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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8783: Humor de caserna (22): Quando os passageiros da LDG 101 Alfange urinavam... no fundo do bidão com areia que servia de apoio ao prato do morteiro de 60mm (Miguel Cunha, Fz 996/68, Cia 10 Fz, 1969/71)

1. Comentário do leitor (e nosso camarada, fuzileiro) Miguel Cunha, ao poste P1371, de 16 de Dezembro de 2006 (*):

Fiz várias escoltas nas LDG e principalmente na Alfange,  ao Xime e a Cacine. Era comandante o 1º Tenente Malhão Pereira. 


[Foto da LDG 101 Alfange, acima, à esquerda.  Foto do Museu de Marinha, gentilmente disponibilizada pelo Manuel Lema Santos, engenheiro, nosso camarada, 1º Ten RN, 1965/72, criador e editor do blogue Reserva Naval]



Tenho uma história passada a bordo da Alfange (**): 


Nas anteparas da lancha,  mais ou menos a meio,  existia, de cada lado, um fundo de bidão com areia para servir de apoio ao prato do morteiro de 60mm. 


Julgo que as tropas [do Exército] que transportávamos,  pensavam que os bidões com areia era para urinar. E alguns fizeram-no, de certeza.  O pior foi quando o comandante mandou fazer umas morteiradas de protecção.  Com o coice do prato do morteiro na areia, ficámos a cheirar a urina o dia todo!


Miguel Cunha, Fz 996/68,  Cia 10 Fz,  1969/1971. 

[ Texto e notas revistos  em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico]


________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de Dezembro de 2006 >Guiné 63/74 - P1371: Foi a LDG 101 Alfange que transportou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 até ao Xime em 2 de Junho de 1969 (Manuel Lema Santos).

 (...) Quem vos transportou no dia 2 de Junho de 1969 ao porto de Xime, no Geba, um pouco acima da confluência com o Corubal foi a LDG 101 Alfange, tendo regressado no mesmo dia, conforme consta dos registos oficiais de navegação da Alfange.

 "Esta LDG 101 foi a primeira de quatro desta classe (Alfange, Ariete, Cimitarra e Montante) e foi aumentada ao efetivo em 4 de Março de 1965. Permaneceu sempre na Guiné desde 10 de Outubro de 1965, data em que atracou em Bissau. Sempre aí permaneceu operacional até ao dia 14 de Outubro de 1974, data em que largou para S. Vicente, Cabo Verde e depois para Angola onde viria a ser abatida ao efetivo. 

"Inicialmente trazia como armamento 2 metralhadoras Oerlikon MK II de 20 mm e, posteriormente, por se revelarem insuficientes para o teatro de operações da Guiné, foram montadas peças Boffors, antiaéreas, de 40 mm, idênticas às da Bombarda. O restante armamento era idêntico. 

"Notavelmente, efetuou mais de 11.000 horas de navegação, a quase totalidade na Guiné ao serviço da Marinha mas sempre em muito estreita colaboração com o Exército" (...).


(**) Último poste da série > 6 de Setembro de 2011 >Guiné 63/74 - P8745: Humor de caserna (21): Vocês são danados p'ra brincadeira, diz o Manuel Reis, guilejista (Joaquim Mexia Alves)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8613: Agenda Cultural (147): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (Carlos Cordeiro) (5): Apontamento e fotos do dia 22 de Julho de 2011

Ponta Delgada / S. Miguel > Terceira sessão do ciclo de conferências “Os Açores e a Guerra do Ultramar (1961-1974): história e memória(s)”. 
Os dois conferencistas: o ex-1.º Tenente Fuzileiro Especial António Vasconcelos Raposo, de pé, no uso da palavra;  o ex-Alf. Mil. CMD Valdemiro Oliveira, sentado.


Mensagem de hoje, 28 de Julho de 2011, do nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), actualmente Professor na Universidade dos Açores, dando-nos notícia do rescaldo de mais uma conferência integrada no ciclo conferências-debates Os Açores e a Guerra do Ultramar – 1961-1974: história e memória(s)*, que ocorreu no passado dia 22 de Julho, sendo conferencistas, António Vasconcelos Raposo, antigo combatente em Angola como oficial Fuzileiro Especial e Valdemiro Correia, antigo combatente também em Angola como alferes miliciano Comando:

Caro Carlos,
Como estamos na “estação calmosa” própria para “vilegiatura” mas, como se vê, o blogue não foi veranear, envio umas fotos e um pequeno texto sobre a conferência da última 6.ª feira aqui na Universidade (pólo de Ponta Delgada, S. Miguel, Açores) para veres se “cabe” no blogue*.

Já agora aproveito para te contar que, no dia da conferência, de manhã, encontrei um amigo e antigo camarada da recruta no CISMI. Disse-me logo: Carlos, logo não posso ir à sessão, pois não estarei em Ponta Delgada. Um camarada de Lisboa, que esteve comigo na Guiné, telefonou-me a alertar para a conferência e disse-lhe então que não podia ir. Como é evidente, o camarada do meu amigo só pode ter lido a notícia publicada no Luís Graça & Camaradas da Guiné, ou então no Ultramar-terraweb.

No mesmo dia, o Tomás disse-me que tinha recebido um e-mail de um amigo do Canadá a pedir-lhe informações sobre a conferência, etc. Interessante isto. Ou será que “o Mundo é pequeno…”?

Um abraço amigo do
Carlos


Apontamento e fotos do dia 22 de Julho de 2011

Na última sexta-feira, lindíssimo dia de Verão, convidando a uma ida à praia ao fim da tarde, mais de quatro dezenas de pessoas quiseram marcar presença na terceira sessão do ciclo de conferências “Os Açores e a Guerra do Ultramar (1961-1974): história e memória(s)”, como que a incentivar os organizadores a prosseguir com o projecto de partilha de memórias e debate de estudos e investigações sobre tão marcante período da nossa História (e das nossas vidas).

A sessão, coordenada pela Prof.ª Doutora Susana Serpa Silva, membro da Comissão Científica, constou da apresentação da conferência “A Guerra Colonial: do emocional à exigência histórica do racional, a visão de dois oficiais da tropa de elite”, a cargo dos antigos combatentes em Angola (1973/75) António Vasconcelos Raposo, ex-1.º Tenente fuzileiro especial e Valdemiro Oliveira, ex-alferes miliciano “Comando”.

Como não tenho ainda na minha posse as comunicações escritas (estamos a pensar reunir todas as conferências em livro, se for possível), prefiro não tentar resumir os discursos de cada um dos oradores, pois podia desvirtuar os seus pontos de vista. Posso, no entanto, dizer que apontaram sobretudo para o segundo termo do subtítulo do ciclo: “memória(s)”. Por isto mesmo, foram comunicações emotivas e contagiantes, que despertaram um debate acalorado, sobretudo a propósito da complexidade das situações vividas no TO de Angola no pós-25 de Abril, tendo sido destacado o facto de, após o 25 de Abril, ainda terem morrido mais de cinco centenas de camaradas nos três TO.

Um dos camaradas da assistência relembrou, emocionado, a raiva que sentiu ao desembarcar no aeroporto de Figo Maduro em data posterior ao 25 de Abril, no termo da comissão. A sua companhia foi insultada com epítetos como fascistas, colonialistas, traidores, etc., tendo sido difícil conter a reacção dos soldados que se sentiam ultrajados depois de terem sofrido, na carne e no espírito, tamanhos sacrifícios no cumprimento do que consideraram ser o seu dever patriótico.
A sessão decorreu entre as 17H30 e as 20H00.

Panorâmica da assistência

Outra panorâmica da assistência. Note-se a significativa presença de senhoras.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8576: Agenda Cultural (144): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (4) (Carlos Cordeiro)

Vd. último poste da série de 25 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8602: Agenda cultural (146): Reportagem, na TVI, em data a anunciar, sobre a expedição Latitude Zeroº - Rota Ingoré 2011 (24 de Fevereiro / 4 de Março de 2011)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7699: Notas de leitura (196): Lobo... dos Mares, de Joaquim Cortes (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
Felizmente que há confrades que ouvem as minhas súplicas, quando aqui escrevo a rogar que me emprestem edições de autor ou outras para que o blogue se possa orgulhar de ter o maior manancial de informações sobre obras publicadas referentes à guerra da Guiné.
Há páginas neste livrinho de uma grande crueza, diria que não poderemos no futuro prescindir de descrições tao brutais sobre as técnicas e a linguagem que se usava na instrução. O que me sensibilizou mais foi este acto de amizade, alguém que não esqueceu o Lobo dos Mares.

