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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10234: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (5): Um sorriso para a fotografia...


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BART 2917 (1970/72) > A alegria espontânea e esfuziante das crianças de uma tabanca de Badora, nos arredores de Bambadinca, indo ao encontro do fotógrafo...


Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados.


1. De acordo com notícia da Lusa, citada pelos jornais de ontem, os portugueses tendem a manifestar cada vez mais emoções negativas e a inibir o  seu sorriso, alegadamente devido ao "contexto de crise». Esta conclusão é da autoria do director do Laboratório de Expressão Facial da Emoção, o professor doutor Freitas Magalhães,  da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS), da Universidade Fernando Pessoa (UFP) que  está desde 2008 a analisar fotografias publicadas nos jornais diários portugueses, um projecto que faz parte de uma iniciativa mundial  (a terminar em 2013). A amosttra portuguesa inclui mais de meio milhão de fotos... O Laboratório também tem página no Facebook.



 (...) Os resultados da investigação ‘Uma década de sorrisos em Portugal’ indicam que «as mulheres continuam a sorrir mais do que os homens, apesar do registo descendente acentuadíssimo no primeiro semestre deste ano», ao passo que «os homens apresentam mais o sorriso fechado a partir dos 60 anos».

As crianças, por seu lado, «são as que continuam a apresentar mais frequentemente o sorriso largo, um padrão que se mantém desde 2003».

No universo das fotografias analisadas, explicou o investigador, verificou-se ainda que «a expressão facial de emoções negativas é mais frequente e intensa do que a de emoções positivas», comprovando-se que, no caso português, «a situação económico-social potenciou a inibição da expressão».

Para Freitas Magalhães, «os resultados são preocupantes pelas consequências na saúde e na interacção social», uma vez que «a felicidade está na cara das pessoas e o sorriso é um sinal que está a desaparecer a olhos vistos». (...)


Fonte: Lusa/SOL (com a devida vénia)


2. Comentário do editor L.G.:

Estou a banhos. Invoco o meu direito à preguiça (física e mental)... Com um sorriso (discreto que não tem  de ser amarelo)... A minha velhotinha fez ontem 90 anos. É caso para dizer "gracias a la vida, que me ha dado  tanto" (*)... Boa continuação de férias. LG
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Nota do editor:


Último poste da série > 1 de agiosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10215: Guiné 63/74 - P10215: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (4): O soldado tranquilo, o soldado silencioso...


(*) Canção popular chilena magistralmente interpretada por grandes vozes latino-americanas como Violeta Parra, Mercedes Sosa ou Elis Regina. Aqui vai a letra (recolhida neste sítio brasileiro):

Gracias a la vida

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio dos luceros que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado el oído que en todo su ancho
Graba noche y día grillos y canarios
Martirios, turbinas, ladridos, chubascos
Y la voz tan tierna de mi bien amado

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él, las palabras que pienso y declaro
Madre, amigo, hermano
Y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos, montañas y llanos
Y la casa tuya, tu calle y tu patio

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de tus ojos claros

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos que es mi propio canto

Gracias a la vida, gracias a la vida


sábado, 30 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10092: No passado dia 28 de Maio os Estados Unidos comemoraram o Memorial Day, honrando assim os seus heróis

1. Embora um pouco desfasado no tempo, por sugestão da nossa amiga tertuliana Filomena Sampaio, deixamos aqui, para ler com calma no fim de semana, este artigo de autoria do jornalista Eurico Mendes.



Memorial Day

Esta segunda-feira, 28 de maio, os EUA comemoraram o Memorial Day (Dia da Memória), honrando os seus militares mortos na guerra. Assinalado a primeira vez em 1860 com o nome de Decoration Day e honrando os soldados da União mortos na Guerra Civil, o Memorial Day é dedicado hoje aos mortos de todas as guerras e feriado nacional desde 1971, numa espécie do Dia dos Fiéis Defuntos em Portugal, que pouco se preocupa com os seus veteranos vivos, quanto mais mortos e não tem nenhum feriado semelhante.

Da Guerra da Independência à atual Guerra do Afeganistão, muitos portugueses ou seus descendentes pegaram em armas pelos EUA e alguns figuram na lista dos 1.529.230 mortos que os EUA sofreram até hoje na guerra. Na Murtosa, distrito de Aveiro, estão por exemplo sepultados três filhos da terra mortos em guerras dos EUA: Manuel Evaristo, II Guerra Mundial; Manuel Branco, Guerra da Coreia e Jack Rebelo, Vietname.

Logo na primeira guerra, a Guerra da Independência também conhecida como Revolução Americana (1775-1783), morreram portugueses.

Da tripulação do primeiro navio da Continental Navy precursora da US Navy, o Bonhome Richard que o rei Louis XIV de França ofereceu aos nacionalistas, faziam parte 28 portugueses recrutados por John Paul Jones no porto francês de L’Orient e onze morreram no histórico combate com o navio inglês Serapis. A história guarda também o nome de Joseph Diaz (José Dias), baleeiro que se fixou em 1770 na localidade de Tisbury, ilha de Martha’s Vineyard, vindo provavelmente dos Açores. Casou em 1780 com uma rapariga da terra e aderiu à causa revolucionária. Capturado pelos ingleses em 1780, foi mandado para Inglaterra, mas foi libertado e regressou à ilha em dezembro desse ano; voltou a cair prisioneiro em 1781 e desta vez morreu a bordo do navio inglês Jersey. Uma das primeiras baixas da Guerra da Independência foi Francis Salvador ou Francisco Salvador, nascido em 1747 em Londres, numa rica família judaica portuguesa oriunda de Tomar e que escapara à Inquisição fugindo para a Holanda e depois para Inglaterra.

