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terça-feira, 5 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8513: Massacre do Chão Manjaco: Guiné, 20 de Abril de 1970 - Estrada do Pelundo a Jolmete - A morte dos Majores Pereira da Silva, Passos Ramos, Magalhães Osório e Alferes Joaquim Mosca (Albino Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2011:

Carlos Vinhal,
Estive a preparar este trabalho sobre o massacre dos três Majores ocorrido no dia de 20 de Abril de 1970, no entanto se acharem que não vale apena ser editado, porque já se falou muito disto, eu não levarei a mal.

Entendo que está aqui bem esclarecido esse massacre, pela CCAÇ 2686/BCAÇ 2884 que estava no Pelundo, a mesma que rendeu a CCaç 2367 do meu Batalhão, tal como a CCaç 2585 que rendeu a CCaç 2366 em Jolmete, no Dia 17 de Maio de 1969, também do meu Batalhão, e da qual eu participei na Escolta para a rendição 15 dias depois.

Recentemente, mais propriamente na última semana de Abril, estiveram no local do massacre elementos da CCAÇ 2366 (Periquito Atrevido) e CCAÇ 2368 (Feras) do meu Batalhão.

Na foto recente e junto de habitantes da zona, está o Dr. Moutinho dos Santos que era Alferes da 2366 em Jolmete, mais tarde transferido para outra Companhia com o posto de Capitão.

Sem mais assunto de momento deixo um abraço a toda a Tabanca Grande.
Albino Silva




Nota do Editor: Nesta foto, o Alferes identificado como Joaquim Mosca, é na realidade o Alf Mil Fernando Giesteira Gonçalves. (ver Poste 4653)














Imagens retiradas de "Os Anos da Guerra Colonial"
As devidas vénias a Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes

(Clicar nas imagens para ampliar e permitir a sua leitura)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8495: Os nossos médicos (32): Fotos do Serviço de Saúde do BCAÇ 2845 (Albino Silva)

Vd. postes de:

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2320: Relatórios Secretos (1): Massacre do Chão Manjaco: O resgate dos corpos (Virgínio Briote)
e
3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2325: Massacre do Chão Manjaco: Todos iguais na morte, mas nos relatórios uns mais iguais do que outros (João Tunes)

terça-feira, 8 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7909: O Nosso Livro de Visitas (106): Manuel Alberto Cunha Bento, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista no CAOP 1

1. Mensagem de Manuel Alberto Cunha Bento, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do CAOP (Chão Manjaco), com data de 5 de Março de 2011:

Boa tarde colegas
Só ultimamente tenho entrado no blogue, mas sinceramente como não sou nenhum perito em informática é-me muito difícil compreender como isto funciona. Agora que estou reformado e tenho vagar, vou tentar descobrir.

Vi as várias noticias do massacre no CHÃO MANJACO, onde os 3 Majores e Alferes foram assassinados. Eu pertencia ao CAOP, era Cabo Telegrafista e estava sempre em contacto com os referidos oficiais.

Alguém do Agrupamento lhes prestou uma homenagem por escrito e deu-me uma fotocópia que eu guardei nos meus arquivos, e que junto para ser inserida no blogue se acharem conveniente.

Gostava de encontrar os seguintes camaradas, que além dos referidos oficias, também faziam parte do CAOP:

Alf Mil Giesteira, Fur Mil Bento, o Lisboa, o Nunes, o 2.º Cabo Faria, José Carlos e outros que agora não me lembro, pois fomos todos em rendição individual e éramos cerca de uma dúzia.

Por agora é tudo. Aguardo noticias.

Cumprimentos
Manuel Alberto Cunha Bento
manuelben@gmail.com
Telem 969 609 701


Majores Joaquim Pereira da Silva e Raul Passos Ramos, Alf Mil Fernando Giesteira Gonçalves e Major Magalhães Osório
Foto: Maria da Graça Passos Ramos / Círculo de Leitores. In: ANTUNES, J.F. - A Guerra de África: 1976-1974. Vol. I. Lisboa: Círculo de Leitores. 1995. p. 373. (Com a devida vénia...).



2. Comentário de CV:

Caro Manuel Bento, muito obrigado pelo teu contacto e pelo envio da homenagem escrita feita aos camaradas, barbara e gratuitamente, assassinados no Chão Manjaco no dia 20 de Abril de 1970, tinha eu apenas três dias de Guiné.
Aquilo não foi um acto de guerra, foi um puro assassínio a sangue frio.

Esperemos que venhas a encontrar os camaradas que estiveram contigo no CAOP, como no teu tempo se designava, já que no dia 1 Agosto de 1970 passou a CAOP Oeste e poucos dias depois, no dia 22, a CAOP 1.
Temos na tertúlia um camarada, o ex-Alf Mil António Graça de Abreu, que esteve no já CAOP 1, entre 1972 e 1974.

Se quiseres aceitar, ficas desde já convidado a  integrar a nossa tertúlia, bastando para tal que nos envies uma foto tua actual e outra do tempo de tropa.
Diz-nos quando foste e quando regressaste e se estiveste sempre no CAOP em Teixeira Pinto.
Conta-nos uma pequena história para começares a participar, juntando algumas das fotos que tens guardadas.

Aceita um abraço em nome da tertúlia
O teu camarada
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7709: O Nosso Livro de Visitas (105): José Figueiral, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Bedanda)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7152: Os nossos camaradas guineenses (27): Dandi, natural de Jol, no chão manjaco, capitão da companhia de milícias do Pelundo, agraciado com Cruz de Guerra pelo Gen Spínola em 1972, fuzilado pelo PAIGC em 1975 (Manuel Resende / Augusto Silva Santos)



Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2585 (1969/71) > O >Alf Mil At Inf Manuel Resende e o chefe de secção de milícias, Dandi, mais tarde Capitão da Companhia de Milícias do Pelundo...





Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2585 (1969/71) > "Junto vou-te enviar uma foto, especial para mim, pois fui eu que a tirei em pleno mato, da última operação que ele [, o Alf Mosca,]  fez com o Capitão Tomás da Costa antes de ir para o CAOP. Como não tem legendas, vou explicar: ao centro, com as cartucheiras e ar de mau (para a foto) é o Cap Tomás da Costa; ao lado esquerdo,  sentado com a G3 ao alto no ombro,  é o Mosca; do lado direito em pé, sempre equipado a rigor, é o nosso amigo Dandi, que nunca facilitava em serviço (mais tarde também graduado em Capitão de milícia pelo Gen Spínola, em 72 Cruz de Guerra, e em 75 fuzilado)" (Manuel Resende, 16/6/2009).




Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2585 (1969/71) > O Dandi, junto ao monumento da CCAÇ 2585


Fotos:  © Manuel Resende (2009). Direitos reservados


1. Excerto do depoimento do nosso camarada Manuel Resende, ex-Alf Mil At Inf, CCaç 2585/BCaç 2884 (Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71) (, foto à esquerda) (*):

(...) Neste apontamento quero e tenho o dever de salientar o contributo altamente positivo dos soldados africanos do Pelotão de Caçadores Nativos nº 59, comandado inicialmente pelo colega Alferes Mosca, e pela secção de milícias, comandada pelo chefe da milícia, o célebre Dandi, mais tarde promovido a Capitão de Milícia pelo Sr. General Spínola, e que já vinha com boas referências da companhia anterior [, CCAÇ 2366].


Sempre que saíamos para o mato estes homens iam sempre à frente, pois como conhecedores do terreno, sabiam como chegar ao objectivo. O Dandi,  natural do Jol, conhecia como ninguém todos os recantos da mata.

Bom guerrilheiro, bom caçador, muito nos ajudou a evitar cair em emboscadas, abrindo trilhos novos na mata. Quando saíamos para o mato com ele, ninguém tinha medo, por mais difícil que fosse a missão. Mais tarde fez parte do rol dos fuzilados [, a seguir à independência]. Sinceramente não sei se a Cruz de Guerra prometida pelo Sr. General Spínola lhe foi entregue antes de 1975. Que será feito dos outros?

Apesar do primeiro contacto a sério com o inimigo, já referido atrás, com 2 mortos e alguns feridos, o dia ou o facto que mais me marcou durante toda a comissão, e o fez profundamente, foi a morte dos Oficiais do CAOP, os três Majores e o meu colega Alferes Mosca (além dos outros três nativos) no dia 20 de Abril de 1970, em prol da paz e do entendimento dos povos do Chão Manjaco.

O Alferes Joaquim João Palmeiro Mosca pertencia à minha Companhia, a 2585, pois era comandante do Pel Caç Nat  59 (já referenciada) que fazia parte da Companhia, embora a rendição fosse individual. Em Set/Out de 1969 o Alferes Mosca foi convidado pelo CAOP em Teixeira Pinto, para cuidar das plantações experimentais que se começavam a desenvolver no Chão Manjaco, pois ele era Regente Agrícola de formação.

Como as suas qualidades para a Psico eram boas, foi convidado para colaborar nessa área com o Sr  Major Joaquim Pereira da Silva, Oficial de Informações e Coordenador da Acção Psicológica com as populações. (...)

2. Comentário de Agusto Santos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833 (Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73) (, foto à esquerda)

Olá Camarada e Amigo!


Sempre com Jolmete por fundo, aqui estou eu a saudar-te por esta tua iniciativa.

Por tua influência, juntei-me a este blogue, por minha influência (julgo), decidiste publicar no Correio da Manhã a tua passagem pela Guiné, mas aqui bem mais completa e esclarecedora.

Sabes uma coisa curiosa? É que eu antes de ser chamado para o serviço militar, estive na marinha mercante dos 18 aos 21 anos, e um dos navios em que prestei serviço foi precisamente no "Niassa", embora só em 1970. Outra curiosidade. Sabes onde eu moro? Em Almada, e nessa altura residia muito perto do quartel onde te foste apresentar, mas que hoje já não existe. Com algum atraso, as nossa vidas andaram cruzadas (Almada / Niassa/ Guiné / Jolmete).

Sobre o célebre Dandi... No meu tempo ele já era o Comandante da Companhia de Milícias do Pelundo, embora estivesse sempre no Jol, e já tinha sido agraciado com a cruz de guerra pelo General Spínola. Numa das operações (a mais difícil que me lembro), ele chegou a ser ferido com um tiro numa perna.

Era de facto um excelente guerrilheiro. Numa ocasião, para escaparmos a uma emboscada do IN, lembro-me que ele nos levou por um trilho de caça muito antigo que, segundo o próprio Dandi, já não passavam por lá pessoas há alguns anos.

Também me lembro de irmos fazer segurança ao local onde morreram o Alferes Mosca e os 3 Majores, para o General Spínola ir lá depôr uma coroa de flores, acto que sempre praticou enquanto se manteve na Guiné.

Um Grade Abraço,

Augusto Silva Santos
 
____________
 
Notas de L.G.:
 
(*) Vd. poste de 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7151: Recortes de imprensa (34): A guerra do Manuel Resende, ex-Alf Mil At da CCaç 2585/BCaç 2884 (Correio da Manhã)
 
(**) Último poste da série > 13 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6586: Os nossos camaradas guineenses (26): O regresso do inesquecível Mamadu Camará (Mário Beja Santos)

terça-feira, 13 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6726: Memórias do Bachile, chão manjaco (1): O que será feito do menino Augusto Martins Caboiana ? (António Branco, ex-1º Cabo Reab Mat, CCAÇ 16, 1972/74)



Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco, junto ao obus 10,5 com  a mascote da companhia, um menino do mato, Augusto Martins Caboiana, que todos os camaradas da CCAÇ 16 adoptaram e ajudaram a crescer...



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco  e o João Pereira no espaldão do Mort 81.




Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco, na "tradicional foto na árvore de grande porte" [, poilão].





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > Natal de 1973 > O Augusto, feliz e sorridente, foi o motivo principal  do cartão de boas festas do Natal de 1973.





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > Natal de 1972 > Cartão de boas festas





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > 22 de Julho de 1973 > Um convite criado pela "comissão de festas"...

Fotos: ©António Branco (2010). Direitos reservados

1. Mensagem do António Branco, um dos membros mais recentes da nossa Tabanca Grande (*)


Data: 11 de Julho de 2010 22:19

Assunto: Memórias do Bachile


Camaradas

Hoje resolvi partilhar um pouco,  ainda que de forma superficial, a minha experiência vivida durante cerca de dois anos no Chão Manjaco, Bachile e CCAÇ 16.

Não pretendo evidenciar os momentos mais belicistas desta minha experiência, porque isso deixo para os mais entendidos na matéria, quero sim antes de mais realçar quanto para mim foi gratificante experienciar os contactos sociais mais diferenciados.

Na totalidade na companhia éramos apenas,  se a memória não me falha, cerca de trinta metropolitanos das mais diversas origens, das mais variadas classes sociais e com níveis de cultura diferentes.

