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domingo, 1 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8193: Convívios (321): O encontro da CCAÇ 3477 - Gringos de Guileje -, vai decorrer em 28 de Maio 2011, na Ericeira (Abílio Delgado)




1. O nosso Camarada Abílio Delgado, ex-Cap Mil da CCAÇ 3477 “Gringos de Guileje”, Guileje, 1971/73, enviou ao Luís Graça, com pedido de publicação, o programa da festa anual da sua companhia.

ENCONTRO DA CCAÇ 3477 “GRINGOS DE GUILEJE”
DIA 28 de MAIO NA ERICEIRA


O encontro da CCAÇ 3477 - Gringos de Guileje -, vai decorrer no dia 28 de Maio 2011, no Restaurante "Estrela do Mar"- em Ribamar -, na Ericeira, com o seguinte programa:
10H30 - Concentração frente o Convento de Mafra;
11H00 - Passeio em comboio turístico pela Tapada Real de Mafra;
13H00 – Almoço.

Se nos quiseres honrar com a tua presença, será um enorme prazer.

Abraço
Abílio Delgado Cap Mil da CCAÇ 3477
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
1 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8192: Convívios (315): Lampreiada e visita ao aproveitamento hidroeléctrico de Crestuma-Lever, 30 de Abril (Magalhães Ribeiro)

terça-feira, 26 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8168: Efemérides (66): 41º Aniversário do regresso, em 25/4/1970, no N/M Ana Mafalda, da CART 2410, Os Dráculas (Gadamael e Guileje, 1968/70) (José Barros Rocha)



N/M Ana Malfada > Abril de 1970 > Malta da CART 2410 >  Legenda do fotógrafo: "Porão do Ana Mafalda. Assim viajaram os soldados"...


Lisboa > O N/M Ana Mafalda, navio misto (mercadorias e passageiros), que tinha o comprimento (fora a fora) de um campo de futebol...lAlojamentos para 16 passageiros em primeira classe, 24 em segunda e 12 em terceira classe, no total de 52... Nº de tripulantes: 47...


Lisboa > Estuário do Tejo > 25 de Abril de 1970 > A chegada do N/M Ana Mafalda, tendo do lado direito o monumento do Cristo Rei (inaugurado em 1959) e o Olho de Boi, no cais do Ginjal, Cacilhas, na margem esquerda do Rio Tejo, concelho de Almada.

Fotos (e legendas): © José Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
 
1. Mensagem do nosso camarada, empregado bancário reformado, a viver em Penafiel,  José Rocha, ou José Barros Rcoha, ex-Alf Mil, CART 2410, Os Dráculos (Guileje e Gadamael, 1968/70) (*)

Data: 25 de Abril de 2011 14:56
Assunto: 41º Aniversário do regresso da Guiné da CART 2410

Olá, Camarigos!

Espero que tenham tido um óptimo Dia de Páscoa! E que os "coelhinhos" do Miguel Pessoa não hajam "sofrido" muito...

Venho ao vosso encontro para comunicar que hoje, 25 de Abril, a minha Companhia - CART 2410 - celebra o 41º aniversário do regresso da Guiné, no ANA MAFALDA! (**)

Vou tentar enviar umas fotos alusivas ao dia 25 de Abril de 1970.

Um abraço Camarigo para todos!
José Rocha, ex-Alf Mil [, foto à esquerda]
____________

Nota do editor:

(*) Vd. outros psotes do José Rocha:

23 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2574: Estórias de Guileje (9): O massacre de Sangonhá, pela Força Aérea, em 6 de Janeiro de 1969 (José Rocha)

18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1443: Contributo para a história da construção do aquartelamento de Guileje (José Barros Rocha, CART 2410, Os Dráculas, 1969/70)

(**) A CART 2410 foi mobilizada pelo GACA 2, embarcou em 11/8/1968 e regressou a 18/4/1970. Esteve em Gadamael e Guileje. Comandante: Cap Mil Art Amílcar Cardigos Pereira. A CART 2410, Os Dráculas, está também representada no nosso blogue pelo ex-Fur Mil do 4.º Gr Comb Luís Guerreiro (que vive hoje na Canadá).
18 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2663: Tabanca Grande (58): Luís Guerreiro, ex-Fur Mil da CART 2410 e Pel Caç Nat 65 (Ganturé, 1968/70)

23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3086: Memórias dos Lugares (10): Gadamael, CART 2410, 1968/69, Parte I (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá)
 
23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3087: Memórias dos Lugares (11): Gadamael, CART 2410, 1968/69, Parte II (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá)
 
22 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7156: Memória dos lugares (102): Gadamael: a misteriosa sigla A.S.C.O já lá estava no tempo do Luís Guerreiro (1969) e do José Gonçalves (1974), dois camaradas que vivem no Canadá
 
(***) Último poste da série > 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8059: Efemérides (64): Freguesia de Mar-Esposende: Homenagem aos ex-Combatentes no dia 1 de Maio de 2011 (José F. Silva/Fernando Cepa)

sábado, 25 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7502: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (19): José Barros Rocha, de Penafiel, ex- Alf Mil, CART 2419 (Mansoa, 1979/70)

Região de Tombali > Guileje > 1969 CART 2410, Os Dráculas (Junho de 1969; Março de 1970) > Alf Mil José Barros Rocha, reformado da actividade bancário, natural de Penafiel, se não erro... [,foto à esquerda].

1. Notícias de um camarada José Barros Rocha (não confundir com o com popular José Rocha, ex-Alf  Mil da CCS/ BBCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70, amigo do António Pimentel, nosso amigo também, membro da Tabanca de Matosinhos, mas que ainda não se inscreveu na Tabanca Grande: estranha contradição, quem pertence à Tabanca Pequena deveria passar automaticamente a pertencer à Tabanca Grande, mas não: as regras são diferentes, a filosofia organizativa também é um bocado diferente...).  

