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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7415: (Ex)citações (118): A propósito do vídeo da ORTF sobre a Op Ostra Amarga: "As imagens que vi, foram uma espécie de murro no estômago e cimentaram a admiração que nutro por todos aqueles que sentiram o silêncio bem no meio do capim" (Miguel Sentieiro)

1. Miguel Sentieiro, professor de educação física, em Torres Novas, filho de um camarada nosso (o ex-Cap Cav, hoje coronel reformado, comandante da CCAV 2485, José Sentieiro) enviou-nos, em tempos (9 de Fevereiro de 2007),  o seguinte comentário, inserido no poste P2249 (*), e que achámos oportuno agora divulgar...  Aliás, é estranhamente o único comentário que lá consta, ao fim destes 3 (três) anos...
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Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Imagem da reportagem Guerre en Guinée, que passou na televisão francesa, a ORTF,  em 11 de Novembro de 1969, no programa Point Contrepoint [, Ponto Contraponto].

Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) /  Cópia pessoal de Virgínio Briote 
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Na altura,  o detalhadíssimo relato do making of deste vídeo, da ORTF, sobre a Op Ostra Amarga (um poste meu e do Virgínio Briote, que custou muitas horas de trabalho, de pesquisa, de contactos com alguns dos protagonistas,  e de edição), passou completamente despercebido por parte (ou pelo menos não mereceu a devida atenção) dos nossos camarigos e demais membros da nossa Tabanca Grande (*)... 

Estranhamente, têm-nos chegado à nossa caixa de correio, se não todos os dias, pelo menos com alguma regularidade, nestes últimos meses, mails de tipo Spam com avisos do tipo "Vídeo nunca visto sobre a guerra colonial na Guiné, feita por uma equipa da televisão francesa" ou "Guiné - Guerra colonial - Vídeo nunca antes divulgado"... 

E depois acrescenta-se mais detalhes, incompletos, imprecisos ou até errados: "Cenas arrepiantes... É o único filme feito na Guiné que apanhou uma sequência real de guerra. Os jornalistas franceses que seguiam nesta patrulha, mandada executar para que eles tomassem conhecimento com o dia a dia das NT estacionadas em Bula [, CCAV 2487, pertencente ao BCAV 2862, Bula, 1969/70], um pouco a N do Rio Mansoa, apanharam um 'cagaço', mas registaram algo que mais nenhum registou. Se não estou errado, ia também uma jornalista" [,Geneviève Chauvel,]  (...). 

E acrescenta o autor do último mail que recebi: (...) "A emboscada que as NT sofreram, não estava 'no programa', mas isto era o que podia acontecer sempre que se saía para o mato (...). O Spínola, com a seu ajudante de campo (era ainda o Almeida Bruno) e o Cmdt do Batalhão de Bula [, ten cor Morgado,] foram lá, mal tiveram conhecimento do que tinha acontecido" (...).

Na altura, em Fevereiro de 2007, eu e o Virgínio Briote fizemos a tradução da sinopse do filme (que é falado em em francês), de cerca de 14 minutos (mais exactamente 13' 58''), e incluímos um link para o sítio onde está alojado, o INA: Guerre en Guinée  [ Guerra na Guiné]: Carregar aqui para ver o filme; estamos autorizados pelo INA  a inserir um link do filme mas não a disponibilizá-lo directamente no blogue; o Virgínio pagou, do seu bolso, o direito a télecharger o filme, para uso pessoal...). Já revi este notável documento várias vezes e sempre com a mesma emoção... No sítio do INA, este vídeo tem mais de 37 mil visualizações...





