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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19029: Estórias do Juvenal Amado (62): O Vilela, num conto com bolinha vermelha

Alcobaça vista do Castelo


1. Em mensagem de 17 de Setembro de 2018, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", enviou-nos mais uma das suas estórias, esta a do Vilela.


ESTÓRIAS DO JUVENAL AMADO

62 - O VILELA - NUM CONTO COM BOLINHA VERMELHA

O Vilela era o rapaz do nosso grupo, amigo das paródias, dos matraquilhos dos bailaricos. Adorava anis escarchado e um dia, pregamos-lhe um piela em minha casa. O problema foi quando o foi preciso leva-lo a casa pois tinhas as pernas que pareciam gelatina e não se punha em pé de maneira nenhuma. Quando finalmente o conseguimos levar, a mãe só faltou bater-nos para além dos nomes que nos chamou.

Aprendiz de alfaiate, viu-se impedido de acompanhar os pais que se mudaram para a América, uma vez que estava na idade militar, e assim despediu-se da mãe chorosa e do pai emocionado, porque os homens que eram homens não choravam, e por cá ficou, não sei se me recordo bem mas tenho ideia de que assentou arraiais em casa de familiar próximo.

A partir daí o herói deu-se a ares de magnata e nunca mais parou de exibir belos fatos com colete a condizer, sobretudos e botas que se usavam naquele tempo, à moda dos Beatles. Quem daquele tempo não se lembra das cobiçadas botas com bocadinho de cano e biqueira muito fina, que ficavam a matar com as calças à boca-de-sino. Era rara a semana que não aparecia com uma “encadernação” nova.

Eu, os Pedrosas, o Rego, o Joaquim e José António, todos os dias tínhamos ponto de encontro no café Portugal, onde ele sobressaía mais parecendo o Al Capone e nós os acólitos, mas ele era cómico e nós riamo-nos com as coisas que fazia e dizia.

Está claro que deixou de trabalhar e o dinheiro era como quem abana a árvore das patacas, não parava de chover, porque aos seus pedidos os pais talvez com peso na consciência por o cá ter deixado, abriam os cordões à bolsa no vão intento de que a sangria parasse, que a tropa o viesse buscar rapidamente e desse um fim ao calvário porque passavam, afastados do seu menino que custava os olhos da cara e muitas horas extraordinárias nos empregos que arranjaram lá nos states.

Por cá o Vilela acabou por se indispor com o familiar onde se hospedara e, como os dólares pingavam sempre, hospedou-se nos Corações Unidos, a melhor pensão de Alcobaça, por onde passava toda a gente que era gente, que visitava a linda vila, desde industriais e artistas, músicos e até engates de caixeiros viajantes.

O Vilela estava na maior. Passava dos pedidos de roupas para um anel visto numa ourivesaria, ou para uns óculos Ray-Ban que lhe trouxeram da base americana das Lajes nos Açores, é que lhe faziam muita falta porque cá havia muito Sol. Pudera era só escrever a pedir à mãe, que lá vinham os benditos dólares que não tardou a queixar-se sem grandes resultados.

Assim o grupo de amigos acabava por olhar para a situação com algum misto de incredulidade e não foram poucas as vezes que lhe dissemos que talvez devesse parar com aquilo. Nada feito, dos gastos com roupa e sapatos passou ao gosto desenfreado pelos jogos de alcova, tornando-se assíduo em certo estúdio de fotografia, que o dono transformava em bordel algumas noites por semana. Ora o nosso Vilela parecia um catraio numa loja de doces e passou a assediar o proprietário para que arranjasse mais “meninas”. Vivia num frenesim, o seu aspecto cuidado passou a apresentar algum desleixo, bem como um ar cansado e a rarear nos convívios com o grupo.

Uma bela noite o Rego bateu-me à porta com um ar suspeito a pedir-me para ir com ele, pois o Vilela precisava de ajuda. Lá vou eu direito ao estúdio de fotografia, e ao fundo das escadas lá estava o bom do Vilela embrulhado num lençol com um ar meio esgazeado. Assim que vi o que aconteceu, fui buscar um táxi, e ala para o hospital que se faz tarde.

Quando o enfermeiro lhe retirou o lençol mais o papel higiénico do corte que tinha na glande, foi um mar de sangue. Dizia o enfermeiro Torres que nunca tinha visto uma gaita tão escangalhada e perguntava como tinha acontecido aquilo. Ele contou que se tinha cortado a fazer sexo num cabelo, que estava atravessado à entrada e não vale a pena pôr mais na escrita, pois para bom entendedor meia palavra basta.

Está claro que aquilo foi motivo de muito riso e para mais como é que o Vilela ia estar quieto sem pensar em nada que o fizesse arrebitar, quando ele se tinha transformado viciado em sexo.

Entretanto curou-se e voltou ao mesmo, mas afastou-se de nós que não tínhamos capacidade de o acompanhar em tonteira nem financeiramente.

Finalmente foi para a tropa como nós todos e eu terei sido o último. Mobilizados uns para cada lado, eu e os irmãos José e Joaquim António fomos para a Guiné, um dos Pedrosa foi para Timor e o Luís Pedrosa foi Operações Especiais em Moçambique, o Rego ficou cá como amparo de mãe, o nosso Vilela não faço a menor ideia, mas penso que acabado que foi o seu serviço militar, deve ter ido para a América ter com os pais e nunca mais o vi.