Estamos a falar de um camarigo do Norte, um homem que na Guiné esteve no sul, e eu eu conheci por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje... membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007. Foi ele quem nos alertou para batalha de Sangonhá. (LH)


De: José Rocha

Data: 24 de Dezembro de 2010 14:12

«Então, Luís:
Que raio de de maleita essa - ciática - te havia de apoquentar e numa altura destas!!!....
Só quero desejar-te as mais rápidas melhoras e que consigas uma noite de Consoada o mais tranquila possível na companhia dos que de ti estão e são mais próximos.

As tuas melhoras!
Feliz NATAL!

Aquele abraço "camarigo"!
José Rocha


P.S. - Os votos de melhoras são extensivos a todos os "camarigos" que neste momento se encontrem menos bem.

___________________

Nota de L.G.:


ÚItimo poste da série > 25 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7499: Agostinho Gaspar, de Leiria ( 3ª CCAÇ / BCCAÇ 4162, Mansoa, 1972/74)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7147: Tabanca Grande (248): Augusto José Saraiva Vilaça, ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914 (Sangonhá e Cacoca, 1967/69)

1. Mensagem de Augusto José Saraiva Vilaça (ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914, Sangonhá e Cacoca, 1967/69), com data de 10 de Outubro de 2010:

Olá, Luís.

Não sei quem és, mas só por seres ex-combatente na Guiné já diz tudo.
Também lá estive e gostava de fazer parte da tua espectacular exposição. Todos não seremos muitos, mais um será positivo.

Diz-me só o que devo fazer para contribuir para essa nobre página que abriste e colaborarei com fotos e acontecimentos pois sou DFA.

Quem me informou foi o nosso camarada Pimentel. É que só agora optei por ter um computador para me entreter.

Abraço, Luís. Bem hajas.


2. Segunda mensagem de Augusto Vilaça com data de 17 de Outubro de 2010:

Meu caro companheiro, tenho muito gosto em poder participar no historial daqueles que estiveram na Guiné.

Aqui vai resumidamente essa passagem:

Sou: Augusto José Saraiva Vilaça, 66 anos, natural do Porto.
Entrei para a vida militar em 10 de janeiro 1966 para o CISMI - Curso Instrução Sargentos Milicianos Infantaria.

Em Abril, por escolha minha, optando por artilharia, fui tirar a especialidade na EPA - Escola Pratica Artilharia.

Fui destacado para a Guiné, e em 8 Abril 1967 embarquei no Uíge chegando a Bissau em 14 Abril 1967.

Começou aqui a minha história do Ultramar. O nosso capitão Veiga da Fonseca chamou os furriéis, sargentos e oficiais para dar uma lição de ética e de patriotismo.

Saídos de noite do Uige para uma barcaça... sem qualquer tipo de armamento. A meio da noite a barcaça parou devido à bolanha não ter condições para prosseguir! Que ansiedade no meio daquela escuridão toda.

Recomeçámos o andamento até que aportámos em Gadamael. Daí, a Companhia foi dividida, isto é, metade para o aquartelamento, Sangonhá, metade para o acampamento, Cacoca. Isto funcionou como uma adaptação ao terreno. Apanhei o primeiro susto aqui, em Cacoca quando um informador foi dizer ao oficial destacado que se previa uma invasão de turras nessa noite!!! Ficamos todos a tremer e há que tomar posições. Os vigias, de quando em vez, disparavam um tiro de G3 ao ouvirem um ruído no mato!! Isto durante toda a noite.

Clareou. Exaustos, sem saber o que se tinha passado...

O general Schultz, na altura, envia uma mensagem ao nosso capitão com ordem para transferir a Companhia para Cacine, aquartelamento, e Cameconde, destacamento. Calhou-me Cacine.

As primeiras saídas do aquartelamento foram inesquecíveis dado que, aqui nesta zona, havia fortes probabilidades de ataques dos turras.

No próprio dia da chegada a Cacine, ainda não tínhamos tomado conhecimento fisico do quartel quando começaram a "chover" os primeiros rockets... Oh minha mãe, que confusão, que "medo", só os rebentamentos eram temerários. Consegui chegar ao meu abrigo e aí comecei a ripostar com morteiro 120. Passados 10 longos minutos, os turras pararam.

Os principais receios eram: a picada do aquartelamento, em coluna, com segurança de Daimlers para o destacamento e volta; o ir buscar água; as flagelações; as picadas no mato; as emboscadas, etc., etc.

O meu baptismo de fogo real, frente a frente,  foi numa emboscada que montámos no famoso corredor da morte em Guileje. Foi "espectacular" a troca de tiros, os rockets.

A minha secção de morteiro mandou algumas "bojardas". O nosso capitão abriu o fogo. Fizemos 4 mortes e recuperámos armas, bazucas e munições. Fizemos "ronco". Fomos aplaudidos em Guileje pelos companheiros que lá estavam.

Muitos soldados, mal chegaram a Guileje, tiveram de mudar de fardamento pois não aguentaram a pressão e ansiedade vividos após a montagem da emboscada até à passagem dos turras.

Infelizmente fui evacuado, em Fevereiro 1968 para o Hospital Militar de Bissau. Fiz os exames normais e foi-me detectada uma úlcera no estômago tendo regressado a Lisboa num Skymaster da Força Aérea.
Esta enfermidade foi devida ao desgaste, não só emocional como também ao desgaste físico. Podeis ver a foto que envio tirada em Sangonhá.

Só um elogio a um Homem que soube comandar disciplinarmente e ao mesmo tempo amigavelmente uma Companhia. Esse Homem foi o nosso capitão VEIGA DA FONSECA.




2. Comentário de CV

Caro Vilaça, bem-vindo à Tabanca.
Pela tua apresentação verificamos que estiveste na Guiné menos de um ano por motivos de doença. Como se costuma dizer, há males que vêm por bem. Esperamos que não tenham ficado sequelas para o resto da vida.

Apesar da tua saída airosa, antes do tempo regulamentar, não te dispensamos da obrigação de nos contares as tuas recordações daqueles meses de luta e privações de toda a ordem.

