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sexta-feira, 10 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25501: Facebook..ando (54): as lindas e gentis mulheres Tandas, de Imberém, Cantanhez: foto da semana de 20 de junho de 2011, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento

 

Guiné-Bissau > Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 20 de junho de 2011> 


"Um grupo de 'caltambas' acompanha as mulheres Tandas na sua colheita de arroz, manifestando a sua alegria pela boa produção obtida e dando coragem para que o trabalho se faça com sucesso. 

"O 'caltamba'representa a força da natureza que promove uma boa lavoura e produção, fazendo com que chova bem, haja paz e que as doenças sejam afastadas. As suas danças e especialmente as vestes baseadas na utilização de produtos da floresta como casca de árvores e folhas, são muito bonitas".

(https://www.facebook.com/adbissau)


Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008) > 2 de Março de 2008 >

O Zé Teixeira, no tchon nalu, em pleno Cantanhez, no meio de duas mulheres da população local, e etnia tanda. Belíssimas, gentis e vistosas ("todas bem  produzidas", diria o nortenho do Zé Teixeira), de porte altivo e de grande dignidade. (Na carta de Cacine, a toponomia é Jemberem, a norte de Madina de Cantanhez... Hoje todo o mundo diz e escreve Iemberém. De resto, um dos afluentes do Rio Cacine é o Rio Iemberem... Será que terá havido um erro dos nossos cartógrafos ou uma gralha tipográfica ?...Não, o mesmo topónimo, mas o povo é que fa< a língua... Iemberém foi o local onde a comitiva do Simpósio Internacional de Guileje pernoitou dois dias... Fica em plemo coração do Parque Nacional do Cantanhez.)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Quem os Tandas, de Iemberém ?

É um minoria que habita o Cantanhez, "chão nalu", a que se juntaram outros povos (fulas, balantas, sossos, etc.)-

Escreveu o Pepito em 2008 (**):

(...) "Relatos orais dão os Tandas como originários de Kindou, na região de Tambacunda, Senegal oriental, de onde se terão deslocado inicialmente para Badjar, região de Koundura, atual Guiné-Conacri, à procura de bons solos para a prática da agricultura. 

"Mais tarde foram para Kakalidi, zona de Boké, onde começaram a negociar com os Nalús a concessão de terras, tendo-lhes sido atribuído uma área onde fundaram a sua primeira tabanca na Guiné-Conacri: Madina.

"Na atual Guiné-Bissau, Cassimo Camará criou a primeira tabanca que foi designada de Lamoi, na área de Quitafine. Seguiu-se Cambraz, fundada por Danim Marena, igualmente em Quitafine. Já em Cubucaré, Adulai Cumpon criou Bomani, a que se seguiu Madina, na área de Guileje, por Umarú Nangacum. Caboxanque Tanda, em Quitafine é fundada por Umarú Galissa.

"Acabam finalmente por chegar a Iemberém, em 1930, através de um grupo de seis pessoas, constituído por Umarú Camará, Pedjedibi Camará (pai de Umarú), Issufo Galissa, Mutaro Galissa, Mamadú Nhabali e Alfa Galisssa. 

"Por último, Umarú Galissa funda a tabanca de Cambeque, na linda mata com o mesmo nome.

"De todas estas tabancas apenas existem atualmente quatro: três em Cubucaré (Iemberém, Cambeque e Cambraz) e uma em Quitafine (Caboxanque Tanda).

"No seu seio os Tandas têm seis sub-grupos: Aiendja, Aban, Abangar, Assóssó, Aiés, Abucul e Adjar." (**)

A  "foto da semana" de "20 de junho de 2011" já a conhecímos, do poste P10108 (***). Afinal, a página do Facebook da  ONG AD continua "on line" e já tinha sido criada no tempo do Pepito.  Em 12 de julho de 2012, escrevia-nos o seguinte:


(...) Há oito anos atrás, a AD inaugurava a sua presença na Internet, através do seu site institucional. Temos procurado, aos poucos, fazer mais e melhor e, recentemente, atingimos dois objectivos há muito desejados: por um lado, conseguimos que o site já seja integralmente dinamizado e alimentado por quadros guineenses da AD; por outro, começámos a apostar nas redes sociais (Facebook) e explorado como podemos usar estas plataformas para dar voz aos nossos parceiros e colaboradores. " (...).

Sobre a legenda da foto da semana, acresecente-se que as palavra "caltamba"  e "tanda" não estão grafadas nos nossos dicionários, pelo menos no que está mais à mão, o Priberam. O que é lamentável, sendo o português língua oificial da Guiné-Bissau. Os semhores lexicógrafos da Porto Editora deviam visitar mais vezes o nosso blogue...

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Notas do editor:

(*) Último poste da série >7 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25351: Facebook...ando (53): Joaquim Garrett procura camaradas que andaram com ele na EINAT n.º 2052 (1968/70)

(**) Vd. poste de 18 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz, Pepito)

(***) Vd. poste de 3 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10108: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (24): questionário de opinião sobre o seu sítio na Net (que tem 8 anos) e sobre a sua página no Facebook (que tem 2 anos)

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25473: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte IV




Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > A "menina dos olhos" do Rui Chamusco, a sua Escola (dele, da ASTIL)  de São Francisco de Assis... onde faltam professores para ensinar o português às crianças que vinham longe, na montanha...

Fotos (e legenda): © Rui Chamusco (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Rui Chamusco é um verdadeiro Dom Quixote, lutando contra os moinhos de vento da indiferença, da inércia, da burocracia... Está a 15 dias d regressar de Timor depois da sua quinta estadia, de 3 meses... E o Sancho Pança é o seu 'mano' Eustáquio, que resistiu e lutou nas montanhas contra a ocupação indonésia.  Mas até lá espera poder ultrapassar dificuldades burocráticas e falta de pessoal docente, problemas que afetam o funcionamento e o futuro da Escola São Francisco de Assis (ESFA), construída e apoiada pela ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste. Nesta crónica volta a abordar alguns aspetos da idiossincrasia timorense mas também das tremendas dificuldads que se depararam ao desenvolvimento da língua portuguesa, que é língua ofiicial, a par do tétum.

Recorde-se que o Rui Chamusco, em breve nosso novo tabanqueiro, tem 77 anos, é professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã; natural de Malcata, concelho de Sabugal, é cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste.


De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte IV



Rui Chamusco e o seu amigo e 'mano'
Gaspar Sobral. Em Dili, fica hospedado casa do Eustáquio,
irmão do Gaspar. Foto: LG (2017)
Quarta crónica, enviada de Timor Leste, em 16 de abril último, às 2:18, pelo Rui Chamusco, na sua 5ª estadia (fev/maio 2024).


 

02.04.2004, terça feira  - As “loucuras” do vizinho

O Felisberto é o nosso vizinho do lado direito que já, por diversas vezes, deu azo às notícias mais caricatas que podemos imaginar. O que ele fez durante o tempo da invasão indonésia é realmente de loucos, ou de espertos, 
que para se livrar de determinadas situações, 
como por exemplo quando era aprisionado, recorria às suas “táticas de guerra” que lhe traziam sempre bons resultados. (...)  

O Felisberto lê muito, anda quase sempre de bíblia ou lá o que é na mão ou debaixo do braço, recita versículos e capítulos para basear a sua argumentação, e nas conversas que procura praticamente só ele é que fala.

