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sexta-feira, 1 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23131: Notas de leitura (1433): "O Silvo da Granada, Memórias da Guiné", por José Maria Martins da Costa; Chiado Books, Agosto de 2021 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Março de 2022:

Queridos amigos,
O primeiro-cabo Martins ambienta-se a Guileje, dá-nos conta de um pequeno Inferno ali ao lado, a vida em Gandembel, já apareceu o brigadeiro Spínola que deixou cair o monóculo num panelão onde cozia o feijão frade, criou amizades na tabanca, não desgosta da comida local, anda por vezes nos patrulhamentos com o rádio às costas, ajuda a escrever cartas a madrinhas de guerra, já enfrenta com mais serenidade as flagelações. O que vai surpreender o leitor destas memórias é a cultura clássica do Martins, não lhe escapa Ovídio nem Xenofonte, nem António Ferreira nem Tomás António Gonzaga, e não nos indispõe as suas latinidades, vê-se perfeitamente que foi assim que lhe vieram às memórias as recordações de Guileje e arredores. Mas que é uma invulgaridade é, e uma bonita prova de vida contar-nos o que viveu e os afetos que teceu.

Um abraço do
Mário



Uma invulgaridade da literatura da Guerra da Guiné (2):
O Silvo da Granada, por José Maria Martins da Costa


Mário Beja Santos

Uma surpresa, e com aspetos bem curiosos, este O Silvo da Granada, Memórias da Guiné, por José Maria Martins da Costa, Chiado Books, agosto de 2021. O leitor é colhido por uma prosa onde primam citações de clássicos, a começar pelo latim, tudo passa a ser entendível quando se lê o currículo que o autor apresenta: “Natural de Roriz, concelho de Santo Tirso, aí frequentei a escola primária, finda a qual entrei no seminário, mais precisamente no mosteiro da Ordem Beneditina. Saí no sétimo ano, talvez para voltar daí a trezentos anos como o monge de Bernardes. Como trezentos anos demoram a passar, para não estar ocioso entretive-me a tirar o curso de Filosofia na Universidade do Porto, e ainda o de Latim, Grego e Português, e respetivas literaturas, na Universidade de Coimbra. Entretanto, assentei praça no Exército, indo para a Guiné como combatente da Guerra do Ultramar e assentei arraiais civis no Porto, onde casei, fui professor e jornalista. Nesta cidade, tenho levado vida plácida e remansosa, dentro dos parâmetros da Aurea Mediocritas de Horácio. Por falar em Horácio, ia-me esquecendo de dizer que publiquei há anos um livro de poemas intitulado Libellus, palavra latina que tanto pode significar pequeno livro como libelo acusatório. Fora das partes líricas, acusava realmente e castigava alguns dos costumes e vícios da sociedade contemporânea. Queria endireitar o mundo. Mas o mundo ignorou o livro e continuou cada vez mais torto”.

Primeiro-cabo Martins já viajou para Guileje, está na fase adaptação, somos levados a supor que este homem que está profundamente impregnado pela cultura clássica, que domina o Latim e alguns dos mais cultores da língua portuguesa trabalha nas Transmissões. De supetão, arribaram três helicópteros, de um deles saiu Spínola, já percorreu o quartel, conversou com os oficiais e decidiu visitar a cozinha:
“Spínola em corpo e alma e rompeu pela cozinha sem aviso, deixando atónitos, presos aos seus lugares, cozinheiros e forneiro; e, depois das saudações e palavra de circunstância e de circunvagar um olhar indagador como a inspecionar as condições de trabalho e de higiene, avança para os fogões, mete o nariz em tachos e panelas. Eis senão quando – caso nunca visto – cai-lhe o monóculo ao panelão, onde, vaporando fortemente, fervia a cachão o feijão frade. Valeu que à ilharga, atento e venerador, estava o cabo-cozinheiro, que, ato contínuo, introduzindo por entre densos vapores a desembaraçada manápula acostumada a queimaduras e escaldões, retira incólume a luneta”. Cumprida a visita, o homem grande de Bissau partiu para Gandembel, e Martins da Costa enquadra o que se passa no Corredor da Morte, ali nas fímbrias de Guileje e um suplício das colunas até Gandembel, todas elas a convidar minas e emboscadas. E anota o esforço hercúleo que custou à tropa edificar um aquartelamento naquele lugar inóspito, desmatar, derrubar palmeiras, erguer as instalações do quartel, sempre com os efetivos do PAIGC a não dar tréguas.

E lembra que ali perto está o rio Balana, todas as colunas de reabastecimento se fizeram com sobressalto, havia colunas que partiam de Aldeia Formosa e dá-nos a saber:
“Entre Aldeia e Gandembel há um sítio, ponte Balana que do rio e da ponte que sobre ele está lançada, a tropa o nome lhe tem dado, sítio com fama de fatídico, tanto como do lado de cá o cruzamento de Guileje. Ali, nomeado mês (terá sido maio de 1968), depois de duas colunas terem passado sem serem incomodadas, a terceira foi o Diabo: quatro mortos, ou talvez mais, de uma assentada. Dias depois, também para as bandas de Aldeia, havia de ser um Inferno, com mais alguns militares para sempre tombados, e outros – dois, três? –, não se sabe quantos – apanhados à mão pelo inimigo”.

A 5 de junho, já o Martins contou que foi bem acidentada. E espraia-se demoradamente a falar da islamização e de alguma etnografia Guineense, ele já percorre a tabanca dominada por Futa-Fulas com quem está a estabelecer uma boa relação. Chegou a vez de ir em patrulha a alombar com o rádio às costas, metem-se pela picada em direção a Gadamael, um corta-mato em que a milícia à frente vai esfrançando árvores e arbustos, foi uma trabalheira, não houve minas nem emboscadas. Volta à descrição da vida da tabanca, bem surpreendido anda com a meticulosidade das rezas a Alá, e nisto saltamos para um naco de prosa de que o autor terá gostado muito, até o pôs na contracapa:

“A morte anda rondando, que bem na sentiu o Martins; passou-lhe por cima do nariz, cheirou-a. Foi há pouca; a tarde declinava, os colmos das palhotas, como negros capuzes de monges, tinham um aspeto contemplativo, misticamente recolhido; a terra abandonava-se a um grave repouso depois de algumas horas de calor emoliente, um pesado torpor ia deixando os corpos. Saído de turno, caminhava para o abrigo o nosso herói, sozinho, passo lento, pálpebras descidas, no enlevo da doce quietação do fim do dia. Senão quando, vindo de trás, pelo ar, um silvo que não era de cobra fá-lo estacar. Não presumiu que o ouvido o enganava, acreditou sem ver: uma granada fendia o espaço sobre a sua cabeça a pouca altura, iria cair dali não muito adiante – cair, explodir, projetar em todas as direções as mil estilhas assassinas em que havia de fragmentar-se. O abrigo era já ali. Mas quem há de estar à mercê de um mortífero estilhaço, já ali, figura-se-lhe no outro lado do mundo. E arrojou-se do instinto ao duro chão. Deitado de borco, rosto em terra, atrás da árvore que ali há, aguardou a explosão com a suprema agonia do condenado que vê o carrasco erguer o machado que o vai decepar. Instantes de Inferno foram esses; mas, em discrepância com o Inferno, tiveram fim. Rebentou o temeroso engenho mais à frente, lá para o arame farpado; os estilhaços não rasam o solo, assim, ileso, e com o alívio de quem vê comutado a pena de morte, ergue-se de salto, voa que não corre para o abrigo”.

Vê-se à vista desarmada que Martins da Costa aprecia a arquitetura vernacular, compraz-se na fluidez verbal, e nos remete em casos muitos ou poucos para a consulta do dicionário. Maturou muito antes de chegar a estas memórias dadas à estampa de 2021, cita sem sobrançaria em Latim, qualquer propósito lhe serve, até fala em Ovídio a propósito da descrição que faz do aerograma e até das madrinhas de guerra. Chegou um comerciante Fula, chama-se djila, não veio nem de avião nem de viatura, há uma vereda só sabida da população, ligando Guileje a Gadamael, e temos mais notas etnográficas, ninguém se assoa a lenços, comprimem com o indicador de uma das mãos a narina do mesmo lado e, inclinando-se um pouco para a frente, sopram pela outra para terra, que tudo absorve e consome. Vai recebendo prendas de quem o estima, é o caso de Mariama que lhe deu um naco de carne de gazela, já lhe tinha sabido bem arroz condimentado com o molho feito de óleo de palmeira, Martins deslumbra-se com a afabilidade desta gente da tabanca.


