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domingo, 10 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25260: Manuscrito(s) (Luís Graça) (246): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte V: 3. Da medicina mágico-religiosa do templo de Epidauro aos atuais médicos de família

 

Estátua de Asclépio


1. Comecei publicar no blogue, desde meados de março passado, uma série de textos, da minha autoria, sobre as ensinamentos que se podem tirar dos provérbios populares portugueses, nomeadamente sobre a saúde, a doença, os hospitais, os prestadores de cuidados de saúde (médicos, cirurgiões, farmacêuticos, enfermeiros, terapeutas, etc.), mas também sobre a proteção e a promoção da saúde, incluindo a vida, o trabalho, o envelhecimento ativo e a "arte de bem morrer"...

São textos com cerca de 25 anos, que constavam da minha antiga página na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/NOVA). A págima foi recuperada pelo Arquivo.pt: Saúde e Trabalho - Luís Graça (página pessoal e profissional cuja criação remonta a 1999).

 Chega-se agora ao fim desta série (ou subsérie) "Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles?", de que se pubklicaram 11 postes. As referèncias biblioghráficas não foram revistas (por manifesta falta de tempo).

 
Luís Graça (2000)

Representações Sociais da Saúde, da Doença e dos Praticantes da Arte Médica.


3. Dos asclepíades aos médicos de família


Se quisermos ir às raízes do modelo salutogénico, teremos que ir muito provavelmente até à origem da própria cultura europeia ocidental, o mesmo é dizer, a uma das suas fontes, a mitologia grega e a cultura helénica.

Já no tempo da antiga Grécia, por volta do Século V a.C., havia santuários - como o grande templo de Epidauro - dedicados a Asclépio (o Esculápio dos romanos). Para os gregos, Asclépio, herói homérico, fruto lendário dos amores de Apolo com uma pobre mortal, tornara-se então o semideus da medicina (Grimal, 1992; Hacquard, 1996). O seu culto prolongar-se-ia até ao princípio da cristianização do império romano e às primeiras invasões dos bárbaros no Séc. IV (Charitonidou, 1978; Graça, 1996).

O seu poder de atracção mágico-religiosa de doentes e peregrinos foi enorme como também, ao que parece, a sua eficácia simbólica e terapêutica, a avaliar pela popularidade e permanência, ao longo de séculos, do culto de Asclépio na civilização helénica e greco-romana.

Estes e outros aspectos da história da medicina estão bem ilustrados nas pinturas de Veloso Salgado na Sala dos Actos da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (Dória e Silva, 1999)

Sabemos que, do ponto de vista antropológico, o poder médico começa por ser um poder mágico-religioso, independentemente daquele que o exerce (curandeiro, feiticeiro, sacerdote, físico ou cirurgião), tanto nas sociedades primitivas como nas sociedades complexas. 

Esse poder baseia-se sobretudo na crença de que a cura da doença, embora operada por forças divinas, exige a intervenção de um medium dotado de um dom ou carisma. Não é por acaso que o termo terapeuta (do grego therapeutés) significava originalmente "o que cuida, servidor ou adorador de um deus".

Os templos de Asclépio (asclepeions), a avaliar pela reconstituição arqueológica do maior e mais importante de todos, o de Epidauro, eram constituídos basicamente por:

  • Uma nave principal (o templo propriamente dito ou cella, onde se erguia uma imponente estátua da divindade, em ouro e marfim: sentado sobre o trono, Asclépio segurava com uma mão o ceptro enquanto a outra pousava na cabeça da serpente, para os gregos uma animal sagrado e símbolo da própria arte de curar);
  • A fonte sagrada, em frente do templo, cujas águas serviam para os rituais de purificação, bem como os altares, também exteriores, onde os doentes faziam os seus sacrifícios, pedindo a intervenção do deus;
  • O tholos (uma construção circular, de desenho labiríntico, cuja função é ainda hoje enigmática: muito provavelmente, destinava-se a abrigar o túmulo do próprio Asclépio);
  • O abaton, ou seja, o local do templo onde os doentes deviam passar a noite, já que a cura dos seus males decorria durante o sono (incubatio) (Charitonidou, 1978; Lyons e Petrucelli, 1984).

O arqueólogo grego Charitonidou (1978. 13-15) descreve-nos com mais pormenor os rituais e o método terapêutico que então eram usados:

  • O santuário estava sob a jurisdição da cidade de Epidauro, cidade da Argólida, a nordeste do Peloponeso, a qual nomeava anualmente o dignitário supremo, o sacerdote de Asclépio, para o desempenho de funções simultaneamente religiosas e administrativas;
  • Ao sumo sacerdote competia, no essencial, fazer respeitar os preceitos do culto, tomar conta dos ex-voto, das oferendas e das esmolas, e administrar as finanças; 
  • Era ajudado por um corpo de sacerdotes (os asclepíades), cada um dos quais desempenhava funções específicas (o serviço do templo, a guarda dos arquivos sagrados, o transporte do fogo, etc.);
  • Os preceitos de culto, muito antigos, deviam ser fielmente observados pelos doentes que procuravam o templo para cura dos seus males, reais ou imaginários: por exemplo, às mulheres era proibido dar à luz no interior do templo, enquanto os moribundos deviam ser afastados para longe, curiosamente dois interditos que vemos encontrar mais tarde nos hospitais franceses do Antigo Regime;
  • Após os rituais das orações, das purificações e da oferta de sacrifícios (um boi ou um galo, para os mais ricos; frutas ou doces, para os mais pobres), o doente era sujeito a uma série de cerimónias que supostamente iriam pôr à prova a sua fé;
  • Ao que parece, a auto-sugestão era estimulada pelos sacerdotes que guiavam os doentes, de modo a criar as condições propícias ao acontecimento milagroso que se iria seguir durante o sono, com a aparição da própria divindade em pessoa; tudo isto se passava num ambiente de grande recolhimento, acentuado pelos hinos cantados, em coro, pelos peanistes;
  • Conduzido finalmente ao abaton (ou adyton, ou enkoimeterion, "o pórtico da incubação"), o doente devia lá passar a noite: “Nos aposentos sagrados, o doente, em estado de recolhimento, a imaginação febril, cheio de angústia pelo resultado da cura, entregava o corpo ao sono.  Os sacerdotes retiravam-se, deixando as salas na obscuridade. O deus paraceia em sonhos e operava o milagre. De manhã o doente acordava,  curado."(Charitonidou, 1978. 14, tr. de LG, Itálicos meus);
  • Como agradecimento pela cura milagrosa operada, os fiéis deviam presentear o deus com oferendas; havia-as de todo o tipo, para além do dinheiro: vasos de barro, utensílios em bronze, utensílios votivos, estelas, estatuetas, etc.

As estelas (ou inscrições votivas) que foram descobertas pelos arqueólogos constituem hoje uma fonte de informação preciosas sobre o Templo de Epidauro e o culto de Asclépio, os peregrinos que ali ocorriam, a sua origem social, a sua proveniência geográfica, os males de que sofriam e as curas que obtiveram: o paralítico, a criança muda, o homem de Tessália com manchas no rosto, a mulher de Messina que queria ter um filho e que, depois de dormir com a serpente, deu à luz duas crianças, etc.

Até agora não foi encontrado nenhum documento escrito que faça alusão à intervenção médica directa dos sacerdotes ao longo dos primeiros séculos de vida do templo. Eles continuavam a ser terapeutas, no sentido etimológico do termo, servidores do deus Asclépio que esse, sim, é que operava a cura (milagrosa) da doença durante o sono.

Mas, ao que parece, com o desenrolar do tempo, o santuário de Epidauro terá começado a sentir a concorrência dos médicos, na sequência do desenvolvimento da medicina grega, a partir de Hipócrates (460-377 a.C.). 

Terá havido então um processo de adaptação aos novos tempos, provavelmente a partir do Séc. II a.C., em seja, em pleno período helenístico. Para manter vivo o culto de Asclépio e conservar a sua clientela, os sacerdotes passaram a inteirar-se dos males de que sofriam os fiéis e ao mesmo tempo a dar-lhes alguns conselhos, antes de os encaminharem para o abaton:

 
"O paciente evocava em sonho os conselhos dos sacerdotes, considerando-os como prescrições do deus. Pela manhã relatava o seu sonho e os sacerdotes, valendo-se dos seus conhecimentos médicos, interpretavaam os conselhos do deus quanto ao tratamento a seguir enquantoiam pedindo ao paciente que permanecesse  no santuário” (Charitonidou, 1978: 15. tr. de LG.).

