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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18694: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (5): Os meus passeios: de Buba a Cassumba, passando por Cacine, Sangonhá, Cameconde, Cassacá e Campeane, março de 2018 - Parte II


Foto nº 9


Foto nº 10


Foto nº 11


Foto nº 12

Foto nº 13


Foto nº 14

Foto nº 15


 Foto nº 16


Foto nº 17


Foto nº 18


Foto nº 19

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Península de Quitafine > Cameconde >  11 de março de 2018

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação das fotos da viagem de Buba a  Cassumba, de 11 de março último (*)

[ Patrício Ribeiro é um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

(Continuação)

Cameconde:

Algumas fotos da fortaleza (quartel) que lá construíram, para os que lá dormiram dentro, recordar (**).

 Ainda hoje são impressionantes, as construções. (Fotos de 9 a 19).

A estrada que liga Cameconde, Cassacá, até Campeane, está em bom estado, ainda encontramos muita floresta frondosa, muito verdejante, esta zona é muito bonita. Onde se produz muita fruta; cola, laranja, ananás, banana, etc. Mas a plantação de caju, já está a chegar, para deitar a floresta abaixo.

A estrada passou a ser uma rua, com muitas casas durante alguns quilómetros  muita população. Como está perto da fronteira, muitos vieram do outro lado…

(Continua)

Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guiné-Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com



Guiné > Região de Tombali > Mapa de Cacoca (1960) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Cameconde, Cacoca e Sangonhá, nas proximidades da fronteira com a Guiné-Conacri, tendo a norte Gadamael e Ganturé (e a sudoeste Cacine, vd. mapa de Cacine e mapa geral da província)

Cameconde era a guarnição militar portuguesa mais a sul, na região de Quitafine, na estrada fronteiriça Quebo-Cacine... Em 1968 era o batalhão que estava em Buba (BART 1896, 1966/68) quem defendia esta importante linha de fronteira...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)

_____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18693: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (4): Os meus passeios: de Buba a Cassumba, passando por Cacine, Sangonhá, Cameconde, Cassacá e Campeane, março de 2018 - Parte I

(**) Temos 44 referências a Cameconde no nosso blogue.

Vd.por exemplo poste de 20 de fevereiro de 2013  > Guiné 63/74 - P11127: Memória dos lugares (214): Cameconde, no subsetor de Cacine, o destacamento mais a sul do CTIG... (José Vermelho / Augusto Vilaça / Juvenal Candeias)

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18533: (D)outro lado do combate (27): A mobilidade das populações por efeito da guerra: o caso de Quitafine, com 41 tabancas que foram riscadas do mapa (ou cuja população foi deslocada), segundo relatório de cabo-verdiano, comissário político, José Araújo (1933-1992), casado com a Amélia Araújo, a nossa "Maria Turra" (Jorge Araújo)


Citação: Mikko Pyhälä (1970-1971), "José Araújo e Nino Vieira" [dois cérebros da guerra, sendo o primeiro, cabo-verdiano, com formação universitária portuguesa], CasaComum.org, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/ visualizador?pasta=11025.008.026 (2018-4-13) [ Fonte:  Fundação Mário Soares > Casa Comum >Arquivo Amilcar Cabral...com a devida vénia]



O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494  
(Xime-Mansambo, 1972/1974).


Mensagem do nosso editor, Jorge Araújo, com data de 13 do corrente:

Caro Luís, boa tarde.

Perdi a cabeça... numa 6.ª feira, treze.

Fiz mais um texto... deixando para trás outros mais antigos... é a vida!

No final do documento coloquei mais três fotos para, caso entendas escolher alguma, ou todas, as poderes utilizar.

Até breve. Bom fim-de-semana.


Ab. Jorge Araújo.

GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > A FISIONOMIA HUMANA NO SECTOR DE QUITAFINE [FRENTE SUL] APRESENTADA POR JOSÉ ARAÚJO À DIRECÇÃO DO PAIGC EM RELATÓRIO DATADO DE 16OUT1971: A MOBILIDADE DAS POPULAÇÕES POR EFEITO DA GUERRA 


1.  INTRODUÇÃO



Porque tudo na vida é processo e projecto, conceitos que se reformulam na dialética "ordem / desordem" para dar lugar a uma nova "ordem", apresento hoje no fórum mais um tema novo, se a memória e a investigação não me atraiçoam, este relacionado com a "mobilidade das populações da Guiné, do nosso tempo, por efeito da guerra". (*)

É que, de facto, o comportamento psicossocial das populações no início do conflito ficou marcado, ou foi influenciado, inexoravelmente, pela sucessão de acontecimentos, que deram lugar a uma inevitável "desordem" social e étnica, alguns ainda antes do 23 de janeiro de 1963, com o ataque ao quartel de Tite, localizado na região de Quínara, e que depois se alargaram cumulativamente a todo o território.