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Foto à direita: De costas, o Capitão de Cavalaria José Maria Sentieiro, comandante da CCAV 2485, que por impedimento do comandante da CCAV 2487, foi encarregue de dirigir a Op Ostra Amarga. Imagem obtida momentos após a emboscada que custou dois mortos à CCAV 2487. Cópia da imagem do Paris-Match, nº 1071, de 15 de Novembro de 1969 .
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2. Comentário do Miguel Sentieiro (*)
Caro Luis Graça:
Não sou um camarada da Guiné, mas graças a si consegui decifrar melhor o video que o meu pai (José Sentieiro) me facultou há pouco tempo. Tenho 39 anos e não tinha nem tenho a perfeita noção do que todos vocês passaram na guerra colonial. 
O DVD que vi, facultou-me provavelmente a imagem mais esclarecedora que algum dia vi da guerra. Os grandes planos das caras dos homens após a emboscada e o silêncio entrecortado por gritos de dor, não surgem nas grandes produções americanas sobre a guerra do Vietname que todos estamos habituados a ver. 
As imagens que vi, foram uma espécie de murro no estômago e cimentaram a admiração que nutro por todos aqueles que sentiram o silêncio bem no meio do capim. 





Um abraço, Miguel Sentieiro






Os 2 Gr Comb da CCAV 2487, comandados pelo Cap Cav José Sentieiro sofrean uma emboscada do IN na região de Pecuré, a noroeste de Bula,sofrendo 2 mortos e 1 ferido. (**)


[ Revisão / fixação de texto / bold a cor / título: L.G.]
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de  8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

Vd. também os postes relacionados:

 8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís 

Graça)

15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amèrepara a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça)

(**) Sobre este Batalhão, BCAV 2868:

Mobilizado pelo RC 7, partiu para a Guiné em 23/2/1969 e regressou a 30/12/1970. Esteve em Bissau e Bula. Era comandado pelo Ten Cor Cav José Machado Alves Morgado. Unidades de quadrícula:  CCAV 2485, 2486 e 2487.

A CCAV 2485 esteve em Cacheu, Bula, Ponta Augusto  de Barros, Bula, Pete e Bula. Era comandado pelo Cap Cav  José Maria de Campos Mendes Sentieiro.

A CCAV 2486 passou por Teixeira Pinto, Bula, Pete e Bula.  Foi comandada pelo Cap Cav João Soares de Sá e Almeida e pelo Alf MIl Inf  JoséManuel Duarte Fernandes.

Por fim, a CCAV 2487  esteve em Cacheu, Bula, Ponta Augusto  de Barros, Bula, Ponta Augusto  de Barros e Bula. Comandantes: Cap Mil Cav  João Caetano de Almeida de Lima Quintela e Cap QEO José António Caiomoto Duarte

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3908: Tabanca Grande (120): José Carmino Videira Azevedo, ex-Soldado Cond Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71)

1. Mensagem de José Carmino Videira Azevedo (*), ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71), com data de 21 de Janeiro de 2009:

José Carmino Videira Azevedo, natural e residente na linda freguesia de Vale Frechoso, concelho de Vila Flor, Distrito de Bragança.

Soldado Condutor Auto Rodas n.º 04580768. Estive em Bula integrado na CCAV 2487/BCAV 2868, "O Xicote"

Participei na Ostra Amarga, Operação onde estava presente a televisão Francesa, convivi de perto com os malogrados CAPELA e HENRIQUE e, presenciei a infeliz ideia do Spínola de mandar para a morte os Majores Passos Ramos, Pereira da Silva, Osório, Alferes Mosca e os nativos Mamadu Sisse e Carlos Patrão.

Fui incumbido de fazer o transporte de géneros para abastecer PCA do Batalhão. Fiz o percurso Bula/Bissau/Bula, atravessei varias vezes o rio Mansoa, onde caiu o helicóptero que transportava deputado à ex-Assembleia Nacional, Pinto Leite, se bem me lembro.

Quando estive na guerra colonial, cheguei a João Landim num dia de muito calor.
Como tinha que esperar para encher a jangada, disse ao marinheiro, que era preto, que
ia mergulhar para refrescar. Estavam quase 60 graus ao sol e ali não havia sombra.

Quando mergulhei nas águas do Mansoa, o marinheira bateu a colatra da arma.
Fiquei assustado, saí e perguntei o porquê daquela atitude, mas ele não me respondeu. No dia seguinte, quando atravessei o rio, o marinheiro chamou-me e disse:

- Vês o porquê da minha atitude? Ontem estava ali um jacaré bébé que pesava cerca de 80 quilos.

