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sábado, 10 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22357: (In)citações (189): Palavras que ficaram por ser ditas no convívio da Quinta da Senhora da Graça, de 30/5/2021... Os amigos não morrem (Margarida Peixoto)

1. Mensagem da nossa amiga, membro da Tabanca Grande, Margarida Peixoto, companheira do nosso saudoso Joaquim Peixoto (1949-2018), enviada no dia em que ele faria 72 se fosse vivo:

Foto à esquerda: Joaquim e Margarida (Monte Real, 2010).
Foto de Manuel Carmelita / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
 
Date: sexta, 9/07/2021 à(s) 21:21
Subject: Convívio Quinta Senhora da Graça. 

Olá Luís.

Conforme o combinado, aqui envio as palavras que tinha escrito para ler, no dia do encontro em Maio na Quinta Senhora da Graça.


Hoje o dia está carregado de emoções!

Todos acabamos por crescer e perder aquela sagaz visão do Mundo.

Vamos perdendo o brilho do olhar e os dias vão correndo nublados, uns iguais aos outros.

Mas estamos aqui, na Quinta senhora da Graça, rodeados de Amigos...e isso desanuvia o dia, dá brilho ao olhar, torna o momento especial e dá esperança.

A  convite da Alice, uma amiga do coração, reuniram- se alguns casais amigos, nesta acolhedora Quinta, para mimar, acarinhar e festejar o Luís Graça.

Foi um gesto de amor e carinho que a Alice encontrou para acariciar e demonstrar o seu amor ao companheiro , da caminhada da vida e reforçar o forte desejo de o ver totalmente recuperado.
A testemunhar esse lindo episódio, estiveram os referidos casais, para em uníssono formularem os mesmos votos.

Alice e Luís Graça, continuem a lutar de mãos dadas, para que possam receber os presentes da Vida!

A vossa grande amiga está aqui sem a presença física do marido, mas com o propósito de desejar tudo de bom ao casal Graça e num gesto de carinho dar- vos um abraço... pelos dois (casal Peixoto)!

Margarida Peixoto

Obrigada por fazer parte dos vossos amigos. (**)
Margarida

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22239: Tabancas da Tabanca Grande (5): Convívio de 4 tabancas (Sra da Graça, Matosinhos, Candoz e Atira-te ao Mar) na terra das 3 pontes, Peso da Régua

 (**) Último poste da série >7 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22348: (In)citações (188): Lembrando a nossa CCAÇ 1439 (João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22248: (In)citações (185): A escrita da vida, poema breve (Joaquim Pinto de Carvalho, régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Lourinhã / Cadaval)


Cinfães > 22 de maio de 2021 > Joaquim Pinto de Carvalho e Maria do Céu Pienteus (Tabanca do Atira-te ao Mar, Lourinhã / Cadaval), no parque de Lazer de Pias, junto ao rio Bestança,afluente do rio Douro, que nasce a mais de 1200 metros de altitude, na serra de Montemuro, e desagua em Porto Antigo, 13,5 km e meio depois. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Joaquim Pinto Carvalho, Cadaval, 30 de maio de 2021, em dia de aniversário (*) 

 [Natural do Cadaval, vive na Lourinhã, foi alf mil, CCAÇ 3398, Buba, e CCAÇ 6, Bedanda, 1971/73. Tem mais de 4 dezenas de referências no blogue] (**).
_________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de :

30 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22238: Manuscrito(s) (Luís Graça) (202): Parabéns, régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Joaquim Pinto Carvalho, muita saúde e longa vida porque tu mereces tudo!

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22055: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (23): Estorninhos e pardais, todos somos iguais

1. O Carlos Barros, ex-fur mil, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra", mandou-nos,  em 24 de fevereiro passado, mais uns pequenos textos para "reviver as nossas vivências na Guiné". com a seguinte nota de apreço  e amizade, que agradecemos  e retribuímos:  "Boa tarde, amigo. Um abraço grande de amizade do Barros. E parabéns pelo teu trabalho no seio do blogue".
A sinfonia dos estorninhos…

por Carlos Barros


Após um “lauto” jantar, na caserna do 3º grupo de combate, eu, o furriel Barros, estava a conversar com o soldado condutor Fernando de Almeida, natural de Oliveira de Azeméis, sobre as suas madrinhas de guerra que eram de Ovar, por sinal, irmãs…Falávamos dos amores e traições sofridas.

A Guiné dispunha de uma fauna apreciável e relativamente importante, com destaque especial para as aves: pelicano, gaivina, íbis, garça e flamingo, na costa marítima.

No mangal, zonas de água doce e húmidas, o corvo marinho, mergulhão-serpente, egreta –grande, pássaro-martelo, cegonha, singanga, maçarico, serpentário, águi , picanço-bárbaro, pica-peixe, jabiru, patos, gansos, pavão, grou, tarambola, pardal, poupa, andorinha, rola, gavião, águia, cuco, pavão, noitibó, mocho, calão-grande, abelharuco, papagaio, periquito, picanço pomba-verde, palrador, melros , estorninhos…

Era já noitinha, e deliciava-me a ouvir os cânticos dos melros, pousados nos ramos das palmeiras, bem lá no alto e dizia eu para o Almeida:

− Há dias matei um destes estorninhos, precisamente naquela palmeira e estou muito arrependido porque perdi o seu canto, que seria belo no seio daquele “bando coral”, lembrando-me do grupo do Canto Coral do meu tempo de estudo, primeiramente na Escola Primária, com a Professora D. Isolina como maestrina e, mais tarde, no Externato Colégio Infante Sagres, de Esposende , cujo maestro era o Padre Avelino…

Foram longos minutos a ouvir “obras musicais canoras” daquela “melrada” afinadinha, uma delícia para o meu ouvido, já destreinado da sua sensibilidade inicial, porque os estrondos das bombas dos bombardeamentos, dos RPG 2 e 7, e o matraquear das “costureirinhas e das Kalashese tinham-me ferido os tímpanos daí, minha actual perda parcial de audição, num dos meus ouvidos.

