certo quem foi, é bom transmitir a todos os camaradas para lhe prestarmos as nossas homenagens…

Foi um indivíduo inteligente ao tomar esta atitude, poupou milhões ao Estado, só que criou inúmeros problemas.

Com o vencimento de um soldado, tinha um Cabo a fazer um serviço de Sargento. É claro que alguns comandantes usavam e abusavam do seu poder discriminatório para rebaixar os Cabos Milicianos.

Fui Cabo Miliciano no Batalhão de Caçadores 6, em Castelo Branco, desde Janeiro de 62 a Abril de 63. Dei salvo erro três recrutas e, por falta de aspirantes muitas vezes comandámos pelotões de 100 recrutas.

Neste quartel aconteceram, com o comandante de então, coisas interessantes. Ao Cabo Miliciano era proibido frequentar o bar dos soldados, porque faziam serviço de Sargento. Só que os sargentos do QP não nos deixavam entrar no seu Bar.

Houve, inclusivamente, um Cabo Miliciano de Sargento de Dia ao Batalhão que, ao querer tomar café no Bar de Sargentos, durante a noite, foi posto na rua por um 1.º Sargento. Isto serviu para que os Cabos Milicianos se juntassem e conseguissem uma pequena sala onde se reuniam e tinham uma máquina de café.

Como defesa da classe, deliberamos só responder quando nos tratassem por Cabo Miliciano e não por cabo. Ainda estou a ver o Comandante a chamar o Silva… gritando: ó nosso cabo… ó nosso cabo - e o Silva… não lhe respondia. O comandante aproxima-se dele e pergunta-lhe se não o tinha ouvido chamar. O Silva retorquiu-lhe: O meu comandante desculpe mas chamou nosso cabo e eu sou Cabo Miliciano. O Comandante engoliu e calou. Serviu de exemplo para todo o quartel.

Esse mesmo senhor quis aplicar-me como castigo, de me ver à civil na rua, uma carecada (”écada” no meu tempo).

Em Março de 1963 fomos promovidos a Furriéis Milicianos. Nunca nenhum de nós entrou alguma vez no Bar de Sargentos. (...)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12402: Controvérsias (129): Pequena reflexão


1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem.

Pequena reflexão

Hoje venho exercitar a função de copy / paste dum texto meu no facebook mas que teve na sua génese um conjunto de opiniões que me pareceram pouco consistentes com uma postura mais digna de ex combatentes ao lado dos quais tive muito orgulho em combater e com quem, periodicamente, também relembro e conjecturo sobre o passado.

A tarefa é-me difícil pois pode criar mal-entendidos mas esse é o risco que quero correr.

Caríssimos camaradas, não misturemos as coisas!

No real confronto com um cenário de guerra, todos nós fomos actores de atitudes, gestos, opiniões enfim, das quais hoje não nos orgulharemos, mas que nem por isso deixaram de fazer parte do nosso ADN alterado com essa dura realidade. 

A temática "minas" é uma daquelas à qual não se passa indiferentemente quer na perspectiva de quem as montou, de quem as desmontou, de quem por elas cravou os dentes na terra e se retorceu com as dores, quer mesmo daqueles que viveram aqueles horrores apenas pelo som das detonações...

Tudo isso alterou o tal nosso ADN psicológico ( para não falar de outros ) mas temos que continuar a viver sem falsos pudores pois fomos coagidos a fazê-lo.

Não nos martirizemos com esse passado, de nada nos valendo agora atirarmo-nos como gato a bofe a gajos que não tiveram nada a ver com isso!

Os nossos políticos, por exemplo, são uma camada de putos imbecis que nem à tropa foram pelo que não podem ser intitulados de cobardes ! Refiro-me à enorme maioria que hoje engrossam as fileiras dos partidos desde a extrema esquerda à extrema direita!!

O nosso problema deve ser outro ! Por razões que os sociólogos melhor nos explicarão, o povo português tem nas suas características intrínsecas, coisas absolutamente extraordinárias mas também ostenta genes da mais baixa índole dentre os quais menciono a maledicência, a inveja perante o sucesso dos outros e a incapacidade total de elogiar o parceiro do lado e de o aplaudir.

Pelo contrário, somos mesquinhos e isso reflecte-se de geração em geração e agora, cá estamos a zurzir as nossas frustrações nas orelhas de inocentes... Para quem me estiver a ler, não confunda ! Estamos a falar de guerra e de minas e nada mais!!!

Confrontemos os nossos (des)governantes com as actuais políticas e sobre isso exijamos-lhes responsabilidade e punição pelas atitudes dolosas!

Tudo o mais, ao aceitarmos entrar numa discussão de culpabilização tipo caça às bruxas, põe-nos ao nível deles.

Eu não entro nessa.

Abraços para todos e bom Natal para cada um e respectiva família.
____________ 
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 



sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10955: Facebook...ando (20): Joaquim Ruivo , ex-1.º cabo mec obus 8.8, BAC 1 (Santa Luzia, Bissau, out 61/ fev 64): imagens de Bissau... antes da guerra


No RAL3 com o meu amigo Domingos Samúdio, no dia do embarque dele para a Índia. (Foi dos que foi feito prisioneiro, quando da invasão pelas tropas da União Indiana). [Possivelmente foi no 1º contingente militar a bordo do Nisssa, do dia 8 de março de 1961]

Pessoal europeu da BAC [, da esquerda para a direita] sargento Dores,  de Elvas, sargento mecânico Pereira,  de Portalegre, que segundo tive conhecimento teve uma morte muito trágica, em Cabinda, 1º cabo Carneiro,  de Elvas e eu Joaquim Ruivo,  de Brotas.



Porto de Bissau em 1962


Os cowboys americanos dos 'rodeos'  têm muito que aprender com esta  vaqueira manjaca!  [, Postal ilustrado da época, vendido como "recuerdo" turístico...]


Ainda cá não se usava minissaia, já estas faziam "topless" [, Postal ilustrado da época, vendido como "recuerdo" turístico...]



Peça de artesanato feita por um artesão da Guiné


Avenida principal de Bissau. ao fundo vê-se o Monumento ao Esforço da Raça


Bissau: monumento existente dentro da fortaleza da Amura


Bissau: desfile militar [, ao fundo a Praça do Império e o Palácio do Governador]


Bissau: praça do Império e palácio do Governador.


Bissau: Palácio do Governador e fanfarra

Fotos (e legendas): © Joaquim Ruivo (2013). Todos os direitos reservados


1. O nosso camarada Joaquim Ruivo, natural de Brotas, Évora, nascido em 1939, e vivendo em Vendas Novas, tem uma  página no Facebook. É um dos  mais recentes membros da nossa Tabanca Grande (*). É também um dos nossos camaradas mais veteranos. Foi 1º cabo mecânico de obus 8.8.

Através de uma seleção das suas fotos do seu álbum, fizemos  uma reconstituição do seu percurso na Guiné, desde a sua viagem em outubro de 1961 (passando pelo Mindelo, São Vicente), até à sua colocação na BAC 1 (Bateria de Artilharia de Campanha 1), em Santa Luzia, com passagem por Mansoa e Catió (nas vésperas da Op Tridente), e finalmente o regresso a casa, em fevereiro de 64 (*).

Hoje apresentamos mais algumas fotos que ele inseriu na página do Facebook da Tabanca Grande, com as respetivas legendas.(**) São fotos de 1961/62, ainda antes da guerra, que vai começar, segundo a nossa historiografia e a do PAIGC, em 23 de janeiro de 1963, com o ataque a Tite.