Debita palavras e as frases, em tétum português, com muita facilidade, e da sua figura profética saírem sermões que nunca mais acabam. Mas esta que ontem o Eustáquio me descreveu é que não lembra nem ao diabo. 

Segundo o Eustáquio, o Felisberto durante 40 dias recusou-se a comer e a beber fosse o que fosse. Cada dia dava mais sinais de debilitado e fraco, com olheiras impressionantes e a pele encostada aos ossos. E resistiu até que pode, parece que até ao trigésimo nono dia. E, faltando um dia para os quarenta,
foi-se abaixo, desmaiou. 

A recuperação foi rápida. Ao fim de três quatro dias, o Felisberto está de novo em forma para prosseguir a sua missão. Eu disse ao Eustáquio que não acredito que o Felisberto estivesse tanto tempo sem comer e sem beber, mas ele afirma a pés juntos que foi verdade, que ninguém sabe como aguentou mas é verdade.
E E agora? Acredite quem quiser...

03.04.2024, quarta feira   - Ora toma lá mais esta...

Já, por várias vezes referi que, aqui em Timor, as coisas vão-se fazendo. Nada de pressas, porque temos todo o tempo do mundo. Às vezes fazem-nos crer que é por falta de dinheiro que as coisas não se fazem, não avançam. Mas, cá para mim, é também já um jeito de ser. 

Também em Ailok Laran é assim. A casa de família do Eustáquio tem sempre obras em curso. Aos pouquinhos vai-se fazendo e acrescentando a casa mãe dos “Sobral” , que ressalta neste contexto habitacional. Desta vez a empreitada é para assentar os mosaicos em grande parte do piso rés do chão. Para tal o Zinon, embora ausente no estrangeiro, quis orientar este trabalho, dando instruções
ao pai Eustáquio que iria ajustar esta obra a um trabalhador que um seu amigo conhecia.

E assim se fez. Depois de visitar e ver o que tinha a fazer, combinaram o preço e mãos à obra. Ontem começaram os trabalhos. Entretanto, o Eustáquio que tinha ido a Boebau voltando à tardinha, viu o trabalho já feito e não gostou. Não estava a seu gosto nem como ele sabia fazer. Telefona ao Zinon dizendo o que se passa, resultando de tudo isso o cancelamento do contrato. 

E, logo hoje de manhã, ele mais o Tobias (seu “sobrinho”) metem mãos à obra, corrigindo o que não estava bem e prosseguindo a colocação dos referidos mosaicos. Agora mesmo, enquanto escrevo, estou ouvindo os toques do martelinho de madeiro ou borracha assentando e ajustando cada mosaico. 

Ao almoço, em conversa informal ele revelou-me o segredo: “É preciso sentimento para fazer este
trabalho. O outro senhor assentava as peças mas não tinha sentimento.” E pronto. No final da obra vamos ter uma casa cheia de sentimentos.

03.04.2024, quarte feira  - Esta mocinhas novas...

A Adobe e as primas (Zaida e Mina) são umas moçoilas adolescentes que despertam para a vida. Muito unidas para tudo, com surpresas que nos encantam. Estão na fase das pinturas das caras e das unhas. Cada uma ajuda a outra, ou então só cada uma, aplicam os materiais apropriados, com toques e retoques, muitas miradas ao espelho, poses para a fotografia, etc... 

E então não é que elas ficam mesmo giras?! Pena é que logo a seguir desfaçam a beleza que conseguiram alcançar. Mas pouco importa, porque elas são mesmo lindas sem serem pintadas. Mas, lá que elas são muito vaidosas, ah lá isso são... “ Minina Bonita! “, como dizem por aqui.

04.04.2024, quinta feira  - Mentes espertas

Hoje a conversa com o Eustáquio deu nestas duas histórias que aconteceram por aqui mas que podemos encontrar em muitos outros lados. E tudo veio à baila de lhe ter contado a história do primo Manel Russo que, depois de concluir a Aliance Française, em Paris, foi pedir trabalho ao Institut du Vrai Portugais, cujo proprietário e diretor era o nosso conhecido ex-padre Zé Pedro. 

O Manel, qual professor, ficou agradecido porque lhe foi dito: “ Se quiseres podes começar a trabalhar já amanhã." E assim fez. Passou-se um mês de trabalho, e o novo professor, como o ordenado nunca mais era pago, foi junto do diretor e perguntou: “Alors, mon salaire?” O diretor olhou para ele e retorquiu: “ O teu salário?! Tu só me pediste para trabalhar!”. 

Então o Eustáquio riu, mas acrescentou duas histórias mais ou menos relacionadas com a que acabei de contar.

A primeira: Um senhor que vive nas montanhas teve de vir à capital para tratar dos seus assuntos. Chegada a hora do almoço procurou um restaurante onde pudesse comer. Entrou, sentou-se a uma mesa, e de pronto chegou um empregado que lhe perguntou: “O que quer comer?” E logo lhe fez uma lista do pretendido. 

Comeu e bebeu o que pediu e, para espanto geral, o senhor levantou-se para ir embora. Foi então que o empregado o atalhou e lhe disse: “ o senhor ainda não pagou”. Ao que o cliente respondeu: “você
perguntou-me só o que queria comer e beber. Porque é que agora tenho de pagar? O senhor ofereceu, não é?...”

A segunda é esta: Veio um senhor de longe num bis (espécie de autocarro) até à cidade. Chegou ao destino e pagou uma quarta (25 cêntimos) ao condutor. Depois, teve que alugar um táxi convencional para a casa onde iria ficar. Perguntou quanto era ao chauffeur e ele respondeu: “3 dólares”. E o viajante, espantado, comentou: “Eh!... então eu paguei uma quarta por um carro grande e agora por um pequenino são três dólares!

Não pode!... E assim funcionam estas mentes brilhantes...

06.04,2024, sábado - Impressionante!

Vamos lá a ver quem faz mais barulho, quem tem oa aparelhagem de som mais potente... Isto até poderia ser tomado com um concurso, mas não é bem assim. Neste sábado de fim de semana, ouvem-se músicas provenientes de todos os lados: vizinhos de trás, vizinhos da frente, vizinhos do lado, vendedores ambulantes, e até cá em casa se ouvem an canções que a Adobe está frequentemente cantando mas sem amplificação.

Isto é uma animação matinal fora de série. E não é por que haja festa na aldeia. É assim mesmo. Cada um à sua maneira curte a vida, mesmo que seja ouvindo as músicas preferidas em altos decibéis. Aqui ou a gente se deixa levar por toda esta agitação musical ou então é para ficar surdo. A lei do ruído não existe, e não podes recriminar ninguém pela utilização que faz dos sons. 

Neste contexto, há momentos que ouvi algo contraditório. Com o nível de som audível a centenas de metros, alguém cantava, acompanhado com guitarra e bateria, a mítica canção de Paul Simon “the souns of the silence”. Como é que o silêncio se pode ouvir ou cantar em altos berros, com ritmos
marcantes?! 

É uma amálgama de emoções. Calma, que agora aqui ao lado fez-se silêncio, e até já se ouvem os passarinhos a piar, os galos a cantar e as crianças a chamar, a rir, a chorar.