A oportunidade desta apresentação, a meu ver, enquadra-se nas imagens que o nosso camarada tertuliano, o ex-alf mil inf Luís Mourato Oliveira,  tem vindo a partilhar neste espaço colectivo que é a «Tabanca Grande», e que estiveram guardadas durante mais de quatro décadas no seu baú de memórias. (**)

Por isso é justo e oportuno agradecer-lhe essa disponibilidade e atenção, ele que ficou também na história da guerra por ter sido, em função dos acontecimentos do "25 de Abril", o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74) antes da proclamação da independência da Guiné, declarada em 23 de Setembro de 1974.

Por outro lado, as últimas imagens postadas nos P18504 e P18517, tendo por pano de fundo a delegação do PAIGC que visitou Missirá em julho de 1974 no âmbito dos acordos de cessar-fogo, e com as quais se fecharia o ciclo temporal deste conflito armado, que uns chama(ra)m «guerra do ultramar», outros "guerra de África", outros "guerra colonial"  e outros  ainda  «guerra de libertação», conforme a sua posição no cosmo, continuam a suscitar novas reflexões, sinal que se mantêm bem vivas, em cada um de nós, algumas das memórias gravadas ao longo das múltiplas vivências desses tempos ultramarinos, independentemente do lugar, época e contexto.

Porque nos postes acima se referem as imagens de alguns dos actos finais ocorridos na mata do interior do território (Missirá, sector L1, região de Bafatá. zona leste, "chão fula"...), proponho voltar ao início do conflito, apresentando um pedaço da "geografia social e étnica" dessa época, em particular da região da Frente Sul [, segundo o dispositivo do PAIGC], especificamente do Sector de Quitafine, por onde tenho "circulado" nos últimos tempos (entenda-se, em termos de investigado), de modo a fazer-se a ponte temporal de mais de uma década.

Em função do exposto, é difícil não concordar que a mobilidade das populações, por efeito da guerra, foi uma realidade, obrigando-as a tomar opções concretas no imediato, cujas decisões só tinham três hipóteses principais: a primeira, ficando sob o controlo da "ordem instalada" (a administração portuguesa); a segunda, transitando para além das fronteiras (exterior); e a última, aceitar fazer parte do universo da guerrilha nacionalista.

Para a elaboração deste trabalho socorri-me, uma vez mais, de um documento existente nos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973), disponível na Casa Comum – Fundação Mário Soares, intitulado «Relatório sobre o Sector de Kitáfine», assinado por José Araújo, Comissário Político e Produção para a Frente Sul, datado de 16 de Outubro de 1971, com trinta e nove páginas (sitio: hdl.handle.net/11002/fms_dc_40058).





Folha de rosto e introdução do relatório do José Araújo, "O Sector de Kétafinme" (sic), datilografado, 39 páginas, datado de 16 de outubro de 1971, e feito na base de Kandiafara (Guiné-Conacri). Fomte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral (com a devida vénia...)


Quanto ao perfil de José Araújo, de seu nome completo José Eduardo de Figueiredo Araújo (1933-1992), à data do relatório, ele era também membro do Conselho Superior da Luta e do Comité Executivo da Luta. 

À laia de resenha biográfica, acrescente-se que este dirigente do PAIGC nasceu em 1933 na cidade da Praia, ilha de Santiago, em Cabo Verde, foi aí que fez os seus estudos primários. Em 1942, com apenas 9 anos, seguiu com a família para Angola, uma vez que o seu pai era funcionário da Fazenda (Finanças). Com uma bolsa de estudos atribuída pelos Correios de Angola, José Araújo desloca-se para Lisboa com o objectivo de realizar os seus estudos universitários na Faculdade de Direito de Lisboa, onde, em 1961, concluiu a sua licenciatura em Direito. 

Porém, no ano anterior tinha-se tornado militante do MPLA na clandestinidade, depois de ter-se envolvido numa intensa actividade associativa universitária. Em 1961 faz parte do grupo de africanos,  universitários, que decidem fugir para França. Seguiu-se depois o Gana. Após ter militado no MPLA, associa-se ao PAIGC, vindo a instalar-se em Conacri, com a sua família, dois anos depois, em 1963.

Com a independência da Guiné-Bissau, as suas novas funções políticas foram desenvolvidas como ministro do Secretariado. Entre 1975 e 1980, foi ministro sem pasta. Após essa data transferiu-se para Cabo Verde, onde desempenhou as mais elevadas responsabilidades políticas no novo contexto, em particular o cargo de ministro da Educação. Viria a falecer na sua terra natal, exactamente dezanove anos depois do assassinato de Amílcar Cabral, em 20 de Janeiro de 1992 (Fonte: adapt. de pascal.iseg.utl.pt/~cesa/images/files/ diaspora2016_texto4.pdf).