Tudo indica, a começar pelos achados arqueológicos que se encontram hoje expostos no Museu de Epidauro (incluindo alguns instrumentos ligados à arte médico-cirúrgica), que a partir de certa altura os sacerdotes do templo passaram, também eles, a prestar directamente alguns cuidados de saúde.

Há uma estela, embora já datada do Século II d.C., cujo conteúdo é bem revelador das mudanças que entretanto se tinham operado no templo de Epidauro (e provavelmente dos demais templos de Asclépio):

  • Este já não é apenas um lugar sagrado, um local de fé e de peregrinação religiosa;
  • É também um estabelecimento sanitário;
  • A par de um centro de lazer, cada vez mais mundano, com os seus banhos de águas quentes e frias, as suas pousadas, os seus ginásios, as suas corridas e os seus jogos, para além do seu famoso teatro, construído no Século IV a.C. e considerado o melhor, o mais belo e o mais fascinante da Antiguidade.

Vale a pena citar essa inscrição votiva que nos conta a história de um tal Apellas que "sofria de hipocondria e de terríveis indigestões" (sic), dois males de que se curou seguramente depois de uma agradável estadia nas instalações hoteleiras do santuário e dos sábios conselhos médicos dos asclepíades sugerindo-lhe que mudasse de vida, de acordo com os ensinamentos da medicina hipocrática.

Esses conselhos são espantosamente tão actuais que bem poderiam ter sido dados pelo nosso médico de família:

  • Nada de stresse, nada de te irritares;
  • Cuidado com as mudanças de temperatura;
  • Faz uma alimentação saudável, variada e equilibrada (come frutas, cereais, lacticínios, legumes, etc.);
  • Come e bebe, mas sempre com muita moderação;
  • Procura ser autónomo, dispensando os cuidados de terceiros;
  • Não te esqueças de dar o teu passeio diário e de fazer exercício físico regular;
  • E, por favor, corta-me com esse tabaquinho!...

Tratava-se, em suma, de um verdadeiro programa de promoção de estilos de vida saudáveis. De facto, está lá tudo (excepto... o tabaco, que só será conhecido no Velho Mundo a partir da descoberta da América, em 1492):

 "Enquanto eu me dirigia para o Santuário, ao chegar a Egina, apareceu-me o deus Asclépio e ordenou-me que não me irritasse em demasia. Uma vez chegado ao Templo, mandou-me que passasse a cobrir a cabeça quando chovesse, a comer pão e queijo, aipo e alface, que tomasse tomar banho sem ajuda de nenhum escravo, que fizesse exercício no ginásio, que bebebesse  sumo de cidra, que desse uns passeios a pé... Enfim, o deus mandou-me gravar tudo isto numa estela em pedra. Deixei o santuário em boa saúde e reconhecido a Asclépio" (
cit. por Charitonidou, 1978: 15, tr. de LG).

 A invasão da Grécia pelos Godos levou à devastação, em 395, do santuário, que depois seria definitivamente encerrado por ordem do imperador bizantino Teodósio II (em 426), em nome do proselitismo cristão e da luta contra o paganismo. Mas Asclépio, o deus-médico, o seu culto e os seus templos (a começar pelo de Epidauro, o mais belo e o mais célebre de todos) continuam, ainda hoje, a exercer um grande fascínio sobre nós, sendo uma referência obrigatória para a compreensão da história da medicina, das profissões, das instituições, das representações e das práticas de saúde no Ocidente.

Há que fazer, em todo o caso, uma distinção entre as práticas médicas laicas e as práticas médicas religiosas na Grécia Antiga. É justamente com a medicina racional hipocrática que se fará a ruptura em relação à medicina mágico-religiosa, associada ao culto de Asclépio.

Em todo caso, o termo asclepíades (originalmente, um sacerdote do asclepeion) vai popularizar-se em Roma como sinónimo de médico, como apelido de médicos e até como nome próprio. 

Antes de Galeno, é Asclepíades (muito provavelmente um pseudónimo) o primeiro médico grego a conhecer a glória e o sucesso em Roma, onde chega em 91 a. C. (Sournia, 1995, p. 58). Recorde-se que os romanos consideravam indigno de um cidadão a prática da arte de curar, razão por que esta estava na mãos dos escravos (a cirurgia) ou dos gregos (a medicina).

Em termos escultóricos, a figura mitológica de Ascéplio era simbolizada por um homem jovem, só ou em família, de pé, apoiado num cajado no qual está enroscada a serpente. Tinha, pelo menos, dois filhos, que também eram médicos, e duas filhas, Higia e Panaceia.

Para os gregos, estas duas figuras personificavam a saúde e a terapêutica, respectivamente, ou sejam, duas artes bem distintas: a de curar a doença (Panaceia) e a de proteger e promover a saúde (Higia).
___________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série > 



20 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24328: Manuscrito(s) (Luís Graça) (225): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IVA: Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras

4 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24281: Manuscrito(s) (Luís Graça) (223): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte III C: Contestação da Iatrogénese, da Medicina Defensiva e do Encarniçamento Terapêutico

3 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24189: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IIIB: Quando o pobre come frango, um dos dois está doente

28 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24173: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIIA: Hospital, o triunfo da hospitalidade e da caridade... mas "o peixe e o hóspede ao fim de três dias fedem"

23 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24164: Manuscrito(s) (Luís Graça) (218): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIB: "Com malvas e água fria faz-se um boticário num dia"

20 de março de 2023 Guiné 61/74 - P24155: Manuscrito(s) (Luís Graça) (217): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIA: 'Deus Cura os Doentes e o Médico Recebe o Dinheiro"

17 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24148: Manuscrito(s) (Luís Graça) (216): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte I: "Muita saúde, pouca vida, porque Deus não dá tudo"

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segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25099: O nosso blogue em números (95): Faltam-nos 17 nomes para chegar aos 900 grão-tabanqueiros, dois batalhões (meta atingir no final deste ano em que comemoramos os 20 anos do nosso blogue)




Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > Foto de família no ano em que fizemos o pleno (200 inscrições)... Infelizmente, vários dos camarada que lá estiveram, já não estão entre nós.. Cito alguns, de memória ( o Carlos Vinhal pode comfirmar, pela lista de presenças): António Estácio, Carlos Cruz, João Manuel Rebola, Joaquim Peixoto, Jorge Cabral ("alfero Cabra"), Jorge Rosales, Jorge Teixeira (Portojo), José Eduardo Oliveira ("Jero"), José Manuel Matos Dinis, Lúcio Vieira, Xico Allen... 

TABANCA GRANDE - LISTA ALFABÉTICA DOS 883 AMIGOS & CAMARADAS DA GUINÉ

(A / Ant)

A. Marques Lopes, Abel Maria Rodrigues, Abel Rei, Abel Santos, Abílio Delgado, Abílio Duarte, Abílio Machado, Abílio Magro, Acácio Correia, Acácio Mares, Adão Cruz, Adelaide Barata Carrêlo, Adelaide Gramunha Marques (ou Adelaide Crestejo), Adelino Capinha, Adélio Monteiro, Adolfo Cruz, Adriano Lima, Adriano Moreira, Adriano Neto, Afonso de Melo, Afonso M.F. Sousa, Agostinho Gaspar, Aires Ferreira, Albano Costa, Albano Gomes, Albano Mendes de Matos, Albertino Ferreira, Alberto Antunes, Alberto Branquinho, Alberto Grácio, Alberto Nascimento, Alberto Pires ("Teco"), Alberto Sardinha, Alberto Sousa Silva, Albino Silva, Alcides Silva, Alexandre Cardoso, Alexandre Margarido, Alfredo Fernandes, Alfredo Reis, Alice Carneiro, Almeida Campos, Almiro Gonçalves, Altamiro Claro, Álvaro Basto, Álvaro Carvalho, Álvaro Magro, Álvaro Mendonça, Álvaro Vasconcelos, Amaral Bernardo, Amaro Munhoz Samúdio, Américo Estanqueiro, Américo Russa, Amílcar Mendes, Amílcar Ramos, Ana Duarte, Ana Ferreira (ou Ana Paula Ferreira), Ana Maria Gala, Ana Romero, Anabela Pires, Aníbal Magalhães, Anselmo Garvoa, Antero F. C. Santos (n=63)

(António / António G)