São imagens, ainda idílicas, de uma Bissau pachorrenta e exóticas, aos olhos dos primeiros militares, de farda amarela, que vão chegando da metrópole, para preparar a guerra que aí vem (ou já insidiosamente a decorrer...). . Seria interessante que o Joaquim Ruivo nos dissesse quando teve a noção de que já se estava em guerra...  É uma controvérsia que já tem anos, aqui nosso blogue (vd,, por exemplo, poste P3503).
____________

Notas do editor:

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10484: Controvérsias (128): Contemos as nossas experiências e deixemos as especulações para quem não esteve lá... Parte II (Carlos Vinhal / Luís Graça)

1.  Na sequência da manutenção periódica ou ocasional que fazemos do nosso blogue (em geral, eu ou o Carlos Vinhal) podem ocorrer "erros técnicos": basta carregar na tecla errada... 

Foi o que me aconteceu hoje com o poste P6207, de 2 de maio de 2010 (!), da autoria do Carlos Vinhal (*)... Ao fazer a sua atualização (automática), ele ficou com a data de hoje, e não com data  original (2/5/2010)... 

Como continha "material  explosivo, logo polémico", e para mais incluído numa série que se chama "Controvérsias", o poste P6207 foi logo alvo de comentários de leitores madrugadores... 

De manhã dei conta do meu lapso, mas não reparei na existência de novos comentários... Voltei a editar o poste e arrumei-o, direitinho, no sítio a que ele pertence, 2 de maio de 2010, entre o poste P6206 e o poste P6207.... 

Há um bocado, antes da hora do almoço, estava eu para sair de casa, telefona-me o nosso AGA a perguntar pelo poste, pelo comentário que tinha inserido, enfim, intrigado com o seu desaparecimento de "cena"... Lá lhe dei amavelmente, como sempre, as explicações técnicas que lhe tinha a dar... E que ele aceitou plenamente. 

No regresso a casa, decidi fazer um poste, na mesma série,  com o material dos comentários datados de hoje, de modo a permitir que a discussão prossiga entre bons camaradas e melhores amigos que todos nós somos...  Com esta história, ainda não almocei, mas é bem feito: para a próxima, terei mais cuidado de modo a não tocar na tecla errada...

As minhas desculpas a todos, a começar pelo Carlos Vinhal. com quem ainda não consegui falar ao telefone (fixo), e que não sei se chegou a ter tido o privilégio de ver o seu poste de novo reeditado,  dois anos e meio depois... LG

2. O poste original (*)  começava assim: 

"Comentário de Carlos Vinhal*, ex-Fur Mil, CART 2732 (Madeirense), Mansabá, 1970/72, na qualidade de tertuliano:

"Alguns considerandos em relação ao poste 6292** de hoje, 2 de Maio de 2010
"Camaradas
"Este blogue está a deixar-me deprimido.

"Julgava eu que nós, os portugueses, somos um povo de brandos costumes, hospitaleiros, afáveis, amantes da paz, amigos dos vizinhos, etc., e afinal somos (ou fomos) um bando de assassinos na guerra colonial. Posso excluir-me? Muito obrigado". (.-..)

3. Comentários com data de hoje, 5 de outubro de 2012, (último) feriado do dia da República, por ordem cronológica:

(i) Antº Rosinha

Em geral todos os massacres (Wiriamu, Pijiquiti, baixa de Cassange...) abusos e quaisquer maus tratos a civis ou guerrilheiros foram ou estão relatados, esmiuçados e sobredimensionados, caso do Pijiquiti que ficou para a história como 50 mortos arredondados e desmultiplicados.

Mas,  juntando às gabarolices e fanfarronices, muitas vezes de militares que nem tiros deram, havia a desinformação, ou contra informação organizada por gente de "muitas cores" que se encarregava de enviar tudo bem cozinhado para Brazaville, Argélia, Rádio Praga, Rádio Moscovo, Rádio Tirana...e à volta do mundo.

Sem falar nos comícios justificativos do 25 de Abril nas diversas cidades lusas e tropicais, em que se ia buscar até a escravatura para o Brasil.

Sou retornado, imaginem o que ouvi, e retive quando passei cá o verão de 1974.

Nos muito falados massacres de Luanda (da reacção dos brancos) em que até se fala em valas comuns, nem o MPLA e o FNLA, já organizados,  os mencionavam; no entanto ficou principalmente pela boca de muitos que nem um tiro sabiam dar, como tendo sido grandes massacres.

Individualmente e em reacções inesperadas não terá havido talvez companhias e unidades em que não tenha havido abusos, a que eu próprio assisti, mas  o colectivo em geral reage contra o ou os abusadores.

Ninguém tenha dúvidas que o IN estava devidamente organizado para que se fizesse qualquer abuso em segredo.

Está tudo bem denunciado e em geral por excesso, nos vários campos de guerra.

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 12:42:00 a.m. 

(ii) jpscandeias 

Só quem lá não esteve é que não sabe as histórias normalmente, com um pequeno fundo de verdade, que davam azo a que se fizessem as mais mirabolantes fábulas que depois circulavam pela província, tinham, normalmente, origem em Bissau, placa giratória, depois seguiam para o mato e eram divulgadas de boca em boca.

Como é apanágio do nosso povo, cada um acrescentava um ponto. Se alguma vez, penso que nunca será feito, alguém de der ao trabalho de contabilizar os IN abatidos pelas nossas tropas, excluindo as tropas da província da Guiné, companhias de comandos africanos, companhia de caçadores africanos e milícias, devemos encontrar um número superior a população da Guiné da época. 

Por outro lado o número de baixas, em combate, ou para ser correto, em campanha, também não vai coincidir com os números oficiais e por uma diferença abismal. É com espanto e admiração quando por vezes, felizmente poucas, sou confrontado em conversas informais sobre as experiências de ex-combatentes da Guiné, o que conheço, e é a mais “mediática”, penso: ´Foram eles que lá não estiveram ou fui eu?'...

 Até os que cumpriram o serviço em Bissau no QG, a controlar os passaportes, tem histórias de guerra de uma violência atroz. Passados 38 anos do arrear da bandeira ainda não conseguimos descer à terra e, provavelmente, enquanto houver gente viva, dos que por lá passaram, iremos continuar a ouvir estórias. 

Aos historiadores cabe, com o distanciamento que só o tempo permite, repor a verdade. Como, todos ouvimos, enquanto por lá andamos, todos querem fazer “manga de ronco”, mas a verdade é que poucos o fizeram. Poucos estiveram debaixo de fogo na mata. Muitos foram flagelados nos aquartelamentos. Outros sofreram ataques aos quartéis mas só o souberam depois e por exclusão de partes. Mas devo dizer que Bissau, Bolama, Gabu ( Nova Lamego), Bafatá, ou mesmo Cabuca eram uma coisa. Xime, Guileje, Buruntuma, etc, etc, etc. era outra coisa. 

E, já agora, as companhias africanas, nos anos de 1970 a 1974, também era outra música, e por lá passaram poucos. Termino com uma máxima utilizada no exército português: 'O boato fere mais que uma lâmina'.
jc

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 1:12:00 a.m. 

(iii) António Graça de Abreu

Não tenho vontade de alinhar comentários, mas tem de ser. 

Ainda há dois dias chamaram-me "ultracolonialista, super herói e vencedor" e logo algumas almas boas do blogue assinaram por baixo e bateram palmas. Bofetadas bem dadas, de luva branca, segundo escreveu o Manuel Reis.

"Assassinos coloniais", lembrou e bem o Mexia Alves, foi uma das muitas frases com que nos insultavam logo depois do 25 de Abril. Qual Shelltox? Nós éramos uma espécie de malfeitores e facínoras de guerra. Eram as orelhas dos africanos em frascos de álcool, os massacres quotidianos de homens, mulheres e crianças,etc. Nós havíamos sido os agentes militares do regime colonial fascista, ainda por cima vergonhosamente "derrotados militarmente" na Guiné. Éramos ou não éramos as tropas capazes de todos as carnificinas ao serviço da política criminosa de Salazar e
Caetano?