Mas estas diferenças não eram minimamente visíveis no dia-a-dia, porque entre todos sempre existiu uma enorme cumplicidade tal como se de uma família se tratasse.

O facto de a maioria dos camaradas terem ido para o Bachile em rendição individual, a meu ver proporcionou uma maior e mais forte aproximação, camaradagem e solidariedade entre todos.

Recordo com muita frequência que um problema,  de qualquer um de nós, era um problema de todos e só descansávamos quando se possível o problema conseguia ser sanado.

Quando havia motivos para festejar, festejávamos todos, reforçando assim esse espírito familiar que se vivia.

Todos os dias e nas mais diversas situações, aprendíamos algo uns com os outros, todos os dias se cimentava a cumplicidade de um grupo de homens que,  apesar da sua juventude, tinham bem presentes valores cada vez mais difíceis de encontrar.

Com os militares africanos sempre tive um extraordinário relacionamento, encontrei muito boa gente e compreendi muitas vezes as suas frustrações.

O Augusto Martins Caboiana, um menino que todos ajudámos a cria, e do qual gostava de saber o seu paradeiro,  foi estou em crer um ponto marcante para todos que passaram pelo Bachile.

Em anexo algumas fotos do Augusto que camaradas de outras companhias, enfermeiras pára-quedistas e camaradas da Força Aérea concerteza recordarão.

Não refiro outros nomes para não ferir susceptibilidades, pois a memória e o tempo decorrido já não permite que os recorde a todos, até porque enquanto desempenhei funções no bar de sargentos foram muitos os camaradas de outras companhias com quem convivi quando da sua passagem pelo Bachile com destino a operações na zona da Caboiana.

Falta-me referir o privilégio que foi contactar com muita da população civil que nas mais diversas situações foi sempre de uma extrema cordialidade, humildade e sem dúvida merecedora de uma vida melhor.

Aprecio imenso todas as iniciativas de origem particular de apoio à população da Guiné e estou sempre muito atento a tudo o que com esta terra se relacione.

Tenho esperança de vir ainda a encontrar mais camaradas que estiveram no Bachile para que com a experiência de cada um contar a história daquele que foi um simples bocado de terra rodeado de mato por todo o lado e que hoje pouco ou nada sabemos como é.

Voltarei à tabanca com mais relatos de experiências guardadas na memória e com mais fotos que espero ajudem a reencontrar outros camaradas.

Um abraço para todos

António Branco

Exz-1º Cabo Reabastecimento Material
CCAÇ 16  -Bachile  (1972/74)


_______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6709: Tabanca Grande (228): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74


(...) Sou natural de Lisboa onde nasci em 24-06-1950 e onde ainda resido. Estou presentemente reformado após ter passado por um período de três anos desempregado e sem poder exercer a minha actividade na área do sector automóvel que iniciei com quatorze anos.


Na sequência da situação de desempregado, ocupei o tempo disponível melhorando o meu nível de escolaridade completando o ensino secundário e consequentemente entrei no mundo das novas tecnologias.


Foi assim que acedi ao blogue que faz já parte dos meus favoritos e que visito diariamente pois sou fã incondicional de tudo o que diz respeito à Guiné e muito particularmente ao Bachile e à CCAÇ 16.


E foi através desta enorme família residente na tabanca que decorridos 38 anos consegui encontrar lá longe na China o ex-Capitão José Martins, o ex-1.º Cabo Operador Cripto Miranda, o ex-Furriel Bernardino Parreira, o ex-Furriel José Romão e mais recentemente o ex-1.º Cabo Mecânico Auto João Pereira. (...).

Vd. também poste de 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6680: O Nosso Livro de Visitas (92): A. Branco, CCAÇ 16, Bachile, chão manjaco, 1971

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Guine 63/74 - P6643: Memória dos lugares (86): Bachile, chão manjacho (José Romão, ex-Fur Mil, CCAÇ 16, 1971/73 / António Graça de Abreu, ex-Alf Mil, CAOP1, 1972/74)

Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 (1971/73) > O José Romão junto ao obus 10,5



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 (1971/73) > À caserna do José Romão



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 (1971/73) >Arrecadação de material de guerra



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 (1971/73) >A parada


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 (1971/73) >  Aspecto geral das instalações do aquartelamento


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 > Aspecto geral do aquartelamento

  


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 >  O José Romão (à direita) e o Bernardino Parreira.  Em fundo, lê-se: "Para uma Pátria una e indivisível, a Companhia Manjaca [,CCAÇ 16,] está defendendo o seu chão da cobiça de estranhos, ainda que tenha de derrmar o seu sangue2

Fotos: Jose Romão (2010). Direitos reservados  zecaromao@hotmail.com


1. Mensagem do José Romão (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863,  Teixeira Pinto, e CCAÇ 16,  Bachile, 1971/73), que  reside actualmente em Vila Real de Santo António (*)

Data - 23 de Junho de 2010

Assunto - Bachile

Uma boa noite para o amigo e Camarada Magalhães Ribeiro

Tenho estado a ver no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, notícias relacionadas com as zonas onde estive, entre 1971 e 1973 (Teixeira Pinto e Bachile).

Hoje estive a ler uma notícia, escrita pelo camarada António Graça Abreu, relacionada com o Bachile (**) e com a qual eu não estou totalmente de acordo.

Na primeira parte, tirando as casas pintadas de branco, porque não estavam pintadas, o resto está bem.

Na segunda parte é que nada bate certo. Ele diz e passo a transcrever:

António Graça de Abreu (AGA): “O aquartelamento é deplorável. Logo atrás do arame farpado há dezenas e dezenas de bidões cheios de areia rodeando umas tantas tabancas”

Romão (R): Ora isto não é verdade, porque só o aquartelamento é que estava rodeado de duas filas de bidões com areia, porque era a única protecção que tínhamos contra qual ataque inimigo e não tínhamos nenhumas tabancas a rodear o quartel.

AGA: "Depois há telhados em cimento armado cobrindo os tegúrios semi-afundados na terra,  habitados pelos nossos soldados, uns setenta a oitenta. É a protecção possível contra flagelações e bombardeamentos".

R: Os telhados não eram de cimento armado, mas sim de chapas de zinco aparafusadas a umas asnas de ferro e nem sequer estavam semi-afundadas, conforme posso provar nas fotos que envio. Todos os militares dormiam em casernas e não em abrigos porque também não haviam. Cada caserna estava dividida em três partes independentes: Uma para o Alferes, outra para os furriéis e outra para os soldados.