António Abrantes, António Acílio Azevedo, António Agreira, António Alberto Alves, António Almeida, António Alves da Cruz, António Azevedo Rodrigues, António Baia, António Baldé, António Baltazar Pinto, António Barbosa, António Barroso, António Bartolomeu, António Bastos, António Bonito, António (ou Tony) Borié, António Branco, António Brum, António C. Morais da Silva, António Camilo, António Campos, António Carvalho, António Castro, António Clemente, António Correia Rodrigues, António Cunha (Passa), António da Costa Maria, 
António Dâmaso, António Delmar Pereira, António Dias, António Duarte, António Eduardo Carvalho, António Faneco, António Figueiredo, António Figuinha, António G. Carvalho, António Garcia Matos (ou António Matos), António Gomes da Cunha, António Graça de Abreu  (n=39)

(António  I / António V)

António Inverno, António J. Pereira da Costa, António J. Serradas Pereira, António Joaquim Alves, António Joaquim Oliveira, António (ou Tony) Levezinho, António Lopes Pereira, António Manuel Conceição Santos, António Manuel Oliveira, António Manuel Salvador, António Marques, António Marques Barbosa, António Marquês, António Marreiros, António Martins de Matos, António Mateus, António Medina, António Melo, António Melo de Carvalho, António Moreira, António Murta, António Nobre, António Osório, António P. Almeida, António Paiva, António Pimentel, António Pinto, António Ramalho, António Reis, António Rocha Costa, António Rodrigues, António Rodrigues Pereira, António Rosinha, António Sá Fernandes, António Salvada, António Sampaio, António Santos, António Santos Almeida, António Santos Dias, António Tavares, António Teixeira Mota, António Varela (n=41)


(Arl / Aura)

Arlindo Roda, Armandino Oliveira, Armandino Santos, Armando Costa, Armando Faria, Armando Ferreira, Armando Ferreira Gomes, Armando Fonseca, Armando Gonçalves, Armando Pires, , Arménio Estorninho, Arménio Santos, Armindo Batata, Armor Pires Mota, Arnaldo Guerreiro, Arnaldo Sousa, Arsénio Puim, Artur Conceição, Artur José Ferreira, Artur Ramos, Artur Soares, Augusto Baptista, Augusto Mota, Augusto Silva Santos, Augusto Vilaça, Aura Rico Teles (n=27)

(B)

Belarmino Sardinha, Belmiro Tavares, Belmiro Vaqueiro, Benito Neves, Benjamim Durães, Benvindo Gonçalves, Bernardino Cardoso, Bernardino Parreira, Braima Djaura, Braima Galissá (n=10)

(Cam / Carlos)

Campelo de Sousa, Cândido Morais, Carlos Afeitos, Carlos Alberto de Jesus Pinto, Carlos Alexandre, Carlos Américo Cardoso, Carlos Arnaut, Carlos Ayala Botto, Carlos Azevedo, Carlos Baptista, Carlos Barros, Carlos Carvalho, Carlos Farinha, Carlos Fernandes, Carlos Filipe Gonçalves, Carlos Fortunato, Carlos Fraga, Carlos Guedes, Carlos Jorge Pereira, Carlos Marques de Oliveira, Carlos Mendes, Carlos Milheirão, Carlos Moreno, Carlos Nery Gomes de Araújo, Carlos Órfão, Carlos Pedreño Ferreira, Carlos Pinheiro, Carlos Pinto, Carlos Prata, Carlos Ricardo, Carlos Rios, Carlos Silva, Carlos Silvério, Carlos Soares, Carlos Sousa, Carlos Valente, Carlos Valentim, Carlos Vieira, Carlos Vinhal (n=39)

(Carm / Crist)

Carmelino Cardoso, Carvalhido da Ponte, Casimiro Vieira da Silva, Cátia Félix, Célia Dinis, César Dias, Cherno Baldé, Cláudio Brito, Conceição Alves, Conceição Brazão, Conceição Salgado, Constantino Costa, Constantino Ferreira d'Alva, Constantino (ou Tino) Neves, Cristina Silva (n=15)

(D)

Daniel Jacob Pestana, Daniel Vieira, David Guimarães, David Peixoto, Delfim Rodrigues, Diamantino Monteiro (ou Diamantino Pereira Monteiro), Diana Andringa, Dina Vinhal, Domingos Fonseca, Domingos Gonçalves, Domingos Maçarico, Domingos Robalo, Domingos Santos, Duarte Cunha, Durval Faria (n=15)

(E)

Edgar Soares, Eduardo Ablu, Eduardo Campos, Eduardo Costa Dias, Eduardo Estevens, Eduardo Estrela, Eduardo J. Magalhães Ribeiro, Eduardo Moutinho Santos, Eduardo Santos, Egídio Lopes (Ten Pilav), Ernestino Caniço, Ernesto Duarte, Ernesto Ribeiro, Estêvão A. Henriques, Evaristo Reis (n=15) 
 

(F)

Felismina Costa, Fernandino Leite, Fernandino Vigário, Fernando Almeida, Fernando Andrade Sousa, Fernando Araújo, Fernando Barata, Fernando Calado, Fernando Cepa, Fernando Chapouto, Fernando de Jesus Sousa, Fernando de Sousa Ribeiro, Fernando Gomes de Carvalho, Fernando Gouveia, Fernando Hipólito, Fernando Inácio, Fernando José Estrela Soares, Fernando Loureiro, Fernando Macedo, Fernando Manuel Belo, Fernando Moita, Fernando Oliveira, Fernando Oliveira (Brasinha), Fernando Santos, Fernando Sucio, Fernando Tabanez Ribeiro, Fernando Teixeira, Ferreira da Silva, Ferreira Neto, Filomena Sampaio, Florimundo Rocha, Fradique Morujão, Francisco Baptista, Francisco Feijão, Francisco Gamelas, Francisco Godinho, Francisco Gomes, Francisco Henriques da Silva, Francisco Mendonça, Francisco Monteiro Galveia, Francisco Palma, Francisco Santiago, Francisco Santos, Francisco Silva (n=44)

(G)

Gabriel Gonçalves, Garcez Costa, George Freire, Germano Penha, Germano Santos, Gil Moutinho, Gilda Pinho Brandão (ou Gilda Brás), Gina [Virgínia] Marques, Giselda Antunes Pessoa, Gonçalo Inocentes, Graciela Santos, Gualberto Passos Marques, Guilherme Ganança, Gumerzindo Silva, Gustavo Vasques (n=15)

(H)

Hélder Sousa, Henrique Cabral, Henrique Cerqueira, Henrique Martins de Castro, Henrique Matos, Henrique Pinto, Herlânder Simões, Hernâni Acácio Figueiredo, Hilário Peixeiro, Horácio Fernandes, Hugo Costa, Hugo Guerra, Hugo Moura Ferreira, Humberto Nunes, Humberto Reis (n=15)

(I/João)

Idálio Reis, Ildeberto Medeiros, Inácio Silva, Inês Allen, Isabel Levy Ribeiro, Ismael Augusto, J. Armando F. Almeida, J. C. Mussá Biai, J. F. Santos Ribeiro, J. L. Mendes Gomes, J. L. Vacas de Carvalho, J. M. Pereira da Costa, Jacinto Cristina, Jaime Bonifácio Marques da Silva, Jaime da Silva Mendes, Jaime Machado, Jean Soares, Jéssica Nascimento, João Afonso Bento Soares, João Alberto Coelho, João Alves, João Bonifácio, João Carlos Silva, João Carreiro Martins, João Carvalho, João Cerina, João Crisóstomo, João Dias da Silva, João Graça, João Lourenço, João M. Félix Dias, João Martel, João Martins, João Meneses, João Melo, João Miranda, João Moreira, João Nunes, João Paulo Diniz, João Pereira da Costa, João Rodrigues Lobo, João Rosa, João Ruivo Fernandes, João S. Parreira, João Sacôto, João Santos, João Santiago, João Schwarz, João Seabra, João Varanda, João Vaz (n=51) 

(Joaquim / Jochen)

Joaquim Ascenção, Joaquim Cardoso, Joaquim Costa, Joaquim Cruz, Joaquim Fernandes, Joaquim Fernandes Alves, Joaquim Gomes de Almeida (o "Custóias"), Joaquim Guimarães, Joaquim Jorge, Joaquim Luís Fernandes, Joaquim Macau, Joaquim Martins, Joaquim Mexia Alves, Joaquim Nogueira Alves, Joaquim Pinheiro, Joaquim Pinto Carvalho, Joaquim Rodero, Joaquim Ruivo, Joaquim Sabido, Joaquim Sequeira, Joaquim Soares, Jochen Steffen Arndt (n=22)

(Jorge)