Esta sessão foi bruscamente interrompida porque fomos flagelados, mais uma vez, pelos canhões e morteiros dos guerrilheiros do PAIGC e, como defesa, encentámos uma fuga rápida para os nossos abrigos, valas e espaldões de morteiros para responder ao inimigo.

Foram momentos de angústia e de tremenda pressão porque a morte estava sempre a pairar no ar…

Os estorninhos, esses, antes das granadas explodirem e com o seu barulho ensurdecedor, partiram a grande velocidade para destinos incertos!

Ainda hoje, no quintal de Vila Cova, adoro ouvir os melros cantarem e até, como agradecimento, coloquei uma pia para eles beberem e refrescarem-se, com algum alimento-produto  a acompanhar!

São os remorsos da guerra,  contudo, as Associações Protectoras de Animais, e até o PAN - Partido das Pessoas, Animais e Natureza,  perdoar-me-ão estes atos e isso aconteceu porque estava eu “apanhado da guerra” e os nossos sentimentos e personalidade encontravam-se transtornados daí, a condescendência para estes comportamentos, nem sempre compreensíveis para os humanos que nunca viveram a guerra com quem convivemos, no meu caso e de outros camaradas   durante 25 meses e 18 dias no inferno da da Guiné (1972/74).

− Estou crente que os familiares do estorninho  falecido me perdoarão por ter abatido um deles! − pensei cá para comigo. − E, parafraseando o provérbio popular da nossa terra, também  eles concordarão comigo; "Estorninhos e pardais, todos somos iguais!"...

Um dos momentos mais felizes da minha vida foi o meu regresso à Metrópole, a Lisboa, deixando a guerra para trás, na altura um jovem, que era um homem de paz com profundo défcie de liberdade que o 25 de Abril me deu como prenda saborosa…

Usufruindo dessa liberdade, arduamente conquistada, quero deixar aqui um agradecimento especial ao nosso amigo editor, o professor Luís Graça  que,  com o seu / nosso Blog Tabanca Grande,  dá voz àqueles que nunca tiveram voz antes do dia 25 de Abril 1974.

Estamos,  com as nossas estórias reais, vividas na Guiné, a construir a História da Guerra Colonial, que nem sempre, é compreendida ou por ignorância, ou por má fé…

Dessa aterradora realidade da guerra apenas me restou a amizade entre os militares e, não é por acaso, que nos reunimos anualmente, há 45 anos consecutivos em convívios e essa “palavra aurífera”, em teoria e em atos, a amizade, continua reluzente, fresquinha,  ativa…

Carlos Manuel de Lima Barros

(Ex-furriel Miliciano,
Bissau, Bolama, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74)

Esposende 14 de fevereiro de 2021
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 10 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21991: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (22): minas, terríveis minas...

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19866: Manuscrito(s) (Luís Graça (155): (i) "as noites" (2010), de Teresa Klut, "que mora numa ilha"... poemas escolhidos; (ii) fotomontagem: para o Rui, a Cristina e a Sara,que moram na mesma ilha


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3

Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7



Foto nº 8

Foto nº 9


Foto nº 10


Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14


Foto nº 15


Foto nº 16


Foto nº 17


Foto nº 18


Foto nº 19

Algures numa ilha... Talvez o leitor queira pôr-lhe um nome...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição:: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Alice e Teresa. Foto: Luís Graça (2019)
1. Seleção de alguns poemas de "as noites"(2010, 85 pp. ), cortesia da autora, Teresa Klut, "que mora  numa ilha" e vai ser avó da nossa neta:

fui-me afastando da casa
seguindo um odor que conhecia
cheguei ao mar doce e longe
da casa que não partia

(p. 11)


r/c a

Revolvo a terra das minhas flores cansadas.

A Terra é a profunda alma de todas as coisas.
Apenas um breve intervalo separa os corpos:
a terra que suporta os vivos
é a terra que guarda os mortos.

(p. 23)

4º b

Ando pela cidade demorada. Deixei-me ficar
para trás perdida na esquina que me perdeu
sou notícia de mim.

suave, muito bela e muito bela
corro para os sapatos cor-de-rosa carmim.

(p. 39)


1º a

Não me olhas.
Tens medo
deste lugar
onde te irias perder.
Um dia, de noite
vais-te lembrar de um gesto meu.

Foi pena, dirás.

Pois foi.

(p. 57)


águas.furtadas
tudo serve para guardar segredos

(p. 65)

Como esperas pela resposta se nem sabes a pergunta ? (...)

(p. 82)


Rui  Silva, Cristina Silva e Sara. Foto: Alice Carneiro (2019)
2.  Para o Rui, a Cristina e a Sara que também moram na mesma ilha:

a felicidade está  onde a gente a põe
mas a gente nunca a põe onde  está

se estás numa ilha procuras terra firme
se estás em terra avias-te no mar

é bom que exista o céu
para quando se está num beco sem saída

na água de mares,
não procures cabelos para te agarrares

sonhar alto trabalhar no duro e nunca morrer na praia
quem disse que os provérbios populares eram o ópio do povo ?

a ferrugem gasta o ferro
e o cuidado o coração

a amizade não tem contabilidade organizada
mas tem deve-e-haver

muita saúde e pouca vida
porque Deus não dá tudo

muita saúde e longa vida
porque os amigos... merecem tudo

luís e alice
______________

Nota do editor:

Último poste da série >  22 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19708: Manuscrito(s) (Luís Graça) (154): Viva o compasso pascal em visita à Tabanca de Candoz

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19708: Manuscrito(s) (Luís Graça) (154): Viva o compasso pascal em visita à Tabanca de Candoz


Tabanca de Candoz. Foto de LG (2011)




Viva o compasso pascal
na visita à Tabanca de Candoz!