07.04.204, doingo,  - “Pancadas de Molière”

Cada dia, cada noite avança de surpresa em surpresa. Sem horas para começar ou acabar, vão-se fazendo as coisas conforme a disponibilidade e a vontade. Com-se quando há fome (e há para comer), dorme-se quando há vontade de dormir, trabalha-se quando há que trabalhar. Sem pressas, com sentimento e coração. E nós, os ocidentais, vamos lá a entender isto?!... 

Ontem o Eustáquio chegou estoirado das viagens às montanhas e, mesmo assim, não deixou para trás o que tem de fazer, a saber: assentamento de mosaicos nos rés do chão, como já antes descrevi. Ele e o Tobias agarraram-se à obra, e aí vai disto. Já eram duas horas da manhã e ainda se ouviam as pancadinhas nos mosaicos que, minuciosamente eram assentes e testados pelo nível de água e pelos sons que o martelo de borracha garantiam. Agora imaginem para alguém que aqui se deita pelas 22 horas e que tem bom ouvido o tormento destas “pancadinhas de Molière”. 

Mas, como um bom timorense, também direi.” Quem tem mesmo sono, dorme. Quem não tem sono, não precisa de dormir, só está na cama”. E o que mais me admira no meio de tudo isto é a resistência e o saber do Eustáquio que, onde mete a mão, as coisas são feitas mas bem feitas, demore o tempo que demorar. É um “homem dos sete(ou mais) ofícios” que qualquer patrão gostaria de ter, com pancadas ou sem “pancadas de Molière”.

08.04.2024, segunda fera  - Tanto para fazer!...

E lá vamos nós outra vez a Liquiçá, fazer o que temos que fazer: entregar o dossiê do processo da proposta de colaboração na Direção da Educação; apresentar cumprimentos ao novo Presidente da Administração Municipal; visitar o Cafe de Liquiçá. 

E começo a ser como os timorenses (grego com os gregos; troiano com os troianos). Não por conveniência, mas porque são mesmo assim. O diretor da educação disse-os logo que o processo irá ser demorado, porque têm de pedir o parecer jurídico, que por sua vez também será demorado, e só depois se apresentará ao ministério da educação para que seja tomada uma decisão final. Que ao menos seja a nosso favor! 

O encontro no município correu bem, embora tivesse sido escasso. No entanto, ficou um encontro marcado para o dia 22 de abril, no qual darei a conhecer o município de Sabugal, servindo-me das informações e materiais de que fui portador. E tudo isto porque há um acordo de colaboração entre os dois municípios Liquiçá e Sabugal que é preciso desenvolver.

A visita ao CAFE tinha como objetivo saber notícias da Maria que frequenta o pré-escolar e da Titânia que frequenta o 5º ano. Azar!... Os alunos estão de férias, porque é o final do 1º período, e os professores estão nas reuniões de avaliação. Felizmente que a professora Teresa, coordenadora da escola, nos dispensou o seu tempo para pormos a conversa em dia.

10.04.2024, quarta feira  - Gleno... Pleno

Um dia em cheio! A convite do amigo professor Mário Louro, fomos até ao grnde vale de Gleno, para a escola CAFE, onde alguns professores e alunos nos esperavam para nos apresentarem o trabalho em elaboração de um sketch sobre os 50 anos do 25 de Abril em Portugal. 

Quiseram ouvir as minhas dicas, sobretudo as relacionadas com a música (porque dizem que eu, como professor de música, sou especialista, e que humildemente tentei fazer) mas, confesso, que pouco ou nada pude acrescentar porque tudo estava já muito bem escolhido. Mais um pouco de performance e o trabalho ficaria cinco estrelas. 

Valeu a pena conhecer esta gente, estes amigos e poder partilhar com eles a maior parte das horas deste dia. E, já agora, muito sucesso para o fim a que se destina: contribuição do Cafe de Gleno para a celebração do 25 de Abril, a pedido da embaixada de Portugal. Valeu a pena subir montes, descer vales, serpentear caminhos e estradas.

Um facto interessante é que em Tibar, na ida e na volta, ao visitarmos a fraternidade dos Capuchinhos e a fraternidade das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, se tenha verificado o mesmo acontecimento: depois de batermos à porta ou tocarmos a campainha várias vezes, e já desistindo de sermos atendidos, aparece um capuchinho que nos atende e a carrinha das irmãs que, amavelmente nos saúdam. Em ambos os casos tivemos de voltar para trás, mas valeu bem a pena. A irmã Teresa, superiora da comunidade, depois de eu me apresentar perguntou-me logo: “Você é da Guarda?”... "Sim”... É que a irmã Rita, que vive na comunidade de Lautem e que também é da Guarda, perguntou por si. Na celebração do envio esteve com a sua mãe que lhe manda cumprimentos, beijos e abraços”. 

Ora aqui está uma grande confusão! Então a minha mãe já faleceu em 2004, e eu com 77 anos já bem feitos, como pode isso ser? Depressa me dei conta de todo este engano e retifiquei a situação. De qualquer forma, peno ainda estar com a irmã Rita e agradecer-lhe esta preciosa encomenda.

12.04.2024, sexta feira  - Mas o que é que Deus anda a fazer ?

Cada dia que passa enriquece-nos com conhecimentos vindos de histórias e casos que nos contam. Ontem foi a irmã Teresa que nos contou este caso. Havia num lar um senhor que fez 99 anos e todos os que com ele lidavam o animavam dizendo: “ Senhor José, vamos lá ter ânimo porque você é a pessoa mais idosa desta casa, e temos de festejar os seus cem anos.”

 E o tempo foi decorrendo, até que se soube da existência de uma senhora que já tinha feito os 100. Então a mesma pessoa que o animava chegou um dia à sua beira e disse: “Senhor José, afinal não é você a pessoa mais velha, porque há uma senhora que já fez os 100 anos”. Ao que o velhote retorquiu: “Mas o que é que Deus anda a fazer? Esqueceu-se de a levar?”... 

E ainda há quem queira morrer...Ai Costa! A vida Costa!...

12.04.2024, sexta feira  - Eustáquio, o “perfecionista”.

Já por várias vezes referi o zelo com que o Eustáquio faz e e cuida das coisas. Como ele diz: “Há-que fazer as coisas com sentimento”. Então não é que o artista que agora anda a assentar os mosaicos cá em casa, não seguiu a linha que lhe indicava a boa direção? E vai daí que o Eustáquio, já depois de se ir embora o trabalhador, se deu conta do desvio e procedeu ele mesmo ao alinhamento, como que a dizer “amanhã quando chegar vou mostrar-lhe o erro e vai ter que arrancar para pôr de novo”. 

Dito e feito. Esta manhã que já vai a meio, cá se ouvem as marteladas a desfazer o que já estava feito, para refazer como deve ser. Não sei não, mas se isto se desse com alguns portugueses, quem sabe se acatariam as ordens do Eustáquio sem barafustarem. Mas aqui em Ailok Laran, o Eustáquio é um homem de respeito que muitos procuram para resolver situações e, com certeza, ninguém se atreveria a contestar as suas ordens. E até porque ele tem razão.(...)
 

15.04.2024, segunda feira  - Mais uma voltinha...