O historiador francês Pélissier, o tal que tem tantos admiradores no blogue, afirmou em 2007 (e recordo outra vez porque isto anda tudo ligado):

"Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos".

Todos nós, ex-combatentes em África somos agentes e fautores da história colonial portuguesa, na sua fase final. Segundo o ilustre francês fomos ou não fomos gente "negreira, arcaica, brutal e incapaz"? Qual a surpresa de nos chamarem criminosos e "assassinos coloniais"?

O Carlos Vinhal tem toda a razão. Vamos contar as nossas experiências e mandar as especulações de quem não esteve lá, como o Pélissier que nunca foi sequer à Guiné, para o caixote do lixo da História. E estou a ser brando, às vezes apetece escrever um palavrão.

Fico por aqui. Somos pessoas dignas, merecemos todo o respeito como ex-militares e como homens, o respeito das gerações mais novas, o respeito da História.

Abraço do "ultracolonialista, super herói e vencedor",

António Graça de Abreu
Sexta-feira, Outubro 05, 2012 3:11:00 a.m.

(iv) C. Martins

Mas que descriminaxão é esta.
Nos beirões ninguém fala.
Nós ca té xomos comó granito "bem rigios e morenos".
Donde é que era o xenhor Viriáto ? ...oh cambada.
Fiquem xabendo que não xomos nada inferiores a voxezes..a matar..claro.
Cais madeirenxes cais carapuxa.
Um beirão ofendidiximo.

C.Martins

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 5:29:00 a.m. 

(v) Jorge Cabral [ alma ]:

Humildade! Humildade! Humildade!

A nível individual, mas também e  talvez principalmente, a nível colectivo.

Distinguir o relato da ficção! Não olhar o ontem apenas com os olhos de hoje! Não transformar Alferes em Coronéis!

E ter a consciência que milhares e milhares de ex-combatentes nunca ouviram falar do Senhor Pélissier.. nem nunca pensaram se a Guerra foi ganha ou perdida..

Um Micro-Tabanqueiro, que foi uma espécie de Alfero-Básico.

JCabral

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 10:04:00 a.m. 

(vi) Cherno Baldé

Caros amigos,

Não queria comentar, mas tem que ser.

Depois da confusão que, para mim, representou o acordo ortográfico que, parafraseando J. Cabral, nos retirou os nossos "afectos" e já agora, os nossos factos com "c"; agora é o AGA que impõe, sem reservas e sem qualquer acordo, que "ultranacionalista" é, também, sinónimo de "ultracolonialista". Uma manobra de vitimização?

Eh. Eh... A gente está sempre a aprender..., mas atenção!, antigos combatentes, o Pélissier, no caso da Guiné, que eu saiba, não se debruçou sobre a guerra colonial. O seu livro estabelece claramente os marcos (1841-1936).

Vamos acompanhar a recensão do MBS para podermos fazer o nosso próprio juízo, nacionalismos à parte.

Um abraço amigo para todos e um especial ao C. Vinhal que tem todo o meu apoio.

Cherno Baldé

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 11:08:00 a.m. (***)


domingo, 26 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8472: Controvérsias (127): Ser ou não ser combatente ou ex-combatente (Henrique Cerqueira)

1. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira (ex-Fur Mil do 4.º GCOMB/3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74):

Caro Carlos Vinhal
Vou escrever um artigo de opinião, e como de costume deixo ao teu critério o interesse da publicação do mesmo.

Há alturas em que não consigo calar aquilo a que chamamos consciência adquirida com a experiência dos anitos. Vai daí escreve-se aquilo que nos vai na alma, ainda pelo facto de termos este nosso próprio local onde aceito as regras impostas.

Bom agora vou mesmo passar ao assunto e até lhe vou dar título.


EX-COMBATENTES

Caros Camaradas tertulianos,
Não era minha intenção de falar sobre este assunto de ser ou não Ex-Combatente pela "Pátria", mas não há como escapar, é que a minha consciência não pára de dizer: - Vá lá Henrique diz alguma coisa, não te cales...

O que se passa é que eu não me considero Ex-Combatente nem Combatente pela "Pátria" de então só pelo facto de ter ido à Guiné como militar e até ter estado envolvido em combates. Vou tentar explicar.

Quando embarquei para a Guiné no dia 19 de Junho de 1972, por acaso dia do meu aniversário, nenhum dos responsáveis do país, autoridades superiores ou seja ninguém me perguntou se queria ir defender a "Pátria", numa região de que eu nada sabia, nem entendia, região de onde nem eu ou meus familiares usufruíamos de algo. Aliás para toda a "nossa suposta África" sempre que se queria emigrar tinha de se ter Passaporte, Carta de Chamada, amigos na PIDE ou noutras organizações afins, etc., etc., etc.

Assim sendo e como estava a dizer, no dia do embarque eu jurei que iria tudo fazer para sobreviver e tudo fazer para voltar vivo e inteiro à "minha Pátria".
Daí todos os meus dias em dois anos foi sempre sobreviver... sobreviver.

Já escrevi antes que nunca fui bom militar, ou como quiserem Combatente, ou outra coisa qualquer que alguns gostam muito de se gabar. No entanto fui sempre que possível cumpridor das ordens hierárquicas, respeitador de colegas e civis, mas sempre que permitido eu vestia as minhas roupas civis. É que eu fui um dos milhares de entre os civis que foi obrigado a combater por algo que não era a nossa Pátria, o que se veio a demonstrar com as independências, não é?

Aproveito a onda para dizer que eu não apoio as caridadezinhas que se vêm fazendo um pouco por toda a Guiné. Cada um é como cada qual. No entanto penso na população a quem chegam algumas migalhas, que são enviadas de modo efémero, pois quando a nossa geração, que lá esteve, morrer toda, e já não falta muito, essas migalhas vão faltar, e os povos que entretanto foram castrados do seu poder reivindicativo, até se esqueceram porque quiseram a sua legitima independência. Mas isto foi um parêntesis, voltemos ao assunto.

Eu não quero nada da Pátria para me confortar os anos "inúteis" e arriscados que passei nessa Guiné da altura, por tal não sou ex-Combatente nem Combatente dessa causa, mesmo que tenha estado envolvido em combates, tiros, minas e essa treta toda que hoje em dia só serve para dar algum colorido às nossas fantásticas Histórias da Guiné. Só lamento os nossos camaradas mortos e estropiados, muitos dos quais infelizmente não conseguiram sobreviver, eles, tal como eu, combateram pela Pátria que não a deles.

Também não preciso que a Pátria eduque os meus descendentes dando exemplos de patriotismo passado. Não, não quero. Eu educo os meus seguindo os princípios da moral e bons costumes, sem ter de recorrer a caridadezinhas ou autorecriminações por numa época em que nada era decidido por nós próprios, mas sim imposto pelo medo e repressão.

Na minha modesta opinião, só considero Combatentes, os que combatem por uma causa, os profissionais e pouco mais, os restantes combateram mais para sobreviver aqueles dois anos obrigatórios, e salvo raras excepções, é que continuavam a "combater".

Quero reafirmar que tudo que escrevi é a minha opinião, e só a manifesto porque respeito integralmente as outras opiniões e tal como o Mexia Alves escrevo com a "caneta e o coração próximo da boca", daí que possa eventualmente ferir algumas pessoas de ideias contrárias.

Também é verdade que quem não é escritor se arrisca a ser mal entendido, mas paciência, pelo menos agora somos donos das nossas acções e por isto sim eu sou um fervoroso combatente.