Mais um ano, mais uma visita
Deste compasso pascal,
É uma festa bem bonita,
E que nunca é igual. 

E que nunca é igual
Logo vem outro, se falta algum,
Renova-se o pessoal,
Que aqui somos todos por um.

Que aqui somos todos por um,
Na alegria ou na tristeza,
Na fartura ou no jejum,
Cabendo todos à mesa.

Cabendo todos à mesa,
Onde não falta o anho assado,
Nesta casa portuguesa,
Onde honramos o passado.

Onde honramos o passado,
O presente e o futuro,
Se alguém está adoentado,
Tem aqui um porto seguro.

Tem aqui um porto seguro,
Damos valor à amizade,
Às vezes o rosto é duro,
Mas o resto é humildade.

Mas o resto é humildade,
Viva o compasso pascal,
E a nossa fraternidade!... 

Boa Páscoa, pessoal! 

Boa Páscoa, pessoal,
Boa saúde e longa vida,
À Ti Nitas, em especial,
Que nos é muito querida!

Quinta de Candoz, 
segunda feira de Páscoa,

22 de abril de 2019
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 19 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19603: Manuscrito(s) (Luís Graça (153): Lembrando hoje o pai, o meu, o teu, o nosso pai...

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19174: A galeria dos meus heróis (12): O Zé Nuno, o Tony Mota e o Belmiro Mateus, três amigos, três destinos – Parte II Luís Graça)


Capa do livro de Luís  Moita (1894-1967): O Fado, canção de vencidos: oito palestras na Emissora Nacional. Lisboa:  [s.n.] [Lisboa, Oficinas Gráficas da Empresa do Annuário Comercial], 1936, 357 páginas. Ilustrações de Bernardo Marques (1898-1962).



Luís Graça, Contuboel, 
CCAÇ 2590/ CCAÇ 12,
Junho de 1969
A Galeria dos Meus Heróis (12): O Zé Nuno, o Tony Mota e o Belmiro Mateus, três amigos, três destinos – Parte II (Luís Graça)(*)

[Continuação]





Sinopse da I Parte: 

Belmiro Mateus, advogado, e António Mota, professor de história, ex-seminarista, e ex-combatente no TO da Guiné, em 1972/74, encontram-se no cemitério da sua terra natal, algures no Ribatejo, por ocasião do funeral de um amigo comum, Zé Nuno, engenheiro técnico, forcado, guitarrista, amante do fado, ex-combatente da guerra do Ultramar, em Moçambique, onde esteve, na Marinha, entre 1973 e 1974... Há longos anos que não se viam e aproveitaram para "matar saudades" dos bons velhos tempos].


− O Zé!... Éramos vizinhos da Rua do Colete Encarnado, na encosta do castelo, eu na parte de cima, a dos pobres, e ele, na parte de baixo, a dos ricos... As nossas famílias não eram chegadas, naturalmente, não conviviam. Os teres e os haveres aproximam as pessoas, a pobreza, mesmo honrada, afasta-as. O pai dele era um senhor lavrador, um agrário, o meu, um serralheiro, pequeno patrão, que mal ganhava para ele e o seu moço ajudante. Enfim, encontravam-se na missa, ao domingo. Na igreja, lá éramos todos iguais, irmãos em Cristo. Cá fora, bom dia e boa tarde, entre dentes. Uma vez por outra era preciso ir à quinta fazer uns trabalhinhos de soldadura, arranjar as cercas e os portões… Ah!, e havia o futebol, chegaram a jogar juntos, quando novos, cá no clube da terra… E, julgo eu, foram condiscípulos, andaram na mesma escola, na mesma turma. De resto, tudo os separava. Só depois do 25 de Abril, é que se atenuaram algumas diferenças sociais entre os ribatejanos do burgo...

O Belmiro não quis pegar neste assunto das diferenças de classe das famílias de uns e outros, e chamou a atenção do amigo para o que se passara na missa de corpo presente:


− Repara, António, que até o padre estava embatocado… Não é costume ele mostrar as suas emoções nestas cerimónias fúnebres… Sei que ele era muito amigo do Zé!...

− Meu caro dr. Belmiro Mateus, ilustre advogado da nossa praça, parece-me que Deus tem andado ultimamente distraído... Bolas, a morte tem levado alguns dos melhores filhos da nossa terra… Para mais, católicos, apostólicos, romanos...

− Não vais sem resposta, António Mota, Deus não precisa de advogado de defesa, e muito menos dos serviços de um pobre advogado como eu... Mas também é verdade que Deus tem as costas largas.

O António Mota, ex-seminarista, professor de história do ensino secundário, reformado, que se refugiara no seu monte alentejano, em plena terra de mouros, não quis ser indelicado para com o seu amigo, mas pensou, com os seus botões, como dava jeito ter uma bode expiatório para todos os males da humanidade... Na cultura judaico-cristã, era o maldito pecado original. 