Obrigado meu amigo onde quer que estejas.

Vale Frechoso, 21 de Janeiro de 2009


2. Comentário de CV:

Caro José Carmino, bem-vindo à nossa Tabanca Grande.
Peço desde já desculpa pelo tempo que demorei em publicar a tua apresentação, mas houve uma mensagem minha para ti a que não respondeste e daí esta confusão.

O nosso Editor Luís Graça disse-me que falaste com ele via telefone. Soube assim que és autarca na tua freguesia, que és um periquito nestas coisas dos computadores e que tens na memória, presentes, muitas histórias para nos contares.

Adivinhas que estou a falar da tristemente célebre Operação Ostra Amarga.
Dizes também que estavas por perto quando da carnificina dos nossos camaradas Majores e seus acompanhantes, mortos cobardemente, pois não considero um acto de guerra matar pessoas indefesas. Foram assassinados, é o termo.

Sendo assim, esperamos que comeces a narrar os acontecimentos em que intervieste, para que conheçamos, cada vez com mais pormenores, os casos mais marcantes da guerra da Guiné. Cada um de nós é uma pequena peça deste gigantesco puzzle que nos cabe montar.

Deixo-te o abraço de boas-vindas da ordem, em nome da Tertúlia que te acolhe de braços abertos.

Ficam agora as fotos que nos enviaste.

José Carmino Azevedo > Bissalanca

José Carmino Azevedo > Bolanha de Biombo

Bula

José Carmino Azevedo > Bula

José Carmino Azevedo > Bula > Parada

José Carmino Azevedo > Nhacra
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3776: O Nosso Livro de Visitas (53): José C. Videira Azevedo, Sold. Cond. CCav 2487/BCav 2868 (Bula, 1969/70).

Vd. último poste da série de 14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3873: Histórias da Guerra: o soldado e a jornalista (V. Briote)


Op "Ostra Amarga"

área de Bula. 16 de Outubro de 1969.

Depois de desembarcar dos Allouettes, uma patrulha das NT composta por dois GrComb, acompanhada por jornalistas franceses da ORTF e do Paris-Match, interna-se no mato.

Uma operação de rotina, como tantas outras.

Um grupo da guerrilha, acidentalmente na zona, apercebe-se da presença da tropa. Rapidamente monta uma emboscada.

A patrulha é subitamente atacada com foguetes e rajadas de tiros. Dois soldados são atingidos por uma roquetada. Um fica despedaçado, o outro perde uma perna e esvai-se em sangue perante a impotência dos camaradas que pouco podem fazer.

Um outro ferido teve mais sorte. O capitão J. Sentieiro, comandante da patrulha pede evacuação. Os helis chegam, as macas metem o morto, o ferido grave e o ligeiro e partem para Bissau, rumo ao HM241.

No trajecto, o ferido grave não resiste e morre.

Spínola, acompanhado pelo ajudante de campo, Maj Almeida Bruno, chega de heli à zona. Inteirado da situação pelo Ten Cor Alves Morgado, que acompanhava a patrulha, regressa a Bissau enquanto a patrulha recolhe a Bula.



À noite, com os ânimos mais recompostos, os militares convidam os jornalistas para o jantar. Entre estes, uma linda parisiense, de pouco mais de 20 anos, ainda não recomposta do susto brutal.

Depois de banho tomado, a mademoiselle terá envergado um vestido simples e leve, de acordo com os calores da Guiné. Quando o soldado com a travessa a servia, primeiro que todos, terá reparado que a linda francesa ainda era mais linda sem soutien. Não aguentou a travessa. Na altura pesou-lhe demais, entornou-a na mesa e no vestido.

As imagens do jantar não estão aqui. Estão outras desse dia. Uma pequena homenagem àqueles homens.

