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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Guiné 63/74 – P6528: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (37): Um básico super operacional (Mário G R Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 36ª mensagem, em 25 de Março de 2010:

Camaradas,

Hoje vou-vos dar conhecimento sobre quem foi Manuel Raposo Marques - Soldado Básico -, Nº Mecº 18757368, da CART 2519.
Um Homem que apesar de ter sido classificado como “básico”, foi uma das nossas maiores e melhores referências em combate, tornando-se num exemplo de abnegação e de heroísmo, dignificando sobremodo o soldado Português.

UM BÁSICO SUPER OPERACIONAL
Para quem não sabe ou não se lembra já, básicos eram todos os soldados que não conseguiam qualificação ou aptidão, para serem enquadrados em qualquer outra das muitas especialidades existentes no Exército.
Eram assim, a modos que uma espécie de proscritos, de mão-de-obra não especializada, que a tropa não dispensava e empregava no cumprimento de todo o tipo de tarefas indiferenciadas (tarefeiros, faxinas, auxiliares de pequenos serviços, etc.), normalmente apenas dentro das áreas delimitadas dos aquartelamentos.

Eles, tal como todos os outros especializados, iam, igualmente, “malhar” com os “ossinhos”em África.
Nessa altura o que estava em causa era a quantidade de homens a enviar para a guerra e não a desejada e necessária qualidade, porque, no fundo, éramos massa destinada a “carne para canhão”.

Básico era então o carimbo, com que eram marcados os incapazes e inábeis, e esta designação fez escola, tendo-se o termo generalizado a todos os sectores da sociedade portuguesa.

O “nabo” foi substituído pelo “básico”!

O Manuel Raposo Marques, conhecido na CART 2519 pelo Básico, tal como qualquer outro homem, tinha uma deficiência psíquica (vulgo “pancada”), daí ele ter reprovado, intencionalmente, na especialidade de cozinheiro.
Foto da cozinha do quartel em Mampatá

Dizia ele que não tinha nascido para andar de avental, de tamancos e de gorro na cabeça, e o que ele queria ser mesmo era atirador.

“Que grande maluco!” – pensei eu.

Acabou por ser reclassificado em básico, após ter sido considerado pronto na instrução e apto para desempenhar qualquer função de segundo plano, compatibilizou-se as suas capacidades humanas com as necessidades da Companhia.

Assim, o Manuel Raposo Marques, chegado à CART 2519, pediu ao Alf Mil Claudino - comandante do 4º Grupo de Combate -, para o integrar na sua equipa. O alferes falou ao capitão e este consentiu, numa fase experimental, que assim fosse. Mais tarde, em função do seu excelente comportamento activo e combativo no grupo, decidiu elevar este básico, por mérito próprio, à categoria de atirador.

Nos primeiros tempos, os seus Camaradas olhavam-no com desconfiança, porque receavam que o 4º Grupo de Combate viesse a ser apelidado, na generalidade, de básico, mas tal não aconteceu e o Marques veio a revelar-se como um dos melhores soldados da Companhia, com predicados de combatente acima da média e tiques de herói, tendo incrivelmente para quem não o conhece, sido agraciado com o prémio "Governador da Guiné".

Pois é, o nosso básico, ao ser confrontado com a “roleta da morte”, foi suficientemente corajoso e audaz para, após ter abatido dois guerrilheiros IN, conseguindo salvar a vida do seu comandante de secção, que se encontrava em situação difícil e ferido numa perna, numa acção em que o seu grupo de combate interceptou um grupo do PAIGC.
O Básico passou a ser uma referência da CART 2519 e respeitado por todos os seus Camaradas e Superiores Hierárquicos.

Nota: Estes dados foram retirados da História da Unidade e do livro “Há Sangue na Picada”, de Jacinto Manuel Barrelas - Cap da CART 2519.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

28 de Março de 2010 >
Guiné 63/74 – P6059: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (36): Reunião magna no Palácio do Governador (Mário G R Pinto)

sábado, 29 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6488: Controvérsias (78): Como foi e como é que se comporta uma anti-guerrilha perante uma guerrilha (Mário Gualter Rodrigues Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem, em 25 de Maio de 2010:

Camaradas,

Resolvi intervir, também, face ao repto lançado pelo nosso amigo e camarada Mário Fitas, no comentário que fez no poste P6470 da autoria do camarada José Manuel Diniz.