Esta vida é um carrossel que, de volta em volta, faz a vida acontecer. A volta de hoje insere-se nos esforços que temos vindo a fazer para encontrar uma solução para a colocação de professores na escola São francisco de Assis. Hoje, por sugestão e influência do Dr. Dionísio Babo, anterior ministro da Justiça e atualmente embaixador de Timor Leste na ONU, vamos falar com o professor Roger Soares, coordenador das escolas CAFE neste país. 

Não sei o que isto vai dar, mas parece-me que pouco mais passará de uma apresentação. Ou então ficará tudo em promessas que nunca serão cumpridas, como já vai sendo habitual neste contexto.  Presencialmente louvam o que estamos fazendo, batem palmas a este projeto solidário, mas não passa daqui. 

Eu sei lá o que mais podemos fazer!? E eu gostava tanto que este assunto se resolvesse durante esta minha estadia em Timor. É que daqui a um mês, 15 de Maio, estarei de regresso a Portugal. E, com franqueza, não sei quando e se voltarei. As viagens e as condições de vida já fazem mossa neste corpo em envelhecimento. Mas o futuro só a Deus pertence...

15.04.2024, segunda feira  - De novo esta história...

Creio que já abordei esta história numa das crónicas das estadias anteriores, mas a sua graciosidade é tanta que hoje, ao coment-la com o Eustáquio, deu-me vontade de a reescrever. Então aqui vai. 

Conta-se que um rapaz, filho de gente de posses, foienviado para Portugal afim de fazer os estudos num seminário para vir a ser padre. (padre / amo é talvez das profissões mais estimadas e respeitadas, ainda hoje, aqui em Timor Leste). O rapaz foi para Portugal mas em vez frequentar os estudos do seminário
dedica-se a outras ocupações que derretiam o dinheiro enviado periodicamente pelo pai.

Entretanto, chegou a altura de ele regressar a Timor e este “falso estudante” do que se lembrou? Comprou o pano preto necessário e foi ao alfaiate mandar fazer uma batina. Quando o avião aterrou em Dili, tinha a família à sua espera que orgulhosamente acolhia o filho padre. E, como de padre não tinha nada, ía proferindo frases em “latim” para que acreditassem que ele tinha mesmo estudado para padre em Portugal. 

Uma das frases mais célebres é esta: “Ó canes como me pat lá sa me. Eu sou cá como te.” Ora,
quem percebe alguma coisa de latim, vê logo que não há na frase nada que se aproveite.
O resto da história não se sabe. Mas quem o ouvia afirmava: “Sim! Ele fala latim, como
os padres. E esta história acaba assim..

15.04.2024,  segunda feira - Isto dá que pensar...

Pátria! Pátria! Timor-Leste, nossa nação. Glória ao povo e aos heróis da nossa libertação!” Quem não vibrou com a independência deste país irmão? Aqui ou no estrangeiro, e sobretudo em Portugal, foram momentos de emoção ao ouvirmos pela primeira vez o hino de Timor-Leste e ao vermos içar pela primeira vez a bandeira deste povo. Foi um momento muito esperado e muito vivido. 

De então para cá 23 anos já são decorridos e, como em qualquer país, há quem se pergunte sobre as vantagens e as desvantagens de ser um país independente ou de ser uma província da Indonésia. Ainda hoje ouvi um comentário de alguém que sofreu muito com a invasão: 

“No tempo dos indonésios havia estradas boas para todos os distritos, escolas também. Agora com a independência, há alguns que têm bons empregos, bons carros, boas escolas e outras coisas mais. Mas a maioria do povo o que é que tem? Se o referendo fosse hoje, se calhar não votaria a favor da independência.” 

Por outro lado, a língua bahassa ainda está muito arreigada na população. Muito mais que a língua portuguesa, que é a segunda língua oficial. E, apesar dos muitos esforços que os governos de Portugal e de Timor têm feito, não vai ser nada fácil fazer vingar a língua de Camões. Nas famílias, nos mercados e na maioria das escolas fala-se o tétum e o bahassa e não o português. É muito lindo querer que as pessoas falem a nossa língua, mas não será fácil ou até mesmo impossível que isso aconteça. Quem me dera poder estar enganado...

15.04.2024, segunda feira  - É fazendo que se aprende a fazer...

Neste caso é bebendo que se apanha o gosto. O Eustáquio, durante a sua estadia em Portugal viu que as pessoas consumiam um bebida que sempre o intrigou e desejaria experimentar, mas que não o fez. Hoje, no bar do Pateo, ao perguntar-lhe o que queria beber, primeiro pediu um sumo de compal, só que depois avistou uma garrafa de Frize e pediu para trocar, porque queria experimentar aquela bebida que desde Portugal o intrigava. 

Já numa mesa sentados para saborearmos o que tínhamos pedido, o Eustáquio, com muita apreensão, leva a Frize à boca e, de repente, repele a bebida dizendo:” Eh pá, não presta! Não tem gosto!” Pudera, pois a Frize é uma água mineral gaseificada!... Ainda lhe adicionou dois pacotes de açúcar que sobraram do meu café mas, mesmo assim, não conseguiu consumir a porção que a garrafa continha. Fez questão de trazê-la para casa como recordação desta degustação.

(Revisão / fixação de texto: LG)

Conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4
__________

Nota do leitor:

domingo, 28 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25454: Notas de leitura (1686): Timor Leste, que já foi lugar de desterro e encarceramento (Luís Graça)


Timor Leste > Com c. 15 mil km2, e mais de 1,3 milhões de habitantes, ocupa a parte oriental da ilha de Timor, mais o enclave de Oecusse e a ilha de  Ataúro. Independente desde 2002, esteve sob a brutal ocupação da Indonésia durante 24 nos.   




Timor Leste > 2005 > A Ilha de Ataúro, vista de Dili >  Foto de Hu Yui. Fonte: Wikipédia (com a devida vénia...)


Nota de leitura > Marisa Ramos Gonçalves: 

«A ilha-prisão de Ataúro durante a ocupação indonésia de Timor-Leste: histórias de encarceramento, resistência e legados contemporâneos»

e-cadernos CES [Online], 37 | 2022, posto online no dia 02 novembro 2022, consultado o 18 abril 2024. URL: http://journals.openedition.org/eces/7084; DOI: https://doi.org/10.4000/eces.7084

Marisa Ramos Gonçalves é investigadora do CES - Centro de Estudos Sociais | Universidade de Coimbra | marisagoncalves@ces.uc.pt

Fez o seu doutoramento, em 2016, na Universidade de Wollongong, Wollongong, Australia.  (Título: “Intergenerational Perceptions of Human Rights in Timor-Leste: Memory, Kultura and Modernity” (Perceções Intergeracionais de Direitos Humanos em Timor Leste: Memória, Cultura e Modernidade).  Tese de Doutoramento em Filosofia, Faculty of Law, Humanities and the Arts, School of Humanities and Social Inquiry, University of Wollongong, Wollongong, Australia.)

 
I. Da leitura deste artigo, interessa-nos, no âmbito do nosso blogue, destacar as referências, que ainda são muito escassas, a esta antiga colónia portuguesa que foi Timor. E mais ainda,  Timor como lugar de desterro e encarceramento, desde o séc. XVIII (quando há notícias dos primeiros desterrados, se bem que nenhum ainda fosse europeu). 