O bisavô de Francisco, José Salvador, foi diretor da Companhia das Indias e adquiriu por duas mil libras 405 km2 de terras na Carolina do Sul, que o bisneto veio ocupar em 1773. A mulher de Francis, Sarah Salvador era também uma das herdeiras dos 810 km2 de terras da família Mendes da Costa. O jovem luso-descendente foi eleito deputado pelo distrito 96 ao Congresso Provincial (independentista) e morreu em 31 de julho de 1776 em combate com os índios Cherokees, que os ingleses tinham armado para fazerem frente aos colonos.

Salvador cavalgou a Carolina do Sul a alertar os colonos dos ataques dos índios e ficaria por isso conhecido como o Paul Revere do sul. Em Charleston foi descerrada há anos uma placa a lembrar que Francis Salvador foi o primeiro judeu a exercer um cargo político no território que viria a tornar-se os EUA e o primeiro luso-descendente, acrescente-se.

Na Guerra Civil (1861-1865), quando 11 estados do sul tentaram separar-se dos Estados Unidos da América e formar a sua própria união com o nome de Estados Confederados da América e cujo ministro da Defesa, Judah Benjamin, descendia de portugueses. Ao tempo, viviam nos EUA mais de 4.000 portugueses e um número maior de descendentes e muitos combateram dos dois lados.

A União sofreu 140.414 mortes e os Confederados 72.524 e alguns foram portugueses. Nesse tempo viviam na Louisiana algumas centenas de açorianos contratados para trabalhar nas plantações de açúcar e muitos combateram pelos Confederados. Em New York e do lado da União, seguindo o exemplo dos irlandeses, que formaram a Brigada Irlandesa, dos polacos com a Legião Polaca e dos italianos com a Legião Garibaldi, espanhóis e portugueses formaram a companhia Caçadores Espanhóis.

A Medalha de Honra do Congresso, o maior reconhecimento que um militar pode receber por feitos em combate, foi atribuída a um luso-descendente combatente da Guerra Civil, o cabo Joseph H. de Castro, do 19º Regimento de Massachusetts e natural de Boston, onde viviam ao tempo 500 portugueses. Distinguiu-se na batalha de Gettysburg, Pensilvânia, a 3 de julho de 1863. O soldado Frances Silva, nascido a 8 de Maio de 1876 em Hayward, CA, é outro luso-descendente Medalha de Honra. Era tripulante do USS Newark e teve comportamento heróico entre 28 de junho e 18 de agosto de 1900, durante a célebre Revolução Boxer, em Pequim.

Na I Guerra Mundial (1914-1918), perderam a vida 20.000 americanos e a primeira morte foi o luso-americano Walter Goulart, de New Bedford, onde existe um pequeno monumento em sua memória.

Na II Guerra Mundial (1939-1946), que provocou a morte de 292.000 americanos, perderam a vida dezenas de luso-americanos, um dos quais Charles Braga, a 7 de Dezembro de 1941, no ataque japonês a Pearl Harbor. Foi o primeiro residente de Fall River morto na guerra e dá hoje o nome à Ponte Braga sobre o rio Taunton.

Dois luso-descendentes mereceram a Medalha de Honra durante a II Guerra Mundial: o soldado Harold Gonsalves, da Califórnia, morto em combate a 15 de abril de 1945, em Okinawa e o paraquedista George Peters, de Cranston, Rhode Island.

Caso curioso o do sargento Harry B. Queen, de Onset, MA, cuja mãe, Mae Ávila, era filha de imigrantes açorianos. A 25 de janeiro de 1944, um bombardeiro B-24 pilotado por Queen desapareceu quando voava da China para a Índia e os oito tripulantes foram considerados desaparecidos em combate. Contudo, em 2007, decorridos 63 anos, os destroços do avião e os restos mortais dos tripulantes foram encontrados.

Na Guerra da Coreia (1953-1957), morreram 50.000 americanos, um dos quais o sargento Leroy A. Mendonça, natural de Honolulu e de ascendência portuguesa e filipina. Morreu a 4 de julho de 1951. Ficou a proteger a retirada de um pelotão e, até chegar a sua hora, abateu 37 inimigos.

Na Guerra do Vietname (ou Guerra Americana, segundo os vietnamitas), morreram mais de 58.000 americanos e só de Massachusetts e Rhode Island há 53 nomes portugueses no Vietnam Veterans Memorial existente em Washington. Um é o soldado Ralph Ellis Dias, nascido em 1950, em Shelocta, PA e detentor da Medalha de Honra do Congresso e várias Purple Heart. Alistou-se nos Marines em 1967, seguiu para o Vietname em 1969 e morreu em combate a 12 de novembro desse ano, na província de Quang Nam.

Nas modernas guerrras dos EUA no Médio Oriente tivemos a Operation Freedom 2001, com uma baixa portuguesa, Miguel Rosa; e Operation Freedom 2003, com quatro: Arlindo Almeida, David Botelho, Andrew Cunha e Diane N. Lopes. Os EUA estão presentemente empenhados em conflitos no Iraque (onde sofreram 4.474 mortes) e no Afeganistão (2.853 mortes). No Afeganistão morreram os seguintes luso-descendentes: Christopher Luis Mendonça, Jorge Oliveira, Carlos A. Aparício, Rafael P. Arruda, Anthony J. Rosa, Ethan Gonçalo, Francisco Jackson, Joaquim Vaz Rebelo, Scott Andrews, Robert Barrett e Chad Gonsalves. No Iraque, morreram Michael Arruda, Michael Andrade, Joseph M. Câmara, Charles Caldwell, Peter Gerald Enos, Todd Nunes, Brian Oliveira, Scott C. Rose, Humberto Timóteo e David Marques Vicente.