À data da sua morte era casado com Amélia Araújo, a locutora da "Rádio Libertação", conhecida entre nós como "Maria Turra"  (vidé P15434).


2. A MOBILIDADE DAS POPULAÇÕES NO SECTOR DE QUITAFINE POR EFEITO DA GUERRA – 41 TABANCAS DESAPARECIDAS


A propósito do conteúdo do "relatório" elaborado por José Araújo, este refere que ele tem por base a sua missão ao Sector de Quitafine [, Kétafine, sic, como vem grafado no relatório], realizada entre 14 de setembro e 8 de outubro de 1971. Aí teve a oportunidade de contactar com todos os responsáveis desse sector, incluindo a visita a duas bases do Exército (em Comissorã e em Cabonelo), ao Hospital (em Campo, ou Campum, no relatório) e ao Posto Civil (em Cassacá), local histórico para o PAIGC, pois foi aí que realizou o seu 1.º Congresso, que decorreu entre 13 e 16 de fevereiro de 1964.

Acrescenta que o Sector de Quitafine foi dos primeiros em que se fez a mobilização e se instalou a luta armada. Foi aí, no mato de Campo, que, dizem os pioneiros, nasceu a primeira "barraca" [acampamento] do partido no Sul, ainda antes da guerra.



Guiné > Região de Tombali > Carta de Cacine (1960) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Cassacá, a 15 km a sul de Cacine, região também como conhecida como Quitafine (falta-nos  a carta de Cassumba, com a ponta sul de Quitafine, que não está "on line"... Ver também carta de Cacoca.)

Fonte: Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)

"A situação criada à aviação inimiga [NT] com a instalação de antiaéreas em Quitafine e as pesadas derrotas que sofreu na sua tentativa de recuperação dessas armas, talvez expliquem a sanha com que se dedicou à destruição de tudo quanto via mexer em Quitafine, nos anos 68 e 69. A partir de 69 (fins), Quitafine começou a "arrefecer". […]

"É preciso ter-se em conta este passado para se compreender muito da actual fisionomia de Quitafine e os seus problemas. Quitafine, que era das áreas mais povoadas do Sul, só tem hoje [1971] 12 tabancas, organizadas em 9 comités. Repare-se que aquilo a que hoje se chama Tabancas e a que se dão nomes antigos, pouco tem a ver com as antigas tabancas. As populações, que conservaram os nomes das suas antigas tabancas, estão dispersas nos tarrafos e num ou noutro mato mais favorável. 

Além disso, grande parte (se não a maioria) da população das tabancas antigas ainda "presentes" dispersou-se pelas tabancas fronteiriças da República da Guiné, quando não foi juntar-se aos tugas. Penso também que alguns erros cometidos no trabalho político inicial devem explicar a actual fisionomia humana de Quitafine" (op. cit., pp 2/3).


No Relatório estão identificados os nomes de quarenta e uma Tabancas que deixaram de existir na região de Quitafine, e que serão referidas abaixo.

A organização da sua apresentação contém alterações em relação à original. Como metodologia seleccionada, optámos pela ordenação alfabética para melhor localização da ordem estabelecida. Quanto ao conteúdo textual, existem algumas (pequenas) correcções, particularmente no que concerne à construção semântica e unificação da descrição, mas que não alteram o sentido apresentado.

Eis, então, os nomes da Tabancas desaparecidas por efeito da guerra no Sector de Quitafine (n=41)

● BANERE –> Tabanca de Fulas. Retiraram-se para CAMABANGA e SATENIA, na República da Guiné. O chefe – Mamassalu – encontra-se na segunda destas tabancas.

● BIRCAMA –> Tabanca de Beafadas. Foram todos para os tugas.

● CABOBAR –> Tabanca de Nalús, pequena. Uma morança só. Toda a gente retirou-se para GÃ BIT FONE, CARAQUE e BISSAMAIA, na República da Guiné.

● CABOXANQUE –> Tabanca de Fulas. Foram todos para a República da Guiné, tendo-se instalado em várias tabancas, em especial na de CUN-HA e CAMABANGA. [Não confundir eventualmente com Caboxanque, no Cantanhez, na oputra margem do Rio Cacine]

● CABOXANQUEZINHO –> Tabanca de Fulas e Tandas. Os tandas espalharam-se na República da Guiné, longe da fronteira. Os Fulas foram para os tugas, à excepção de duas pessoas (Beila  Baldé e a irmã), que foram para CALAFIMETE, na República da Guiné.

● CABOMA –> Tabanca de Sossos. Só duas pessoas foram para os tugas. O resto juntou-se à população de CAMISSORÃ.