Um abraço do
Mário


Lobo dos mares:
Uma história comovente da amizade do Joaquim com o Manuel


Beja Santos

“Lobo… dos Mares” é uma edição de autor assinada por Joaquim Cortes e dedicada ao seu amigo e conterrâneo Manuel Sebastião Guerreiro, um fuzileiro que morreu num acidente no rio Cacine. O Manuel Sebastião Guerreiro desaparecera e a família continuava a ignorar as circunstâncias da sua morte. Para Joaquim Cortes, este livro é uma obra romanceada, onde parte da narrativa é baseada em factos reais mas em que factos, pessoas e situações são apenas ficção. Lê-se o texto de uma ponta à outra e pergunta-se: Será mesmo ficção?

É uma narrativa singela o que temos em mãos: o nascimento em Algodôr, concelho de Mértola, do Manuel, em 1947, ambiente mais humilde não se pode imaginar, com parteira improvisada, cama de ferro e colchão de palha. Os pais são António e Adelaide, existe já um irmão pequenito, de nome José. À espreita de melhores oportunidades, António e família deixam O monte e vão viver na Venda dos Salgueiros. Manuel tem mais 6 irmãos. A vida é tão difícil que em 1965, Manuel, pela mão do seu amigo Joaquim deixa o monte onde vive no Alentejo e vai viver em Cascais, o seu trabalho é o de empregado de balcão. Resta uma fotografia dos adolescentes em Cascais, na loja do Sr. Esteves. É emprego de pouca dura, Manuel vai juntar-se à família que entretanto emigrara para o Samouco. O autor dá-nos um retrato da vida nesta localidade do seu amigo, revela-nos o seu modo de vida e as suas ambições. Aos 21 anos, o Manuel alista-se como voluntário no corpo de fuzileiros, assenta praça em Vale de Zebro em 1968, frequenta depois a Escola de Fuzileiros, irá fazer parte da Companhia de Fuzileiros n.º 10. Em Fevereiro de 1969 parte para a Guiné, ofereceu-se para substituir um camarada que aguardava o nascimento do filho.

A descrição deste período de instrução é um texto inesquecível. Toda a brutalidade e todo o jargão mais alvar da caserna aparecem explícitos, do tipo: “Não há barulhos, seus filhos de uma punheta mal batida. Estão na Escola de Fuzileiros e não na escola primária lá da aldeia. Lá é que os meninos podem ladrar à vontade!”. Mais adiante: “Estás a olhar para mim? Não gosto de cú com cabelo, ficam já a saber! Quando se está em sentido, a cabeça está bem levantada e olha-se para a frente, minhas Amélias! Para que não esqueçam o que vos disse, ficam nessa posição até que eu vá cagar!” Estes são alguns dos mimos do sargento Rato que imprecando, com fúria e autoridade: “À minha ordem, vai toda a gente a correr até àquela lagoa lá ao fundo, cumprindo as minhas instruções. Partiu! Deitou! Rastejou! Continua toda a gente a rastejar! A arma não pode tocar no chão! Não tratem mal a vossa namorada, seus copos de leite!”. São descrições cruas, é impossível fantasiar o que se escreve, o Joaquim ou ouviu do Manuel estes episódios ou deu com o lombo em Vale de Zebro, não há imaginação que consiga captar uma linguagem tão violenta com aquela que era possível usar-se nestes centros de instrução.

Temos depois a partida para a Guiné, o desespero dos pais que já tinham o José em Moçambique. Segue-se a transcrição de alguns aerogramas, fica-se a saber que andou em instrução no Geba e no Corubal e que depois foi colocado em Gadamael e Cacine, a partir de Junho de 1969. É no batelão “Marito” que vai ocorrer a tragédia em que morre Manuel Sebastião Guerreiro e outros fuzileiros. A lancha “Alfange” trazia material de guerra para a região, o batelão aproxima-se da Alfange e começa a operação descarregamento. O Manuel entra num escaler, com mais outros quatro fuzileiros, é nisto que sopra um vento forte, aparecem grandes vagas, o bote atraca ao Alfange e a seguir regressa ao batelão. Mas uma grande vaga faz virar o bote, ninguém leva colete de salvação, está consumada a tragédia, só irá aparecer mais tarde um cadáver. No livrinho juntam-se os diferentes documentos oficiais, a correspondência trocada, as diligências efectuadas pelo autor para apurar a clara certidão da verdade, onde e como desaparecera esse Manuel que era conhecido entre os grumetes fuzileiros como o Lobo dos Mares. Insiste-se que é uma história singela, contada com a ternura de quem foi espoliado de uma amizade e para seu consolo investiga um trágico desaparecimento até chegar à versão plausível. É tocante, que o Lobo dos Mares fique a fazer parte do nosso acervo de testemunhos genuínos e fraternos.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7696: Notas de leitura (195): A Guerra de África, por José Freire Antunes (Mário Beja Santos)

sábado, 20 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7310: Notas de leitura (174): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Novembro de 2010:

Queridos amigos,
A minha bagagem é própria de um djila, encontra-se ali de tudo, bacalhau, chouriços, perfume, até sementes.
O meu orgulho será desembarcar em Bissalanca com as cartas que o nosso querido Humberto Reis me ofereceu e vão direitinhas para o INEP.
Pelas mensagens que levo, tudo leva a crer que a minha agenda social em Bissau é imparável, de manhã à noite.
Contem que estarei convosco, em todos os momentos, quando visitar o cemitério de Bissau, e depois o de Bambadinca, recordarei as nossas perdas e os nossos silêncios.
Estarei aqui convosco até à hora de partida.

Um abraço do
Mário


Os fuzileiros na Guiné (3): Os últimos anos

Beja Santos

1970 começou para os Fuzileiros com a operação “Contra-Ponto”, em Sambuiá. Segundo o autor, “O conceito de manobra” assentava no modo de actuação habitual do comandante Calvão pois baseava-se no emprego táctico de três grupos, dois para efeitos de fiscalização e envolvimento e o terceiro actuando como reserva junto a uma base de fogos com morteiro 81. Em Março, Alpoim Calvão voltaria a dar que falar, com mais uma acção típica de operações especiais. “O navio-motor Bandim era vital para o reabastecimento do inimigo. Fora este navio capturado pelo PAIGC em Maio de 1963 quando, saindo de Bissau carregado de géneros para o Sul da Guiné, sem qualquer escolta, foi emboscado e capturado no rio Cacine. A primeira tentativa (operação “Nebulosa 2”) falhou por causa do nevoeiro. Mas logo a seguir, na operação “Gata Brava”, o Bandim foi destruído. Pouco tempo depois, um novo ronco na zona de Cumbamori, a captura de 10 toneladas de armas. Em Abril, a Marinha activou o primeiro Destacamento de Fuzileiros Africanos na Guiné, o DFE 21. A sua preparação efectuou-se (como as dos destacamentos de Fuzileiros seguintes) em Bolama.

Luís Sanches de Baêna destaca a operação “Mar Verde” cujo relato coincide, no essencial, com o de outros autores, pelo que se dispensa a sua transcrição. O ano de 1971 volta a assistir a operações no Cacheu e em Samboiá, com o envolvimento de Fuzileiros e forças do Exército. “A actividade das forças navais na Guiné continuava orientada no sentido da fiscalização dos rios Cacheu, Mansoa, Geba e Buba, onde mantinham dispositivos permanentes apoiando as unidades de Fuzileiros na missão da contrapenetração naqueles rios e em acções de intervenção”. E o autor volta a relatar mais um lamentável incidente, desta vez ocorrido entre os Fuzileiros e a tropa africana da CCaç 16 do Bachile, sediada em Teixeira Pinto.

Como corolário de uma série de desentendimentos entre a tropa e a própria população, na noite de 16 de Maio um baile acabou em cenas de violência. No dia seguinte rebentou uma granada junto de um grupo de militares, provocando 8 feridos.

O Comandante-Chefe castigou os Fuzileiros, impondo-lhes uma batida à região da Ponta Luís Dias-Ponta João da Silva (operação “Tordo Vermelho”). Nos restantes meses, houve a registar operações na região da Caboiana/Churo e península do Gampará. Nesta região, os Fuzileiros tinham atribuído as missões exclusivamente terrestres. A vida aqui não era fácil, o inimigo flagelava com frequência, usando mesmo foguetões 122mm e canhões sem recuo. No Sul, recrudesceu a actividade inimiga e em Julho foi lançada uma grande operação para reocupar posições na região do Cubisseco. Foi assim que se criou o aquartelamento denominado Tabanca Nova da Armada. Como recorda o autor, só durante o mês de Novembro de 1972, este estacionamento foi flagelado por 11 vezes, algumas vezes junto ao arame. O Comando da Defesa Marítima entendeu que não havia razões para continuar no Cubisseco, desactivou-se o aquartelamento.