− Sim, Deus tem as costas largas... Mas, já agora, acrescenta a crise, se me permites... Tanto à esquerda como à direita, a crise tem sido usada, "ad nauseam", para explicar tudo e mais um par de botas... Dá jeito, como o fetichismo dos números redondos, das estatísticas, dos gráficos, das folhas de excel… para os nossos demagogos parlamentares e para os nossos jornalistas incultos… Mente-se com números, temos uma grave problema de inumeracia…

− O quê ?...

− Iliteracia numérica, incapacidade para ler e interpretar números… Vejo o que se passa com as redes sociais: as pessoas "emprenham", já não é só pelos ouvidos, é também pelos olhos, pelo que leem, veem e ouvem...

− Tony, a minha racionalidade não chega a tanto, ou melhor, acaba aqui, não sou um homem de ciência, há coisas que não sei compreender e muito menos explicar (e no íntimo não quero saber)... Vou ter que viver com o absurdo do mal, a matança dos inocentes, etc... Sei que já não és crente e estás-me a avaliar como aos teus alunos de liceu...

−... e às alunas, de alto a baixo!

− Não sejas ordinário, Tony, não te conheço essa faceta!... De resto, sempre fomos o cão e o gato, na escola, no recreio , nos acampamentos de escuteiros… Era a competição e eu conhecia o teu ponto fraco, os teus limites… Sabia até onde podia provocar-te, sem te agredir. Por isso sempre fomos bons  
amigos... Até hoje! É verdade ?

− Eu sei, e estou-te grato, Belmiro. Mas, respondendo agora à tua observação, devo dizer-te que a minha fé, de menino e moço, não resistiu à dura prova da realidade, à medida que me fui tornando homem e conhecendo o mundo… A descoberta, tardia, aos 16 anos, da minha vocação sacerdotal, o "chamamento de Deus", o "calling", como dizem os ingleses, se calhar não foi mais do que uma forma de fugir desta terra, que se tornara para mim claustrofóbica…

− Pois, eu também já tive as minhas crises de
fé, os meus altos e baixos… Para mim, a última coisa a perder não é a fé, mas a esperança. Também estive fora, como tu, mas sempre determinado a voltar na melhor ocasião. Ainda passei uns anos pelos Açores, onde fui notário e onde casei, antes me de fixar, de vez, na minha, nossa, bela terra… É aqui que eu tenho o meu doce lar, os parentes, os amigos, o horizonte largo da lezíria…

− Fico feliz por ti e pela terra que se calhar não te merece… Mas, olha-me à volta, para cá caminhamos, para este lugar sombrio, mesmo que o sol lhe bata todas as tardes, como hoje… Há-de ser a nossa última morada, também…

− Já cá estão os nossos pais, tios, avós, bisavós... E agora a rapaziada do nosso tempo.

− Por mim, ainda não sei onde vou deixar os meus ossos ou cinzas. Já pedi para ser cremado, espero que os meus filhos e netos respeitem a minha última vontade!

− Tony, olha que não é bem assim… Se tiveres o azar de ir parar à morgue, à medicina legal, estás tramado, só com ordem de um juiz é que podes ser cremado!

− Não acredito!... Mas também já me disseram isso. Afinal, um homem não é dono do seu corpo.

− Ah!, pois não, Tony, nem homem nem mulher… Como católico, sou contra a cremação, mas como jurista tenho que aceitar e respeitar as leis da República.

− Belmiro, no dia do Juízo Final, queres estar de corpo inteiro, na fila dos justos e dos eleitos…

− Não sou capaz de imaginar tal cena, mas acredito que esse dia, o fim do mundo, há-de chegar!

− Espera, meu irmão, a morte é a derradeira prova de fogo de um homem!... Por mim, não quero ir para a "cova funda",  para usar uma poderosa imagem poética do Bocage… Como um cão!... Quero lutar com ela, a senhora morte, até ao fim!... Como lutei na guerra, em África!

− Mas que raio de conversa, Tony!... Para o que nos devia de dar, dois velhos colegas de escola, dois meninos de coro,  dois briosos escuteiros, falando do passado e da morte…

−... colegas de escola e dos escuteiros, sim!...

− … a falar do dia em que lá teremos que devolver a alma ao criador…

− A alma ?

− Sim, a máscara que nos foi emprestada!... Tenho uma teoria, a de que nada nos foi dado, muito menos a vida, é tudo emprestado, e vamos ter que prestar contas a alguém...

− Essa é uma metáfora, já os antigos egípcios acreditavam nisso… E se fôssemos beber um copo, antes de eu me meter à estrada, que ainda tenho uns quilómetros valentes para fazer ?!… Mas fico em Lisboa, esta noite… Falar da morte, e para mais num cemitério, faz-me securas na garganta. Mas, nos cemitérios, num raio de 500 metros, há sempre um tasco com o letreiro "À volta cá te espero"… Vamos dar de beber à dor, companheiro!

− Alinho, Tony, vamos lá!... Já perdi o dia todo, e não tenho cabeça para passar pelo escritório. Temos um tasco, aqui mesmo, a dois passos, nas traseiras da igreja da Misericórdia.