Muitos portugueses sabem da brutal  invasão, ocupação e anexação  de Timor Leste com a consequente tentativa de genocídio do povo maubere,  em finais de 1975, tornando-se o território na 27ª província da Indonésia.

Mas muitos  desconhecem que "durante o período colonial indonésio" (sic),  "os colonizadores usaram a ilha para confinar as famílias de membros da resistência em campos de concentração abertos, mas com vigilância militar apertada. Estima-se que, entre 1980 e 1987, tenham sido presos cerca de 6000 timorenses, tendo algumas pessoas morrido devido à fome e má-nutrição."

Por outro lado, mesmo habituados, desde os bancos da escola, a repetir "ad nauseam" que vivíamos num Portugal, que ia "do Minho a Timor", nós sabíamos muito pouco (e continuamos a não saber) da história e da geografia de Timor e da presença histórica dos portugueses naquela ilha do sudoeste asiático, de resto escassa até ao séc. XIX, circunscrita a alguns pontos no litoral e sobretudo à ação de missionários e militares.

Este artigo centra-se neste período  da invasão, ocupação e anexação indonésai (1975-1999), sobre o qual vamos passar por alto (o leitor interessado tem acesso ao artigo completo) , bem como sobre a parte teórica ( "estado da arte sobre o tema", a colónia penal como sistema carcerário ou concentracionário e as memórias das suas vítimas ),  a parte metodológoca (utilização dos testemunhos das vítimas do conflito e entrevistas de história oral) bem como a bibliografia. 

Interessa-nos recuar até Ataúro do tempo dos portugueses, e nomeadamente nos anos 20/30 do séc. XX.

Vamos citar algumas excertos,  mais extensos,  e elaborar uma primeira nota de leitura deste artigo,  dispensando as referências bibliográficas,  dada as limitações de espaço num blogue como este, dirigido não a académicos e especialistas mas a antigos combatentes das guerras coloniais.


II. Vejamos o resumo do artigo:

(...) "A ilha de Ataúro, situada a norte da capital de Timor-Leste, funcionou como ilha-prisão durante o período colonial português e, de forma mais intensa, a partir dos anos vinte do século passado. 

"Durante o período colonial indonésio (1975-1999), os colonizadores usaram a ilha para confinar famílias de membros da resistência em campos de concentração abertos, onde centenas de pessoas morreram devido à fome e má-nutrição. 

"Partindo de uma análise de entrevistas e de material de arquivo sobre as/os antigas/os deportadas/os em Ataúro no período indonésio, este artigo conclui sobre a relevância da preservação das histórias orais sobre as/os prisioneiras/os, bem como da memorialização das histórias desta ilha. 

"O texto reflete, igualmente, sobre memórias e legados coloniais, partindo da observação de que algumas ilhas da região do Pacífico permanecem territórios considerados depósitos e locais de detenção de pessoas que fogem à repressão e violência de regimes ditatoriais e coloniais." (...)

E aqui fica também o índice do artigo (com os respetivos links), para o leitor que tiver mais tempo e vagar:

Introdução
Conclusão

O  texto integral pode ser aqui descarregado, em formato pdf.  PDF 340k. E pode ser utilizado sob licença CC BY 4.0


III. Insularidade e desterro
 
A autora começa por lembrar que a "insularidade", ao longo do tempo e nos mais diversos lugares, tem sido  um "meio de confinamento natural", adoptado por regimes ditatoriais e coloniais,  para deportar e banir inimigos políticos, muitas vezes "sem direito a julgamento ou condenação formal!"...Mas também presos de delito comum.

Os desterrados (muito mais homens do que mulheres) eram, além disso, uma preciosa  fonte de mão-de-obra nas colónias, em todos os impérios coloniais, a começar pelo Britânico.

No nosso caso, "Timor-Leste integrou, desde o século XVIII, o sistema carcerário do império português" (a par das ilhas atlânticas, bem  como Angola e Moçambique):  para lá,  eram enviados militares e civis,  opositores políticos, mas também prisioneiros de delito comum ("deportados sociais)".

A ilha de Ataúro fez parte deste sistema carcerário  durante os vários  períodos coloniais:  português (1702-1975), indonésio (1975-1999), sem esquecer o curto mas não não menos brutal período de ocupação japonesa (1942-1945).  

(...) "A ilha de Ataúro funcionou como ilha-prisão, em particular nos anos vinte e trinta do século XX, quando foi usada como local de deportação de opositores políticos e prisoneiros de delito comum, denominados deportados sociais" (...)  

Ataúro, sendo uma ilha, a norte de Dili, separada por 25 km de mar, não precisava de arame farpado nem muros. Era difícil, ou quase impossível, escapar.

 Na segunda parte do artigo,  a autora apresenta  uma sucinta introdução histórica da colónia penal de Timor , durante o século XX, "em particular os campos de internamento de deportados políticos e sociais provenientes da metrópole e de outros locais do império,  na ilha de Ataúro e no enclave de Oécussi."  

Mas o objetivo principal do artigo é mostrar "a relevância da memorialização das histórias da ilha de Ataúro, através da preservação das narrativas orais" quer dos prisioneiros quer dos seus  habitantes.
 
IV. Ilhas-prisão – Políticas carcerárias dos impérios à atualidade

Algumas ilhas que hoje aparecem nos cartazes das agências turísticas como "paradisíacas", foram no passado espaços carcerários ou concentracionários, criados  pelos sistemas coloniais.  

Os vários  impérios europeus  fizeram dessas ilhas (em geral tropicais ou subtropicais) lugares de desterrro e encarceramento:
  • a França criou as ilhas-prisão da Nova Caledónia, da Cayennne ou Ilha do Diabo na Guiana, das ilhas Reunião e Côn So’n no Vietname;
  • a Grã-Bretanha fez uso da Tasmânia, na Austrália; 
  • a Holanda,  da ilha Nusakambangan nas Índias Orientais Holandesas, atual Indonésia...

 Havia várias tipologias destes lugares:
  • colónias penais, 
  • colonatos,
  • entrepostos, 
  • colónias agrícolas, etc.

No arquipélago dos Bijagós, havia por exemplo a colónia penal e agrícola da Ilha da Galinhas, criada em 1934 (ou pelo menos já existente nessa data), Em Cabo Verde, foi criado o "campo penal" do Tarrafal (1936-1957), reaberto depois como "campo  de trabalho" de Chão Bom (1961-1974) ...


A investigadora  debruça-se depois sobre a ilha-prisão  de Ataúro como local de deportação e degredo no século XX, e nomeadamente nas décadas de 1920 e 1930,   periodo sobre o qual há "mais dados e estudos académicos".

Ficamos a saber que Timor só obteve o estatuto de distrito autónomo em 1896: dependia originalmente do Estado da Índia (Goa) e, posteriormente, de Macau.

Situado na periferia do império, no sudoeste asiático, era visto "como um espaço insular e longínquo da metrópole e de outros centros administrativos do império, como Goa e Macau".

Ser desterrado para Timor  era, pois,  uma condenação pesadíssima, tanto para civis como para militares.

Em 1897 já existia uma cadeia civil, na comarca de Díli, para presos não- indígenas. Dezasseis anos depois, em 1913, foi criado o Depósito dos Degredados de Timor, que recebia maioritariamente macaenses, que vão representar uma importante força de mão-de-obra.  