● CABONEPO –> Tabanca de Sossos e Beafadas. Havia também um cabo-verdiano de nome Leão Gabriel. O caboverdiano foi para Dacar (ao que parece). O resto foi para CARATCHE, GAFARANDE e CABACO, na República da Guiné. Só ficou um Homem Grande, de nome Idrissa Keita, que se instalou no mato, em CASSACÁ.

● CACAFAL –> Tabanca de Nalús. Toda a gente foi para os tugas, à excepção do camarada Ansumane Djassi, do Exército, que está em FULA MORI.

CACOCA –> Tabanca de Sosso, Nalús, Bagas, Fulas e Lândumas. Só se retirou uma família (Canforseco Keita), que está em CAPOQUENE. O resto ficou com os tugas.

● CADUCÓ –> Tabanca essencialmente de Nalús. Foram para a fronteira, tendo-se instalado em CAN-HOR, uma parte, e a outra em CATCHIQUE.

● CAIANQUE –> Tabanca de Nalús. Refugiaram-se em CAMAÇO e CATCHIQUE, na República da Guiné,

● CAIÂNTICO –> Tabanca de Beafadas. Foi gente para os tugas e o resto para HAMDALAYE e CABUM-ANE, na República da Guiné.

● CALAQUE –> Tabanca de Sossos, Fulas, Manjacos e Lândumas. À excepção de duas moranças de Manjacos, toda a gente retirou-se para tabancas fronteiriças da República da Guiné. As duas moranças de Manjacos instalaram-se no mato de CALAQUE.

● CAMBAQUE –> Tabanca de Nalús. A maioria da população foi para os tugas. Alguns elementos foram para CASSAMA e CARAQUE, na República da Guiné. 

● CAMBEQUE –> Tabanca de Nalús. Retirou para BAKILONTON E IAMAN, na República da Guiné. Alguns foram depois daí para os tugas.

● CAMBRAZ –> Tabanca de Mandingas. Toda a população juntou-se aos tugas.

CAMECONDE –> Tabanca de Nalús. Só retiraram duas famílias (Almani Keita e Braima XCamaré), que estão em CASSANSSANE, na República da Guiné. O resto ficou com os tugas.

● CAMISSORÃ –> Tabanca de Sossos, Nalús, Mandingas, Beafadas e Fulas. Os Fulas foram todos para a República da Guiné. Houve também gente de outras tribos que se refugiou. Ficou pouca gente, que se refugiou nos tarrafos de CAMPUM [ou Campo], e que tem o seu comité.

● CAMPEANE –> Tabanca de Nalús e Sossos, essencialmente. Refugiaram-se igualmente em CAIETCHE e CATCHIQUE.

● CAMPEREMO –> Tabanca de Nalús e Beafadas. Uma morança de beafadas está em Hamdalaye. Uma outra (Mamadu Dabo) está para os lados de CANELAS. Duas famílias estão em CARATCHE (Ansumane Dabo e Tomás Dabo). O resto foi para os tugas.

● CAMPO –> Tabanca de Fulas. Retiraram-se para CASSEMAQUE, BAGADAYE, e outras, na República da Guiné.

● CANDEMPANE –> Tabanca de Nalús. Só ficou o camarada Ansumane Dabo, que é actualmente instrutor das FAL no sector. O resto foi para os tugas.

● CANFEFE –> Tabanca de Sossos e Nalús. Retiraram-se todos para tabancas da República da Guiné.

● CANTEDE –> Tabanca de Nalús. Toda a população juntou-se aos tugas.

● CANTOMBOM –> Tabanca de Nalús. Foram todos para os tugas.

● CARIMPIM –> Tabanca de Nalús. Toda a população refugiou-se em CARATCHE.

● CASSENTEM –> Tabanca de Nalús e Balantas. Os Nalús foram para CALAFIMET e CAMAÇO, na República da Guiné. Os Balantas mantiveram-se no interior, tendo-se instalado nos tarrafos de TAFORE e CASSEBETCHE.

● CASSOME –> Tabanca de Nalús. Instalaram-se em CARAQUE, na República da Guiné.

● CATONAIE –> Tabanca de Nalús. Foram todos para os tugas.

● CATRIFO –> Tabanca de Nalus. Toda a população foi para os tugas, à excepção da família Ali Keita, que retirou-se para MAMADIA, na República da Guiné.

● CATUNAIE –> Tabanca de Nalús. Ficou uma família (Abdu Camará) nos tarrafos de CASSEBETCHE. O resto refugiou-se em CASSEMAQUE, na República da Guiné.

● CATUNGO –> Tabanca de Nalús. Foram todos para os tugas, à excepção de uma mulher, Mama Camará que está em CARATCHE, na República da Guiné.