O sítio não podia ser mais inspirador com larga vista sobre o casario, o a vasta lezíria, e o rio, agora com muito menos água do que no tempo da infância dos nossos dois interlocutores... "Carpe diem", dizia a tabuleta, em latinório, aproveita o dia, goza a vida, o dia-a-dia… Pediram duas taças de branco, enquanto o Belmiro foi relembrando a história de vida do Zé Nuno…

Além das touradas, o Zé tinha uma paixão, que era a guitarra… Aqui seguia as peugadas de um tio materno cuja coroa de glória era ter acompanhado a Amália num já longínquo programa da Emissora Nacional ou do Rádio Clube Português, numa substituição de última hora. Tocou nas primeiras casas de fado, que floresceram com a guerra, em Lisboa, entre 1941 e 1943, na altura em que fazia o serviço militar obrigatório. Ainda chegou a estar mobilizado para os Açores, o que não aconteceu, talvez devido à guitarra e "à cunha certa metida à pessoa certa no momento certo"…

O Zé Nuno, por sua vez, ani
mava algumas noites de fado no célebre Solar do Marquês de Marialva. Fora em tempos em clube seleto da vila ribatejana. Havia entrado em decadência, talvez no início dos anos cinquenta, depois de algumas senhoras da elite local terem tido a ousadia de denunciar ao Salazar, em pessoa, o sítio como "um antro de jogo ilegal, casa de passe e templo de perdição"… Uma delas, mulher de um médico da terra, era amiga, do tempo de Coimbra, da comissária nacional da Mocidade Portuguesa Feminina, a célebre Guardiola…

− E creio que também amiga ou conhecida da Van Zeller, que era a nº 2 da Mocidade Portuguesa Feminina, e que há-de ser, nos anos 60, a diretora-geral de saúde, a primeira mulher a desempenhar esse cargo – acrescenta o Belmiro.

− Ah!, sim, a médica e deputada Maria Luísa Van Zeller…

− Eram as duas mulheres mais poderosas do regime.

− Depois da Dona Maria...,  não te esqueças, Belmiro… E acrescenta a Supico Pinto, a famosa Cilinha, mais tarde, com o início da guerra.

Até então o Solar era frequentado pelas senhoras da terra, mas apenas durante o dia: tomava-se o chá das cinco, fazia-se tricô, jogava-se à canasta, bisbilhotava-se… Uma vez por outra, aos fins-de-semana, havia récitas, espetáculos musicais, verbenas, chás de caridade… A noite era reservada aos cavaleiros... Faziam-se aqui negócios, arranjavam-se casamentos, trocavam-se as amantes... Apesar das tradições republicanas, a segregação de género agravara-se com a Ditadura Militar e o Estado Novo. Nas horas mortas, durante a semana, também aparecia, de tempos a tempos, gente da boémia da capital, com destaque para as coristas do Parque Mayer, em digressão pela província… A relativa proximidade da vila em relação à capital tinha as suas vantagens e desvantagens, uma delas a de ser uma extensão da "Babel do pecado"…

O Belmiro e o António eram putos nesse tempo, não se lembram de nada,  mas mais tarde irão conhecer o ambiente já decrépito do clube onde, aos sábados, na época marcelista, depois do “fado boémio e reaça” (si), ainda havia uma ala juvenil que gostava de cantarolar e tocar uns fados e baladas de Coimbra, a meia voz, e onde se revelavam novos talentos da terra, acarinhados pelo Zé Nuno e pelo seu tio…

Curiosamente, já ninguém se lembrava, trinta e três anos antes, em 1936, das exortações, aos microfones da Emissora Nacional, de ideólogos do regime, como o Luís Moita, para que a mocidade portuguesa deixasse de cantar o fado, essa “canção de vencidos" (**)...

O tio do Zé Nuno era um bocado a "ovelha ranhosa" da família, por ser considerado do "reviralho"… Em 1958, apoiara publicamente a candidatura do general Humberto Delgado à presidência da república, o que lhe trouxe alguns dissabores em casa e no emprego.

Com o novo presidente da Câmara Municipal, e dirigente local da Ação Nacional Popular (que sucedera à União Nacional), o pai do Belmiro, marcelista, mais liberal que o anterior, que era um ferrenho salazarista, o ambiente na vila ribatejana desanuviara-se um pouco no final dos anos 60.

− Continuando a nossa conversa…, vejo que estás com bom ar, Belmiro… Mas,  quem vê caras, não vê corações.

− Bem, parafraseando o provérbio, "muita saúde", vou tendo ainda, mas não sei se "pouca vida"…, porque afinal "Deus não dá tudo"… Acho que era esse o provérbio que dizia o meu avô materno, que morreu cedo, segundo a minha mãe. Vendia saúde às carradas, mas tinha o pressentimento que iria morrer ainda jovem. Costumava também dizer: "Esta vida não chega a netos nem a filhos com barba"… A verdade é que não chegou a conhecer os netos…

− Em suma, morria-se cedo, cheio de saúde…

− São provérbios ao teu gosto hipocrático, Tony… Tu é que publicaste em tempos uma antologia de provérbios populares ligados à saúde, não foi ?!

− Sim, num suplemento de uma revista de história da medicina… O povo lá sabe, ou sabia, tenho muito respeito pela sabedoria popular.

− Tretas…, desculpa lá, Tony… De popular têm muito pouco os nossos provérbios.

E, subindo o tom de voz, o Belmiro sentenciou:

− E, se queres um conselho, da minha experiência de vida, que já é alguma, não te fies no povo, na populaça… O povo é vilão, é mouro, é saloio, é conservador, se não mesmo reacionário, manhoso, desleal, ingrato… O povo é um caçador oportunístico, tanto come na gamela do pobre como apanha as sobras da mesa do rei… Eu vi pelo meu pai, que passou de bestial a besta, com o 25 de Abril...Cuida mas é da tua vida, cuida de ti, cuida dos teus!

− “Ao vilão dá-lhe o dedo, toma-te a mão” – ironizou o António Mota. – Seja, mas poupa-me os teus sarcasmos, o teu humor à laia do Bordalo Pinheiro. Estás a sugerir que o nosso Zé Povinho é gentalha, feia, porca e má... Como os ciganos, os pretos, os imigras... Vocês, juristas, são tramados… Mas também quero dizer-te que gostei da nossa conversa.