AGA: "E dão uma certa segurança aos homens brancos expatriados na terra dos negros comandados pelo alferes Rocha".

R: Os únicos homens brancos eram os oficiais e os sargentos, porque os soldados eram todos nativos. O alferes Rocha era unicamente comandante do meu pelotão. Quando eu cheguei ao Bachile,  o comandante era o capitão José Martins que depois foi rendido pelo capitão Abílio Dias Afonso.

Já são duas da manhã e por hoje nada mais tenho para escrever.

Um grande abraço para todos os camaradas.

Romão


2. Resposta do António Graça de Abreu, a pedido dos editores: Meu caro Zeca Romão:


Recebi via Magalhães Ribeiro e Luís Graça um comentário a um texto meu, no meu Diário da Guiné que junto em anexo.

Com todo o respeito, pela tua opinião, esclareço:

(i) Fui três ou quatro vezes ao Bachile,  ainda em 1972. Conheces melhor o lugar do que eu.

(ii) Escrevi este texto no início de Julho de 1972. É possível que tenha erros. Eu era periquito, tinha apenas oito dias de Guiné.

(iii) Mas, recordo-me que o aquartelamento estava em construção, em 1972. As fotografias que mandas são de Junho de 1972?  Não serão posteriores?

(iv) A companhia era africana, eu sei. Mas onde viviam as famílias dos militares africanos? O reordenamento, acabado de fazer,  estava vazio. Havia mais tabancas. Quase posso jurar que vi abrigos em cimento armado, como havia alguns em Teixeira Pinto. Quando vos atacavam o aquartelamento, onde é que vocês se abrigavam?

(v) Eu não disse que o Alf Rocha comandava a companhia. Só em caso de ausência do capitão isso eventualmente aconteceu.

(vi) Encontrei o capitão Martins em Macau, em Maio de 2009. Vive lá há dezasseis anos.

Leu o meu Diário da Guiné e gostou do que escrevi sobre o Bachile. (***)

Um abraço, e se quiseres o meu Diário da Guiné, diz, mando-to pelo correio. São 17 euros.

António Graça de Abreu

  ____________

Notas de L.G.:

(*)  Mensagem do José Romão, com data de 18 do corrente:

Amigo e camarada Magalhães Ribeiro: Obrigado por teres colocado a mensagem no Blogue. Por esse motivo, recebi vários contactos, entre eles uma chamada telefónica do Cap Martins, que actualmente reside na China e que esteve comigo na CCaç 16 no Bachile. Foi ele que me deu o contacto telefónico do meu camarada Bernardino Parreira.


Quanto ao convite para aderir ao Batalhão Tabanca Grande, aí vão os meus elementos e as duas fotografias.


José Quintino Travassos Romão
Residente em Vila Real de Santo António
Ex-Furrriel Miliciano
Guiné (Setembro de 1971 / Outubro de 1973).


BCaç 3863, CCaç 3461, em Teixeira Pinto,  e CCaç 16 no Bachile.


Fomos tirar o IAO a Bolama e depois o Batalhão foi para Teixeira Pinto, onde estive pouco tempo, porque fui para a CCaç 16 (Companhia Africana) até ao final da comissão. (...)


Travassos Romão

(**) 23 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6632: Memória dos lugares (79): Bissau, cidadezinha colonial (Parte IV) (Agostinho Gaspar / Luís Graça)

(***) Vd. postes de:

8 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4483: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (11): Macau: A. Graça Abreu com José Martins, ex-Cap CCAÇ 16 (Bachile, 1971)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5998: Parabéns a você (87): Uma salva de palmas, de homenagem, para o António Baptista, que faz hoje 60 anos, teve uma vida sofrida e conheceu o inferno na terra (Os Editores)




O regresso do "morto-vivo" do Quirafo, conforme notícia do Comércio do Porto, de 18/9/1974. Hoje o António da Silva Baptista faz 60 anos!... Outro jornal do Porto, o Jornal de Notícias, acompanhou-o também na visita à sua própria campa, no cemitério da sua freguesia, no concelho da Maia...

 Fonte:
29 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4262: Recortes de imprensa (16): O Morto-vivo no Jornal de Notícias e em O Comércio do Porto (Mário Migueis)

1. Comentário do Manuel Reis (*):

Caros amigos:

A tragédia, em si, constitui um acontecimento tão traumatizante, que todos preferem não falar dele.
É espantoso que não surja alguém, com ligações aos intervenientes na tragédia [, de Fajonquito,] e que, presencialmente, tivessem detectado algum mal estar entre eles.

As testemunhas, que não o são, contradizem-se. Soube pelo Blogue deste acontecimento, que constitui um autêntico enigma.

Um abraço amigo.
Manuel Reis

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Manuel Reis:

Não é caso virgem, este silêncio quase tumular à volta da tragédia desencadeada pelo Sold Almeida, em Fajonquito, na Páscoa Sangrenta de 1972 ... Não temos ninguém da CART 2742 (comandada pelo Cap Figueiredo), como não temos ninguém da CCAÇ 1790 (comandada pelo Cap Aparício) que sofreu quase três dezenas de mortos no desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, em 6 de Fevereiro de 1969, depois da retirada de Madina do Boé...

Parece haver um grande pudor em falar destas tragédias... Os nossos camaradas fizeram o luto patológico, de tal modo que ao fim destes anos há uma espécie de pacto de silêncio à volta deste "pathos"... Acontece nas famílias, nas comunidades, nos povos... A hístória está cheia destes silêncios, individuais e colectivos...


Temos aí outras tragédias, já evocadas no blogue: estou-me a lembrar, por exemplo, da terrível emboscada do Quirafo..



Tirando o pobre do António Baptista [, foto à esquerda], não tenho ideia de ter aparecido alguém da CCAÇ 3490 (comandada pelo Cap Lourenço), unidade de quadrícula do Saltinho, que pertencia ao BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74), a falar deste brutal massacre... Os próprios militantes do PAIGC sempre tiveram (e continuam a ter, aqueles que ainda estão vivos), dificuldade em verbalizar as suas emoções ou desfiar as suas memórias face a tragédias como a morte dos "três majores portugueses", íntimos de Spínola, no Chão Manjaco, ou a luta fatricida que levou ao miserável assassinato de Amílcar Cabral.