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Notas de vb:

Sobre a Operação Ostra Amarga, vd. postes de:

13 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2261: Vídeos da guerra (5): Nos bastidores da Op Paris Match: as (in)confidências de Marcelo Caetano (Manuel Domingues)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3776: O Nosso Livro de Visitas (53A): José Carmino Videira Azevedo, Soldado Condutor, CCS/BCAV 2868 (Bula, 1969/70)

Apresenta-se

José Carmino Videira Azevedo, natural e residente na linda freguesia de Vale Frechoso, concelho de Vila Flor, Distrito de Bragança. Soldado Condutor Auto Rodas 045807/68, estive em Bula, CCS/BCAV 2868, “o Chicote”.

A CCav 2487 participou na Operação “Ostra Amarga”, onde estava presente a televisão Francesa, convivi de perto com os malogrados Capela e Henrique.


Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Imagem da reportagem "Guerre en Guinée", que passou na televisão francesa em 11 de Novembro de 1969, no programa "Point Contrepoint".
Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006).

Presenciei a infeliz ideia do Spínola de mandar para a morte os Majores Passos Ramos, Pereira da Silva, Osório, alferes Mosca e os nativos Mamadu Sisse e Carlos Patrão.

Fui incumbido de fazer o transporte de géneros para abastecer PCA do Batalhão. Fiz o percurso Bula-Bissau-Bula, atravessei várias vezes o rio Mansoa, onde caiu o helicóptero que transportava os deputados à ex-Assembleia Nacional.

Vale Frechoso, 21 de Janeiro de 2009
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Notas de vb:

1. Caro José Videira Azevedo: já sabemos que falaste ao telefone com o Luís Graça. E pelo Luís ficamos a saber que és Presidente da Junta da linda freguesia de Vale Frechoso. E que ainda guardas muitas memórias da Guiné. Da tão falada op "Ostra Amarga", do Capela, do Henrique, dos jornalistas franceses, do então cap Sentieiro (falei com ele há dias) e de muitos outros factos que viveste e que esperamos venhas a compartilhar com a Tabanca, de que a partir de agora és elemento da linha da frente. Aguardamos as tuas fotos de "ontem" e de hoje. E dos teus relatos.

2. Os deputados envolvidos no acidente (25 de Julho de 1970, no Rio Mansoa) a que o José Azevedo se refere foram: José Pedro Pinto Leite, Leonardo Coimbra, Vicente de Abreu e Pinto Bull, para além do piloto, Alf Mil Av Francisco Lopes Manso, e do Cap Cav José Carvalho Andrade.

3. Artigos sobre a operação "Ostra Amarga" publicados em

8 de Novembro de 2007
> Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote) e sobre o BCav 2868 em

4. Último artigo da série em

sábado, 15 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amère para a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça)

A jornalista francesa (hoje, escritora, autora de romances históricos) Geneviève Chauvel terá sido uma das raras mulheres, jornalistas, estrangeiras, a testemunhar uma cena de combate no TO da Guiné, no período da guerra colonial, embebed (como se diz agora, depois da guerra do Iraque) numa unidade das NT...

Na sequência de contactos com o actual Coronel, na reforma, Sentieiro , o nosso co-editor, o ex-comando Virgínio Briote, localizou, na Internet, a bela e misteriosa jornalista francesa e tem-se correspondido com ela...

Hoje damos conta desse aventura... à procura do tempo perdido... Nas fotos, acima, a Madame Geneviève Chauvel (e não Chaubel, como erradamente procurámos na Net...), tal como pode ser vista na sua página pessoal...

Como editor do blogue, manifesto aqui publicamente o meu apreço pelas diligências feitas pelo VB, a sua persistência, a sua inteligência emocional, a capacidade de utilização da sua rede de contactos sociais (ou não tivesse sido ele um homem do marketing farmacêutico, a par de um andarilho da Guiné)...

E já agora, uma última curiosidade, talvez um pouco mórbida, ou roçando mesmo o mau gosto: será que em Bula ou em Bissau alguém se lembrou de traduzir, para a nossa amiga Geneviève, o nome da operação em que ela participou ? Ostra amarga, huître amère... com mais o irónico pormenor de, em França, em Paris, as ostras portuguesas, até aos anos sessenta/setenta serem conhecidas simplesmente como les portugaises: eram as melhores do mundo, para o exigente palato do parisiense...