Em 1973, ocorre uma inflexão estratégica com a chegada dos misseis Strella. Nas operações “Rumo Perene” e “Maior”, visou-se a ocupação de tabancas a montante do rio Cumbijã, com o objectivo de reforçar o dispositivo montado para o controlo do Cantanhez. Entrara-se numa nova fase de reocupação do Sul, tudo dificultado pela falta de apoio aéreo. O autor recorda que “As relações permanentemente tensas entre o Comandante-Chefe e o Comando da Defesa Marítima acentuam-se cada vez mais, sendo por vezes a Marinha tratada com a sobranceria e arrogância que advém de um excesso de protagonismo e autoritarismo que chegava a roçar as raias da prepotência”. Os Fuzileiros irão intervir no cerco de Guidage. Denotando um elevado espírito crítico, vejamos como o autor de refere aos acontecimentos de Guileje: “A guarnição de Guilieje, inexperiente, sujeita a violentas flagelações, não teve força anímica para aguentar. E aproveitando a oportunidade que o inimigo, inteligentemente comandado, lhes deixou, permitindo-lhes um local de fuga em direcção a Gadamael, tomados pelo pânico fugiram desordenadamente no dia 22, abandonando o aquartelamento com tudo o que lá havia e refugiando em Gadamael Porto”. O autor vai registando crescentes dificuldades para o trabalho dos Fuzileiros, nomeadamente em Chugué. Em Setembro, o dispositivo dos Fuzileiros conta com cinco destacamentos em Ganturé, Cacheu, Cafine, Chugué e Cacine. A actividade na zona Sul redobrou de intensidade, o PAIGC incidiu em ataques a Chugué, Gadamael, Cacine e Cameconde.

No início de 1974, era um dado adquirido de que o emprego dos Fuzileiros era feito ao arrepio dos princípios para que foram criados. Se por um lado, se continuavam a realizar patrulhamentos ofensivos, em botes, emboscadas e nomadizações, por outro lado, os Fuzileiros já se confundiam com os Comandos e os Pára-Quedistas nas suas missões.

A seguir ao 25 de Abril, e ainda na previsão da continuação da guerra, propôs-se a criação de uma terceira unidade de Fuzileiros africanos. Mas aos poucos deu-se a retracção das forças da Marinha no teatro de operações. Primeiro no Chugué depois Ganturé. Em Julho, como a situação em Bissau se afigurava perigosamente instável, o DFE 4, que se encontrava em Cacheu recebeu ordens para embarcar apenas com a bagagem individual indispensável e ficou a intervir em Bissau. Segundo o autor, houve comportamentos enérgicos de reacção a alguns enxovalhos que as Forças Armadas estavam a ser sujeitas. Em Agosto, teve lugar a desactivação das unidades de Fuzileiros Africanos estacionadas em Bolama. Diz o autor: “A desmobilização daqueles militares criava uma situação delicada e melindrosa já que era uma tropa muito leal e dedicada, que se empenhara esforçadamente na guerra nos últimos anos e não conseguia entender o que se estava a passar. No entanto, o espírito de disciplina daqueles homens e a confiança de que depositavam nos seus oficiais tudo superaram. Sendo-lhes oferecida a hipótese de regressar a casa com as famílias e haveres e receber a totalidade dos vencimentos até ao mês de Dezembro, inclusive, ou, em alternativa, de poderem ser integrados na Marinha do PAIGC, a totalidade dos homens optou pela desmobilização.

Um aspecto fundamental que cumpre destacar deste livro é o documento n.º 1 do anexo, que é o relato do massacre do Pidjiquiti.

O livro do Capitão-de-Fragata Luís Sanches de Baêna é um repositório de grande importância que os historiadores doravante não poderão ignorar.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7304: Notas de leitura (173): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7308: Em busca de... (149): Imagens ou notícias de Fuzos & Chaimites, em Bissau, em Janeiro de 1970 (a/c de Blogue Barco à Vista)




Guiné > Zona leste > Região de Gabú > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > s/d >  Chaimite, atravessando o Rio Geba   Esta viatura blindada deveria, possivelmente, pertencer ao Esq REex Fox 8840 (Bafatá, 1973/74). Foto do álbum fotográfico do nosso camarada Jacinto Cristina (residente em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo), que esteve 14 meses destacado na Ponte de Caium. A foto  não traz legenda. Na imagem consegue-se "identificar" dois graduados, um capitão e um alferes...

Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Questão que um nosso leitor, Duarte, oficial superior do Exército, no activo (que eu não identifico pelo apelido, por razões de deontologia profissional),  me pede para levar ao conhecimento aos camaradas que estiveram no TO da Guiné:

 Data: 17 de Novembro de 2010 15:46
Assunto: Questão para blogue 

Caro Luís,

Tenho acompanhado o seu blogue e noto que vai de vento em popa! É um facto inegável que tem contribuído, juntamente com os seus camaradas,  para a redacção de livros sobre o conflito colonial, por tal Bem Hajam!

Desta vez peço-lhe um favor para auxiliar o meu jovem amigo, autor do blogue Barco à vista [, foto à esquerda]. Tem publicado artigos interessantes relacionados com a Marinha, no entanto merece toda a ajuda possível, dado a qualidade dos seus textos e modo agradável como escreve.

Está a escrever um artigo sobre as CHAIMITES que os Fuzileiros receberam na 2.ª metade dos anos 70, tendo apoio de muito militares da Armada.

No entanto, há coisas que a sua rapaziada certamente pode melhor ajudar ou neste caso confirmar, segundo ele teve conhecimento, alguns «Fuzos» na Guiné, ao que parece em Janeiro de 1970, fizeram um breve passeio nas Chaimites do Exército na própria cidade de Bissau, durante uma operação urbana.

A ideia é pedir o favor que questione o pessoal que participa no seu blogue, se recorda e confirma o referido.

Um abraço
Duarte

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Duarte, pelas simpáticas palavras que nos dirige... A caminho dos 7 anos de existência na blogosfera, temos às vezes dúvidas sobre o sentido e o alcance da missão, e perguntamos, como o poeta, se vale(u) a pena... É a chamada dúvida metódica,útil para nos mantermos centrados no objectivo primordial de sermos um blogue, pacífico e pacificador, de ponte(s) (não de ponta, muito menos de ponta-e-mola)... 

Mas deixemo-nos de filosofias, e vamos lá ao seu apelo... Camaradas: quem se lembra de ver Chaimites & Fuzos a passear, em Janeiro de 1970, na Praça do Império, em Bissau ? Dão-se alvíssaras a quem mandar fotos e/ou notícias...

Temos já meia dúzia de referências, no nosso blogue (II Série)  a esta viatura blindada. Clicar aqui. Em 1973/74, na zona leste, parece que era frequente as Chaimites proporcionarem alegres (e despreocupados) passeios anfíbios no Rio Geba, como se pode ver na foto reproduzida acima ... Não consta que tenha havido acidentes, no rio, com estas gloriosas máquinas anfíbias... Mais comentários, para quê ? Os artistas são portugueses...

 Mas já que falamos de Chaimites, quero recordar aqui, ao nosso camarada António Carlos Ferreira (ex-furriel Mortágua, Esquadrão de Reconhecimento Fox 8840, Bafatá,  1973/74)  que ele aceitou o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande, tendo ficado de enviar histórias e imagens desse tempo (ele bateu todo o leste mas também o sul com as suas gloriosas Chaimites)... É o proprietário da Adega Típica A Pharmácia,  Rua Brasil 81/85, Coimbra, E-mail: adegapharmacia@gmail.com;  Contactos:  telemóvel: 917213076 / telefone  239 404 609).
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Nota de L.G.: 


sábado, 21 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6878: Memória dos lugares (94): No DFE 21, em Cacheu, nunca existiu num posto da PIDE nem nunca nenhum agente da PIDE lá pôs os pés, pelo menos no meu tempo (Zeca Macedo)

1. Mensagem do nosso camarada Zeca Macedo, que foi segundo tenente  Fuzileiro Especial no DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74), e que hoje é advogado nos EUA, para onde imigrou em 1977.

Data: 21 de Agosto de 2010 16:51
Assunto: Artigo do Inverno-Episódio insólito em São Domingos (*)

Luís: Tentei enviar esta mensagem usando os comentários no fim do artigo; infelizmente, não o consegui fazer. Aqui vai.
Acabei de ler a estória do António Inverno sobre o indivíduo que tinha algo para contar ao agente da Pide. A determinda altura o Inverno diz que "o posto da PIDE mais próximo funcionava no destacamento de fuzileiros do Cacheu, situado na margem sul do rio com o mesmo nome, ou seja do lado oposto onde nos encontrávamos."