Se tiveres fotos que julgavas que jamais veriam a luz do dia, manda-as para nós que serão publicadas como novas.

Não nos dizes qual foi a tua Unidade, mas pelas minhas pesquisas pertenceste à CART 1692/BART 1914. No teu próximo contacto esperamos a confirmação.

Na quase certeza de teres pertencido ao BART 1914, deves ter conhecido na tua Companhia o então Alferes António José Pereira da Costa, actualmente Coronel Reformado, nosso tertuliano.

Para saberes como somos e o que queremos com este trabalho, lê o lado esquerdo da nossa página. Podes pesquisar no Blogue utilizando os marcadores disponíveis por locais, autores, Unidades, assuntos, séries, etc. Tens um manancial de informação disponível à tua disposição.

Quero enviar-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.


O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7085: Tabanca Grande (247): Alberto José dos Santos Antunes, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2402 (Olossato) e CCAÇ 5 (Canjadude) (1970/72)

domingo, 16 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6400: Convívios (240): 4º Encontro da CCAÇ 3477 “Os Gringos de Guileje”, Águeda, 8 de Maio de 2010 (Herlânder Simões / Amaro Samúdio)


1. Os nossos Camaradas Herlânder Simões (ex-Fur Mil At Inf) e Amaro Munhoz Samúdio (ex-1º Cabo Enfermeiro), da CCAÇ 3477, "Gringos de Guileje” - Guileje - 1971/73, enviaram-nos notícias e fotos da festa da sua Companhia:


4º Encontro da CAÇ 3477 “Gringos de Guileje”
Camaradas,
Realizou-se ontem 8 de Maio, o 4º Encontro dos “Gringos de Guileje”, em Sangalhos, nas Caves Aliança.
A organização do evento, que foi excelente, esteve a cargo do ex-Fur Mil Manuel Albano Abrantes da Costa.
Foi um encontro bastante emotivo onde estiveram presentes, pela primeira vez, alguns camaradas dos Gringos.
Esteve ainda presente o ex-Alf Mil Manuel Reis dos “Piratas de Guileje”, a Companhia que rendeu os Gringos, em Guileje.

Uma boa cabidela de leitão e um excelente leitão bem regado, para além de uma colectânea de excelentes slides de Guiléje, que nos foram trazidos pelo Abrantes Costa.

Ficou já marcado o próximo encontro, que será organizado pelo nosso comandante o ex-Cap Mil Abílio Delgado, com a preciosa colaboração do ex-Fur Mil Parreiras.
O Amaro com o seu neto nas Caves e na Exposição do Berardo e, ao fundo, o ex-Capitão dos Gringos Abílio Delgado
Um Abraço,
Herlander Simões
Fur Mil At Inf, e
Amaro Samúdio
1º Cabo Enf da CCAÇ 3477

P.S. - O Herlander aproveita esta oportunidade, para agradecer publicamente ao seu Amigo e Camarada Amaro Samúdio, por ser um dos principais responsáveis pelos reencontros dos Gringos.
Miniguão de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
_____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
15 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6398: Convívios (154): 1º Encontro/Convívio das 3ª CCAÇ e CCAÇ 5 “Gatos Pretos” (José M. Martins)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5602: Histórias do Eduardo Campos (3): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério, Cadique/Cantanhez (Parte 3): Nós e o PAIGC no Cantanhez

1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a sua 3ª mensagem em 6 de Janeiro de 2010:

C. CAÇ 4540 – 72/74

"SOMOS UM CASO SÉRIO"




PARTE 3
CADIQUE/CANTANHEZ


De novo em Cadique e como “prémio” do meu regresso, fui brindado com a informação do meu furriel, que no dia seguinte iria sair com dois grupos de combate, para fazer protecção à coluna de viaturas que iria abastecer Jemberem.





Por volta das 05h00, saímos do acampamento, picada fora e fomos estacionar sensivelmente a meio da estrada Cadique/Jemberem.

Durante o percurso, sempre atrás do capitão e com o rádio AVP 1, o mais escondido possível, lá ia enviando umas “bocas” para o meu amigo Alferes Pereira, que vinha com o outro grupo.

Tudo corria na perfeição e já com as viaturas de regresso a Cadique, era suposto pelo menos um grupo aproveitar a "boleia” de regresso, enquanto o outro grupo iria inspeccionar um campo de minas existente na zona. Às ordens do capitão, o meu grupo começou a deslocar-se em direcção á estrada, para apanhar as viaturas, e não é que, do outro da lado da estrada, surgiu um outro grupo, pertencente a outra Companhia, a fazer a mesmo?!

Este episódio poderia ter tido consequências de maior, já que aos gritos o meu capitão mandava recuar o outro grupo, ao qual o alferes que o comandava, também aos gritos, dizia que nem pensar.

Depois de uma gritaria louca, o alferes levou a melhor e nós, que estávamos ainda muito perto da orla da mata, toca a deitar no chão e aguardarmos que os mesmos fossem á vidinha deles.

Aquando da nossa chegada ao CANTANHEZ, o PAIGC movimentava-se de facto à vontade, pois foram encontradas escolas, onde recolhi um “troféu” (um livro de 1ª Classe) e um lápis. O livro ofereci-o, nos finais dos anos 70, a um amigo meu.

Foi encontrado também uma arrecadação de munições, um posto sanitário e uma instalação que servia de Registo Civil (o que se comprovou pelos documentos ali encontrados).

O PAIGC fazia entrar os seus efectivos, provenientes das bases da República da Guiné, utilizando o “corredor” de Guileje e outros, e “cambando” o Rio Cacine, para depois se infiltrar nas matas do Cantanhez.

As cambanças entre o Tombali e o Cantanhez eram habitualmente feitas entre Cabobol-Balanta e a Bolanha de Caboxanque. O itinerário normalmente seguido pelas colunas de reabastecimento para este sector ou para o Como, era a seguinte: Salancur Cul – Bolhé Imbumbu – Cruzamento do Iem – Janganc-Laucahndé – Cadique – Cafal Caque – Darsalame.