O cabo marine David Marques Vicente, 25 anos, integrava o 2º Batalhão da 1º Divisão de Marines. Foi morto em 2003 e está sepultado em Methuen, MA, onde nasceu e residem os pais, naturais de Lisboa. Dias antes do funeral, um familiar do malogrado jovem deslocou-se a New Bedford e pediu ao então cônsul de Portugal, Fernando Teles Fazendeiro, uma bandeira portuguesa para Vicente a levar no caixão. Embora tenha dado a vida pelos EUA, David Vicente levou a bandeira portuguesa no caixão.

Com a devida vénia ao jornalista Eurico Mendes do jornal de língua portuguesa dos Estados Unidos Portuguese Times

domingo, 26 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7038: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (6): Tivemos bons mestres, dizem angolanos, guineenses e brasileiros, quando falam de corrupção

1. Texto de António Rosinha [, foto à direita]:


Somos mesmo assim tão corruptos?

É que na Guiné, no Brasil ou em Angola, quando se fala em corruptos, e estiver um português por perto,  dizem logo "tivemos bons mestres".... Se na nossa cara falam assim, imaginemos nas nossas costas o que dizem.

A história do engenheiro Alves dos Reis que venceu todas as burocracias necessárias para mandar fazer notas de 500 na Inglaterra, nos anos vinte do século passado, era do conhecimento de todos os adultos que sabiam ler, na cidade de Luanda, quando eu lá cheguei.

Eu, e a maioria que íamos daqui com carta de chamada e passagem do próprio bolso, nunca tinhamos ouvido falar nessa história. Como esse vigarista tinha vivido em Angola, havia gente que o tinha conhecido, ou sabia pelo menos da sua actividade. Talvez soubessem disso os que iam em comissão de serviço por quatro anos, como os governadores gerais e seus secretários, ou comandantes militares.

De facto, esse Alves dos Reis demonstra a capacidade de alguém para corromper tanta gente, desde conseguir assinaturas, carimbos, ser recebido por ministros, e depois distribuir e pôr esse dinheiro a circular em bancos e comércio...E esse génio da vigarice e corrupção era português, com fama internacional.

Agora andam por aí banqueiros que talvez já ultrapassem aquela antiga glória dos anos vinte do outro século.

Claro que se a vida não tivesse uma qualidade melhor em Angola do que cá, seria deprimente para mim e todos os que íamos daqui, ouvindo bocas como de atrasados, íamos só para viver à custa deles, mas esta de corruptos era aquela que talvez se estranhava mais, para quem nunca tinha ligado a tal coisa. Claro que eram conversas de café e o tal jeito da adaptação, dificil de explicar, resolvia tudo, em Angola, no Brasil ou na Guiné.

No Brasil era pior, onde o português era o alvo das anedotas do "menos inteligente". Hoje, os brasileiros emigrantes em Portugal também ficam marcados por outros motivos.

Na França, as marcas do português emigrante também se fariam sentir mas penso que não por corrupção. Mas por sua vez o emigrante que retornava, voltava a ser novamente marcado na sua terra.

Mas essa marca do "mestre da corrupção", penso que é invocado mais nas ex-colónias. Pessoalmente, em Bissau vi sinais de corrupção e vigarices bem (mal) disfarçadas por gente portuguesa em conluio com guineenses, em que a vítima era o Estado Português e o Guineense. Claro que não posso dizer nomes porque não sou polícia e não sou tetemunha. Mas casos descaradissimos não faltavam.

Eu próprio, não sei se me considere corrupto ou não. O que escrever um dia aqui, se tiver oportunidade, quem leia, julgará. Se era corrupto ou "ficava à porta". Mas não sei se já disse outras vezes, em Bissau não são precisos jornais. E o povo em Bissau tudo sabe, e até um dia Nino Vieira teve que fazer um comício para demonstrar que não era corrupto, no fim eu conto.

Eu acredito que na chamada África a sul do Sahara, antes de Diogo Cão ir visitar aquela gente, não havia corrupção tal qual como a praticamos hoje, europeus e africanos.

Sempre se falou e fala muitas vezes nas riquezas "fabulosas" dos países africanos, principalmente em Angola, e Congo que eu conheci um pouco, mas tambem na Guiné e é sabido que os dirigentes dos movimentos independentistas e muita gente pensava isso, que as riquezas das colónias portuguesas não eram divulgadas, para evitar a cobiça das potências estrangeiras.

Essas ideias também provocavam e provocam corrupção e tudo o que de negativo venha atrás, como no caso extremo em certos países africanos com os afamados "diamantes de sangue". No caso de Angola, parece que os diamantes continuam a ser moeda de troca. Não me admira que,  igualmente ao tempo colonial, haja muita dinheiro a ser investido em quartzo e vidro triturado.

Mas na Guiné, como não há grandes riquezas naturais à vista, talvez não haja grandes escândalos, mas é constante falar-se em corrupção e se um tuga estiver por perto pode ouvir a insinuação de mestre da dita mania da corrupção.