Estamos na época das chuvas, não é possível andar-se em colunas, fazem-se patrulhas, Martins fica no quartel, mais questionamentos etnográficos. E resolve apresentar-nos o Pel Caç Nat 51, diz quem é tropa metropolitana, os primeiros-cabos são todos nortenhos, de Entre Douro e Minho e conta-nos o que separa estes homens quanto a nomes de objetos, um diz tacho outro sertã, houve para ali discussão séria, ficamos igualmente a saber como é a vida dentro do abrigo, a prosa vai saltitando sobre questões da Guerra Fria, fala-se mesmo de Mário Pinto de Andrade, volta a haver patrulhamentos e desta vez o Martins alomba com o rádio, temos novos apontamentos etnográficos que metem a hierarquia dos homens grandes, a prática de justiça, a educação das raparigas, ficamos cientes que no abrigo dos brancos do Pel Caç Nat 51, à mesa tosca há bastante elevação das conversas e até se apura que o Martins ajuda um soldado da Companhia local a escrever cartas à madrinha de guerra, nova flagelação, que não correu bem ao PAIGC, há para ali um extenso rasto de sangue, escoados três dias e três noites, que perdura na mata. E assim se chegou ao fim da estação das chuvas.

(continua)


Corredor de Guileje, 1972. © Fotografia de Fernando Monteiro (1º Cabo Enfermeiro), na imagem com a respetiva mala de primeiros socorros, com a devida vénia
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Notas do editor:

Poste anterior de 28 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23121: Notas de leitura (1431): "O Silvo da Granada, Memórias da Guiné", por José Maria Martins da Costa; Chiado Books, Agosto de 2021 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 31 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23128: Notas de leitura (1432): "Os Velhotes: Contos Eróticos" (Alcochete, Alfarroba, 184 pp.), do nosso camarada António J. Pereira da Costa, Tó Zé, para os amigos... Uma pedrada no charco da nossa educação judaico-cristã...

segunda-feira, 28 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23121: Notas de leitura (1431): "O Silvo da Granada, Memórias da Guiné", por José Maria Martins da Costa; Chiado Books, Agosto de 2021 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Março de 2022:

Queridos amigos,
É mesmo uma surpresa, um cultor do classicismo andou por Guileje e paragens limítrofes, entre 1968 e 1970, creio que se disfarça no primeiro-cabo Martins, das Transmissões, são memórias onde não faltam referências a Horácio, Virgílio, Dante, Camões, há a preocupação de resistir à tentação de passar ao crivo a história da Guiné ou martelar as vias sinuosas da luta pela independência, é um livro cheiro de olhares, alguém que reza o terço, que se comove com a inocência das crianças, vê partir colunas de abastecimento e sente um remorso por nelas não participar. Já chegou a hora da primeira flagelação, muito mais se seguirá, o tomo memorial ultrapassa as quinhentas páginas, foi editado pela Chiado Books recentemente, faz hoje parte do Grupo Atlântico Editorial.

Um abraço do
Mário



Uma invulgaridade da literatura da Guerra da Guiné (1/4):
O Silvo da Granada, por José Maria Martins da Costa


Mário Beja Santos

Uma surpresa, e com aspetos bem curiosos, este "O Silvo da Granada, Memórias da Guiné", por José Maria Martins da Costa, Chiado Books, agosto de 2021. O leitor é colhido por uma prosa onde primam citações de clássicos, a começar pelo latim, tudo passa a ser entendível quando se lê o currículo que o autor apresenta:
“Natural de Roriz, concelho de Santo Tirso, aí frequentei a escola primária, finda a qual entrei no seminário, mais precisamente no Mosteiro da Ordem Beneditina. Saí no sétimo ano, talvez para voltar daí a trezentos anos como o monge de Bernardes. Como trezentos anos demoram a passar, para não estar ocioso entretive-me a tirar o curso de Filosofia na Universidade do Porto, e ainda o de Latim, Grego e Português, e respetivas literaturas, na Universidade de Coimbra. Entretanto, assentei praça no Exército, indo para a Guiné como combatente da Guerra do Ultramar e assentei arraiais civis no Porto, onde casei, fui professor e jornalista. Nesta cidade, tenho levado vida plácida e remansosa, dentro dos parâmetros da Aurea Mediocritas de Horácio. Por falar em Horácio, ia-me esquecendo de dizer que publiquei há anos um livro de poemas intitulado Libellus, palavra latina que tanto pode significar pequeno livro como libelo acusatório. Fora das partes líricas, acusava realmente e castigava alguns dos costumes e vícios da sociedade contemporânea. Queria endireitar o mundo. Mas o mundo ignorou o livro e continuou cada vez mais torto”.
Guiné > Região de Tombali - © Infografia Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Coube-lhe na rifa Guileje e algo mais, entre maio de 1968 e julho de 1970, apresenta-se como Martins, primeiro-cabo de Transmissões, especialidade que tirou em Lisboa, andou pelo Algarve e embarcou num Niassa em rendição individual. Mal chegou, puseram-no a levar corpos ao cemitério de Bissau, depois percorre a cidade, recorda a família e amigos, vem-lhe à memória um soneto de Gonçalves Crespo e a poesia camoniana, no quartel dos Adidos assiste a uma arenga de Spínola às tropas recém-vindas. “Ao Martins, por vício de formação, que o faz apreciar arroubos de retórica, ainda quando empolada, só lhe ficou o enfático da arenga”. Percorre o cais de Pijiquiti, um relojoeiro no Bissau Velho fala-lhe dos incidentes de 3 de agosto de 1959. E chegou a hora de partir num batelão, primeira etapa Bolama, adormece rezando, a passagem pela antiga capital é muito rápida, dirigem-se agora para Cacine, lembra-se do poeta Dante. O Martins vai a terra. “Procede do cais uma alameda de palmeiras, poeirenta, em terra batida, ladeada, mais adiante, das dependências do aquartelamento. Um simulacro de porta de armas separa a área militar da povoação. Aliviados das provisões destinadas à tropa daqui e também à de Cameconde, destacamento a meio para a fronteira, rumam a Gadamael”. O resto do percurso será por terra, haverá camiões escoltados por camiões de combate. Alguém procura sossegar o Martins. Contempla Gadamael, recolhe cedo ao decrépito cardenho à laia de abrigo.

Já o trataram por Periquito, o mesmo que novato, vem com uma farda enorme, em Guileje um antigo alfaiate irá pôr-lhe a indumentária ajustada. Vai bisbilhotar o posto de rádio, há um camarada a expedir mensagens. No bar, alguém lhe fala do cruzamento de Guileje, relata uma tragédia que ocorreu a 28 de março desse ano de 1968, um encontro com gente armada, ao princípio um equívoco, vinha à frente um homem de tez clara, um cubano, seguiu-se forte tiroteio, seguiu-se um ataque de abelhas, houve ações de autêntico heroísmo para recolher os corpos de dois soldados abatidos. Essa companhia estava agora em Gandembel, ali a uns 10 km de Guileje, a escavar abrigos e a levantar paredes, a viver num inferno, a flagelar da fronteira, a emboscar e a minar a picada. E lá vai o Martins para Guileje, passa-se pelo tal nefasto cruzamento, manda a propriedade do termo que se fala em entroncamento, onde convergem sem se cruzarem duas picadas: a que procede de Cacine e Gadamael e sem desvio continua para Gandembel, tendo mais adiante Aldeia Formosa; e estoutra que nela entronca e a Guileje vai dar.

Dá-nos a primeira impressão desse aquartelamento que lhe parece inexpugnável, logo é atraído pela questão da falta de água, todos os dias há que viajar para fora da cidadela 3 km. Ele faz parte do Pelotão de Caçadores Nativos n.º 51, já desceu ao seu abrigo e tem cama, nada a registar de flagelações ou atos inoportunos. Vai espreitar a tabanca, conhecerá um pequenito com quem saboreará uma refeição. Apercebe-se que isto de almoçar ou jantar não é de estar abancado com os outros, dá-se o sinal de que a cozinha está pronta, recebe-se a provisão e come-se no abrigo, para evitar nefastos acontecimentos de um estoiro em cima de um refeitório. Alguém lhe pergunta de onde ele é, responde impante que é de S. Pedro de Roriz, que tem igreja românica, calçadas pré-romanas de enormes lájeas, e uma paisagem rural de encher o olho… e há a rivalidade entre o Desportivo das Aves e o Tirsense.

E começam as colunas de abastecimento, aquelas que são um calvário, as que levam a Gandembel, alguém faz o relato de fornilhos que desmembram os corpos, ele tudo regista o que ouve do sofrimento dos outros. A sua vida é no posto de rádio, que ele descreve: “É um pequeno edifício térreo, com dois compartimentos: uma sala ao rés-do-chão e uma cave abrigo. Na sala, a um lado da entrada, fica a mesa do operador; do outro, um alçapão sinistro a modo de escotilha em porão de navio, sendo ocupado o restante espaço por camas. O alçapão abre para o abrigo, que subjaz ao pavimento da sala e ao qual se desce por íngreme escada de madeira ou agarrado a um varão de ferro liso e redondo”. Ali se trabalha por turnos, quase sentimos o operador a martelar mensagem.