No regresso encontrei os irmãos, soube que o Pedrosa se tinha suicidado em Timor, o Luís contraiu um vírus, que se veio a revelar uma poliomielite infantil tardia, ficando coxo até à sua morte.

Felizmente fui ao casamento do Rego e do José António, que continuam de boa saúde pois têm perguntado por mim aos meus irmãos.

O Vilela é uma recordação que me faz recuar aos tempos de alguma irresponsabilidade e loucura, que cá continuam bem num cantinho e que de vez enquanto acordam misturados com a saudade daqueles tempos, agora que vamos adiantados nos “entas”.

O Vilela nunca lerá esta estória mas se ler, lembrar-se-á e deve dar uma gargalhada, embora eu tenha ficcionado o nome, vai-se reconhecer de certo nela.

Uma abraço
Juvenal Amado

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18912: Estórias do Juvenal Amado (61): Um pouco de todos nós - "Difícil foi libertar-me do abraço", por Carlos Paz

sábado, 28 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18875: Efemérides (290): 4 de Julho – dia da Rainha Santa Isabel – o Dia do Serviço de Administração Militar (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 4 de Julho de 2018:

Camarigos,
Comemora-se hoje dia 4 de Julho – dia da Rainha Santa Isabel – o Dia do Serviço de Administração Militar.

A Rainha Santa Isabel foi proclamada Padroeira do Serviço de Administração Militar - SAM - por Portaria de 16 de Agosto de 1983 e Ordem do Exército n.º 3 (1.ª Série) de 31 de Março de 1984.

- “Pessoal que tem a honra de trabalhar em qualquer parte do território nacional sob o signo dos dois ramos de carvalho, dos dois sabres cruzados e do feixe de espigas de trigo, e para exortar a cumprir com dedicação e modéstia, para Bem Servir.
A exortação é necessária porque o trabalho exigido ao SAM é obscuro, é ingrato, e é sempre penoso; envolve mais modéstia, suor e fadiga do que glória, sangue e lágrimas, e também porque a melhor recompensa que o bom servidor poderá ter será o silêncio dos Comandos, forte indicativo de que a missão foi bem cumprida”.

Daniel Sales Grade
Brigadeiro, Director do Serviço de Intendência
(Julho de 1969)


O Serviço de Administração Militar (SAM) foi criado em 1869. É um Serviço cujos membros estão encarregues de assegurar as áreas de Administração Financeira, Reabastecimento de Combustíveis, Serviços de Aquartelamento e Serviços de Alimentação.

É digna de realce a actuação do SAM na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e na Guerra do Ultramar, em 1961-1974.

Quartel do 1º Grupo Companhias de Administração Militar, na Póvoa de Varzim.

O 1.º GCAM era uma Unidade destinada a especializar Soldados e Cabos Cozinheiros e Sargentos de Alimentação. Tinha quatro Escolas de Recrutas e outros tantos Cursos de Sargentos Milicianos anualmente.

Ponto de passagem de Oficiais Milicianos de Intendência. Largas centenas de jovens, provenientes das mais diversas camadas sociais, oriundos de todas as regiões, frequentaram o 1.º GCAM.

Nesta Unidade tirei o Curso de Sargento de Alimentação, em 20 de Setembro de 1969. Fui SAM até 22 de Março de 1972. Neste período passei 692 dias nas matas do leste do Teatro de Operações do Comando Territorial Independente da Guiné integrado na CCS do BCaç 2912.

O BCaç 2912 em 24 de Abril de 1970, pelas 03 horas, da manhã, foi transportado de comboio desde o Campo de Instrução Militar de Santa Margarida da Coutada até ao cais da Gare Marítima de Alcântara.

Chegada pelas 06H30. Vê-se na imagem os carris e vagões dos comboios, os três médicos do batalhão, alguns camaradas, cestos com pães e atrelado com o café.

O Carvalho Araújo partiu às 12 horas certas rumo ao Comando Territorial Independente da Guiné. Desembarcou no cais de Pidjiguiti em 01 de Maio de 1970.

Equipa de Reabastecimentos do Batalhão de Caçadores 2912
Na foto vemos, a partir da esquerda, na parada do quartel de Galomaro: o Soldado Condutor Auto J. Matias, o 1.º Cabo Escriturário J. Castiço, o Fur Mil SAM Tavares, o Alf Mil do SAM Jesus e o Major Sousa Teles, 2.º Comandante do BCaç 2912, de 1970 a 1972.

Abraço do
António Tavares
Foz do Douro, Quarta-feira 04 de Julho de 2018
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Notas do editor

[1] - Vd. poste de 30 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5375: Patronos e Padroeiros (José Martins) (5): Serviço de Administração Militar - Rainha Santa Isabel

Último poste da série de 10 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18832: Efemérides (289): Romagem ao Cemitério de Lavra em homenagem aos combatentes da guerra do ultramar das freguesias de Lavra, Perafita e Sta. Cruz do Bispo, Concelho de Matosinhos, caídos em Campanha

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18596: Efemérides (280): No dia 1 de Maio de há 48 anos, o BCAÇ 2912 desembarcava no cais de Pidjiguiti (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

EXCELENTE E VALOROSO era a Divisa do BCaç 2912 - RI2


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 1 de Maio de 2018:

Camarigos,

Neste dia 1 de Maio de há 48 anos, o BCaç 2912 desembarcava no cais de Pidjiguiti.