O desabafo está para já terminado.
Um abraço a todos os tertulianos.
Henrique Cerqueira
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3848: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (2): Eu, a NI e o Miguel em Biambe, para um almoço de batatas fritas (Henrique Cerqueira)

Vd. último poste da série de 23 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8467: Controvérsias (126): E no meio disto tudo isto... onde estão os combatentes, os tais que a Pátria devia contemplar? (Joaquim Mexia Alves)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8467: Controvérsias (126): E no meio disto tudo isto... onde estão os combatentes, os tais que a Pátria devia contemplar? (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 21 de Junho de 2011:

Meus camarigos editores
Eu sou assim!
Escrevo com a caneta do coração!
Se calhar sou injusto com algumas pessoas.
Que me perdoem!
Mas estou-me a ver envelhecer, (e a todos nós), e receio muito que as gerações vindouras tenham de nós uma imagem deturpada e depreciativa.
E dói-me saber que alguns de nós, que juraram a bandeira de Portugal, "vindos de todas as partes", estão abandonados à sua desgraça, e nós que somos tantos ainda, nada ou pouco fazemos.
Será que não conseguimos juntar uns milhares, entre combatentes e familiares, e dizermos chega! a quem de direito, sobretudo pensando naqueles de nós que vivem na rua propriamente dita, ou na rua das suas doenças e desesperos?

Como sempre fica ao vosso discernimento a publicação.

Um abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves


E NO MEIO DISTO TUDO… OS COMBATENTES???

Têm sido dias férteis em actividades “culturais” e outras, à volta dos combatentes.

Vai-se explorando o filão, agora “recentemente” descoberto, pois afinal ainda há muitos combatentes e para além do mais os “gajos” até têm família e portanto um “mercado” a explorar.

E ouvem-se estes e aqueles, ouvem-se as mulheres, (verdade seja dita parte vivida, integrante e importante de toda a problemática dos combatentes), reúnem-se livros e antologias, mas não se vislumbra minimamente uma verdadeira preocupação com os combatentes, com a sua dignidade, sobretudo com aqueles abandonados, pela “Pátria que os devia contemplar” e não contempla.

E vamos lendo e sabendo de colóquios sobre a Guerra de África, homenagens diversas por este país fora, um monumento aqui, outro ali, uns discursos mais inflamados e outros nem tanto.

E muitos de nós, (eu muito provavelmente), vamo-nos deixando embalar nestes “cantos de sereia”, convencidos, (ou tentando convencermo-nos), que somos alguém e que o país, as letras e as artes, se preocupam connosco.

Não há melhor forma de adormecer a revolta, a indignação, que é ir falando das suas causas, dando razão, “passando a mão pelo pêlo”, e nada fazendo, enquanto os revoltados, os indignados, (nos quais me incluo), vão lambendo as feridas, cansados de tanto combate, tentando convencer-se de que têm alguma força, mas verdadeiramente e no fundo, se vão deixando dividir em teias politicas, em opiniões “politicamente correctas”, em “distribuições partidárias”, em narcóticas “manifestações artísticas”, a maior parte das vezes incompletas e de tendências politicas bem marcadas.

Será que os lucros de alguma destas obras, que nós combatentes tão afanosamente compramos, revertem no todo ou em parte, para aqueles de entre os combatentes, que abandonados pela sociedade, pelo país, pelo estado, apenas sobrevivem, e mal, às imensas dificuldades, provações e doenças que a própria guerra lhes acarretou ao serviço do seu país.

E com isto não me refiro obviamente às obras “particulares” de alguns autores, que têm todo o direito a receber a paga do seu trabalho e engenho, mas sim a certas obras, subsidiadas, financiadas, assentes no trabalho de outros, alguns combatentes, e que afinal nada trazem de ajuda àqueles que tanto precisam.

E eu também concordo que não sou nenhum ex-combatente, mas sim um combatente.
Faz parte do meu passado e o meu passado é o meu todo com o meu presente e o meu futuro.
Assim como se tivesse um nome familiar quando era criança, (que por acaso não tinha), do tipo “Quim”, ou outro qualquer, e que agora, não era por já não ser criança que passava a “ex-Quim”.

E isso também nos leva a perceber que estivemos ao serviço de Portugal, e não de um qualquer regime.
Os regimes passam, as Nações ficam, ou deviam ficar.
E se ficam, a responsabilidade das Nações para com os seus filhos permanecem.
Não podemos apenas querer reter as partes boas, e as riquezas, temos também de aceitar as dificuldades e as pobrezas.

Mas o que mais me revolta, para além da minha indignação total por causa dos combatentes abandonados, (e refiro-me aos da “Metrópole” e das então “Províncias Ultramarinas”), é que no fundo e de uma maneira geral, as coisas não mudam e nós “embarcamos” em panegíricos e elogios sobre certas obras, trabalhos, actividades e discursos que no fundo se servem de nós, mas se estão verdadeiramente “borrifando” para nós.

Alguma vez os organizadores/editores desta tão “proclamada” Antologia se permitiriam amputar sem licença um poema de Manuel Alegre, por exemplo?
Mas com toda desfaçatez, (e não compro a teoria do erro), fizeram-no a um poema do José Brás!

Explico-vos então porque não acedi a que a letra do Fado da Guiné, fosse publicada nesta Antologia.

É que ao ser contactado, logo informei e dei como muito útil para uma verdadeira Antologia deste tipo que tivessem em conta tantos poetas anónimos, (em que o nosso blogue é fértil, por exemplo), que tendo vivido a guerra na sua própria pele, dela escreviam em verso, como só quem viveu pode escrever.

Foi-me respondido que só fariam parte da Antologia, obras já publicadas, o que logo me fez perceber o “filme” da Antologia.
Mais do mesmo!

Poderia ficar aqui a escrever sobre toda esta revolta e indignação que teimam em viver em mim, como na maior parte de nós, mas talvez noutro dia continue estes pensamentos em voz alta, para “acordarmos” do torpor em que nos deixámos cair, a começar por mim próprio.

Deixo esta ideia.



Esta obra compro-a de muito boa vontade, não só para mim, mas para dar de presente em tantas e tantas ocasiões em que tal se proporciona.

Perdoem-me o arrazoado de palavras e se sou injusto com alguém, que me perdoe também, mas estou farto de ser espezinhado na pessoa daqueles que comigo lutaram na Guiné, Angola, Moçambique, e que o meu país, a sociedade do meu país despreza, embora de vez em quando deles se aproveite.

E estou zangado, sobretudo comigo próprio, que tão pouco faço, e tão impotente me sinto para mudar as coisas.

Um abraço para todos do
Joaquim Mexia Alves
Alf Mil Op Esp
Guiné - 1971/73
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8446: Convívios (349): 12º Encontro da Tabanca do Centro, 29 de Junho (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 8 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8440: Controvérsias (125): As feridas da guerra (José Firmino)

sábado, 18 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8440: Controvérsias (125): As feridas da guerra (José Firmino)


1. O nosso Camarada José Firmino (ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem:


AS FERIDAS DA GUERRA


No programa “Linha da Frente” transmitido pela RTP1, em 2011-06-15, ficamos nós, ex-Combatentes e os telespectadores em geral, a saber um pouco mais sobre o que foi a Guerra no Ultramar Português, (Angola, Guiné e Moçambique) e suas sequelas, que alguns, ainda teimam em fazer esquecer e outros nem sequer ousam falar.



Senti em mim uma enorme revolta ao ver aqueles Homens ex-Combatentes que, lado a lado, combateram junto de nós e sofreram as mesmas angústias!



As marcas dos renhidos e mortíferos combates são bem visíveis nos seus corpos.


Nunca pensei que, passado quase meio século, fosse capaz de ver o drama destes nossos Camaradas-de-armas e, muito mais, o esquecimento a que estão sujeitos.