Jorge Araújo, Jorge Caiano, Jorge Canhão, Jorge Coutinho, Jorge Félix, Jorge Ferreira, Jorge Lobo, Jorge Narciso, Jorge Picado, Jorge Pinto, Jorge Rijo, Jorge Rosmaninho, Jorge Santos, Jorge Silva, Jorge Simão, Jorge Tavares, Jorge Teixeira (n=17)

(José)


José Afonso, José Albino, José Almeida, José António Sousa, José António Viegas, José Barbosa, José Barros, José Bastos, José Belo, José Brás, José Carlos Ferreira, José Carlos Gabriel, José Carlos Lopes, José Carlos Neves, José Carlos Pimentel, José Carlos Silva, José Carmino Azevedo, José Carvalho, José Casimiro Carvalho, José Claudino da Silva, José Colaço, José Corceiro, José Cortes, José Crisóstomo Lucas, José da Câmara, José Diniz de Souza Faro, José Emídio Marques, José Fernando de Andrade Rodrigues, José Fernando Estima, José Ferraz de Carvalho, José Ferreira da Silva, José Fialho, José Figueiral, José Firmino, José Francisco Robalo Borrego, José Gonçalves, José Horácio Dantas, José Jerónimo, José João Braga Domingos, José Lima da Silva, José Lino Oliveira, José Luís Vieira de Sousa, José Macedo, José Manuel Alves, José Manuel Cancela, José Manuel Carvalho, José Manuel Lopes (Josema), José Manuel Pechorro, José Manuel Samouco, José Manuel Sarrico Cunté, José Maria Claro, José Maria Monteiro, José Maria Pinela, José Marques Ferreira, José Martins, José Martins Rodrigues, José Matos, José Melo, José Moreira Neves, José Nascimento, José Nunes, José Paracana, José Parente Dacosta, José Pedro Neves, José Pedrosa, José Peixoto, José Pereira, José Pinho da Costa, José Quintino Romão, José Ramos, José Ramos (STM), José Rocha (ou José Barros Rocha), José Rodrigues, José Rosa da Silva Neto, José Rosário, José Salvado, José Santos, José Saúde, José Sousa (JMSF), José Sousa Pinto, José (ou Zé) Teixeira, José Torres Neves (Padre), José Vargues, José Vermelho, José Zeferino (n=84) 

(Jov/Juv)


Joviano Teixeira, Júlia Neto, Júlio Abreu, Júlio Benavente, Júlio César, Júlio Faria, Júlio Madaleno, Juvenal Amado, Juvenal Candeias, Juvenal Danado (n=10)

(L)

Lázaro Ferreira, Leão Varela, Leonel Teixeira, Leopoldo Correia, Lia Medina, Libério Lopes, Lígia Guimarães, Luciana Saraiva Guerra, Luciano de Jesus, Lucinda Aranha, Luís Branquinho Crespo, Luís Camões, Luís Camolas, Luís Candeias, Luís Carvalhido, Luís de Sousa, Luís Dias, Luís Fonseca, Luís Gonçalves Vaz, Luís Graça [Henriques], Luís Guerreiro, Luís Jales, Luís Marcelino, Luís Miguel da Silva Malú, Luís Mourato Oliveira, Luís Nascimento, Luís Paiva, Luís Paulino, Luís R. Moreira, Luís Rainha, Luiz Farinha, Luiz Figueiredo (n=32)

(Mam/Manuela)


Mamadu Baio, Manuel Abelha Carvalho, Manuel Amante, Manuel Amaro, Manuel Antunes, Manuel Barros Castro, Manuel Bastos Soares, Manuel Bento, Manuel Calhandra Leitão ("Mafra"), Manuel Carmelita, Manuel Carvalhido, Manuel Carvalho, Manuel Carvalho Passos, Manuel Castro, Manuel Cibrão Guimarães, Manuel Coelho, Manuel Correia Bastos, Manuel Cruz, Manuel Domingos Ribeiro, Manuel Domingues, Manuel Freitas, Manuel G. Ferreira, Manuel Gomes, Manuel Gonçalves, Manuel Henrique Quintas de Pinho, Manuel Inácio, Manuel João Coelho, Manuel Joaquim, Manuel José Janes, Manuel Lima Santos, Manuel Luís de Sousa, Manuel Luís Lomba, Manuel Macias, Manuel Maia, Manuel Mata, Manuel Melo, Manuel Oliveira, Manuel Oliveira Pereira, Manuel Palma, Manuel Peredo, Manuel Rebocho, Manuel Rei Vilar, Manuel Reis, Manuel Resende, Manuel Rodrigues, Manuel Salada, Manuel Santos, Manuel Seleiro, Manuel Serôdio, Manuel Sousa, Manuel Tavares Oliveira, Manuel Traquina, Manuel Vaz, Manuel Viegas (n=54)

(Mar / Mig)

Margarida Peixoto, Maria Arminda Santos, Maria Clarinda Gonçalves, Maria de Fátima Santos, Maria Helena Carvalho (ou Helena do Enxalé), Maria Joana Ferreira da Silva, Maria Teresa Almeida, Mário Arada Pinheiro, Mário Armas de Sousa, Mário Beja Santos (ou Beja Santos), Mário Bravo, Mário Cláudio [pseudónimo de Rui Barbot Costa], Mário Cruz ("Shemeiks"), Mário de Azevedo, , Mário Dias (ou Mário Roseira Dias), Mário Fitas (ou Mário Vicente), Mário Gaspar, Mário Leitão, Mário Lourenço, Mário Magalhães, Mário Migueis, Mário Oliveira (Capelão do BCAÇ 2930), Mário Santos, Mário Serra de Oliveira, Marisa Tavares, Marta Ceitil, Martins Julião, Maurício Nunes Vieira, Maximino Alves, Melo Silva, Miguel Pessoa, Miguel Ribeiro de Almeida, Miguel Ritto, Miguel Rocha, Miguel Vareta (n=36)

(N)

Natalino da Silva Batista, Nelson Cerveira, Nelson Domingues, Nelson Herbert, NI (Maria Dulcinea), Norberto Gomes da Costa, Norberto Tavares de Carvalho, Nunes Ferreira, Nuno Almeida, Nuno Dempster, Nuno Nazareth Fernandes (n=11)

(O/P/Q)

Orlando Figueiredo, Orlando Pinela, Osvaldo Cruz, Osvaldo Pimenta, Pacífico dos Reis, Patrício Ribeiro, Paula Salgado, Paulo Lage Raposo (ou Paulo Raposo), Paulo Reis, Paulo Salgado, Paulo Santiago, Pedro Cruz, Pedro Lauret (n=13)

(R)

Ramiro Figueira, Ramiro Jesus, Raul Azevedo, Raul Brás, Raul Castanha, Regina Gouveia, Ribeiro Agostinho, Ricardo Almeida, Ricardo Figueiredo, Ricardo Sousa, Ricardo Teixeira, Rogé Guerreiro, Rogério Cardoso, Rogério Chambel, Rogério Ferreira, Rogério Freire, Rogério Paupério, Rosa Serra, Rui A. Santos, Rui Baptista, Rui Esteves, Rui Felício, Rui Fernandes, Rui G. Santos, Rui Gonçalves, Rui Pedro Silva, Rui Silva, Rui Vieira Coelho (n=28)

(S/T)

Sadibo Dabo, Santos Oliveira, Sebastião Ramalho Lavado, Sérgio Pereira, Sérgio Sousa, Serra Vaz, Silvério Dias, Silvério Lobo, Sílvia Torres, Sílvio Abrantes (Hoss), Souleimane Silá, Sousa de Castro, Susana Rocha, Tibério Borges, Tina Kramer, Tomané Camará, Tomás Carneiro, Tomás Oliveira, Tony Grilo, Tony Tavares (n=20)

(V/X/W/Z)

Valdemar Queiroz, Valente Fernandes, Valentim Oliveira, Vasco da Gama, Vasco Ferreira, Vasco Joaquim, Vasco Santos,Victor Alfaiate, Victor Costa, Victor David, Victor Garcia, Victor Tavares, Virgílio Teixeira, Virgílio Valente, Virgínio Briote, Vitor Caseiro, Vítor Cordeiro, Vitor Ferreira, Vítor Junqueira, Vítor Oliveira, Vítor Raposeiro, Vítor Silva, Zé Carioca (ou José António Carioca) (n=23)


Lista dos amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando (n=143):

