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sábado, 24 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19229: Consultório militar do José Martins (38): Pedido de Informações sobre a CCAÇ 2466 / BCAÇ 2861, Bula e Encheia, 1969/70, a que pertenceu o meu avô (Cristiana Duarte)

1. Mensagem do nosso colaborador permanente José Martins [ex-Fur Mil Trms,  CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70):

Data: quarta, 14/11/2018 à(s) 21:43
Assunto: Resposta a pedido de informações sobre a CCAÇ 2466

Caríssimos:

Estive hoje no AHM [, Arquivo Histórico-Militar,]  e consultei a História do BCAÇ 2861, processo bastante extenso. [Cota: 2/4/109/1)

Capítulo I – Mobilização, Composição, Deslocamento

Historia o início do batalhão, em 4 páginas.

Do Anexo 1, ao Capítulo I, constam 17 páginas com a composição de todo o batalhão. Em relação à CCAÇ 2466 [, Bula e Encheia, 1969/70,], estão nas páginas 13 a 17 (5 páginas).

Capítulo II – Actividade operacional

São 194 páginas, cujo resumo se encontra nos livros da CECA, volume 7, páginas 124 a 126.

Capítulo III – Baixas – Punições – Louvores – Condecorações.

São 41 páginas com os respectivos registos que, sem saber o nome do nosso camarada, o avô da Cristiana Duarte,] não é possível detectar algum registo.

Arquivo Histórico Militar

Telefone 218 842 415

Largo do Outeirinho da Amendoeira

1100-386 Lisboa

Horário: 2ª a 6ª feira, das 10H00 às 12H15 e das 13H45 às 16H45.

Não sei se o mail «ahm@mail.exercito.pt» ainda está activo.

Se necessitarem de algo mais, ao serviço de V. Exªs.

"Saúde e Fraternidade" e "A Bem da Nação"

Abraço

Zé Martins


2. Mensagem da nossa leitora Cristiana Duarte:

De: Cristiana Duarte  [email: cristianaduarte1425@gmail.com]

Data: terça, 11/09/2018 à(s) 14:48

Assunto: Pedido de Informações sobre a CCAÇ 2466

Boa tarde.

Tenho estado a ver o vosso blogue "Luís Graça & Camaradas".

O meu avô esteve na Guiné, no BCAÇ 2861,  CCAÇ 2466, tenho procurado informações sobre esse batalhão e essa companhia.

Gostaria de saber se por acaso o senhor não tem informações do mesmo ou se não me consegue disponibilizar um site que contenha por exemplo a listagem dos militares presentes nesse batalhão.

Aguardo resposta

Cumprimentos
Cristiana

PS - O nome do meu avô é José Henriques Ferreira [mensagem de 25/11/2018]
_________

Nota do editor:

Último poste da série > 19 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18653: Consultório militar do José Martins (37): Monumento aos Combatentes de Vila Chã da Beira

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16896: Memória dos lugares (354): Matosinhos é uma terra de gente laboriosa, que merece uma visita com tempo e vagar e que tem a sua importante quota-parte na nossa história trágico-marítima...É também sede da famosa e hospitaleira Tabanca Pequena (Fotos de Luís Graça)







Matosinhos > 27 de dezembro de 2016 > "Tragédia do mar" (grupo escultórico de José João Brito, evocando uma série de naufrágios de embarcações de pesca, na noite de 1 para 2 de dezembro de 1947, que vitimaram, 152 pescadores, deixando na então vila piscatória 72 viúvas e 154 órfãos). (*)

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]


1. Matosinhos é uma terra de gente laboriosa, que merece uma visita com tempo e vagar. A cidade tem cerca de 30 mil habitantes e o concelho 175 mil, segundo o último censo. 

A autarquia é dinâmica, tem forte sentido de responsabilidade social  e tem vindo a valorizar os nossos grandes arquitetos da Escola Porto, através de obras, públicas e privadas,  onde estão representados dois Prémios Pritzker da arquitetura, o equivalente ao Nobel (Siza Vieira, 1992; Eduardo Souto Moura, 2011)... 

Em 2017 Matosinhos vai inaugurar um centro de referência, a Casa da Arquitectura: Centro Português de Arquitectura.

Para além da gastronomia, ligada aos produtos do mar, Matosinhos é também terra com história, lendas, narrativas, tragédia e magia... Faz parte integrante da nossa história trágico-marítima e está ligada ao culto de Santiago.

Sem esquecer que é aqui, na cidade de Matosinhos, que tem também sede a famosa, amiga, hospitaleira e solidária  Tabanca Pequena, ou simplesmente Tabanca de Matosinhos. Desde há largos anos que os nossos camaradas desta Tabanca (a primeira a surgir, oriunda do universo da Tabanca Grande) se reúnem todas as quartas-feiras, no restaurante Milho Rei (R Heróis de França 721, 4450-159 Matosinhos,  telef 22 938 5685), para almoçar, conviver e angariar fundos para ações de solidariedade para com os nossos amigos e irmãos da Guiné-Bissau.


Matosinhos > 27 de dezembro de 2016 > Porto de Leixões > Terminal de Cruzeiros, visto do passeio marítimo.
Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]

Estive aqui num fim de tarde de 27 de dezembro de 2016, vinha com ideia de conhecer de perto o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões... Ainda meti uma "cunha" ao Carlos Vinhal... mas ele disse-me que agora, reformado ou aposentado, já não manda nada, o que não é verdade, ele manda no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...

O Carlos, como é sabido, trabalhou uma vida inteira na Administração dos Portos do Douro e Leixões... Há um dia por ano, o Dia do Porto de Leixões, em que se organizam visitas guiadas ao belíssimo terminal de cruzeiros... Este ano que está a terminar foi a 16 de setembro...

No dia seguinte, 28 de dezembro, 4ª feira, fui almoçar à Tabanca de Matosinhos, que é ali mesmo, a escassos 200 metros da praia, do posto de turismo e do grupo escultórico a que nos referimos acima, "Tragédia do Mar"... Obrigado ao Zé Teixeira e ao Eduardo Moutinho pela hospitalidade... Obrigado aos novos camaradas que conheci como o António Vale (ex-alf mil, CCAÇ 2464 (Biambe, Encheia, Bula, Binar, Nhala, Nhamate,  Mangá, 1969/70): é de Vila Real e trabalhou no Banco de Portugal. Convidei-o  a integrar a nossa Tabanca Grande. Tivemos uma longa conversa sobre o seu/nosso tempo de Guiné. Desta companhia é o nosso grã-tabanqueiro António Nobre.

Obrigado pelos vossos comentários, Carlos, Henrique e Felismina...
Boas saídas, e melhores entradas (*)...
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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16503: Notas de leitura (881): “Memórias de um Esquecido”, por José Cerqueira Leiras, edição de autor, 2003 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Agosto de 2016:

Queridos amigos,

Tenho vindo a acumular provas de que a guerrilha se manifestou de forma acesa e contundente pelo menos a partir do segundo semestre de 1962. Destruir vias de comunicação, incendiar tabancas, o recurso ao assassínio de comerciantes, passou a ser moeda corrente no Sul da Guiné. Os sublevados ainda vêm mal equipados mas o seu poder intimidador irá revelar-se tão forte que as populações ou fogem para o mato ou para pontos do litoral, onde julgam encontrar defesa.
O relato de José Leiras é nesse aspeto eloquente: o que ele viu em Fulacunda, enquanto Cabo da CCAÇ 153, enquanto Chefe de Posto em Encheia, de 1963 a 1964.
Os historiadores não podem prescindir de consultar as histórias destas unidades para preencher as lacunas existentes. Fala-se sempre em 20 de Janeiro de 1963 como o início da guerra de guerrilhas, hoje sabe-se que não é verdade. Valia a pena pôr branco no preto.