O destacamento de fuzileiro que se encontrava estacionado no Cacheu era o meu DFE 21 e lá não "funcionava" nenhum posto da PIDE. Havia sim, em Vila Cacheu, um posto da Pide, com sede próxima, perto dos Correios e da casa do Administrador. E mais, o agente nunca pôs os pés nas instalações do DFE 21 enquanto lá estive.

Um abraço amigo

Jose J. Macedo,
Segundo Tenente FZ
DFE21
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 21 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 – P6877: Estórias avulsas (92): Episódio insólito (António Inverno)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5902: FAP (48): A guerra Páras-Fuzos, vista por um fuzileiro (Rui Ferrão)

1. Comentários ao poste P5580 (*), feitos em 7, 8 e 10 do corrente, pelo nosso leitor Rui Ferrão, que depreendemos ter estado na Marinha, possivelmente, num Destacamento de Fuzileiros Especiais (DFE), entre 1967 e 1969, sendo portanto contemporâneo dos tristes acontecimentos de Bissau, em 3 de Junho de 1968:




(i) Queria fazer um pequeno reparo àquilo que foi dito em relação aos confrontos entre Páras-Fuzos. Os Fuzos não emboscaram os Páras como aqui é referido no texto do sr. coronel Mira Vaz e noutros que já li.

O que aconteceu foi que o oficial de dia ao quartel Fuzo, nesse mesmo dia, já sobre a madrugada, mandou sair a ronda para verificar se as coisas já estavam mais calmas. A dita ronda ao passar junto aos edíficios em obras teria ouvido uma voz gritar Estes lerpam já todos!, e vai daí um dos elementos da ronda dirige a arma para aquela zona e dispara para o escuro, não se apercebendo de qualquer vulto... Só depois se aperceberam do lamentável acidente.

A outra morte teria sido horas antes à porta do Estádio, também em circunstâncias identicas; há um Fuzo que, ao descer do jipe da ronda, cai e deixa cair a arma, entretanto está ali por perto um Pára e pega na arma, o cabo da ronda naquela confusão (só quem lá estava é que consegue avaliar) vê o individuo com a arma nas mãos, não sei o que lhe passou pela cabeça e atirou segundo informações, para o chão, só que o tiro ressaltou e foi atingir o Pára.

Eu estava lá no início do confronto, mas depois encontrei um filho da minha terra, olhámos um para o outro e interrogámo-nos:
- O que é que nós estamos aqui a fazer? - e saímos para fora.

Foi assim que os acontecimentos me foram relatados por companheiros Fuzos, visto naquela altura estar já na companhia do filho da terra a beber uma cerveja com mais alguns Páras. Estou de acordo que houve negligência dos superiores dos dois lados, julgo que teriam evitado a morte destes dois jovens,camaradas de armas.

Também não estou a ver os Fuzos a montar uma emboscada daquela maneira tão cruel com já foi escrito nalguns locais do blogue. Como disse, essa parte não falo por aquilo que me contaram, logo após os acontecimentos. Foi lamentável e vergonhoso para as nossas tropas.

Um abraço. Sou Rui Ferrão


(ii) Ainda os confrontos entre Pára-Fuzos. Alguém comentou algures no blogue que, havia uma grande rivalidade entre Páras-Fuzos, mas não é verdade. Enquanto eu estive na Guiné (1967-69), para além dos acontecimentos que todos conhecemos, sanados que eles foram, voltou tudo á normalidade, embora tivesse havido um período em que não havia qualquer convívio entre eles, mas depois tudo voltou ao normal como já tinha citado.

Quem passou pela Guiné e teve a oportunidade de privar com a malta da Marinha, estou convicto de que deles tem uma boa impressão. Senão vejamos: Quem nunca foi a bordo de uma lancha, ou de um navio, ou do quartel Fuzo comer um ou dois jantaritos desenrascado por um filho da terra Fuzo?

Eu próprio dispensei a minha cama por diversas vezes a camaradas Páras. Caldeiradas de cabritos "comprados" aos nativos pelos Fuzos e caldeirados e comidos (no quartel Fuzo) entre Pára-Fuzos, isto tudo depois dos confrontos, será isto será rivalidade?

O pessoal da Marinha nunca teve rivalidades com ninguém, inclusive, aconteceu por vezes safar militares do exército com problemas com a PM.

Um abraço, cordialmente sou Rui Ferrão. Voltarei ao assunto.


(iii) Voltando ainda ao incidente Páras-Fusos, quereria dizer ainda o seguinte: O acontecimento criou grande consternação no seio Fuso, nas horas que se sucederam todos se interrogavam:
- Como é que foi possível acontecer uma tragédia desta dimensão?

Todos nós lamentamos. Avançamos: um certo dia andando com alguns colegas Fuzos a passear em Bissau na zona do Pilão já depois da meia noite,(era perigoso andar naquela zona aquela hora da noite) encontrámos um grupo de Páras já com uns copos a mais, onde vinha um com um golpe profundo na cabeça e a sangrar bastante, não sei o que se tinha passado, sei apenas que estava a precisar de ajuda, pedimos aos militares da PM que o levassem ao Hospital, responderam que o jipe não era nenhuma ambulância, entretanto passa a ronda dos Fuzos, apercebendo-se da situação pegaram no ferido e nos restantes camaradas e levaram-nos a Bissalanca, visto que aquela hora já não tinham transporte para lá e ainda eram cerca de 12 Km.

Como estão a ver, meus amigos, não havia rivalidade entre estas duas Forças. Sobre a quantidade de companhias e destacamentos a prestar serviço na Guiné, citadas pelo camarada Jorge Santos, também não está correcta a quantidade nem os seus números. Havia apenas duas companhias e quatro destacamentos.

Um abraço Rui Ferrão

2. Comentário de L.G.:

Obrigado ao Rui pelos esclarecimentos. Fica convidado a ingressar na nossa Tabanca Grande. A representação da Marinha continua a ser escassa. Para não falar dos fuzileiros (**).

_____________

Notas de L.G.:

(*) 2 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)

(**) Encontrei, na preciosa página do nosso camarada Jorge Santos,  a indicação de uma Associação de Fuzileiros:

Rua Miguel Paes, nº 25 - 2830-356 Barreiro
Tel.: +351 212 060 079 / Fax : +351 210 884 752
Email: afuzileiros@netvisao.pt

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5678: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (34): O turra branco "Capitão G3" (Mário G R Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 34ª mensagem, em 17 de Janeiro de 2010:
Camaradas,

Eu não perfilo com desertores, mas a lenda, o carisma sentimental e o infortúnio do fuzileiro de que vos vou falar, fez-me pesquisar a estória da sua vida e trazê-la ao nosso convívio, por achar de interesse geral.

O TURRA BRANCO CAPITÃO G3

António Tavares Trindade era um rapaz simples, filho da cidade de Lisboa, onde cresceu e aprendeu a viver. Ficou órfão de pai na adolescência, ainda bastante novo.

Sua mãe, ainda jovem, veio a casar em segundas núpcias com um indivíduo, que o veio a marcar negativamente para o resto da sua vida, pois pertencia à mórbida organização da PIDE.

Aos 17 anos, desagradado com o seu padrasto, começou a ver a sua vida a complicar-se, plena de hostilidade em casa e, revoltado, resolveu ingressar na Marinha como voluntário.

Nesta altura, inicio do ano 1962, a guerra em Angola estava no auge e a necessidade de tropas para o Ultramar fez com que o recém marujo incorporado fosse direitinho parar aos fuzileiros.

A dura recruta e a cultura castrense, que se vivia naquela altura em todas as unidades militares, não contribuíram em nada para melhorar o carácter do jovem fuzileiro. Apenas com 18 anos e acabada a sua formação militar, foi enviado para a Guiné e despejado num teatro de guerra, que não lhe despertava qualquer sentimento em particular.

Órfão de afectos e desiludido com a vida, que tinha sido compelido a escolher, não o satisfazia de modo algum. As ligações com a sua mãe eram dificultadas pelo seu padrasto, com quem se não dava de modo nenhum e cada vez odiava mais. A PIDE, organização a que, como já disse, o seu padrasto pertencia, era outra espinha no seu coração.

É, nessa altura, que conhece a sua femme fatale, que o ajuda a transformar a sua vida num autêntico inferno.  Nas suas andanças pela cidade de Bissau e pelos seus bares, onde eram férteis as meninas da vida nocturna, veio a conhecer uma brasa por quem se embeiçou. Segundo rezam as crónicas da época, era mesmo uma bonita mulher.

A femme fatale fazia parte da organização do PAIGC e, tendo descoberto a tristeza e o descontentamento do fuzileiro, decidiu convencê-lo a desertar para o outro lado, o que ele acabou por fazer, mais tarde, após uma discussão com um superior.

O fuzileiro Lisboa - António Tavares Trindade - o G3, como era conhecido pelos seus camaradas da altura, era um exímio artista com o LGF (Lança Granadas Foguete), que disparava com muita precisão.