Esta, na Guiné, foi mesmo uma ostra amarga para todos... Coincidência ou não, na mesma altura, ao virar da década de 1960, a portuguesa desaparecia dos viveiros dos ostreicultores de França e da mesa dos consumidores franceses, devido a uma estranha doença: (...) Portugaise ('crassostrea angulata') : Espèce d'huîtres creuses introduite dans le Bassin d'Arcachon au milieu du 19ème siècle. Les huîtres portugaises disparurent du Bassin au début des années 1970 à la suite d'une maladie ...(LG)


Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Dois mortos e um ferido no decurso da Op Ostra Amarga (também ironicamente conhecida como Op Paris Match)... As NT (2 Gr Comb da CCAV 2487, comandadas pelo Capitão Sentieiro, hoje Coronel), caiem num emboscada do PAIGC... O combate é presenciado por jornalistas estrangeiros e registado em filme por uma equipa da televisão francesa... No fotograma, as NT prestam os primeiros socorros a um dos feridos graves. Um dos militares transporta, às costas, uma fiada de granadas de LGFog 3,7...

Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) / Cópia pessoal de Virgínio Briote (1)


1. A Op Ostra Amarga é talvez o único documento filmado do que foi a guerra-tipo da Guiné.

Emboscadas mortíferas, uma dúzia de minutos de disparos de PPSH (costureirinha), de AK 47 ou de RPG, bem dirigidos para quem a sorte escolheu e que o destino traçou para que os restos de uma parte dos seus alvos ficassem, muitos deles até hoje, nas terras onde combateram.

Em Outubro de 1969, o BCAV 2868, comandado pelo Ten Cor Alves Morgado e enquadrado por oficiais experimentados, alguns deles os melhores alunos dos cursos da Academia Militar, estava destinado a outras paragens. Spínola, tendo em consideração o que sabia do comandante do Batalhão, conseguiu encurtar-lhes a viagem, poupando-lhes mais uns dias no mar.

Estava-se em plena era da chamada Por uma Guiné melhor, uma ideia do General António de Spínola, que, mais tarde, se veio a verificar infrutífera, mas que, na altura, foi uma esperança para muitos, até então habituados a serem dirigidos por Governadores-Gerais que a única ideia que tinham era a supressão pura e simples do então chamado IN.

A política de Spínola assentava num Portugal unido por uma confederação de Estados que poderiam evoluir, mais ou menos rapidamente, para uma autonomia progressiva. O general do monóculo (com vários nicknames ou alcunhas: o Caco, o Caco Baldé, o Homem Grande de Bissau...) tinha estado em Angola e a sua acção não tinha passado despercebida. Procurava manter-se a par da evolução dos tempos, a Argélia Francesa já não o era e o Vietname, apesar do poderoso envolvimento bélico dos Estados Unidos, estava a ter os resultados que se viam. Concluíra que, sem as populações do seu lado, qualquer guerra estava destinada ao insucesso.

Numa primeira fase apostou num maior envolvimento das populações na defesa dos seus chãos contra o que chamava o imperialismo comunista. Congressos anuais dos povos da Guiné, reordenamentos, libertação de prisioneiros, pavimentação de estradas e melhoria da prestação de cuidados de saúde às populações, foram algumas das etapas da sua governação.

Todas estas fases, segundo o pensamento do General, deveriam ser bem mostradas não só à população local mas especialmente à comunidade internacional. Estavam a ser tomadas e a ser postas em execução medidas importantes para a Guiné e havia que dar conhecimento delas ao mundo.

Várias diligências foram levadas a cabo na divulgação desta política.

Uma parte importante da população autóctone tinha aderido às ideias do novo governador e a direcção do PAIGC passou a ver o General como um inimigo mais importante que o próprio governo que o mantinha. A imagem do general do monóculo e do seu pingalim correu mundo, através das capas de revistas estrangeiras, então muito lidas.