COMO FOI E COMO É QUE SE COMPORTA UMA ANTI-GUERRILHA PERANTE UMA GUERRILHA
Quase todos, para não dizer a totalidade de nós, fomos mal preparados e instruídos, para enfrentar os cenários de guerra onde, por sorte ou azar, fomos parar.

Nos centros de instrução, que todos nós frequentamos, em Escolas Práticas do Exército, especialmente nas especialidades operacionais, foram-nos administradas aulas teóricas e práticas de Guerrilha, Anti-guerrilha e Contra -guerrilha.

Também todos nós temos em mente os instrutores que se esforçavam para que as matérias ministradas, fossem compreendidas e absorvidas, tanto na teoria como na prática e, para isso, não hesitavam em dar-nos cabo do “coirão” em acções e reacções simuladas às realidades do conflito, segundo planos e programas de instrução delineadas, quer pelos próprios, quer pelos Comandantes das respectivas Unidades.

Alguns desses instrutores eram oficiais do QP, já com várias passagens por uma, ou mais, das zonas do conflito em Angola, Moçambique ou Guiné. Todos eles nos transmitiam, o melhor que sabiam e podiam, as suas experiências de combate do(s) TO(s) por onde tinham passado.

Foram-nos administrados vários tipos de instrução táctica, física e psíquica, sobre os diversos tipos de armamento e equipamento. Aprumaram-nos e corrigiram-nos à sua maneira. Estudamos os manuais e os apontamentos que nos deram.

E, o que é certo, é que na realidade acabamos por constatar ao longo do tempo no TO, que tínhamos que nos adaptar, reaprender, desenrascar à boa moda portuguesa e, sobretudo, sobreviver!

Se lerem o poste P2717, de 03AGO2008, vamos encontrar algumas considerações bem oportunas do nosso camarada A. Marques Lopes (Coronel DFA na reforma), sobre o “Manual do Oficial Miliciano” e as instruções que o mesmo continha para a guerra de guerrilha.

Passo a citar um pequeno extracto: “Não deixa de ser irónico; Este Manual foi um presente envenenado, para muitos jovens Portugueses que passaram pelo TO, com responsabilidade no comando de homens mal preparados.”

Formaram-se batalhões, companhias, pelotões e secções para uma guerra de anti-guerrilha, cujo objectivo era combater acções de guerrilha, enfrentando um adversário que tinha vasto conhecimento das nossas posições, que como todos sabemos eram fixas no terreno e nós tínhamos que “esgravatar” muito tarrafo, picadas e bolanhas para localizar o IN e, quando o localizávamos, o mesmo tinha excelente segurança na fuga, nomeadamente para zonas territoriais fora do nosso alcance, como eram os casos além fronteiras dos países que nos rodeavam e onde estávamos proibidos de entrar.

A maioria dos Sectores Operacionais não tiveram quadros logísticos de oficiais à altura dos acontecimentos e das suas responsabilidades. Desconheciam quase tudo sobre o IN, as suas estratégias de acção, os seus números de efectivos, a sua localização no terreno e outros dados fundamentais. Não é segredo para ninguém que a sua maioria se refugiava dentro dos aquartelamentos deixando as hostilidades no exterior, a cargo dos alferes e furriéis milicianos.

Os mapas de Sector e ZA estavam na sua maioria desactualizados, pois neles constavam tabancas já desaparecidas, linhas de água inexistentes e estradas e trilhos que o mato tinha absorvido através do tempo e do abandono.

Nos croquis que nos eram distribuídos para os diversos tipos de missões, constatamos que diversas cotas e distâncias estavam erradas, o que nos levou, várias vezes, a entrarmos dentro de ZE do COMCHEF (as chamadas ZV).

Tivemos de rever o armamento por nossa iniciativa, por exemplo, concluímos que era inútil levar uma bazuca para o mato, pois só nos atrapalhava e não era prática.

Aumentamos, isso sim, o número de portadores de dilagramas a fim de acrescer o poder de fogo e em vez de levarmos uma HK, passamos a sair com duas (uma á frente das colunas e outra na retaguarda). Deixamos crescer as barbas e tornamo-nos “bichos do mato”, desenvolvendo sobretudo técnicas e manhas preciosas nas deslocações pelo meio da mata.