Com a recuperação da zona do Cantanhez, o PAIGC teve de abandonar apressadamente a área que inicialmente controlava, para se refugiar em outras zonas. Existiam alguns acampamentos clandestinos camuflados sob as matas de Cadique Iala, que foram completamente queimados e destruídos.


O PAIGC abastecia-se de arroz, colhido nas bolanhas da bacia do Cumbijã, que eram bastantes férteis e produziam intensamente, fruto do trabalho das populações locais. ~

 

Não me pareceu que as populações fossem forçados a ceder o arroz ao PAIGC, uma vez que elas estavam a seu lado e, se deixavam de lhes prestarem auxílio alimentar, ou outro, foi porque, sem qualquer demagogia da minha parte, ficavam aprisionadas na área do nosso aquartelamento.

À data do desembarque da CCaç 4540 em Cadique, era a seguinte a situação do IN, segundo informações dos S.I.M.:

  • 1 Bigrupo Comandado por Bacar Mané
  • 1 Bigrupo Comandado por Lourenço Ferreira
  • 1 Secção de Artilharia Ligeira Comandado por Mamadu Djassi
  • 6 Grupos FAL
Cadique Imbitina: Biaia Nan Bagna – Comandante de Grupo, armado de PPSH e os restantes elementos FAL armados de carabinas e espingardas Simonov.

Cadique Iala: Fiere Na Santa e Pana na Curtché - Prováveis comandantes de Grupo.

Chefes Políticos: Sana Na Bué – Presidente do Comité.

Comissário Politico: Via Na Chindi.

Cadique Nalú: Abu Camará – Comandante de Grupo.

Chefe Político: Presidente de Comité.

Geraldo (papel) – Responsável pelos reabastecimentos no Cubucaré.


A missão da nossa Companhia em Cadique iria ser desenvolvida, principalmente em duas actividades: (i) no campo militar: (ii) no domínio sócio-económico.
(i) Campo Militar:
  • Instalar-se na povoação, por forma a assegurar a defesa eficiente da população.
  • Consolidar as suas instalações defensivas, em ordem a melhor poder defender os aglomerados populacionais e reagir a eventual actividade do PAIGC.
  • Assegurar a posse e livre utilização dos portos fluviais, para que nós, os militares, e a população, pudéssemos navegar no Rio Combijã, montagem de peças de Artilharia, criação de Serviços Informação Militares, protecção à construção da estrada Cadique/Jemberem, etc.
(ii) Domínio Socio-Económico:

  • Desenvolver, com intensidade, os trabalhos de Construção do Reordenamento de Cadique, Porto, Heliporto, etc.
  • Assegurar o funcionamento dos seus Postos Escolares Militares, prestar assistência sanitária às populações, etc.
O PAIGC exercia desde o início da guerra uma forte propaganda psicológica sobre as populações, não admirando, portanto, que estas gentes se encontrassem fortemente mentalizadas pela sua ideologia.

Como muitos outros jovens da minha geração, na época, de política pouco sabia, a não ser que grandes potências coloniais como o Reino Unido, a França e a Bélgica foram obrigadas a entregarem o seus impérios e Portugal teimava em resistir nos que então administrava.
Com estes acontecimentos vividos no teatro da guerra, comecei a interrogar-me sobre: “OS PORQUÊS DESTA GUERRA?”




Foto 28 - Why? Porquê? (Poster de autor desconhecido)

Um abraço Amigo,

Eduardo Campos

1º Cabo Telegrafista da CCaç 4540


Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
_____________

Notas de M.R.:

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sábado, 26 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5540: Memória dos lugares (60): Mais notícias da Cart 2410 (1) (Luís Guerreiro)


1. O nosso Camarada Luís Guerreiro, ex-Fur Mil do 4.º Gr Comb da CART 2410 e mais tarde do Pel Caç Nat 65, Ganturé, 1968/70, e que desde 1971 reside em Montreal, no Canadá, enviou ao Luís Graça a seguinte mensagem:

Mais notícias da Cart 2410

Camaradas,Envio mais algumas notícias da Cart 2410, com fotos de Ganturé e de Gadamael, aonde chegámos nos fins de Setembro de 1968.Em 21 de Junho de 1969, seguimos para Guileje, tendo eu, nessa altura, sido transferido para o segundo e o quarto grupos de combate.

O resto da companhia ficou aí definitivamente colocada, no dia 26 do mesmo mês.

Além das fotos, envio também a lista dos militares que embarcaram no navio Uíge, em 11 de Agosto de 1968 (3 páginas), bem como a lista das operações que executamos e dos ataques que sofremos nestes dois aquartelamentos (2 páginas).

2. A mensagem enviada pelo Luís Guerreiro, traz anexas 5 páginas e 16 fotografias, o que, para publicar num só poste, se tornaria demasiado “pesado” e pouco prático para “carregar” no blogue. Assim, partiu-se o material enviado em dois postes, sendo que neste primeiro se apresentam a lista dos militares que embarcaram no navio Uíge, em 11 de Agosto de 1968 (3 páginas) e a lista das operações que executou a CArt 2510 e dos ataques que sofreram nos dois aquartelamentos (2 páginas).

No segundo poste publicar-se-á as 16 fotos.

1. Guião da companhia (CArt 2410)
2. Lista dos militares da CArt 2410 (1)

3. Lista dos militares da CArt 2410 (2)

4. Lista dos militares da CArt 2410 (3)


5. Lista das operações e ataques (1)


6. Lista das operações e ataques (2)

Um abraço,
Luis Guerreiro
Fur Mil da CART 2410 e Pel Caç Nat 65

Páginas e legendas: © Luís Guerreiro (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4986: Parabéns a você (27): O veterano Coutinho e Lima, Cor Art Ref, Gadamael (1963/65), Bissau (1968/70), COP 5 (1972/73)

Hoje, dia 21 de Setembro de 2009, faz anos o nosso camarada Coutinho e Lima, Cor Art Ref, a quem vimos desejar muitos anos de vida na companhia dos seus familiares e amigos.