E a propósito, lembrei-me, agora, de repente, que o nosso "morto-vivo do Quirafo" faz hoje anos, 60 anos!!! Eu sei que ele não nos lê, mas através do administrador do blogue da Tabanca de Matosinhos, o Álvaro Basto que tem sido para ele mais do que camarada e amigo, um pai e um irmão... daqui vai uma salva de palmas para o Baptista que teve uma vida sofrida e conheceu o inferno na terra....Ele é bem merecedor de todo o nosso carinho e solidariedade.
___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5997: Controvérsias (67): A Páscoa Sangrenta de Fajonquito, em 2 de Abril de 1972 (António Costa)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5838: Estórias de Jorge Picado (12): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (VII): Colecta e roubo em Binhante

1. Mensagem de Jorge Picado (ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), dirigida ao nosso Blogue, com data de 16 de Fevereiro de 2010: 

 Amigo Carlos Vinhal 

Com este tempo invernoso que teima em recordar-nos que o Carnaval com o corpinho ao léu, só mesmo nos climas tropicais, deu-me para arrancar mais uma historieta daquelas passadas na Guiné, mas que nada tem a ver com esta quadra. Aliás, destas duas datas vividas naqueles anos de 1970/71, apenas deu para recordar a primeira, pois foi a partida que o Exército me fez de me enfiar no barco a caminho dessas longínquas paragens. A segunda nem dei por ela, apesar de estar em Bissau a aguardar a nova colocação. Para te distraíres, após as folias de hoje envio-te esta pequena prosa.

Abraços 
Jorge Picado


COLECTA E ROUBO EM BINHANTE 

Durante a minha estadia no CAOP 1, o IN fez uma incursão silenciosa a um aldeamento situado entre Teixeira Pinto, actual CANCHUNGO, e Pelundo. Este acto ocorreu na noite de 24 para 25 de Junho de 1971 na povoação de BINHANTE. Para os que não percorreram aquele Chão, BINHANTE situa-se a NNE de Teixeira Pinto, a uma distância desta, por estrada, de cerca de 5 quilómetros. Quase a meio do percurso de Teixeira Pinto para o Pelundo, virava-se para Norte e depois de percorrer pouco mais de 1 quilómetro entrava-se na povoação, conforme se pode observar na figura.

 
Binhante_1 

 Ao empregar a expressão incursão silenciosa, quero referir-me àquelas acções que militarmente eram classificadas como colecta e roubo das populações sob controlo das NT, feitas sempre pela calada da noite, muito provavelmente com a conivência de algum ou alguns elementos das próprias tabancas, quiçá familiares ou mesmo elementos da guerrilha oriundos dessas povoações que calmamente durante o dia ali penetrassem para durante a noite facilitarem a abertura das portas aos seus camaradas ou ainda, mais raramente sem essa conivência, mas sob fortes ameaças de vidas de raptados. Uma vez que o acontecimento só era comunicado pela manhã, as NT já não tinham possibilidade de interceptar os guerrilheiros. No entanto BINHANTE, como referi, ficava sensivelmente a meio do percurso de TEIXEIRA PINTO-PELUNDO, distando pouco mais do que 5 quilómetros de cada e os elementos do PAIGC, do CHURO ou COBOIANA, foram lá! Portanto no dia 25 pela manhã, lá tive de acompanhar os camaradas, possivelmente da CCaç 2660, que foram fazer o levantamento da ocorrência e ajuizar dos estragos, para que na medida do possível e, quanto mais depressa, se obtivessem os meios para recompor a situação. 
Das minhas breves notas respigo “Colecta e roubo em Binhante – Incendiaram 14 moranças, grandes estragos POP. Ameaças e sevicias, levaram POP como carregadores. 4 Sacos arroz na Gouveia em nome do CAOP. Assinei eu. Binhante 2 vezes”. 

Perante o sucedido e os lamentos da população ou do Chefe da Tabanca, recebendo evidentemente ordens para tal, tive de voltar a TEIXEIRA PINTO, onde levantei 4 sacos de arroz que requisitei na Casa Gouveia em nome do CAOP e fui entregá-los ao chefe da tabanca para satisfação das primeiras necessidades alimentares, isto evidentemente em nome da APSICO. 
Remeto uma fotografia referente a este acontecimento que, embora datada de JUN71, não deve ter sido obtida nesse dia 25, mas talvez posteriormente. Digo isto por não ter a certeza se no CAOP 1 se faziam recolhas radiofónicas de eventos. Se isto era verdade, então pode ter sido obtida nesse mesmo dia.
 
Binhante > 25JUN71 

Fotos: © Jorge Picado (2010). Direitos reservados. 

Na imagem são bem evidentes os sinais de habitações destruídas pelo fogo. Pode-se ver parte duma casa, representada por uma parede – feita em adobos de lama – e rachada no canto, com sinais de fumo por cima duma abertura – janela ou porta –, sem telhado e os restos de cibes queimados, em segundo plano, que suportavam exteriormente a cobertura, sinais mais do que suficientes de ter sofrido um incêndio recente. Além disso há dois militares – um metropolitano sentado com gravador ao lado e um guineense, talvez cabo, segurando o microfone na mão direita – registando o depoimento dum nativo – que pela veste e pés calçados demonstra um certo estatuto, chefe de tabanca (?) – acompanhado de outros naturais, um dos quais – o do chapéu – revela uma cara carrancuda. Repare-se na forma tradicional de transporte natural dos bebés por estas mães que, pelas suas vestes, mostram igualmente possuir um certo estatuto social. Seriam as mulheres do que está a ser entrevistado? Quem seria o militar sentado? De alguma das subunidades do CAOP 1? Ou do PIFAS de Bissau? As mesmas interrogações faço sobre o que segura o microfone, mas como poucos são aqueles desse tempo que militam na Tabanca, não creio poder chegar a qualquer conclusão. 

É tudo por hoje. 

Abraços para todos 
Jorge Picado
 __________ 

Nota de CV: 

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5776: Estórias de Jorge Picado (11): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (VI): Acompanhando visitas no Chão Manjaco

1. Mensagem de Jorge Picado (ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 31 de Janeiro de 2010, dirigida ao nosso Blogue:

Amigo Carlos
Envio-te mais uma composição, sobre algumas das actividades desenvolvidas no CAOP 1*.
É capaz de ser um pouco longa, com as fotos que junto, mas, com a tua experiência, decidirás como melhor fazer.