Mais tarde quando já conhecíamos toda a nossa ZA e sem precisarmos dos mapas e croquis, para executarmos as nossas missões e com a experiência que fomos acumulando sobre os comportamentos habituais do IN, fizemo-nos “esquecidos” de ordens obsoletas e teóricas e começamos a obter maior êxito nos resultados finais.

No entanto não posso deixar de narrar consequências negativas, que por vezes éramos obrigados a fazer em nome da segurança.

A minha Companhia tinha a ser cargo e como missão principal interceptar e dificultar ao máximo os movimentos e as colunas de abastecimento do IN, no corredor de Missirã, que derivando de Salancur se dirigiam ao Sector de Xitole.
Como é previsível atingir, era um local de forte risco de contacto e todo o cuidado de aproximação e instalação do pessoal, era feito de uma forma cuidada e discreta.

Os momentos aí passados quando nos encontrávamos emboscados eram tensos e cheios de angústia, dada a eminente passagem do IN, pelo que, o silêncio, a concentração e a observação de qualquer movimento suspeito eram fulcrais neste tipo de espera.

Só que, para nosso espanto pessoal, muitas vezes os Senhores do Comando Operacional resolviam dar uma voltinha de DO, pelas nossas posições denunciando-nos, involuntariamente como é óbvio, ao IN. O que nos tinha custado tanto suor e dor alcançar desmoronava-se assim, em instantes, pela satisfação dos primeiros em dar a sua voltinha numa DO.

Nessas ocasiões as emboscadas eram logo abortadas por nós, pois já sabíamos que tínhamos sido referenciados e não estávamos ali a fazer nada, regressando a posições mais confortáveis e menos perigosas, passando o resto do tempo em alerta até ao termo das respectivas missões.

Mário Fitas, o meu tempo não teve nada a ver com o teu, teve a ver com circunstâncias do meu Sector e com quem nos comandou e dirigiu.

Os comportamentos de Anti-guerrilha perante a Guerrilha, foram aqueles que os nossos comandantes delinearam, mas não comandaram.

Poucos deram o corpo ao manifesto e foram os milicianos que tiveram a responsabilidade e a iniciativa, muitas vezes espontânea e circunstancial.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6433: Parabéns a você (115): Completa hoje 65 anos o nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto (ex-Fur Mil da CART 2519)

1. Completa hoje 65 anos o nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá", Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71, que se apresentou nesta Tabanca Grande em 24 de Julho de 2009, poste P4735.

Postal de aniversário da autoria do Miguel Pessoa dedicado ao Mário Pinto, que veio acompanhado de um sério aviso à navegação (não é à aérea, é à bloguista claro): “Mas não se habituem mal, que eu só vou fazendo isto para uns tantos que vou contactando - para os restantes não tenho suficiente conhecimento pessoal, nem sapiência, nem paciência...”. Por isso Camaradas, quem quiser um “paparico” destes no seu aniversário já sabe o que tem que fazer, ok!

O seu primeiro contacto está registado no poste P4673, datado de 12JUL2009, onde o Pinto deixou o seguinte comentário:

Caro José Teixeira,

Tenho seguido com atenção as tuas recordações da Guine.

Também estive em Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, em 1969/71.

Pertenci á CART 2519 - Os morcegos de Mampatá, por isso vivo com intensidade as tuas recordações.

Já agora se estiveres interessado em saber algo mais sobre a minha companhia, vai ao Blogue: http://www.cart2519osmorcegosdemampata.blogspot.com/

Um abraço,
Mário Pinto

2. O Mário tem sido um dos nossos Camaradas mais interventivos no blogue, tendo-me já por diversas vezes dirigido mensagens a demonstrar o seu espanto com o grau de agressividade e intolerância demonstrado por alguns dos críticos habituais.

Outro motivo controverso que o tem admirado é a exaltação e os inúmeros elogios dirigidos a determinados tipos de textos e de redacção escrita (não que eles não sejam merecidos… mas), em detrimento dos restantes, o que na sua opinião apenas afasta aqueles que pensando não atingir tal nível se auto-excluem de nos enviar qualquer palavra e consequentemente qualquer imagem que possuam dos nossos tempos da Guiné.

Que cada um tire as suas ilações!

3. Mas hoje é para se falar de festa e alegria pois não é todos os dias que festeja mais um aniversário e, independentemente das mensagens e comentários que os nossos Camaradas enviarem e colocarem, futuramente, no local reservado aos mesmos, neste poste, queremos em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais Camaradas da Grande Tabanca que por vários motivos não puderem enviar as suas mensagens, dirigir-te os melhores PARABÉNS.