Chegou a hora do Martins se iniciar em flagelações, parecia que à volta de Guileje reinava a placidez de um lago adormecido, os militares iam passando pela cozinha, e nisto um estampido lá ao longe, salta-se para as escadas, desce-se às profundezas, “em toda a Guileje, militares e civis, brancos e pretos, mulheres com crianças enfaixadas nas costas, enfiam desabaladamente, como flechas, para o refúgio mais próximo”. Ouvem-se as explosões, os tímpanos parece que estouram, aquela criancinha com quem ele está a acamaradar agita-se-lhe a cabeça num estremecimento brusco, está de olhos esbugalhados. A artilharia de Guileje responde e mais adiante o fogo do PAIGC, procura-se a normalidade, uma deceção, o gato comeu os carapaus, estava-se nas tintas para a infernal fuzilaria, não pode resistir ao cheiro a peixe frito, cabe ao Martins uma pratada de arroz e uns carapauzinhos frios.

E temos agora uma coluna que vai picando e ao encontro da tropa de Gadamael, pela mesma picada em que o Martins veio, a escolta é uma enorme serpente de militares que vão avançando espaçados, roncam surdamente os camiões, pela cabeça do Martins aquela imagem da serpente lembra-lhe o poeta Virgílio, como mais adiante lhe ocorre um sermão do Padre António Vieira, dá-se espaço para falar das armas do PAIGC, segue-se uma descrição de uma boa chuvada, é nisto que rompendo os ares se aproximam três helicópteros, vem aí Spínola.

(continua)

José Casimiro Pereira de Carvalho, Furriel de Operações Especiais, colocado na CCAV 8350 (‘Os Piratas de Guileje’) (Foto: José Casimiro Carvalho)
Na foto, do Pel Caç Nat 51, da esquerda para a direita: Furriel Castro, Furriel Azevedo, Alferes João Perneco, Furriel Carvalho e Cabo Raul. (Foto: José António Viegas)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23097: Notas de leitura (1430): “Amílcar Cabral - Pensar para Melhor Agir”; edição da Fundação Amílcar Cabral, Praia, 2014 (5) (Mário Beja Santos)

domingo, 18 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22114: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte XIV: atividade operacional, abril de 1968, destaque para a penúltima operação, a Op Rolls Royce, em Salancaur, corredor de Guileje


"A Guerra Acabou" (Cortesia de João Borges, 2005)


1. Começámos a publicar, há seis meses, em 17/11/2020, uma versão da História da 3ª Companhia de Comandos (Lamego e Guiné, 1966/68), a primeira, de origem metropolitana, a operar no CTIG. (Hão de seguir-se lhe, até 1974, mais as seguintes: 5ª, 15ª, 16ª, 26ª, 27ª, 35ª, 38ª e 4041ª CCmds.)

O documento mimeografado, de 42 pp., que nos chegou às mãos, é da autoria de João Borges, ex-fur mil comando, infelizmente já falecido (em 2005), e que vivia em Ovar. Trata-se de um exemplar oferecido ao seu amigo José Lino Oliveira, com a seguinte dedicatória: "Quanto mais falamos na guerra, mais desejamos a paz. Do amigo João Borges".

Uma cópia foi entregue pelo José Lino, ao nosso blogue, para publicação. (*)


História da 3ª Companhia de Comandos
(1966/68)

3ª CCmds
(Guiné, 1966/68) / João Borges

Abril de 1968

Parte XV (pp. 35 - 36 )





 



(Continua)

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Nota do editor:

ùltimo poste da série > 3 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22064: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte XIV: atividade operacional, fevereiro / março de 1968, destaque para a Op Boa Bisca, em Iador, Bigene

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20865: Efemérides (324): 17 de Abril de 1968, dia negro para a CART 1689, a morte do Furriel Miliciano Belmiro João (Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art)

Em mensagem de 16 de Abril de 2020, o nosso camarada Fernando Cepa, (ex-Fur Mil Art da CART 1689/BART 1913, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69) lembra o trágico dia da morte do seu camarada Fur Mil Belmiro João, passados que são exactamente 52 anos.


O INFERNO DE GANDEMBEL
17 DE ABRIL DE 1968

DIA NEGRO PARA A CART 1689 (BART 1913)
A MORTE DO FURRIEL MILICIANO BELMIRO JOÃO


Na foto, da esquerda para a direita: Furriéis Milicianos, Belmiro João, Sousa, Faria e Cepa


Fernando Cepa
Foi precisamente há 52 anos, a 17 de Abril de 1968, que a CArt 1689 (BArt 1913) viveu um dos momentos mais dramáticos da brilhante passagem pela guerra colonial na província da Guiné Bissau.

Após um ano de intensa atividade operacional pelas traiçoeiras matas da Guiné Bissau, a CArt 1689, incompreensivelmente, foi escalada para participar na célebre Operação "Bola de Fogo" que levou à construção do famigerado aquartelamento de Gandembel/Ponte Balana de má memória para todos aqueles que tiveram a desdita de embarcar para o Inferno de Gandembel.

Como veremos mais adiante, registe-se que o “padre” que batizou a operação com o nome de "Bola de Fogo" sabia perfeitamente do que estava a falar, tamanha foi a brutalidade do potencial de fogo utilizado pelos beligerantes durante toda a operação que decorreu entre os dias 8 de Abril e 15 de Maio de 1968.

Passamos mal a noite da véspera, 16 de Abril, pelo simples facto de não ter havido o habitual fogo de artificio a que o inimigo nos habituara. Aquilo era sagrado. Por volta da meia noite, mais hora menos hora, recebíamos fortíssimas flagelações, desenvolvidas com o apoio de armamento de elevado poder destrutivo, obrigando as nossas tropas a quedarem-se por uma postura meramente defensiva dentro dos buracos escavados no chão a pá e pica. Foi muito doloroso.

Como os “cumprimentos” nessa noite tardavam, o pessoal começou a ficar irrequieto e ansioso, com os nervos à flor da pele, temendo o pior. Ninguém pregou olho. Para mal dos nossos pecados, os companheiros do hotel/buraco, onde pernoitamos 38 dias, já apresentavam sintomas de ficarem apanhados pelo clima, começando a perder o controlo emocional, e, pior ainda, o controlo dos intestinos que por força da última refeição com feijão, infestaram o reduzido espaço com gases fétidos, que se coligaram à abundante produção de suor destilado por corpos jovens sem higiene e sem mudanças de roupa. Dormiam sempre fardados, prontos para o que desse e viesse.
Estes componentes misturados, formavam uma matéria altamente explosiva, quiçá, irrespirável e impossível de aguentar. Mesmo correndo o risco de apanhar, fora do buraco, o ataque que ainda não acontecera, e que não aconteceu felizmente, por volta das três e meia da manhã a maior parte dos comensais saiu, tentando respirar e descansar com as estrelas servindo de teto.

Fur Mil Art Fernando Cepa junto a um Buraco/abrigo em Gandembel

Já estamos a 17 de Abril de 1968. Logo de manhã cedo, recebo instruções do Capitão Maia (hoje General) para preparar o pelotão do Alferes Freitas que eu comandei interinamente durante toda a operação por ausência de todos os graduados do mesmo pelotão. Era para arrancar quanto antes. Saíram dois pelotões. O meu que seguiu na retaguarda e o outro, tanto quanto julgo saber, era o do Alferes Perestrelo que seguiu na frente, com o Capitão Maia à cabeça da coluna, acompanhado pelo Furriel Miliciano Belmiro João com a especialidade de Armas Pesadas, mas que, julgo com formação em minas e armadilhas. Estranhamos a presença do Furriel Belmiro porque habitualmente estes especialistas não acompanhavam a tropa que montava emboscadas.

A montagem da emboscada estava prevista para um local nas redondezas do acampamento, 100 a 200 metros, onde se supunha que o inimigo instalava o armamento para flagelar sem dó nem piedade as nossas tropas durante a noite.

Chegados ao presumível local da montagem da emboscada, analisou-se e avaliou-se o melhor dispositivo para instalar as nossas forças quando o Capitão Maia sugere que se avançasse mais um pouco para colher o benefício da proteção dum enorme monte de terra (vaga-vaga) muito abundantes na Guiné e locais de habitação de enormes colónias de terríveis formigas.

Chegados aí, o Capitão Maia senta-se junto ao monte de terra, vaga-vaga, para apertar os atacadores das botas, enquanto o Furriel Belmiro executa uma pequena prospeção da zona por conhecer rigorosamente os locais onde teria colocado as armadilhas.
De repente, ouve-se uma violenta explosão projetando o Furriel Belmiro à altura de um metro, caindo inanimado de barriga para baixo. O Capitão estupefacto e ferido na perna esquerda, grita-lhe para rodar sobre o lado direito e ficar de barriga para cima, manobra que ainda conseguiu executar com alguma dificuldade. Tinha sido gravemente atingido com estilhaços na cabeça.