Neste enquadramento, o governo de Spínola convidou e pagou as despesas de viagens e estadia de cerca de 2 semanas a vários jornalistas da ORTF (a estação pública, de televisão francesa) e da Agência Gamma (2), com o objectivo de mostrarem ao mundo a política que se estava a seguir e que mostrassem também a adesão entusiástica das populações à ideia Por uma Guiné Melhor (3).

É assim que o BCAV 2868 do Ten Cor Morgado entra nesta história e, com ele, o Cap Cav Sentieiro (4).

Em 17 de Outubro de 1969, o comando do Batalhão recebe instruções para desencadear acções na sua zona de quadrícula, acções estas que teriam o acompanhamento de enviados da imprensa estrangeira. A Op Ostra Amarga inseriu-se na série de acções descritas no quadro abaixo e já objecto de posts anteriores (4).
Referência a três Operações: Caça Ratos, Ostra Amarga e Gato Assanhado


2. Estávamos em 1969, em 15 de Novembro. Tal como muitos semanários e revistas o Paris-Match passava em revista os grandes acontecimentos da semana.
Cópia da capa do Paris-Match, nº 1071, de 15 de Novembro de 1969


No sumário do referido nº, o Paris-Match, entre os artigos do estrangeiro, escrevia sobre Nixon e a sua maioria silenciosa, a odisseia da Apolo XII (que se preparava para a 2ª alunissagem, a 19 de Novembro) e inseria um pequeno texto da autoria de Geneviève Chauvel, então uma jovem jornalista da Agência Gamma (2), sobre a guerra da Guiné Portuguesa.





Escrevia Chauvel:

Monóculo no olho, apoiando-se no seu pingalim, este oficial parece surgir de um filme dos anos 30. Não é o Pierre Renoir de 'La Bandera', nem o Von Stroheim de 'La Grande Illusion'. O general português Spínola faz verdadeiramente a guerra. Na Guiné. Imagem soberba e irrisória: um pequeno país que possuía, há quatrocentos anos, um império imenso, sobre o qual o sol nunca se escondia, esgota-se hoje no último combate colonial do século.
Entre a Gâmbia e a Guiné de Sékou Touré, a Guiné Portuguesa conta com um punhado de colonos, face a meio milhão de autóctones, num território do tamanho de um departamento francês. De há oito anos a esta parte está transformado num campo de batalha. A guerrilha dos rebeldes, armados pela China e muito organizados – revistas, instrução política, jornais de propaganda – absorve cada vez mais as tropas portuguesas.
Lançados num país muito quente, com uma vegetação muito densa, vigiados pelo inferno das emboscadas, os camponeses de Beja, os pescadores da Nazaré ou os estudantes de Coimbra cuidam da sua elegância, a exemplo do seu comandante-em-chefe: “Mais vale ir para o céu com um uniforme como deve ser”.
Paris-Match, nº 1071, L’étranger, pp. 30 e 31, texto de Geneviève Chauvel-Gamma. Tradução livre de V. Briote. (Com a devida vénia...).

O General Spínola, ladeado pelo Major A. Bruno (de G3 e luvas), Major João Marcelino (2º Comandante do BCAV 2868, então em Bissau e que apanhou boleia no heli) e o Ten Cor Alves Morgado, Comandante do BCAV 2868 que acompanhou o desenrolar da acção. Foto tirada momentos após a emboscada. Imagem extraída do Paris-Match.


Na mesma imagem, de costas, o Capitão de Cavalaria José Maria Sentieiro, comandante da CCAV 2485, que por impedimento do comandante da CCAV 2487, foi encarregado de dirigir a Op Ostra Amarga. Imagem obtida momentos após a emboscada que custou dois mortos à CCAV 2487. Cópia da imagem do Paris-Match.


Geneviève Chauvel e o Capitão Sentieiro, momentos após a emboscada. Foto cedida ao VB pelo Coronel Sentieiro.