Um abraço do
Mário


De Cabo do Exército a Chefe de Posto: na Guiné, entre 1961 e 1964

Beja Santos

“Memórias de um Esquecido”, por José Cerqueira Leiras, edição de autor, 2003, é um contributo precioso para conhecer melhor a Guiné a fermentar a luta armada, e sentir os sinais da primeira fase da guerrilha. (*)

José Leiras, do Alto Minho, escreve memórias da sua vida, vamos cingirmo-nos aos preparativos para a Guiné, o durante e o logo depois. Assentou praça em Março de 1960 na RAP 2 na Serra do Pilar, dali saiu imediatamente para o antigo Metralhadoras 3, segue para Coimbra, para o RI 12 e daqui arrancou para o Depósito Geral de Adidos, no Largo da Graça, em Lisboa. Anda muito à boleia entre Lisboa e o Porto, o namorico assim o obriga. Em 27 de Maio de 1961 chega a Bissau, vem num contingente de três aviões militares. O comandante de companhia é o Capitão Curto. Vão para Santa Luzia, a caserna ainda tem o chão em terra, as janelas ainda não tinham vidros, nem porta havia. De Bissau seguem para Fulacunda, que ele vai apresentado conforme sabe. A viagem que fazem é demonstrativa da paz existente. Vão por terra de Bissau para Fulacunda em viatura, passam pelo Biombo, prosseguem por Mansabá, depois Bafatá, Saltinho, Xitole e Bambadinca, e daqui a Fulacunda, região de Beafadas, mas onde não faltam Balantas, Mandingas, Mancanhas e alguns cabo-verdianos. Começam a desmatar em volta do acampamento para fazer um quartel novo. Escreve:

“Passámos 15 dias com machado e serra na mão a cortar árvores e a limpar cerca de 1500 cajueiros e mangueiros. Uma vez o terreno limpo, começámos a fabricar os blocos de terra amassada com palha brava, e que depois de secar ao sol umas semanas são maus duros que betão armado. Tempos depois, o capitão empregou alguns pretos e começou-se a construir uma caserna nova, entretanto já tínhamos ocupado o celeiro da vila e mais três pequenas casas de telha à europeia e aí instalámos dormitórios, enfermaria e depósito de munições. Para a cozinha montámos um grande barracão em troncos e ramos de palmeira e assim ficou para sempre em provisório”.
Tentou fazer negócios com a criação de porcos. Tudo correu mal.

Nem tudo é o sétimo céu, começam a chegar notícias de que a subversão passara a rondar Fulacunda. Pela primeira vez refere a sua unidade, a CCAÇ 153 (**), acabara-se o sossego, todos os dias e todas as noites saíam patrulhas de reconhecimento. Declara que houve uma emboscada quando iam buscar água, morreu o soldado 224/60, António Vilares. Vão à tabanca de Dada e trazem alguns prisioneiros, terá havido represália do PAIGC que incendiou e destruiu completamente a tabanca levando para o mato toda a população válida. A seguir é dinamitada uma ponte que atravessava um pequeno afluente do rio Fulacunda, ficaram cortadas as comunicações com Buba, onde se encontrava a CCAÇ 152.
Refere que Buba era muito bonita e airosa, tinha bom clima e boa água, e um importante cruzamento de estradas para Empada, Catió e a fronteira da Guiné-Conacri. Reconstruiu-se a ponte que dois meses mais tarde foi novamente destruída, o que levou a enviar um pelotão para Empada e uma Secção para Aldeia Formosa. O desassossego continua, foi descoberta uma casa de mato cerca de Buba-Tambó, montou-se emboscada, houve mortos, feridos e prisioneiros, o Soldado António Ribas morreu em combate. Com a tropa desmoralizada, o Capitão Curto manda-os descansar em Bolama, um pelotão de cada vez. E observa, acerca de Bolama:

“Apesar de pequena e desprezada é ainda hoje a cidade da Guiné mais tipicamente portuguesa, com as suas ruas estreitas e calcetadas em pedra ou paralelos”.~

Estavam em férias e tiveram que ir a S. João, os guerrilheiros tinham incendiado e destruído aquele ponto de passagem no ponto extremo do Setor de Fulacunda. Sucederam-se combates em Nova Sintra, as populações dispersam-se. O pelotão é destacado para Catió, os ataques são constantes. Começam a aparecer também comerciantes assassinados. Em Março de 1962, casa-se por procuração. Em 1963, já está em Bissau, a mulher acompanha-o. Logo a seguir a CCAÇ 153 embarca para Lisboa, José Leiras foi ao palácio falar com o Governador Peixoto Correia que já lhe tinha destinado o comando do Posto Administrativo de Encheia. Aplica-se ao trabalho e faz o recenseamento das 30 tabancas existentes, cobrou impostos, mandou efetuar a plantação de dezenas de mangueiros à beira da estrada principal, reparou-se o posto sanitário. E escreve:

“Com a mão-de-obra negra, orientei os trabalhos e então construiu-se uma pequena pista para que lá pudesse ir uma avioneta levar correio. Pelos trabalhos efetuados, éramos muito queridos lá na terra só que o terrorismo naquela zona começava também a dar sinal de vida e em pouco tempo alastrou”.

A mulher está grávida e a sofrer de paludismo, tem de regressar a Portugal. Na coluna para Bissau, entre Encheia e Binar há uma emboscada, um camião civil carregado de arroz e mancarra saltou pelos ares com o rebentamento de uma mina. Mais um soldado morto. No regresso a Encheia, e pela estrada de Bissorã, via Mansoa, depara-se um camião civil a arder. 10 quilómetros à frente, duas árvores atravessadas e mais adiante uma grande vala cortando por completo a estrada.

A guerra é indisfarçável, os fuzileiros chegam a Encheia. José Leiras vai a Bissorã falar com o administrador e pedir reforços, tudo lhe é recusado. No regresso, escapa por um triz a uma saraivada de balas. Em Encheia, há alvoroço todos os dias, gente a fugir para o mato. É nisto que se dá um ataque à povoação, muitas moranças destruídas pelo fogo, o comércio saqueado, todo o gado roubado e pessoas levadas para o mato. O comerciante Francisco Beira Mar é assassinado. José Leiras consegue chegar ao posto e resiste ao fogo dos guerrilheiros, apesar de ferido, pois no jipe foi atingido por várias balas numa perna. Na manhã seguinte, toca-se o clarim para a formatura e hasteia-se a bandeira portuguesa. A situação de Encheia é de uma enorme desolação. José Leiras arranja um voluntário para ir a Bissorã avisar a tropa, esta levou cinco horas para fazer 24 km pois na estrada havia dezenas de árvores atravessadas para além das valas. Ferido, é levado para o hospital, nessa altura as cuidadoras são religiosas. São-lhe extraídas as balas e dias depois vai de avioneta até Bissorã. Passa a noite de Natal de 1963 em Bissorã, no dia seguinte parte para Encheia, já lá está um pelotão. Caminhamos para o fim das vicissitudes do Chefe de Posto em Encheia. No fim do mês de Março de 1964, é mandado apresentar ao novo Governador, Contra-Almirante Vasco Rodrigues. Põe-se ao caminho e apresenta-se ao Governador. Vinha coberto de poeira vermelha, apresentou-se de arma às costas e duas granadas no bolso da camisa. O Governador não escondeu a sua indignação, repreende-o com aspereza, pois devia apresentar-se de farda branca e boné de pala. Convocara-o para lhe dar um louvor, como já não merecia, ia transferi-lo de castigo para o Posto de Cacine. E ele escreve:

“Senhor Governador, o meu louvor pode guardá-lo para V. Exa. como recordação minha, eu queria era aumento de salário e com respeito a ir para Cacine de castigo, vá para lá você que tem tiroteio de dia e de noite para se distrair mas não leve o fato branco porque está sujeito a manchá-lo de sangue e desde já apresento a minha demissão”.

Demorou alguns meses a regressar, os transportes vêm pejados de gente em retirada para a metrópole, andou alguns meses a trabalhar como motorista de camião da Tecnil, em Bissalanca. Em Junho desse ano chega a Lisboa.