Seguiram-se os habituais momentos de tensão, procurando-se a todo o custo assistir os feridos, diligenciando-se o mais rápido possível a vinda de meios aéreos para uma rápida evacuação.
Transferidos os feridos para o interior do aquartelamento, aguardou-se a chegada do helicóptero que não se fez esperar. A Enfermeira Paraquedista imediatamente tomou conta dos sinistrados, prontamente colocados no interior da aeronave.
A Enfermeira apercebendo-se da gravidade do estado de saúde do Furriel Belmiro, combina com o piloto um voo rasante à copa das árvores para evitar as pressões provocadas pelas altitudes.

O heli faz-se rapidamente ao caminho e voa rapidamente, numa primeira escala, até Buba, onde o médico do Batalhão presta os primeiros socorros, medicando os feridos e instruindo a enfermeira sobre os cuidados médicos a observar até à chegada ao Hospital Militar de Bissau.

A 18 de Abril de 1968, o Furriel Miliciano Belmiro João, faleceu, em consequência dos gravíssimos ferimentos sofridos na cabeça, dizem alguns, vítima da armadilha que ele próprio montou. Outros, mais céticos, argumentam que não, contrapondo ser o Belmiro um militar extremamente metódico e cauteloso, sabendo exatamente os locais onde implantou as armadilhas.

Sobre este nefasto acontecimento, regista-se a curiosidade do processo do falecimento do Furriel Miliciano Belmiro João ser encerrado como morto em combate e o processo do Capitão Maia, encerrado como acidente em serviço.

Acabo de ter uma longa conversa com o General Manuel Maia (na altura Capitão) que me ajudou a consolidar a veracidade dos factos.

Sobre o falecido Furriel Miliciano Belmiro João, direi que era um militar acertivo, leal e bom companheiro. Apesar de poucas palavras, gostava duma boa conversa. De fortes convicções, católico assumido, nunca renegou as suas origens humildes e transmontanas. Era um amigo estimado no seio da família dos furriéis milicianos.

O Capitão Maia fez a convalescença no Hospital Militar de Bissau tendo regressado à CArt 1689 já aquartelada em Cabedú no sul da Guiné e, no dia 12 de Julho de 1968, abandona definitivamente a Companhia viajando para a Metrópole para frequentar o Curso do Estado-Maior. No dia seguinte, 13 de Julho, o Alferes Ferreira de Almeida do QP que ficara a comandar a Companhia morre mortalmente atingido durante um violento ataque ao aquartelamento de Cabedú.

Fernando Cepa
Ex-Furriel Miliciano
Cart 1968 Bart 1913
Guiné 67/69
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20854: Efemérides (323): No dia 13 de Abril de 1970, a CART 2732 embarcou no Cais do Funchal, no navio Ana Mafalda, com destino à Guiné (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA)

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20283: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte IV


Foto 1 – Mais uma imagem de explosão de mina anticarro, provavelmente accionada por viatura militar, situação que poderia suceder de forma absolutamente imprevisível, pondo em risco de vida todos os seus ocupantes, nomeadamente os condutores auto rodas.


Fonte: Centro de Documentação da Universidade de Coimbra (Arquivo electrónico),
   com a devida vénia.




  O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, 
indigitado régulo da Tabanca de Almada; 
tem 230 registos no nosso blogue.



ENSAIO SOBRE AS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE DOENÇA – PARTE IV



1. – INTRODUÇÃO

Eis o quarto fragmento desta temática iniciada no poste P20126, que combina o interesse pessoal com a busca de outros elementos historiográficos emergentes na natureza da guerra. Assim sendo, prosseguimos com a divulgação e análise de mais alguns resultados apurados, tendo por objecto de estudo o universo das "baixas em campanha" de militares do Exército, e como amostra específica os casos de mortes de "condutores auto rodas", ocorridas durante a guerra no CTIG (1963-1974), identificados na literatura "Oficial" publicada pelo Estado-Maior do Exército.

2. – ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE-ACIDENTE-DOENÇA (n=191)

Como temos vindo a referir, a análise demográfica incluída nesta investigação, e as variáveis com ela relacionada, foi feita a partir dos casos de mortes de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutor auto rodas", identificados nos "Dados Oficiais", elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).


Quadro 1 – Distribuição de frequências das variáveis categóricas "em combate" ("contacto", "minas" e "ataque ao aquartelamento"), segundo a relação "ano" e "estação do ano". Considerou-se "Estação Seca", o período entre 1 de Maio e 15 de Outubro, e "Estação das Chuvas", o período entre 16 de Outubro e 30 de Abril.



Gráfico 1 – Distribuição de frequências acumuladas segundo a variável categórica "em combate", por "ano" e "estação do ano".


No que concerne à distribuição de frequências acumuladas relativas à "Estação do Ano" em que ocorreram mortes de condutores auto rodas do Exército, o estudo mostra que não existem diferenças significativas entre "época seca" e "época das chuvas".

São excepções os anos de 1964, 1966 e 1973. Em 1964, registaram 10 casos na "época seca" contra  2 casos na "época das chuvas". Igual tendência foi observada no ano de 1966 (10 contra 5). Em 1973, verifica-se uma tendência de sentido contrário, com 8 casos na "época das chuvas" contra 2 casos na "época seca".

Em suma, este estudo não nos permite concluir que a "estação do ano" tenha tido alguma influência quantos aos casos de mortes em análise.



Gráfico 2 – Distribuição de frequências acumuladas segundo a variável categórica "em combate - por contacto", por "ano" e "estação do ano".

Quanto à distribuição de frequências acumuladas "em combate - por contacto", relativas à "Estação do Ano", o estudo mostra que continuam a não existir diferenças relevantes entre "época seca" e "época das chuvas". São excepções, uma vez mais, os anos de 1964, 1966 e 1973. Em 1964, registaram 10 casos na "época seca" contra 2 casos na "época das chuvas". Igual tendência foi observada no ano de 1966 (7 contra 3). Em 1973, verifica-se uma tendência de sentido contrário, com 5 casos na "época das chuvas" contra 2 casos na "época seca".


3. – MAIS ALGUNS EPISÓDIOS E CONTEXTOS ONDE OCORRERAM MORTES DE CONDUTORES AUTO RODAS ["CAR"] POR EFEITO DE REBENTAMENTO DE "MINAS"

Neste terceiro ponto, continuamos a observar um dos principais objectivos deste trabalho onde, para além dos números, se recuperam algumas memórias, sempre trágicas, quando estamos em presença de perdas humanas… umas confirmadas ao nosso lado; outras, um pouco mais distantes. Seguimos, agora, com a descrição de mais três "casos" (de um total de trinta e três), enquadrados pelos contextos conhecidos. A principal fonte de consulta continua a ser o vasto espólio do blogue, ao qual adicionámos, ainda, outras informações obtidas em informantes considerados privilegiados.


3.10 - 05 DE FEVEREIRO DE 1966: A TERCEIRA BAIXA DE UM "CAR" POR MINA - O CASO DO SOLDADO AIRES DE JESUS FERREIRA, DA CCAÇ 674, ENTRE CANHÁMINA E CAMBAJÚ (BONCÓ)

A terceira morte de um condutor auto rodas, do Exército, em "combate", por efeito do rebentamento de uma mina anticarro, foi a do soldado Aires de Jesus Ferreira, natural de Pombal, Leiria, ocorrida no dia 05 de Fevereiro de 1966, sábado, no itinerário entre Canhámina e Cambajú, perto da Tabanca de Boncó.

Este acontecimento também ficou gravado, na cronologia historiográfica da guerra, como sendo o primeiro no território a Norte da Guiné (Bissau), a poucos quilómetros de Cambajú, localidade situada na fronteira com a República do Senegal.

Por curiosidade, este episódio ocorreu na região que viu nascer o nosso colaborador permanente, e grande amigo da «Tabanca Grande», Cherno Baldé, que, naquela data, teria cinco/seis anos e, daí, certamente, desconhecê-lo.

O contingente a que pertencia o soldado condutor Aires de Jesus Ferreira era a CCAÇ 674, Unidade mobilizada pelo Regimento de Infantaria 16 [RI 16], de Évora, do Cap Inf José Rosado Castela Rio. Chegou a Bissau em 13Mai64, tendo regressado ao Continente em 27Abr66, por ter concluído a sua comissão de serviço.

A missão operacional desta Unidade, representada na infogravura ao lado, iniciou-se com a deslocação, em 01Jul64, para Fá Mandinga, onde chegou como reforço do dispositivo e manobra do BCAÇ 506 [20Jul63-29Abr65; do TCor Inf Luís do Nascimento Matos]. 

Uma semana depois, em 08Jul64, assumiu a responsabilidade do subsector de Fajonquito, então criado na zona de acção [ZA] do seu Batalhão, e depois do BCAV 757 [23Abr65-20Jan67; do TCor Cav Carlos de Moura Cardoso], tendo destacado um Gr Comb para Canhámina, desde o início de Out64 até 21 do mesmo mês, seguidamente instalado em Cambajú até 03Abr66. 

Destacou ainda outro Gr Comb para Contuboel, desde finais de Out64 até à chegada da CCAV 705 [?] e consequente transformação em subsector.