● CAULACA –> Tabanca de Sossos e Nalús. Dessa tabanca, que se tinha retirado para a fronteira com a República da Guiné, toda a gente voltou para dentro. Estão instalados nos matos de CASSACÁ.

● CUGUMA –> Tabanca de Nalús. Foram todos para CACINE.

● CUNFA –> Tabanca de Nalús. Toda a tabanca foi para os tugas, à excepção de uma família (Amadu Dabo), que retirou-se para IAMANE, na República da Guiné.

● DÉBIA –> Tabanca de Nalús. Alguns elementos refugiaram-se em TANENE e IAMANE, outros foram para os tugas.

● MANSABATÚ –> Tabanca de Nalús. Foram todos para os tugas, só tendo ficado uma pessoa – um camarada, o enfermeiro do bigrupo em missão na área, de nome Mamadu Keita, mais conhecido por Tam Atna. [Este bigrupo tinha como Cmdt Cinur N'Tchir, natural de Cafine, onde nasceu em 1943. Actuava na Frente «Buba – Quitafine»[

SANCONHÁ –> Tabanca de Beafadas. Foram poucos para os tugas, os outros estão para os lados de SANSALÉ, na República da Guiné.

● TADI –> Tabanca de Nalús. Toda a população refugiou-se em CARATCHE.

● TARCURÉ –> Tabanca de Nalús. Foram todos para os tugas.

● TUBANDI –> Tabanca de Djacancas [um subgrupo da etnia Mandinga]. Retirou para CAPOQUENE e N'DJAILÁ, na República da Guiné.

Será que alguém ouviu falar ou esteve em alguma destas tabancas? [Há referências no nosso blogue a algumas destas tabancas, não fiz unma pesquisa exaustiva.]

Aguardo. Obrigado pela atenção.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
13ABR2018.



Citação: (s.d.), "Tabanca no interior da Guiné, ao fundo distinguem-se mulheres cozinhando", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_ dc_43022 (2018-4-13) (com a devida vénia).



Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC numa tabanca", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43109 (2018-4-13) (com a devida vénia).

_______________

Notas do editor:


(**) Vd. poste de 12 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18517: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte II: Dando uma oportunidade à paz, depois de oito anos de guerra: os últimos dias dos bravos do pelotão

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17279: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (7): a última carta de Amílcar Cabral, enviada em 19/1/1973, a Pedro Pires, com diretivas para o reforço da luta na região de Quitafine



Guiné > Região do Tombali > Quitafine, assinalada com elipse, na zona a cor laranja. Quitafine faz fronteira com a Guiné-Conacri (área 3.736 km²)

Fonte: https://peccaviconsulting.files.wordpress.com/2017/01/political-map-of-guinea-bis.gif (com a devida vénia...)


Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral > s/d > s/l> O comandante Pedro Pires com dois combatentes do PAIGC

Citação:
(1963-1973), "Comandante Pedro Pires com dois combatentes do PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43495 (2017-3-31)



Colaborador permanente do nosso blogue, Jorge Araújo (ex-fur mil op especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74) é professor universitário, doutorado em ciências do desporto. Este texto foi nos enviado a 7 de abril último, com a seguinte nota:  "Conforme ontem te dei conta, anexo mais um pequeno trabalho a incluir na série 'D(o) outro lado do combate', tendo este por tema de partida a 'última carta de Amílcar' enviada a Pedro Pires,  a poucas horas de ser assassinado. Recordo que a sua publicação só deve acontecer depois do texto relacionado com "Pedro Pires e a Mina..." (*)

A ÚLTIMA CARTA DE AMÍLCAR CABRAL [1924-1973] A PEDRO PIRES ESCRITA MOMENTOS ANTES DO SEU ASSASSINATO (19 de janeiro de 1973)



1. INTRODUÇÃO

Ao projectar este pequeno texto historiográfico, utilizando como fonte privilegiada, uma vez mais, «o outro lado do combate», título destes meus escritos temáticos, fi-lo procurando valorar o que é percebido do objecto em análise (factos narrados), por um lado, colocando-o à disposição do universo dos ex-combatentes que sobre ele lhe possam adicionar algo mais, por outro, organizando-o a partir da triangulação da informação produzida pelos seus diversos actores, e por eles publicitada em diferentes momentos e contextos.

Considero-o, por isso, um modesto contributo, quiçá reforço, ao que foi sendo referido, comentado, discutido, esclarecido, analisado, durante as duas últimas semanas neste espaço de partilha, com destaque para os temas inseridos nos P17138 e P17162, da autoria do nosso camarada António Martins Matos (ten gen pilav ref).