A

Agostinho Jesus (1950-2016) | Alberto Bastos (1948-2022) | Alcídio Marinho (1940-2021) | Alfredo Dinis Tapado (1949-2010) | Amadu Bailo Jaló (1940-2015) | Américo Marques (1951-2019) | António Branquinho (1947-2023) | António Cunha ("Tony") (c.1950 - c. 2022) | António Eduardo Ferreira (1950 - 2023) | António da Silva Batista (1950-2016) | António Dias das Neves (1947-2001) | António Domingos Rodrigues (1947-2010) | António Estácio (1947-2022) | António Manuel Carlão (1947-2018) | António Manuel Martins Branquinho (1947-2013) | António Manuel Sucena Rodrigues (1951-2018) | | António Rebelo (1950-2014) | António Teixeira (1948-2013) | António Vaz (1936-2015) | Armandino Alves (1944-2014) | Armando Tavares da Silva (1939-2023) | Armando Teixeira da Silva (1944-2018) | Augusto Lenine Gonçalves Abreu (1933-2012) | Aurélio Duarte (1947-2017) | (n=24)

C

Carlos Alberto Cruz (1941-2023) | Carlos Azeredo (1930-2021) | Carlos Cordeiro (1946-2018) | Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai) (1929-2021) | Carlos Filipe Coelho (1950-2017) | Carlos Geraldes (1941-2012)  | Carlos Marques dos Santos (1943-2019) | Carlos Rebelo (1948-2009) | Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2012) | Carronda Rodrigues (1948-2023) | Celestino Bandeira (1946-2021)  | Clara Schwarz da Silva (1915-2016) |  Cláudio Ferreira (1950-2021) | Coutinho e Lima (1935-2022) | Cristina Allen (1943-2021) | Cristóvão de Aguiar (1940-2021) | Cunha Ribeiro (1936-2023) | Celestino Bandeira (1946-2021) | Clara Schwarz da Silva (1915-2016) | (n=19)


D/E/FG/H/I

Daniel Matos (1949-2011) | Domingos Fernandes (1946-2020) | Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) | Ernesto Marques (1949-2021) | Fernando Brito (1932-2014) | Fernando Costa (1951-2018) | Fernando [de Sousa] Henriques (1949-2011) | Fernando Magro (1936 - 2023) | Fernando Rodrigues (1933-2013) | Francisco Parreira (1948-2012) | Francisco Pinho da Costa (1937-2022) | França Soares (1949-2009) | Gertrudes da Silva (1943-2018) | Humberto Duarte (1951-2010) |  Inácio J. Carola Figueira (1950-2017) | Isabel Levezinho (1953-2020) | Ivo da Silva Correia (.c 1974-2017) | (n=17)

J
 João Barge (1945-2010) | João Cupido (1936-2021) | João Caramba (1950-2013) | João Diniz (1941-2021) | João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014) | João Rebola (1945-2018) | João Rocha (1944-2018) | João Silva (1950-2022) | Joaquim Cardoso Veríssimo (1949-2010) | Joaquim da Silva Correia (1946-2021) | Joaquim Peixoto (1949-2018) | Joaquim Vicente Silva (1951-2011) | Joaquim Vidal Saraiva (1936-2015) | Jorge Cabral (1944-2021) | Jorge Rosales (1939-2019) | Jorge Teixeira (Portojo)  (1945-2017) | José António Almeida Rodrigues (1950-2016) | José António Paradela (1937-2023) | José Augusto Ribeiro (1939-2020) José Barreto Pires (1945-2020) |  José Carlos Suleimane Baldé (c.1951-2022) |  José Ceitil (1947-2020) | José Eduardo Alves (1950-2016) | José Eduardo Oliveira (JERO) (1940-2021) | José Fernando de Andrade Rodrigues (1947-2014) | José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017) | José Manuel Dinis (1948-2021) | José Manuel P. Quadrado (1947-2016) |  José Marcelino Sousa (1949 - 2023) |  José Martins Rosado Piça (1933-2021) | José Maria da Silva Valente (1946-2020) | José Marques Alves (1947-2013) | José Moreira (1943-2016) | José (ou Zé) Neto (1929-2007)|  José Pardete Ferreira (1941-2021) | Júlio Martins Pereira (1944-2022) (n=36)

L/M/N

Leopoldo Amado (1960-2021) |  Libório Tavares (Padre) (1933-2020) | Lúcio Vieira (1943-2020) | Luís Borrega (1948-2013) | Luís Encarnação (1948-2018)|  Luís Faria (1948-2013) | Luís F. Moreira (1948-2013) |  Luís Henriques (1920-2012) | Luís Rosa (1939-2020) | Mamadu Camará (c. 1940-2021) | Manuel Amaral Campos (1945-2021) | Manuel Carneiro (1952-2018) | Manuel Castro Sampaio (1949-2006) | Manuel Dias Sequeira (1944-2008) |  Manuel Marinho (1950-2022) | Manuel Martins (1950-2013) | Manuel Moreira (1945-2014)  | Manuel Moreira de Castro (1946-2015) | Manuel Varanda Lucas (1942-2010) | Manuel Gonçalves (Nela (1946-2019 |  Marcelino da Mata (1940-2021) | Maria da Piedade Gouveia (1939-2011) |  Maria Ivone Reis (1929-2022) | Maria Manuela Pinheiro (1950-2014) | Mário de Oliveira (Padre) (1937-2022) | Mário Gualter Pinto (1945-2019) | Mário Vasconcelos (1945-2017) | Nelson Batalha (1948-2017) | Nuno Rubim (1938 - 2023)  (n=29)


O/P/Q/R/S/TU/V/X/Z

Otelo Saraiva de Carvalho (1936-2021) | Paulo Fragoso (c.1947-2021) | Queta Baldé (1943-2021) | Raul Albino (1945-2020) | Renato Monteiro (1946-2021) | Rogério da Silva Leitão (1935-2010) | Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022) | Teresa Reis (1947-2011) | Torcato Mendonça (1944-2021) | Umaru Baldé (1953-2004) | Vasco Pires (1948-2016) | Veríssimo Ferreira (1942-2022) | Victor Alves (1949-2016) | Victor Barata (1951-2021) | Victor Condeço (1943-2010) | Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014) |  Xico Allen (1950-2022) | Zélia Neno (1953 - 2023) (n=18)

Total de grão-tabanqueiros em 6/1/2024 = 883
 

Últimas dez entradas (da mais recente para a menos recente; entre parênteses, o nº de grão-tabanqueiro):

Alberto Pires ("Teco") (883), António Reis (882), Souleimane Silá (881), António A
lves da Cruz (880), Cunha Ribeiro (879), João Moreira (878), José Marcelino Sousa (877), Carronda Rodrigues (876), Inês Allen (875), Rogério Paupério (874)    (**)
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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24956: E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas (Joaquim Costa) - Parte IV: Enfim, em casa!... Famalicão, a minha terra...

 


Foto nº 1 > Vila Nova de Famalicão > Edifício, emblemático,  da Câmara Municiap (1961), da autoria do arquiteto Januário Godinho.


Foto nº 2 > Vila Nova de Famalicão >   O Edifício da Lapa, antigo hospital, e posteriormente liceu da cidade, hoje sede da Universidade Lusíada.
 


Foto nº 3 > Vila Nova de Gaia > 2023 > O Joaquim Costa, num esplanada ribeirinha, com o casarinho histórico da sua amada "Invicta"  ao fundo.

Fotos (e legendas): © Joaquim Costa (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 

1. Continuação da nova série do Joaquim Costa:  "E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas"... (*)


(i) ex-fur mil at armas pesadas inf, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74);

(ii) membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021, tem cerca de 7 dezenas de referências no blogue;

(iii) autor da série "Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)" (de que se publicaram 28 postes, desde 3/2/2021 a 28/7/2022) , e que depois publicou em livro ("Memórias de um Tigre Azul - O Furriel Pequenina", por Joaquim Costa; Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp);

(iv) tirou o curso de engenheiro técnico, no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto;

(v) foi professor do ensino secundário, tendo-se reformado como diretor da escola secundária de Gondomar;

(vi) minhoto, de Vila Nova de Famalicão , vive em Rio Tinto, Gondomar;

(vii) tem página no Facebook.


E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas (Joaquim Costa) - Parte IV:  Enfim,, em casa!... Famalicão, a minha terra...


Enfim, em casa!!!

O sonho de qualquer professor é ser colocado na sua terra (Foto nº 1). Contudo, eu não aconselho.

Ser professor de filhos de colegas, de familiares, de conhecidos, etc. não é tarefa fácil. Seja em casa, no café, na rua, no jardim, na feira ("ó mãe,  olha o meu professor!"), mil olhos sempre postos em nós. Nunca podíamos pôr o pé na "poça".