Em 12Abr66, foi rendida no subsector de Fajonquito pela CCAÇ 1497 [26Abr66-04Nov67; do Cap Inf Carlos Alberto Coelho de Sousa (1º) e Cap Mil Inf Carlos Manuel Morais Sarmento Ferreira (2º)], por troca, recolhendo a Bissau, onde permaneceu temporariamente integrada no BCAÇ 1876 (26Jan66-04Nov67; do TCor Inf Jacinto António Frade Júnior), até à sua substituição pela CCAÇ 1565 [26Abr66-22Jan68; do Cap Mil Inf Rui António Nuno Romero (1.º), Cap Inf José Lopes (2.º) e Cap Mil Inf João Alberto de Sá Barros e Silva (3.º)], e subsequente embarque de regresso. É de referir que esta Companhia não tem História da Unidade (Ceca, 7.º vol; p331).

A única fonte bibliográfica que se conhece é o livro «O meu Diário, Guiné – 1964/1966 – Companhia de Caçadores 674, de Inácio Maria Góis. Edição do Autor. Gráfica Mineira, Aljustrel. Abril 2006 [P2286], conforme capa ao lado. 

Como já foi referido anteriormente, um dos objectivos desta série é adicionar valor histórico ao contexto onde se verificou cada uma das mortes de condutores auto rodas, por efeito do rebentamento de explosivos (minas e seus suplementos). Daí que, este ponto teria menos significado e importância, caso não aproveitasse o "caldo de cultura" que o Cherno Baldé ["Jubi", como classifica a sua infância em Fajonquito], nos tem presenteado ao longo dos anos, fazendo "engordar" o, já, notável espólio do blogue. Aconselho, por este motivo e por todos os outros não referidos, a "saborear" a sua leitura, um dos cinco sentidos da natureza humana. 

Porque era impossível resumir as suas narrativas, sob pena de se adulterar o sentido de cada explicação, o melhor método recaiu na citação de alguns dos muitos detalhes, aqueles que considerámos pertinentes para este contexto.

Assim, quanto à localização de Cambajú, para onde seguiu, em Outubro de 1964, um Gr Comb da CCAÇ 674, como reforço do destacamento de milícias aí colocado para assegurar a defesa da sua população e das suas rotinas, "estava situada mesmo na linha de fronteira com o Senegal, o que lhe emprestava um certo ar cosmopolita onde se cruzavam pessoas de várias origens e destinos e um certo movimento de vaivém de pessoas e mercadorias com as suas três ou quatro casas comerciais, algumas pequenas boutiques e contrabando pra cá e pra lá das duas fronteiras" (Cherno Baldé; poste P4567).

Por outro lado, o ano de 1965, é a "altura em que a guerra para a independência se alastrava rapidamente e aterroriza as aldeias daquela área e obrigava a uma concentração maior da população em certos locais com algumas garantias de defesa e protecção militar, Contuboel, Saré-Bacar, Cambajú e Fajonquito constituíam as praças-fortes da área.

"Foi nesse ano, com cinco/seis de idade, como refere Cherno Baldé, "que vi pela primeira vez homens  brancos, armados e equipados para a guerra, que se instalaram em Cambajú, onde o pai era empregado de uma casa comercial… a primeira visão foi de terror e fascínio. 

"Quando chegaram as viaturas, estávamos a jogar no largo da zona comercial que também fazia de paragens para as carroças que traziam mercadorias. Foi o barulho dos motores que nos alertou, como habitualmente, corremos atrás dos veículos, e foi nessa altura que reparamos no insólito. As pessoas que estavam sentadas em cima dos veículos, todos vestidos com o mesmo tipo de tecido, um chapéu que se estendia de trás para a frente da mesma cor na cabeça e uma arma entre as pernas, completamente imóveis, não eram pessoas normais, como estávamos habituados a ver. Eram brancos, meu Deus do céu, tão branquinhos que se podia ver o sangue vermelho rubro a correr nas veias. (…)

"No dia seguinte, através do meu amigo e colega Samba, fiquei a saber que tudo não passara de um susto injustificado pois aqueles sujeitos eram soldados portugueses vindos directamente de Portugal, o que queria dizer nossos amigos e aliados."  (Cherno Baldé; poste  P4580).

Outros aspectos, desenvolvidos nos seus escritos, podem ser consultados em «Memórias do Chico, menino e moço»,  de Cherno Baldé. Obrigado!


3.11 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' ARMÉNIO MOUTINHO DA COSTA, DA CART 1661, EM 07.OUT.1967, ENTRE PORTO GOLE E BISSÁ

A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Arménio Moutinho da Costa, natural de Gondim, Maia, em 7 de Outubro de 1967, sábado, no Hospital Militar 241, em Bissau, ocorreu um dia depois da viatura que conduzia ter accionado uma mina anticarro, incendiária, na estrada entre Porto Gole e Bissá.

Pertencia à CART 1661 (02Fev67-19Nov68) que, no espaço de três semanas, ficara sem dois condutores auto rodas, o primeiro - o soldado Manuel Pinto de Castro, em 16Set67 - caso abordado no poste anterior [P20217, ponto 3.8], e três viaturas, para além de outras baixas, entre feridos e mortos.

Para a descrição deste doloroso acontecimento, recorremos, de novo, à análise de conteúdo do livro (Diário do autor) do camarada Abel de Jesus Carreira Rei «Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968», edição de autor. Lousa. 2002, conforme capa ao lado.

Refere que Setembro e Outubro de 1967 vão ser dois meses negros para a CART 1661, onde o primeiro morto da companhia ocorre ao oitavo mês de comissão, em 16Set67, por efeito da explosão de uma mina anticarro, no cruzamento da estrada para Mansoa, quando uma coluna auto, saída de Porto Gole, ia ao encontro de forças de Bissá com o objectivo de lhes fazer a entrega de géneros alimentícios.

Depois, a 5 de Outubro de 1967, 5.ª feira, uma outra viatura, na estrada Porto Gole - Bissá, faz accionar outra mina anticarro, originando mais uma baixa mortal e duas dezenas de feridos. No dia seguinte, ou seja em 06Out67, 6.ª feira, uma nova mina anticarro, esta incendiária, é accionada perto do local da mina anterior, provocando alguns mortos e feridos, entre eles o soldado Arménio Moutinho da Costa que foi evacuado para o HM 241, juntamente com os seus camaradas com ferimentos graves, em particular queimaduras provocadas pela explosão. Dos evacuados, seis acabariam por falecer em Bissau nos dias seguintes, enquanto dois pereceram no Hospital Militar Principal, em Lisboa, a 14 e 23 do mesmo mês.

Para que conste na historiografia desta ocorrência, elaborámos um quadro detalhado dos onze mortos provocados pelas duas minas anticarro, accionadas a 5 e 6 de Outubro de 1967, no cruzamento de Mansoa, no itinerário entre Porto Gole e Bissá, de que foram vítimas os seguintes militares da CART 1661.




3.12 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' ADELINO DAS DORES RODRIGUES PEREIRA, DA CCAÇ 2316, EM 05.JUN.1968, ENTRE GANDEMBEL E GUILEJE

A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Adelino das Dores Rodrigues Pereira, natural de Campia, Vouzela, ocorreu em 05 de Junho de 1968, 4.ª feira, por efeito do rebentamento de um engenho explosivo, no decurso da «Operação Boa Farpa – 05 e 06 de Junho'68», missão que incluía a escolta a duas colunas entre Aldeia Formosa - Gandembel - Guileje - Gandembel, locais da região de Tombali, no Sector S2.

Para além da baixa mortal do Adelino das Dores Rodrigues, membro da CART 2316 (Jan68-Nov69), verificou-se, ainda, a morte do Alf Mil Inf Álvaro Ferreira do Vale Leitão, natural de Taveiro, Coimbra, da CCAÇ 2317, pelo mesmo motivo.

Para a elaboração deste subponto foram utilizadas, como principais fontes de consulta, as Oficiais publicadas pelo Estado-Maior do Exército, elaboradas pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 6.º Volume, Aspectos da Actividade Operacional, Tomo II, Guiné, Livro 2, 1.ª Edição, Lisboa (2015), p171, e o livro de Idálio [Rodrigues Ferreira] Reis: «A C.Caç.2317, Na Guerra da Guiné. Gandembel / Ponte Balana». Edição do autor. Fev/2012
.

«OPERAÇÃO BOA FARPA» - 05 E 06 DE JUNHO DE 1968

A operação em título foi programada pelo BART 1896 [18Nov66-18Ago68], sob a liderança do TCor Art Celestino da Cunha Rodrigues. Esta Unidade ao render o BCAÇ 1861 [23Ago65-17Abr67; do TCor Inf Alfredo Henriques Baeta], em 05Abr67, assumiu a responsabilidade do Sector Sul 2 [S2], com sede em Buba e englobando os subsectores de Sangonhá, Gadamael, Cameconde, Guileje, Aldeia Formosa e Buba e ainda uma companhia em Mejo [CCAÇ 2316], até 28Mai68, para actuação continuada no corredor de Guileje. Em 09Abr68, foi criado o subsector de Gandembel, e, em 12Jun68, a sua zona de acção foi reduzida da área de Aldeia Formosa, que foi atribuída à responsabilidade operacional do COSAF [Comando Operacional do Sector de Aldeia Formosa], então criado. 