Daí que, como questão de partida, o objecto em análise está relacionado com as novas diretrizes idealizadas por Amílcar Cabral (1924-1973), enviadas em carta datada de 19 de janeiro de 1973, ao seu camarada do Conselho de Guerra, cmdt Pedro Pires (que viria a ser a última), naquela ocasião a supervisionar as actividades da guerrilha nos territórios da Frente Sul [mapa acima], uma vez que passadas poucas horas de as ter escrito, o seu autor seria assassinado por membros do seu próprio partido, em Conacri, tema amplamente dissecado no blogue [exs. P15683 e P16510, entre outros].

Estas novas orientações propostas por Amílcar Cabral, que não teria a oportunidade de conhecer os resultados, acabariam, porém, por influenciar os tempos que se seguiram, transformando os cenários da guerra-de-guerrilha ao longo do ano de 1973 e os palcos das três frentes (Norte, Sul e Leste) onde cada um dos actores se movimentava. 

Esse ano, todos nós o sabemos, foi um ano farto de ocorrências de grande significado individual e colectivo, sendo que uma grande parte delas acabariam por ficar gravadas, para sempre, como efemérides no âmbito da historiografia da guerra no CTIGuiné.


2. A ÚLTIMA CARTA DE AMÍLCAR CABRAL A PEDRO PIRES

- Diretrizes para o prosseguimento da luta armada (1973) 

A poucas horas de ser assassinado, em Conacri, por elementos do seu próprio partido ligados à sua segurança pessoal, como foi referido na introdução, Amílcar Cabral escrevia uma missiva ao Cmdt Pedro Pires, dando-lhe novas diretrizes quanto ao que deveria ser feito a partir de então na zona da fronteira sul do território, identificando ao detalhe as acções a executar por cada grupo, o seu número de elementos e respectivo armamento a utilizar, bem como a competente cronologia.

De referir que o seu assassinato já havia sido por si vaticinado como uma forte probabilidade para o fim da sua vida (morte), ficando célebre a frase que lhe é atribuída - “se alguém me há-de fazer mal, é quem está aqui entre nós. Ninguém mais pode estragar o PAIGC, só nós próprios”.

Em função do acima exposto, importa dar conta de que esta narrativa só foi possível elaborar depois de consultados, com a devida vénia, os arquivos da Casa Comum, Fundação Mário Soares, em particular a vasta correspondência escrita/manuscrita por Amílcar Cabral, donde foi seleccionada a carta acima referida. Ela será transcrita na íntegra, mas intercalada com outras referências extraídas do vasto espólio disponibilizado por este blogue, com o superior objectivo de aprofundamento desta problemática.

O original será colocado no final, assim como referida a sua fonte. Eis, abaixo, o conteúdo da carta em título [revisão e fixação de texto: JA].

“Acabo de receber a mensagem [dos serviços de inteligência (secretos)?] sobre a concentração do inimigo em Cacine com o objectivo de ocupar posições no Sector”.

[Será que se refere à Directiva n.º 2/73, de 8 de janeiro de 1973, do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné (?), onde cria o Comando Operacional n.º 5 (COP 5), para o qual foi designado, como seu Cmdt, Alexandre da Costa Coutinho e Lima, à data major de art, e hoje cor art ref. (P2677)].

Recupero a missão do COP 5, constituída por 8 pontos. Neste contexto apenas irei referir os primeiros seis, a saber:

1. Intercepta o corredor de Guileje, especialmente pela implantação de minas e armadilhas e execução de fogos de interdição.

2 .Executa acções de reconhecimento na faixa fronteiriça, por forma a detectar novas linhas de infiltração IN na sua ZA [zona de acção], com vista ao oportuno desenvolvimento de acções de contra-penetração.

3. Acaba com o IN na sua zona de acção, aniquilando-o, capturando-o, ou, no mínimo, expulsando-o para o exterior do TO.

4. Procura alargar a sua área de actividade de contra-guerrilha, por acções de reconhecimento no corredor de Guileje em ordem a intensificar o esforço de contra-penetração e por acções de golpe de mão sobre a área de Quitafine.

5. Assegura a defesa eficiente dos aglomerados populacionais ocupados pelas NT e o socorro em tempo oportuno dos reordenamentos da sua ZA [zona de acção].

6. Garante as condições de segurança necessárias à execução de movimentos nos itinerários do Sector, em especial Gadamael-Guileje e Cacine-Cameconde. 