Mais acrescentamos que o nosso maior desejo, neste dia, é que junto da tua querida família sejas muito feliz e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.

E mais te desejamos, que por muitos mais e boas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos da Guiné te possa dedicar mensagens idênticas, às que hoje lerás neste teu poste e no cantinho reservado aos comentários.

Estes são os mais sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas, que como tu, um dia, carregaram uma G3 por matas e bolanhas da Guiné.

Com manga de abraços fraternos... manga deles mesmo!
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

16 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6399: Parabéns a você (114): Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAÇ 8351, Cumbijã, 1972/74 (Carlos Vinhal / Belarmino Sardinha / Giselda e Miguel Pessoa / JERO / Manuel Maia)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6110: Convívios (210): 4º Encontro-Convívio da CCS/BART 2917 e Unidades Agregadas ao Comando do BART, MAI70 a MAR72 (Benjamim Durães)


1. O nosso Camarada Benjamim Durães (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 – Bambadinca -, 1970/72) enviou-nos uma mensagem dando-nos notícias do 4º Encontro-Convívio da sua CCS/BART 2917:

Camaradas,

No passado dia 27 de Março, teve lugar em Coruche o 4º Encontro-Convívio da CCS/BART 2917 e das Unidades agregadas ao Comando do BART, entre Maio de 1970 e Março de 1972.

Marcaram presença 117 convivas, sendo 58 ex-militares (41 da CCS, 2 da CART 2714, 2 da CART 2715, 4 da CART 2716, 5 da CCAÇ 12, 2 do PEL CAÇ NAT 63, 1 do PEL MORT 2268 e 1 do PEL ENG/BENG 447), incluindo 12 estreantes nestes Convívios.

Nos Encontros-Convívios já realizados, marcaram presença ao todo 96 ex-Militares, com 27 totalistas.



O grupo dos ex-Militares
O grupo ex-Militares com os seus Familiares
Um abraço para vós
Benjamim Durães
Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS/BART 2917
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

domingo, 28 de março de 2010

Guiné 63/74 – P6059: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (36): Reunião magna no Palácio do Governador (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 36ª mensagem, em 25 de Março de 2010:

Camaradas,

Ao desfolhar o caderno de apontamentos, onde se encontram as minhas memórias descritivas, fui encontrar este curioso acontecimento que se propunha, então, mudar o curso da guerra.

REUNIÃO MAGNA NO PALÁCIO DO GOVERNADOR
Faz precisamente este mês quarenta anos, que o General Spínola - Com-Chefe do CTIG, decidiu convocar todos os Comandantes de Batalhão, Oficiais de Operações e Comandantes de Companhia de todas as unidades sob o seu comando.

De todos os pontos do território afluíram a Bissau, os oficiais com as patentes de capitão e seus superiores (majores, tenentes coronéis e coronéis), que além de Bissau comandavam as unidades chamadas do “Vietname”.

Como é óbvio, todos se digiram para a capital, interrogando-se sobre o que teria o "Caco" em mente, para convocar tão magna reunião.

Especulava-se entre os oficiais, durante o jantar no dia anterior á reunião no Solar dos Dez.

A presença dos majores Passos Ramos, Pereira da Silva e Osório, do Comando Operacional de Teixeira Pinto, deixava antever que alguma coisa estaria relacionada com aquele sector.

No dia seguinte, há hora estabelecida para a reunião magna, 09H00 da manhã, deu entrada no salão o General Spínola e o seu Staff de oficiais, para presidir a tão alta reunião.

Depois de agradecer a presença de todos expôs, aos presentes, o seguinte:

"Meus senhores, a guerra na Guiné pode terminar dentro de pouco tempo, porque dos contactos directos havidos no Norte, entre oficiais Portugueses e grupos rebeldes, estes têm revelado intenção de se entregarem às autoridades Portugueses, desde que tenham garantias de que não serão sujeitos a represálias, e que serão integrados na sociedade Guineense.

Este propósito, a materializar-se, pode conduzir a uma reviravolta da política Nacional em relação à Guiné e, posteriormente, aos restantes territórios Ultramarinos.