Por todas estas razões estavam criadas as condições para não ser um ano fácil. E assim foi:

− Só um 4 para o Francisco!?

− Médio, Médio, Médio, Médio! Ao menos um Elevado!!

− Na reunião do conselho de turma um pouco de água benta para a Maria!

Algumas das amizades azedaram um pouco e alguns familiares deixaram de me convidar para os batizados.

Fiquei ao menos de consciência tranquila, não obstante acabar por reconhecer que alguns destes alunos acabaram por ser prejudicados porque me coloquei, algumas vezes, no papel de mulher de César: "Não basta sê-lo,  é preciso parecê-lo."

A coisa não correu bem logo no meu primeiro dia.

Apresentei-me ao diretor, que me recebeu cordialmente, pois, embora não fosse alguém das minhas relações de amizade,  conhecíamo-nos por frequentar o mesmo café. Perguntei se se encontrava na escola um colega professor, meu amigo, de longa data, de nome António.

Resposta pronta do homem:

−  Se é o que eu penso está na cadeia. 

Fiquei atónito. O António na cadeia!? Ainda há dois dias estive com ele!

Estava eu a digerir aquela bombástica notícia, com suores frios e as pernas a cederem, enquanto o homem com toda a calma do mundo e um sorriso cândido procurava o meu horário no meio de uma selva de papeis.

Com a voz trémula ainda afirmei: 

− Tem a certeza?!...

Entretanto entra no gabinete outro elemento da direção a quem o diretor pergunta:
 

 Ó Francisco, o professor António está na cadeia, não está?!

Responde a criatura,  parecendo-me com voz de compaixão:

− Ainda hoje estive lá a conversar um pouco com ele. 

Fiquei de rastos, o meu amigo António na cadeia, o que terá feito de tão grave?!

Entretanto o Diretor lá encontra a agulha no palheiro (o meu horário) e afirma com um sorriso de menino:

− E o colega também vai para a cadeia!

É então que olho para o meu horário e vejo escrito no lugar do nome da sala de aula a palavra: CADEIA.

Assim mesmo, a escola funcionava no antigo hospital (a sede) (Foto nº 2).   e na antiga cadeia, que distava 500 metros da sede. Embora eu já não residisse na cidade há vários anos,  tinha conhecimento que o antigo liceu funcionava no hospital, mas desconhecia em absoluto que também funcionava na antiga cadeia e mesmo que existia.

Aqui a sala de professores funcionava no antigo recreio dos reclusos e as salas de aula nas antigas celas. O edifício não sofreu nenhuma alteração estrutural da antiga cadeia, pelo que as salas de aulas (as celas) mantinham uma pequena abertura junto ao teto, onde entrava apenas um fio de luz. Mantinha a porta de ferro reforçada que pesava uma tonelada, que fechava só da parte de fora com uma ferragem dos anos 30.
 
Todos os professores davam aulas de porta aberta.

Eu, para além de dar as aulas de porta aberta, ficava sempre de pé junto à mesma com medo que alguém a fechasse, pois sempre sofri de claustrofobia. Era uma brincadeira frequente quer de alunos quer mesmo de professores.

Com a massificação do ensino, com muita imaginação, se encontraram soluções de recurso para acomodar tantos alunos: antigos hospitais, antigas cadeias, antigos tribunais bem como os famosos pavilhões pré-fabricados em madeira.

Joaquim Costa (Foto nº 3)

(Revisão / fixação de texto: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24932: E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas (Joaquim Costa) - Parte III: Primeiro, Santo Tirso, a seguir, Portalegre e logo... Santarém (onde fiz a minha formação pedagógica)

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24915: (In)citações (261): João Crisóstomo, já que chegaste a finalista do Prémio Tágides (edição 2023), na categoria "Iniciativa Portugal no Mundo", esperamos que no dia 11 deste mês, na cerimónia de revelação dos vencedores, os nossos bons irãs estejam contigo e com as causas que tens defendido, com o empenho e a competência também de muita outra gente da diáspora lusófona e de outros cidadãos do mundo


O ativista luso-americano
João Crisóstomo

1. O nosso amigo e camarada João Crisóstomo [membro da nossa Tabanca Grande desde 26 de julho de 2010, sentando-se à sombra do nosso poilão sob o nº 432 (somos já 881, entre vivos e mortos): régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona; ex-alf mil inf, CCAÇ CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)] vive em Nova Iorque desde 1977, mas vem cá com frequência à santa terrinha.

E todas as vezes que ele cá vem (e vem quase todos os anos),  há sempre alguém, do círculo das nossas relações sociais e de amizade, que nos pergunta, com admiração, estupefecção e incredulidade:

"Mas este país, à beira mar plantado, 
 terra de santos, heróis e comendadores, ainda não reconheceu, publicamente, a ação cívica e o ativismo social deste homem, um dos seus ilustres filhos, 
 lídimo representante da diáspora 
lusitana nos EUA e da lusofonia, que se bateu galhardamente, por exemplo, com outros luso-americanos e outros portugueses, por causas nobres e patrióticas, 
como a salvaguarda da arte rupreste de Foz Coa, 
a autodeterminação de Timor Leste, a reabilitação da memória de Aristides Sousa Mendes ou a libertação do refém luso-americano Marc Gonsalves, detido na Colômbia pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)?!".

2. Temos, desta vez,  uma boa notícia: este ano ele foi nomeado para o Prémio Tágides, e é um dos 3 finalistas para a categoria Iniciativa Portugal no Mundo.

(...) "Criado em 2021, o Prémio Tágides, é promovido anualmente de forma a identificar, reconhecer, celebrar e premiar projetos, trabalhos e/ou iniciativas de pessoas que se destaquem na promoção de uma cultura de integridade e prevenção e luta contra a corrupção em Portugal, em várias áreas da sociedade. É da reconhecida necessidade de envolver a sociedade civil portuguesa na prevenção e combate à corrupção que surge este Prémio." (...)

Na sua 3º edição (2023),  são sete as categorias do Prémio Tágides:
  • Iniciativa Empresarial
  • Iniciativa Jovem
  • Iniciativa Política
  • Iniciativa Loca
  • Iniciativa Portugal no Mundo
  • Projeto de Investigação
  • Projeto da Sociedade Civil
A revelação dos vencedoros de cada uma destas categorias será feita no próximo dia 11 de dezembro, segunda feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em cerimónia que contará com a presença do Presidente da República. Já lhe dissemos pessoalmente, há dias,  o que nos vai no coração:

(...) João, já que chegaste a finalista do Prémio Tágides (edição 2023), na categoria "Iniciativa Portugal no Mundo",  esperamos que no dia 11 deste mês, na cerimónia de revelação dos vencedores,  os nossos bons irãs estejam contigo e com as causas que tens defendido, com o empenho e a competência também de  muita outras  gente da  diáspora lusófona e de outros cidadãos do mundo." (...) (*)

3. Infelizmente o João Crisóstomo não tem conta pessoal nas "redes socais". Na defesa das causas sociais em que se que se envolveu, utilivava o fax e o telefone. E só há relativamente pouco tempo começou a recorrer ao email,  ao PC, ao WhatsApp... 

Mas tem já 210 referências no nosso blogue. Uma vez por outra, é notícia na imprena norte-americana, incluindo o Luso-Americano. Não tendo biografia oficial ou oficiosa, nem entrada na Wikipedia, tem no nosso blogue, no entanto, uma ferramenta onde partilha  as suas memórias da guerra colonial na Guiné (1965/67)  e a sua ação como português da diáspora e cidadão do mundo (vive fesde 1975 nos EUA).

Tê-lo como um dos três finalistas do Prémio Tágides, para a categoria Iniciativa Portugal no Mundo é já, mais do que uma honra, uma prova de gratidão da sociedade civil para com ele e os todos os nossos compariotas da diáspora lusófona que com ele se empenharam em causas nobres que deram maior visibilidade no Mundo a Portugal e aos Portuguese.