Abraços para todos e desculpa-me por mais este trabalhito "á borliú".
Jorge Picado


ACOMPANHANDO VISITAS NO CHÃO MANJACO

Constituindo o CAOP 1 um dos “baluartes” da política “Uma Guiné Melhor”, do então GG e ComChefe, estava, por conseguinte, “transformado” numa das mais importantes, se não mesmo a mais importante, “sala de visitas” daquele TO.

Assim, os jornalistas e políticos, adidos militares e outros altos funcionários de várias nacionalidades, convidados por Portugal a tomar conhecimento e observar, com os próprios olhos, o que se fazia pelas POPs e como estas viviam “em paz e harmonia” connosco – justificando assim a guerra que nos era imposta por quem, não tendo razão, apenas queria desestabilizar e impedir o desenvolvimento dos nativos que apenas desejavam continuar a ser Portugueses e usufruir do bem que estes lhes proporcionavam – passavam praticamente todos pelo “Chão Manjaco”.

Normalmente, após um “briefing” restritivo à área – no seguimento do mais geral que lhes tinha sido apresentado em BISSAU – existia um programa, mais ou menos longo de acordo com o tempo de permanência disponível e com a personalidade em questão e, se bem que direccionado, procurava-se dar satisfação aos desejos dos visitantes.

Estando a minha actividade ligada aos assuntos da ACAP/POPs, como já referi em escritos anteriores, uma das funções de que estava incumbido era tratar da logística, diligenciando para que as respectivas unidades fornecessem a segurança, assegurassem os transportes e providenciassem para que os locais a visitar estivessem “conformes” e os contactos assegurados, acompanhando quase sempre “esses visitantes”.

Socorrendo-me das anotações que fiz, parcas, como também já tive oportunidade de dizer quando da minha apresentação, incompletas e algumas quase já indecifráveis, decidi agrupá-las e enviá-las, para conhecimento dos camaradas e com a esperança de que algumas, ao serem lidas por alguns daqueles que pertenciam aos efectivos que nesse período actuavam naquela área, lhes recordem estas actividades.

Reportando-se ao período de MAIO/71 a JANEIRO/72, estiveram envolvidas pelo menos, já que não especifíco aquelas cuja missão era a protecção aos trabalhos da estrada Bachile-Cacheu:

- CCS e CCaç 2660 do BCaç 2905; CCS, CCaç 3459 e CCaç 3461 do BCaç 3863, sedeadas em T. Pinto;

- CCaç 2637 em T. Pinto e Chulame, CCaç 3327 em Bassarel;

- BCaç 3833 no Pelundo e respectivas CCaç 3306 no Jolmete, CCaç 3307 no Pelundo e CCaç 3308 em Có;

- possivelmente certos GComb de várias CCaç (2789, 2790, 2791, 3328) dependentes do BCaç 2928 sedeado em Bula.

Eis o que me resta, chamando desde já a atenção para a grafia dos nomes estrangeiros, uma vez que não os copiei de documentos, mas os anotei de ouvido.


MAIO/71

No dia 7, meu terceiro dia nesta unidade, iniciei-me com a visita dum estrangeiro – por ventura uma visita rápida, já que não consta qualquer indicação de localidade – Dr. Wilensky, Arg., A? ?d, F. Milit.

Perante as anotações simbólicas que precedem o nome seria, muito provavelmente, de nacionalidade Argentina e Funcionário Militar –Arg., F. Milit – mas não relaciono agora a simbologia intermédia – A…d – uma vez que era o diminutivo de 2 palavras, em que a 1.ª começava por A com mais 2 letras riscadas – a ultima das quais provavelmente um v? – e a 2.ª começa por uma letra maiúscula – igualmente riscada – seguida do d.

A 8, visita de “Bob” – E.U., F. Emb. EU. Era um americano, provavelmente civil, de diminutivo “Bob” – Robert? – e funcionário da Embaixada – muito naturalmente em Lisboa – que se deslocou ao PELUNDO para observar “in loco” a nova política dos reordenamentos.

De 19 a 21, acompanhamento duma equipa de fotografia e cinema do PIFAS constituída por 3 elementos: José Ribeiro (militar ou civil?); 1 Fur.; 1 soldado.

No 1.º dia, após a recepção e delineamento do programa andou-se apenas em TEIXEIRA PINTO.

No 2.º dia começou-se com filmagens e fotos dos trabalhos na estrada para o CACHEU e prosseguiu-se com recolhas em BATUCAR e CAIÓ.

Caió 1-71

Caió 2-71

Caió 3-71

Batucar 1-71

Batucar 3-71

Batucar 4-71

Batucar 5-71
Fotos: © Jorge Picado (2010). Direitos reservados.


Estas 7 fotografias, que quase com toda a certeza se referem a “encenações” preparadas para estas filmagens. As 3 primeiras foram obtidas em CAIÓ, segundo anotação no verso das mesmas, mas as outras não sei se são desta povoação ou de BATUCAR.

Muito gostaria que os camaradas que “me acompanharam nesta deslocação, bem assim os que estavam estacionadas nestas povoações” aparecessem, para com base em elementos visíveis, identificassem melhor as mesmas. Na marcada com Caió_3_71, há lá muitos militares a assistir e, nas Batucar_1,_4 e_5, há edifícios que devem ser suficientes para identificar por quem lá esteve estacionado vários meses.

Finalmente no 3.º dia, foi-se para e PONTA LUIS CABRAL, já nas imediações do Rio Mansoa, onde se deram por finalizados os trabalhos e regressando a equipa a BISSAU.

Nestes trabalhos recolhiam imagens da paisagem, estradas, caminhos, povoações, casas construídas nos aldeamentos ou melhoradas, benfeitorias diversas de uso colectivo – Postos Escolares, Postos Sanitários, recuperação de bolanhas – tudo “embelezado” com as POPs “muito sorridentes” e as declarações de agradecimento dos chefes de tabanca, material necessário para a composição dos documentários promocionais.


AGOSTO/71

A 19, três dias depois de regressar de férias da Metrópole, participei na visita dum Adido Militar Americano, Cor Bloom(?). Quando se tratava de pessoal militar, privilegiava-se mais a parte operacional e as actividades de APSICO que as tropas desenvolviam, não só nos trabalhos de Eng.ª – reparação e mesmo abertura de caminhos –, mas também na Saúde – consultas e tratamentos efectuadas pelo Pessoal Militar nos Postos Sanitários – e na Educação – aulas dadas por militares transformados em Professores nos Postos Escolares Militares.