Portanto, todas as unidades militares têm que estar preparadas para receber os grupos rebeldes, que voluntariamente deponham as armas, pois é muito provável que o movimento, a partir do Norte, se estenda rapidamente a todas as regiões da Guiné".

Era o nosso General e Com-Chefe, na sua maior convicção de psicologia enganosa que iria mais tarde custar a vida aos célebres majores; Passos Ramos, Pereira da Silva, Osório e ao Alferes Mosca, juntamente com os Guineenses que os acompanharam, numa morte cruel e bárbara como se veio a constatar mais tarde.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

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6 de Março de 2010 > Guiné 63/74 – P5941: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (35): A dança das bazucas (Mário G R Pinto)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5975: Convívios (202): 32.º Convívio Anual da CART 2519 “Os Morcegos de Mampatá”, vai decorrer em 08 Maio 2010 - Odemira (Mário Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos uma mensagem, anunciando a festa anual da sua Companhia:



CART 2519 “OS MORCEGOS DE MAMPATÁ”
32.º CONVÍVIO ANUAL
08 de Maio de 2010



Camaradas,

O Convívio Anual dos "COIRÕES DE MAMPATÁ", realiza-se em São Teotónio (Odemira).

Às 10h30 - Concentração das tropas, que está prevista para o Campo de Futebol de São Teotónio.

Às 13h00 - Almoço que terá lugar no Grupo Desportivo "O Renascente ".

A Ementa é a tradicional: As habituais Entradas, seguindo-se os pratos de Peixe e Carne, e, após uma Sobremesa, remataremos com um café e o digestivozinho da ordem.

O Bar estará sempre aberto.


A organização está a cargo do nosso Camarada Rosca Moída, cujo telemóvel é: 961 141 187.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

8 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5954: Convívios (113): Pessoal do BCAÇ 3872, dia 1 de Maio de 2010, em Cabeçudo - Sertã (Juvenal Amado)

sábado, 6 de março de 2010

Guiné 63/74 – P5941: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (35): A dança das bazucas (Mário G R Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 35ª mensagem, em 5 de Março de 2010:

Camaradas,

Ao dar aqui umas voltas aos meus velhos manuscritos, dos tempos já distantes do serviço militar onde a minha memória se vai perdendo, encontrei mais este texto que achei interessante pela sua morbidez, enviar para vossa leitura.

A DANÇA DAS BAZUCAS

Estávamos no fim de Maio de 1969, acabadinhos de chegar á Guiné, éramos ainda uns imberbes periquitos.

Apesar disso, fomos enviados para o teatro de guerra, tocando-nos Buba (COP 4), comandado pelo Major Carlos Fabião, que nessa altura tinha a seu cargo a fatídica construção da estrada Buba-Aldeia Formosa (já por diversas vezes referenciada, em outros postes, aqui no blogue).

A minha CART 2519 foi mandada para Mampatá, numa coluna em que seguia um conjunto de máquinas da Engenharia do Exército, que a partir de Sare Usso, iriam desbravar a floresta em direcção a Buba.

Aqui começa a nossa história:

Todos os dias por volta das seis horas um conjunto de militares das NT, com picadores à frente, saía de Mampatá, pela estrada velha até Sare Usso, procurando na estrada minas que eram, entre outros, um dos maiores perigos à sua progressão no terreno.

Chegados ao local onde decorriam os trabalhos de abertura da estrada, flectiam para a mata, e, depois da segurança montada pelas forças presentes, avançavam as máquinas da Engenharia desbravando a floresta na direcção já referida.

O IN que, com certeza, vigiava todos os nossos passos, esperava habitualmente por nós emboscado, e, certa manhã, quando flanqueávamos uma coluna que seguia para as obras, para meu total espanto, um dos soldados que seguia à frente chamou-me a atenção, para um cartaz preso no tronco de uma árvore.

Montada a segurança em volta do perímetro, demos com os seguintes dizeres escritos no cartaz: "VAI COMEÇAR A DANÇA DAS BAZUCAS PREPARA-TE PARA DANÇARES". Coisa no mínimo mórbida. O IN ainda se dava ao “luxo” de nos gozar e convidar para um “bailinho” de morte.

Normalmente as hostilidades despoletavam então com um “baile de bazucadas”, que era para nós um “show” completamente desconhecido, “orquestrado” sob uma música brutal e arritmada, constituída por sons acutilantes e terríveis de fortes explosões, para uma fatídica e dantesca dança mortal.