Quem do BCaç 2912 se reconhece na fotografia?
- Identifico o falecido Comandante.

Chegada do BCaç 2912, em 01 de Maio de 1970, ao cais de Pidjiguiti, em Bissau

Camarada (tratamento entre militares) a esta hora (19 horas) o que estarias a fazer?

- Estarias a caminho do quartel de Brá?
- Dentro do aquartelamento a tratar do teu precário alojamento?
Não sabemos!
Sabemos que já tínhamos percorrido umas milhas terrestres dentro do território guineense.
Sabemos que andávamos cheios de receber Ordens. Ordem para isto… Ordem para aquilo!

E ao final dos dias saía a Ordem de Serviço n.º. xxx do BCaç 2912.
O Comandante do Batalhão determinava e mandava publicar.

Ordens por vezes muito mal dadas pelos comandos…
Tivemos o exemplo disso!
A primeira Ordem que recebi:
- Ir à Manutenção Militar – Intendência – levantar 21 caixas de uísque. Caixas que receberam todas as mordomias até ao quartel de Galomaro.

Quartel de Galomaro, em Maio de 1970

No quartel foram distribuídas somente pelos Sargentos e Oficiais segundo Ordens do Comando. Os milicianos poucas garrafas levantaram. Constava que não faltaria uísque durante a comissão. Foi puro engano.

Embora houvesse a Ordem de não distribuir o uísque às Praças, e dentro dos possíveis, com a colaboração dos Sargentos e Oficiais milicianos, nunca lhes faltou o precioso líquido especialmente nos aniversários.
Os comerciantes vendiam as garrafas de uísque, de qualidade inferior ao da tropa, por valores exorbitantes.

Eu e um Oficial Superior por razões diferentes fomos das pessoas do Batalhão que mais lidámos com o uísque. Até essa data nunca tinha bebido a totalidade do conteúdo de uma garrafa de 0,75 l. Habituei-me a bebê-lo com Coca-Cola.

Recordação do quartel de Galomaro, em Março de 1972

No quartel de Brá encontrei a primeira pessoa conhecida da Foz do Douro. Éramos praticamente vizinhos. Falamos um pouco. Ele, Capitão Miliciano, estava em recuperação em Bissau e na circunstância com as Ordens de receber e alojar o Batalhão.
Eu e um Camarada da CCS encontrámos uma tábua, talvez de alguma cama, e colocámo-la em cima de uma mesa e os dois passámos a noite ao ar livre e de barriga para o ar sem nos mexer. Tínhamos de nos equilibrar. O tombo a dar teria mais de um metro de altura.
Entretanto as cruéis matas do Leste do Comando Territorial Independente da Guiné esperavam-nos. Infelizmente alguns militares do nosso batalhão faleceram neste Teatro de Operações… O Vietname português, de 1963 a 1974.
A primeira morte do BCaç 2912 deu-se nas águas do rio Corubal com o desaparecimento de um militar da CCaç 2701, aquartelada no Saltinho.

Passados quatro anos passaríamos a festejar livremente O Dia do Trabalhador, festejado desde 1886 nos Estados Unidos da América.

Abraço do
António Tavares
Foz do Douro, Terça-feira 01 de Maio de 2018
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de Abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18571: Efemérides (279): O 25 de Abril de 1974... visto de Bissau, através de aerogramas enviados por Jorge Gameiro ( REP / ACAP / QG / CC) à sua esposa Ana Paula Gameiro e ao seu filhinho Nuno Gameiro... Documentação comprada no OLX, há 5 ou 6 anos (Carlos Mota Ribeiro, Maia) - Parte III

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18561: Efemérides (276): No dia 24 de Abril completaram-se 48 anos após o embarque do BCAÇ 2912, no Cais de Alcântara, com destino à Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

Navio T/T Carvalho Araújo


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 24 de Abril de 2018:

Camarigos,
Esta fotografia faz hoje (24.Abril.2018) precisamente 48 anos. Nela, vemos militares do BCaç 2912 que estavam no Cais Marítimo de Alcântara a aguardar a hora de embarque.

Chegámos pelas 06H30 ao cais. Aí tomámos o pequeno-almoço junto ao navio. Depois das cerimónias de despedida subimos o portaló da embarcação. O almoço foi servido a bordo.

António Tavares



 Cozinha de campanha

Embarque do BCAÇ 2912 - Lisboa, 24 de Abril de 1970

O CARVALHO ARAUJO zarpou às 12H00, certas, de Lisboa, rumo ao cais de Pindjiguitti. Para trás ficavam os acenos e gritos lancinantes dos familiares dos militares que se deslocaram ao cais. Algumas famílias viram partir os seus queridos familiares e nunca mais os viram vivos ou mortos. Eu parti só, naturalmente com o pensamento na minha família. Do convés do navio via a Tapada da Ajuda, onde viviam alguns meus familiares. Retenho a imagem de uma cabina telefónica no cais. Interroguei-me se telefonava ou não, a despedir-me. Não telefonei e de bordo enviei um telegrama com os dizeres tipo “chapa” em que somente mudava o nome do militar emitente da comunicação transmitida.