Como é evidente, é indispensável ler a história da CCAÇ 153 (**) para procurar averiguar o que há de fidedigno nestes episódios. Parece mais que demonstrado que houve guerrilha acesa a partir de 1962, a data ícone de 20 de Janeiro de 1963 só pode significar que é o ponto de partida para flagelações, mas durante largos meses de 1962 acumulam-se as provas de fugas e raptos de população, assassinatos de comerciantes, atos de destruição de pontes e telégrafos, as comunicações foram sendo anuladas e os civis aproximando-se das povoações do litoral. Isto no Sul. O testemunho parte de Fulacunda. Em Encheia, assistimos, já em 1963 a formas de destruição coincidentes com as que se perpetraram no Sul. E em 1964 disseminara-se a luta armada. Testemunhos como o de José Leiras abonam a intensidade de uma guerrilha que foi recrudescendo até encontrar formas de contenção com nomes próprios: o terror do helicóptero lobo-mau, as operações das forças especiais, os bombardeamentos intensos no interior das matas de difícil acesso. Curioso seria perceber o que é que José Leiras esperava, depois de ter experimentado a guerra no Sul, de seguir em terreno tão atribulado, uma carreira de funcionário colonial.
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Notas do editor

(*) Último poste da série de 16 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16495: Notas de leitura (880): Os Cus de Judas, por António Lobo Antunes (2) (Mário Beja Santos)

(**) Sobre a CCAÇ 153, temos no nosso blogue dezena e meia de referencias. Clicar aqui. Temos também meia dúzia de referências ao cap Curto, José Curto ou José Carreto Curto, hoje tenente general reformado. As suas memórias escritas seriam importantes para se perceber melhor este período de terror e contra-terror dos anos de 1962/63.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13711: Memória dos lugares (274): As estradas (cortadas) de Bissorã-Biambe e Bissorã-Encheia, em plena região do Oio (Carlos Fortunato, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, 1969/71, e presidente da direção da Ajuda Amiga)


Guiné> Mapa da província (1961) > Escala 1/500 mil > Pormenor: posição relativa de Bissorã, Biambe e Encheia, entre Mansoa, Binar e Bula, em plena região do Oio... A  vermelho, está sinalizada Queré, uma base do PAIGC, ativa em 15/3/1970. As estradas Biambe-Bissorã e Encheia-Bissorã estavam na altura cortadas.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. Recentemente,  na Guiné-Bissau, a 26 de setembro último, à noite, no troço da estrada que liga as povoaçoes Bissorã-Encheia [, v d. mapa, a tracejado, a vermelho], um miniautocarro (vulgo, "toca-toca") pisou um engenho explosivo abandonado, provocando a morte de 23 pessoas e diversos feridos.

Especulou-se de imediato se o referido engenho, descrito  como uma "mina antitanque" (, possivelmente uma mina A/C,  reforçada, ) remontaria ao tempo da "luta de libertação/guerra colonial", se à guerra civil iniciada a 7 de junho de 1998 (*)...

De qualquer modo, e para além do trágico balanço em mortos e feridos, para nós, antigos combatentes,  este brutal acidente veio-nos trazer logo, à memória, mais uma vez, o pesadelo das minas, e suscitar a inevitável pergunta: Encheia, Bissorã, onde é que isso fica no mapa ?

Com a devida vénia, fomos à página do nosso querido amigo e camarada, grã-tabanqueiro da primeira hora,  Carlos Fortunato (ex-fur mil trms,  CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71), e presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga), "desenterrar" esta pequena crónica, já velhinha, sobre "a estrada do Biambe - 15/03/1970".  Estamos-lhe gratos e mandamos-lhe, daqui, uma alfabravo fraterno,

Reparo, entretanto, que a CCAÇ 2531 não está representada por ninguém na Tabanca Grande,  o que é uma pena...

Sempre solidários, e lutando contra ventos e marés, o Carlos Fortunato e demais amigos da ONGD Ajuda Amiga (de que fazem parte vários membros da nossa Tabanca Grande) prepararam já o próximo Contentor de Ajuda 2015, como se pode ler aqui, em notícia de 16 de julho último:

(...) A ONGD Ajuda Amiga,  depois de ter enviado e distribuído 2 contentores em 2014, prepara agora o envio do próximo contentor em 2015, o qual está planeado para ocorrer em Janeiro de 2015, 2/3 dos bens estão já em caixas etiquetadas e prontos a seguir. (...)

Está também em marcha a campanha contra o ébola:

(...) A Ajuda Amiga juntou-se aos que combatem o ébola e iniciou este mês [outubro de 2014]  a campanha de recolha de apoios e preparação para o combate preventivo contra o ébola, com o objectivo de evitar a sua disseminação à Guiné-Bissau, o que a acontecer será uma catástrofe para a Guiné-Bissau face ao pobre sistema de saúde existente, e será também uma porta que se abre para facilitar a sua entrada em Portugal. (...)

Contactos da Ajuda Amiga: telemóvel >  937 149 143;  Email: jcfortunato@yahoo.com

(LG)

2. Memória dos lugares > A estrada do Biambe - 15/03/1970 (**)
por Carlos Fortunato  [, foto atual à esquerda]

Numa das confraternizações realizadas no bar do aquartelamento do Biambe, entre a recém chegada CCAÇ 13, e a CCAÇ 2531, o capitão Goulão ofereceu um whisky ao alferes Pimenta, e este aceitou pedindo um whisky com gelo, mas o Goulão disse-lhe que gelo era coisa que não havia.
–  Não há aqui gelo, mas em Bissorã há. –  retorquiu o Pimenta.
–  Mas não há estrada, pois esta foi cortada, quando as pontes foram destruídas. –  explicou o Goulão.
–  Abre-se uma estrada. –  insistiu o Pimenta.

A estrada de Biambe para Bissorã estava efectivamente cortada, pois tinha sido destruída a ponte que fazia essa ligação; de igual modo estava cortada a ligação de Encheia para Bissorã, pois tinha sido também destruída essa ponte; assim apenas a estrada do Biambe para Encheia estava operacional.

A CCAÇ 2531 tinha feito recentemente um reconhecimento da zona e havia ficado com uma ideia por onde esta poderia passar, que era seguir pela estrada do Biambe para Bissorã, atravessar uma pequena zona de mato, abrindo uma ligação para a estrada Bissorã-Encheia, pois a partir desse ponto, não existiam pontes e poderia chegar a Bissorã facilmente.

As boas regras mandavam que a estrada fosse picada previamente, pois poderia estar minada, e que existissem grupos a fazer segurança ao longo da mesma, dada a sua proximidade da base do Queré, mas o alferes Pimenta era um homem dos rangers, e trazia consigo uma certa dose de loucura, e o capitão Goulão, era conhecido como o "maluco do Biambe", ou seja,  foi o mesmo que juntar gasolina com fogo, e lá se partiu para Bissorã para ir buscar gelo, com uma GMC à frente a servir de rebenta minas.

Loucuras que se cometem quando se é jovem...

A guerrilha alertada esperou o regresso da coluna, e flagelou a mesma, mas foi rapidamente colocada em fuga face à resposta dada.

Esta estrada serviria mais tarde para a CCAÇ 13 regressar a Bissorã.

A história da CCAÇ 2531 narra assim esta acção, a 15 de Março de 1970:

"Acção 'Borla'

Coluna auto Biambe-Bissorã com a finalidade de abrir o itinerário entre as duas localidades.

Forças empenhada - 03 G. Comb.

A acção teve início às 14h00, durou 04 horas.

Às 17h40 quando as NT regressavam ao Biambe, 01 grupo In com cerca de 40 elementos emboscou-as, utilizando morteiro 60 e armas automáticas, durante 15 minutos na região de Mansoa 2A8 (estrada) causando 02 feridos ligeiros (01 oficial e 01 sargento)."