Aqui vão alguns tópicos do seu "curricum vitae" abreviado, recolhidos e divulgados no nosso bloguePessoalmente posso testemunhar alguns dos seus traços de personalidade e  caracter: determinação, tenacidade,  coragem, voluntarismo, nobreza, generosidade, fraternidade, solidariedade, ecumenismo, patriotismo, sensibilidade sociocultural, inteligência emocional, gratidão,  amizade, camaradagem.  (**)


Recorte do jornal LusoAlericano, 19 de laneiro de 2018


RTP Notícias > 2 de dezembro de 2023 > Carregal do Sal > Mural, da autoria de um artista lcal, em homenagem ao cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes (Cabanas de Viriato,1885 - Lisboa, 1954). A casa onde nasceu, em Cabanas de Viriato, vai transformar-se em Centro de Acolhimento para Refugiados. Fará em breve, a 3 de abril de 2024, 70 anos que morreu o diplomata português que desobedeu a César por amor de Deus e da humanidade. 

Fonte: Fotograma de vídeo da RTP (2023), editado e reproduzido com a devida vénia.

4. João Crisóstomo - Pequena nota biográfica:

Natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras, João Crisóstomo acabou por se tornar cidadão do mundo anos antes de se fixar na metrópole que reinvindica ser a sua capital, a cidade de Nova Iorque.

Depois de passar pela África nos anos 1960 e ganhar uma cruz de guerra de 4ª classe na Guiné-Bissau, como alf mil inf, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), trabalhou e estudou em Londres (1968-1969), em Paris (1970), em Ludwigsburg (Estugarda) (1971), antes de frequentar cadeiras de gestão hoteleira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e de trabalhar no Leme Palace Hotel dessa cidade.


Chegou aos Estados Unidos em 1975, exercendo a sua profissão, primeiro, como mordomo de Jacqueline Kennedy Onassis (1975-1979), e, depois, como gerente proprietário do restaurante nova-iorquino Cuisine du Coeur (1979-1982) e, novamente (1982-2015), como despenseiro de diversas famílias da alta sociedade nova-iorquina.


Capa da brochura  de João Crisóstomo - LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste, edição de autor, Nova Iorque, 2017, 162 pp.


Foi nos salões da alta sociedade onde conquistou a amizade das pessoas que servia e o privilégio de manter a sua amizade e a sua abertura a muitas causas a que já dedicava energia ou a que se iria entregar:

(i) a defesa das gravuras de Foz Coa com o “Save the Coa Site Movement ” (1995);

(ii) a divulgação da acção humanitária, durante a II Guerra Mundial, dos diplomatas portugueses Aristides Sousa Mendes, Carlos Sampaio Garrido e Carlos de Liz Teixeira Branquinho e dos diplomatas brasileiros Sousa Dantas e Rosa Guimarães (1996 e seguintes);

(iii) o lançamento de iniciativas em defesa da independência de Timor-Leste através da LAMETA (1996- 2002);

(iv) diligências públicas em 2008 para a libertação do refém luso-americano Marc Gonsalves, então detido na Colômbia pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), desde 2003;

(v) um movimento comunitário para garantir a continuidade em Nova Iorque do Consulado de Portugal (2007),ameaçado de extinção;

(vi) e outras iniciativas de menor impacto público e mediático.

No percurso, recolheu algum reconhecimento pelas suas acções (lista a título exemlificativo, não exaustiva):

(a) International Rock Art Congress Award (USA), 1998;

(b) Angelo Roncalli Medal, IRWF, 2001;

(c) Outstanding Service to Society Award, Edison State College, 2001;

(d) Visas for Life Award, 2002;

(e) Aristides Sousa Mendes Medal da International Raoul Wallenberg Foundation (IRWF), 2004;

(f) Luis Martins de Sousa Dantas Medal, IRWF, 2005;

(g) Recognition Certificate, Government of Canada, 2005; etc., etc.

Afirma, contudo, que nenhum reconhecimento o marcou tão profundamente como o recebido telefonicamente de Xanana Gusmão na noite de 23 para 24 de Setembro de 1999 - o mês em que o líder timorense saiu da prisão indonésia - a propósito da longa e algumas vezes renhida luta da LAMETA pela independência de Timor-Leste: “Nós estamos muito reconhecidos por tudo quanto fizeram”.

É casado em segundas núpcias com a nossa amiga eslovena Vilma Kracun, enfermeira reformada.


Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma, em festa de família Crispim & Crisóstomo. Ela eslovena, com nacionalidade francesa. Ele português, com dupla nacionalidade, a viver na América desde 1975. Dois cidadãos do mundo, que não páram de nos surpreender. Casaram em segundas núpcias em 2013. Vivem em Queens, Nova Iorque.  

 Foto: © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de novembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24869: (In)citações (260): Ainda os Esquecidos. Para o António Silva, Soldado Paraquedista morto em Angola em 1963 (Juvenal Amado)


(**) Vd. também postes (temos 210 no blogue com referências ao João Crisóstomo):

16 de janeiro de 2021  > Guiné 61/74 - P21771: Tabanca da Diáspora Lusófona (14): uma singular história de vida como emigrante: João Crisóstomo, ex-mordomo de Jackie Kennedy Onassis (excerto de reportagem de Henrique Mano, Luso-Americano, dezembro de 2020)


2 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18037: Dossiê LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste: um documento para a história, um livro do nosso camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque)... Parte II: Como tudo começou com o autor, com António Rodrigues, com Anne Treserer e outros ativistas luso-ammericanos, em 1996

sábado, 11 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24840: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (19): O Bairro Alto... de finais do séc. XIX, mal afamado durante muitas décadas, e hoje gentrificado...

Capa do livro de Avelino de Sousa (1880-1946), "Bairro Alto: romance de costumes populares". Lisboa: Livraria Popular de Francisco Franco, Lisboa, 1944, 290 pp. 


1. Já não é do nosso tempo de meninos e moços...Mas se fosse,  não nos deixavam lá ir, sozinhos... Nem já é do tempo dos nossos pais, nascidos por volta dos anos 20... Estamos a falar de 1896/97/98, e de um dos guetos de Lisboa... o mal afamado Bairro Alto. 

Irreconhecível hoje, ou talvez não: as suas ruas, o seu casario, são os mesmos... Ainda existem casas com aventais de pau (meias-portas, nos pisos térreos), e persianas de tabuinhas nos andares de cima. Mas já ninguém sabe hoje o significado da expressão, "estar de avental de pau" (estar debruçada, a mulher,  sobre as meias-portas, oferecer-se, prostituir-se).

A toponímia pode ter mudado num caso ou noutro. As tascas dos galegos desapareceram. Tal como os candeeiros a gás, de iluminação pública.  E a redação dos jornais e as tipografias, que começaram a concentrar-se nesta zona histórica, logo desde meados do séc. XIX. Já não há cheiro a peixe frito nem se servem entaladas, candas, iscas com elas, etc., nem se bebe um meio-curto (copo mal cheio, com café, vinho, canela e açucar)... Ou uns tintos.... cortados (vinho com soda).

A fauna humana também mudou... Todos/as tinham alcunhas, "nomes de guerra", das rascoas aos faias, dos artistas aos amigos do alheio:  Pinoia, Enjeitada, Pantera, Micas, Camélia, Pinta-Monos, Pé de Chumbo, Zé-Bode, Garrafão, Fininho, Janota... O fadista ou faia, com o seu traje característico e o seu calão,  perdeu-se na voragem do tempo...As modas são outras,,,  A fadista de faca na liga, também. 

Grosso modo, há o antes e o depois de Amália Rodrigues, que ajudou a branquear o passado "lumpen", proletário,  rasca, ordinário, popular, do fado...O mesmo  é dizer: nobilitou o fado, arrancando-o da rua, da viela, do vicio, da taberna... 

E já não há Adelaides Pinóias a cantar ou a gemer: "Quem nasceu no Bairro Alto / há de sofrer e chorar / ao ouvir uma guitarra / docemente a soluçar" (pág. 289).  Nem o Bairro Alto é mais o dos "amores tão delicados": se o foi, foi no bom tempo do palácios e conventos do séc.  XVI... Degradando-se, foi apropriado pelas "classes laboriosas" e pelos grupos socialmente marginalizados. O "acantonamento" das prostitutas em certas zonas da cidade, bairros populares, ribeirinhos  degradados, imposto por postura municipal de 1833, por razões de "saúde pública" e de salvaguarda da "moral pública", de acordo com o discurso liberal então dominante,  acabou por estigmatizar o Bairro Alto (e outros; Mouraria, Alfama, Madragoa, etc.) durante mais de um século... Mas foi também um dos "laboratórios sociais" do fado, "canção popular urbana de Lisboa"... hoje "património imaterial da humanidade", tal como o "cante" (que nasceu nos campos, na rua, na taberna...).