No dia 26 de Abril avistámos à nossa ré o navio VERA CRUZ. Enquanto os dois navios navegavam lado a lado as tropas saudaram-se mutuamente assim como os navios com os apitos da praxe. O Vera Cruz depressa nos ultrapassou devido à maior potência dos seus motores e velocidade de cruzeiro. Os Teatros de Operações do CTIGuiné e de Moçambique aguardavam os três batalhões e os militares individuais que seguiam nos dois barcos.

O Carvalho Araújo fica para trás do Vera Cruz (ao longe)

Após horas e horas de navegação e em alto mar tivemos a companhia de peixes voadores, alguns dos quais morreram na coberta do navio. À ré do CARVALHO ARAÚJO os golfinhos saudavam os militares e estes presenteavam os golfinhos com restos de comida. A cor azul e por vezes esverdeada das águas do mar e do céu fizeram-nos companhia durante muitas milhas náuticas. Experiências e vivências inesquecíveis para cada um dos militares.

Quando entrámos e navegávamos nas águas territoriais do TO do CTIGuiné tivemos a escolta da Lancha de Fiscalização Grande NRP 361, de nome “Lira”. No início da noite de 30 de Abril o navio T/T Carvalho Araújo terminava mais uma das muitas viagens de Lisboa - Guiné - Lisboa.

A Lancha Lira a navegar em águas territoriais do CTIGuiné

Um constante vaivém de navios entre estas duas cidades desde 1963 a 1974. Os militares transportados no CARVALHO ARAÚJO desembarcaram no cais de Pindjiguitti na manhã do dia 01 de Maio de 1970. A terra vermelha, e de clima tropical, caracteristicamente quente e húmido, recebia mais um contingente de tropas. Os guinéus cantavam e dançavam, dizendo: “periquito” vai no mato...

Em Portugal, o Dia da Liberdade viria após quatro anos transcorridos.

Cumprimentos,
António Tavares
Foz do Douro, Terça-feira 24 de Abril de 2018
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18558: Efemérides (275): O 25 de Abril de 1974... visto de Bissau, através de aerogramas enviados por Jorge Gameiro ( REP / ACAP / QG / CC) à sua esposa Ana Paula Gameiro e ao seu filhinho Nuno Gameiro... Documentação comprada no OLX, há 5 ou 6 anos (Carlos Mota Ribeiro, Maia) - Parte II

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18300: Estórias do Juvenal Amado (59): Histórias com Pharmácias

Com a devida vénia a Visite São Pedro da Aldeia


1. Em mensagem de 2 de Fevereiro de 2018, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", enviou-nos mais uma das suas estórias.


ESTÓRIAS DO JUVENAL AMADO

58 - Histórias com Pharmácias

Na pintura da Crisal, onde ingressei com 14 anos, fui testemunha da ida e do regresso de trabalhadores que ora embarcavam ora chegavam ocupando o posto de trabalho que tinham deixado dois ou três anos para trás.
Assim tomei conhecimento com quem regressou de Angola, Moçambique, Guiné, etc. em várias alturas do conflito e era com deleite que ouvia contar as peripécias deles por terras africanas.
Era tudo longínquo, apaixonante, aventureiro e felizmente raramente trágico o que eles contavam.

Também vi ir o meu irmão mais velho, bem com os irmão mais velhos dos meus colegas de escola, que depois foram incorporados comigo e mobilizados na sua esmagadora maioria.

O Félix era irmão do Zé Cafézinho, que foi meu colega na 4.ª classe na escola do professor Pires e posteriormente meu camarada no RI6 no Porto, amizade sobre que escrevi já para aí em 2010 no blogue. O Félix era também um grande contador e estórias e tinha imensa graça quando juntava à volta dele os colegas da secção de pintura, que estavam na incubadora de ir bater com os costados em África como eu fui (alguns 7 e 8 anos depois). Dessas tertúlias ficou-me para sempre gravada uma história verdadeira, com mais graça por conhecermos todos os intervenientes, para além do nosso Félix.

A Crisal era o que se pode considerar uma grande família onde por vezes trabalhavam famílias inteiras e com a particularidade de namoros e celebração de muitos casamentos. Assim aconteceu a mim e à grande maioria de colegas da secção. Nas outras secções aconteceu o mesmo.

Quando ele regressou da Guiné, contou-me sobre a sua comissão lá e os costumes da população, estórias que depois revi pessoalmente, mas esta é uma estória de quando ele garoto foi aprender pintura na empresa.

O Félix era aprendiz de pintor na Crisal de Alcobaça e era natural o encarregado mandá-lo fazer pequenos recados, coisa que não desagradava ao jovem, uma vez que andar na rua era bem melhor do que estar na secção a repetir vezes sem fim os mesmos serviços.
Ora ia levar alguma coisa à esposa do encarregado, senhor João Neto, ou ia buscar o lanche para ele, enfim era aprendiz mais novo e por isso mais há mão de semear para esses pequenos serviços.