Alexandre da Costa Coutinho e Lima nasceu no lindo Distrito de Viana do Castelo. Militar do Quadro Permanente das Forças Armadas Portuguesas, fez duas comissões de serviço na Guiné, com o posto de Capitão e uma terceira como Major:

A primeira entre 1963 e 1965, como comandante da CART 494, a primeira Companhia que esteve aquartelada em Gadamael (Dez 63/Mai 65); a segunda entre 1968 e 1970, como Adjunto da Repartição de Operações do Comando-Chefe das FA da Guiné (devendo-se a sua colocação ao facto de ser Observador Aéreo de Artilharia, que era Especialidade de Mobilização); a terceira comissão, iniciou-a em Setembro de 1972, tendo sido nomeado por Spínola como comandante do COP 5, com sede em Guileje, em Janeiro de 1973.

Em 22 de Maio de 1973, Coutinho e Lima protagonizou um dos mais controversos acontecimentos da guerra colonial, ao retirar, por sua iniciativa, de Guileje, levando consigo (até Gadamael), não só a tropa à sua responsabilidade (cerca de 200 homens), como também toda a população local (cerca de 600).

Imagem aérea de Guileje.

Foto: © Amaro Samúdio (2008). Direitos reservados


Na difícil hora da retirada, depois de 9 anos de guarnições militares em Guileje, a coluna dirige-se para outro inferno, Gadamael.

Foto de autor desconhecido. E que, com a devida vénia, se reproduz



A história faz-se de factos concretos e não de especulações abstractas, pelo que não podemos dizer o que teria acontecido se Coutinho e Lima se mantivesse firme no seu posto, pondo em risco, do seu ponto de vista, a segurança e a vida dos militares e da população de que era (e se sentia) responsável. (Recorde-se que Guileje foi ocupado pelo PAIGC, três dias depois, em 25 de Maio de 1973).

Muito provavelmente não teria mudado em nada o rumo da história, mas talvez estivéssemos agora a lamentar mais umas mortes escusadas, de um lado e do outro. Ficou a acção que a sua consciência ditou, e que lhe valeu a prisão preventiva (cerca de um ano, de 22 de Maio de 1973 a 12 de Maio de 1974), com instauração de um Auto de Corpo Delito. Em consequência do 25 de Abril de 1974, os crimes que lhe eram imputados, foram amnistiados por Decreto-Lei da Junta de Salvação Nacional, sendo o processo arquivado.

O caso Coutinho e Lima foi por demais analisado, escalpelizado e discutido neste Blogue e, se o trago de novo aqui, é porque não podemos deixar de lembrar o seu livro A Retirada de Guileje, 22 de Maio 1973: A Verdade dos Factos (edição de autor, 2008), onde o nosso camarada conta todos (ou quase todos) os pormenores daquelas horas difíceis culminando numa resolução, reflectida mas temerária, por parte de um Oficial do Quadro Permanente, que sabia de antemão estar sujeito ao pior castigo, a prisão e a mais que provável expulsão do Exército Português.

Independentemente da opinião de cada um de nós sobre a decisão tomada no já longínquo 22 de Maio de 1973, o que importa sublinhar é que hoje é o dia de Coutinho e Lima, o dia em que completa mais um ano na vida. É um dia de festa e ninguém vai estragá-lo...

Como acontece com todos os camaradas que fazem anos de vida, estamos aqui para nos congratularmos por mais este aniversário e manifestarmo-lhe o nosso apreço e amizade como ex-combatente da Guiné, em igualdade de circunstâncias com todos os demais. A dádiva da vida deve sobrepor-se, sempre, aos pontos de vista, circunstanciais, de cada um de nós, relativamente aos acontecimentos de que o Coutinho e Lima foi protagonista. Como é timbre do nosso blogue, não somos juízes de ninguém. E hoje vamos poupar o nosso aniversariante às polémicas de que foi alvo. Noutro dia, publicaremos mais um texto que ele nos mandou, ainda a propósito da sua decisão de retirada...

Da esquerda para a direita: José Rocha, ex-Alf Mil, CART 2410, Os Dráculas, e Alexandre Coutinho e Lima, antigo Comandante do COP 5 (1973).

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > Coutinho e Lima, depois de ser homenageado pela antiga população de Guileje (que hoje vive em Mero), deixa-se fotografar no recinto do antigo aquartelamento, com o traje de home sábio, a chabadora, que lhe impuseram...

Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Dois homens de Guileje: à direita, o Cor Art Ref Coutinho e Lima, e à sua esquerda, o ex-Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, da CCAV 8350

O Cor Coutinho e Lima fala aos presentes no III Encontro Nacional da Tertúlia. Acompanha-o o nosso Editor Luís Graça

Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.


Coutinho e Lima na Biblioteca-Museu República e Resistência, Espaço Grandela, aquando da apresentação do livro "A Retirada de Guileje" integrado no 2.º Ciclo de Conferências "Memórias Literárias da Guerra Colonial", no dia 14 de Maio de 2009.

Foto: © José Martins (2009). Direitos reservados

[Texto e selecção de fotos: C.V.]
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Notas de CV:

Vd. postes sobre o dossiê Retirada de Guileje:

OBS: - É imensa a publicação de postes no nosso Blogue sobre este assunto. Para não tornar a lista exaustiva, deixo ao acaso estes postes. A partir deles terão acesso aos demais. Ressalvo a minha posição de não ter escolhido este ou aquele, em função da opinião expressa ou do autor.