Houve um Natal de 1980 em que a Tecnil por hábito fazia a distribuição pelos clientes de umas lembranças, e como habitualmente era obrigatório uma lembrança para o presidente da República e outra para o Ministro das Obras Públicas. Ora naquele ano, 'Nino' Vieira era presidente havia um mês e o ambiente estava muito tenso e até algo violento devido ao golpe recente, e da Tecnil ninguém se achava com à vontade para levar essa lembrança à residência do Presidente, porque não se sabia qual seria a reação. Mas alguém teve que ir, e esse alguém lá entregou umas caixas com garrafas e mais umas embalagens com um cartão aos seguranças, mas passados uns minutos estava tudo devolvido sem explicações.

Dentro de uma perspicácia especial dos guineenses, toda a gente é baptizada com uma alcunha, e sempre com muita originalidade. Quem não podia escapar era o Presidente 'Nino' Vieira. que embora já tivesse a alcunha habitual, adaptavam-lhe uma alcunha (não muito às claras, penso eu) de uma novela brasileira, Sinhôzinho Malta. Desde o poder absoluto, aos carrões, ao relógio de ouro que exibia no pulso, e toda a gente ter um respeito absoluto àquela figura, e até a corrupção que se imaginava, tudo se adaptava à alcunha.

E passados uns anos, 'Nino' Vieira teve que explicar que não era corrupto, como se andava a falar. Usou um comício, transmitido pelo rádio e televisão e entre outros assuntos falou do "boato que anda por aí a correr". E agora digo apenas do que me lembro de ouvir e o sentido que o Presidente queria transmitir, e o pessoal comentou durante uns dias:
- Dizem que sou corrupto, mas se por exemplo, este relógio de ouro que tenho no pulso (e levanta o pulso com um relógio vistoso) que me foi oferecido pela Soares da Costa (a maior empresa a trabalhar na Guiné), como uma lembrança, eu devia recusar? Se o fizesse até era má educação.
- Isso é ser corrupto? - perguntava 'Nino' à assistência.

Claro que o povo que assistia ao comício respondeu em côro: 
- Nããão!

E agora, podemos nós aqui perguntar se, apesar de dezenas de nacionalidades representadas com seus nacionais em Bissau, e ser exactamente uma empresa portuguesa, a  Soares da Costa,  a dar um relógio ao Presidente, isso faz-nos,  aos portugueses,  mais suspeitos de corrupção do que os outros?

Claro que alguns de nós diremos: 
- Siiiim!

Mas concerteza haverá lugar para outras definições desse acto desde nããão, talvez ou niiim.

Não estou a imaginar ver os Suecos que tanto ajudaram o PAIGC, a dar particularmente um relógio a 'Nino' Vieira e este a explicar publicamnte. Mas vi os Suecos darem a cada ministro um Volvo topo de gama e renová-lo periodicamente e grandes máquinas para madeireiros trabalharem.

Também não imaginamos Russos que tanto ajudaram o PAIGC, oferecer um relógio ao Presidente. Mas vimos oferecer carros de combate e aviões de guerra.

O acto dos russos e suecos são ajudas de um povo a outro povo , no caso português são apenas negócios com uma empresa portuguesa em que uma da mãos lava a outra.

É esta a imagem que fica das diferenças de uma cooperação e outra. O que a Soares da Costa fez, é aquilo que podemos imaginar que foi a aventura,  de séculos por esse mundo fora, da diáspora portuguesa. Podemos dizer que é o tal desenrascanço, e ficam sempre suspeitas (os guineenses chamam o soco por baixo da mesa, em crioulo).

Enquanto outros cidadãos e empresas só agem com colaboração de embaixadas e consulados, em Portugal parace que se evitam mutuamente esses contactos.

Chegava-se a ver em Angola, no tempo colonial, comerciantes totalmente isolados durante anos, sem chefes de posto, nem missionários nem postos médicos que se instalassem a menos de um dia de viagem a pé (estradas nem vê-las). Claro que tinham que se desenrascar através de uma integração desde a aprendizagem das línguas, até aos remédios do povo e certamente compra de favores (corrupção?). 

Eu aprendi com colegas angolanos, logo nos meus primórdios, a deslocar-me em lugares distantes de povoações, acompanhado com um saco de sal. Era ouro com que comprava desde alimentação, informações e até protecção. Seria corrupção?

Claro que muitas vezes referem-se casos de imenso sucesso de portugueses na França, Brasil, Angola e até na China e América, mas os insucessos são varridos para baixo do tapete. Mas que a imagem que fica,  podia ser melhor se não nos auto-marginalizássemos, disso não tenho dúvida.

 Cumprimentos,

Antº Rosinha (*)
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Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 19 de Setembro de 2010  > Guiné 63/74 - P7006: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (5): Portugal nem explorava nem desenvolvia, colonizava pouco e mal

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6983: (In)citações (5): Amílcar Cabral, os portugueses, o colonialismo e o racismo (Cherno Baldé)

1. Comentário, de 9 do corrente,  de Cherno Baldé ao poste P6941 (*):

Amigo Torcato, (**)

Eu estudei na antiga URSS, sim, onde, juntamente com o leite e mel servido na cama individual, também nos serviam expressões agradáveis como " Ó macaco preto,  volta para a tua terra!".

Uma vez, em Kiev, conversando entre amigos e colegas de turma de várias nacionalidades, um Russo nos interpelou cheio de curiosidade:
- Disseram-me que vocês,  africanos,  nos vossos países, vivem em cima das árvores, mas como é que conseguem montar as camas ?