− Dantes ainda nos encontrávamos nos casamentos e batizados… Agora é só nos funerais – lamentou-se o Belmiro.

− Sim, uma conversa à porta do cemitério, não direi mórbida, talvez mais nostálgica do que filosófica.

− Então, à nossa, Tony!... Aos bons velhos tempos!.. Tchim, tchim! 

E ergueram as taças de vinho branco.

− Vejo que estás mais cético, Belmiro, mais crente em Deus, menos confiante nos homens, ou seja, no povo de Deus. Afinal, quem o diria, um ex-maoista, como tu, quando jovem, para quem a Bíblia, na faculdade de direito, era o famigerado "livrinho vermelho"…

− Sem dúvida, um "best seller", como a Bíblia. Foi um dos primeiros grandes negócios que a China fez em Portugal… Mas, eh!, nada de ressentimentos nem de remoques políticos…

− De modo nenhum, nessa altura, já não convivíamos,ou muito pouco, estava cada um para seu lado.


− Assumo esse passado, embora hoje me ria de mim próprio. Sabes como era: jovens imberbes, chegados à capital, más companhias, paixões juvenis, a descoberta do sexo, a revolta contra o pai, a incultura geral, leituras apressadas, na diagonal, dos gurus do marxismo-leninismo, pensamento de grupo, o exotismo da revolução cultural chinesa, a cabeça na ponta da mão, a vontade (irresistível) de mudar o mundo e a vida… Fomos como o frango de aviário: em mês e meio ficávamos doutores em ciência política, frequentando os cafés das Avenidas Novas, em Lisboa, ou as repúblicas coimbrãs.


− Sei do que falas: as hormonas em convulsão aos 20 anos… Não é por acaso que é a idade em que te mandam para a tropa e para a guerra!... A idade perfeita para se matar e para se morrer!

− Mas fica sabendo que foi uma grande escola, a maoista…

− Sim, pelo que vejo por aí com os teus ex-correligionários… Um caso de sucesso de promoção da literacia política e, nalguns casos, públicos e notórios, de meteórica ascensão na hierarquia dos partidos do poder e nas grandes empresas.

Os dois amigos davam agora conta de que há muitos anos não bebiam um copo juntos… Mas que este tchim, tchim, este tilintar de copos, também tinha algo de premonitório. Como eram os dois supersticiosos, tiveram um estranho pressentimento... o de que não voltariam mais a encontrar-se.

− Cruzes, canhoto, afasta de mim esse cálice, irmão! – galhofou o Belmiro, para disfarçar o calafrio que sentiu pela espinha acima.


(Continua)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 6 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19171. A galeria dos meus heróis (11): O Zé Nuno, o Tony Mota e o Belmiro Mateus, três amigos, três destinos – Parte I (Luís Graça)

(**)  No ano da graça de 1936, o germanófilo  Luís Moita apelava aos microfones da Emissora Nacional: "Rapazes, não cantem o fado!". Os rapazes eram a "Mocidade Portuguesa" (MP) que acabava de ser criada, no âmbito das reformas da "educação nacional", decretadas pelo ministro A. F. Carneiro Pacheco (1887-1957).

Organização de tipo miliciano, a MP visava o enquadramento político-ideológico da juventude, era de inscrição obrigatória para todos os estudantes do ensino primário e secundário, e potencialmente mobilizava todas as actividades circum-escolares: a educação cívica, o lazer, os cuidados de saúde, a preparação física, a formação política e militar, etc.

"Canção de vencidos", "cocaína de Portugal", o fado era então visto por certas personalidades da direita integralista e nacionalista (incluindo escritores e musicólogos) como um "herança maldita vinda do ultramar" (referência ao lundum, "avô do fado", que nos terá chegado do Brasil, com o regresso da corte de D. João VI), subproduto de uma "raça abastardada" e que entre nós se havia expandido justamente "nos bairros onde, há trinta anos ainda, se albergavam o vício, o crime e a vadiagem" (sic!), em contraste com as "canções alemãs, fulgurantes e alegres" das cervejarias de Munique e dos Wandervogel (Moita, 1936, pp. 217-218). [Os Wandervogel integravam-se naquilo a que se poderia chmar os Grupos de Juventude do Nacionalismo Alemão, surgidos no princípio do séc. XX. Não comfundir com a Juventude Alemã hitleriana].

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19039: Convívios (875): Paradas Party, do João Crisóstomo: 16 de setembro de 2018... Foi bonita a festa, pá!


Foto nº 1 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João Crispim Crisóstomo e Vilma Kracun,  casados em segundas  núpcias em 2013... Ele, luso-americano, ela, eslovena.


Foto nº 2 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 3 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 4  > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 5 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 6 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 7 >  Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e familiar.


Foto nº 8 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e  e familiar.


Foto nº 9 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  Amigo do João, o António Rodrigues, mordomo reformado, de Nova Iorque, hoje a viver em Aljubarrota, Batalha. Companheiro de causas, como Foz Coa, Timor, Aristides Sousa Mendes... "O meu braço direito"...


Foto nº 10 >  Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  Três grandes amigos: João, Rio Chamusco e António Rodrigues.


Foto nº 11 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  O Rui, exímio tocador de acordeão,  exibindo um recorte de jornal onde se fala da recente homenagem dos correios israelitas ao João Crisóstomo, o português nascido em Bombardeira, A-dos.Cunhados, Torres Vedras, em 1943...


Foto nº 12 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Rui, tocando e (en)cantando.


Foto nº  13 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João cantando.


Foto nº 14 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João  cantando em grupo. Na ponta, direita, a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro.