 Em 1927, existiam três estabelecimentos prisionais:  o depósito de degredadas de Aileu, a colónial penal de Taibesse e a Cadeia da Comarca, em Díli,  para além de três presídios militares (Aipelo, Batugadé e Baucau) e os “campos de concentração” de Ataúro e Oécussi.

No período de 1927-1931, os deportados portugueses  distribuíam-se por várias colónias do império:
  • S. Tomé e Príncipe (29),
  • Guiné-Bissau (46).
  • Angola (456),
  • Cabo Verde (334),
  • Timor (500)
 
(...) Na ilha de Ataúro e no enclave de Oécussi, os denominados 'campos de concentração', foram considerados 'locais malditos', onde os prisioneiros estavam expostos às chuvas e temperaturas elevadas, com dietas pobres, muitos morrendo de malária e desnutrição" (...)
 
Entre 1927 e 1933, e na sequências das revoltas contra a Ditadura Militar e o Estado Novo, chegaram ao território timorense  algumas centenas de jovens,  socialistas, comunistas e anarcossindicalistas, acusados de serem os principais instigadores e participantes no atentado ao comandante da polícia de Lisboa, João Maria Ferreira do Amaral (1876-1931), alguns por alegadamente pertencerem  à rede bombista "Legião Vermelha", e outros na sequência do movimento revolucionário de 26 de agosto de 1931.

Sabe-se, oor outras fontes, que no ano de 1927, a população europeia de Timor era de 11 ocidentais estrangeiros e 378 portugueses, grande parte funcionários estatais, ou elementos das missões católicas,  além de 155 naturais originários de outras colónias.

Ora entre 1927 e 1933, terão passado por Timor  cerca de 600 deportados, quase o dobro da população civil europeia  ali residente.
 

Houve, entretanto,  uma  amnistia política geral, em 1932, para os vários deportados políticos nas diferentes colónis. A maioria  dos  prisoneiros em Timor regressou à metrópole, mas outros puderam ficar em liberdade no território.  


De fora ficou uma lista dos 50 prisioneiros considerados  “mais perigosos”, bem como os "deportados sociais" (presos de delito comum).

(...) "110 homens deportados originalmente em 1927 ficaram dispersos pelo território, constituindo famílias das quais descendem várias figuras da elite política atual de Timor-Leste.(...)

A ilha de Ataúro continuou a servir de prisão depois da ocupação japonesa de Timor, no pós-guerra. Os presos passaram a ser os timorenses que colaboraram com os ocupantes.

 A talhe de foice refira-se, por fim,  que durante a 
  ocupação indonésia de Timor-Leste " estima-se que entre 100 000-200 000 timorenses tenham perdido a sua vida em resultado do conflito e das políticas repressivas da administração militar indonésia, marcada por massacres, assassinatos de membros da resistência militar e civil, práticas planeadas de deslocação forçada e fome das populações, prisões arbitrárias e tortura." (...) 

Como é dos manuais da guerra contra-subversiva,  o governo de Suharto , através do seu exército invasor e ocupante, procurou retirar o apoio que a população dava às FALINTIL  – Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste, a resistir nas zonas montanhosas, para isso criando "campos de trânsito e internamento para essa população".  E, entre outras medidas repressivas, proibiu o uso da língua portuguesa. (**)

O maior destes campos era o da ilha de Ataúro. (A ilha tem 25 km de extensão por 9 km de largura, cerca 117 km² de superfície, e uma população atualmwnte  à volta de 10 mil habitantes.)

Para saber mais ler: A ilha-prisão de Ataúro no período da ocupação Indonésia
 
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 26 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25448: Notas de leitura (1685): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (22) (Mário Beja Santos)
 
(**) "Os 24 anos da ocupação indonésia tornaram o bahasa a língua do ensino e da administração. O português foi banido, e a forma de resistir à total aculturação foi desenvolver a mais disseminada das línguas locais, o tétum. Fê-lo, principalmente, a Igreja Católica, que assumiu o protagonismo da resistência cultural e simbólica.'

"Chegada a independência, há uma geração (todas as pessoas com menos de 30 anos, o que constitui a esmagadora maioria da população) que não fala português. Aprendeu bahasa Indonésia e inglês como segunda língua e fala tétum em casa, além de alguma outra língua timorense, como o fataluco ou o baiqueno. É a chamada geração 'Tim-Tim, do nome Timor-Timur, que os indonésios davam à sua 27.ª província." (...)

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/idioma/portugues-tetum-ou-tetugues/1178 [consultado em 27-04-2024]

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25405: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte II


Rui Chamusco,
Lourinhã, 2016

De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte II


Segunda crónica, enviada de Timor Leste, pelo Rui Chamusco, na sua 5ª estadia (fev/maio 2024). Fez nesse dia, 16 de março,  quatro semanas que ele está lá, não só para celebrar o 6º aniversário da Escola São Francisco de Assis (ESFA) como para resolver o magno problema da falta de professores, que lhe andam a prometer,  há muito, os ministérios da educação dos dois países, Portgal e Timor Leste... Ele deve regressar a casa por volta de meados de maio.

(...) 2 mar 2024  - Nem tudo é o que parece.

Rui Chamusco, professor de música.
Lourinhã (2012). Foto do autor
Hoje, por decisão minha, fomos a Tassitolo a casa dos pais da Nanda (Fernanda), mulher do
Zinon Sobral (a trabalhar na Inglaterra) e nora do Eustáquio, para conhecê-la pesoalmente e para a pudermos ajudar e animar pois bem precisa dessa ajuda. 

Mais ao menos à hora combinada lá vamos nós para Tassitolo (tassi=mar e tolo=três). Nem imaginam o que é preciso para chegar à casa da Nanda. Como ontem choveu a cântaros, não eram três mares, eram muitos mares. Ou seja, o percurso está cheio de grandes covas e buracos, em caminhos muito estreitos, onde só a grande perícia do condutor (sempre o Eustáquio) conseguiu levar a pikup (o "barco") a bom porto. Caminhos rodeados de folhas de cinco 
envelhecido, que até arrepia ter de 
passar por entre eles.                                                

E fizemos este trajeto quatro vezes, pois levamos a Nanda a almoçar connosco ao Timor Plaza.

E pensar que tantas e tantas vezes já passamos em Tassitolo, todo muito bonito para quem passa na marginal. Mas quem se pergunta o que está lá para dentro? Quanta barracas, quantas “chabolas” esconde todo aquele arboredo. “Quem vê caras não vê corações”. “As aparências iludem”.“Nem tudo o que reluz é ouro”.

E pensar que tanta gente vive nestas condições, e noutras ainda mais gravosas. Dói o coração não podermos fazer grande coisa para a resolução de tantas necessidades. Mas pergunto: Porquê uns têm tanto e outros tão pouco? Onde está a distribuição das riquezas? Porquê tanta opulência de alguns? 

"Aí Timor!.... Ouvem-se as vozes dos teus avós. Aí Timor! Se outros calam, cantemos nós”.

4 mr 2024  - A esperança é a última coisa a morrer

O desencontro de há dias com as irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, mais concretamente com a irmã Flaviana, aconteceu hoje, às horas marcadas, em Fatumeta. O objetivo desta visita era saber qual o processo perante o ministério para requisitar professores para a ESFA, uma vez que estas irmãs também têm uma escola particular em Baucau. 