27 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3527: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (1): Lançamento do livro, 13/12/08, 17h, na Academia Militar, Amadora

14 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3618: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (2): A festa ... e a solidão de há 35 anos (Luís Graça)

15 de Dezembro de 2008:

Guiné 63/74 - P3626: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (3): Tardia a nossa percepção do nosso próprio Vietname (Eduardo Dâmaso)

Guiné 63/74 - P3627: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (4): Apresentação do livro, 5ª F, 18, na Casa da Guiné-Bissau em Coimbra
e
Guiné 63/74 - P3628: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (5): O sentido de uma sondagem (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)

18 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3910: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (22): Resposta do autor do livro a António Martins de Matos (Parte I)

24 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3932: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (23): Resposta do autor do livro a António Martins de Matos (Parte II)

10 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P4007: Blogoterapia (95): Há mais vida no alfabeto da guerra, para lá dos G: Guileje, Gadamael, Gandembel, Guidaje... (António Matos)

5 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4282: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (11): Heróis... (Constantino Costa, Sold CCav 8350, 1972/74)

14 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4344: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (12): Homenagem dos Homens Grandes de Guiledje a Coutinho e Lima (Camisa Mara / TV Klelé)

27 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4422: Bibliografia de uma guerra (47): Coutinho e Lima fala do seu livro "A Retirada de Guileje" (José Martins)

3 de Julho de 2009 >
Guiné 63/74 - P4634: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (13): A desonra da CCAV 8350 ou o direito a contar a minha versão... (Constantino Costa)

7 de Julho de 2009 >
Guiné 63/74 - P4649: Blogoterapia (114): A Honra da Companhia, os fantasmas de Guileje, os limites da tolerância (José Brás / António Matos)

24 de Julho de 2009 >
Guiné 63/74 - P4736: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (14): Na minha opinião pessoal, o Major Coutinho Lima foi um Herói! (Amílcar Ventura)

Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P4951: Parabéns a você (26): Manuel José Ribeiro Agostinho, Escriturário no QG/CTIG, 1968/70 (Os Editores)

domingo, 26 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4742: Tabanca Grande (165): António Dâmaso, CCP 123/BCP 12, 1969/71

1. Primeira mensagem de António Dâmaso com data de 15 de Junho de 2009:

Caro camarada Luís Graça.

Apresenta-se o periquito António Dâmaso, de Odemira, pedindo a inscrição no almoço do dia 20 em Ortigosa só para mim.

Informo que fui pára-quedista, e era na altura o comandante do grupo de combate a que pertenciam os três páras que ficaram sepultados em Guidage e que vieram no ano passado.

Oportunamente darei a minha versão sobre esses acontecimentos.

Junto envio as duas fotos exigidas.

Um abraço do camarada
Dâmaso



2. Em 30 de Junho foi enviada mensagem ao nosso novo camarada:

Caro António Dâmaso:

Enquanto não te apresentas formalmente à Tertúlia, diz-me por favor o teu antigo posto nos Páras, Companhia e datas de chegada e saída da Guiné.

Se quiseres manda já um pequeno resumo da tua actividade na Guiné e apresento-te definitivamente.

Depois podes ir mandando coisas que aches importantes para o Blogue. Fotografias legendadas, textos, etc.

Convivi um pouco com os Pára-quedistas durante a sua permanência em Mansabá, por volta de 1970/71 e tenho de vós as melhores impressões.

Fico a aguardar as tuas notícias.
Até lá, recebe um abraço
Vinhal


3. Mensagem de António Dâmaso, com data de 20 de Julho de 2009:

Caro camarada Luís Graça e Co-Editores:

Aqui vai o relato da minha segunda comissão na Guiné.

Bissalanca, 1969

Em 20 de Julho de 1969 estava em Bafatá

Hoje o meu pensamento vai para o soldado desconhecido, digo eu, refiro-me àquele militar, com ou sem patente, que estava lá, contribuía com o seu esforço para o conjunto, como formiga obreira, mas que, por não ter cunhas, não ser engraçado nem engraxador, via as benesses passar-lhe ao lado, não havia prémios do Governador da Província, nem promoções a cabo, nem férias, em resumo nada de nada, no entanto lá ia procurando manter-se vivo, com a agravante de passar uma comissão a viver em buracos sem as mínimas condições.

As minhas palavras valem o que valem, sabemos que dois observadores colocados no mesmo ponto, cada um tem a sua visão dos acontecimentos e depois na narração, cada qual compõe o ramalhete à sua maneira.

Por outro lado, a sensibilidade para suportar a dor e outras situações traumáticas, varia de indivíduo para indivíduo, daí que apareçam alguns armados em valentes, que dizem que não foram stressados, apanhados pelo clima e até marados, mas pior ainda, são os que foram tudo isto e não são capazes de o admitir.


Vou falar da minha segunda comissão na Guiné e dos motivos que me levaram a ir para lá segunda vez:

Quando regressei da primeira comissão, depois das férias, apanhei a escala de serviço, com cinco fins-de-semana seguidos com começo à sexta ao render da parada e fim na segunda à mesma hora.

Depois foi uma instrução de Combate, seguidamente uma recruta, com três instruções nocturnas por semana que me impediam de ir a casa embora só morasse a cerca de 10 Km, depois foi a informação de que estava à bica para ser nomeado para Moçambique, isto levou a que me oferecesse novamente para a Guiné, por já conhecer e estar convencido de serem só 18 meses.

Cheguei à Guiné, ao BCP 12, em 20 de Março de 19699, ia a contar ir para uma companhia operacional, mas devido à minha especialidade, mecânico desempanador auto, fui aumentado ao efectivo da CMI, (Companhia de Material e Infra-estruturas) passando a desempenhar as funções de chefe de movimento no pelotão de transportes auto.

Como não ia para o mato, mandei ir a família, estava tudo a correr bem, até que um dia escalei umas viaturas para irem transportar uma companhia que regressava do mato, os militares saíram da viatura e de imediato colocaram-se uns à frente e outros atrás e procederam à acção de desarmar, o material de guerra, o condutor buzinou para que o deixassem passar.

Veio de lá o tenente, comandante do pelotão, sacou o condutor do lugar e deu-lhe uma valente sova a que eu assisti.