É que já lá vão dez anos a viver em quartéis, longe das suas terras e dos seus familiares, sem que o Estado Português reconheça aquilo a que têm direito.


Mas as injustiças não se ficam por aqui, pois todos sabemos que ficaram por lá, em terras de África, muitos restos mortais de militares do Exército Português que tombaram em combate e que, até hoje, não descansam em paz nas suas terras natais, junto de seus familiares.

Isto envergonha-me, profundamente, enquanto Português e ex-Combatente.

Em grito de revolta digo: “Façam algo por estes Homens, eles merecem!”

Que amanhã pode ser tarde de mais!

É revoltante e triste constatar que eles não recebem aquilo a que têm direito e que receberão um destes dias, por certo muito mais prático e bem mais barato, o subsídio de funeral.

José Rodrigues Firmino,
Sold At da CCAÇ 2585 (Mais Alto)
Ex-Combatente em Jolmete, 1969/71
____________

Nota de M.R.:

Vd. o último poste desta série em:


sexta-feira, 13 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8265: Controvérsias (124): Ainda as fotos... (José Brás)



1. Mensagem do nosso camarada José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 11 de Maio de 2011:

Carlos
Como sempre estás à vontade para editar, guardar ou deitar fora

Um abraço
José Brás



Foto: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


AINDA AS FOTOS...

José Brás

Tenho andado afastado da intervenção regular no Blogue e nem saberia explicar-me bem porquê, se o perguntasse a mim próprio, a não ser que pudesse dar um mergulho no subconsciente para buscar essa necessidade de reciclagem, de que fala o tal "Jomar" que não sei quem seja, porque tanto pode ser João como José ou Joaquim, Marques ou Martins ou Marcolino; ou pescador, de peixe mesmo, ou de polémicas, ou de imagens mal definidas, de conceitos, de preconceitos, de complexos edipianos ou outros.

Continuando, uma visita de vez em quando, ver os poster de cada um, as informações dos editores e ala milhano para outras margens que me chamam daqui e dali... ou de mim próprio.

Claro que vi as belas fotos postadas pelo António Teixeira e, ainda que não as postasse eu, questão apenas de diferenças de feitio em cada qual, mesmo sem qualificação de virtudes, não deixei de as admirar sem medos seja do que for, nem desse velhíssimo espírito de restrição e de pecado que nos habita a todos e habitará por muito tempo, transformando o corpo numa tentação demoníaca, só quebrada pelo divino dever de procriar, coitando de vestes espessas e de luz apagada.

Não tenho muitas fotos da guerra e apenas uma ou duas de braço pelos ombros de bajuda de "mama firmada". Mas não esquecerei nunca umas tantas que encontrei, sobretudo em Aldeia Formosa, Colibuia e Cumbijã porque em Medjo não havia, que me lembre, não me esquecerei do espanto que era a descoberta desses belíssimos corpos nem do apelo de macho espiritual e biológico que sentia, olhando-as.

Se pudéssemos perguntar a essas mulheres africanas que conheci se alguma vez as molestei ou se tentei usar de poderes para as ter, ou se, sequer, as mal-tratei de palavra ou acto, poderíamos ouvir dizer sem qualquer dúvida que não. Se perguntássemos a uma ou duas se me acostei, poderíamos ouvir que sim. E que culpa será essa que me condenaria às penas do inferno de Jomar?

Já tenho sido severamente comentado por dizer que a mulher reúne em si a imagem do que de mais belo e perfeito tem o mundo, sendo no meu pensar, inclusive, um ser e quase tudo superior ao homem que tem dominado as sociedades e ocultado nisso as suas debilidades.

Ainda agora, a um camarada que me enviou uma mensagem alegadamente irónica com um grosso book que seria o primeiro volume de um tratado para entender a mulher, respondi que não careço de a compreender se posso amá-la... simplesmente, mesmo nos seus mistérios.

Dizem que África foi o princípio de tudo e também, logicamente dessa mulher que nasceu autónoma da famosa costela de macho. Não será isso alheio à minha admiração pelos seus traços teluricamente firmes, sobretudo enquanto a dureza da vida lhes permite.

Jomar lê muito mal, talvez à luz das suas próprias contradições e traumas, o que diz José Belo: "Ah! "Bajudas de todas as tropas; de todas as guarnições militares; de todas as histórias e de todos os impérios do mundo! Lavar roupa era função "oficial". Quantas mais? Substituem todas as necessidades "práticas", e não só, pois as sentimentais "sublimadas" também por lá andariam. Alguns diziam-nas exploradas e utilizadas. Outros, mais cínicos, diziam ser elas que exploravam e utilizavam. Mas, as vantagens seriam mútuas. E, na maioria dos casos, também (e principalmente) para as famílias que, na sombra, lá estavam. Onde acabava o "patacão" e começava o "amor"? (Ou seria vice-versa?). Com o passar das muitas décadas as tonalidades tornam-se cada vez mais... "cor-de-rosa"... e ainda bem!"

Acaso não é verdade que desde a longa história que conhecemos, mulheres acompanhavam os exércitos em movimento, ou eles se juntavam nos "altos" para lhes prestarem serviços práticos de vários tipos, incluindo a venda de sexo?

E será que alguém tem dúvidas que também assim continuará a ser na desgraçada sina humana das guerras que aí virão?

E não é verdade que, mesmo nessas condições extremas de sobrevivência e comércio, muitas vezes "os sentimentos sublimados" não explodiam e mesmo o amor em formas sublimes?

"Quem diria que mulheres pudessem suportar as fadigas daquela campanha, quando a virilidade do homem às vezes fraquejava? No entanto, cerca de cinquenta mulheres, representantes do belo sexo, compartilharam todas as peripécias da longa marcha, seguiam maridos ou amásios, rivalizando com eles até em bravura [...] Apesar da conformação física mais fraca e mesmo da inferioridade biológica, elas nunca demonstraram fraqueza. É que a alma simples da mulher brasileira é feita de sacrifícios e de martírios [...] é esse o sentimento que fez das vivandeiras umas abnegadas".

Esta "peça" pertence ao Capitão Ítalo Landucci, integrante da Coluna Prestes que, entre 1924 e 1927 atravessou todo o Brasil na tentativa de uma revolução popular contra a oligarquia brasileira, é uma homenagem e a exaltação da mulher ou a condenação do homem que a desejava mesmo naquela condições terríveis?

E que dizer de Brecht e das "suas" prostitutas, dos "seus" bares de vinho e mulheres, dos "seus" juízes nivelados ao homem comum na comum ânsia do homem pelo corpo e pela alma da mulher?

Quanta poesia e que bela poesia tem saído da alma dos poetas na justa e libidinosa imagem da mulher?

Quantos feitos grandiosos se cometeram no mundo sob a asa inspiradora do amor carnal e espiritual de homens crápulas ou santos, mussulmanos ou cristãos, administradores ou guerreiros?

E que tem Jomar de tão preconceituoso contra o comércio do sexo? A venda do corpo? A venda da aparência de sentimentos que se têm como para serem partilhados apenas na gloriosa intimidade de dois serem que se encontram? Muito teríamos para falar sobre o assunto se o espaço e a sabedoria nos permitissem, mesmo sem pôr em questão esse ofício de dar filhos, muitas vezes a esposos que não se amam e que tratam esposas como coisa necessária e útil apenas.

Levemente abordei já esta questão aqui no Blogue no troco que dei a poste infeliz aqui editado há meses.

Também, quer no "Vindimas no Capim", quer (e em especial) no "Lugares de Passagem", através da figura de Mominato, tento um entendimento que desejo mais próximo da realidade, naquela perspectiva de José Alencar sobre o índio Guarani.

Na visão de Jomar deve ser tarado sexual todo o homem que entusiasma perante um corpo de mulher.