Eram shows” de curta mas eficaz duração, que obrigava os “piras” da Companhia recém-chegados ao teatro de operações a “bailarem” num palco desconhecido, um tanto desnorteados como baratas tontas, a disparar as suas armas para tudo o que mexia na paisagística, misteriosa e insondável mata em redor.

Lembrava-me um género de opereta com final trágico, que nos arrasava psicologicamente e que rapidamente nos afectou, até porque foi neste período que tivemos, infelizmente, um morto e alguns feridos.

O IN não nos dava tréguas trazendo-nos sempre ocupados, ou através de emboscadas, ou colocando minas na estrada, ou flagelando a zona de trabalhos, e, à noite, quando pretendíamos alguns momentos de descanso, no quartel de Mampatá, lá vinha o maldito “baile das bazucadas”, acompanhado, muitas vezes, de várias morteiradas.

Esta nova estrada foi assim um “salão de baile”, onde o PAIGC sempre orquestrou a música que quis para nos pôr a “bailar”.

Quando pela primeira vez por ela nos movimentámos, em coluna motorizada, levámos mais um ensaio de todo o tamanho, com um festival de bazucada, morteirada e outra musical metralha, dividida em três sessões dignas de um filme de Spielberg, saldando-se as contas finais em três mortos e vários feridos para as NT, que ficaram nas nossas memórias para todo o sempre.

Por ordem do “mestre de sala”, este tipo de dança foi devidamente estudado, e, ao longo do tempo alterado, passando os seus protagonistas (os desgraçados piras), a preparar os seus instrumentos e a retribuir ao IN, com um novo ritmo musical que eu designei como a "DANÇA DOS DILAGRAMAS".

Assim, por aquelas bandas de Mampatá, o maquiavélico espectáculo foi-se manifestando, meses a fio, numa sinfonia mais justa e equilibrada, cujos sons passaram a ser mais “democráticos”, mais próprios de um "Agora danças tu, depois danço eu e… vice-versa".

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

19 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5678: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (34): O turra branco "Capitão G3" (Mário G R Pinto) 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5791: Controvérsias (64): Os efeitos colaterais da guerra (Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519)



1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem, em 5 de Fevereiro de 2010:



OS EFEITOS COLATERAIS DA GUERRA


Por volta do fim de Março de 1971, tive de me deslocar ao Hospital Militar da Estrela, por motivos das análises que tinha efectuado ao Paludismo, aquando da desmobilização no RAL 3 em ÉVORA.


Nessa minha deslocação, apanhei um eléctrico no Largo de Camões com destino à Estrela. Como sempre viajava junto ao guarda-freio (na frente do eléctrico junto ao condutor), quando de repente disparou a protecção do circuito eléctrico, que liga o trólei aos cabos condutores aéreos de alimentação da energia.

O disparo provocou um forte estrondo, e eu acabado de regressar das lides guerreiras, reagi instintiva e instantaneamente, saltando do eléctrico e enfiando-me na primeira porta aberta de um prédio em frente.

Perante o espanto geral de toda a gente, que no viajava no veículo e vários citadinos, que, apeados, circulavam na rua e que foram os primeiros a chegar junto de mim, indagando sobre o que me tinha acontecido.

Dei a minha explicação, dizendo que eram efeitos da Guerra do Ultramar, da qual tinha regressado recentemente, nomeadamente da Guiné.

Sem saber como e donde, apareceu um indivíduo, intitulando-se jornalista do jornal “O Século”, que me informou que gostava de relatar o acontecimento, ao qual não me opus e eu compus a notícia.


A redacção dizia, mais ou menos, o seguinte:


"Ontem, pelas 10h00 da manhã, um militar recém-regressado da Guerra da Guiné, atirou-se dum eléctrico em andamento (carreira 28), perante o espanto geral de todos os passageiros, quando o circuito eléctrico do carro disparou estrondosamente. O mesmo encontra-se bem apesar de alguns ferimentos ligeiros.

Este é um dos efeitos colaterais de que sofre uma boa parte da nossa juventude, cicatrizada pelas vicissitudes da Guerra do Ultramar e que lhes marcará as memórias, para todo o sempre."