3. Contactámos Geneviève Chauvel (5), solicitando-lhe que puxasse pela memória e nos dissesse onde poderíamos procurar informação sobre a sua estadia na Guiné em 1969.
Extractos da correspondência trocada:

(...) Madame,

Chamo-me V. Briote e fui militar do Exército Português na Guinée-Bissau. Vi um filme de Outubro de 1969, "Guerre en Guinée", que encontrei no site do I.N.A. (Instituto Nacional do Audiovisual).

Temos um blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné, onde mais de 200 ex-combatentes contam a vida do conflito colonial.

Encontrei-me hoje com o Coronel Sentieiro, que me forneceu pormenores da operação “Ostra Amarga”, em que a Madame Chauvel participou como repórter da Gamma. Trata-se de um documento filmado que retrata a violência do conflito.

A Madame Chauvel ainda se lembra desta história? Pode fazer-me um pequeno texto deste infeliz episódio? Perdoe-me este pedido, Madame. Mas, estou certo que compreende que estamos a falar da nossa juventude e não nos esquecemos do que os poderes de então fizeram de nós.

E obrigado pelo magnífico trabalho que fez.
V. Briote


A resposta de Geneviève Chauvel não tardou:

Monsieur,

Votre mail réveille de vieux souvenirs parmi les plus forts de ma carrière de journaliste. À l'époque j'ai raconté cette opération en Guinée qui fut violente et a coûté la vie à un portugais qui fut déchiqueté par un mortier. Je vais rechercher dans mes archives afin de retrouver le ou les articles écrits à l'époque et je vous l'enverrai sur cette adresse mail.
A très bientôt.

Geneviève Chauvel


Tradução livre de V.B.:

A sua mensagem recorda-me antigas lembranças entre as mais fortes da minha carreira de jornalista. Na época relatei esta operação na Guiné que foi violenta e que custou a vida a um português que foi atingido por um morteiro (*). Vou procurar nos meus arquivos o ou os artigos escritos na altura e enviá-los-ei para o seu endereço.
Até breve,

Geneviève Chauvel


(*) Obs.: Na verdade, foi uma roquetada e as NT sofreram dois mortos. A jornalista não teve conhecimento da 2ª morte, porque o ferido tinha sido entretanto evacuado.

Na volta enviei-lhe nova mensagem:

Madame Geneviève Chauvel,

Veuillez excuser mon Français. Il est le Français que j'ai étudié il y a plus de quarante ans, pendant mes études sécondaires au Portugal.

Aprés mon commission militaire obligatoire à la Guinée-Bissau, j'ai travaillé à Ciba-Geigy (Pharmaceutique), où j'ai fait ma carrière dans le département de Marketing. Et le Français était seulement parlé comme langue non officielle. Mais les paroles me manquent, non seulement en Français, aussi en Portugais. Vous comprenez bien ce que je veux dire, il n' y est pas seulement une question de vocabulaire.

Ils ont été des temps trés difficiles pour des garçons de 20 ans, comme moi. Et si tout s'est passé il y a presque quarante ans, nous n'avons pas oublié cette guerre, injuste pour tous.

Flora Gomes (directeur-cine, de la Guinée-Bissau) et Diana Andringa (journaliste portugaise) ont produit un documentaire de presque 100 minutes, nommé 'Les deux faces de la Guerre'(en Portrugais, 'As duas faces da Guerra'), où nous pouvons entendre les voix des élements de la guerilla et ex-militaires de l' Armée Portugaise. Les images que vous avez filmé, près de Bula, au Nord de Guinée, font partie du documentaire. Le commandant de l' opération du coté portugais c'ést l'actuel Colonel Sentieiro, capitaine à ce temps-lá. Je l'ai rencontré la semaine dernière et nous avons parlé de cette mission, comme je vous ai déjà dit. Et aprés ça je vous ai cherché et trouvé dans Google.

Nous attendons donc l'envoi du texte que vous avez écrit à 1969 et vous remercions en avance par la permission de sa publication dans notre blog. Vous avez été trés gentille et nous vous en remercions beaucoup.