Um dia o chefe enviou-o à farmácia buscar uma caixa de preservativos da marca tal, que aliás ele já sabia de cor e salteado, uma vez que era useiro e vezeiro nesse recado.
Na nossa idade lembramos de como era difícil chegar à farmácia e pedir tal “equipamento”. Não era raro vermos homens de parte, assim como não quer a coisa, à espera do momento oportuno para pedir ao empregado ou mesmo dono do estabelecimento a famosa e milagrosa caixinha, que evitava inconvenientes ou males maiores nos relacionamento amorosos.

Ora o nosso herói chegou à farmácia onde era empregada uma senhora e era naturalmente de bom-tom evitar-se de pedir os “ditos” a ela, assim que a senhora via um homem assim de lado, arranjava alguma coisa que ir fazer lá dentro ao armazém, para que respectiva transacção fosse feita por colega longe dos seus olhares.
Mas do garoto nada disso havia a temer e à pergunta “o queres menino”, logo recebeu o pedido assim a frio:
- Quero uma caixa de preservativos da marca tal.

A empregada fez-se encarnada até às orelhas e logo retorquiu que não tinha lá nada disso, tentando desviar-se do incómodo. Mas o nosso Félix não era de deixar a coisa por metade e alargando um belo sorriso, pois sabia ele bem onde aquilo estava, disse prazenteiro apontando para a prateleira muito satisfeito por estar a prestar um serviço:
- Há, há, estão ali.

Pagou, pois já levava o dinheiro à conta e todo satisfeito, nem se apercebeu dos engulhos que tinha criado.

Hoje os tempos são outros e compram-se em qualquer farmácia ou supermercado sem constrangimentos de maior, mas o Félix, sem saber, fez a sua parte na transformação do tabu de então e na alteração dos comportamentos.

Depois de vir da Guiné, o Félix casou com uma colega da fábrica e também se fez à vida para a “estranja” que aqui a “coisa” era curta. Voltou já reformado, e a última vez que estive com ele, falámos da Guiné e do blogue a propósito do que eu tinha escrito sobre o seu falecido irmão “cafezinho”.

Também faleceu entretanto e só desejo que a terra lhe seja leve e que esteja em Paz

Um abraço
Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17866: Estórias do Juvenal Amado (57): A minha avó Deolinda Sacadura, uma mulher do 5 de Outubro

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18045: Estórias do Juvenal Amado (58): os meus heróis do 1º de dezembro


Foto nº 1 >  Vários escriturários sendo o penúltimo,  do lado direito, o Silva


Foto nº 2 > Aqui o cap Pamplona a dar conhecimento básicos do morteiro 81 mm a dois escriturários entre eles o Fortes. (O outro camarada não é o Narciso, mas o Silva, 1º cabo escriturário, manda dizer o autor da foto, com pedido de correção da legenda...)


Foto nº 3 >  O André (Russo), maqueiro

Guiné > Região de Bafatá > Galomaro > CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)

Fotos: © Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Texto enviado em 3 do corrente  pelo o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º cabo condutor auto rodas, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74),  a propósito da efeméride do 1º de dezembro (*)


HISTÓRIAS DO JUVENAL AMADO (**)

58 - Os meus heróis do 1º de dezembro 



A defenestração do Miguel de Vasconcelos
em 1/12/1640. Imagem de banda desenhada,
cuja autoria não  conseguimos apurar.(M. Gustavo?)
Durante a minha vida passei este dia em diferentes circunstâncias como toda a gente ou quase toda porque o que é importante para uns não é para outros.

Também para mim esta data teve grande importância numas alturas,  e noutras era só mais um feriado aproveitado para descansar .

Serviu de mote a discursos inflamados de nacionalismos, onde altos médios ou pequenos dignatários do pode  despejavam verborreia de palavras num português rebuscado e, muitas vezes ficávamos sem saber o que é que eles tinham dito na verdade. 

Não me lembro de ter retido nada do que se disse a não ser, que falavam da restauração da independência mais do conde de Andeiro e da famigerada Leonor Telles [, na crise de 1383-1385], mas lembro-me bem do frio que passava em calções, de bata branca, no largo junto ao Mosteiro de Alcobaça sob o olhar severo da nossa professora, que de maneira nenhuma aceitaria, que algum de nós faltasse na formatura . Mas o pânico dela seria de que nós fossemos sujeitos a reparo por falta de atenção e garbo infantil na parada onde estavam fardados os membros da Mocidade Portuguesa e da Legião Portuguesa, mais os bombeiros etc.

Juvenal Amado
As diferenças de opinião entre esta professora e minha mãe, que a conhecia de ginjeira por ter sido aluna dela, levou o meu pai agarrar nos parcos haveres mais família e vai dai fomos morar para a Vestiaria, terra onde a efeméride teve sempre pouco que contar. Acabei lá a 1ª  e fiz a 2ª e 3ª classes.

Só regressei à escola de Alcobaça para fazer a 4ª classe e aí tive como professor um já alto graduado da Mocidade Portuguesa, que ia fardado para a escola nos dias importantes e sempre aos sábados.

Como ele tinha já filhos da nossa idade, não percebia como que ele era da Mocidade Portuguesa, mas há uns anos apareceram as juventudes partidárias em que, são jovens militantes ou jotas até quase serem avós e aí estabeleci a comparação finalmente. 

Não merece a pena aqui exemplificar com nomes em que essa juventude partidária prolongada acabou com o dito feriado para desgosto de republicanos, monárquicos e do povo em geral, que passaram a lastimar o facto.