Esta operação de dois dias – 5 e 6 de Junho'68 – visava garantir a segurança a uma coluna com dois itinerários diferentes ligando Aldeia Formosa a Gandembel e Guileje a Gandembel. Cada um dos trajectos contava com apoio aéreo. 

Para cumprir os diferentes objectivos, foram mobilizadas as seguintes forças:

► 1GC/CART 1612 [18Nov66-18Ago68], do Cap Art Orlando Ventura de Mendonça. Esta Unidade seguiu em 13Dez66 para Bissorã, a fim de efectuar a segurança e protecção dos trabalhos de reabertura do itinerário Bissorã-Bula, ficando na situação de reforço do BCAV 790 [28Abr65-08Fev67; do TCor Henrique Alves Calado (1920-2001); atleta olímpico] e depois do BCAÇ 1876 [26Jan66-04Nov67; do TCor Inf Jacinto António Frade Júnior], tendo ainda efectuado diversas operações nas regiões de Insumeté, Insantaque e Iusse, entre outras. (…) 

Em 18Nov67, por rotação com a CCAÇ 1591 [01Ago66-09Mai68; do Cap Inf Luís Carlos Loureiro Cadete], assumiu a responsabilidade do subsector de Aldeia Formosa, tendo destacado Grs Comb para instalação, por períodos variáveis, em Colibuia, Cumbijã, Chamarra e Porto Balana. Em 13Jul68, foi substituída no subsector de Aldeia Formosa pela CCAÇ 2382 [06Mai68-03Abr70; do Cap Mil Art Carlos Nery de Sousa Gomes de Araújo] e recolheu a Bissau até ao embarque de regresso. (Ceca; 7.º vol; p 210).

► CCAÇ 2316 [24Jan68-08Nov69], do Cap Inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (1.º), Cap Inf António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira (2.º); Cap Art Octávio Manuel Barbosa Henriques (3.º) e Cap Cav José Maria Félix de Morais (4.º). Esta Unidade, inicialmente colocada em Bissau, como subunidade de reserva do Comando-Chefe, deslocou dois Grs Comb para Bula em 01Fev68, a fim de efectuar o treino operacional e colaborar na segurança aos trabalhos da Estrada Bula-João Landim, sob orientação do BCAV 1915 [14Abr67-03Mar69; do TCor Cav Luís Clemente Pereira Pimenta de Castro]. A partir de 18Fev68, toda a subunidade foi destacada para Bula. 

Em 20Mar68, seguiu para Mejo, a fim de reforçar os meios do BART 1896, tendo substituído a CCAÇ 1622 [18Nov66-18Ago68; do Cap Mil Inf António Egídio Fernandes Loja], em 22Mar68. De 25Abr68 a 15Mai68, na sequência da «Operação Bola de Fogo», para ocupação e construção do aquartelamento respectivo, deslocou parte dos seus efectivos para Gandembel, em reforço da sua guarnição. 

Em 28Mai68, mantendo dois Grs Comb no destacamento de Mejo assumiu a responsabilidade do subsector de Guileje, no mesmo sector do BART 1896, e depois do BCAÇ 2834, e, de 29Ago68 a 07Dez68 do COP 2, tendo substituído a CART 1613 [18Nov66-18Ago68; do Cap Mil Grad Art Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz (1.º) e Cap Art Eurico de Deus Corvacho (2.º)].

Em 23Jan69, o destacamento de Mejo, sob o qual o inimigo exercera forte pressão e fortes ataques no final do ano anterior, foi extinto e os Grs Comb recolheram a Guileje. (…) (Ceca; 7.º vol; p 107).

► 1GC/CCAÇ 2317 [24Jan68-04Dez69], do Cap Inf Jorge Barroso de Moura (1.º) e Cap Inf António José Claro Pinto Guedes (2.º). Esta Unidade, inicialmente colocada em Bissau, como subunidade de reserva do Comando-Chefe, seguiu por fracção, em 01Fev68 e 18Fev68, para Bula, a fim de efectuar a adaptação operacional sob orientação do BCAV 1915. Em 02Mar68, deslocou-se para Mansabá, a fim de reforçar o BCAV 1897, com vista à realização da «Operação Alma Forte», na região de Tancroal, recolhendo a Bissau, em 17Mar68. Em 20Mar68, foi deslocada para Guileje, sendo atribuída ao BART 1896 e depois ao BCAÇ 2834 e, de 20Ago68 a 07Dez68, ao COP 2, a fim de reforçar a guarnição local.

A partir de 09Abr68, tomando parte da operação «Bola de Fogo» assumiu a responsabilidade do subsector de Gandembel, então criado, procedendo à ocupação e construção do aquartelamento daquela localidade. Em 29Jan69, por evacuação dessa guarnição e a consequente extinção do subsector de Gandembel, recolheu temporariamente a Aldeia Formosa, no sector do BCAÇ 2834. A partir de 08Fev69, foi atribuída ao COP 4, instalando-se em Buba, para colaboração na segurança e protecção aos trabalhos da Estrada Buba-Aldeia Formosa e onde se manteve até 14Mar69, após o que seguiu para Nova Lamego. (…) (Ceca, 7.º vol; p 108).

► PRecFox 1165 [17Jan67-01Nov68], do Alf Mil Cav Michael Winston Schnitzler da Silva. (únicos dados encontrados)Fox 2022 [15Jan68-23Nov69] (Únicos dados encontrados)

► Para além das Unidades acima, participaram, ainda, o PCaç 51; PCaç 69 e 2 PBAÇ 1, com apoio aéreo. 



Infogravura do mapa da região de Tombali, onde decorreu a «Operação Boa Farpa»

Desenrolar das acções (síntese)

[A referida no 6.º Volume, Aspectos da Actividade Operacional, p 171 – CECA]
"Em 05 e 06Jun [1968] – «Operação Boa Farpa». Forças da CArt 1612, CCaç 2316, 1 GC/CCaç 2317, PCaç 51, PCaç 69, 2.º e 3.º PBAC 1, 1 PRecFox 1165 e PRecFox 2022, com o apoio aéreo, realizaram uma escola a uma coluna entre Aldeia Formosa-Gandembel-Guileje-Gandembel, S2.
Em 05 [Junho], no itinerário Guileje-Gandembel, a NT foram emboscadas, por duas vezes.

No regresso a Guileje, as NT sofreram outra emboscada, neutralizaram sete fornilhos e accionaram um engelho explosivo, sofrendo dois mortos [Adelino das Dores Rodrigues, condutor auto rodas da CCAÇ 2316, e Álvaro Ferreira do Vale Leitão, alferes da CCAÇ 2317], cinco feridos e danos em duas viaturas." 

[A referida por Idálio Reis, no seu livro (pp 163-164) acima citado]

● Antecedentes: 

Gandembel/Ponte Balana continuava a precisar de mais alguns materiais de construção, para acabar definitivamente com as casernas-abrigo, em especial para o reforço das suas coberturas, a fim de os seus homens se protegerem da inclemência das chuvas, e principalmente da deflagração de uma qualquer granada de morteiro. Ainda restava em Guileje, algum desse material, e também lá se encontrava um Gr Comb para regressar ao seio da nossa Companhia. A parte restante do material, os víveres e outros meios logísticos, poderiam aparecer do lado de Aldeia Formosa.

● O que se seguiu:

"E a 5 de Junho [de 1968], partem duas colunas de ambas as origens, e que para efeitos de protecção, foi lançada a «Operação Boa Farpa». A proveniente de Aldeia [Formosa], vem e regressa no mesmo dia, sem incidentes. Contudo, a de Guileje, com a participação da CCAÇ 2316, é sujeita a fortes ataques, por força de emboscadas envolvidas com o rebentamento de fornilhos, que vêm a provocar dois mortos e mais de uma dezena de feridos evacuados para Bissau, para além da destruição de uma viatura; há a registar o rebentamento de onze fornilhos a todo o comprimento da coluna, além da deflagração de mais minas antipessoais, e a visão de uma série de fios eléctricos que conduziam a sete fornilhos, o que levou a que alguns militares, em acto brutal de desespero, onde tudo é oprimente, a tentar cortá-los com os dentes.

Desta fatídica coluna, a nossa Companhia [CCAÇ 2317] perde o seu 3.º elemento, o alferes Álvaro Vale Leitão, que é atingido mortalmente na cabeça por fragmentos de um fornilho (…)."