O soldado português, na sua grande maioria, saía de uma sociedade restritiva e castigadora do corpo e do sexo, sem nenhuma experiência sexual para além de uma ou outra oportunidade com prostituta de feira.

Algumas vezes se terá excedido na descoberta de uma mulher jovem, bonita e desnuda, na confusão que a sua pequena formação cultural e visão do mundo, em confronto com o seu desejo de guerreiro jovem lhe transmitia.
T
alvez se tenham cometido um ou outro crime nas relações de poder que se estabelecem nestas condições de poder.

Contudo, não é essa linha que marca a presença do soldado português na generalidade para além das brincadeira quase ingénuas, nem faz do exército ou do povo entidades abusadoras, como não me faz a mim ou País, entidades especuladoras apenas porque temos a nacionalidade em comum com Belmiro de Azevedo, nem incendiários apenas porque somos da mesma terra de Dias Loureiro, o homem do negócio do fogo.

Criminoso, na África ou aqui, em meu entender, é o uso do poder para forçar uma aquiescência, seja ela de que tipo for, e sexual, por maioria das razões espirituais que o acto envolve.

As fotos de António Teixeira no Blogue (já disse que eu não exporia), não enquadram, nem de perto nem de longe, tal abuso ou intenção e isso foi largamente defendido e fundamentado nos muitos comentários que se editaram.

Estou mesmo de acordo com José Belo quando diz "diziam ser elas que exploravam e utilizavam.", quando me apercebo nas fotos, da gaiatice malandra do olhar dessas bajudas, como que gozando a confusão do branco. E nisso não vejo qualquer mal, nem da parte de um nem do outro, crendo que quem vê qualquer mal aí, é quem tem a alma ainda atada por um espírito feudal das relações homem/mulher, quem lá no fundo tem ainda as marcas da negação do prazer sexual à mulher, quer ela seja negra como nas fotos em questão, quer seja de pele branca, já que da mesma cor serão os espíritos de ambas, diferenciadas apenas pelas culturas de cada qual.

A reacção de Jomar a mim me parece muito mais denunciadora de desvios negativos sobre a mulher, sobre o respeito e a exaltação que a mulher, de corpo e alma, nos merece.

José Brás
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7978: Blogpoesia (125): O cuco sabe que o Sol voltará ao Monfurado (José Brás)

Vd. último poste da série de 13 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8263: Controvérsias (123): A guerra. As realidades locais e as bajudas de mama firmada (José Belo)

Guiné 63/74 - P8263: Controvérsias (123): A guerra. As realidades locais e as bajudas de mama firmada (José Belo)

1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 10 de Maio de 2011:

Caros Editores e Camaradas.
Näo sei se devido às inúmeras deslocações minhas, alguns dos e-mails por mim enviados lhes terão chegado ao conhecimento."Espero" que sim.

Nos últimos postes sobre bajudas, surgiu alguma incompreensäo quanto ao "meio" real dos contactos entre os nossos jovens soldados e as mesmas. Por muito incompreensível que possa ser para quem por lá não andou, muito havia TAMBÉM de romantismo lusitano à mistura com uma iniciacäo sexual (!) da parte dos mesmos, vindos na maioria de meios rurais bem conservadores. Escrevi algo sobre este assunto aparentemente até agora não focado.

Um abraco do José Belo.


A guerra. As realidades locais e as "bajudas de mama firmada"

O ponto de partida... dos jovens de vinte anos - os nossos Soldados - era uma sociedade fechada, rural, governada em ditadura, com enormes influências dos valores morais Católicos, e inerentemente com imensos "tabus" sobre tudo relacionado com sexo.

O ponto de chegada... era a África em guerra. Uma África, no caso da Guiné, com variados grupos étnicos, de culturas e valores morais díspares, e atitudes relacionadas com o sexo muito diferentes do catolicismo português. Dentro destes diferentes grupos étnicos as variações de atitudes a este respeito eram também marcantes. Num ambiente de guerra e pobreza indescritíveis, as realidades de subrevivência seriam também fortíssimas. As populações das Tabancas com tropas portuguesas procuravam, lógica e humanamente, tirar os melhores proveitos deste facto. Prioritariamente em assistencia médica e sanitária, em educacäo para os jovens, ou ainda no pequeno comércio com as guarnições em produtos alimentares dos pouquíssimos disponíveis. Como pano de fundo, milhares de deslocados e refugiados das suas zonas tradicionais, independentemente do que pensariam no seu íntimo sobre os guerrilheiros ou os portugueses. Muitas famílias estavam separadas por aquela guerra! Deste modo o ambiente social no interior da Guiné estava bem longe da... normalidade. Mas näo se deve esquecer que os jovens Soldados de Portugal viviam também em Guarnições e Destacamentos perdidos na mata em situações extremas, e bem longe da... normalidade. Desde o alojamento, à saúde, à alimentação, e näo menos ao isolamento total, as situações e realidades eram de tal modo que se não torna necessário referir as minas, os combates, as embuscadas e as flagelações aos aquartelamentos (diárias em alguns locais!).

Mansabá > Quotidiano das mulheres
Foto de Carlos Vinhal

Sugem "As Lavadeiras". Jovens, bonitas, simpáticas, amigas... "normais" em toda aquela anormalidade que é a guerra. Para alguns moralistas sentados algures na Europa, lendo livros sobre África (onde não estiveram por razões suas)... as fotografias dos nossos jovens Soldados na companhia destas lavadeiras, provoca reacções pseudo político-moralistas totalmente desenquadradas das realidades factuais. As tais "lavadeiras" lavavam de facto as nossas fardas. MAS, e ao mesmo tempo, aos olhos daqueles jovens seriam a tal imagem "sublimada" da normalidade rural (!) e sentimental das suas terras (e namoradas) tão distantes. Tudo isto somado à necessidade tão humana de exprimir outros sentimentos que não os da violência que os envolvia, dia após dia, noite após noite! É claro que havia também busca de sexo nestes "romances". Mas näo só. Para muitos destes jovens Soldados foi através destes contactos que tiveram a sua iniciação sexual, feita mais de ingenuidades várias do que de violências colonialistas! Mas explicar "isto" a quem nunca o viveu?

Recordo uma noite no então bem isolado Destacamento de Mampatá, na estrada para Gandembel, então unicamente guarnecido pelo meu pelotäo. Quando fazia uma ronda normal aos postos de vigia, encontrei um dos soldados passeando romanticamente de mão dada com a sua lavadeira, ao luar, por entre as moranças silenciosas. Confesso que parei, pensei, e sorri. Imagem mais bucólica de aldeia lusitana perdida algures não havia. Não vamos ser täo ingénuos e acreditar que não terão também existido abusos mais ou menos graves. Seria a primeira guerra sem os mesmos. Mas, por muito que ofenda os "inquisidores", algo de romântico havia em muitos destes contactos, principalmente do lado dos nossos tão "verdes" jovens.

Quantos não assistiram às chegadas de camaradas vindos de saltada a Bissau, ou de férias em Portugal, acompanhados de embrulhos com vestuário, e mesmo comida vária, para a "sua" lavadeira (e família!)? É claro que, e isto para os mais românticos, as guarnições substituiam-se e as lavadeiras... ficavam. Novas tropas chegavam à Tabanca e... as lavadeiras lá estavam! Sei que alguns dos nossos "veteranos" de hoje por certo pensam por lá ter vivido um "amor dos vinte anos". E, creio mesmo que alguns terá havido. Mas, e mais uma vez, (para se näo cair em ridículos moralismos pseudo-políticos fora do contexto REAL), não se pode esquecer que os valores morais, as regras, as atitudes, os pragmatismos da maioria daquela gente criada numa vida bem perto da natureza envolvente, não daria a "tal" importância a alguns encontros sexuais casuais, se, e principalmente, voluntários.