O militar que estava debaixo das minhas ordens directas, chegou junto de mim a chorar de raiva, como não gosto de abusos desta natureza, disse-lhe que lhe assistia o direito de queixa, mas que tinha de dar conhecimento ao superior.

Redigi-lhe a queixa e lá foi ele dar conhecimento ao tenente que se ia queixar, este deu a volta ao rapaz, que não apresentou queixa nenhuma e eu, passados três ou quatro dias sem que ninguém me tivesse dito nada, fui transferido para a CCP 122 e com a G3 nas unhas e mochila às costas colocado no pelotão do citado senhor oficial isto a 29 de Maio de 1969.

Em 30 marchei para Mansabá onde estava a Companhia, sem que eu o soubesse, começou aqui uma perseguição que me deu cabo da vida militar para sempre com graves reflexos para a vida privada e familiar, só vim a saber em 1975, pelo facto do mesmo se ter gabado do feito, com alguns ouvintes que depois me deram conhecimento, até aí foi-me acontecendo de tudo, sem eu saber de onde vinha o mal.

A missão da Companhia na altura era fazer segurança à estrada que estava a ser construída entre Mansabá e Farim, dar protecção às colunas auto efectuadas entre Mansabá-Mansoa e vice-versa, para descansar íamos fazendo uns Heli-assaltos.

Foi assim que tomei parte na Operação Orféu, juntamente com a 15ª Companhia de Comandos, na zona de Bula no dia 13 de Junho de 1969, onde se fizeram alguns mortos, prisioneiros e se apanhou muito material de guerra, nesta operação fui colocado na segunda vaga, no outro extremo da mata, tendo como missão a limpeza e destruição.

No dia 20 de Junho de 1969 tomei parte na operação Nestor também na zona de Bula, Choquemone, mais uma vez na 2.ª vaga, destruição e limpeza, mais prisioneiros, mais material, vi coisas que me chocaram entre elas, o cavalheiro Tenente estar a dar um tratamento a um prisioneiro, tendo este as mãos atadas atrás das costas, pelos vistos, gostava de malhar nos mais fracos.


Rumo à CCP 123, com escala em Teixeira Pinto

No início de Julho fui com a CCP 122 para Teixeira Pinto, via auto e os cicerones lá iam informando o periquito que era eu, dos locais onde tinham havido emboscadas às nossas tropas, confesso que aquela mata metia respeito.

Depois de três dias em Teixeira Pinto, a caçar umas perdizes junto à pista, pombos verdes nas mangueiras, apanhar algum marisco, estava a ambientar-me, até que, no dia de Julho de 1969, enfiaram-me numa DO 27 rumo a Bissalanca.

Chegado ao BCP 12, estava lá uma CCP(-) que passaram a chamar de CCP 123. Esta Companhia tinha sido formada em Tancos com destino a Angola, mas à última hora, foi parar à Guiné como reforço, alguns dos graduados intervenientes não gostam do nome CCP 123 e preferem chamar-lhe grupo expedicionário, mas nos relatórios de operações consta CCP 123.

Recebi ordens para integrar a mesma, o Comandante já o conhecia da primeira comissão, tinha lá estado como Alferes, alguns dos Sargentos também lá tinham estado, até aí tudo bem.

De armas e bagagens, embarcámos no Cais de Bissau numa LDM, ou LDG, não me lembro qual delas, lá navegámos Geba acima até Bambadinca, passámos por um estreito em que o rio era como que feito por medida para a Lancha passar, se não estou em erro, chegados a Bambadinca, viaturas até Bafatá e ficámos aboletados no Esquadrão de Cavalaria FOX.

No dia 11 de Julho de 1969 embarcámos nas viaturas com destino a Galomaro e aí tomámos os helis para a operação Sátiro que durou dois dias na zona de Padada-Jábia, além da CCP 123, participou a CCAÇ 5. No dia 12, fomos recuperados de Heli para um Acampamento e deste para Nova Lamego, de onde seguimos via auto para Bafatá.

Quando estávamos a chegar vimos os Helis a aterrar pela ordem de aproximação e o Heli-canhão a dar mais uma volta tendo tocado com a ponta da Hélice numa das antenas rádio, enrolou vindo a despenhar-se no solo. Como se incendiou, as munições do canhão começaram a rebentar em todas as direcções sem que nada se pudesse fazer para os tirar daquele inferno de chamas. Aquela cena lancinante, causou-nos a todos grande consternação e pesar, ali ficaram mais duas vidas a do piloto e do apontador do canhão.

Bafatá, 1969

Nos dias 17 a 19JUL69, outra vez na zona de Padada concretizámos a operação Marduque , desta vez só com a CCP 123.

De 24 a 30 de Julho de 1969, operação Atena, zona de Duas Fontes e Padada, com a participação de 3 GComb da CCP 123, 1 GComb da CCP 121 e a CCAÇ 2446.

Depois apareceu a minha grande dor de cabeça, que era a Guerra de quadrícula, sempre tive o entendimento de que as tropas especiais, eram para intervenções rápidas, ou não, também para servirem de reserva, mas pelos vistos, a situação não estava para brincadeiras.

Comecei a operação Nereu 1.ª fase que foi de 31 de Julho a 31 de Agosto de 1969 nas zonas de Madina do Boé, Dulombi, Bilonco e Madina Xaquili. Actuaram connosco, além da CCP 123, a CCAÇ 2405 e CCAÇ 2446.

Lembro-me que numa das operações de dois dias, tivemos de atravessar o mesmo rio, quatro vezes seguidas, para não andarmos mais quilómetros a contorná-lo. Chegámos a Galomaro já depois do meio-dia, mas tínhamos à nossa espera uns franguinhos de churrasco. A fome era tanta, que nunca mais comi frangos que me soubessem tão bem.