Infogravura da foto de Luís Guerreiro, ex-Fur Mil do 4.º Gr Comb da CART 2410 ("Os Dráculas" – Gadamael, Ganturé e Guileje, 1968/70), referente a uma coluna de Gadamael para Guileje (subida depois do cruzamento), realizada em 19Mar1969 – P5637, com a devida vénia. A meio da imagem, à esquerda, é possível identificar uma viatura destruída por efeito de uma explosão que, tudo leva a crer, seria a que é referida na descrição acima.

[Continua]

Fontes Consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

11Out2019

© Jorge Araújo (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Último poste da série de 8 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20217: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte III

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20213: Notas de leitura (1224): História das Tropas Pára-Quedistas Volume IV, é dedicado à Guiné e tem como título História do Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12; responsável pela redação e pesquisa Tenente-Coronel Luís António Martinho Grão; edição do Corpo de Tropas Paraquedistas, 1987 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Janeiro de 2017:

Queridos amigos,
Esta saga sobre os paraquedistas na Guiné aparece redigida sob um documento muito contido, factual, sem enxúndia nem pompa. Mas há os picos de orgulho, e justificados. Caso daqueles dias de Agosto de 1968, em Gandembel, esta tropa especial lança-se num ataque aos guerrilheiros do PAIGC, este procura ripostar, quatro homens tombam, mas a força resiste, repele os guerrilheiros.
E escreve-se: "Cai a noite quando, quase no limite das suas forças, chegam a Gandembel. Transportam os seus feridos e mortos e algumas centenas de quilos de material de guerra capturado. Formados na parada do quartel, sombras cambaleantes curvadas pelo dor e exaustão, escutam o seu comandante de pelotão que pede voluntários para bater na madrugada próxima toda a zona onde se tinham desenrolado os combates. Perfilando-se orgulhosamente, olhos cintilando nas faces cavadas, cansaço vencido, todos avançam como se fossem um só homem".
Esta a história de 11 anos de uma força especial cujo desempenho foi crucial para a luta que se travou nas matas e bolanhas da Guiné.

Um abraço do
Mário


História das tropas paraquedistas na Guiné (2)

Beja Santos

“História das Tropas Paraquedistas Portuguesas”, Volume IV, é dedicado à Guiné e tem como título História do Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12, é responsável pela redação e pesquisa o Tenente-Coronel Luís António Martinho Grão, edição do Corpo de Tropas Pára-Quedistas, 1987.

A segunda parte da obra, que vamos analisar, coincide com o período entre 1968 e o termo das hostilidades, 1974. Spínola irá introduzir alterações na política do emprego operacional das tropas do BCP 12. Como se escreve no documento, “às missões de combate helitransportadas, de curta duração e sob comando directo do seu comandante, irão suceder-se as operações em que os militares pára-quedistas se vão manter durante períodos muito dilatados em áreas distintas do seu aquartelamento em Bissau, em missões de reforço de tropas de quadrícula”. Em Agosto de 1968 assume o comando da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné/BA 12 o Coronel Tirocinado Piloto-Aviador Diogo Neto.

Enuncia-se a atividade operacional entre Junho de 1968 a Dezembro de 1971, destaca-se a criação dos Comandos Operacionais, onde se vão integrar uma ou mais companhias do BCP 12. Tem destaque a operação Júpiter, que se estendeu por quatro períodos, desde Agosto até Dezembro de 1968. Atua-se nas regiões de Guileje, Mejo, Gandembel e Porto Balana, sob o comando do COP 2, cuja missão era a de reorganizar o dispositivo das forças aquarteladas. No final do primeiro período da operação Júpiter estas tropas paraquedistas tinham causado ao PAIGC 33 mortos, um prisioneiro e um número incontrolável de feridos, com a apreensão de grandes quantidades de armamento, os paraquedistas sofreram dois mortos, um ferido grave e dois ligeiros, e as tropas em quadrícula sofreram dois feridos graves. São descritas as sucessivas fases desta operação e a resposta do PAIGC, logo com um poderoso ataque contra Gandembel. No dia 11 de Setembro, das 20 horas desse dia até às 5 horas do dia seguinte, rebentaram na área do aquartelamento de Gandembel mais de 500 granadas de morteiro 120, 82 e de canhão S/R. Desde as 3h30 da manhã, tentaram o assalto ao aquartelamento, após rebentar as redes de arame-farpado com torpedos bengalórios; repelido, voltou por mais duas vezes à carga, houve mesmo grupos suicidas que tentaram ultrapassar as últimas defesas das nossas tropas, só ao amanhecer é que os atacantes retiraram, e os paraquedistas lançaram-se na sua perseguição. Segue-se um ataque a Guileje e de novo a Gandembel. Os atos de coragem praticados pelas tropas paraquedistas e pelos militares da CCAÇ 2317 mereceram destacadas citações individuais. A campanha de Gandembel, extenuante, chegará ao fim em Dezembro, o COP 2 será extinto, encerrando-se a operação Júpiter. Em 1969 é criado o CAOP 1, com sede em Teixeira Pinto, aposta-se no Chão Manjaco, cujas populações concediam escasso apoio ao PAIGC. Sucedem-se as operações Aquiles 1, Titão, Orfeu, Talião, Adónis, na operação Jove é capturado o capitão cubano Pedro Rodriguez Peralta. A par da intervenção em Teixeira Pinto, o corredor de Guileje merecia destaque na atividade operacional do BCP 12, a operação Crocodilo Negro foi um enorme sucesso, em 17/18 de Janeiro de 1970, na região de Porto Balana.

Sucedem-se as operações enquanto as companhias paraquedistas intervêm no CAOP 1, no COP 6 e 7, irão ganhar fôlego operações helitransportadas.

O documento, com o título “A Escalada”, reporta a atividade operacional entre Janeiro de 1972 a Dezembro de 1973. O novo comandante da unidade, a partir de Dezembro de 1969 foi o Tenente-Coronel Paraquedista Sílvio Araújo e Sá que manifestou reticências ao modo como estavam a ser utilizadas as tropas paraquedistas. “Em sua opinião, o comandante do BCP 12 deveria dispor sob seu comando directo e em permanência, de duas Companhias de Pára-quedistas. Só assim seria possível lançar operações frequentes e rápidas nas áreas mais sensíveis do teatro de operações, devolvendo às tropas pára-quedistas as suas verdadeiras características operacionais de forças de intervenção”. Mas Spínola não o ouviu. Merecem realce a operação Mocho Verde, realizada na região do Sara, os paraquedistas entraram na chamada “Barraca de Mantém” após uma aproximação apeada de cerca de 15 km. Recuperaram-se 12 elementos de população e apreendeu-se um número significativo de material. A operação mais importante realizada pelo BCP 12 durante o ano de 1972 teve o nome de código “Muralha Quimérica”, e decorreu na região de Unal-Guileje. Para esta operação convergiram três companhias de paraquedistas, duas companhias de comandos africanos, três companhias de caçadores e um grupo especial COE. Dispersou-se temporariamente a força inimiga e apreendeu-se um número impressionante de armamento.

Segue-se a descrição das operações em 1973, até que se chegou à grande ofensiva lançada pelo PAIGC em torno de Guileje e Guidage. As tropas paraquedistas foram lançadas em Gadamael-Porto e atuaram para contrair o cerco de Guidage. O aqui se relata é hoje matéria desenvolvida em diferentes livros, o dado mais significativo é o comportamento admirável dos paraquedistas na defesa de Gadamael e as missões de patrulhamento que posteriormente desenvolveram até interromper a pressão sobre Gadamael-Porto.

O derradeiro capítulo é dedicado à extinção do batalhão, desvelando a atividade operacional entre Janeiro a Maio de 1974. Em Janeiro o comando do BCP 12 passa a ser assegurado pelo Tenente-Coronel Pára-quedista António Chumbito Ruivinho. Os paraquedistas vão participar na operação Gato Zangado 1, sobre o controlo operacional do CAOP 2, que decorrer na região de Bajocunda-Copá-Canquelifá. A última operação militar das forças paraquedistas foi a denominada “Obstáculo Hermético”, levada a cabo entre Abril e Maio na região de Canquelifá. Chegara-se se ao fim da guerra, em Agosto as tropas paraquedistas regressaram a Portugal. As instalações do BCP 12 passaram então a ser utilizadas pelas tropas do Exército que aguardavam transporte de regresso a Portugal. No dia 13 de Outubro de 1974 findou a presença militar das tropas paraquedistas na Guiné, o Capitão Albuquerque Pinto fez a entrega a um representante do PAIGC de todas as instalações do BCP 12. Em 15 de Outubro do mesmo ano um decreto-lei do Conselho dos Chefes de Estados-Maiores das Forças Armadas consumou a extinção legal do BCP 12. Assim se encerravam 11 anos de vida e presença efetiva das tropas paraquedistas na Guiné.