Publicado em 29/02/2003, por Carlos Fortunato

[Portal CCAÇ 13 - Leões Negros]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13705: (In)citações (69): Quando a rotina é traiçoeira ou o flagelo das minas que continuam a vitimar civis na Guiné-Bissau (Nelson Herbert)

(**) Último poste da série > 17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13620: Memória dos lugares (273): Ganjola, destacamento de Catió, na margem direita do Rio Ganjola, vista pelo saudoso Victor Condeço (1943-2010), ex-fur mil mec armamento, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)...Foi também lá que tombou, em combate, em 23/1/1965, o lourinhanense José António Canoa Nogueira (sold, Pel Mort 942 / BCAÇ 619, Catió, 1964/66)

sábado, 8 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12809: Bom ou mau tempo na bolanha (47): De Encheia pediram reforços (Tony Borié)

Quadragésimo sétimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



O Cifra abre o seu diário e vem lá aquilo que todos nós antigos combatentes já sabemos.
Numa página, que não tem data, diz que do destacamento de militares, que na altura se encontrava na povoação de Encheia, do lado de lá do rio, onde o único contacto físico com as forças militares mais próximas, que era o aquartelamento de Mansoa, apenas usavam uma pequena lancha, com motor fora de bordo, que não levava mais do que seis pessoas, que atravessava o rio, viajando depois por um labirinto de árvores rodeadas de água e lama, durante a maré cheia, pois era assim que recebiam semanalmente alguns alimentos de primeiras necessidade.

Continuando, pediram reforços, pediram ajuda, estavam mais uma vez debaixo de fogo, aqueles militares que lá se encontravam foram bastante sacrificados, eram flagelados quase dia sim dia não, eram parte de uma companhia do Batalhão de Artilharia 645, reforçada por uma secção do pelotão de morteiros, que não me lembra o número, que estava estacionado em Mansoa, deles, já aqui falei por diversas vezes, pois muitos deles eram os meus heróis.

Estavam a ser atacados e ainda não havia abrigos, onde se estava a improvisar um pequeno aquartelamento.
Noutra página, também sem data, vem lá a dizer que o Cifra foi a uma aldeia, um pouco retirada do aquartelamento, para os lados de Porto Gole, assistir à cerimónia do “choro”, onde estavam todos vestidos a rigor (foto em baixo), que era uma cerimónia onde velavam e enterravam um morto, o qual tinha sido uma pessoa importante quando vivo, mas que levou com duas balas mortíferas, “à queima roupa”, de um grupo de guerrilheiros que andava naquela zona a recrutar elementos para as suas forças revolucionárias, que lutavam pela independência do território. Como ele disse que não, pois era fiel às tropas portuguesas, até tinha uma pequena bandeira de Portugal, que lhe foi dada pelos militares, que sem saberem, ao dar-lha, sentenciaram a sua pena de morte. Foi eliminado, pois assim servia de exemplo.

Mais à frente diz que no dia 2 de Dezembro, que deve ser de 1965: Um grupo de militares, que tinha saído, pela manhã, em normal patrulha, regressa ao aquartelamento com um guerrilheiro de raça branca, fardado com roupa e equipamento militar de origem chinesa, com documentos em seu poder, que se considerava “capitão”, falava algum português, espanhol e inglês, e vinha sendo açoitado, pois a sua cara estava com algum sangue, por milícias de etnia “fula”.
Encontraram-no, descansando, ou dormindo, dentro de uma morança, junto de diversas raparigas que deviam de ser guerrilheiras, numa aldeia quase abandonada, que já estava debaixo de vigilância dos tais “fulas”, que também serviam de guias e tradutores, que auxiliavam as forças militares já havia algum tempo.
As raparigas, que poderiam ser guerrilheiras ou não, vinham amarradas umas às outras com uma corda, como era habitual, pelo menos naquele tempo. Os militares soltaram-nas a uns quilómetros do aquartelamento, a mando do Comando do Agrupamento, isto foi o que contaram ao Cifra, alguns militares. 

Os militares chamaram a polícia do estado, e nesse mesmo dia, o guerrilheiro que se considerava capitão foi para a capital da província de helicóptero.

O Cifra, não sabe onde é que foi buscar isto de etnia “fula”, pois o aquartelamento estava em zona “balanta”, mas é o que lá vem escrito e, também não sabe qual o destino do guerrilheiro, sabe só que foi de helicóptero para a capital da província.

O Cifra vai fechar o diário, já chega de guerra por hoje!

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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12785: Bom ou mau tempo na bolanha (46): Todos fomos cowboys (Tony Borié)

quinta-feira, 7 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11209: Blogpoesia (324): Sinopse Lúdico-Histórica da CCAÇ 2444 (João Rebola)

1. Mensagem do nosso camarada João Rebola* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2444, Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70), com data de 28 de Fevereiro de 2013:

Olá, Carlos Vinhal
O doc. que te envio para publicação foi escrito 25 anos depois de termos chegado da Guiné.
Na altura, ainda éramos muitos, só graduados e alguns elementos (poucos) da CCS, já que os operacionais, todos açorianos, ficaram em S. Miguel.
Neste momento, já se contam pelos dedos das mãos!
Estas quadras, dirigidas aos homens da 2444, mas que sofreram alguns retoques, vão também para todos aqueles que passaram pela Guiné e principalmente aos que estiveram nos locais, nelas referidos.
"Não se vive para recordar, mas só recorda quem vive"
Se for possível a publicação integral do mesmo, agradeço.

Aceita "manga de mantenhas".
João Rebola




SINOPSE LÚDICO-HISTÓRICA DA CÇAÇ 2444

Quando em Abril de 68
Para os Açores embarcámos,
Sem de nada sabermos
Já estávamos tramados.

Pouco tempo durou o sonho
De aí cumprirmos a comissão,
Já que a O.S. 107 de 8 de Maio
Desvaneceu a nossa ilusão.

Depois de 4 meses de boa estada
Com uma vivência assaz querida,
Aquelas lindas terras deixámos
Em direcção a Stª. Margarida

Aqui fizemos o I A O
De dia, em instrução,
À noite, em fados e bebedeiras
Que bom, aquelas brincadeiras.

Assim fomos queimando as horas
Esperando a dolorosa partida.
E a 9 de Novembro, pela calada da noite
Deixámos o quartel de Stª. Margarida.

Ao cais do Conde d’Óbidos chegámos
Numa viagem afadigada mas triunfante,
Com o Uíge, por nós esperando
Para nos levar a terras do Infante.

Eis chegado o momento do adeus
Para sempre, talvez, até breve, pensámos.
Fez-se ao mar o monstro de madeira
E de nossos olhos, lágrimas brotámos.

Foi linda a viagem, mas de alegria contida
Pois o bom nunca se espera, só o mau.
E ao fim de 6 dias, escalando ainda o Funchal
À Guiné chegámos, ao porto de Bissau.

Para o cais fomos levados
E muito saudados pelos de lá.
Mas rapidamente se apressaram
A transportarem-nos para Brá.

Ali permanecemos algum tempo
Depois para os Adidos enviados.
Com o futuro, ainda desconhecido
E dia a dia cada vez mais chateados.

Tinha-se o sono apoderado de nós
Quando, de súbito, fomos acordados.
Depressa nos vestimos e aprontámos
E para Bula fomos levados.

Ali começámos a preparação bélica
Com os “velhinhos” do batalhão.
Patrulhando de dia, à noite, emboscando
Mas que destino agora nos darão?

Có, palavra terrível
Pela estrada do Vietnam, assim conhecida
Para lá seguimos com o coração nas mãos
Pedindo protecção à Virgem, mãe querida.

Durante 2 meses ali permanecemos,
Dormindo em tendas e abrigos escavando.
Mas, por ironia, após a nossa saída
O Vargas Cardoso logo os foi tapando

Apenas num dia de desmatação
Perto de nós, morteiradas caíram.
Mas os bravos da 2444
Entreolharam-se e até sorriram.

Estava o Janeiro a terminar
Para o Cacheu fomos transferidos.
Continuámos a nossa epopeia
Com mortos e muitos feridos.

Dia 6, data fatídica, mês de Fevereiro,
Aziago e de muita má lembrança,
Que retirou do mundo algumas vidas
Plenas de vida e esperança.