Merci, Madame.

V.Briote


Tradução livre desta mensagem:

Senhora Geneviève Chauvel,

Desculpe o meu francês. Foi o que estudei há mais de quarenta anos, durante o ensino secundário em Portugal.

Depois da minha comissão militar obrigatória na Guiné-Bissau trabalhei na Ciba-Geigy Farmacêutica, onde fiz a minha carreira no departamento de Marketing. E o francês era então falado como língua não-oficial. Mas as palavras faltam-me, não só em Francês, também em Português. Compreende bem o que quero dizer, não se trata só de uma questão de vocabulário.

Foram tempos muito difíceis para jovens na casa dos 20 anos. E se tudo se passou há quase quarenta anos, não esquecemos esta guerra, injusta para todos.

Flora Gomes (realizador de cinema da Guiné-Bissau) e Diana Andringa (jornalista portuguesa) produziram um documenhtário de cerca de 100 minutos, chamado “As duas faces da Guerra”, onde podemos ouvir as vozes do conflito, de um lado e do outro. As imagens que a vossa equipa obteve, perto de Bula, no Norte da Guiné, constam do documentário. O comandante da operação, do lado português, é o actual Coronel Sentieiro, Capitão nessa altura. Encontrei-me com ele a semana passada e falámos dessa missão, como já lhe contei na mensagem anterior. Depois procurei o seu nome no Google e encontrei-a.

Esperamos então que nos envie o texto que escreveu em 69 e agradecemos desde já que permita a sua publicação no nosso blogue.
A Senhora foi muito gentil (….)

vb


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Notas de vb:

(1) Vd . post de
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

(2) Agência de fotografia, fundada em 1966 por alguns fotógrafos, como Raymond Depardon. No final dos anos 90, a Gamma foi adquirida pelo grupo Hachette Filipacci Médias.

(3) Vd. post de 13 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2261: Vídeos da guerra (5): Nos bastidores da Op Paris Match: as (in)confidências de Marcelo Caetano (Manuel Domingues)

(4) Vd. posts de:

8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)

11 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)

(5) Geneviève Chauvel, jornalista e escritora, francesa : vd. a respectiva página pessoal (em francês)

Resumo biobliográfico:

(i) Infância passada na Síria e depois na Argélia;

(ii) Estudos de Direito e Ciências Económicas em Argel e em Paris;
(ii) Casou, em 1961, com Jean-François CHAUVEL (filho do embaixador Jean CHAUVEL), jornalista, escritor, produtor televisivo;

(iv) Como jornalista, trabalhou, de 1967 a 1982 , para as agências GAMMA e depois SYGMA, tendo estado em diversos palcos de guerra (Vietname, Angola, Moçambique, Guiné Portuguesa, Biafra; guerra dos Seis Dias na Síria e na Jordânia, Setembro Negro em Amã, Israel...);
(v) Tem fotos publicadas em grandes revistas internacionais (Time Magazine, Newsweek, Paris-Match, Le Point, L'Express, Stern, Manchete, Actualidad, Europeo);

(v)De 1973 a 1981, trabalhou como jornalista e realizadora de televisão, tendo feito diversas reportagens (Egipto, Koweit, Guerre du Kippour, Montes Golã, Sinai, Suez, Guerre civil em Angola);

(vi) Fez o "retrato" de diversos chefes de Estado ou de importantes personalidades como Yasser Arafat, o Rei Hussein da Jordania, o presidente vietnamita Nguyen Van Thieu, o imperador da Etiópia Haïlé Sélassié, o General Spínola, o coronel Kadhafi, o presidente Sadate, o general Dayan, o rei Constantino da Grécia, o Xá do Irão, Chapour Bakhtiar, os emires do Golfo...

(...) É autora de numerosos romances históricos, sobre grandes mulheres, mas também sobre um grande herói muçulmano, Saladino, Saladin (1999), traduzido em alemão, espanhol e árabe.

Contacto por e-mail: chauvel.genevieve@orange.fr