Surpresa das surpresas: também elas não têm professores para essa escola, porque o atual ministério da educação timorense este ano ainda não colocou os professores. Parece que não estamos sós nesta angústia pela falta de professores. Segundo explicou a irmã Flaviana, o ministério tem dado respostas desconcertantes, como por exemplo: “ a vossa escola não tem professores? Há escolas públicas que nem cadeiras e carteiras têm.” E assim nos arrumam de vez. (...)
 
7 mar 2024  - "Prá frente é que é o caminho, para trás mija a burra”

Cada dia com sua surpresa. Logo de manhã, ainda muito perto de casa, quando o Eustáquio e eu nos dirigíamos para Dili rumo a Baucau e Com, um facto insólito que nos pôs logo bem dispostos, à gargalhada. No caminho estreito onde quando se cruzam veículos algum deles tem de esperar, deparámo-nos com uma carrinha que não avançava nem recuava. 

Foi então que o condutor, o senhor Jaime, saiu do veículo e comentou para o Eustáquio: “eu não consigo fazer marcha atrás. Já aí vem o meu irmão para fazer a manobra”. E o irmão que chegou no seu “motor” (motorizada), sem cerimónias entra no veículo e, sem qualquer dificuldade recua e sai do caminho para que nós pudéssemos passar. (...)


Lourinhã > O Rui e o "mano" Gaspar Sobral.
Foto: LG (2017)

7 mar 2024 - Encontros e desencontros


Esta foi a terceira vez que, estando em Timor, fomos até à Escola Cafe de Baucau, a fim de visitarmos a educadora Palmira Baltazar, tojeira raiana do nosso concelho de Sabugal. E, como se diz, não há duas sem três. Desta vez acertamos na “mouche”. 

A Palmira depressa se deu conta da nossa presença que, desde a janela observávamos a sua aplicação ao trabalho árduo numa sala de aula cheia de crianças do pré-escolar. A reação foi surpreendente por ser uma visita inesperada, mas que nos trouxe muita alegria pois, finalmente, nos pudemos encontrar tão longe da nossa terra natal. E durante algumas horas (hora de almoçar) conseguimos pôr a conversa em dia, assim como partilhar ideias e informações sobre os projetos de solidariedade da Astil. Foi muito bom. Obrigado, Palmira e colega que nos acompanharam durante a nossa curta estadia em Baucau.

Depois, fiz questão de passarmos pela casa da diocese a fim de visitar a estátua que ergueram ao amigo e colega de trabalho na comunidade portuguesa de Gentilly (arredores de Paris), Dom Basílio do Nascimento (já falecido), que durante muitos anos foi figura preeminente da igreja católica de Timor-Leste.

7, 8 mar 2024 - Até Com, em direção ao oriente...

Como agradecimento à professora Angelina que teve a coragem e a amabilidade de se deslocar à Escola São Francisco de Assis, em Boebau/Manati, programamos esta pequena viagem por Timor a fim de lhe darmos a conhecer esta parte oriental da ilha; Manatuto, Baucau, Laha, Lautem. 

Em Com assentamos o arraial. Numa pensão que já conhecíamos fizemos a nossa morada, Ainda que as condições meteorológicas não fossem as melhores, deu perfeitamente para relaxar, gozar um pouco das águas mornas deste mar e saborear sobretudo o bom peixe desta baía. 

A presença portuguesa dos tempos coloniais ainda se faz notar na fortaleza em ruínas que existe na outra ponta da baía, e dos nomes e apelidos portugueses que aqui, como em qualquer outra parte de Timor, as pessoas ostentam. E foi assim que mal procurei pelo senhor Ângelo Silva (para lhe dar um abraço do amigo comum Henrique Semedo), depressa me indicaram a casa onde morava. Foi mais um momento agradável, e uma satisfação enorme de poder ser útil. (...)

11 mar 2024 - A caminho de Liquiçá


Para hoje a nossa tarefa é esta: ir a Liquiçá apresentar a Maria (pré-escolar) e a Titânia (5º ano) provinda da Escola São Francisco de Assis. O processo de matrícula e transferência já tinha sido tratado com a professora Tereza Costa, coordenadora da Escola Cafe de Liquiçá, e por isso foi mais uma questão formal que tivemos de fazer. 

Graças à amabilidade e competência da coordenadora tudo foi mais fácil. Amanhã as duas alunas começam a frequência deste ano escolar, e esperamos que com sucesso. Obrigado, professora Tereza. Obrigado, colegas professores, que exerceis com zelo a vossa nobre profissão.

Aproveitamos também a estadia em Liquiçá para passar pelo Município, para ver como estavam as coisas em relação ao acordo de colaboração com o município de Sabugal (Portugal). Já há mais de 15 dias que eu fui portador de material informativo sobre o concelho de Sabugal, que foi entregue formalmente ao assessor do senhor presidente do município, com a promessa de marcar uma reunião entre ambos a fim de lhe dar informações sobre o teor desse acordo de colaboração. 

Em conversa com o senhor Renato Serrão, um dos elementos que integrou a equipa que visitou o Sabugal e assinou o dito acordo, e que integra a nova equipa que atualmente preside ao município, fiquei a saber que que não sabia de nada, mas que iria averiguar a situação para depois me comunicar. E assim vai a vida por aqui. Ficamos pasmados com esta gente. Parece que estamos sempre a recomeçar, pois o que foi feito pelos outros, mesmo que seja bom, não é comunicado e, pior ainda, não é aceite. (...)


12 mar 2024 - Acontece... e com frequência


Foto:  Rui Chamusco
(2018)
A presença dos indonésios nestas terras do sol nascente foi e continua a ser muito forte. Durante os anos de ocupação, muitos negócios, casa comerciais, escolas, famílias se estabeleceram em território timorense. Mas a sua maior presença foi e é através de falantes do bahassa, língua oficial da Indonésia. 

Tudo fizeram para o conseguir, e conseguiram-no. Fala-se bahassa em todo o lado, desde as crianças aos mais velhos. O tétum e o português são as línguas oficiais, mas desiludam-se os que pensem que são as línguas mais faladas. 

Apesar dos muitos esforços dos governos de Portugal e de Timor Leste, o bahassa está muito bem implantado. Ouve-se bahassa na rádio, vêm-se programas na televisão, fala-se bahassa na rua. Ainda hoje, quando saímos do aeroporto Nicolau Lobato, ao fazermos o pagamento do estacionamento aconteceu. O Eustáquio entregou o talão respetivo e perguntou em tétum: Hira? Em português: Quanto é? A resposta do funcionário em serviço foi pronta: “Satu dólar” que em bahassa quer dizer 1 dólar.

E digam lá se não temos nada a aprender no domínio do ensino da língua portuguesa!...

12 mr 2024  - Será que é desta?...

A professora Angelina muita preocupada com a resolução da grande necessidade da Escola São Francisco de Assis, a saber: colocação de professores que garantam a sustentabilidade da ESFA, conseguiu um encontro importante que nos poderá trazer alguma esperança. Marcou um encontro para dia 12, no qual ela já não esteve presente porque já regressou a Portugal, no Hotel Timor, com o senhor Dr. Joaquim Cunha, nada mais nada menos que o Assessor Internacional no Ministério da Administração Interna de Timor-Leste. 