Recordem, amigos, do local o seu nome
Que, de repente, desfez sonhos e não só
Deixando para sempre tristeza, luto e dor
Aquela operação insidiosa, em Capó

Mas a esperança iria renascer
Com a ida para Bissorã, bela localidade
E assim esquecemos um pouco o mato
Ou não estivéssemos numa “ cidade”

Mas ao longo de 14 meses lá passados
Nem tudo foi bom ou de alegria
Já que além de mais feridos
Em Encheia, mais alguém jazia

Recordo, nostálgico, aquela “cidade”
De fulas, mandingas e balantas
Dos passeios de mota, cinema, petiscos e fados
E bailes com belas “bajudas” até às tantas

Aproximava-se o fim da comissão
Ao Olossato fomos “parar”
Para grande operação no Morés
E a boa disposição iria acabar

Regressados a Bissorã, 2 semanas depois
Cansados de tanto emboscar
Para nosso grande espanto
A Binar, fomos “esbarrar”

Nunca soubemos bem o porquê
Mas lá partimos para outro “terreiro”
Deixando em Bissorã imensas saudades
Mas sem saudades do Polidoro Monteiro

Finalmente abandonámos o mato
Já era tempo de a Bissau regressar
Aguardando a vinda do Carvalho Araújo
Para Portugal embarcar

A 20 de Agosto de 70
Para os Açores começámos a navegar
Passando ainda por Cabo Verde
Para mais tropa transportar

Eis-nos chegados a Ponta Delgada
Que com palmas e lágrimas nos recebeu
Marchando por ruas entapetadas com flores
Pois foi assim que a população nos acolheu

Aqui permanecemos 3 dias
Antes de nos fazermos ao mar
E a 3 de Setembro de 70
A Lisboa estávamos a chegar

Não esqueço os companheiros
Que as balas fizeram tombar
Em mim permanecerão sempre vivos
Enquanto viver e sonhar

Meus amigos, a vida é mesmo assim
A morte não escolhe nomes nem idades
Tudo o que aqui escrevi e lerdes
Não são mentiras, são verdades.

João Rebola
____________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 3 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11183: Blogpoesia (323): É um pássaro, diz ela. De areia. Ferido de morte (Luís Graça)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Guiné 63/74 – P9853: Breve historial da CCAÇ 2464 / BCAÇ 2861 que esteve em Biambe, Encheia, Buba, Nhala e Binar (António Nobre)

1. Trabalho do nosso camarada António Nobre* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Buba, Nhala e Binar, 1969/70), historiando resumidamente a actividade operacional da sua Companhia na Guiné.


COMPANHIA CAÇADORES 2464

BATALHÃO DE CAÇADORES 2861 

GUINÉ - FEV69 / DEZ70

Embarcámos em 05 de Fevereiro de 1969 no paquete UIGE, com chegada a Bissau a 11 do mesmo mês, e colocação temporária nos Adidos.

Toda a viagem decorreu com perfeita normalidade. Passados 4 dias foi superiormente decidido a nossa partida para zonas operacionais, concretamente: Metade da Companhia foi colocada no Biambe sob o comando do Capitão Prata - A outra metade, sob o comando do Alferes Miliciano António Vale, administrativamente com destino idêntico, mas alocada fisicamente em Encheia.

Após o normal período de adaptação, ocorreram as primeiras operações em 23 de Março do mesmo ano, com três pelotões e uma primeira emboscada que resultou em 2 prisioneiros inimigos e não registando quaisquer feridos nas nossas Tropas. Nesta mesma noite, provavelmente por represália à nossa intervenção, ocorreu o primeiro ataque (flagelação) ao nosso aquartelamento que resultou no primeiro ferido ligeiro. Dada a intensidade deste ataque, fomos forçados a socorrermo-nos de apoio aéreo que resultou plenamente.

Posteriormente, concretamente a 23 de Março, desenvolveu-se uma operação denominada “ FOGO RASANTE”, concretizada a nível de Batalhão com a participação de tropas de 3 Companhias, tendo a minha - CCAÇ 2464 - participado com 2 pelotões (O 1.º sob o comando do Alferes Lázaro e o 4.º sob o comando do Alferes Vale) Operação que chegou ao fim após nove horas, e fomos alvo de uma emboscada após contacto com o IN, sem consequências muito graves (um ferido ligeiro) tendo em conta uma intervenção rápida da força aérea que nos acompanhou no regresso ao aquartelamento.

O pior viria nos dias seguintes, designadamente em 07 de Abril de 1969 com a saída para o TAMA de 2 pelotões (3.º sob o comando do Alferes Viamonte e o 4.º sob o comando do Alferes Vale), tendo no inicio da operação, após termos percorrido cerca de 1,5 quilómetros. Sofrida uma intensíssima emboscada, resultando que em pleno teatro de operações o Soldado Radiotelegrafista Claro pisasse uma mina anti-pessoal, tendo ficado sem uma perna, mais ferimentos graves no Fur. Mil.º Mendes e um Milícia os quais, após os primeiros socorros, foram posteriormente evacuados para o Hospital Militar em Bissau.

Ainda durante os meses de Abril e Maio desenvolveram-se diversas operações, grande parte delas com contactos com o IN, particularizando-se uma bala na mão do Soldado Loureiro e uma bala nas costas do Soldado Sousa e ainda diversos feridos graves em soldados de uma Companhia de açorianos que connosco participaram nestas operações.

Após estas operações, mais concretamente a 23 de Maio de 1969, o 4.º Pelotão parte para Encheia para reforçar aquele aquartelamento onde já se encontrava o 2.º Pelotão e um de açorianos Com a nossa tropa (4.º Pelotão) segue igualmente o Capitão Prata, Comandante da Companhia, acompanhado com a sua comitiva de excelência, o Furriel Cascais, o Domingos (técnico), o chefe da milícia local, o “Quinze” e o Fur. Mil.º Alves.

O Capitão Prata, segundo ele, com esta comitiva iria dinamizar a actividade operacional do destacamento em Encheia que estaria muito pouco activa.

Durante a permanência em Encheia, houve incompatibilidades com a Companhia açoriana que se terá negado a intervir conjuntamente com a nossa Companhia. Deste facto resultou que o Comandante-Chefe, sua Excelência General António de Spínola tenha visitado Encheia para resolver o diferendo sem resultados.

Com efeito, naquele destacamento e durante a sua visita, a população, via Chefe de Posto, fez muitas queixas, designadamente sevícias, violações sexuais, tendo-se retirado com promessas de que iria mandar averiguar. Para ultimar a averiguação, foi deslocado para o aquartelamento um Oficial do Batalhão, concretamente o Senhor Major Lima.

Para evitar quaisquer diferendos futuros e dentro daquela politica da “PSICO” a nossa Companhia foi mandada apresentar-se em Bissau - Aquartelamento de Brá, onde pernoitámos e saímos em 09 de Junho para o aquartelamento de Buba, numa LDG, tendo chegado ao entardecer para integrarmos um contingente operacional de apoio ao CAOP e COP 5, cuja intervenção conjunta se destinava a reabertura da estrada BUBA / ALDEIA FORMOSA, com 750 capinadores, em conjunto com uma Companhia de Comandos, o COP comandados pelo nosso bem conhecido, na altura Major Fabião, e um Esquadrão de Panhards comandados pelo então Major Monge. Toda a companhia permaneceu durante algum tempo em Buba, tendo posteriormente sido alocada num aquartalemento (?) próximo, concretamente em NHALA.

Permanecemos naquele aquartelamento durante algum tempo, mas dadas as precárias condições de alojamento (foram as piores instalações de toda a nossa Comissão, onde o nosso banho pessoal era efectuado na Bolanha e na “fonte”, vejam bem).

Passados largos meses e para compensar a nossa péssima estadia em NHALA, fomos transferidos para Binar- Sector de Bula - onde permanecemos “principescamente” até ao final da Comissão, tendo embarcado para a Metrópole em DEZEMBRO de 1970.

Em resumo, não tivemos mortes, pese a existência de vários feridos, alguns deles com muita gravidade.

Esta é a história da “minha guerra”.

Para a completar esta informação, junta-se algumas fotos evocativas.