Há quem afirme que o PAIGC, ao ter conhecimento desta destreza do Lisboa, o fez instrutor de RPG 2, para ensinar os seus guerrilheiros, vindo a ser baptizado por Capitão G3.
A Frente Patriótica Nacional, em Argélia, mantinha uma estreita ligação com os movimentos de libertação das colónias, nomeadamente com o PAIGC.

Na sua luta contra o Salazarismo absorvia no seu seio todos os dissidentes do regime, e é neste contexto que o PAIGC em 1964 entrega em Argel 5 desertores do nosso exército, onde o Capitão G3 ia integrado.

Em 1965, o governo de Argel entra em desavenças com a FPN e prende 16 dos seus membros onde se encontrava o G3.

Os mesmos são libertados após o golpe de estado que, nesse mesmo ano, derrubou Ben Bella. O G3 saiu então livre da Argélia, atravessando Marrocos, com destino a Espanha.

Posteriormente, tornou-se combatente anti-fascista, apoiando a candidatura do General Humberto Delgado (foto ao lado), tornando-se seu segurança pessoal até à sua morte.

Na clandestinidade viveu até 1968, altura que foi preso pela PIDE, por denúncia do seu padrasto, quando visitou sua mãe doente,  internada no hospital.

Foi torturado violentamente pelos seus carcereiros, nos calaboiços da polícia política do regime, que não lhe perdoaram a sua deserção da CF3 na Guiné, a colaboração prestada ao PAIGC, bem como as posteriores ligações á FNP e, pior ainda, a sua ligação ao PCP (Partido Comunista Português), a que aderira entretanto.

Como desertor foi julgado pelo tribunal da Marinha e cumpriu a sua pena no Forte de Elvas.

Posto em liberdade, depois da pena cumprida, teve de regressar ao Corpo Fuzileiros. Marginalizado e perseguido, por uns e por outros, arrastou-se penosamente pelos quartéis até cumprir o tempo de serviço na Marinha, que lhe faltava.

Na vida civil, empregou-se na CUF/QUIMIGAL do Barreiro, onde fixou residência depois de casar no Lavradio.

Nunca deixou de ser militante do PCP/Barreiro, pelo que era frequentemente preso pela ex-PIDE, que passou a designar-se, naquela época, por DGS (Direcção Geral de Segurança).

Depois do 25 de Abril, era membro destacado do PCP/Barreiro. Nos anos 1975 a 77 formou a célula do seu partido no Lavradio, após ter frequentado em Moscovo, por ordem do Partido, a formação em política apropriada.

Hoje, pouco mais se sabe do Capitão G3, apenas que frequenta esporadicamente a Sede da Associação dos Fuzileiros, no Barreiro.

Nota final: Todos estes dados recolhidos foram pesquisados na NET em, http://companhia2fz.blogspot.com/search?q=Ant%C3%B3nio+Tavares+Trindade e junto de camaradas de armas do G3, residentes no Lavradio.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
____________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

17 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5669: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (33): Até os babuínos eram contra nós (Mário G R Pinto)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)


Guiné > BCP 12 > CCP 121 (1972/74) >  O crachá da unidade (à esquerda). Foto: © Victor Tavares (2006). Direitos reservados.


Guiné > BCP 12 > CCP 122 (1972/74) > O crachá da unidade (à direita) Foto: © Tino Neves (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem de Nuno Mira Vaz,  Cor Pára Ref (Guiné, BCP 12, 1967 e 1973) (*), com data de 29 de Dezembro último:

Assunto - Comentário sobre posts do blogue

Meu caro Luís Graça

Cá estou de novo a abusar do seu tempo.  Mas é por uma justa causa, pois trata-se de um comentário, em word, no qual tento esclarecer um conjunto de acontecimentos relatados no blogue.

Bem sei que,  não sendo membro, não tenho o direito de o incomodar. Por isso, se achar que o comentário não tem interesse ou carece de oportunidade, eu não fico ofendido.

Abraço mais uma vez com simpatia um antigo camarada de armas.
Nuno Mira Vaz


2. A propósito dos incidentes entre pára-quedistas e fuzileiros  e do 1.º Cabo Jaime Duarte de Almeida (**)

(i) Incidentes entre pára-quedistas e fuzileiros

Considero bastante conforme à verdade (com excepção da data, que foi o dia 3 de Junho de 1967 e não Janeiro de 1968, conforme a História oficial do BCP 12, da autoria do Tenente-Coronel Luís Martinho Grão) a versão apresentada pelo 1.º Sargento Carmo Vicente, inclusive no que respeita às responsabilidades dos graduados pára-quedistas, que pouco fizeram para evitar o infeliz desenlace duma jornada que devia ser lembrada apenas como desportiva.

Nos primeiros meses de 1967, a rivalidade desportiva entre pára-quedistas e fuzileiros foi-se transformando numa animosidade doentia. Estou certo de que muita gente se apercebeu do fenómeno, mas ninguém foi capaz de apreender o potencial de violência armazenado no processo. Por mim o digo: em momento algum imaginei que alguém pudesse conceber a sucessão de embustes que conduziram os páras à emboscada mortal.

Assisti a alguns dos jogos onde marinheiros e aviadores se enfrentavam e fui mais um dos que puderam observar o Jaime Duarte de Almeida, conhecido por Oitenta, e o Mário Cerqueira, por alcunha o Pedra Dura, a orquestrarem as actuações da claque da Força Aérea. E que fizemos nós, oficiais e sargentos com responsabilidades na conduta dos homens? Admoestámo-los com pouca convicção.

Era um sinal dos tempos: entre os operacionais, havia a convicção generalizada de que quem ia ao mato arriscar a vida tinha direito a descarregar na cidade as tensões acumuladas no combate – um sintoma, talvez o mais nítido de todos e sem subterfúgios, de imaturidade colectiva. Se os responsáveis tinham menos de trinta anos, e tendo em consideração que os dois lados se comportavam exactamente da mesma maneira, a rivalidade só por milagre poderia ter terminado de forma pacífica. Mas o que aconteceu ultrapassou em muito a imaginação mais delirante.

Na noite de 3 de Junho de 1967, no final dum jogo que parecia ter decorrido de forma idêntica a tantos outros, entre o ASA – acrónimo de Atlético Sport Aviação, o clube dos militares da Força Aérea – e a equipa onde alinhavam os marinheiros, sucedeu o inesperado: estes, depois de trocarem insultos e provocações com os pára-quedistas, como era hábito, abandonaram o recinto desportivo, numa atitude pouco consentânea com os seus comportamentos recentes.

Os páras correram atrás deles pelas ruas da cidade, não imaginando que, algumas centenas de metros à frente, emboscado num prédio em construção, um grupo de fuzileiros armados com G-3 (***) se preparava para os atacar a tiro. Custa a entender onde aqueles homens foram buscar ânimo para levar a cabo semelhante acto, mas a verdade é que foram capazes de abrir fogo à queima-roupa sobre camaradas de armas desarmados, matando de imediato o 1.º cabo Ismael Santos e o sold. Fernando Marques, para além de terem provocado ferimentos noutros soldados.

Na manhã seguinte, as pessoas – militares e civis, homens e mulheres -, demoravam a acreditar que pudesse ter ocorrido semelhante acontecimento. O relato de pancadarias épicas entre grupos de militares das tropas especiais, e sobretudo entre estes e as patrulhas da Polícia Militar que os queriam meter na ordem, em bares, discotecas e outros locais de diversão nocturna de certos bairros de Luanda, Lourenço Marques ou Beira, era tema frequente de conversa nos clubes e nas messes.

O que variava, curiosamente, eram as cumplicidades afectivas: em Luanda os páras aliavam-se ao fuzos contra os comandos, em Bissau eram os fuzos e os comandos que lutavam contra os páras. Algumas cenas, como a da Pastelaria Versailles de Luanda, ficaram tristemente celebrizadas por causa das mortes envolvidas. Mas nenhuma, até aí, fora perpetrada com os níveis de irresponsabilidade e premeditação registados em Bissau.

No rescaldo dos acontecimentos, os militares do BCP 12 viviam um ambiente de amargura, raiva e impotência. Uma única coisa veio mitigar o nosso desconsolo: o enterro dos dois soldados mortos foi acompanhado por uma multidão imensa, seguramente a maior manifestação cívica a que assisti em Bissau, apenas superada pela visita do Presidente Américo Tomás. Tive então a convicção, que mantenho hoje, de que os civis quiseram dar um testemunho claro da sua consideração pelas Tropas Pára-quedistas.