E alguém dos nossos respondeu-lhe:
-Sim,  é verdade,  e se queres saber mais digo-te que o vosso embaixador que vive lá connosco, está hospedado e dorme na árvore mais alta da nossa floresta.

A frase do romancista [ André Schwarz, ]conforme a entendi, e penso que o Filipe já disse o essencial, vai no sentido de que "só quem nos conhece nos pode magoar, prejudicar, ver matar". (***)  E acho que, não restam dúvidas que Cabral conhecia bem o regime Português e os Portugueses também. 

De resto quem quiser saber o que ele pensava dos Portugueses pode consultar o livro das suas obras escolhidas,  intitulado "A Arma da teoria",  num discurso proferido por ocasião do 1º ou 2º aniversário da invasão de Conacri e as causas do seu falhanço. Na minha opinião, aí estão contidas muitas mágoas para um bom Português como ele.

O que interessa reter é que hoje como ontem, em Portugal, vivem e trabalham muitos africanos, muitos dos quais, no fundo, nunca quiseram a ruptura completa e definitiva com Portugal e os Portugueses, mas que queriam simplesmente a sua emancipação. Agora vejam lá, se criam ou não criam mais outros Cabral. [, Foto, acima] (****)

Cherno

[ Fixação / revisão de texto / título: L.G.]
___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6941: Notas de leitura (144): Amílcar Cabral Documentário (Mário Beja Santos)


[Comentário de Antº Rosinha, 7/9/2010]

(...) Amilcar Cabral, com a sua cultura e conhecimentos africanos e europeus, podia falar muito bonito para branco entender, mas nunca contou a realidade africana. Nem ele, nem nenhum outro português como ele, quer do PAIGC, MPLA, ou FRELIMO (...).
[Comentário de Cherno Baldé, 7/9/2010]

Numa das passagens do romance de André Schwarz (ver refª abaixo), encontrei uma frase curta mas cheia de significado que diz o seguinte: "Atention, celui qui te connaît appartient pour toi aux bêtes qui tuent ». page 73.

ANDRÉ SCHWARZ BART
in "La Mulâtresse Solitude" , Roman–Points, ed. du Seuil, 1972.

E Amilcar Cabral, no seu tempo, foi daqueles que conheceram Portugal e os Portugueses, julgo eu, mais que qualquer outro Guineense ou estrangeiro que tivesse vivido por lá. Nem me passa pela cabeça imaginar o que ele teria sofrido para terminar com sucesso o seu percurso académico. (...)

[Comentário de ChTorcato Mendonça, 7/9/2010]


(...) Por fim, Amílcar Cabral, estudante.


Tirou certamente o curso de agronomia,  como qualquer colega. Dizem ter sido óptimo estudante. Havia a Casa do Império onde os estudantes, vindos de África,  ficavam. A polícia política certamente estava atenta e atenta estava com outros,  independentemente de sua cor. Racismo? É possível. Infelizmente há sempre gente mal formada. Aí não há? Olhe,  eu fui para militar e depois até aí e queria estudar...e você onde estudou? Talvez no Leste...terras de leite e mel (...).


(**) Último poste da série  (In)citações:

28 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6800: (In)citações (4): A lavadeira Lisboa e o tocador de harmónica Sene Coiaté, com a Júlia Neto, na inauguração do Núcleo Museológico Memória de Guiledje (Pepito, AD - Acção para o Desenvolvimento)

(***) Variante da célebre frase de Jesus Cristo na última ceia, denunciando o seu traidor: "Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato" (Mateus 26,14-25).

(****) Foto do secretário geral do PAIGC, incluída em O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe,  editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)... Aprimeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6869: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (26): Portugueses na Lapónia... sem distress (José Belo)

1. Foto e texto de José Belo (Mensagem enviada com data de ontem)


O VERÃO NA LAPÓNIA em....stress de calor! 

Caros Amigos e Camaradas:

Um Continente, mesmo de um extremo ao outro, é bem pequeno para a nossa Tabanca e os seus leitores. Nao é que me apareceram, literalmente, "à porta de casa",  em Abisko, bem já dentro do Círculo Polar Ártico, na Lapónia Sueca, 3 casais de portugueses, leitores do blogue de Luís Graça e Camaradas da Guiné?!! 

Interessados pelo norte da Escandinávia, seguiram a sugestão do nosso Camarada da Tabanca do Centro, Carlos Santos, de quem são amigos, deram uma olhadela ao blogue da Tabanca da Lapónia e... aqui apareceram, em viagem que os levou da Lapónia Finlandesa, à Sueca e Norueguesa. 

Sem os conhecer de lado nenhum,e sem saber "o que são" ou no que "acreditam", tivemos momentos inesquecíveis de convívio Lusitano. Mais uma vez, temos que concordar que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é.....Grande! (*)

Um grande abraço amigo.

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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3820: Blogoterapia (87) : O nosso (às vezes, triste) fado... (Joaquim Mexia Alves)

Fado da Guiné > Vídeo: 2 m e 19 s > Alojado no You Tube > Nhabijoes > Letra do Joaquim Mexias Alves. Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera) (com a devida vénia).
Vídeo: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

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Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3942 / BART 3873 > 1972 > O nosso autor e cantor Joaquim Mexia Alves... Além da CART 3942 (Xitole), o J. Mexia Alves comandou, como Alf Mil Op Esp o Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e e esteve ainda, na parte finald a sua comissão, na CCAÇ 15 (Mansoa).