FOTO 1 - Biambe - Abril de 1969 - Quelha, Quinze, Nobre, Sena e Humberto

FOTO 2 - Tabanca do Biambe - Abril (Páscoa de 1969) - Prata, Viamonte, Nobre, Quinze e Humberto

FOTO 3 - Biambe - Junho de 1969 - Branco, Teixeira, Mesquita, Nobre, Silva e Sena

FOTO 4 - Nhala - Agosto de 1969 - Equipa da Formação que venceu o Torneio relâmpago - De pé: Nobre, Óscar, Lázaro, Gomes e Ventura. Em primeiro plano: Setúbal, Daniel, Djacta e Henrique

FOTO 5 - Chaves - Fevereiro de 2009 - Em Almoço de comemoração do 40.º aniversário do embarque
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9724: Convívios (331): Encontro do pessoal da CCAÇ 2464, dia 28 de Abril de 2012 em Aveiro (António Nobre)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Guiné 63/74 – P9770: Convívios (417): Almoço/Convívio da 1ª CCAÇ do BCAÇ 4610/72, Vila nova de Gaia - 19 de Maio de 2012 (Manuel António Lopes)



1. O nosso Amigo e Camarada Manuel António Lopes, ex-Furriel Enfermeiro da 1ª CCAÇ do BCAÇ 4610/72, Echeia, 1972/74, solicita-nos a divulgação do próximo convívio da sua Unidade.

Boa tarde,

Como frequentador do blogue da Tabanca Grande, solicito, se possível, a divulgação de um convívio da 1ª Companhia de Caçadores do Batalhão 4610/72, a realizar em Vila Nova de Gaia no próximo dia 19 de Maio de 2012 (programa em anexo).

BATALHÃO DE CAÇADORES N.º 4610/72
1ª COMPANHIA

19 DE MAIO DE 2012
 VILA NOVA DE GAIA
RESTAURANTE CARPA


Amigo e companheiro “ Rato de Encheia”
Está quase passado mais um ano do nosso último convívio em Sintra.
Aí ficou decidido que o nosso encontro deste ano fosse na zona do Porto.
Vamos assim conviver no próximo dia 19 de Maio em Vila Nova de Gaia.
Pretende-se com estes nossos encontros recordar episódios, amigos e alguma nostalgia dos tempos passados em Encheia. Igualmente pretendemos um convívio muito alegre, com bom repasto e boa pinga.
Alguns estão sempre presentes, outros alternam a sua presença e muitos nunca apareceram. São estes que é necessário mobilizar para estarem presentes.
Vamos esquecer por um dia a crise e dizer “EU VOU”.

O NOSSO CONVÍVIO SERÁ NO RESTAURANTE CARPA
Av. República, 1731
4430-206 VILA NOVA DE GAIA 

Telefone: 223 797 169

PREÇO: 20,00 €

Fica perto do El Corte Inglês. Quem vem do Sul pela Auto estrada, deve seguir a direcção Ponte da Arrábida e após a estação de serviço seguir em direcção a Santo Ovídio –Avª da República.

AS INSCRIÇÕES DEVEM SER FEITAS ATÉ AO DIA 11 DE MAIO PARA OS CONTACTOS:

MANUEL ANTÓNIO LOPES
Tel. 229 014 974 ou Telem. 962 726 979
MANUEL FERNANDES MONTEIRO
Tel  223 792 348 ou Telem. 968 125 677

EMENTA

ENTRADAS
Pão, Salgadinhos, Camarão
SOPA
Creme de legumes
PEIXE
Bacalhau gratinado c/puré
CARNE
Vitela assada
SOBREMESA
Bolo e Champanhe
VINHOS
Vinhos da casa, verdes ou maduros, sumos, águas e cerveja

PREÇO: 20,00€

Cumprimentos
Manuel Lopes
Fur Mil Enfº da 1ª CCAÇ do BCAÇ 4610/72
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Nota de MR:

Vd. último poste desta série em: 18 DE ABRIL DE 2012 > Guiné 63/74 – P9767: Convívios (337): XXX Almoço/Convívio do STM 1961/64, Beja - 26 de Maio de 2012 (Mário Costa) 


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9235: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (2): Miniautocarro civil detona mina anticarro em Encheia



1. Em mensagem do dia 16 de Dezembro de 2011 o nosso camarada Carlos Rios (ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66), enviou-nos o segundo fragmento da sua passagem pela tropa.




FRAGMENTOS DA MINHA PASSAGEM PELA TROPA (2)

MINIAUTOCARRO CIVIL DETONA MINA ANTICARRO EM ENCHEIA

Algum tempo após estes graves incidentes, fui confrontado com o reactivar de uma realidade já sublimada pelo tempo e que me reactivou os sentidos de terror, pequenez e impotência ao enfrentar um inimigo invisível e tremendo: as minas.

Encontrando-me com alguns camaradas, de entre os quais estava o meu amigo J.M. Bastos, na esplanada do clube os Balantas, vestido eu à civil, (ainda me lembro da vestimenta - de calções de caqui e uma camisa de seda multicolorida, ao bom estilo africano, e uns mocassins), estava pinoca o saloio, quando ouvimos um grande rebentamento para os lados de Encheia. De imediato corremos ao quartel. Tal como estava, pus o cinturão em que tinha sempre para além das cartucheiras, quatro granadas, pegando na G3, material que sempre mantinha pendurado à cabeceira da cama, pedindo ainda a entrega de um dilagrama, e montados os diversos pelotões em viaturas, dirigimo-nos para a estrada de Encheia.

O quadro com que nos deparámos foi aterrador. Sendo aquela picada, junto da qual haviam diversas tabancas consideradas “controladas”, uma carrinha (mini-autocarro) vinha com alguma frequência de Bissau até junto da cambança para Encheia, transportando população e toda uma parafernalha de utensílios para a localidade e para as já referidas tabancas. Nesta viagem e a pouco menos de 500 metros do local onde habitualmente parava, pisou uma mina, que explodindo desfez literalmente a viatura, espalhando pelas redondezas mortos e feridos, um horror incomensurável, de tal maneira que o Zé Manuel Bastos e o seu Grupo tiveram que recolher para cima de um Unimog, corpos e pedaços dos mesmos chegando em alguns casos a haver membros decepados e esquartejados, de tal modo que não se sabia a quem pertenciam. Uma vez feito este pungente e dramático trabalho, lá seguiu o calmo e sensível J.M. Bastos e o seu Grupo com a macabra carga, sanguinolenta a tal ponto que escorria para o chão, sozinhos no Unimog para Bissau, vindo ainda já dentro da cidade a ser mandado parar pala PM. O desenlace foi um imberbe e sobranceiro alferes ficar tremelicando e sem voz na beira da Avenid , acabando o Bastos a sua missão.

Paradas as viaturas e tendo entretanto o meu Grupo intervindo por ali nas tabancas e arredores, enquanto outro grupo procedia à picagem da estrada, a população fugiu em massa para uma pequena mata pegada com uma bolanha onde cultivavam arroz, sendo que ainda fomos fustigados de longe ao que reagimos de imediato saltando eu para dentro da bolanha e disparando o dilagrama para dentro da mata, o que provocou um absoluto silêncio mantendo-me no mesmo local donde só saí (lá ficaram os meus queridos mocassins) quando a população, creio que se terá julgado entre dois fogos, começou a caminhar no nosso sentido. Na frente um encorpado gentio vestia uma camisola onde no peito era bem visível o emblema da Mocidade Portuguesa. Entretanto o pessoal que procedia à picagem do resto do troço viria a encontrar poucos metros depois de onde tínhamos parado outra mina que desmontaram e levantaram.

O contacto com esta atroz tragédia, demolidora do mais forte controlo de um ser humano, os diversos acontecimentos sub-sequentes incluindo a visão do elemento com a camisola referida fizeram despoletar em mim uma crise de nervos que me fez dizer e praticar todos os desmandos possíveis e que só no dia seguinte, já praticamente recuperado, a guerra continuava e eu era tido como preponderante no meu Grupo, vim a saber.

Mandei com a arma fora… desatando em completa convulsão a gritar “podia ser o meu irmão” maldita guerra, etc, etc..
Valeu-me o perspicaz e desembaraçado Rui, que pegando em mim ordenou a um condutor que me conduzisse de imediato ao Quartel o que ele acatou de bom grado mas clamando eu ainda que queria levar a mina.