Estocolmo 10 de Maio 2011.
José Belo.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7977: Blogpoesia (124): Eternidade (J. Belo)

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8256: Controvérsias (122): Exemplar de Bilhete Postal da Guiné, edição da Casa Mendes - Bissau (Augusto Silva Santos)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8256: Controvérsias (122): Exemplar de Bilhete Postal da Guiné, edição da Casa Mendes - Bissau (Augusto Silva Santos)


Bilhete Posta da Guiné / Execução da Foto Lisboa / Edição da Casa Mendes - Bissau


1. Mensagem de Augusto Silva Santos*, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73, com data de 9 de Maio de 2011:

Camarada e Amigo Carlos Vinhal,

Fiquei incrédulo quando li os comentários do tal senhor (?) "Jomal" relativamente ao editado nos Poste P8243 / Mulher, Menina, Bajuda de Bedanda, enviado pelo camarada António Teixeira.

Realmente é como tu dizes. Só quem não passou por terras da Guiné e não teve possibilidades de conviver de perto com as populações, pode dizer semelhantes barbaridades pelo simples facto de uma mulher indígena se apresentar com o peito desnudado.

Esse senhor (?) está completamente desfasado da realidade e dos factos. Lembro-me perfeitamente que muitas das vezes eram as próprias bajudas / lavadeiras que nos pediam para tirar uma foto, não sentido qualquer pudor por se apresentarem sem nada a cobrir o peito.

Se entenderes que ainda vale a pena publicar só para ajudar algumas mentes menos esclarecidas, em ficheiro anexo estou-te a enviar a digitalização de um Bilhete Postal da então Guiné Portuguesa que, curiosamente, até enviei à então minha namorada e agora minha mulher em Março de 73 (bons tempos), postal esse que era vendido normalmente nas lojas em Bissau, e no qual no verso consta o seguinte:

Bilhete Postal / Feito em Portugal
Execução da Foto Lisboa
Edição da Casa Mendes - Bissau
Campune Bijagó
Ilha de Uno

Este postal tem o Nº 7-A, pois fazia parte de uma colecção com fotos idênticas das várias partes da Guiné, sobre usos e costumes das várias etnias, onde eram retratadas diversas situações idênticas à apresentada. E isto passava-se no tempo da censura. Parece que agora estamos a ficar um pouco pior.

Um Abraço
Augusto Silva Santos
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8231: Resumo da actividade do BCAÇ 3833 (1971/73) (5): Pel Caç Nat 59 e Pel Milícias (Augusto Silva Santos)

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8255: Controvérsias (120): Ainda, e sempre, o Dia dos Combatentes, um dia que seja nosso, em 10 de Junho ou em qualquer outro dia do ano (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P8255: Controvérsias (121): Ainda, e sempre, o Dia dos Combatentes, um dia que seja nosso, em 10 de Junho ou em qualquer outro dia do ano (Joaquim Mexia Alves)

1. No dia 28 de Abril de 2011, às 14h30, o  Joaquim Mexia Alves  [, foto actual, à direita,]  escreveu-nos a seguinte mensagem:



Meus caros camarigos:

E continuo sem me calar quanto ao Dia dos Combatentes.

Ainda ontem o António Matos e eu falámos do assunto com o dirigente da Liga dos Combatentes de Leiria,  que esteve no almoço da Tabanca do Centro.

Julgo que a publicação deste novo texto devia ir acompanhada com a republicação do texto anterior (*), salvo melhor opinião.

Estou pronto para fazer o tal blogue para o Dia dos Combatentes, se assim for decidido, mas preciso de ajuda, pois claro.

Mais uma vez dou conhecimento a mais alguns camarigos que têm blogues, para que usem com entenderem este texto, publicando-o e trazendo mais gente para esta causa.

Que me perdoem aqueles que possa ter esquecido, ou porque não encontrei os seus mails, ou porque não os conheço ainda.

Um abraço forte e camarigo do


Joaquim Mexia Alves


2. AINDA, E SEMPRE, O DIA DOS COMBATENTES
por Joaquim Mexia Alves




Desculpem-me, mas é com alguma mágoa que volto ao assunto do Dia dos Combatentes tratado ultimamente neste meu texto:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/04/guine-6374-p8128-controversias-119-10.html

Não por o texto ter sido escrito por mim e ter tido poucos ou quase nenhuns comentários, (porque isso para mim não tem qualquer importância), mas sim porque revela um alheamento de um assunto, que a meu ver se reveste de enorme importância para todos nós, Combatentes.

Dá a impressão, (ou pelo menos a falta de comentários passa essa impressão), de que perante a recusa por parte da organização do 10 de Junho, às pretensões que o António Martins Matos [, foto actual, à esquerda,] lhes revelou da nossa parte, todos se desinteressaram do assunto, assim à velha maneira portuguesa do “não vale a pena”.

Protestamos, queixamo-nos, revoltamo-nos, indignamo-nos, mas afinal não somos capazes de nos unirmos num projecto que leve a cabo um verdadeiro Dia dos Combatentes em Portugal.

O texto que escrevi não serve? Não é aquilo que se pretende? Não são aqueles os melhores passos a dar? Tudo bem, não há problema nenhum nisso!

Mas então critiquemos, tenhamos ideias, façamos propostas, mas ao menos testemunhemos que não nos calamos e vamos fazer o que é preciso, contando ou não com o apoio das instituições do país, sejam elas quais forem.

É que, quer queiramos, quer não, a imagem que passamos, é a de que a proposta de um verdadeiro Dia dos Combatentes é apenas a vontade de uns “carolas”, e que os combatentes no geral se estão “borrifando” para o assunto.

Assim vamos dando razão aos “profetas da desgraça”, que sempre profetizam a impossibilidade de nos unirmos, a impossibilidade de conseguirmos o nosso Dia dos Combatentes, a impossibilidade de sermos atendidos nas nossas pretensões, ou até de conseguirmos por nós próprios levar a cabo a realização de um tal evento.

E estes “profetas da desgraça”, não são só exteriores aos combatentes, pois também os há no meio de nós. Eu, (falo por mim), não quero fazer um qualquer desfile exterior a umas cerimónias de um determinado dia, como uma coisa do tipo: “Deixa-os lá desfilar, coitados, que depois já não chateiam mais!»

Não, eu quero um Dia dos Combatentes, (10 de Junho ou outro qualquer), mas um Dia que seja nosso, para homenagear os nossos mortos, para homenagear aqueles que deram o melhor de si ao serviço da Pátria, e que fomos todos nós.

Um Dia dos Combatentes que a eles pertença, e não um dia de discursos circunstanciais, de uns quaisquer políticos e umas outras figuras, de umas quaisquer instituições, mais ou menos “estatizadas”.

É nesse sentido que aponta o texto acima referido e que eu esperava bem, fosse criticado, analisado, apoiado, corrigido e servisse de partida para fazermos o que é nosso por direito próprio. Escusamos de pensar para agora, mas sim, para o futuro mais próximo, (o próximo ano?), dando passos seguros, firmes e inabaláveis, que não se deixem abater por umas quantas portas fechadas.

Mostremos a nossa determinação, a nossa vontade, o nosso querer, de tal modo que aqueles que têm de autorizar oficialmente o Dia dos Combatentes, percebam que não desistimos, que não quebramos, e que estamos unidos.

Abrimos estradas por matas densas, rompemos trilhos por matas desconhecidas, fizemos quartéis onde nada havia, levantámos minas que nos queriam armadilhar, levámos algum conforto a algumas populações. É tempo de cuidarmos de nós, antes que os nossos filhos e netos não percebam o que passámos, antes que nós próprios nos esqueçamos que existimos.

O tempo é agora, as propostas estão feitas nesse texto, que pode e deve receber o concurso de todos.