Em função dos objectivos acima, Amílcar Cabral escreve, como procedimentos de ataque: 

"Penso que devemos tomar medidas imediatas para verificar a informação dada [omite a sua origem; acaso se refira à Directiva n.º 2/73, essa informação chega-lhe dez dias após a sua aprovação/publicação] e estar prontos a enfrentar o inimigo. Pois, como sempre, a melhor defesa é o ataque. Por isso proponho:

1. Deves deslocar-te à fronteira de Quitafine, se a tua saúde o permite, para coordenar a acção dos combatentes na área. 

2. Mobilizar no Sector, para a acção, todas as forças regulares e locais.

3. Levar para lá a artilharia que está na fronteira de Kandiafara, com as suas dotações em homens, incluindo o Grad [foguetão de 122 mm]. Se possível fazer um ataque a Quebo [Aldeia Formosa] antes de retirar a artilharia pesada para Quitafine.

4. Os artilheiros de antiaérea que estão ainda na fronteira (vinte e tal homens) devem levar para Quitafine 3 peças [AA] ZGU-14, 5 mm para fazer emboscadas a helicópteros, apoiados pela infantaria.

5. Enviar a Quitafine os 15 homens da infantaria que estão em Gadamael. Vou ver a possibilidade de mandar mais alguns elementos de infantaria para lá, antes do fim do mês [de janeiro de 1973], o que é muito difícil.

6. Montar emboscadas, mesmo com poucos homens na área Cacine-Cameconde, com forças regulares. As forças locais devem estar vigilantes nas outras áreas.

7. Minar todas as vias de comunicação terrestres do inimigo, com minas anticarro e antipessoais.

Foguetão 122 mm. 
Foto de Nuno Rubim (2007)
8. Atacar o mais breve possível, inclusivo com Grad [foguetão de 122 mm] se houver condições para usar essa arma. Atacar duro com canhões, morteiros e bazucas RPG-7.

9. Dar ordens aos políticos para preparar as populações, que devem esconder bem as colheitas e tomar medidas de defesa contra os bombardeamentos.

10. Vou pôr tudo em marcha para que mais munições cheguem aí com urgência, se ainda não foram."


Quanto ao foguetão de 122 mm, a que o PAIGC chamou de arma especial, cujo tubo se apresenta na imagem ao lado, as suas características e outras informações de interesse geral podem ser consultadas no P1828, da responsabilidade do cor art ref Nuno Rubim, onde se refere, ainda, a existência de um tubo igual no Museu Militar de Lisboa, em Santa Apolónia, que segundo se julga saber é o exemplar capturado em Cufar, precisamente em janeiro de 1973.
E continua:

"Já era de prever que o inimigo fará tentativas para reocupar Quitafine e possivelmente o Boé Oriental. Os tugas pretendem evitar a reunião da Assembleia Nacional Popular, por isso querem as áreas em que poderemos pensar fazer a reunião."

[Esta viria a realizar-se oito meses depois na região do Boé, em 23 de setembro desse ano, local onde, no dia seguinte, foi proclamada a Independência do Estado da Guiné-Bissau].

"Temos de encarar a actividade do inimigo com calma e decisão, para fazer tudo para liquidar o maior número possível das suas forças vivas. Temos grandes dificuldades de homens, mas devemos fazer a guerra com os homens que temos.

Se não podes tu mesmo ir a Quitafine (área da fronteira de Ba-Kulontó), manda para aí camaradas capazes. Penso que o Bota [Cmdt Bouta N’Batcha] deve seguir para aí, deixando alguém no seu lugar. O Bobo Keita [1939-2009] que regressou para a missão, poderá também ajudar.

Por hoje é tudo, ficando aguardando notícias tuas sobre a evolução da situação. Saúde e bom trabalho. O melhor abraço do camarada. Amílcar Cabral."



2.1. A análise dos pontos 6: o da Directiva e o de Amílcar Cabral

Procurando confrontar cada um dos pontos 6, quer o da Directiva n.º 2/73, quer a execução da proposta avançada por Amílcar Cabral, prevista para a área Cacine-Cameconde, nada foi encontrado de muito relevante na investigação, em particular no itinerário Cacine-Cameconde, quando comparado com o de Gadamael-Guileje, este sim, já amplamente dissecado neste espaço.


Como reforço da investigação, foi consultada, no blogue, a Unidade de Quadricula instalada nessa zona naquela época. Constatamos que entre os anos de 1972 [jan] e 1973 [out] foi/era a CCAÇ 3520 [Estrelas do Sul], uma Companhia de Madeirenses, mobilizada pelo BII 19 (Funchal), que garantia a actividade operacional entre Cacine e Cameconde. Como as referências no blogue são escassas (uma dezena) e os factos relevantes terem uma relação directa com essa variável, esta narrativa ficará amputada, certamente, de outros elementos mais significativos, em particular na dicotomia causas/efeitos da sua missão, enquanto actividade operacional.


O que se sabe é que ela se iniciou em 24 janeiro de 1972, por efeito da sua chegada ao porto de Cacine após concluído o IAO no Cumeré, para render a CCAÇ 2726 [1970/72], viagem efectuada a bordo da LDG “Montante”, ainda que até 22 de fevereiro se tenha verificado o período de sobreposição.