E lá foi aquela boa alma sozinho ao volante de um camião Mercedes, com um maluquinho sentado ao seu lado com uma mina de cinco quilos de trotil ao colo. Chegados ao Quartel o meu bom amigo Carolino,(infelizmente já falecido, na sua terra - Marinha Grande), já de seringa em riste injectou-me uma mistela que só me deixou acordar no dia seguinte, tornando-se assunto motivo de conversas dichotes e conselhos assizados que puseram tudo no lugar.
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 11 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9179: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (1): Saída para o mato em noite de tempestade

quarta-feira, 16 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7953: O Nosso Livro de Visitas (107): Alguém desse tempo (1972 a 1974) se lembra do Cap Mil Joaquim Manuel Barata Mendes Correia?


1. A Senhora Manuela Carona, viúva do Cap Mil Joaquim Manuel Barata Mendes Correia, deixou o seguinte apelo através de um comentário publicado no poste datado de 24 de Junho de 2010: Guiné 63/74 - P6638: Lista alfabética dos 24 capitães que morreram em campanha no CTIG, dos quais 10 em combate, todos comandantes de companhias operacionais (9 Cap QP, 1 Cap Mil) (Carlos Cordeiro) :
“Sou a viúva do Capitão Miliciano Joaquim Manuel Barata Mendes Correia, comandante do aquartelamento de Encheia, que pertencia ao comando de Bissorã.
Vivi uns meses com ele lá no aquartelamento.
Gostava de saber se alguém desse tempo (1972 a 1974) se lembra dele.

Lembro-me de o alferes Bártolo, grande amigo dele. O meu email é caronamanuela@hotmail.com
Muito obrigado
Manuela Carona”



2. No mesmo dia o nosso Camarada Joaquim Mexia Alves, que foi Alf Mil Op Esp / RANGER da CART 3492, (Xitole / Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma / Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa) - 1971/73 -, publicou, no poste indicado em epígrafe, o seguinte comentário:

Manuela Carona
Não estive com o Joaquim Mendes Correia no mesmo lugar na Guiné, mas fiz a recruta em Mafra com ele, e éramos então amigos.
Fizemos várias viagens de Mafra para Lisboa e vive versa juntos, bem como fomos sempre que podíamos em Mafra, jantar á Ericeira.
Julgo que não o cheguei a encontrar na Guiné, mas tenho a impressão que ainda estive com ele em Lisboa uma das vezes que vim de férias da Guiné.
Éramos um grupo na recruta em que estavam o Xico Lino, o Francisco Machado, o Luís Nagy (se não me falha a memória), o Hélder Martins, o Tó Zé Nogueira e sei lá mais quem.
Tenho a impressão que nós próprios nos conhecemos, mas posso estar enganado.
Só tive conhecimento do falecimento do Joaquim, já em Lisboa depois da Comissão.
Curiosamente também sou Joaquim Manuel.
Um abraço amigo
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sábado, 5 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6536: Em busca de... (136): O nome desta ave e identificação desta estrada (Armando Pires)

1. Mensagem de Armando Pires, ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70, com data de 31 de Maio de 2010:

Camarada Vinhal
Se fosse possível, muito agradecia que colocasses estas duas fotos no circuito na expectativa que alguém me possa dizer o nome da ave e que estrada é aquela asfaltada que parece terminar numa localidade com vários rios à sua volta.
Ambas as fotos são de 1969.

A razão do pedido de ajuda é que estou a organizar o meu arquivo em digital e gostaria que elas lá fizessem sentido.

Um muito obrigado a ti e a todos.
Armando Pires


2. Sobre o BCAÇ 2861 retirei do 7.º Volume da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, Fichas das Unidades Tomo II - Guiné:

O Batalhão, além da CCS, tinha como unidades operacionais as CCAÇ 2464, 2465 e 2466.

A CCAÇ 2464 esteve em Biambe e Nhala.

A CCAÇ 2465 esteve em Có e Bissum

A CCAÇ 2466 esteve em Bula e Encheia

Seguem-se as fotos para identificação da ave e da estrada.
CV


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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4778: Tabanca Grande (168): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã (1969/70)

Vd. último poste da série de 2 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6521: Em busca de... (135): Carlos Miguel (O Fininho), ex-Fur Mil da CCAÇ 5, procura fotos suas do tempo de Guiné (José Corceiro)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4778: Tabanca Grande (168): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã (1969/70)

1. Mensagem de Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70, com data de 1 de Agosto de 2009:

Caro Editor.
Em anexo segue o texto bem com as fotos que o ilustram.
Qualquer dúvida pode ser prontamente respondida pelo telefone 96 293 88 17.
Se momentanteamente não me fôr possível atender, é porque estou na praia.
Mas descanse que a 16 já cá estou.

Um grande abraço do
Armando Pires


2. Camaradas.

Com vossa licença, e sem dispêndio para a Fazenda Nacional, apresenta-se o ex-Furriel Miliciano Armando Pires, Enfermeiro da CCS do BCAÇ 2861, Guiné, Fev69 a Dez70.

E apresento-me de baraço ao pescoço, porque faz tempo que entrei aqui na Tabanca, furtivamente, sem um olá, como vai isso, abri armários, saltitei de prateleira em prateleira, vasculhei gavetas, lendo-vos a alma e vendo como o tempo vos (nos) enrugou o rosto.

Reconheço que não foi bonito.

Todavia, tenho a atenuante de não vos ter tomado a aldeia num golpe de mão premeditado. Estava, até, longe de saber as vossas coordenadas. Não foi um de vós que me ensinou o caminho, mas alguém que vos conhece.

A coisa foi assim:

Estava eu à conversa com um camarada de profissão acerca de um trabalho que ele realizava sobre a guerra na Guiné e perguntei-lhe:

- Olha lá, onde é que descobriste esse matreco?

- Pesquisei no blog de um tipo chamado Luís Graça. Não conheces?.

E porque não conhecia, deu-me o endereço e foi assim que cá vim parar.

Entrei pela porta dentro a gritar pela minha gente, mas deles, da minha gente, não estava cá ninguém.

De todo o Batalhão, que incluía as CCAÇ 2464, 2465 e 2466, nem um só homem respondeu ao chamamento.

Talvez vocês os conheçam.

É tudo malta que andou ali pelo sector de Bula e Bissorã.

Bula primeiro, chegamos lá em Fevereiro, 14. As Companhias foram distribuídas por Binar, Biambe, Encheia e arredores.

Em Agosto de 69 vim de férias, a casa, e quando regressei, no final do mês, foi-me dito que ia de DO para Bissorã, porque a sede do Batalhão passara para lá.

Bom, não encontrei aqui nenhum dos meus, mas, de tanto esgravatar, na segunda gaveta do armário da entrada, dei de caras com uma pasta que, ao abri-la, até me deu estremeções.

Havia ali nomes que não me eram estranhos, relatos que reconheci.

Desde logo quando o Leão Lopes, numa resposta ao Benjamim, do BART 2917, dizia lembrar-se de um tal Vinagre que admitia ser de Coruche.

Antes que me perca nas entrelhinhas, fica já um apelo ao Leão para, quando puderes, me explicares essa do tal Vinagre.

Porque Vinagre, de Coruche, sem margem para dúvidas, era o Alferes de Informações do meu Batalhão e não me consta que o Polidoro tenha ficado com ele na Guiné.

Seria familiar? Podemos tirar isso a limpo?

Se puder ser agradeço e prometo explicar depois porquê.

E por falar em Polidoro, vejam só, num comentário do Luís Graça li esta passagem:

- "sendo então comandante (do BART 2917) o ten-cor Polidoro Monteiro".

Ó Luís, o Polidoro, João Polidoro Monteiro, foi comandante do meu Batalhão, do 2861.

Chegou periquito a Bissorã, em finais de Novembro de 1969, vindo de Moçambique, onde comandou a Guarda Fiscal, para render o Ten Cor César Correia da Silva.

Estou a vê-lo, ao Polidoro, galões reluzentes sobre um camuflado acabadinho de saír do Casão Militar, olhos protegidos pelas lentes escuras de uns inevitáveis Ray-Ban's, pingalim tremelicando na mão direita, voz forte e decidida advertindo a força em parada:

- Não me tomem por periquito, que de guerra venho eu farto.