É obvio que esta notícia foi sujeita ao “lápis azul” dos censores da época, que depois de censurada foi recomposta do seguinte modo:


"Ontem, pelas 10h00 da manhã, um cidadão regressado à pouco tempo do Ultramar, caiu de um eléctrico em andamento, da carreira 28, perante um movimento brusco do mesmo veículo, quando viajava pendurado no estribo do mesmo."


Para os mais jovens esclareço que, nessa época, o regime político de Salazar/Caetano, tinha os seus acólitos sempre atentos sobre todas as notícias da Guerra do Ultramar, exercendo severa censura sobre todas elas, inclusive as de menor interesse, como era esta agora descrita.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5678: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (34): O turra branco "Capitão G3" (Mário G R Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 34ª mensagem, em 17 de Janeiro de 2010:
Camaradas,

Eu não perfilo com desertores, mas a lenda, o carisma sentimental e o infortúnio do fuzileiro de que vos vou falar, fez-me pesquisar a estória da sua vida e trazê-la ao nosso convívio, por achar de interesse geral.

O TURRA BRANCO CAPITÃO G3

António Tavares Trindade era um rapaz simples, filho da cidade de Lisboa, onde cresceu e aprendeu a viver. Ficou órfão de pai na adolescência, ainda bastante novo.

Sua mãe, ainda jovem, veio a casar em segundas núpcias com um indivíduo, que o veio a marcar negativamente para o resto da sua vida, pois pertencia à mórbida organização da PIDE.

Aos 17 anos, desagradado com o seu padrasto, começou a ver a sua vida a complicar-se, plena de hostilidade em casa e, revoltado, resolveu ingressar na Marinha como voluntário.

Nesta altura, inicio do ano 1962, a guerra em Angola estava no auge e a necessidade de tropas para o Ultramar fez com que o recém marujo incorporado fosse direitinho parar aos fuzileiros.

A dura recruta e a cultura castrense, que se vivia naquela altura em todas as unidades militares, não contribuíram em nada para melhorar o carácter do jovem fuzileiro. Apenas com 18 anos e acabada a sua formação militar, foi enviado para a Guiné e despejado num teatro de guerra, que não lhe despertava qualquer sentimento em particular.

Órfão de afectos e desiludido com a vida, que tinha sido compelido a escolher, não o satisfazia de modo algum. As ligações com a sua mãe eram dificultadas pelo seu padrasto, com quem se não dava de modo nenhum e cada vez odiava mais. A PIDE, organização a que, como já disse, o seu padrasto pertencia, era outra espinha no seu coração.

É, nessa altura, que conhece a sua femme fatale, que o ajuda a transformar a sua vida num autêntico inferno.  Nas suas andanças pela cidade de Bissau e pelos seus bares, onde eram férteis as meninas da vida nocturna, veio a conhecer uma brasa por quem se embeiçou. Segundo rezam as crónicas da época, era mesmo uma bonita mulher.

A femme fatale fazia parte da organização do PAIGC e, tendo descoberto a tristeza e o descontentamento do fuzileiro, decidiu convencê-lo a desertar para o outro lado, o que ele acabou por fazer, mais tarde, após uma discussão com um superior.

O fuzileiro Lisboa - António Tavares Trindade - o G3, como era conhecido pelos seus camaradas da altura, era um exímio artista com o LGF (Lança Granadas Foguete), que disparava com muita precisão.

Há quem afirme que o PAIGC, ao ter conhecimento desta destreza do Lisboa, o fez instrutor de RPG 2, para ensinar os seus guerrilheiros, vindo a ser baptizado por Capitão G3.
A Frente Patriótica Nacional, em Argélia, mantinha uma estreita ligação com os movimentos de libertação das colónias, nomeadamente com o PAIGC.

Na sua luta contra o Salazarismo absorvia no seu seio todos os dissidentes do regime, e é neste contexto que o PAIGC em 1964 entrega em Argel 5 desertores do nosso exército, onde o Capitão G3 ia integrado.

Em 1965, o governo de Argel entra em desavenças com a FPN e prende 16 dos seus membros onde se encontrava o G3.

Os mesmos são libertados após o golpe de estado que, nesse mesmo ano, derrubou Ben Bella. O G3 saiu então livre da Argélia, atravessando Marrocos, com destino a Espanha.

Posteriormente, tornou-se combatente anti-fascista, apoiando a candidatura do General Humberto Delgado (foto ao lado), tornando-se seu segurança pessoal até à sua morte.