Guiné> Região de Tombali > Cacine, 24 de janeiro de 1972 > Chegada da CCAÇ 3520 ao porto de Cacine a bordo da LDG "Montante".
(Foto do alf mil Juvenal Candeias, com a devida vénia: poste P4961).

Em Cacine ficou instalada a maioria do contingente da Unidade, com um grupo de combate destacado em Cameconde, que era substituído mensalmente, em regime de rotação. Cameconde era então o Destacamento das NT mais a sul da Guiné, local situado a cerca de sete quilómetros da sede, sem população civil, e onde existia também um pelotão de artilharia com obuses de 14 mm. Entre os dois locais era realizada uma coluna diária, de ida e volta, com recurso à competente picagem.

A propósito desse contexto e da coluna diária que se fazia entre Cacine-Cameconde, o ex-cap mil op esp Alexandre A. M. Margarido, que foi o 4.º Cmdt da CCAÇ 3520, refere que Cameconde “era um daqueles locais onde apenas os combatentes portugueses conseguiam manter-se durante anos, sem enlouquecerem, face à falta de condições mínimas de subsistência. Inclusive a água e os mantimentos tinham que ser transportados, numa coluna diária por um trilho rasgado na selva. As altas temperaturas dentro dos abrigos, os insectos, as cobras que deslizavam da selva durante a noite, procurando o calor dessas fortificações, autênticos fornos, a exposição a atiradores e às flagelações por RPG, tudo isso, recuando 40 anos [hoje, 45] nas minhas memórias, era impensável ser suportado nos dias de hoje” [P11129].

Quanto à Região de Quitafine, a sul de Cacine, cuja base era considerada o “santuário do PAIGC” na opinião do camarada Juvenal Candeias, alf mil da mesma Unidade [P4961 e P11127], este acrescenta que aí o PAIGC “estava fortemente instalado, numa mata que era densa e intransponível e provido de dispositivos de segurança, que tornavam os nossos movimentos impossíveis, salvo com utilização de meios excepcionais. Com trilhos minados e sentinelas avançadas [algumas em cima de árvores] permitiam-lhes uma tranquilidade apenas quebrada pelos obuses de 14 mm, disparados do nosso destacamento de Cameconde."

Dispunham, como efectivos [forças regulares], “um grupo especial de 20 lança-granadas, responsável pelas constantes flagelações a Cameconde, que era apoiado por um bigrupo disperso pela zona de Cassacá e Banir (onde se supunha estar o comando). Estes efectivos eram reforçados por uma vasta população armada em autodefesa [forças locais], distribuídas pelas tabancas de Ponta Nova, Bijine, Dameol, Cassacá, Banir, Campo, Cassebexe e Caboxanque, entre outras. O respectivo reabastecimento era regular e seguro [como se depreende na carta de Amílcar Cabral], feito a partir da fronteira com a Guiné-Conacri, através de vários rios, em especial o Caraxe e o Camexibó."
Como prática operacional, “as forças na região furtavam-se sistematicamente ao contacto [aliás, como em todas as frentes], optando por uma estratégia defensiva de protecção às populações que controlava, privilegiando as flagelações e a colocação de engenhos explosivos”. [Vd. postes P4961 e P11127].


2.2.  A carta de Amílcar Cabral enviada a Pedro Pires em 19 de janeiro de 1973, na véspera de ser assassinado





Fonte: Portal Casa Comum

Instituição: Fundação Mário Soares

Pasta: 07166.001

Assunto: Comunica que recebeu a mensagem sobre a concentração do inimigo em Cacine. Propõe que se averigue a veracidade da informação e apresenta as instruções para o ataque na mesma área, mobilizar homens e armamento para a região e zonas circundantes, montar emboscadas, minar as vias terrestres, preparar as populações para a defesa contra os bombardeamentos.

Remetente: Amílcar Cabral.

Destinatário: Pedro Pires

Data: Sexta, 19 de Janeiro de 1973

Observações: Anexa cópia.

Fundo: Pedro Verona Pires

Tipo Documental: Correspondência

Citação:

(1973), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34467 (2017-4-24)


3. Conclusão

Pelo exposto se conclui que na época em análise as NT e a guerrilha organizavam-se em função das informações que circulavam entre os dois lados da fronteira, obtidas em “fontes privilegiadas” (ou “secretas”), influenciando depois todas as acções no terreno, bem como o sentido de cada uma delas, definidas nas políticas, finalidades e objectivos, e nas formas que as acções práticas deveriam tomar: as individuais e as colectivas.

Jorge Araújo, 3/4/2017
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Nota do editor