Depois, a ordem que obrigava todos os militares a andarem devidamente fardados e ataviados quando não em serviço (???).

Se esta não fosse já um mimo, a cereja em cima do bolo veio de seguida.

Íamos fazer exercícios de protecção ao aquartelamento.

Poupo-vos ao relato e consequências, embora fossem de ir às lágrimas.

Já mais tarimbado na função, o Paulo Santiago, ex-comandante do Pel Caç Nat 53, aqui nos relatos da Tabanca mostra-o, ao Polidoro, numa foto (1) tirada nas margens do Geba, ali no Mato Cão, exibindo um magnifico troféu de caça.

Com a mais respeitosa vénia ao Santiago, recoloco aqui a tal foto, ao lado de uma outra (2) tirada por mim, em Bissorã, pedindo-lhes que descubram a semelhança.

(1) - Guiné > Mato Cão > 1971

(2) - Bissorã > 1970 > Festa tribal. À esquerda o Alf Capelão Batista, à direita o Ten Cor Polidoro Monteiro

- Hum!!! Já viram? Reparem outra vez… olhem bem… não deram por ela?... É A FACA DE MATO, caramba! Ali, sempre pendurada no ombro direito.

Já agora, aquele tipo baixinho e anafadinho que também está na foto, a fingir que está lá por engano, mas sem conseguir esconder o sorriso travesso e olhar guloso, é o Batista, o Alferes Batista, O CAPELÃO, a quem aproveito para prestar a homenagem devida a quem, ano após ano, continua a marcar presença nos nossos encontros para celebrar a missa que só ele pode celebrar e sentir em Honra dos Nossos Mortos.

Disse.

Começo a olhar para trás e a sentir que o texto já vai longo, que se calhar o Editor não vai achar graça nenhuma, mas como é a primeira vez e, já se sabe, à primeira vez todos somos desajeitados, vou prosseguir.

Não para contar como foi que através do “Jornal da Tabanca” cheguei até um tal ex-furriel miliciano Cerqueira, de Braga, o enfermeiro que me rendeu, de quem eu tinha uma foto, que ele de todo não tinha, dando-lhe um abraço à sua chegada a Bissorã, foto, cuja, lhe quis enviar na presunção de que lhe daria tanto prazer a ele como a mim.

O recordar desse instante ocorrido há quase 40 anos, e que quando lhe telefonei (com emoção, senhores, que emoção) para saber do seu endereço electrónico, usei a norma inscrita nas NEP’s da Tabanca tratando-o por Camarada, o que eu fui arranjar porque... “eu não sou camarada, ouviu” - claro que ouvi, estupefacto, mas ouvi, mas dê lá o seu email, lá foram as fotos mas um “pronto recebi e obrigado” é que nada e assim sendo, assunto encerrado.

Deixem-me então contar como foi que me encontrei com o Carlos Fortunato.

Como disse, andava eu a vasculhar sem pudor e sem licença nas vossas memórias, quando ouço relatos de um tipo que estivera em Bissorã nos anos 70, pertencente à CCAÇ 13, vulgo “Os Leões Negros”.

Pimba já está que isto é comigo – gritei eu - eu tenho de conhecer este gajo, eu conheço este gajo da 13, abri a gaveta das minhas recordações e lá estava, o crachá da 13, o tipo, o Fortunato até tinha ali um link para a página dos leoesnegros.com, lá vou eu devorando tudo o que havia para ver e ler, abro a pasta que se titulava de “ataque à outra banda”, mergulho no relato, fechei os olhos a meio, recostei-me na cadeira e completei o resto, ouvindo de novo as armas, as correrias, os gritos, as ordens, o chão a tremer, o cheiro que fica no ar quando as armas se calam, “oh Sousa, traz o jeep para levar este para baixo "(estava ferido), isto gritei eu, que estava lá, na Outra Banda, não porque tivesse que lá estar, mas porque nessa noite me apeteceu lá ir beber umas cervejolas com a malta, e o Fortunato, na sua página, tinha uma foto (3) tirada do interior da caserna para o exterior, através de um buraco de RPG 7, e eu tinha uma outra (4) tirada exactamente ao mesmo buraco, mas do exterior para o interior.

Deixem-me partilhar convosco esses documentos.

(3) - O impacto da granada visto do interior da caserna

(4) - O mesmo impacto, mas de fora para dentro. O caretas sou eu.

O tipo que faz caretas à máquina (ou à outra?) sou eu!

Num ápice escrevi ao Fortunato, mandei-lhe a minha foto e, como vivemos próximos, marcamos um encontro.

Face a face não nos reconhecemos, mas nenhum de nós precisa de se reconhecer, basta o santo e a senha, Guiné!, e é como se toda uma vida houvesse para nos unir.

Aquela manhã, à mesa do Aquários, teve o sabor dos velhos tempos dos bancos da escola.

Regressei a casa e gastei uma pipa em telefone (porque há quem não tenha esta maquineta) a dar conta à malta da minha turma do encontro com o Fortunato.

E pronto, como acho que já me estiquei nos caractéres, fico por aqui.

Claro que quero pedir para ser admitido à mesa da Tabanca.

Nas formalidades que faltam, vão as fotos do antes e do depois.

E dizer que nasci em Santarém, que sou da recruta de Jan/67 nas Caldas da Rainha, que daí fui para Tavira com a Especialidade de Atirador e como Tavira ficava muito longe da universidade nocturna de Lisboa, onde depois da Licenciatura me preparava para fazer o Mestrado, uns gajos que conheciam umas gajas que conheciam uns gajos que mexiam nos cartões mecanográficos do Exército, concluíram que o melhor, para estarmos juntos, era ficar na Estrela a fazer a Especialidade de Enfermeiro.

São ínvios os caminhos da vida, e assim a coisa aconteceu.

Como é que os cartões mexeram é que não conto, porque não sei se os crimes já prescreveram.

Acabou-se a tropa, deixei a seringa lá dentro, e fiz-me à vida que foi o sonho de toda a vida.

Vivo agora acalmado em Miraflores e estou danado para lançar um convite ao meu vizinho Luís Graça.

Se quiseres beber um copo combina que eu é só atravessar a rua.

Agora vou uns dias de vacances.

Se quando voltar tiver sido aceite na Tabanca, prometo acrescentar algumas estórias a este poderoso livro de contos.

A todos o meu abraço.


3. Comentário de CV:

Caro Pires, depois deste texto de apresentação, só posso dizer-te que entres, que escolhas o melhor lugar, talvez junto a uma janela, ainda há por aí algumas cadeiras vagas, e que te instales o melhor possível.

Não demos por que andasses a mexer nas nossas coisas, situação a que estamos habituaddos desde há muito. Sabemos que até jovens estudantes nos rebuscam quando pretendem elementos sobre a guerra colonial, particularmente a da Guiné. Como deves depreender é para nós uma honra ter uma página recheada de histórias contadas pelos intervenientes naquela guerra, possuír um acervo de fotografias inéditas, com instantâneos verdadeiramente espectaculares. Nada de truques ou fotomontagens.

A tua entrada promete que irás ter um papel activo no nosso Blogue. Não desiludas, porque jeito não te falta e material terás de sobejo.

Eu ainda sou teu contemporâneo (ABR70/MAR72) e estive em Bissorã julgo que em 1970, ou 71? Não me perguntes o que lá fui fazer.
Fomos quase vizinhos, já que eu estive em Mansabá o tempo todo. Curiosamente havia a oeste de Mansabá uma pequena elevação conhecida por Alto de Bissorã, donde éramos atacados vezes sem conta. Má vizinhança tínhamos por ali.

Caro novo camarada e amigo, em nome de toda a tertúlia envio-te o inevitável abraço de boas-vindas. A partir de hoje tens mais 360 amigos e camaradas, camarigos, a quem poderás contar a tua experiência como militar, muito mais, como elemento do Serviço de Saúde do Exército Português, que tinha na nossa guerra uma função ímpar junto da população nativa. Tens que nos contar tudo.

Um abraço do novo camarada
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4774: Tabanca Grande (167): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissorã e Mansabá (1965/67)