À hora marcada, lá estávamos nós (eu e o Eustáquio) para o encontro agendado. Depois de nos conhecermos mutuamente, criou-se logo um clima de diálogo muito ameno porque, para além de tudo, ambos estudamos desde crianças no Porto, com lugares-comuns a recordar. 

Apesar da importância do cargo que exerce, o Dr. Joaquim (Joaquim como ele me disse para chamar) é uma pessoa muito simples e muito afável. Quis saber do projeto de solidariedade da Astil, e em particular da Escola São Francisco de Assis. Até prometeu que, quando possível, lhe faria uma visita.

Ainda mais, vai fazer todos os possíveis para que sejamos recebidos pela ministra da educação do governo de Timor-Leste a Dra. Dulce Soares. Será com certeza uma porta aberta para concretizarmos o pedido que temos em mãos. Oxalá a senhora ministra tome a decisão favorável à proposta que lhe iremos apresentar. Que São Francisco de Assis e todos os santos nos valham e nos acudam...

13 mar 2024 - Chuva! Chuva e mais chuva!...


Hoje parece não deixar de chover, umas vezes chuviscos outras vezes mais forte e com algum vento. O sol ainda não apareceu. Será a despedida do inverno? Isto está a complicar-se para o nosso lado, uma vez que temos marcada a celebração do 6º aniversário da ESFA para o dia 16, e ainda a mais na montanha. 

Agora chove bem, e ouve-se um ruído ensurdecedor da água a bater nos telhados de zinco que todas as casas daqui têm. Vou pedir ó São Pedro que feche as torneiras do céu para estes próximos dias. Caso contrário, vale mais adiar a festa. Não sei não!... A ver vamos.

14 mar 2024  - Cancelamento da festa do 6º aniversário de ESFA

A notícia veio logo cedo, e caíu que nem um bomba: o temporal que assolou as montanhas de Boebau, Hatumassi e outras fez estragos incalculáveis, derrubando árvores, levando telhados, arrastando terras e enxurradas que bloquearam o caminho de acesso. Nem as angunas passam. Não há luz porque alguns postes de eletricidade ficaram sem fios com o tombo das árvores, não há comunicações. 

Perante este cenário destrutivo, não nos resta mais que tomar a decisão de cancelar a festa do aniversário prevista para o dia 16, uma vez que não há condições para tal. As escolas também têm estado fechadas. Também no telhado do edifício da ESFA há estragos. (...)


O "malae mutin los" (branco muito branco), 
"bô" Rui


15 mar 2024  - Em cada esquina um amigo


Estava eu e o Eustáquio no átrio da sua casa examinando árvores e arbustos, quando surge uma criança, talvez que já tenha dois anos e meio, trajando a roupa com que saímos do ventre da nossa mãe, e gritava:Malae!... Malae!... 

Como a criança já conhecia o Eustáquio, foi-se aproximando, aproximando até que lhe ouvimos o seguinte comentário: “ Malae mutin los!” ou seja “o malae (que neste caso sou eu) é muito branco!” 

Pudera, já katuas (velhote) como sou, com cabelo branco, pele branca e de camisola branca, como não ser muito branco? Bem-dito e bem observado por este menino engraçado. Mas não quis mais conversa comigo, talvez tivesse medo, e depressa se pirou dali. (...)

(Continua)

(Seleção, revisão / fixação de texto, edição de fotos, negritos e italicos: LG)
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Timor Leste > Posição relativa de Boebau e da Escola de São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá. Liquiçá é a sede do munícipio, com cerca de 20 mil habitantes. Recorde-se que em Abril de 1999, na sequência da campanha de terror que antecedeu o referendo sobre a independência, mais de 200 pessoas foram mortas na igreja católica de Liquiçá, quando membros da milícia Besi Merah Putih, apoiados por soldados e polícias indonésias, atacaram a igreja. De Dili a Boebau, em plena montanha, são cerca de 50 km (e de Liquição 20 km) que em viatura podem demorar a percorrer 4 ou 5 horas, niomeadamenet  na época da monção (chuvs)...

Infografia: página do Facebook da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (com a devdia vénia...)

Para os leitores que se queiram associar a este projeto, aqui fica a conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL) (Página do Facebook)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4

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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25398: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte I

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25400: S(C)em Comentários (33): "500 anos depois"... eram os "cubanos" que ensinavam, em 2008, as mulheres de Iemberém a aprender o português


 
Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: Mulheres alfabetizadas pelo método ALFA-TV | Data de Publicação: 22 de junho de 2008 | Palavras-chave: Ensino 

Legenda:

"Concluiu-se agora em Iemberém, no sul do país, o primeiro módulo de alfabetização pelo método cubano conhecido por ALFA-TV  e que tão bons resultados tem obtido.

Usando um sistema de 36 aulas através de vídeo-cassetes emitidas por televisão, consegue-se que os alfabetizandos aprendam em 5 meses a escrever e a falar rudimentarmente o português.

Mariama Galissa é uma das 72 mulheres que aprenderam a escrever e que manifesta o seu entusiasmo às suas amigas e companheiras que mantêm algumas reservas em iniciarem-se nesta aprendizagem."


Fonte: Internet Achive > AD BIssau (com  devida vénia...) 

(O sítio original foi descontinuado: http://www.adbissau.org/adbissau/fotodasemana/2008.06.22.htm ) (*)

 
2. Comentário do editor LG:

Escrevi há 14 atrás (**):

"Uma ternura de imagem !... E ao mesmo tempo uma imagem que me deixa cheio de raiva e de furor. Não tanto por serem os cubanos a fazer a alfabetização, em português, do povo gentil de Iemberém, das etnias nalu,  tanda, sosso, etc., que eu tive o privilégio de conhecer, em 1, 2 e 3 de Março de 2008, mas por em 2008, em pleno séc XXI, a Mariama Galissa e tantas outras Mariamas da Guiné-Bissau, e de toda a África, não dominarem ainda uma tecnologia que é tão importante para o desenvolvimento pessoal, intelectual, cultural e sócio-económico e para o exercício da cidadania como é a língua oficial, escrita e falada, do seu país...

"Não me interessa se é o português, o espanhol, o francês ou o inglês, não me interesssam os méritos e os desméritos do método ALFA-TV: o que importa é que as mulheres africanas (mas também os homens...) possam dominar um dos principais idiomas do mundo globalizado, e com isso marcar pontos no seu duro processo de emancipação, de conquista da autonomia, de afirmação da sua singularidade e da sua dignidade como pessoas, como cidadãs, como mulheres, como africanas... 

"Eu sei que não basta apenas saber ler, escrever e contar...Eu sei que é apenas um passo, mas é decididamente um passo de gigante. Uma mulher alfabetizada, em África, tenderá a ser mais saudável, mais activa, mais produtiva, mais empreendedora, mais participativa, mais empenhada, mais reivindicativa, mais consciente dos seus direitos e deveres, mais promotora da paz, mais apta para agarrar novas oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento, mais competente para ajudar a família, a comunidade e o país a sair do círculo vicioso da pobreza"... 

___________


(**) Vd. poste de 30 de junho de  2008 > Guiné 63/74 - P3006: Ser solidário (12): Método cubano de alfabetização... em português