No decorrer deste período, ou não, julgo que a 24 de Julho de 1969, não posso precisar a data, um dia à tarde chegámos a Dulombi, na altura era uma tabanca com algumas palhotas com abrigos, valas e arame farpado à volta, com uma espécie de portão de entrada na estrada de Galomaro a poente, e a sul outro portão que dava para a mata, íamos passar lá a noite, e de futuro serviria de acampamento base.

Sempre tive um acordar estremunhado quando estava no primeiro sono, mas naquela noite, quando estava no primeiro sono, fui acordado com um festival de fogo-de–artifício, rebentamentos por todo o lado, balas tracejantes cruzavam o céu, o meu acordar foi igual a outros, mas notei que o meu maxilar inferior, teimosamente batia ritmadamente no maxilar superior, durou alguns segundos até me aperceber do que se estava passar, rapidamente cerrei o os dentes e analisei a situação e vi que o ataque não era do nosso lado, mandei cessar o fogo que estava a ser efectuado para o lado do portão sul.

A minha secção estava na parte sul, onde existia o tal portão. As balas tracejantes passavam por cima de nós, apesar de muitos rebentamentos à nossa volta, ninguém foi atingido. Liguei o rádio, chamei, como não obtive resposta, desliguei. Quando estava a preparar-me para dormir novamente, apareceu-me um camarada a saber se estava tudo bem, escandalizado por eu não ter mantido o rádio ligado. Nessa altura fiquei a saber que o ataque foi efectuado do arame farpado, à esquerda da entrada e que havia a lamentar uma baixa da CCAÇ 2446, que foi recuperada no dia seguinte por elementos do ESQ FOX. Começara aqui o meu baptismo de fogo em ataques nocturnos.

Também estivemos em Bivaque, em tendas de campanha junto do aquartelamento de Galomaro, depois iniciou-se a operação Nereu 2.ª fase de 1 de Setembro a 11 de Outubro de 1969, novamente em conjunto com as duas companhias já citadas e nas zonas de Duas Fontes, Cansissé, Contabane e Padada.

Durante a minha permanência no Gabu, fui duas vezes a Bissau à boleia, uma vez de Heli e outra de Cessna (?) dos TAGCV, para tentar resolver problemas de saúde familiar, regressei ambas as vezes em DC 3 Dakota, com o nosso saudoso camarada Fur Vitorino, meu vizinho na altura. Depois da guerra veio a ser vítima de acidente aéreo na Ilha Terceira com um aviocar.

Problemas familiares e transferência para a CCP 121

A minha mulher contraiu malária e teve de ser internada no Hospital Civil em Bissau. Depois de curada ficou com os nervos em franja, enfrascava-se em comprimidos e tinham de ser as vizinhas a tomar conta da minha filha de 18 meses, situação que me levou a requerer a passagem ao SG da FAP, tendo a mesma sido indeferida posteriormente.

Findos os três meses, os oficiais e sargentos seguiram rumo a Angola e as praças foram integradas nas Companhias existentes no BCP 12, eu fui transferido para a CMI.

Coincidência ou não, baixei a guarda e como resultado, em 14 de Abril fui punido com 5 dias de prisão e em vez de iniciar o cumprimento da pena, fui de imediato transferido para a CCP 121 de que o citado oficial era comandante.

No dia 16 fui a caminho do Guileje que já na altura estava a ferro e fogo, não havia nada para comer a não ser feijão com chouriço, eu andava de diarreia, nem os ataques com morteiros 120 me tiravam das latrinas, quando saía para o mato levava o tempo de calças na mão.

A fome era de tal ordem que os cães na tabanca começaram a desaparecer. Uma hiena que caiu numa armadilha foi comida e até os abutres, diziam os rapazes, que de vinho e alhos eram um pitéu. Quem lá esteve nesta data sabe que isto não é invenção.

Neste período tomei parte nas seguintes operações:

Operação Lobo Verde de 20 a 30 de Abril de 1970 na zona de Guileje e Gadamael Porto. Também tomaram parte a CCAÇ 2617 e CART (?

Operação Lacrau Verde, 29 de Abril de 1970, no Corredor do Guileje, juntamente com uma equipa de sapadores do BART 2866. Nesta operação fomos ao local onde o IN tinha ido com uma viatura carregada de granadas que despejou sobre o aquartelamento, seguidamente fomos ao Corredor colocar minas anti-carro.

Operação Leão Verde , 30 de Abril de 1970, no Cantanhês, fomos até Gadamael Porto de viaturas e depois de Heli-assalto, não houve contacto, destruímos acampamentos.

Muito tempo depois, vim a saber que aquela minha ida repentina para o Guileje tinha sido um teste, porque a vontade de alguém era correr comigo para o Exército, destino que muitos camaradas tiveram.

Recordo que no decorrer da operação de 11 e 12 de Julho, no local do heli-assalto, estava um burro que os guerrilheiros deixaram ficar, foi o único burro de 4 patas que vi em toda a Guiné.

No dia 12, fomos heli-trasportados para um acampamento do Exército, onde circulava o boato que um alferes tinha sido evacuado por ter sofrido de doença súbita de Priapismo. Trata-se nada mais, nada menos de uma erecção dolorosa e prolongada por mais de seis horas.

Depois disto gostava que alguém desse notícias do Senhor Viagra.

Não inventei datas, as mesmas constam dos relatórios de operações, embora a CCP 123 tivesse actuado isolada as outras forças estavam no terreno.

Saliento que fui muito bem recebido pelos camaradas do Exército, que estavam em Galomaro e do ESQ FOX de Bafatá.

Saudações para todos os camaradas

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Da direita para a esquerda: O António Graça de Abreu (CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), mais dois camaradas da FAP: o António Martins de Matos, ex-Ten Pilav (BA 12, Bissalanca, 1972/74), e o António Dâmaso, ex-páraquedista (BCAP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74).

António Dâmaso do prestigiado Batalhão de Caçadores Pára-quedistas, BCP 12 participou no IV Encontro da Tertúlia.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4735: Tabanca Grande (164): Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519, Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71