A 27 houve uma visita do Secretário-geral – Ten Cor ou Cor(?) Pedro Cardoso –, do Funcionário Superior da Administração Ultramarina, para a Agricultura – Eng.º Agrón.º Vinício Marques(?) –, do Director(?) dos Serviços de Veterinária – Dr. Sales – e do Intendente(?).

Depois duma sessão de trabalho no CAOP, seguiu-se uma ida ao chamado Porto de T.PINTO, à Escola Secundária – designada por Ciclo –, à Casa do Enfermeiro e ao Depósito(?) – de quê, não sei – seguindo-se para o PELUNDO e depois para BULA. Daqui eles regressaram a BISSAU e nós à sede.

Cais do Porto de TEIXEIRA PINTO
Foto: © Jorge Picado (2010). Direitos reservados.



Esta foto, que não está datada, pode referir-se ou não à visita destas individualidades neste dia. De qualquer modo, pelo aparato que se vê, não se refere a um dia normal, mas antes “festivo”.

Como se pode verificar, havia um cais feito de pedra e argamassa de cimento para a acostagem dos navios de cabotagem e militares, bem como uma rampa de acesso para colocação e recolha dos botes de borracha militares – e não só – e que permitia a acostagem das lanchas de desembarque que assim podiam embarcar e desembarcar viaturas e outras cargas.

Neste dia estava atracado um barco local de cabotagem e, a este, uma lancha de desembarque pequena (LDP) vendo-se ainda um bote de borracha dos Fuzos. Note-se que não era um dia normal, pois aparenta haver muita animação no cais, já que além dos militares, alguns até em calções de banho – o que não constituía surpresa visto que, quando de folga, aproveitavam para “brincar” na água –, vêm-se muitos nativos – crianças, homens e mulheres, algumas de guarda-sol aberto, lá bem no fundo – cuja presença daquele modo não se me afigura justificável pelo simples facto de haver um barco de cabotagem ali acostado. Como mera curiosidade sobressaem várias bicicletas e motorizadas – pertença do pessoal nativo – meios de transporte muito vulgarizados por aquelas bandas.


SETEMBRO/71

Em 19, recebeu-se a visita do Deputado Inglês do Partido Conservador, Ian Sproat, a quem se proporcionou o habitual “briefing” e uma volta pela vila, seguindo depois para PELUNDO onde almoçou. Após um rápido passeio pela localidade, seguiu-se para JOLMETE. Aqui se jantou e pernoitou junto das NT aí aquarteladas, podendo assim o visitante tomar conhecimento com as precárias condições a que as NT estavam sujeitos e o seu grau de isolamento numa zona onde existia um importante “corredor de trânsito IN” para abastecimento do CHURO-COBOIANA.

Em 28, depois de regressar pela manhã(?) a TEIXEIRA PINTO com o súbdito de Sua Majestade Britânica, após o almoço acompanhei um fotógrafo da REP/ACAP a BAJOPE, CHUROBRIQUE, BINHANTE e PELUNDO, para mais uma sessão de recolha de fotos promocionais.


OUTUBRO/71

Em 19, chegou a TEIXEIRA PINTO, na coluna de regresso de BISSAU, Sheike Sabidou, um Chefe Religioso(?) da Mauritânia, para contacto com os naturais deste concelho. Não ficou a sua estadia a cargo do CAOP 1, pois creio ter ficado a expensas do Chefe da Tabanca dos Mandingas da povoação, mas as deslocações para fora ficaram a cargo do Agrupamento.

No dia 24 realizou-se uma sessão na sede do Clube local – FC TEIXEIRA PINTO – pelas 10H, na qual ele falou para a população local. Evidentemente que assisti, no âmbito das funções que me competiam.

A 25, segui às 8H30M para o PELUNDO, acompanhando o Sheike Sadibou e respectiva comitiva, apresentando-o ao respectivo Comandante Militar.

Da visita desta Entidade Muçulmana da Mauritânia, guardo cópia de uma informação que elaborei e que, antes das férias do passado verão remeti para publicação no Blogue. Como naturalmente ficou perdida no imenso porão segue agora naturalmente.

Remeto em anexo o rascunho, com as correcções efectuadas antes da apresentação ao meu superior, Maj Lobo da Costa, da informação respeitante à VISITA DUMA ENTIDADE MUÇULMANA DA MAURITÂNIA AO CHÃO MANJACO.

Na perspectiva de não ficar legível o documento, transcrevo-o.

Em 18OUT71 o CAOP 1 foi informado telefonicamente por um oficial da REP ACAP (COMCHEFE) da vinda do SHEIKE SADIBOU na coluna de 19OUT.

Em 20OUT pela manhã, apresentou-se neste Comando o civil SHERIFO BALDÉ solicitando uma viatura para aquela entidade, não sabendo explicar qual o fim a que se destinava. Na ausência do Snr. Administrador, foi o mesmo acompanhado ao Snr. Secretário da Administração a quem foi exposto o assunto, sendo-lhe comunicado que deveria o referido SHEIKE SADIBOU apresentar-se na Administração para, ao mesmo tempo que apresentaria cumprimentos à entidade civil se providenciar para a resolução da sua petição.

Pouco tempo depois, apresentou-se no CAOP 1 a individualidade em causa, acompanhado de ALADJE INJAI – Chefe da Tabanca dos Mandingas – que vinha apresentar cumprimentos e solicitar viatura. Na ausência do Exm.º Comandante e na impossibilidade do Chefe do EM, nesse momento em reunião de trabalho com os empreiteiros da estrada, foi recebido pelo OF. APSIC.

Desta conversa há a salientar o seguinte:

- a viatura destinava-se apenas ao transporte do SHEIKE SADIBOU de casa à Mesquita (cerca de 100 m);

- comunicou-se-lhe que a administração facultar-lhe-ia a viatura, mas devia dirigir-se ao Snr. Secretário;

- relutância da individualidade em assumir tal atitude, declarando que apenas tinha de contactar com as Autoridades Militares. Posteriormente verificou-se que não foi à Administração;

- foi-lhe comunicado que as suas deslocações para fora de T.PINTO ficariam a cargo deste Comando.

Em 21 OUT cerca das 0830 o chefe Mandinga, ALADJE INJAI, esteve neste Comando a informar e a convidar para assistir a uma reunião que teria lugar no largo da Missão do Sono. Ficou combinado que mandaria avisar quando a população estivesse reunida, não o fazendo, apesar de posteriormente se ter tido conhecimento de que se realizou a referida reunião.