Foto nº 15 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > Dois camaradas da Guiné: no lado esquerdo, o régulo da Tabanca de Porto Dinheiro, Eduardo Jorge; no lado direito, um camarada de Achada, Mafra que esteve com o João no Enxalé e 1965/67  (, pertencia ao Pelotão de Morteiros, era 1º cabo apontador do morteiro 81; um grande contador de histórias, a quem já convidei para integrar a Tabanca Grande; de seu nome completo, Manuel Calhandra Leitão; não se lembrava do nº do Pel Mort, que estava sediado em Bambadinca; falou-me de homens "lendários" como o Luís Zagallo e Abna Na Onça).


Foto nº 16  > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > O camarada do Enxalé,  o Manuel Calhandra Leitão, o "Ruço" (, será o organizador do próximo encontro, em Mafra, da malta que esteve no Enxalé, entre 1965/67,  incluindo o seu Pel Mort e a CCAÇ 1439)... Ausente, com pedido de desculpas, foi a nossa amiga Helena Carvalho (mais o marido, Álvaro), a nossa Helena do Enxalé...


Foto nº 17 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  A esposa do Eduardo, a São, que viveu parte da infância e adolescência na Guiné, filha do chefe dos correios de Bissau.


Foto nº 18 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  O nosso camarada Carlos Silvério, próximo grã-tabanqueiro nº 783.


Foto nº 19> Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  O Carlos Silvério, ao centro, a esposa Zita, do lado direito, a Alice, do lado esquerdo.




Foto nº 20 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  Uma festa de família a que não faltaram crianças, aqui a dançar, sob o olhar ternurento do tio-avô ou tio-bisavô João... (Como estão de costas, na foto, fica protegida a sua identidade.)



Foto nº 21 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > Uma amiga do João, que veio de propósito de Leiria... Não fixei o nome. Sei que trabalhou em tempos no CIDAC e na causa de Timor... Está deliciada a comer caracóis com o Eduardo...Estes "moluscos gastrópodes terrestres", muito nutritivos e ecológicos, foram trazidos da Achada, Mafra, pelo "Ruço"...

Fotos: © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Paradas Party: 
Soneto da amizade e do amor

É a lição da festa de cada ano:
Não há passaporte para a amizade,
Diz o João, o luso-americano,
Nem fronteiras para a liberdade.

Não se escolhe ser Kacrun ou Crispim,
Nem a terra onde se vai nascer,
Mas é bom ter uma família assim,
Bem como estes amigos poder rever.

Querido João, estás em casa em toda a parte,
Na Eslovénia, nos States, em Timor,
E sabes repartir com engenho e arte,


Com a Vilma, que é doce e querida,
O tempo da amizade e do amor.
Prós dois, muita saúde e longa vida!

Paradas, 16 de Setembro de 2018,

Festa da família Crisóstomo e Crispim e amigos

Luís Graça
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Versão em inglês, livre:

Paradas Party: Sonnet of Friendship and Love

It is the lesson of the feast of each year:
There is no passport for Friendship,
Says João, the Portuguese-American,
Neither frontiers for Freedom.

You don't' choose to be Kacrun or Crispim,
Neither the land where you’re  going to be born,
But it's good to have such a family,
As well as these friends to welcome.

Dear John, you are at home everywhere,
In Slovenia, in the States or in Timor,
And you know how to share with hard work and art,

With Vilma, a darling, sweet lady,
The time of Friendship and Love.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18281: Os nossos seres, saberes e lazeres (251): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 21 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Estabelecemos ao longo da vida laços de amizade que a tudo resiste. Vai para 40 anos conheceu-se um perito valioso que foi arrimo para a profissão que se escolheu, André Cornerotte foi dos peritos mais habilitados que conheci, exprimia um pensamento de valor social sobre o consumo e era um adepto acérrimo da pluralidade de vozes na política dos consumidores, com ele aprendi muito, proporcionou-me uma visão muito mais rasgada sobre o fenómeno do consumo daquele que é desenhado pelos tecnocratas e pelos jurista.
Para 40 anos de uma relação sólida, impunha-se voltar ao local do crime, a Bruxelas, foi aí que o conheci na minha primeira viagem de trabalho, há exatamente 40 anos.
Como sempre, viagem inesquecível.

Um abraço do
Mário


Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (1)

Beja Santos

Em 1977, espero que se recordem, o governo português deu-me um sinal inequívoco de querer vir aderir à Comunidade Económica Europeia. Os departamentos ministeriais começaram a selecionar funcionários para irem a Bruxelas adestrar-se sobre os respetivos dossiês da especialidade. O viandante andava já bastante imiscuído nas tarefas do consumo e coube-lhe ir conhecer na chamada capital da Europa a essência da política dos consumidores, na vertente institucional e associativa. E durante uma semana, em Outubro de 1977, andou de Herodes para Pilatos, conversou com meio mundo, assombrou-se com a proliferação de organizações como cooperativas, famílias, mulheres, associações de consumidores, sindicatos, no caso destes a Bélgica oferecia visões de democratas cristãos, liberais e socialistas, conversou-se com todos. Pois é no encontro com a Federação Geral dos Trabalhadores da Bélgica que se conheceu um senhor altamente preparado e que até já exercia funções no Comité Europeu dos Consumidores. Era tal a sua visão do consumo e a articulação dos fatores de mercado envolvidos que o viandante dali saiu bem impressionado, pedindo-lhe para manter a via aberta para ulteriores esclarecimentos. E assim se foi fortalecendo a comunicação, veio a amizade e a intimidade, depois a troca de visitas, assim se passaram 40 anos. Foi a efeméride que se veio celebrar, todo e qualquer pretexto é bom para regressar a Bruxelas, cidade de cultura, de jardins, de livrarias de obras usadas, de uma miríade de casas de bricabraque, e de uma prodigiosa feira da ladra, que tanto acicata o viajante. Aqui se mostra em lugar de destaque Andre Cornerotte, belga das Ardenas, antigo padre operário, um dos mais capacitados defensores do consumidor que o viandante conheceu, está hoje com 84 anos e não esconde o prazer de receber o seu amigo.