Fado da Guiné

Letra (original): ©
Joaquim Mexia Alves (2007)
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)


Lembras-te bem daquele dia
Enquanto o barco partia
E tu morrias no cais.

Braço dado com a morte,
Enfrentavas tua sorte,
Abafando os teus ais.
(bis)

Dobrado o Equador,
Ficou para trás o amor
Que então em ti vivia.

Da vida tens outra margem
Onde o medo é coragem
E a noite se quer dia.
(bis)

Aqui estás mais uma vez,
Forte, leal, português,
Sempre de cabeça erguida.

Não te deixas esquecer,
Nem aos que viste morrer
Nessa guerra em tempos ida.
(bis)

Que o suor do teu valor
Que vai abafando a dor
Que te faz manter de pé,

Seja massa e fermento
Desse nobre sentimento
Que nutres pela Guiné.
(bis)

Joaquim Mexia Alves
Monte Real,
18 de Agosto de 2007

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, com data de 29 do corrente:

Meus caros Luís, Virgínio e Carlos

Desta vez é que vocês me mandam àquela parte. Que querem, é mais forte do que eu! Façam do texto o que quiserem, e estou a escrevê-lo com sinceridade, o que quiserem!

Abraço amigo do Joaquim Mexia Alves

2. Resposta do editor L.G.:

Obrigado, meu querido amigo e camarada Joaquim...
Sabes como são as polémicas... Tenho procurado gerir isto com pinças, mas não é fácil, há as susceptibiliddaes individuais... Por outro lado, toda a gente tem o direito de resposta...E tu tens o direito à indignação...

Vou publicar o teu texto, sem quaisquer problemas. Mas, em contrapartida, não vou deixar que fiques calado... É contra os nossos regulamentos...E quem cantará o fado da Guiné ? (...)
Um abração. Luís

3. Comentário do J. Mexia Alves:

Obrigado, Luís

O texto não tem a ver, digamos directamente com a polémica da retirada do Guileje, mas sim com um estado de espírito que me parece se instalou no país e que me incomoda e me parece ainda que nos estamos a deixar embarcar nele.

Não é contra nem a favor do Nuno Rubim, nem do António Matos, nem do Coutinho Lima, nem de ninguém!

É quanto a mim uma constatação do que se vai passando.

Se leres atentamente por exemplo o que já se escreveu sobre a batalha de Gadamael, quase se chega à conclusão que a perdemos, quando foi exactamente o contrário.

É um "grito de alma"!

Não nos atiremos mais para baixo!

Abraço amigo do
Joaquim

4. Resposta do editor L.G.:

Joaquim: Tem calma... Tomei boa nota das tuas correcções ao texto.

Hoje é o pior dia do ano para te chateares comigo... Faço 62 anos e estiva dar aulas toda a amanhã, com putos maravilhosos, incluindo filhas da Guiné, russas, portuguesas de Paris, filhos de Freixo de Espada a Cinta, de Vinhais, de Reguengos de Monsaraz, de Leiria, de Lisboa, do Porto, filhos/as do mundo, nossos/as filhos/as da diáspora (portuguesa), filhos/as de fora e de dentro....

E depois não me chateio facilmente com os amigos que considero do peito. Tu já és um eles, um amigo do pós-Guiné, com raízes na Guiné, no Mato Cão, no Geba, no Udunduma, no Xitole... Mesmo que digas que não, contarei sempre contigo. Tentarei ser imparcial com os amigos. Nem sempre é fácil. Mas diz-me se já alguma vez me recusei a publicar-te alguma coisa ?

Vá, fica bem. Luís


5. Rápida resposta do J. Mexia Alves, na volta do correio:


Ó meu caro Luís! Parabéns, homem, que tenhas um dia maravilhoso é o que te desejo!

Conheces-me, mas ainda não me conheces! Não estou nem um bocadinho chateado contigo, nem com ninguém!

Por isso lhe chamei um desabafo, ou seja, não tem nada a ver com actos específicos mas sim com uma maneira de estar dos portugueses, comigo incluído, que nos puxa para baixo em vez de ser para cima.

Lógico que sei que tu publicas o que escrevo e que todos escrevem, mas quis colocar-te perfeitamente à vontade.

Quando eu digo que não contam comigo, é para continuar a falar de "derrotas", etc. Agora podes ter a certeza que não se "livram de mim" com facilidade...eheheheh

Que fique bem claro que não estou chateado com ninguém e muito menos contigo.


6. Finalmente... o texto do Joaquim Mexia Alves, que funcionou como caixinha de Pandora (e é por isso que temos esta série chamada Blogoterapia): [Negritos do editor] (*)

Meus caros camarigos:

Li com atenção a resposta do Nuno Rubim (**) ao António Martins de Matos e não faço comentários.

Digo apenas, que para mim, não confio grandemente nas informações vindas do lado do PAIGC, nem nos seus documentos, porque me parece que ainda vivem um pouco na propaganda.
Se não, vejamos.

Nós expomo-nos aqui permanentemente, mostrando as nossas fraquezas e as nossas forças, os nossos medos e as nossas coragens, os nossos mortos e os nossos feridos, e do outro lado, pelo menos pelo que tenho visto, só chegam auto-elogios, declarações vitoriosas, e nem uma só assunção de dificuldades causadas por nós, claro, de baixas, de retiradas estratégicas ou não, enfim, no fundo a verdade das coisas.

E isto leva-me a pensar, e é essa a primeira razão deste meu escrito, que é mais um desabafo, do que uma teoria, ou tese, na forma como nós Portugueses encaramos a nossa história.