Um "Pára" ferido em combate aguarda a evacuação

Canhão S/R B-10 apreendido durante a operação Muralha Quimérica

Enfermeira do PAIGC capturada pela CCP 121
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Nota do editor

Poste anterior de 30 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20190: Notas de leitura (1222): História das Tropas Pára-Quedistas Volume IV, é dedicado à Guiné e tem como título História do Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12; responsável pela redação e pesquisa Tenente-Coronel Luís António Martinho Grão; edição do Corpo de Tropas Paraquedistas, 1987 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 4 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20205: Notas de leitura (1223): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (26) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18661: (Ex)citações (338): P18648 - Fiat G-91 abatido sob os céus de Gandembel em 28 de Julho de 1968 (Idálio Reis, ex-Alf Mil da CCAÇ 2317)

Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1968 > O Fiat G-91 R4, 5411, uns dias antes de ser abatido (em 28 de julho de 1968). No cockpit, o cap piloto aviador José Nico


1. Mensagem do nosso camarada Idálio Reis (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana, Nova Lamego, 1968/69), autor do livro "A CCAÇ 2317 na Guerra da Guiné - Gandembel / Ponte Balana, com data de 18 de Maio de 2018:

Quanto a este acontecimento[1], eis então o que escrevi no meu livro:

Mas já há muito tempo, e quase todos os dias, pelo entardecer, vinham 2 Fiats G-91 a descarregarem bombas sobre a já citada zona de Salancaur/Unal, de que se dizia terem abrigos inexpugnáveis, e destas tentativas intimidantes da aviação militar, surge a 28 de Julho, mais um dos casos inesperados, e que seria o primeiro a acontecer na Província nestas circunstâncias.

Neste dia, parte da Companhia tinha ido montar protecção a uma coluna de reabastecimentos, de modo que em Gandembel restavam apenas 2 grupos, um dos quais um Pelotão de Caçadores Nativos.

Ouve-se, vindo de longe e dos lados da fronteira, uns estampidos de metralhadora pesada. E passados alguns momentos, um dos soldados que estava atento às trajectórias das aeronaves, claramente distingue que se notava uma chama de fogo na cauda de um dos Fiats. 
Prontamente, via rádio, deu-se conhecimento aos pilotos. E vê-se nos céus, o avião a fazer uma curva acentuada, direccionando-se para o lado da fronteira. E quando a aeronave, já com as chamas bem visíveis na parte posterior da carlinga, passava sobre as imediações de Gandembel, distingue-se um pára-quedas que se ejecta do mesmo, e que vem a cair a cerca de 3 a 4 centenas de metros a sul do aquartelamento, com a aeronave a despedaçar-se em parte incerta, mas muito próximo da fronteira. 

Um documento oficial, refere que o piloto era um tenente-coronel, de nome Francisco Costa Gomes, comandante do Grupo Operacional 1201.

Aparentemente, o local da queda, não oferecia perigos para o seu resgate, desde que se conhecessem os locais das armadilhas em volta do cercado do arame farpado. Procurou-se de imediato arranjar um grupo com metade dos efectivos disponíveis, e então fomos ao encontro do piloto. 

Escondido num arbusto, estava o homem sem distinção da sua patente, e despojado da sua pistola de cintura [mais tarde foi encontrada, e julgamos que era uma Walther].

Já vínhamos a caminho do aquartelamento, e algumas unidades aéreas, como helicópteros e T-6 o sobrevoava, pelo que, franqueada a entrada, logo um dos helicópteros aterrava para o levar rumo a Bissau.

O abate desta aeronave, com fogo antiaéreo de metralhadora 12,7, teve uma óbvia repercussão a nível da Província, e muito certamente reforçou os ânimos dos combatentes locais do PAIGC. Contudo, não deixaremos de anotar, que nos parece que a probabilidade de uma bala anti-aérea, em acertar numa destas aeronaves, era extremamente diminuta, ainda que o IN parece que dispunha de um conjunto de metralhadoras quádruplas, em que os disparos eram bem audíveis em Gandembel. Mas o que é inegável, é que o avião se perdeu, e a perícia do piloto também foi notável para a integridade da sua própria pessoa, pois se tivesse caído em local fora do nosso horizonte de referência (não mais de 2 km), não se dispunha no momento, de condições para ir à sua procura. E muito provavelmente, o piloto poderia vir a ser capturado pelo inimigo.

Em jeito de remoque, parece que o piloto afirmou que teve de fugir de guerrilheiros do PAIGC, quando, na verdade, os elementos que primeiro o viram, pertenciam ao Pelotão de Caçadores Nativos.

Sempre esta dualidade da sorte e do azar, que nos espreitava na leveza de cada duro momento.
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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 18 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18648: FAP (105): 28 de julho de 1968, o dia em que o Fiat G-91, nº 5411, pilotado pelo ten cor Francisco Dias Costa Gomes, foi abatido sob os céus de Gandembel, por fogo de AA (Antiaérea)

Último poste da série de 16 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18640: (Ex)citações (337): A propósito das deserções nas fileiras do PAIGC, há um provérbio africano que diz "Todos os cães podem ser bravos, mas são mais bravos dentro das suas moranças", o mesmo quer dizer, dentro dos seus "chãos" (Cherno Baldé, Bissau)

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18648: FAP (105): 28 de julho de 1968, o dia em que o Fiat G-91, nº 5411, pilotado pelo ten cor Francisco Dias Costa Gomes, foi abatido sob os céus de Gandembel, por fogo de AA (Antiaérea)


Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1968 > O Fiat G-91 R4, nº 5411, uns dias antes de ser abatido (em 28 de julho de 1968). No cockpit, o cap piloto aviador José Nico

Foto (e legenda): © Mário Santos (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário de Mário Santos (ex-1.º  cabo especialista MMA da BA 12, 1967/69), membro nº 772 da Tabanca Grande, com data de 13 de maio último,  ao poste P18626 (*):

Caros amigos e camaradas: 

Apenas uma pequena correcção que se impõe: O 1º Fiat G-91 R4 foi o 5411, abatido por fogo de Anti-Aérea no dia 28 de Julho de 1968,  levando no cockpitt o nosso Comandante de Grupo Operacional Ten-Cor Costa Gomes, após ter dido atingido junto a Gandembel. Ejectou-se e fugiu por entre a mata até alcançar o aquartelamento de Gandembel. (**)

Tenho no meu espólio a foto dessa aeronave, pouco antes de ter sido atingida, uma vez que era eu que estava encarregado dela nesse longínquo dia de 1968.

Não a consigo colocar aqui, uma vez que esta zona apenas permite escritos em texto.


2. Mensagem, por email, do Mário Santos, nesse mesmo dia:

Meu caro Luís Graça:

Longe de mim qualquer idéia de despoletar polémicas no seio do grupo. A minha colaboração e espólio é apenas relativa ao conhecimento do meu tempo na BA12 entre 67/69 [, ou seja, antes do aparecimento do Strela, em 25 de março de 1973].

Tenho a valiosa e insubstituível cooperação do meu amigo contemporâneo e camarada de armas desses conturbados tempos, gen José Nico.

Este é o sumário do que se passou naquela longínqua manhã de 28 de Julho de 1968:

Como habitualmente naquele dia saltei da cama às 05.00 da matina; tocava-me estar na equipa de alerta e a "parelha" de Fiat G-91 deveria estar pronta para descolar às 06.00.

Éramos apenas dois, eu e o Luís Tavares; todos os restantes iniciariam a actividade normal cerca das 08.00 da manhã. Afinal não; a "parelha de alerta" naquele dia não descolou cedinho…

Só cerca das 11.00 chegaram o Ten Cor Costa Gomes, Comandante do Grupo Operacional  [nº 1201] e o Capitão Fernando Vasquez, nosso Comandante de Esquadra, para voarem respectivamente o 5411 e o 5416. 
Uma hora passada, chegou a noticia de que um deles não regressaria à Base. Abatido por fogo de Anti-Aérea. na zona de Gandembel. Naquela manhã, algo tinha corrido mal…

O Ten Cor [Francisco Dias] Costa Gomes, com o seu bigodinho à Clark Gable, era um homem sisudo, vaidoso, de poucas falas,  e que nunca sorria. Não era simpático. Mesmo quando interpelado, respondia sempre com monossílabos. Mas era um bom Piloto. Tinha já passado pela BA9-Luanda onde tinha sido “alcunhado” com um curioso epíteto que nunca entendi muito bem! Não o vou dizer, por respeito à sua memória. 
Já o Capitão Vasquez [, Fernando de Jesus Vasquez,] , era o seu oposto… simples, simpático, sorridente, comunicador e um excelente Piloto. Todos gostávamos dele. Um grande Oficial General felizmente ainda entre nós!

Envio em anexo [foto d]o 5411,  nesse dia  já com o J. Nico sentado no cockpit para mais uma missão de bombardeamento… não sei em que zona, nem penso que isso seja importante. Direi apenas que esta foto foi feita poucos dias do abate deste avião. (***)

Grande abraço,
Mário Santos,
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Notas do editor:

(***) Último poste da série > 18 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18647: FAP (104): Breve Historial: Operação Atlas (Mário Santos, 1.º Cabo Especialista MMA)