Foi uma visita inusitada, previam-se seis dias acabaram por ser dez, por acontecimentos da Ryanair. Chegou-se, passou-se a tarde a vaguear pela floresta e a pôr a escrita em dia. O anfitrião sugeria que o viandante o acompanhasse na manhã seguinte a Uccle, uma das comunas da cidade de Bruxelas, bem perto do Brabante Flamengo, iria jogar a manhã inteira partidas de bridge em casa de uma senhora onde o viandante seria bem recebido, queria mesmo mostrar-lhe alguns objetos de arte. E lá foram, antes do bridge falou-se de porcelana chinesa, escultura europeia e tapeçaria. E enquanto andavam por ali afanosamente a jogar, o viandante passeava a mirar objetos e o jardim.


Aqui fica um pormenor de uma bela tapeçaria de fábrica de Bruxelas, talvez meados do século XVIII, muitíssimo bem conservada, revestindo uma imensa parede, o viandante viu-se e desejou-se para escolher um ângulo que desse amplitude a tão belo trabalho só que a sua câmara tem severas limitações, mas o que se regista é de uma indizível beleza.




Mais por diante falaremos dos encantos outonais que esta natureza nos reserva, aqui se mostra um ácer já a fenecer, o vermelho da folhagem com ligeiro amarelecimento, a alvura dos crisântemos e o parque envolvente. A anfitriã ofereceu um bom naco de galinha e puré como almoço e depois mandou gentilmente os presentes à sua vida, o viandante não se fez rogado, apanhou um transporte público e começou a vadiagem no centro de Bruxelas.


Num bom livro sobre percursos de Bruxelas, que adiante se fará referência, os autores encetam a sua visita guiada à cidade no gigantesco palácio da justiça, assim escrevendo: “Não se lhe consegue escapar. Mais tarde ou mais cedo, avistámo-lo. De longe, a sua cúpula coroada e decorada a ouro serve de ponto de referência. De perto, o edifício monumental de aspeto sombrio e severo interroga-nos, inquieta-nos ou fascina-nos. O Palácio de Justiça de Bruxelas não deixa ninguém indiferente. As dimensões do edifício revelam, por si só, a imensidão da superfície a percorrer e a manter: 26 000 metros quadrados de área, 665 000 metros cúbicos de volume, 576 divisões”. O céu nem chega a ser de chumbo, como se vê, aqui se mostra um pormenor da fachada principal, sempre a conheci em obras, em obras está. No lado esquerdo, avista-se a sinagoga, o museu judaico é no Sablon, um pouco mais abaixo, dele também se falará por causa de uma belíssima exposição sobre Bruxelas, terra de acolhimento.


O imperador Carlos V nasceu em Gand, em adolescente foi para a corte de Espanha. É figura central da política europeia, apanhou o acesso da Reforma e amargurado com os acontecimentos deu o trono a seu filho, Filipe II que governou a Flandres com mão de ferro. Alguma nobreza procurou revoltar-se contra o jugo espanhol, foram executados na Grand Place. Aqui o monumento aos dois chefes da sublevação, Egmont e Horn. Egmont será motivo de inspiração para uma importante peça de Beethoven.


Do jardim de Egmont e Horn avista-se um dos mais importantes templos religiosos de Bruxelas, Nossa Senhora do Sablon.


Leopoldo I foi um rei riquíssimo, detinha o Congo, deu-lhe para fazer de Bruxelas uma cidade rival de Paris, ressalvadas as proporções. À porta dos museus reais de Belas Artes, há impressionantes esculturas, aproveita-se os últimos resquícios de luz para mostrar uma dessas ostentações escultóricas.


Na descida da Praça Real pode ver-se o soberbo Hotel Ravenstein, um dos melhores edifícios conservados do fim da idade média, fotografado junto de um lago onde um mobile de Alexander Calder esvoaça em permanência.


É o fim da viagem, em dias de luminosidade temos aqui uma das mais cativantes panorâmicas do centro da cidade com a famosa agulha do Hotel de Ville a simular um foguete a arrancar para os céus. Foi grande a surpresa do viandante com o edifício que se avista ao fundo à direita, nos últimos anos estava de portas encerradas, abriu agora para acolher uma das principais manifestações da Europália da Indonésia. Escurece rapidamente, e pouco passa das cinco da tarde. O dia de trabalho turístico ainda não findou, o viandante embrenha-se no centro, vai à procura de livros em segunda mão, antes de regressar a Penates. Teve sorte: comprou documentação sobre a Provença, que espera visitar em Março, e pagou dois euros por um livro de arte de autoria de Jorge Pais da Silva, que foi seu professor, vem agora no metro a saborear a dissertação do seu antigo mestre sobre o manuelino e o Convento de Cristo em Tomar. Não podia acabar melhor o segundo dia em Bruxelas.


Para quem ama livros, revistas, mapas, alguma banda desenhada, a Galeria Bortier, em frente à Gare Central de Bruxelas, é um ponto de passagem obrigatório. Como se descobriu este oásis vai para 40 anos, não se vê melhor imagem para despedida da vadiagem a que se entregou o viandante.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18260: Os nossos seres, saberes e lazeres (250): À sombra de um vulcão adormecido (5) (Mário Beja Santos)/a>