Por isso mostremos que não somos só palavras, que não estamos velhos, mas que ainda podemos mostrar aos de agora, e aos vindouros, que a determinação que vivemos, continua viva em nós.

Não somos velhos, não deixamos que nos esqueçam. Somos vivos e estamos aqui!


Ao trabalho pois então, pelo Dia dos Combatentes!

Monte Real, 28 de Abril de 2011


Joaquim Mexia Alves
__________________
Nota do editor

(*) Vd. último poste da série > 18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8128: Controvérsias (119): 10 de Junho: Ainda, o Dia dos Combatentes (Joaquim Mexia Alves)

Vd. também poste anterior:
 
7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8063: Controvérsias (118): 10 de Junho: “Passagem final pelas lápides”, ou “Desfile” (António Martins de Matos)
 
E ainda: 3 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8040: Carta Aberta ao Presidente da República: o 10 de Junho, Dia dos Combatentes (Joaquim Mexia Alves)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8178: Controvérsias (120): Spínola, Amílcar Cabral, o Tarrafal, o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, os guineenses e os caboverdianos, nós e o blogue (Torcato Mendonça / Pepito)





Fotograma do documentário, produzido e realizado por Diana Andringa, em 2009, Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta, que foi exibido pela primeira vez em televisão, ontem, na RTP1, às 23h00. Um dos ex-presos, caboverdiano, entrevistado (em 2009), comentando a notícia do assassinato de Amílcar Cabral, em 20 de Janeiro de 1973. Qual o eventual papel dos tarrafalistas, guineenses, libertados no  tempo do Gen Spíonla, na organização e execução do assassinato de Amílcar Cabral ? O documentário de Diana Andringa, baseado em entrevistas com antigos presos do Tarrafal (1 português, e cerca de 30 guineenses, angolanos e caboverdianos),  não aborda  explicitamente esta melindrosa questão. (LG)





1. Texto organizado com base num comentário de Torcato Mendonça ao Poste P8165, originando por sua vez um comentário do seu autor, o nosso amigo Pepito:



(i) Torcato Mendonça [, foto
a esquerda, tirada no Fundão em 27 de Janeiro de 2007] 
, em comentário de 25 do corrente, ao poste P8165:



Caro Carlos Schwarz:


Actualmente tenho dificuldades de comunicação. Consegui ler o P8165. De facto, este Blogue do Luís Graça [& Camaradas da Guiné] tem contribuído muito para se falar e debater a "guerra da Guiné". Com um senão: quem aqui escreve, na quase totalidade, são ex-combatentes portugueses (incluo os guineenses que combateram com a farda de meu País). 


O PAIGC pouco ou nada diz. O Simpósio foi importante. Uma ilha a pender para um lado...?? Não cabe aqui debatê-lo nem a questão da  "guerra  perdida" e isso o Marechal Spínola sabia, disse-o e tentou inverter o curso normal da história das ditas potências coloniais.


O assassinato de A. Cabral deve ser procurado dentro do PAIGC,não ? Como o esclarecimento das divergências entre guineenses e caboverdianos.


A Op Mar Verde é um caso a estudar, como outros,  e daria excelente debates.


Boa Sorte para a AD. Abraço Torcato



2. Resposta, não publicada, do Pepito [, foto à direita],no mesmo dia:


Caro Torcato:


Concordo consigo quando diz que o assassinato de Amilcar Cabral deve ser procurado (acrescento eu, também) dentro do PAIGC. Estou à vontade para o dizer, pois defendi sempre que o golpe de 14 de Novembro [de 1980]  foi o golpe conseguido que falhou no assassinato de Cabral.


Talvez por minha ignorância militar, mas não conheço nenhuma vitória militar de Spínola. A única vitória, que não lhe nego, é política: ter apostado forte e conseguido maximizar o ponto mais forte e mais fraco do PAIGC, a unidade entre guineenses e caboverdianos. Foi aí, nessa luta,  que ele ganhou, que ele minou o PAIGC, infiltrou os seus agentes, dividiu,  organizou o assassinato de Amílcar Cabral.


Sou o primeiro a reconhecer que foram "militantes" do PAIGC que mataram Cabral, mas quem o mandou matar e organizou a sua entrada,  a partir do Tarrafal, isso poderia ter sido esclarecido se os dossiers da PIDE referentes ao Spínola não tivessem sido mandados retirar da António Maria Cardoso [, sede da polícia política até ao 25 de Abril]. 



Mais. Muito do que ainda hoje estamos a viver na Guiné-Bissau tem as suas raízes profundas no assassinato de Amilcar Cabral. O que me espanta é ouvir dizer que o Spínola nada tem a ver com o assassinato de Cabral, tanto assim é que "ele sempre o elogiou". Caro amigo, já ouvi a alguns dos implicados guineenses dizer o mesmo... Hoje em dia, até o Alpoím Calvão que bombardeou a casa de Cabral em Conakry na operação Mar Verde, nega que o tenha querido matar. Pois....



abraço

pepito




PS - Quanto à ilha a pender para um lado...que lhe respondam os militares e historiadores portugueses que estiveram no Simpósio [Interncaional de Guiledje].  


(iii) Novo comentário de Torcato Mendonça, de 27 do corrente:


Luís Graça


Faz chegar, por favor, a minha breve resposta, a possivel para quem está limitado com a Rede TMN. O computador é da Ana e noutro sistema. Em breve escreverei. Melhor em e-mail.


Spínola sabia que tinha que actuar assim. O assassinato de Cabral é assunto a ser tratado de outro modo. Nada me mete medo sobre tal ou outros assuntos. Assumo ter admirado o Marechal enquanto Com-Chefe na Guiné. Sabes isso. Da parte restante falaremos. Aquela guerra nunca seria ganha militarmente... Houve grandes combatentes de ambos os lados. Nem sempre utilizando os meios suaves... nem sei como se definia isso ou que importância terá para esta conversa entre nós.


Só dois pontos:

- Portugal vivia sob uma ditadura feroz. Os ultras e certos interesses económicos nunca suportariam uma negociação política. Marcelo era um Chefe de um Governo de fachada.

- Li e ouvi os vídeos do Simpósio. Conheço pela leitura e não só o trabalho da AD. Vai, logicamente além do que aqui tem aparecido no Blogue. É natural em quem se interessa por estes assuntos.

A "ilha estava inclinada" foi um modo de dizer como certos dirigentes actuavam...ou actuam.


Agradeço que encaminhes isto, caro Luís, para o Carlos Schwarz. Não  tenho endereços e o resto falha. Só o gosto por vocês, pelo blogue, pela Guiné e pelo o meu País me levam a tentar, quando posso e o sistema funciona, a escrever assim e a vir aqui,  religiosamente.
Abraço os dois. Através de um todos os camaradas do blogue; do outro o Povo daquela Terra vermelha e ardente que a mim ficou colada.


Abraço do Torcato (a verdade tem sempre muitas inverdades... a verdade pura é utopia).



2. Comentário do editor:  


Tanto o nosso amigo Pepito como o nosso camarigo Torcato autorizaram a publicação destes comentários feitos em registo off.


Mais concretamente o Pepito acaba de me mandar a seguinte mensagem:


Luis: Se considerares que tem interesse para os nossos bloguistas, publica.
abraço
pepito


PS - Gostei muito de conhecer os filhos do Zé Teixeira [que acaba de regressar da sua viagem à Guiné, onde foi recebido com grande alegria, reconhecimento,  gratidão, esperança e entusiasmo pelas gentes do Cantanhez] . Há uma nova geração (com os teus filhos) fora de série....

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Nota do editor:



Último poste da série > 18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8128: Controvérsias (119): 10 de Junho: Ainda, o Dia dos Combatentes (Joaquim Mexia Alves)