Sirvo-me do texto do Nuno Rubim, com todo o respeito e consideração, que aliás tenho por todos, (faço questão de não distinguir ninguém), para perguntar porque é que raio, nós, os Portugueses, temos tendência para procurarmos aquilo que não nos é favorável, em detrimento do que nos exalta, do que faz de nós a Nação mais antiga da Europa com fronteiras definidas e uma História que nos devia orgulhar?

Porque é que raio, em tantos anos de guerra da Guiné, em tantas acções de guerra, em tantas batalhas que nos foram favoráveis, se escolhe a retirada do Guileje para estudo, (o que não quer dizer que não se estude), se deslocam ex-combatentes das Forças Armadas Portuguesas à Guiné para um simpósio feito no local que o PAIGC erigiu como sua vitória, dando-lhe até uma conotação de vitória final, como se tivesse sido esse acontecimento que tivesse levado ao fim a guerra da Guiné?

Sejamos claros, a guerra acabou, felizmente e ainda bem, porque em Portugal houve uma revolução, golpe de estado, chamem-lhe o que quiserem, que colocou fim a um regime que defendia a guerra como solução.

Claro que a guerra, ou melhor o cansaço da guerra, contribuiu para essa revolução, mas não foi motivo único e talvez nem o principal, e aqui refiro-me à adesão do povo português ao 25 de Abril.

Já vimos o Manoel de Oliveira fazer um filme, que afinal praticamente apenas mostra ou tenta mostrar derrotas portuguesas e que em certa medida ridiculariza os soldados portugueses na guerra de África.

Temos historiadores procurando denodadamente falhas na nossa história, para tentar provar que afinal não fomos esse povo tão cheio de visão estratégica que “deu novos mundos ao mundo”.

Parece-me até que, se Luís de Camões vivesse hoje, os Lusíadas relatariam em verso as desgraças portuguesas, como por exemplo:

“As armas e os brazões já desbotados

Que da ocidental praia lusidia

Não se atreveram nos mares já navegados

Nunca passaram além da Trafaria.”


Nada do que é nosso presta, só julgamos bom o que vem de fora.

Votamos mentalmente nos Obamas, vamo-nos queixando do estado do país, mas nada fazemos para verdadeiramente mudarmos as coisas.

Comprazamo-nos até, quando os relatórios estrangeiros dizem que o país cai a pique, olhando para quem está ao nosso lado e muito ufanos dizemos: «Vês como eu tinha razão. Eu não te disse!»

Parecemos cães feridos e abandonados na rua, a lamberem as feridas uns aos outros.

Claro que devemos e temos de fazer a história da guerra da Guiné, pois fomos nós que lá estivemos, mas caramba, temos sempre de falar das nossas derrotas.

Já uma vez o disse e volto a repetir: São milhares de portugueses que naqueles anos, mesmo que sem ser por vontade própria, deram parte das suas vidas, quando não foi mesmo a sua vida inteira, e agora nós procuramos dizer-lhes que os outros é que eram bons, é que sabiam tudo, e que afinal o que eles andaram a fazer não tinha valor nenhum?

A reconciliação só se faz verdadeiramente quando os antigos oponentes se aceitam mutuamente, com todas as suas virtudes e defeitos, e não uns alcandorarem-se a uma atitude vitoriosa e os outros ajudarem-nos nessa intenção. Quando ambos contam a verdade, mesmo a verdade, e não apenas e só um dos lados a conta e a analisa.
Sei que este texto é polémico e, se calhar, sai do âmbito da nossa Tabanca Grande, mas a verdade, pelo menos para mim, é que Portugal se afunda numa teia de política, (não me refiro ao governo, mas à política em geral), se esbate num “politicamente correcto”, se esgota em discussões intermináveis, sobretudo sobre o que nos amargura e não sobre o que nos ajuda a levantar a cabeça e nos dá forças e orgulho para voltarmos a ser a Nação que “deu novos mundos ao mundo”.

Para isso, e a partir de agora, não contam comigo.

Meus caros editores façam deste texto o que entenderem, mesmo que seja “arquivarem-no” no lixo!

Sempre com todos, num forte abraço camarigo o

Joaquim Mexia Alves

7. Comentário do Nuno Rubim, a meu pedido:

Luís: A pergunta, ou melhor, o desabafo do camarada Joaquim Alves tem realmente alguma razão de ser.

Mas, abreviando (porque a resposta seria longa ) apenas vou dizer o seguinte:

Nestes anos todos que tenho investigado sobre a nossa história militar, tenho-me, como é perfeitamente natural, confrontado com situações em que constato (isto é, faço um juízo de valor) acontecimentos que me causam um certo orgulho de ser português, outros não. Mas isso não interessará a ninguém.

O que eu pretendo é obter dados que me permitam analisar factualmente determinadas situações e expô-las sem tecer comentários ou um mínimo possível. Os recipientes dessa informação é que poderão, ou não, tirar conclusões.

De resto, estou sempre disponível, e bem sabes disso, a trocar impressões
directamente com qualquer camarada que o deseje. Mas num fórum como o blogue limito-me a expor o resultado do meu trabalho e porventura explicitar mais aprofundadamente qualquer dúvida surgida na minha exposição.

Ou, como foi um caso recente, responder a uma intervenção que se referia
a mim, destituída de qualquer fundamento histórico e portanto obrigando-me,
a contra-gosto, a reagir.

Espero, sinceramente, que situações destas não se voltem a repetir.