(ii) O 1.º Cabo Jaime Duarte de Almeida, o Oitenta

Quando foi nomeado para o BCP 12, o Jaime, como prefiro tratá-lo, já tinha cumprido uma comissão em Angola como soldado. Foi destinado ao 1.º Pelotão da CCP 121, sob meu comando. A alcunha, segundo me lembro, não se devia a nenhuma proeza mitológica, como a sugerida por Jorge Félix no post 5552, mas sim a um incidente ocorrido no próprio dia em que se alistou nas tropas pára-quedistas. Mandado a subir para a balança pelo Sargento que anotava os índices físicos dos candidatos, replicou: - “Não vale a pena, meu sargento. São oitenta quilos certos”.

É verdade que alguns dos apontadores de MG-42 conseguiam “desenhar” com o impacto das balas na barreira da carreira de tiro figuras surpreendentes, mas com as duas mãos em simultâneo, nunca vi nem me contaram. Aproveito para esclarecer que tanto o Jaime como o Hoss, referenciados no post 1512 do Tino Neves com enfermeiros, pertenceram à CCP 121, onde eram apontadores de metralhadora.

O Jaime era oriundo da região de Mafra, e desde muito novo que fazia trabalhos pesados. Foram estes, e a generosidade da natureza, que lhe deram um corpo dotado de uma força impressionante e com uma resistência à dor inultrapassável. Recordo-me de o ver pegar com os dentes numa barrica de azeitonas vazia, de a erguer no ar e de executar com ela alguns passos de dança.

Como todos os seres humanos, não se lhe pode tirar uma fotografia a preto e branco, nem rotulá-lo de bom ou de mau. Era aquilo para que a vida o encaminhou desde muito novo, uma vida na qual se reagia a soco e a pontapé contra a adversidade e as provocações. Isto no Pilão ou nos bares na cidade, porque no Quartel o seu Comandante de Pelotão - o Tenente António Ramos, outro veterano de Angola, que mais tarde, como Capitão, foi oficial às ordens de Spínola – mantinha-o de rédea curta.

Em combate era indiscutivelmente corajoso. As Cruzes de Guerra que lhe penduraram no peito foram mais do que merecidas. Mas disso havia muito nas tropas pára-quedistas. E o Jaime nunca foi um dos melhores soldados da CCP 121. Eu explico:

A partir de certa altura, começámos a capturar quantidades consideráveis de armamento ao PAIGC. Não só as que pertenciam aos combatentes abatidos, mas também as armazenadas em esconderijos que íamos descobrindo no decurso das operações. Não me recordo da data em que isso começou, mas sensivelmente em meados de 1967 foi publicada legislação que atribuía prémios pecuniários por captura de armas e munições. O diploma estipulava que o dinheiro fosse entregue ao responsável directo pela captura mas, por acordo dos comandantes de Companhia com o Comandante de Batalhão, Tenente-Coronel Costa Campos, ficou estabelecido que uma parte seria entregue ao Comando do Batalhão e a outra às Companhias e utilizada em obras ou aquisições de interesse geral.

Com parte desse dinheiro, a CCP 121 instituiu um prémio, destinado exclusivamente a praças, que consistia numa viagem de ida e volta à Metrópole para gozo de férias. Os premiados, que eram indigitados pelos camaradas em votação secreta, recebiam além disso uma pequena importância em dinheiro para gastos pessoais.

A indigitação era aguardada sempre com natural expectativa pelos graduados, que receavam uma nomeação menos criteriosa ou ajustada, beneficiando um valentão de caserna ou algum detentor de prestígio adquirido de forma duvidosa. Mas as praças provaram ter um entendimento correcto dos valores em jogo, escolhendo, com grande maturidade e sentido de justiça, apenas entre os melhores. E o Jaime não foi um deles.

Voltei a encontrá-lo na minha segunda comissão da Guiné, de novo no comando da CCP 121, mas o Jaime pertencia então à CCP 122.

Quando saiu da tropa, foi para Marselha, onde se ligou a gente com negócios pouco recomendáveis. Como diz o Jorge Félix, acabou chinado. Como seria de esperar. Só não sei se em Lisboa, se em Marselha.

Recordá-lo-ei, sempre, como um combatente excepcional.

Nuno Mira Vaz

[Revisão / fixação de texto / bold a amarelo: L.G.]
 
________________
 
Notas de L.G.:
 
(*) Vd. postes de:
 
 15 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5471: O Nosso Livro de Visitas (75): O blogue, uma obra que não pode morrer (Nuno Mira Vaz, CCP121/BCP 12, 1972/74)
 
10 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1581: O elogio dos pára-quedistas das 121ª e 122ª CCP (Nuno Mira Vaz / Vitor Junqueira)
 
(...) Meu caro Vitor Junqueira:

 Quem lhe escreve é o comandante da CCP 121 na altura em que estivémos juntos no COP 6. Eu estive com dois pelotões no Olossato e o Tenente Castro esteve com outros dois em Mansabá. Li hoje a sua crónica num blogue que acompanho com muito interesse e sentida emoção, e no qual só não colaboro por falta de vocação pessoal para me expor (1).

Quero agradecer-lhe do fundo do coração as suas palavras. Não só expressa uma admiração sincera pelas tropas pára-quedistas, como ainda por cima soube detectar algumas das virtudes não propriamente militares de que muito nos honramos. Bem haja. (...) Nuno Vaz Mira (...)

 (**) Vd. postes de:
 
28 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5552: FAP (42): Dois senhores da guerra: O Cabo 80 e o Cap Pára Terra Marques (Jorge Félix)

27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5546: FAP (41): Quem foi realmente o Cabo 80, 1º Cabo Pára-quedista nº 85/RD ? (Pedro Castanheira)
 
13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1522: Bissau em estado de sítio por causa dos graves incidentes entre paraquedistas e fuzileiros em Janeiro de 1968 (Álvaro Mendonça)
 
11 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)
 
10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)
 
(***)  Poderiam pertencer a uma ou mais destas subunidades de fuzileiros: 

Companhia de Fuzileiros nº 3 (1967/69), Companhia de Fuzileiros nº 7 (1965/67), Companhia de Fuzileiros nº 9 (1966/68), Destacamento de Fuzileiros Especiais 3 (1965/71), Destacamento de Fuzileiros Especiais 4 (1965/67), Destacamento de Fuzileiros Especiais 6 (1966/67), Destacamento de Fuzileiros Especiais 7 (1966/68), Destacamento de Fuzileiros Especiais 19 (1967/69), Destacamento de Fuzileiros Especiais 12 (1967/69) (Fonte: página do nosso camarada Jorge Santos)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5546: FAP (41): Quem foi realmente o Cabo 80, 1º Cabo Pára-quedista nº 85/RD ? (Pedro Castanheira)


1. Texto de Pedro Castanheira, ex-pára-quedista (*):

Assunto - O famigerado Cabo 80

O Ten Spears,  destemido e bravo oficial pára-quedista norte-americano, distribui cigarros aos 6 soldados alemães, feitos prisioneiros ao 2º dia do desembarque na Normandia. Após ter acendido os cigarros, com toda a lisura, a cada um deles, pega na sua metralhadora, e num impulso de loucura, descarrega o carregador sobre os prisioneiros alemães.

Esta era mais uma história, que circulava entre os homens da companhia Easy, pertencentes à 101ª Divisão de Paraquedistas, criando entre os soldados um misto de temor e admiração pelas suas façanhas, quase no fim da guerra na Europa, já com Spears promovido a capitão.

Lipton, expriente psar da companhia, interroga-o sobre essas "histórias"que se contam sobre ele. Spears sorri, conhecendo de cor todas essas histórias, maior parte delas inventadas, e diz a Lipton:
- Há 2000 anos atrás, havia centuriões à conversa sobre Tercius a dizer que ele decapitara prisioneiros cartagineses. Nunca ouviram Tercius negar as histórias, talvez porque Tercius queria que pensassem que ele era o pior e mais malvado guerreiro de toda a legião romana.

Li neste blogue há algum tempo, excertos do livro do senhor sargento pára Carmo Vicente, em que se refería a "conhecidos arruaceiros, como o famigerado 80", tendo logo aparecido quem defendesse a sua honra e afirmado que era enfermeiro, facto que eu não descionhecia (**).

Já eu nos anos 90, quando cumpria o meu serviço militar nos paraquedistas, ouvi muitas vezes da boca dos veteranos da Guiné, a prestar serviço nos páras, referências ao cabo 80, figura mítica dos páras na Guiné, conflituoso, lixado para a porrada, que partia os bares todos em Bissau, homem que enfrentava tudo e todos... Enfim, também ainda se ouvem sussurros sobre o 80 no dia de unidade dos paraquedistas, entre os páras que prestaram serviço na Guiné.

Mas, o que é feito da nossa personagem? Segundo consta, desapareceu após o fim da sua comissão. Ins dizem que já morreu, mas ouvi também dizer que fugiu do país, após ter morto um polícia, por altura do 25 de Abril... Atenção, são versões não confirmadas.

A certa altura,  estando eu à conversa com um pára de uma associação de paraquedistas, também ele a par da fama do cabo 80, revelou-me o seu verdadeiro nome. Após consulta minuciosa ao livro do BCP12, qual não é o meu espanto, ao ver o famigerado cabo 80 assinalado várias vezes, com reconhecimento por bravura em combate.. . E mais!, na parte das condecorações, lá está o "arruaceiro" Primeiro Cabo Paraquedist nº 85/RD (...) 

MEDALHA DA CRUZ DE GUERRA DE 2ª CLASSE 

e novamente (...) .MEDALHA DA CRUZ DE GUERRA DE 3ª CLASSE.

Não sei, quem era o comandante de companhia, deste nosso cabo paraquedista (Cap Mira Vaz? Cap Terras Marques? Cap Avelar de Sousa? entre outros). Penso que era interessante saber, da parte dos elementos da sua companhia, quem era realmente o cabo 80. Eu, humildemente, e sem querer ofender, penso que era mais um soldado que queria honrar a sua pátria, e que tinha a sua maneira de o fazer.

Um grande abraço

Pedro Castanheira

[Revisão / fixação de texto: L.G.]
_____________

Notas de L.G.:

(*)  Vd. poste de 22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5518: Cancioneiro da CCP 122 / BCP 12 (1972/74) , a Gloriosa (Pedro Castanheiro)

(**) Sobre o Cabo 80 e os tristes acontecimentos de Bissau, em Janeiro de 1968, vd. postes de:

10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)

(..) A estória é-me contada em 3ª ou 4ª mão, foi-me contada por uns amigos pára-quedistas, portanto é a sua versão (deles, pára-quedistas).

Então é assim: Não tenho a data do acontecimento, mas julgo ter sido em 1968. Houve um jogo de futebol de onze no campo do Benfica. Não me recordo, ao certo, do nome completo do clube de futebol. Sei que era de Bissau, só me lembro que era do Benfica.

Os contentores eram obviamente os Fuzileiros contra os Pára-quedistas, o jogo estava a correr muito bem, mas a um dado momento gerou-se uma troca de mimos, na assistência, entre as claques que chegaram mesmo a vias de facto (ou seja pancadaria).

Os Fuzileiros, estando relativamente perto do aquartelamento deles, correram a armarem-se, ou pedir reforços, não sei, mas os Pára-quedistas aperceberam-se disso e foram em seu encalço. A praça que estava de guarda na porta de armas do quartel, apercebendo-se do que se estava a passar, chamou o Cabo da Guarda e perguntou-lhe o que deveria fazer neste caso. Foi-lhe dada ordem de disparar, o que fez, originando a morte de um Pára-quedista.

A partir daí, qualquer Fuzileiro não se podia relacionar com Pár-aquedistas, e vice-versa, pelo que acontecia muitas vezes pancadaria entre ambos e, quando acontecia, cada um ia chamar o seu Camarada protector. O Protector dos Fuzileiros era um Cabo (julgo eu) chamado Lages, e da parte dos Pára-quedistas também havia um Cabo, Enfermeiro, conhecido por Oitenta.

Em café, esplanada ou qualquer espaço onde houvesse confrontos entre Fuzileiros e Pára-.quedistas com os seus respectivos Protectores, não restava nada que ficasse de pé. Quando os dois Cabos se encontravam no mesmo passeio, um deles tinha que mudar, porque ambos não se podiam cruzar.

Uma dada altura os Fuzileiros resolveram vingarem-se do Cabo 80, e sabendo que o 80, quase todos os dias antes de se recolher no quartel de Bissalanca, ia visitar a sua bajuda, que ficava relativamente perto, mas tinha que passar por alguns sítios isolados, resolveram fazer-lhe uma espera.

No dia combinado, o Cabo 80 quando já estava de regresso ao quartel, ouviu um cão a ladrar e, como o seguro morreu velho e o acautelado ainda é vivo, ele agarrou num pilão, não viesse o cão morder-lhe, mas para grande espanto dele, não foi o cão que apareceu, mas sim sete ou oito Fuzileiros armados de facas de ponte e mola.

Ele percebendo-se que também estava armado (e bem armado) com um grande pilão na mão, foi só despachar os Fuzileiros e, quando chegou ao quartel, telefonou para o Hospital para que os fossem buscar. (...).

(..) Junto fotos - eu com o meu amigo de longa data, desde a Metrópoloe, o Rodrigues, mais o Hoss, no aquartelamento de Bissalanca (Companhia Caçadores Paraquedistas nº. 122) em 1970. O Hoss assim como o Oitenta, ambos Cabos Enfermeiros, foram bastante condecorados. O Oitenta não cheguei a conhecer mas conheci (vi várias vezes em Bissau) também um grande Homem e combatente que na altura também diziam que ele tinha a cabeça a prémio. Estou a falar do Capitão na altura, hoje Coronel na reforma, Terra Marques (...).

Vd. também:

11 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)

(...) Extractos de VICENTE, Carmo - Gadamael: memórias da guerra colonial. 2ª ed. Lisboa: Caso. 1985. pp. 25-30. Selecção e digitalização de Jorge Santos. Subtítulos do editor do blogue. (...)

13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1522: Bissau em estado de sítio por causa dos graves incidentes entre paraquedistas e fuzileiros em Janeiro de 1968 (Álvaro Mendonça)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5164: Blogues da Nossa Blogosfera (21): Por mor dos navios da nossa armada e dos seus marinheiros (Diogo Duarte)

Blogue Reserva Naval, do nosso camarada e amigo Manuel Lema Santos, criado e mantido desde meados de 2006... Magnífico, sóbrio elegante... Obrigatório para quem quiser saber tudo (ou quase tudo...) sobre o papel da nossa Marinha de Guerra no TO da Guiné (LG).

Blogues da nossa blogosfera... Barco à Vista > Informações sobre a Marinha Portuguesa... Blogue, criado em Junho de 2009, por alguém do "Porto, Norte, Portugal" , e que se apresenta como tendo "por escopo servir de acervo de documentação e permitir a consulta de dados de natureza técnica das principais unidades da Marinha de Guerra Portuguesa"... Devo acrescentar que os nossos marinheiros detestam a palavra "barco": para eles, a nossa Armada não tem "barcos", mas sim "navios"... Mas percebe-se o título do blogue, quando já havia um outro, Navios à Vista, de Rui Amaro, Foz do Douro, Porto, um blogue para "troca de impressões sobre navios e portos"... (LG)


1. Mensagem de Diogo Morais Duarte, leitor do nosso blogue, com data de 13 do corrente:

Assunto - Artigo sobre LDM

Caro camarada,

Sou um leitor assíduo do blogue. Como por via da regra têm pouca participação do pessoal da Marinha, deixo um pequeno contributo.

Indico-vos um blogue que tenho vindo acompanhar:
http://barcoavista.blogspot.com/ , que desta vez apresenta um artigo sobre as LDM - Lanchas de Desembarque Médias [, publicado em 13/10/2009].

Estou certo que terá interesse para todos, pois devem ser certamente poucos os camaradas que nelas não navegaram ou não as viram nos rios da Guiné. (**)

Cumprimentos,
Diogo Morais Duarte
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série: 19 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5134: Blogues da Nossa Blogosfera (20): JEROALCOA.BLOGSPOT.COM, de José Eduardo Oliveira

(**) Alguns excertos do artigo e apontamentos de leitura:

(i) As LDM (da classe LDM 400) deslocavam cerca de 60 toneladas, mediam 17,8 x 5 x 1 metros, a sua velociadade máxima era de 9,2 nós (16 km), a sua autonomia não ultrapassava as 220 milhas (à velocidade de 8,2 nós), tinham um guarnição de 4 homens (m cabo - o famoso "patrão da lancha" - e 3 marinheiros)...

(ii) Outras características (classe LDM 400):

- Armamento > 1 Peça OERLIKON Mk2 de 20mm/65 (2 Km de alcance); 2 Metralhadoras MG-42 de 7,62mm.

- Capacidade de carga > 80 militares / 35 toneladas de carga / 1 viatura blindada até 32 toneladas / 1 camião de 6 toneladas / 2 viaturas ligeiras...

- Ano de construção: 1967/68

- Emprego operacional: Transporte e apoio logístico (mantimentos, munições, etc); Embarque e desembarque de tropas; Serviço público.


(iii) Distribuição das LDM pelos teatros opeacionais do Ultramar, durante a guerra colonial: Angola: 5; Guiné: 51; Moçambique (Lago Niassa): 4

(iv) As LDM "eram o principal meio de desembarque da Marinha no que respeita ao emprego de Fuzileiros, aquando da execução de operações militares com a totalidade dos efectivos de uma CF (140 militares) ou de um DFE (80 militares), originando o binómio LDM-Fuzileiros"...

(v) "Trata-se de um tipo de embarcação concebido para utilização temporária (máximo 48 horas), dado não dispor de meios de subsistência, não obstante a título de exemplo na Guiné-Bissau foram usadas em patrulhas de rios que chegavam em média às duas semanas, sendo de referir que tal situação ocorria em detrimento das condições de vida a bordo e sacrifício das suas guarnições".

(vi) (...) "No caso da Guiné-Bissau (multiplicidade de braços de mar e rios, grandes amplitudes de maré e rios muito sinuosos), [o emprego de LDM] atingia mais de 80%, percentagem esta que aumentou a partir de 25 de Março de 1973 com a diminuição de voos de carácter logístico da FAP, devido ao fogo anti-aéreo com recurso a mísseis terra-ar de fabrico soviético SA-7 Grail Strela por parte do PAIGC".

(vii) (...) Pelo facto de "serem dotadas de pouca velocidade, muitas foram alvo de ataques desencadeados a partir das margens pelo PAIGC na Guiné-Bissau, sendo o caso mais conhecido o da LDM 302, atacada e afundada três vezes; outras foram visadas pelo rebentamento de engenhos explosivos improvisados, submersos e de fabrico artesanal do PAIGC, em rios estreitos e pouco fundos, denominados por "minas aquáticas", em ambas as situações as respectivas guarnições tiveram algumas baixas (feridos e mortos), mas nunca deixaram de ripostar, honrando assim as dignas tradições da Marinha Portuguesa"

Fonte: Barco à Vista > 13/10/09 > Lanchas de Desembarque Médias (Com a devida vénia...)

Vd. também o magnífico, sóbrio e elegante Blogue Reserva Naval, criado e mantido, desde Abril de 2006, pelo nosso camarada e amigo Manuel Lema Santos (Lisboa), um homem que acalenta ainda a paixão do mar, dos rios da Guiné e do tempo que em foi oficial da nossa Armada... Trata-se de um "espaço aberto a antigos Oficiais da Reserva Naval na publicação de documentos, relatos, imagens e comentários. Um meio de comunicação e participação na divulgação do legado histórico da Reserva Naval da Marinha de Guerra"...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5099: História de vida (24): Patrício Ribeiro, 62 anos, "filho da escola", ex-grumete fuzileiro, empresário, a trabalhar e a viver na Guiné-Bissau desde 1984. apanhado do clima...


Foto nº 1 > Patrício Ribeiro, grumete fuzileiro, na fragata NRP Comandante João Belo, c. 1969... Este navio, construído nos estaleiros de Nantes, França, esteve ao serviço da nossa Marinha de 1967 a 2008



Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Bolama > s/d > Cais > Uma canoa nhominca, para transporte de passageiros

Fotos: © Patrício Ribeiro (2009). Direitos reservados


1. Texto do Patrício Ribeiro, um dos nossos "agentes" em Bissau, membro do nosso blogue desde Janeiro de 2006 (*)


Lisboa, 11.10.09

Bom dia, Luis, junto elementos em falta no blogue, que poderão publicar se acharem necessário.

Aí vão, para actualizar a minha biografia no blogue (**).

Imagina s artistas que nós somos…

O Estado Português vai pagar-me, por eu ter dado um passeio no navio João Belo (ver foto acima, nº 1) 2 660 dias (para efeitos de reforma)… Já falta pouco, hoje, 11.10.09, faço 31 em cada perna…

Também dei uma volta no navio Vasco da Gama [, 1998, em plena guerra civil, na Guiné-Bissau, resgatandio uma série de portugueses e guineenses], mas por isso não pagaram nada… nem uma medalha de cortiça… . Enfim, outras guerras

Gosto mais das canoas Inhomincas, são mais ventiladas. (ver foto acima, nº 2 , no porto de Bolama).

Agradeço os comentários sobre mim no blogue… Devido à minha vida de andanças pelo mato, e de dificuldade muitas vezes no acesso à Net, quero informar o seguinte:

(i) Nasci nas margens do Rio Vouga, centro do mundo, sou vizinho do D. Duarte Lemos, frequentei a Escola Industrial de Águeda;

(ii) fui Fuzileiro (Gr FZ) [, portanto "filho da escola"];

(iii) passei por Bissalanca em 1969, estava muito calor…Como não tinha roupa apropriada (tinha deixado o camuflado em Vale do Zebro, na escola de Fuzileiros), mandaram-me seguir para Luanda…

(iv) ao fim de uns anos, deixaram-me ir para casa, em Luanda, em 1972...

(v) por lá fiquei até ao último avião, da ponte aérea para Lisboa… Enfim, outras guerras.

(v) a minha família viveu dezenas de anos no Huambo (, antiga Nova Lisbao): pai, mãe e irmãos, etc.

(vi) minha mulher é natural do Huambo;

(vi) Por questões profissionais, em 1984 fui para Bissau. Gostei, fiquei…Pagam-me para fazer coisas que gosto, em locais de difícil acesso, e porque é uma aventura permanente… já não sei viver sem ela!

PS - Cá vai: 2 660 dias / para a reforma… foto da tropa, posto, data de nascimento.


Patricio Ribeiro

IMPAR Lda (***)

Av Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau,

Guiné Bissau > Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645

Lisboa > Tel / Fax 00 351 218966014

http://www.imparbissau.com/

impar_bissau@hotmail.com

2. Comentário de L.G.:

Patrício, os parabéns pelas tuas lindas 62 primaveras já vão atrasados, mas o Carlos Vinhal, que toca muitos pianos, ainda não tem o divino dom de adivinhar... Para o ano, se formos todos vivos, lá terás, no dia 11 de outubro de 2010, o teu postezinho com os nossos Parabéns a Você... (O Carlos já vai actualizar o teu cadastro).

Obrigado, pelas tuas fotos e pelos elementos biográficos que nos ajudam a aperceber um pouco melhor a tua opção de vida, que foi há 25 anos ir trabalhar e viver na Guiné-Bissau...

Desculpa-me de há tempos ter-te postado a nascer em Angola... Afinal, és um tuga beirão, nascido na terra do nosso Paulo Santiago... Explica-me melhor o que são essas canoas nhomincas (termo que não encontrei no dicionário...). E sobretudo continuas a ser a nossa ponte com a Guiné-Bissau de hoje... Toma cuidado contigo. Boa saúde e bom trabalho. Dá um abraço ao Pepito e aos nossos demais amigos comuns. Luís Graça
_____

Notas de L.G.:

(*) Postes de (ou sobre) o Patrício Ribeiro, publicados no nosso blçogue (I e II Séries):

4 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5050: Efemérides (23): Declaração da Independência em 24 de Setembro decorreu não em Madina do Boé mas Lugajole (Patrício Ribeiro)

8 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4655: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (4): Mãos à obra, rapaziada ! (Patrício Ribeiro)

6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis

12 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4016: Ser solidário (29): Unidos no passado, unidos no presente (Pepito / Carlos Fortunato)
´
29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3812: Dicas para o viajante e o turista (7): Viagens pelo sul da Guiné-Bissau (Patrício Ribeiro)

13 de Janeiro de 2009> Guiné 63/74 - P3732: Fauna & flora (6): A mensagem da Maria Joana e a resposta do Patrício Ribeiro

6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3705: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (13): O jacaré da praia do Biombo (Patrício Ribeiro)

5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1402: Um bom ano de 2007 a partir de Mejo, Guileje (Patrício Ribeiro).

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXII: Mais um amigo em Bissau (Patrício Ribeiro

(**) Vd. últimpo poste da série História de Vida:

1 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5038: História de vida (15): Maria da Glória, uma saudosa filha com um dom especial para o fado (Cristina Allen)

(***) No sítio da empresa pode ler-se (passe a publicidade):

Há 20 anos que fornecemos e instalamos equipamento fotovoltaico na Guiné Bissau

Numa região com as caracteristicas da Guiné, existe a necessidade de criar empresas especializadas, que participem no desenvolvimento económico-financeiro do país.

Impar é uma empresa com muitos anos de experiência nas áreas de fornecimento de material para necessidades básicas, como fornecimento de energia, comunicações, pesca, apicultura, etc, tornando-se assim uma importante empresa na sua região.

Na nossa empresa vai encontrar diversas soluções, para as suas necessidades energéticas ou de comunicação.Consequentemente, temos colaborado na melhoria do nível de vida dos habitantes Guineenses, com o objectivo de satisfazer um público cada vez mais exigente

(...) Com um currículo de mais de Quatrocentas Instalações Fotovoltaicas em território Guineense, a Impar é lider na sua área. (...).