Mas lá diz o ditado, que não há bem que sempre dure e mal que nunca acabe e assim, como Portugal viu a sua independência restaurada no 1º de dezembro de 1640, a tão insigne data foi restaurada como feriado nacional em 2016, com a curiosidade de que até quem acabou ou ajudou a tirar o feriado, vir hoje a terreiro congratular-se com a reposição do mesmo e dizer Muito bem! Muito bem!! Muito bem!!!

E dizem em alto e bom som, como se a verdade os tivesse iluminado e viesse de como um raio só para eles; “Era um direito do povo português ver este dia começar ainda deitado, como num feriado que se preze”. Sim porque em pleno inverno, não se podendo ir fazer ski (ou sku) à Serra Nevada, resta-nos o prazer de ficar no quentinho mais uma ou duas horas.

Não há nada mais certinho e direitinho , que os direitos do povo … bem, nem sempre como se sabe.

Mas a data passou a ter para mim outro significado, há 45 anos, pois precisamente neste dia o meu destacamento foi violentamente atacado ao arame pelos guerrilheiros do PAIGC, felizmente só com algumas escoriações e muita valentia, que não tinha nenhum patriotismo mas sim vontade de sobreviver.

Ontem faltavam 10 minutos para as 22 horas, relembrei aquela noite em que estando tão perto da malvada, constatei de quanto é estreita a linha que nos separa da vida e da morte.

Veio-me à memória os nomes dos camaradas que estavam comigo e os que, mais prontamente, reagiram ao ataque bem como os que estavam no mato, que podiam ser atingidos quer por fogo inimigo como amigo .

Ao Lourenço,  1º cabo mecânico auto, que deu as rajadas que obrigou o inimigo a denunciar-se cedo de mais, ao André, maqueiro, mais o Silva, escriturário, que usaram o morteiro 81 de forma evitar o pior, mais os que, de uma forma ou outra o melhor que puderam, reagiram com G3 e puseram em fuga os guerrilheiros,  renovo com muito obrigado. Para mim, foram os heróis desse 1º de dezembro...

Mais tarde uma pessoa muito importante para mim, também faz da data um dia de comemoração bem mais agradável.

Um grande abraço para todos tabanqueiros

PS - Na CCS foi ministrado um frugal treino de manuseamento dos dois morteiros 81, bem com da MG 42, a cozinheiros e corneteiros e escriturários já que os pelotões operacionais saíam em colunas ou patrulhas ora uns, ora outros, e os seus abrigos eram longe das referidas armas. Possivelmente terá sido assim noutras CCS.
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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 16 de outubro de 2017 >  Guiné 61/74 - P17866: Estórias do Juvenal Amado (57): A minha avó Deolinda Sacadura, uma mulher do 5 de Outubro

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P18019: Blogpoesia (540): Tempos duros em que as saudades apertavam (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872)



1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 25 de Novembro de 2017:

No mês de Novembro de 1972 morre numa mina, entre Galomaro e Saltinho, o 1.º Cabo PELREC Teixeira; são transferidos para o hospital de Bissau o Carlos Filipe e o seu comandante de pelotão, alferes Mota, que vem a falecer dois dias depois.
Foi um tempo duro em que as saudades apertavam e, em sentido figurado, também se morria de amor.

Um abraço
Juvenal Amado


Meu amor morro de saudades

O papel fino
Letra redonda tão harmoniosa,
Feminina sem segredos
Água fonte dos meus sentidos
Cheirava a ti o papel
Lá estavam os iis com corações
A tua escrita tinha aroma de pêssego
Sabia onde tinhas colado a tua boca
O teu sabor a maçã
Perfume dos nossos lugares
Erva fresca pinheiro e eucalipto
Relia o cabeçalho 
- Meu querido... Morro de saudades 
meus olhos perdiam-se nos iis com corações 
Como sobrevivemos longe 
Como suportamos a longa espera 
Guardava as tuas palavras 
Enquanto aguardava o regresso a ti
Doía-me a ausência de nós
Na solidão da noite tudo parecia irreal
Fustigavam-me todas a dúvidas
Os meus fantasmas ganhavam formas
Vagueavam entre o suor e o calor
Voltava a ler a magia nas tuas palavras
- Meu querido… morro de saudades
Guardava-te junto ao peito
Nunca te amei tanto
e…
Também eu morria de saudades
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 de Novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18015: Blogpoesia (539): "As rampas...", "Apanágio de poucos..." e "Arame farpado...", poemas de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17512: (De) Caras (79): Francisco Augusto Regalla (1871-1937), médico militar: a história de uma família ou de um clã (Juvenal Amado / Manuel Coelho / Armando Tavares da Silva / Patrício Ribeiro / Ricardo Regalla Dias-Pinto)


Guiné-Bissau > Galomaro > 2017 > O ramo da família Regalla em Galomaro


Foto (e legenda): © Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados. (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Mensagem de Juvenal Amado

23/06/2017



Luís,  talvez o Ricardo (*) tenha vontade de ver esta foto publicada por uma neta do Sr Regála, o nosso grupo de Galomaro Destino Passagem, do Facebook.