Em 22OUT à tarde, o Snr. Administrador compareceu com o SHEIKE SADIBOU e Homens Grandes Muçulmanos, sendo recebido pelo Exm.º Comandante, tendo ficado planeado o seguinte:

- 231500OUT cedência de 2 jeeps para uma visita ao Régulo da COSTA DE BAIXO;

- 240800OUT sessão na sala de cinema do Clube de T.PINTO;

- 250830OUT transporte do SHEIKE SADIBOU e Homens Grandes Muçulmanos ao PELUNDO;

- 26OUT transporte do SHEIKE SADIBOU do PELUNDO para BULA.

Posteriormente foi alterada a ida para BULA, que passou a ser na coluna de 29OUT.

Em 241000OUT realizou-se a sessão atrás indicada em que estiveram presentes o Snr. Administrador do Concelho, um Delegado do CAOP, o Rev. Padre FAUSTINO e o Régulo BATICÃ FERREIRA. A palestra proferida durante cerca de 1H45M pelo SHEIKE SADIBOU em marabu e traduzida para crioulo foi integralmente gravada, tendo abordado os seguintes tópicos:

- necessidade e importância de escolarização;

- necessidade do trabalho para desenvolvimento dos povos;

- alusão à união e adesão de todos na colaboração do esforço feito pelo Governo da Província para elevar a população da Guiné;

- igualdade dos sexos no trabalho e responsabilidades no desenvolvimento da sua terra;

- afinidades das religiões católica e muçulmana;

- aspectos puramente religiosos islâmicos;

- novas referências ao trabalho efectuado pelo Governador da Província;

- finalizou com a formulação de preces para que sejam concedidas Bênçãos a todos quantos trabalham no esforço de desenvolvimento da Guiné Portuguesa.

Em 250830OUT foi conduzido ao PELUNDO pelo Delegado do CAOP 1 que o apresentou ao Comandante Militar.

Segundo informações do Comandante do BCaç 3833 a visita ao PELUNDO decorreu bem, sendo na reunião realizada abordados os mesmos assuntos da de T.PINTO.

Assinado: JMSPicado
Cap.Mil.”


Conforme escrevi à mão no canto superior direito, esta informação foi transcrita na Nota n.º ? de 27OUT71 dirigida à REPACAP.

Quando refiro na informação “Delegado do CAOP 1”, só posso estar a referir-me a mim próprio, pois se assim não fosse acrescentaria o Posto respectivo.

Não me peçam mais pormenores, por que não os poderei fornecer. Se este papel não tivesse “sobrevivido”, apenas podia dizer que no dia 24OUT71, um domingo, tinha havido aquela sessão e no dia seguinte tinha ido para o PELUNDO às 8H30M, acompanhando o visitante.

Em 28, chegada do jornalista Francês, Phillip Marcovici, do jornal Combat, que nesse dia foi submetido ao tratamento de costume, na sede.

No dia seguinte (29) seguimos para BINHANTE, CHUROBRIQUE e para os trabalhos na estrada BACHILE-CACHEU.

A estadia deste jornalista prolongou-se até 1NOV, tendo-o acompanhado em 31OUT e 1NOV, como consta da Agenda, mas sem a indicação de locais. Porquê. Mero esquecimento ou teria permanecido em T.PINTO? Tenho imensas dúvidas que assim fosse, pois na sede, a permanência mais prolongada, quando muito só para dormida, já que os dias tinham de ser aproveitados para acções promocionais…

Entretanto, o Sheike Sadibou que devia ter seguido para BULA a 26 afim de continuar com a sua “endoutrinação”, só o fez neste dia, ficando entregue aos cuidados do BCaç respectivo, mas já sem a minha companhia.


NOVEMBRO/71

A 6, chegada de outro jornalista, o Português Santana da Mota, correspondente do jornal brasileiro Estado de S. Paulo. Não deve ter saído da sede…

A 9, mais um jornalista Português, Redondo Júnior, chefe de redacção de O Século. Passou por CHUROBRIQUE, BACHILE e PELUNDO, onde almoçou.

A 10, visita de Neil Bruce, Inglês, correspondente do jornal The Economist e Prof. de Ciência Política e História Contemporânea da U.I. Keele. Também não assinalei localidades!

A 22, nova visita, agora do Brigadeiro Inglês e jornalista, Michael Calvert, que também era Prof. de História (?).

Este visitante deslocou-se, pelo menos, à frente de construção na estrada para o CACHEU, cujos trabalhos se situavam, na altura, algures entre o BACHILE e CAPÓ.

Participei nesta deslocação em deficientes condições de saúde, em consequência duma grave intoxicação alimentar sofrida no almoço da véspera, um domingo, que constava de sardinhas de conserva. Por ter sido o primeiro a ser servido fui o único afectado, pois assim que engoli a primeira e única garfada dei o alerta de possível deterioração uma vez que o gosto era horrível. Alguém, não posso precisar quem, apenas colocou uma muito pequena porção na língua, confirmou e ninguém mais tocou naquela comida. Cerca de 2 horas depois os efeitos apareceram, ficando com o corpo em estado deplorável com uma urticária quase total e comichão insuportável. “Não fui desta para melhor”, como é costume dizer-se, mas fiquei mal, acabando por seguir na coluna do dia seguinte, terça-feira 23, para o HM em BISSAU, onde fiquei internado.


DEZEMBRO/71

Em 22, visita do jornalista Português, Metzener Leone, que se deslocou a CHUROBRIQUE e ao BACHILE.


JANEIRO/72

A 17, deve ter sido o último acompanhamento duma visita, neste caso do jornalista Português do Diário Popular, Botelho da Silva, bem como de uma Sub-inspectora dos Serviços de, Educação ou Saúde?

Durante a tarde houve deslocação, pelo menos da Sub-inspectora, a BAJOPE e BINHANTE, não sei se o jornalista acompanhou ou foi para outro destino, mas nesta data já andava perfeitamente fora de mim, assoberbado com a tarefa de regularizar a minha situação militar, uma vez que o Comandante do CAOP, Cor Rafael Durão, me tinha confirmado que me “passaria a guia de marcha” nos primeiros dias de Fevereiro, mesmo sem substituto.

E por agora já chega.
Jorge Picado
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4681: Estórias de Jorge Picado (9): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (V): Passeio fluvial pelos rios Baboque e Mansoa

Vd. último poste da série de 25 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5339: Estórias de Jorge Picado (10): Como fui a Fátima a pé, comandando a CART 2732