Para terminar direi (e isto é um juízo de valor !) que a intervenção do BCP 12 em Gadamael foi um importante e notável feito de armas que, associado também a limitações já averiguadas por parte do PAIGC, impediu a sua queda.

Nuno Rubim


7. Comentário final de J. Mexia Alves:

Hoje temos tido correspondência aturada!

Peço-te que transmitas ao Nuno Rubim que nem de longo nem de perto quis criticar o seu trabalho, que entendo.

Mas foi como que a "gota de água" que encheu o copo que já estava a transbordar.

Temos de deixar de procurar razões para no entristecermos, ou então, por cada uma que encontrarmos, encontremos duas para nos alegrarmos.

Ainda por cima com a "tristeza", (para não dizer pior), que anda a nossa política!

Nunca em momento algum da minha vida, tive vergonha de ser Português, e ainda continuo a ter orgulho em sê-lo, mas que andam a "tentar" lá isso andam.

Uma abraço camarigo para o Nuno Rubim e outro mais uma vez cheio de parabéns para ti do Joaquim


__________

Notas de L.G.

(*) Vd. os últimos dez postes desta série, Blogoterapia:

21 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3771: Blogoterapia (86): Recordações da Guiné, nem sempre as melhores (António Carvalho)

21 de Janeiro de 2009 Guiné 63/74 - P3766: Blogoterapia (85): Para que a História seja verídica (José Martins)

22 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3661: Blogoterapia (84): Vai-te embora, tuga dum carago! (José Teixeira)

19 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3652: Blogoterapia (83): Voltamos a pôr a Ana (e o José...) a sorrir, na nossa fotogaleria (Luís Graça)


18 de Dezembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3648: Blogoterapia (82): Pensar em voz alta: Guileje ainda é cedo, Saiegh 18/12/78: foi há trinta anos...(Torcato Mendonça)

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3605: Blogoterapia (81): Sempre gostei do meu país mas nem de todos os que cá vivem (António Santos)

5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3566: Blogoterapia (80): Um elogio vindo da Bélgica (Soldado Carvalho / Santos Oliveira)

26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3525: Blogoterapia (79): Gabriel, Cruz de Guerra na Guiné, coveiro na freguesia...(V. Briote)

26 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3522: Blogoterapia (78): Abrir uma mala de pano...(António Matos)

25 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3517: Blogoterapia (77): Pensar em voz alta (Torcato Mendonça)

(**) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3664: O meu Pelotão (António Matos)

Mensagem de António Matos, de 16 de Dezembro de 2008

África tem em Portugal o seu interlocutor privilegiado. Eu testemunho-o!

Um dia, na tranquilidade de um fim de tarde de canícula africana, estirado numa chaise longue que ameaçava desintegrar-se devido à sua artesanal concepção, à conversa com meia dúzia dos meus soldados, recordávamos, à laia de flashback, o que já tínhamos passado de mau e de menos bom naquela guerra, sem sentimentos patrióticos mas com um querer imenso de sobrevivência, contando os dias que faltavam riscando num calendário feito de propósito, numa cartolina preta escrita a marcador branco, entretendo-nos a entregar a roupa às bajudas lavadeiras na convicção absoluta de que mais tarde, à noite, seríamos, uma vez mais, perturbados na paz que tanto desejávamos por um inimigo inculto, ainda que aguerrido, e impossibilitado de compeender a ineficiência daquele conflito, prendando-nos com algumas rajadas de metralhadora.<

O sentimento com que o soldado português era automática e imediatamente tocado à chegada à Guiné era de uma afabilidade incomensurável, sem ideias bélicas pré-concebidas, sem azedumes de qualquer espécie, sem qualquer nesga de racismo, e a demonstrá-lo aí estavam as relações travadas desde logo com as populações no que às actividades normais do dia-a-dia diziam respeito.

No dia da chegada a Bula logo se deram a amizades que durariam aqueles dois anos e algumas delas, provavelmente, enraizaram-se com o nascimento de alguma criança não programada ...

Nem os combates nem a imponderabilidade da vida lhes afectava aquela intimidade espontânea ...

Hoje percebe-se porque é tão fácil o relacionamento de África com Portugal ...

Mas, voltando àquele dia, arrisquei a pergunta ao Moniz se já tinha esquecido um grande acidente que o nosso grupo tivera e no qual faleceram 3 camaradas. O Moniz tinha nas mãos um pássaro muito bonito, colorido, onde o azul sobressaía.
O seu semblante modificou-se profundamente e respondeu-me com muita serenidade:
- Meu alferes, se eu apanhasse um daqueles turras, fazia-lhe isto! - Acto contínuo, com os dedos indicador e polegar, puxou a cabeça do bicho tendo-o decapitado! Pura e simplesmente!
Ficámos por ali, sem recriminações, mas ainda hoje recordo com bastante assiduidade esta cena tão selvática quanto compreensível.
Como açoreano, acredito que o Moniz tenha emigrado e nunca mais ouvi falar dele.

O Pelotão.



Encetei há uns tempos a procura dos meus soldados que ainda se encontrem entre nós. Já "descobri" 4 deles!

Proponho-me reuni-los todos de uma só vez tendo a noção da homérica acção que isso será uma vez que, na sua maioria, são açoreanos.

Fica prometida a "fotografia de família" se a tanto conseguir chegar!

António Matos

BCaç 2928/CCaç 2790

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Nota de vb: Último artigo do António Matos em

14 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3621: Em busca de... (57): Ex-combatentes do BCaç 2928 (Bula...1970/72) (António Matos)