Pensei que iriam gostar de ver a minha Avó Maria e os herdeiros do Sr. Regalla, como estão Hoje!! Os filhos, por or ordem:

Agnelo, 
Celina,
Crisanta (minha mãe),
 Augusto, 
Hazel,
Fatima, 
Nair


2. Mensagem de Manuel Coelho:

24/06/2017




 Caro Luis, por mim podes usar as fotos que entender, livremente.

Vejam só os laços familiares que se descobrem com algum trabalho.
Boa sorte para o livro sobre a família,
abraço

3. Comentário de Armando Tavares da Silva (*):


O capitão/major-médico Francisco Augusto Resgalla vem largamente referido no meu livro "A Presença Portuguesa na Guiné,História Política e Militar, 1897-1926" (Caminhos Romanos, 2016).


4. Comentário de Patricio Ribeiro (*):

Meus amigos,

A  família Regala é muito grande, desde Golomaro, Cabedu, Cobumba e Bissau, com quem privo com frequência.

São pessoas influentes e muito envolvidas com Guiné em diversos sectores, e fazem o favor de serem meus amigos. (**)

Desde o calor de Bissau,
O vosso amigo. Patrício Ribeiro

5. Comentário de Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto (*):

Desde já e mais uma vez o meu agradecimento a todos.

Certamente o livro que estou prestes a publicar irá esclarecer muito mesmo sobre este personagem que é meu bisavô, pai da minha avó Idalina com quem tive a sorte de privar durante longos anos e marido de minha bisavó e sua mulher Palmira Alice Pinheiro Sanches Moreira Regalla (Corujeira),  de Mira, que infelizmente morreu muito cedo.

Muito gostaria de poder adquirir o livro publicado por Armando Tavares da Silva, "A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar, 1897 - 1926)" pelo que peço que me digam onde o poderei comprar.

Cumprimentos e um caloroso abraço a todos,

Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto

___________________

Notas  do editor:

(*)  Vd. poste de  25 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17509: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (43): o coronel médico, meu bisavô, Francisco Augusto Regalla (Aveiro, 1871 - Mindelo, 1937): pedido de utilização de foto da fortaleza da Amura de cuja guarnição ele fez parte em 1915 (Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto, Cascais)


  (**) Último poste da série > 20 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17489: (De) Caras (85): o testemunho de Manuel Amante da Rosa, embaixador plenipotenciário de Cabo Verde em Itália, sobre o Fausto Teixeira: "era uma figura distinta, opositor ao regime de Salazar, vigiado pela PIDE/DGS, amigo do meu pai que lhe comprou, no início dos anos 70, o último navio que ele levou para a Guiné, um antigo cacilheiro que fazia carreiras regulares para o Xime e para os Bijagós ...Morreu depois do 25 de Abril em Portugal".

domingo, 4 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17430: Blogpoesia (513): No Dia dos Amigos (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas do BCAÇ 3872)



1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 3 de Junho de 2017:

Alguém criou um dia para os amigos como se fosse preciso um dia para comemorar a amizade.
Este dia é todos os dias e mal vamos, quando passarmos as amizades para um dia no calendário. Mesmo assim foi pretexto para escrever umas linhas e dar um abraço a todos membros deste blogue.

Um abraço
Juvenal Amado


AMIZADE

Saio de dentro de mim
Pairo sobre o meu corpo
Volteio no éter
Inspiro à minha volta
Explodem!
Novas e velhas recordações
Tantos rostos, nenhum ódio
Os sentimentos tocam-me
Recordo a dor sem a sentir
Sinto os gritos sem os ouvir
Bebo sem engolir
Vejo o que percorri
Caminho mas não sinto o impacto
Um rio corre lá em baixo
Mergulho a pique
Sinto a água mas estou seco
Revisito-me e misturo as imagens
Algumas são só sombras
Adivinho-lhes o perfil
Modelo-lhe as formas
Quase lhes sinto o cheiro
Confuso abro as cortinas
Deixo entrar essa luz
Que clarifica e é continuidade
Que mantém o meu rumo
Que eterniza o sentimento
Estendo as mãos e toco-lhes
Porque a amizade
Essa vai continuar presente.

Para os meus amigos no dia da amizade
Juvenal Amado
____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 de Junho de 2016 > Guiné 61/74 - P17428: Blogpoesia (512): "Hora da sorte"; "Convénio de gansos" e "Renegado...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

segunda-feira, 8 de maio de 2017

domingo, 30 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17296: (In)citações (107): XXII convívio do BCAC 3872 (Galomaro, 1972/74)... Fátima, 29/4/2017... Quem não esteve, teve pena... mas para o ano há mais! (Juvenal Amado)


Fátima > 29 de abril de 2017 > XXII Convívio di BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) > Foto  de grupo: cerca de meia centena de ex-combatentes.



Fátima > 29 de abril de 2017 > XXII Convívio di BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) > Foto  do bolo de aniversário > Juntou-se malta sobretudo da CCS e  mas também das compamnhias operacionais, CCAÇ 3489 (Cancolim), 3490 (Saltinho) e 3491.(Dulombi e Galomaro).


Fotos: © Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça &  Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do Juvenal Amado, com data de hoje, às 16h11


Mais uma vez se juntou a malta do BCAÇ 3872. Estavam lá do Saltinho, de Cancolim, Dulombi e a maioria da CCS.