Na clandestinidade viveu até 1968, altura que foi preso pela PIDE, por denúncia do seu padrasto, quando visitou sua mãe doente,  internada no hospital.

Foi torturado violentamente pelos seus carcereiros, nos calaboiços da polícia política do regime, que não lhe perdoaram a sua deserção da CF3 na Guiné, a colaboração prestada ao PAIGC, bem como as posteriores ligações á FNP e, pior ainda, a sua ligação ao PCP (Partido Comunista Português), a que aderira entretanto.

Como desertor foi julgado pelo tribunal da Marinha e cumpriu a sua pena no Forte de Elvas.

Posto em liberdade, depois da pena cumprida, teve de regressar ao Corpo Fuzileiros. Marginalizado e perseguido, por uns e por outros, arrastou-se penosamente pelos quartéis até cumprir o tempo de serviço na Marinha, que lhe faltava.

Na vida civil, empregou-se na CUF/QUIMIGAL do Barreiro, onde fixou residência depois de casar no Lavradio.

Nunca deixou de ser militante do PCP/Barreiro, pelo que era frequentemente preso pela ex-PIDE, que passou a designar-se, naquela época, por DGS (Direcção Geral de Segurança).

Depois do 25 de Abril, era membro destacado do PCP/Barreiro. Nos anos 1975 a 77 formou a célula do seu partido no Lavradio, após ter frequentado em Moscovo, por ordem do Partido, a formação em política apropriada.

Hoje, pouco mais se sabe do Capitão G3, apenas que frequenta esporadicamente a Sede da Associação dos Fuzileiros, no Barreiro.

Nota final: Todos estes dados recolhidos foram pesquisados na NET em, http://companhia2fz.blogspot.com/search?q=Ant%C3%B3nio+Tavares+Trindade e junto de camaradas de armas do G3, residentes no Lavradio.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

17 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5669: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (33): Até os babuínos eram contra nós (Mário G R Pinto)

domingo, 17 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5669: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (33): Até os babuínos eram contra nós (Mário G R Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 33ª mensegem, em 14 de Janeiro de 2010:

Camaradas,

Num encontro habitual que, periodicamente faço na Costa da Caparica, com antigos camaradas meus, o Nobre lembrou-se de contar um episódio hilariante mas de uma crueza real nas matas do sul da Guiné.

ATÉ OS BABUINOS ERAM CONTRA NÓS

A nossa ZA, a sul de MAMPATÁ, entre Colibuia e Nhacubá, onde se situava o corredor de Missirã (passagem muito utilizada pelo PAIGC), com destino ao Sector de XITOLE, era a nossa zona operacional mais frequente na acção de contra-penetração, que nos obrigava a permanecer no terreno emboscados, e em patrulhamento 24 horas/dia, permanentemente.

Por questão táctica e operacional estavam sempre fora do aquartelamento 2 Grupos de Combate, em acções sobre o dito corredor, tentando impedir a infiltração do IN e dificultando as suas acções de movimentação.

Existiam vastas zonas de implantação de minas e armadilhas, por nós criadas, que eram autênticos labirintos de morte para quem por lá se atrevesse a passar, o que por diversas vezes viemos a constatar.

Nesta área era frequente verem-se bandos numerosos de babuínos (macacos kom), que por ali tinham o seu habitat e que produziam grande barulheira (ladrando), quando pressentiam a nossa presença.

Certo dia, perto de Colibuia, quando procedíamos à verificação de algumas armadilhas que montáramos na área, encontramos o terreno de implantação todo remexido e constatámos que parte delas haviam sido levantadas e se encontravam à superfície do solo. Algumas tinham rebentado, vendo-se indícios de mortandade, pedaços de macacos, por todos os lados.

Obviamente, concluímos que tinham sido os nossos “amigos” babuínos, movidos pela curiosidade, que tinham prestado tal serviço de sapadores ao IN.

Curioso, é que já não bastava o PAIGC, como também passamos a ter de contar com os bandos de macacos kom como seus aliados, contra nós.

Quem aquelas matas atravessou, certamente se lembra dos babuínos ladrando insistentemente, protestando contra a nossa violação do seu habitat natural, e, se por vezes transportavam crias, até se tornavam agressivos, com atitudes e gestos hostis, tentando intimidar-nos.

Enfim, sempre pensei que é caso para dizer que tudo era adverso às NT, e que até os babuínos não nos gramavam.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: