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segunda-feira, 12 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24390: O segredo de... (38): António Branquinho (1947-2023): Passei-me dos carretos... Perante a recusa dos helis em levaram os nossos dois mortos, puxei a culatra atrás da G3 e gritei: 'Levais os mortos ou… dou-vos um tiro nos c….!' (Acção Galhito, 22/6/1971, regulado do Cuor, sector L1)

Guiné > Zona Leste > Região de Baftá  Sector L1 (Bambadinca)  > Regulado do Cuor > Missirá > 1969 > Aqui esteve destacado, em 1970/712, o seu Pel Caç Nat 63, com os nossos dois tabanqueiros, que a morte já levou, o alf mil art Jorge Cabral (1944-2021), natural de Lisboa,  e o fur  mil art António Branquinho (1947-2023), nascido em Vila Nova de Foz Coa. 

Entre 1971 e 1974, os Pel Caç Nat 52, 54 e 63 passaram "rotativamente" por vários aquartelamentos e destacamentos do Sector L1: Bambadinca, Fá, Missirá, Mato Cão, ponte do rio Udunduma , Enxalé, etc. O Jorge Cabral foi substituído, no comamdo do Pel Caç Nat 
63, em 1 de julho de 1971, pelo alf mil at Manuel David Coelho (oriundo da  CART 2714 / BART 2917).

O Pel Caç Nat 54, até 18/11/1970, era comandado pelo alf mil Correia. A partir desta data até para além do regresso do BART 2917 à Metrópole, passou a ser comandado pelo alf ml Hélder P. R. Martins.

Por sua vez, o Pel Caç Nat 52, era comandado pelo alf mil Mário Beja Santos, até 24/7/1970, sendo nesta data substituído,  até para além do regresso do BART 2917 à Metrópole, pelo alf mil at Nelson Alberto Wahnon Reis.
 
Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Humberto Reis (2006) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 


Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala de 1/50 mil > Detalhes: posição relativa de Bambadinca, Nhabijões, Mato Cão, Missirá, Sancorlá e Salá. O PAIGC só mandava (alguma coisa), a partir de Salá... tendo "barracas", mas a noroeste, na zona de Madina / Belel). Já no Oio havia a "base central" de Sara Sarauol... O destacamento, mais a norte de Bambadinca, no setor L1 era Missirá, guarnecido por um Pel Caç Nat (52 ou 63, em diferentes períodos) e um pelotão de milícias... Vários camaradas nossos, membros da Tabanca Grande, andaram por outros sítios, "pouco recomendáveis"...  A Madina/ Belel (que já não vem neste excerto do mapa) ia-se uma vez por ano, na época seca... para dar e levar porrada.  A história abaixo contada passou-se no trilho Missirá - Sancorlã - Salá, em 22 de junho de 1971, no decorrer da Acção Galhito.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


1. O Antóno Branquinho deixou-nos no passado dia 27 de maio, aos 76 anos (*)... Natural de Vila Nova de Foz Coa, vivia na Covilhã, era irmão do Alberto Branquinho. Escreveu poucas coisas para o blogue. Tem vinte e tal referências. Mas há um "segredo" que ele não leva para o Olimpo dos antigos combatentes: já aqui o contou, em 2010 (**). De maneira singela, sem fanfarronice, mas também sem alguns detalhes importantes, como o local e a data... (Fomos recuperar, entretanto, essa informação de contexto.) Vale a pena recordar esse poste, agora republicado na série "O segredo de..." (***)


O segedo de... António Branquinho: "Passei-me dos carretos..."

Missirá, pelas 6 da manhã, preparação e início de mais uma operação de rotina. 
O Pelotão tinha sido “convocado” para proceder a uma operação de reconhecimento e patrulhamento, conjuntamente com outros dois grupos de combate. Tínhamos ainda como objectivo, desactivar uma mina anti-pessoal, detectada há já muito tempo.(**=

Durante o percurso íamos passando por locais paradisíacos, com palmeiras, mangueiros, outras árvores exóticas e pequenos cursos de água. Se não houvesse guerra e tivesse dinheiro, não me importava de construir uma vivenda num daqueles locais. Maldita guerra!

Ia eu nestas cogitações, quando me dá uma valente dor de barriga. Desta situação avisei o Jorge Cabral, como comandante do Pel Caç Nat 63, informando-o que iria sair do trilho para fazer uma necessidade fisiológica. 

Estava eu a preparar-me para baixar as calças, quando se ouve um violento estrondo. De imediato, ponho-me a correr em direcção à cabeça da coluna, ainda com as calças em baixo. Sabendo da existência da tal mina, corri de imediato ao encontro do Jorge Cabral, pensando que a mesma tinha sido accionada pelos elementos da frente. Por sua vez o Jorge Cabral pensou que eu,  ao sair do trilho,  teria accionado outra mina. Encontrámo-nos ao meio do percurso, em direcções opostas, ficando ambos estupefactos e felizes por estarmos sãos e salvos.

Como seria de esperar, gerou-se uma certa confusão. Após a acalmia das “tropas” e de se averiguar a situação, constatou-se que tinha rebentado uma mina (reforçada com granada de canhão sem recuo), na retaguarda da coluna. Tendo esta provocando dois mortos e vários feridos, uns graves e outros leves.

Perante esta situação, via rádio, pediu-se a evacuação dos elementos atingidos pelos estilhaços da mina. De imediato procedeu-se à organização da segurança a prestar aos meios aéreos.

Há já cerca de duas horas, que os grupos de combate estavam devidamente instalados, quando se ouviu o som característico dos helicópteros. Eram dois. Voando em círculos, aterraram numa clareira. Do seu interior saíram duas enfermeiras paraquedistas para se inteirarem da situação. Verificaram que além dos feridos havia dois mortos, recusaram de imediato o transporte destes, levariam só os feridos. 

Comunicaram esta decisão aos pilotos, com a qual eles concordaram. Ao aperceber-me daquela decisão, pedi-lhes para que transportassem também os mortos. Mantiveram a sua posição, dizendo:

– Não levamos os mortos!

Perante as suas atitudes drásticas, quanto ao meu pedido “passei-me”. De modo bastante drástico e enervado, empunhei a G3 em riste, puxei a culatra atrás e vociferei:

– Levais os mortos ou… dou-vos um tiro nos c….!

Como seria óbvio, eu não daria nenhum tiro, era só “ronco”. Uma coisa é certa – levaram também os mortos.

Em consequência de todas estas peripécias, não mais me lembrei da dor de barriga. Lembrei-me, sim, ao regressarmos a Missirá de beber não sei quantas “bazucas” para matar a sede.

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Subtítulo / Negritos: LG]


2. Comentário do editor LG:


Dos 8 comentários ao poste P7291 (**), escolhi três, mais pertinentes:

(i) Luís Graça;

(...) Ora aqui está uma boa questão a pôr às nossas queridas camaradas enfermeiras paraquedistas... Por que é que elas se recusavam a levar os mortos? Eram elas ou eram eles, os homens da FAP, os pilotos e os melec?

Seguramente que havia "instruções de cima"... O custo de um heli era equivalente a 15 contos, na época, por HORA!, ou seja o vencimento (mensal) de dois alferes, se não mais, ou o pré (mensal) de 25 soldados de 2ª classe (leia-se: do recrutamento local, sem a 3ª classe da instrução primária)...

De facto, a mão de obra do exército, a tropa-macaca (sem ofensa para ninguém...), era muito mais "barata"...

No mato, para transportar, a pé, um morto, até ao aquartelamento mais próximo ou à estrada mais próxima (onde pudessem chegar as nossas viaturas) era preciso "mobilizar" um grupo de combate (30 homens) que se ia revesando... Era a tarefa mais penosa (física e psicologicamente falando) que nos podia caber, transportar, ao sol ou à chuva, um camaradda morto, em maca improvisada com paus de arbustos, impermeáveis e lianas...

Esse "calvário" está magistralmente descrito no livro do Amor Pires Mota, que eu li de um trago, a "Estranha Noiva de Guerra"...

16 de novembro de 2010 às 13:32

(ii) José Corceiro:

Numa narração que hoje escrevi para o blogue, que oportunamente irei enviar, durante uma emboscada tombaram no mato dois militares, também houve feridos. Pediram-se evacuações de heli, mas os mortos não foram no heli, ainda que não pertencessem à CCAÇ 5, foram em viatura para Canjadude, onde foram amortalhados.

É lógico, neste caso, se fosse só uma questão económica, teria sido mais vantajoso transportá-los no heli, a partir do local onde tombaram. Porque teve que vir meio aéreo, a Canjadude, trazer duas urnas. Posteriormente voltou a vir meio aéreo para levá-los já nos caixões, creio que para o local onde estava sediada a companhia à qual eles pertenciam. Eram duma companhia de “Paras”.

Interpreto a recusa de transportar mortos nos helis, por uma questão de utilidade e eficácia, porque durante o percurso do transporte dos feridos e mortos, poder-se-ia dar a coincidência de na mesma rota, aparecerem mais feridos e neste caso a lotação dum morto poderia impedir a evacuação dum ferido.

16 de novembro de 2010 às 22:20


(iii) Jorge Cabral:

Olá, Branquinho! Foi mesmo assim que aconteceu no dia 22 de Junho de 1971, na área de Salá (****). Eu já passara os 24 meses, mas ainda havia de lá voltar a 14 de Julho, quando o Pelotão já não se encontrava em Missirá. Os mortos foram Cherno Sanhá e Sambaro Embaló, ambos do Pel Caç Nat 54. (...)

17 de novembro de 2010 às 09:48
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24389: In Memoriam (479): António Branquinho (1947-2023), ex-fur mil, Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, set/69 - out/71)... Nosso tabanqueiro desde 24/9/2010, era irmão do advogado e escritor Alberto Branquinho, também ele membro da nossa Tabanca Grande

(**) Vd. poste 16 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7291: Estórias avulsas (100): A mina, que seriam duas (António Branquinho)

(***) Último poste da série > 21 de fevereiro de  2022 > Guiné 61/74 - P23012: O segredo de... (37): Demburri Seidi: demorou mais de dois anos para sair da sua boca o testemunho sobre os trágicos acontecimentos de Cuntima, em novembro de 1976, devido em parte ao medo que sentia e a manifesta dificuldade em falar sobre a "justiça revolucionária" praticada pelos vencedores contra os vencidos (Cherno Baldé)

(****) Segundo a História do BART 2917 (pág. 78) 

22 de junho de 1971: 

No decorrer da Acção “Galhito”, realizada por forças dos Pel Caç Nat 54 e 63,  na área de Sancorlã – Salá – Paté Gidé, as NT accionaram uma mina anti-pessoal reforçada em (BAMBADINCA 2F4-76) sofrendo dois mortos e dois feridos.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24080: A nossa guerra em números (23): Relatório da 2ª Repartição/CCFAG, relativo ao período de 1jan73 a 15out74: "maior agressividade e potencial revelado pelo IN, e menor capacidade ofensiva das NT"








Fonte: Relatório da 2ª Repartição/CCFAG relativo ao período de 1jan73 a 15out74, citado por CECA  - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro III (1.ª edição, Lisboa, 2015), pp. 493-499.


1. Com esta série "A nossa guerra em números" (*), não temos nenhuma pretensão, explícita ou implícita, de defender esta ou aquela tese sobre a guerra colonial / guerra do ultramar, em particular no TO da Guiné... O nosso propósito é meramente informativo e didático: cada um dos nossos leitores fará a sua leitura dos números apresentados, a crítica das suas fontes, as eventuais conclusões a tirar, etc...

A análise dos números e a sua interpretação devem ser feitas com cautelas e até reservas. É preciso  ter sempre em conta variáveis como o contexto (por exemplo, político-militar), a qualidade dos dados, a sua fonte, a idoneidade das fontes, quem os recolhe e trata, o fim a que se destinam, etc. Todos nós podemos mentir com números na mão: políticos, economistas, jornalistas, gente da publicidade e do marketing, etc., "usam e abusam" dos números... Para vender produtos e ideias, por exemplo. E depois é ter preciso fazer a distinção entre dados, informação e conhecimento. 

Os dados que temos hoje para apresentar são de fonte portuguesa, oficiosa, a antiga 2ª Rep do QG/CCFAG (Quartel General / Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné). E reportam-se à situação político-militar do ano de 1973 e dos primeiros quatro meses de 1974. Trata-se de uma síntese da atividade do PAIGC neste período final da guerra:

(i) ações de iniciativa do IN;
(ii) ações de reação do IN às NT;
(iii) minas e outros engenhos explosivos implantados pelo IN e neutralizados pelas NT;
(iv) baixas causadas pelo PAIGC às NT e à população (mortos, feridos, capturados, retidos);
(v) baixas sofridas pelo PAIGC (mortos, feridos, capturados, apresentados).

Os comentários dos nossos nossos leitores serão bem vindos.


CECA (2015) - Anexo n° 4 _ Relatório da 2ª Repartição/CCFAG 

relativo ao período de 1jan73 a 150ut74 [Excertos, 1]


O ano de 1973, juntamente com os primeiros meses de 1974 até ao 25 de Abril, constituem um período de nítido agravamento da situação militar, económica e político-subversiva no território da Guiné

Este estado de coisas reflectia a agudização do problema colonial português,  especialmente no plano internacional. Os movimentos emancipalistas, em particular o PAIGC, recebiam apoios ou ajudas de toda a ordem, cada vez mais generalizados, com destaque para os que eram canalizados através da ONU e OUA. [2]

Deste modo tomava-se muito real o isolamento do Governo português, cuja política de intransigência prosseguida apontava para um previsível esgotamento dos recursos do país a mais ou menos curto prazo.

[...] No seguimento da decisão tomada na 20ª Sessão do Conselho de Ministros da OUA, para que fosse empreendido, durante o ano de 1973, um golpe político-militar decisivo, sobre a Guiné, operou-se durante o mês de Maio um muito significativo agravamento da situaç,ão no TO. 

Assim, e em ordem à sua redução, o lN desencadeou poderosas e prolongadas acções de fogo sobre as guarnições fronteiriças de Guidaje, Guileje e Gadamael Porto, as quais conjugou com acções de isolamento terrestre e aéreo (início de emprego de mísseis "SA-7", que limitaram o emprego da Força Aérea), que efectivamente conseguiu, durante alguns dias em Guidaje. 

Quanto a Guileje obrigou as NT ao seu abandono. Na primeira metade de junho, manteve-se o agravamento verificado durante o mês anterior notando-se na última quinzena tendência para o desanuviamento da situação em Guidaje e Gadamael Porto, situação que tudo indicava ser temporária e somente resultante da época das chuvas em curso. 

A partir de fins de ag073 começou a ser referenciada uma concentração anormal de meios na faixa além-fronteira do saliente N/NE do território, a qual, no final do ano, evidenciando as intenções do lN, passou a constituir uma real ameaça sobre as guarnições de Buruntuma, Canquelifá e Copá, em especial esta última, de menor efectivo (2 Gr Comb), isolada e excêntrica.

Neste contexto, as forças do PAIGC não só revelaram uma notável capacidade de manobra e confirmaram o extraordinário potencial de combate que lhes era atribuído, como alteraram profundamente o seu conceito de manobra no TO, passando da actuação dispersa em superficie para a concentração maciça de meios sobre objectivos definidos, normalmente distantes uns dos outros, com o propósito de hipotecar as reservas das NT no local oposto onde pretendia exercer o esforço.

Destas realidades, logo no início de 1974 com o avanço da nova época das chuvas, resultou novo agravamento da situação criada com o empolamento da guerrilha desde abril do ano anterior.

Assim, a partir de jan74, o PAIGC passava verdadeiramente à ofensiva, a qual se caracterizou pela definição de duas áreas de incidência de esforço, diametralmente opostas, uma no extremo NE do TO onde desenvolvia a Op "Abel Djasse" e a outra a Sul, no Cubucaré, para o que inclusivamente tinha constituído um novo órgão coordenador das operações de guerrilha nesta zona: o Comando Sul. 

As acções foram desencadeadas, numa e noutra das áreas referidas, com base em novas unidades das FARP, e com largo emprego de artilharia e armas pesadas, nomeadamente mort 120 mm e fog 122 mm.

Além destes meios os mísseis SA-7 "Strela" eram frequentemente utilizados, o que limitava grandemente o apoio da Força Aérea às guarnições terrestres e, a 31mar74, apareciam as primeiras viaturas blindadas em Bedanda (Cubucaré) o que confirmava o grande aumento de potencial, assim como a crescente capacidade táctica e, sobretudo, logística do PAIGC. 

Nas restantes áreas do TO aumentava igualmente de modo significativo a actividade de guerrilha dispersa em superfície, com relevo para o emprego de engenhos explosivos e acções de terrorismo urbano que alastravam até à própria capital - Bissau.

Como mero exemplo citam-se as 17 flagelações com armas pesadas a outros tantos aquartelamemtos ou  povoações, num único dia (20lan74 - Data da morte de A. Cabral), o rebentamento de engenhos explosivos num café de Bissau (26fev) que provocou 1 morto e a sabotagem no próprio QG/CTIG (22fev) onde parte do edifício principal foi destruída.

No Sul a ofensiva aí realizada permitia ao PAIGC o controlo efectivo de uma área de razoável superfície em que inseria o "corredor" de Guilejepercorrido frequentemente por viaturas das FARP, e que confinava com outra vasta área abandonada pelas NT desde 1969 - o Boé.

Em abr74, dado o esgotamento das reservas do Cmd-Chefe, previa-se que o relançamento da ofensiva no saliente NE, orientada para Sul, tomaria iminente o abandono de Canquelifá e o consequente isolamento de Buruntuma.

Admitia-se ser intenção do PAIGC unir a bolsa assim conquistada com a Região do Boé, por sua vez ligada à zona onde se localizava o "corredor" de Guileje, mais a Sul, concretizando deste modo uma ocupação territorial efectiva que carecia para reforçar a imagem do Estado da Guiné-Bissau parcialmente ocupado pelas Forças Armadas Portuguesas.

Nas áreas de incidência de esforço referido a situação era de tal modo grave para a maioria das guarnições das NT, cujos sistemas de defesa não dispunham de obras de fortificação que pudessem resistir com eficácia às novas armas pesadas do PAIGC, que o Cmd-Chefe alertara do facto o EMGFA, a 20abr74, por uma nota que concluía nos seguintes termos:

"O facto de ter sido confirmada parte das notícias atrás mencionadas pela utilização de viaturas blindadas no ataque a Bedanda, confere certa verosimilhança às restantes notícias que referem a existência de novas armas antiaéreas ou outras, pelo que aquela utilização e o conjunto das circunstâncias descritas na presente nota, nomeadamente a análise das fotografias juntas, são motivo de grande preocupação para este Cmd-Chefe, cumprindo-lhe assinalar as consequências que podem resultar da possível evolução do potencial de combate do PAIGC ou do seu eventual reforço com novos meios das FA da Guiné, quer quanto à capacidade de resistência das guarnições militares que porventura sejam atacadas, quer quanto às limitações de intervenção com meios à disposição do Comandante-Chefe, em especial meios aéreos".

Análise da actividade de guerrilha

A partir de 1964, após a criação das FARP, a curva da variação anual de actividade de guerrilha apresentava, todos os anos certa semelhança: crescia durante toda a época seca, apresentando um ponto alto em jan/fev, após o que decrescia para, em abr/mai, subir de novo até ao começo das chuvas, altura em que alcançava o máximo anual; a partir do começo das chuvas a actividade da guerrilha começava a decrescer regularmente, atingindo no final das chuvaso seu mínimo anual.

A actividade de guerrilha do PAIGC, em 1973, processou-se de acordo com os padrões normais dos anos anteriores, tendo apresentado no entanto a seguinte particularidade: o ponto alto verificado no final da época seca (em mai73) correspondeu a cerca do dobro das acções registadas em 1972, na mesma altura, e o decréscimo observado durante a época das chuvas foi mais acentuado e prolongou-se para além da época seca, até nov73.

No entanto a partir do final de dez73, a actividade de guerrilha aumentou muito acentuadamente, tendo sido em todos os meses do primeiro trimestre de 1974 mais elevada que nos meses homólogos do ano anterior.

Deste modo ao empolamento da actividade de guerrilha em 1973, sucedia outro tanto em 1974. O habitual ponto alto que se previa para abr/mai74, e tudo fazia admitir mais violento que o de 73, só foi sustido pela ocorrência do Movimento de 25Abr.

Pelos quadros anteriores   [vd. acima ] verificava-se que,  quantitativamente, no ano de 1973, se registou um total de 1.514 acções de guerrilha, correspondente a um aumento de cerca de 11% em relação às 1.359 acções verificadas no ano anterior. 

Daquele total, 1.033 acções foram de iniciativa do PAIGC (760 em 1972) e 481 acções de reacção (599 em 1972). Assim, o ano de 1973 foi caracterizado não só por um aumento global de acções, mas especialmente por uma subida pronunciada do número de acções de iniciativa do PAIGC (mais 35%), a par de um decréscimo da actividade de reacção.

Esta tendência - aumento da actividade de iniciativa - acentuou-se mais nos primeiros 4 meses de 1974 (+ 50%), período em que se registaram 415 acções de iniciativa, total significativamente superior às 276 acções realizadas pelo PAIGC em igual período de 1973.

Tais números eram o resultado da cada vez maior agressividade e potencial revelado pelas FARP, assim como a diminuição da actividade de reacção era sintoma claro de uma menor capacidade ofensiva das NT.

Acresce que a actividade de iniciativa do PAIGC, no conjunto do TO, tendo aumentado cerca de 35% em relação a 1972, provocava às NF mais do dobro dos mortos (185/84) registados naquele ano. 

Neste particular o agravamento de 50% verificado nos primeiros meses de 1974, originava um total de mortos sofridos pelas NF até ao final de abr74 (81 M) quase idêntico ao nº registado durante todo o ano de 1973 (84 M). 

Este facto tomava evidente que as acções de guerrilha, além de mais numerosas, tinham uma característica, que os números não podiam traduzir com fidelidade a qual era a cada vez maior violência das mesmas, sendo certo que os valores estatísticos dos quadros apresentados não faziam distinção entre pequenas e grandes acções ou operações de guerrilha.

Em resumo, pode concluir-se o seguinte:

  • Avaliada pelo quantitativo de acções,  a actividade de guerrilha da iniciativa do PAIGC em 1973, aumentou cerca de 35% em relação ao ano anterior. Por sua vez em 1974, no final de Abril, aquele quantitativo era 50% superior ao total registado nos primeiros 4 meses de 1973.
  • A acção do PAIGC vinha sendo caracterizada por um aumento significativo das acções de fogo, em detrimento das acções de terrorismo (raptos e roubos), orientando-se este, cada vez mais, para acções de terrorismo selectivo e sabotagens. Era notória a evolução no sentido do abandono progressivo da actividade de guerrilha dispersa em superfície, em proveito das acções maciças contra objectivos definidos, obrigando a grandes balanceamentos demeios, por vezes, envolvendo elementos de todo o TO.
  • Estas características eram indicadores seguros do aumento de agressividade das FARP e da sua maior capacidade ofensiva, potencial e eficiência.
  • Em reforço da conclusão precedente menciona-se o aparecimento de novas armas durante o período considerado (míssil "Strela" e viaturas blindadas) e um maior emprego de outras (mort 120 mm, fog 122 mm, canh 85 mm, canh 130 mm e minas especiais).
  • Finalmente, a situação militar revelou nítido agravamento a partir de dez73, em especial nas Zonas Sul e Leste.

Dispositivo geral do PAIGC e objectivos

Ao longo de toda a fronteira e nos países limítrofes, o PAIGC dispunha de Bases com estruturas e Comandos próprios, perfeitamente integrados na sua organização militar e que, em conjunto com os "corredores" de infiltração e áreas fulcrais no interior do TO, constituíam a malha do seu dispositivo.

Algumas das Bases ao longo da fronteira tinham simultaneamente carácter operacional e logístico, constituindo pontos de apoio à entrada de grupos armados e de colunas de reabastecimento. Assim:

  • Na Zona Oeste, dispunha fundamentalmente das Bases de M'Pack, Campada, Sikoum, Cumbamory e Hermacono, sedeadas na faixa fronteiriça da Rep Senegal, a partir das quais actuava contra as guarnições de S.Domingos, Ingoré, Guidaje, Farim e Cuntima e infiltrando-se pelos "corredores" da Sambuiá e Lamel irradiava para o interior do TO, respectivamente em direcção às áreas fulcrais de:

- Tiligi, Naga-Biambe e Caboiana-Churo, donde ameaçava directamente o "Chão" Manjaco e as povoações  e Aquartelamentos  ao longo do eixo Có - Bula - Binar - Biambe - Bissorã;

- Bricama, Morés e Sara, donde ameaçava as povoações e aquartelamentso ao longo do eixo Mansoa - Mansabá - Farim, a península de Nhacra e, indirectamente a ilha de Bissau;

  • Na Zona Leste, para pressionamento do "Chão" Fula, dispunha:

- Na Rep Senegal, das Bases de Fakina, Sambolecunda, Sare Lali, Suco/Payongon e Lenguel/Serenafe, ameaçando os regulados da fronteira N, em direcção a Bafatá/Nova Lamego. [... ]

___________

Notas da CECA (2015):

[1] Extractos  do relatório, pp I, 11 a 18.

[2] A Guiné-Bissau tinha sido admitida como membro daquela Organização, após a proclamação unilateral da independência.

[Revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste: LG ]

__________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 14 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24065: A nossa guerra em números (22): De um total de 1570 minas e outros engenhos explosivos implantados pelo PAIGC (de 1972 a 20 de abril de 1974), mais de três quartos foram neutralizadas pelas NT, com destaque para as minas A/P

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23985: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVIII: (i) o galo que traiu Pansau Na Isna em Catunco Nalu; (ii) a primeira operação helitransportada no CTIG, em Jabadá, setor de Tite


Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 1966 > Equipa de um grupo de comandos momentos antes de serem largados de helicóptero.


Guiné > Brá > c. 1965/66 > Comandos do CTIG > Aquartelamento 


Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 1966 > O soldado Augusto de Sá, que pertenceu ao Gr Cmds  “Os Centuriões”. 

Fotos (e legendas): © Virgínio Briote (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (1940-2015) (*). Recorde-se aqui o seu passado militar:

(i) começou a recruta,  como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor auto-rodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965,  fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;  

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amsterdão);

(vii) descreve-se a seguir as duas primeiras operações que fez, integrado no Gr Cmds "Os Centuriões".


Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVIII



(i) O Gr Cmds "Os Centuriões" em Catunco  
Nalu, com o galo a servir de guia 
(pp. 133/136)


Chegados a Brá, fomos directamente à arrecadação, levantar o material e o equipamento necessário. 

Dois dias depois, surgiu uma missão [1] para cumprir, no sul. Apanhámos outra vez o barco para Cacine. O objectivo era Catunco Nalu o local da última acção dos “Fantasmas”, a tal operação “Ciao”, onde tivemos um morto e nove feridos, em maio [2] de 1965. E agora, em fevereiro [3] de 1966, íamos voltar ao mesmo local para a operação com o código “Cleópatra”.

Chegámos à tarde a Cacine, repousámos até cerca das 20h30. Esta era a primeira operação em que, eu, o Tomás Camará e o Mamadu Bari, íamos participar com os “Centuriões”.

O grupo já tinha feito algumas [4] operações e, como alguns companheiros já tinham terminado a comissão e regressado às respectivas unidades, precisavam de pessoal experiente e foi por isso que fomos requisitados pelo alferes Rainha.

Saímos de Cacine depois do jantar em direcção a Cameconde, para executar o golpe de mão. Fomos andando até que, por volta da uma da madrugada, atingimos Catunco, que estava abandonada. A meio da tabanca, deixámos a picada que a atravessava e que ia para Camissorã e metemos à direita, onde em maio do ano passado nos tínhamos confrontado com o PAIGC.

A partir daqui o guia, tal como da outra vez, começou a recusar-se. Deitou-se no chão e, como da outra vez, perdemos muito tempo neste local. Fomos aguentando, com muita paciência, a resistência do guia. Eram para aí 03h00, ouvimos um galo a cantar. Prestámos muita atenção, porque era sinal de que vivia gente por perto. O galo continuou a cantar, não havia a menor dúvida que um acampamento estava por ali.

O alferes mandou o guia para a retaguarda e o galo passou para a frente, passámos a ser conduzidos pelo cantar dele. De cinco em cinco ou de dez em dez minutos, o galo cantava e, assim, fomo-nos aproximando. Atingimos um monte de baga-baga e a seguir vimos um cruzamento.

O cantar do galo vinha do caminho do lado direito do cruzamento. Metemos por ele e, sem sabermos, estávamos a pouco mais de 20 metros das barracas dos combatentes do PAIGC.

O alferes veio ter comigo e estivemos a estudar o que devíamos fazer. Vimos as barracas e nem deu tempo para reunir o grupo todo. O sentinela que estava perto do baga-baga, a dormir o sono da madrugada, deve ter acordado com algum barulho, mexeu-se e o Tomás Camará disparou uma rajada curta. Quebrado o silêncio, assaltámos as barracas. Ninguém teve tempo de se defender, deixaram tudo a fugir.

Nós pegámos no que pudemos. Carregados com tanta quantidade de material [5], 
não ficámos à espera, nova corrida em direcção ao cruzamento da picada que vai para Cacine, onde tínhamos deixado um grupo [6] para nos recolher e ajudar no que fosse preciso. Atingimos o cruzamento, sem problemas, ao encontro da tropa. Depois, a coluna pôs-se em movimento para Cacine.

Descansámos o dia seguinte e à noite fomos até à tabanca de Cacine, divertir-nos 
um pouco com as raparigas. Tínhamos levado um pequeno gira-discos, que o Augusto de Sá [7] levava e eu e o Tomás Camará pusemo-lo a tocar música.

No outro dia [8], apanhámos outra vez o barco para Bissau.

Tinha corrido tudo bem. O silêncio e o cuidado que tivemos na progressão fez com que o sentinela, que não estava a mais de dois metros do baga-baga, não tivesse dado por nada.


(ii) "Centuriões" e "Diabólicos", na estreia dos helis em Jabadá, setor de Tite (pp. 136/138)



Estávamos no aeroporto desde o meio-dia, à espera que acabasse a reunião dos nossos oficiais com os pilotos. Nesse espaço de tempo houve uma cena entre dois companheiros dos “Diabólicos”[Gr Cmds comandado pelo alf mil Virgínio Briote]  , o Silva e o Adulai Djaló, um europeu e um africano. O Silva disse ao Djaló:

 Djaló, tu vais morrer nesta operação!

 Filho da mãe, tu é que vais morrer! – respondeu o Adulai.

Estávamos todos a rir, com grande gozo e alarido, quando chegaram os oficiais.

Era nesse dia, 6 de março, que se ia realizar pela primeira vez na Guiné uma heliportagem de assalto e o local escolhido foi Jabadá Beafada [9]. Dois grupos, os “Centuriões” e os “Diabólicos”, quinze homens de cada, em seis helicópteros. Ia também o comandante da companhia de Comandos, o capitão Garcia Leandro.

Embarcámos por volta das 13h00, sobrevoámos Bissau, cortámos para a esquerda e começámos a subir o Geba. Poucos minutos depois, curvámos para a mata a ver os T-6 bombardeá-la.

De um momento para o outro ficámos cara a cara com os T-6, eles a tomarem altura e nós a baixarmos para o assalto. Saímos a disparar para a tabanca, as primeiras imagens que vi foi uma máquina de costura e o corpo de um homem balanta.

No meio dos tiros e dos rebentamentos, ouvimos pelo rádio os “Diabólicos” pedirem uma evacuação. O tiroteio foi intenso, mas não demorou muito tempo. Estava muita gente, guerrilheiros e população, todos misturados, houve muitas baixas. Eu estava preocupado com a informação que tínhamos ouvido no rádio, o pedido de uma evacuação de um “M”, ou seja de um morto. Se o Silva disse que tinha sonhado que o Djaló ia morrer no assalto…

Estava ansioso que os grupos se encontrassem para sabermos quem morreu. Quando acabaram os disparos e começámos a retirar em direcção a uma clareira, avistámos ao longe o grupo “Diabólicos” a caminhar na nossa direcção. Não, Djaló não tinha morrido, vinha ali ao fundo.

Quando os dois grupos se uniram, perguntei ao Djaló quem tinha morrido e ele disse: 

– Foi o Silva!  [10] (**)

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Parênteses retos com notas /Subtítulos: LG]



Guiné > Brá > Comandos do CTIG > Gr Cmds "Os Diabólicos" >  Soldado 'comando' António Alves Maria da Silva, o segundo a contar da direita. O alf mil 'cmd' Virgínio Briote,  à esquerda.

(...) "Uns dias antes, os olhos do Silva molharam-se quando o furriel Azevedo lhe disse que não ia mais para o mato, que a comissão já estava terminada e que não queriam mais nenhuma edição do furriel Morais dos Fantasmas, morto no sul, em maio do ano passado, duas semanas depois de ter terminado a comissão. O alferes transigiu, a história repetiu-se." (...) (vd. poste P15044 ***)

______________

Notas do autor ou do editor literário (VB);

[1] Nota do editor: operação “Cleópatra”.

[2] Nota do editor: 7 maio 1965.

[3] Nota do editor: 22 fevereiro 1966.

[4] Nota do editor: sete.

[5] Entre o material apreendido, para além de documentação importante, trouxemos o barrete chinês, uma agenda com apontamentos e uma bonita pistola do Pansau Na Isna, comandante do PAIGC.

[6] Nota do editor: Grupo de Combate da CCaç 799

[7] Augusto de Sá, já depois da Independência da Guiné-Bissau, contraiu tuberculose. Veio tratar-se para Lisboa e, ainda doente e contra o conselho dos médicos, regressou à Guiné onde acabou por morrer.

[8] Nota do editor: 26 de fevereiro de 1966.

[9] Op Hermínia. A informação que nos deram era que havia dois núcleos de moranças, uma a norte com população e outra, cerca de 300 metros a sul, com pessoal armado. Por volta das 13h20, as três equipas dos “Diabólicos” foram largadas no núcleo norte e as nossas no núcleo sul. Havia pessoal do PAIGC armado nos dois lados. Do núcleo norte, enquanto retirava, o PAIGC disparou armas automáticas, atingindo mortalmente o António Silva. Vimos vários mortos no local e aprisionámos oito pessoas. No regresso a Jabadá, junto à orla da mata, avistámos mais casas. Os T-6 atacaram com rockets, nós entrámos depois. Enquanto retirávamos o PAIGC fez várias vezes fogo de morteiro, mas sem pontaria. Entrámos no aquartelamento de Jabadá por volta das 16 horas e os helis transportaram-nos de regresso a Bissau. (***)

[10] O soldado 'cmd' António Alves Maria da Silva, oriundo da CCaç 674, era natural de Erada, Covilhã; ficou sepultado na campa 247, no Talhão Militar do Cemitério de Bissau.
________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 12 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23974: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVII: De volta ao QG, fiz a escola de cabos em Bolama, tirei vinte valores e mandaram-me de novo para os comandos do CTIG, desta vez para o grupo "Os Centuriões"

(**) Vd. poste de 9 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2820: Aqueles que nem no caixão regressaram (1): O Sold António Alves Maria da Silva, campa nº 247, Bissau (Virgínio Briote)

(***) Vd. postes de:

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23973: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XXXVII: Leopoldo Jorge da Silva, maj art (Viseu, 1868 - Moçambique, 1916)

MORTOS EM COMBATE (MOÇAMBIQUE, 1914-1918)



Leopoldo Jorge da Silva. maj art  (1868 - 1916)


Nome: Leopoldo Jorge da Silva

Posto: Major de Artilharia

Naturalidade: Viseu

Data de nascimento: 29 de Março de 1868

Incorporação: 1890 na Escola do Exército (nº 329 do Corpo de Alunos)

Unidade: Regimento de Artilharia de Montanha (1º Grupo)

Condecorações: Medalha de Prata “Rainha D. Amélia” | Cavaleiro da Real Ordem Militar de S. Bento de Aviz | Medalha da Cruz de Guerra de 1ª classe (a título póstumo) | Promoção a Tenente Coronel por distinção (a título póstumo)

TO da morte em combate; Moçambique

Data de Embarque; 15 de Julho de 1916

Data da morte: 10 de Novembro de 1916

Sepultura: Cemitério de Nevala - Tanzânia

Circunstâncias da morte: Comandando a coluna de Mossari atacou denodadamente, em 8 de Novembro, forças alemãs em Quivambo obrigando estas a retirar com perdas significativas. No combate travado foi ferido com gravidade: Evacuado para o fortim de Nevala, faleceu dois dias depois (10 de Novembro).




António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem

1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

_________

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23970: O nosso blogue em números (85): Em 2022, tivemos 12 "baixas mortais" e outras tantas entradas para a Tabanca Grande (dos quais 3 a título póstumo)... Somos agora 867 grã-tabanqueiros, dos quais 129 já falecidos (c. 15%)


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


1. Foi mais um ano, inevitavelmente, com baixas: morreram 12 camaradas nossos, registados na Tabanca Grande, alguns históricos e com dezenas de referências no blogue.

Ano de 2022 - Lista dos amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando (n=12):
 
Alberto Bastos (1948-2022)

António Estácio (1947-2022) (c. 7 dezenas de referências)

Coutinho e Lima (1935-2022) (mais de 100 referências)

Francisco Pinho da Costa (1937-2022)

João Silva (1950-2022)

Júlio Martins Pereira (1944-2022) (12 referências)

Manuel Marinho (1950-2022) (c. 4 de dezenas de referências)

Maria Ivone Reis (1929-2022) (mais de 3 dezenas de referências)

Mário de Oliveira (Padre) (1937-2022) (mais de 2 dezenas de referências)

Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022) (8 dezenas de referências)

Veríssimo Ferreira (1942-2022) (mais de 9 dezenas de referências)

Xico Allen
(1950-2022) (5 dezenas de referências)


2. Em contrapartida entraram outros 12 novos membros para a Tabanca Grande, alguns a título póstumo: Alberto Bastos (1948-2022), Francisco Pinho da Costa (1937-2022) e  João Silva (1950-2022).

No final de 2022, éramos 867 (Gráfico nº 8), dos quais 129 já falecido (14,9%).

Continuamos a lembrar que estes números das nossas "baixas mortais" devem pecar por defeito: há membros da Tabanca Grande de que não temos notícias há anos, ou seja, são camaradas que não fazem "prova de vida", por email, telefone ou colaboração no blogue... (Razão pela qual, também, deixámos de celebrar o seu aniversário, nos casos em que estávamos autorizados a fazê-lo.)

Em relação à entrada de novos membros, chamamos a atenção para o facto de a média anual. nos últimos onze anos (2012-2022) ser agora de 24,7. Ou seja, neste período estavam a entrar, em média, dois novos membros por mês (**)... Em 2022, foi apenas um por mês... 

Dificilmente por isso vamos conseguir chegar ao fim do ano de 2023 com dois batalhões: 900 elementos registados (***)... É uma meta ambiciosa, para a conseguirmos atingir temos que fazer um esforço, os mais ativos de nós, para trazer um "periquito", de preferência com muitas fotos e outras memórias para partihar...

Aqui vai a lista dos novos membros, em 2022, por ordem cronológica de entrada (entre parênteses o nº de grã-tabanqueiro) (n=12):

Alberto Bastos (nº 856)

José Carlos Silva (nº 857)

Manuel Antunes (nº 858)

José Torres Neves (Padre) (nº 859)

João (da Silva) Alves
(nº 860)

António Figuinha (nº 861)

Maria Ivone Reis (nº 862)

Ramiro Figueira (nº 863)

Francisco Pinho da Costa (nº 864)

José Moreira Neves (nº 865)

João (Candeias da) Silva (nº 866)

Manuel Calhandra Leitão ("Mafra") (nº 867)


Já lá vai o tempo em que o  número de membros da nossa Tabanca Grande  crescia, com regularidade, a uma méda de 4 por mês, ou seja, um por semana... Éramos 111, em junho de 2006, 390 em 2009, 595 em 2012, 710 no final de 2015, e por aí fora: 731 (em 2016),  765 (em 2017)...

Depois o ritmo começou a abrandar (Gráfico nº 8), o que é compreensível face ao duplo processo de envelhecimento: do nosso blogue (que vai fazer 19 anos em 23/4/2023) e do "público-alvo" a que se dirige, os combatentes da guerra colonial / guerra do ultramar na Guiné (1961/74)...
__________

Guiné 61/74 - P23968: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XXXVI: Artur Augusto Rodrigues, alf inf (Sabrosa, 1895 - França, CEP, 1918)

 

Artur Augusto Rodrigues (1895 - 1918)


Nome: Artur Augusto Rodrigues
Posto: Alferes de Infantaria
Naturalidade: Sabrosa - Vila Real
Data de nascimento:  20 de Julho de 1895
Incorporação: 1916 na Escola de Guerra (nº 430 do Corpo de Alunos)
Unidade: 2ª Brigada de Infantaria, 8º Grupo de Metralhadoras
Condecorações:
TO da morte em combate: França (CEP)
Data de Embarque: 10 de agosto de 1918
Data da morte: 14 de Outubro de 1918
Sepultura: França, Cemitério de Richebourg l'Avoué
Circunstâncias da morte: Faleceu em 14 de Outubro vítima de ferimentos recebidos (estilhaços de granada) sendo inicialmente sepultado em Tin de Barn



António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem


1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.
____________

Nota do editor:

(*) Último poste sa série > 13 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23613: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XXXV: Pedro Carrazedo Campos Viana de Andrade, alf art (Portalegre, 1897 - França, CEP, 1918)

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23877: Em busca de... (318): Fernando José Machado Gouveia (1945-2022), ex-militar da FAP, que passou pelo CTIG; era natural de (ou morador em) Crato, distrito de Portalegre... Sobrinha procura antigos camaradas.

 


Fernando José Machado Gouveia (1945 - 2022). 
Era natural de (ou morador em) Crato, 
distrito de Portalegre.
Foi militar da FAP, 
tendo estado no TO da Guiné.

Imagem: Cortesia da sua sobrinha SS



1. Mensagem de uma nossa leitora, sábado, 10/12, 01:38, sobrinha de um camarada nosso da FAP:


Nas minhas andanças na Net encontrei este vosso blog (andava à procura de um determinado livro RTP, um da colecção dos que chamavam "livros brancos", segundo entendi da leitura do post no vosso blog para onde fui direccionada).

Filha de militar (dessa guerra), já falecido, sou muito sensível a esta temática do ponto de vista humano, tendo um respeito enorme para com todos os que passaram por essa experiência de vida.

O que me leva a escrever-vos é notícia triste e uma pergunta.

Meu tio, Fernando José Machado Gouveia, faleceu no passado dia 9 de Novembro de 2022 (n. 19 Outubro 1945). Era tio querido e muito sofreu nos seus últimos anos devido a um estado de saúde débil (muitos problemas por sequelas de enfermidade tropical aquando da sua passagem pela Guiné), agravado por faculdades cognitivas em sucessiva perda.

Praticamente nada sei da sua vida militar, mas julgo saber que foi furriel (se não estou equivocada no posto) da força aérea, e que esteve na Guiné, embora não saiba onde nem em que anos ou funções e muito menos o seu nº mecanográfico.

Supondo ser informação escassa, daqui surge a minha pergunta: 

Quem se lembra dele, quem pode dar-me um eco, uma imagem, uma descrição, algo da sua juventude e do sacrifício na comissão que foi obrigado a cumprir? (*)

Um grande abraço com desejos de um feliz Natal a todos vós e vossas famílias.
SS

2. Resposta do editor Luís Graça,  sábado, 10/12/2022, 10:56 :


Sinto muito, querida,  a morte do seu pai e do seu tio, nossos camaradas... Veja se nos consegue dar mais dados sobre o tio Gouveia, que em princípio seria da Força Aérea: piloto ? especialista ? paraquedista ?... 

Veja a sua caderneta militar... se a conseguir encontrar. Contacte também este blogue dos

http://especialistasdaba12.blogspot.com/

Endereço de email:especialistasdaba12@gmail.com


Um bom Natal e um melhor Ano Novo,
Luís Graça, editor 
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


3. Nova mensagem da nossa leitora que se assinada apenas pelas iniciais SS;
 
Data - 12 dez 2022 02:16  

Sr. Luis Graça,

Obrigada pelo acolhimento a esta visitante, caída no vosso blog por acaso (pára-quedas seria mais apropriado?).

Quanto a informações mais detalhadas sobre o meu tio, sei que não foi piloto, mas também que não esteve em sítio "bom"

Sei que esteve na Ota (ou Tancos?) antes da partida para a Guiné, era eu pré-adolescente na altura e ele vinha para nossa casa (de sua irmã, minha Mãe) nas folgas com sua farda azul (blusão tipo dólman de fazenda).

Quanto a mais referências,  teria de perguntar à minha tia, sua viúva. No entanto, sendo tão recente o falecimento, não quero estar-lhe a provocar mais perturbação. Ela culpa intensamente a ida de meu tio para a Guiné na juventude pelos tantos problemas de saúde física e mental,  que ele teve durante a sua vida adulta, como igualmente nutre revolta pela falta de respeito, de responsabilidade do Estado ao não ter desenvolvido cuidados de acompanhamento psicológico e médico aos ex-combatentes, pelo que falar-lhe só iria infligir mais mágoa. Quando (e se) sentir o momento próprio,  poderei perguntar-lhe, agora ainda não.

Esta é também a razão por que não posso recorrer aos canais oficiais de arquivos, porque só ela os poderia demandar e tal não lhe vou pedir.

O querer saber é meu, porque quero compreender o meu tio em todas as suas dimensões, as que puder encontrar e conseguir assimilar. Julgo ser uma forma de o homenagear ao sentir-me mais próxima dele, é necessidade minha no meu luto. 

Não sou uma "menina", tenho conhecimento e maturidade, sei que poderei encontrar elementos sensíveis ou perturbadores, mas o confronto com essa realidade dá-me força (e calo) para ser valente nesta vida (com o exemplo desses valentes), porque não quero andar alienada a fingir estar num mundo de fantasia e rosas. 

Assim fiz aquando do falecimento do meu Pai (oficial do exército, que também "infernou" em várias comissões sucessivas, em Angola e principalmente repetindo em Moçambique ), falando com alguns dos seus companheiros chegados que eu conhecia, e isso ajudou-me muito a tê-lo mais inteiro no meu coração.

Ja corri o blog que me indicou, quase de fio a pavio, mas nada encontrei. Entretanto, tomei a liberdade de ler alguns posts do vosso blog, na procura de alguma referência ou foto. Ainda não encontrei nada de efectivo, mas pelo menos posso confirmar que, apesar de homónimo, o meu tío não é este sr. Fernando Gouveia [que foi alf mil rec e inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70, e é arquiteto da CM Porto, reformado; e membro da Tabanca Grande desde 9/4/2009].

Por outro lado, pareceu-me reconhecê-lo (sem certeza) na foto em anexo. O rapazito de óculos no canto superior esquerdo (céus, alguns eram tão novos, umas crianças). Será ele? Algum ex-camarada poderá esclarecer?

 [ Foto: David Duimarães, 2005].

Desculpe se o aborreço ou se estou a fazê-lo sentir-se meu sofá de psiquiatra (pensará o senhor, suponho), sinceramente, não quero pesar com esta insistência, mas se for possível ter um vislumbre do que se terá passado com meu tio na Guiné, fico muito agradecida.

Meus melhores cumprimentos. SS

  
4. Comentário do editor LG:

Amiga, não aborrece nada. O nosso blogue também esta missão, de "serviço público", de localizar antigos combatentes, que passaram pelo teatro de operações da Guiné, seja a pedido de familiares seja de amigos e camaradas.  

Se o o seu tio era da Força Aérea, e passou pela OTA, e não era piloto, e usava farda azul, é mais provável que tenha sido 1º cabo especialista...Se sim, e passou pela Guiné, deve ter estado na Base Áérea, nº 12, em Bissalanca, talvez por volta de 1965. É uma pista... Se me diz que o seu posto era furriel (miliciano), é mais provável que tenha sido paraquedista e neste caso no Batalhão de Caçadores  Paraquedistas nº 12 (BCP 12), cujo regimento (RCP) estava sediado em Tancos... É outra pista.

O seu tio nunca poderia ser o jovem retratado na foto acima: esse, morreu à minha beira, em 26 de novembro de 1970, no subsetor do Xime, no decurso da Op Abencerragem Candente, era furriel miliciano do exército (CART 2715, Xime, 1970/72), chamava-se Joaquim de Araújo Cunha, natural de Barcelos (**).

Tanto quanto consegui apurar, o seu tio (e nosso camarada) Fernando José Machado Gouveia seria natural do (ou morador no) Crato, distrito de Portalegre. 

Veja se consegue apurar mais alguns elementos sobre a sua passagem pela FAP e pela Guiné.  Um santo Natal. Luís Graça