Quem esteve ficou feliz, quem não pode esta presente,  julgo que teve pena, mas para o ano há mais, ali para os lados de Abrantes.

Um abraço

2. Crónica de 29 de Abril 2017

por Juvenal Amado



Sede bem-vindos com apetite,

Heróicos e destemidos,

Viestes de todos os lados,

Não temestes atalhos e caminhos.

De Norte vieram muitos,

Do Centro aos magotes,   

De mui outros locais compareceram.

Trouxestes mulheres e prole, 

Que viestes todos com vontade,

Não vos fizestes rogados, 

E agora que chegastes,

Avisados que estáveis,

À sombra do João Paulo II esperais,

A Palavra na Santíssima Trindade ouvistes

Mas logo que forças recuperais,

Avançais para o D. Nuno sem vacilar

Está lá o mapa para que no caminho não vos enganeis, 

P'ra de entrada degustar pasteis, croquetes e iguarias tais

Que empurrais com vinhos brancos e tintos,

E não tenhais piedade

E porque dos fracos não reza a história,

De dietas não faleis

Ao trinchar esse naco,

Estripai e cortai a direito ou enviesado.

Regai pois esse labor e bebei

Que nos dentes não tenhais dores

E que nunca fiqueis engasgados,

Até porque para o ano há mais.



sábado, 15 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17247: In Memoriam (295): Mário Vasconcelos (1945- 2017), ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74.... O velório é hoje na ipreja das Dominicas, Guimarães


O Mário Vasconcelos, foto recente, do Juvenal Amado



O Mário Vasconcelos é o primeiro da direita. Foto de Juvenal Amado (o terceiro a contar da direita)... O Eduardo Campos é  o primeiro da esquerda.





1. Mensagem do Juvenal Amado com data de ontem, às 23h32:

Este ano está a ser terrível pois não paramos de ser confrontados com o desaparecimento físico dos nossos camaradas.

O nosso camarada Mário Vasconcelos que foi alferes transmissões no batalhão 3872 ( substituto do ex alferes Mota, falecido com 10 meses de comissão) acaba de nos deixar hoje pelas 19 30 horas.

Ele tinha avisado na nossa página do Facebook que se ia submeter a uma operação cirúrgica e que contava estar bem para o nosso almoço anual.

Infelizmente não foi assim.

À família enlutada quero desde já deixar os meus mais sentidos pêsames, Ele que Fique em paz e que terra lhe seja leve.

Juvenal Amado



2. Mensagem do Rui Vieira Coelho na página do Facebook da Tabanca Grande:


Caro Luis Graça:  o ex-allferes Mario Vasconcelos, oficial de transmissões do BCAÇ  3872, sito em Galomaro,  Guiné, 1972/74, faleceu hoje na cidade de Guimarães, pelas 17horas e trinta minutos do dia 14 de Abril de 2017 . Paz á sua Alma.

3. Comentário do editor LG:

Infelizmente, a triste notícia foi-nos confirmada pelo filho, Nuno Vasconcelos, devendo o velório ser feito hoje, sábado, na capela das Dominicas em Guimarães. O nosso camarada Mário Vasconcelos era casado, vivia em Guimarães, era prof ref da Escola Secundária Escola Secundária Francisco de Holanda. Estudou Engenharia Electrotécnica em Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto; tinha andado a escola Escola Secundária Francisco de Holanda.
No CTIG, foi alf mil trms,   CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72,Mansoa, e Cumeré, 1973/74.

Tem 37 referências no nosso blogue.

Em nome da Tabanca Grande, apresentamos à família e aos amigos e camaradas mais próximos as nossas  condolências.

PS - Informação adicional do Juvenal Amado:  "O Mário Vasconcelos nasceu, segundo informação do ex-furriel transmissões Rui Marques, em 29 de Outubro de 1945. portanto faria em Outubro 72 anos de idade."


sexta-feira, 31 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17191: Blogpoesia (502): "Os mortos desse dia" - Aos valorosos militares do BCAÇ 3872 caídos em combate (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto)

Quartel do Saltinho


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 22 de Março de 2017:

Esta é uma época do ano em que há 45 anos, ainda verdes, conhecemos de perto as agruras da guerra.
Em Março e Abril de 1972, o impensável aconteceu-nos. Quase dezena e meia de camaradas de Cancolim e do Saltinho foram ceifados naquela guerra.

Juvenal Amado


Os Mortos Desse Dia

Os mortos desse dia
Eram magníficos
Eram Jovens
tinham o rosto tisnado pelo Sol
Quase sem barba

Os mortos desse dia
Tinham olhos inocentes e belos
Emoldurados de mato
Eram amados
Tinham pais e os seus amores

O mortos desse dia
Eram perfeitos
tinham o camuflado em farrapos
um olhar incrédulo
Um esgar de espanto

Os mortos desse dia
Formaram um bailado estático
Trágicos
Andam à deriva
Continuam em nós

Os mortos desse dia
Foram na enxurrada das palavras
Diluíram-se nas névoas do tempo
Desapareceram no luto
Na vigília de olhos cansados

Meu amor
Os mortos desse dia
Serão os de todos os dias

Juvenal Amado

Cancolim - Espaldão do Morteiro 81
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17178: Blogpoesia (501): "Duas rotinas..."; "O pastor alemão..." e "Carta a um amigo desconhecido...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728