Perderam-se "bons e maus costumes"... Ganharam-se outros.  Em 2013, o antigo bairro aristocrático quinhentista fez 500 anos. O antigo Carnaval de Lisboa. com as suas cegadas,  também não existe mais, "muito bruto, por vezes malcriado, mas ao mesmo tempo divertido e com graça" (pág. 159). Em 1963, o Estado Novo hipocritamente fechou as "casas de passe" (nome eufemístico para os prostíbulos, em que as prostitutas tinham número de matrícula e inspecção médica periódica)... Já o tinha feito, de resto, no Ultramar (em 1954). 

Vinte anos depois, em 1983, Portugal legalizou a prostituição, mas não resolveu o problema das suas suas causas e consequências. 

Vale a pena, todavia, dar aos nossos leitores uma "ideia" e um "cheirinho" do que foi  o Bairro Alto das últimas décadas do século dezanove, social e espacialmenteĺ segregado, mal afamado tantos anos (até mesmo para lá do 25 de Abril de 1974)... 

Alguns de nós ainda o conhecemos nos anos 60/70, ao tempo da tropa e da guerra colonial ... Mesmo para aqueles que nunca lá foram, ficou no seu imaginário, tal como o Pilão, em Bissau...

A partir dos anos 80, o Bairro Alto "aperaltou-se", lavou a cara,  passou a ser uma zona turística, sítio obrigatório da noite de Lisboa, e hoje cada vez mais "gentrificado"...  Novas formas e lugares de prostituição apareceram, a começar pela prostituição de luxo (a que as elites do Estado Novo, de resto, já recorriam: veja-se o "escàndalo" do Balet Rose, em 1967).

Reproduzimos a seguir alguns excertos deste pitoresco "romance de costumes", do Avelino de Sousa,  publicado em 1944, mas que começou por ser uma opereta, com o mesmo nome, e do mesmo autor. (Terá tido bastante sucesso no ano de 1927, já em plena Ditadura Militar...)


O Bairro Alto de antigamente

(...)  Bairro Alto – bairro de gente honesta, bairro de artistas e de operários,      bairro da Imprensa, de boémios e de fadistas e também – na época em que decorre a ação deste romance – bairro de rascoas que se estendiam como que em alas de ambos os lados da maioria das artérias, debruçadas sobre os aventais de pau [nome  dado vulgarmente às meias portas], por todas as ruas, da Atalaia, dos Calafates, da Barroca, das  Salgadeiras, do Norte, das Gáveas, Travessas da Cara, da Boa-Hora, da Água da Flor, dos Fiéis de Deus, das Mercês, da Espera, do Poço da Cidade. (…) (pág. 58).

(...) A velha casa das iscas do Bairro Alto na rua da Atalaia, à esquina da Travessa da Água da Flor, era a mais antiga de Lisboa, depois da que ainda existia na rua do Arsenal, à esquina da Travessa do Cotovelo. Os seus proprietários, dois irmãos galegos, Manuel e José, usavam matacões [suiças],(...) (pág. 76).

***

 (…) Havia no Bairro Alto um fadista − ajudante de cortador no talho do Augusto, na rua da Rosa, esquina dos Inglesinhos − rapaz alto, desempenado, aloirado, de pequeno bigode e nariz saliente, vestindo rigorosamente à fadista: jaquetão e colete de astracã preta, camisa de cordões de seda em substituição da gravata, calça de boca de sino, até ao bico do sapato, em fantasia às riscas, num tom acastanhado,  algibeiras ao alto, larga pestana a guarnecer a perna,  cinto de seda vermelha, chapéu de aba de tela. Usava uma grande melena,  em caracol como que colada à testa, bamboleava muito o corpo,  quando andava, e fumava charutos cortados de dez cada um.

Bons tempos!

Chamava-se Augusto César de Carvalho,  mas era conhecido pelo Augusto   Bombinhas. (…) (pp. 116/117)

***

(...)  Ora, graças!... A velha, foi amiga!... Doze mal reis!...Ena pai!... 24 c’roas!... É melhor do que nada e eu estava sem vintém! (…)

E metendo o dinheiro no bolso do  colete, abandonou o saquito num canto, desceu a escada, saiu pela rua Formosa, meteu-se  à calçada do Combro, entrou na Adega do Estucador ao lado do quartel  dos Paulistas, e, ao mesmo tempo que tirava do prato, que estava em cima do balcão, um ovo cozido pintado de encarnado à força de anilina,molhando-o no sal grosso, depois de rebolar a casca sobre o balcão para a partir, pediu:

Dê cá três celitros, ó patrão!... e deu  uma dentada no ovo.

Mas, nisto, uma voz,  por detrás dele, dizia-lhe ao ouvido:

Não pagas nada, ó Cambalhotas ?...

Era o Pé de Chumbo gatuno como ele.

− Estás teso ?...

− Palavra de honra que estou! Não tenho  chapeca, e o raio da Micas, hoje, ainda não se estreou!

  Andas com azar!... Olha, come um ovo cozido, que estão bons!...Vá anda, e bebe um copo! O cofre, está aberto! Queres duas c’roas emprestadas?...

− Estás armado ?...

− E bem armado! Tive um belo gancho!, camarada.

− Não percebo!

− Contos largos! Toma lá as duas c’roas, não se fala mais nisso!

− Viste o Garrafão ?...

− Hoje, não. Ontem à noite,estive com ele no João da Arruda na rua da Atalaia.  Estava danado com a dor!

− Está no pinho?... [não ter amante]

− Pois, !... A Pantera correu com ele, e passou-se para o Zi-Zi!

 E o gajo não lhe deu um flàquibaque na tabuleta  [ bofetada na cara] ?

− Não, porque  tem medo do Zi-Zi. Tu sabes que o Garrafão não é mau rapaz, mas é fracalhote. Aquele corpo, todo é balofo!

− Ora, meu amigo, tu  também  quando a pregas é à carunfa [à traição] ! – disse o Cambalhotas.

− É como calha! Também não és tu quem dá os bons dias [ser o mais valente, ou o mais cotado em qualquer manifestação da vida].

O Cambalhotas engoliu em seco, e disse, fugindo à discussão:

− Também o Garrafão não perdeu nada! A gaja era um estojo horrível!

  bem, ela é atanado, é feia que nem um pente de pau do ar, mas governa-se bem a vender os trapos  às outras! Olha que o Garrafão talvez não arranje outra assim!

− Não sei… Ele andava a fazer-se [a atirar-se, a fazer o cerco] todo com a Beatriz Gorda, e também com a Augusta do Campos! Mas esta não deixa o João da Isabel [Também cantava o fado e era irmão do Zé-Bode e do Júlio Martelo].

− Pelo lado do interesse, nenhuma delas vale a Pantera! Agora como mulheres…

Enquanto estes dois patifes conversavam, comendo ovos cozidos e bebendo a sua pinga, na Adega do Estucador, outras cenas de roubo se desenrolavam em todas as casas de penhores do Bairro Alto (…) (pp. 129-131).

***

(...) Pendurados junto às ombreiras das  portas de um lado e outro da Travessa do Poço da Cidade, no renque de luz indecisa,  os candeeiros de petróleo difundiam uma claridade bruxuleante, mal eliminando as caras pintadas das infelizes rascoas, encostadas às tradicionais meias portas.  Nos primeiros andares,  de tabuinhas, a mesma luz soturna lucilava, mal se distinguindo da rua.

A cada esquina , um candeeiro de iluminação pública, espalhava aquela luz amarelada e mortiça do gás da Companhia. Lá em cima, na esquina da rua da Rosa, um polícia,  de palestra com o guarda noturno, chupava um magro cigarro.

No Bairro Alto, pelo menos na época que estamos descrevendo. a maioria das raparigas da vida, como era de uso chamar-lhes, eram comedidas de linguagem e de atitudes, raro sofrendo uma admoestação policial, e até se dava o caso interessante de cumprimentarem e serem cumprimentadas, cortesmente, por pessoas honestas da vizinhança. (…) Acarinhavam e  beijavam a petizada da vizinhança, tornando-se assim simpáticas aos pais e às mães das crianças.

E não se pegava nada, como diz o povo judiciosamente,  ou quem sabe ? talvez houvesse menos maldade naquele tempo! (...)  (pp. 137/138)

***

(…) A Enjeitada afastou um pouco a cortina de ramagem, sentou-se no canapé, de guitarra em punho, e a Adelaide, sem sair da porta, pegou no papel dos versos.

− Dá-me entrada, sim?...

A Enjeitada começou a tanger a guitarra,  tirando uns acordes à maneira de introdução.

− Entra agora!

E  a Adelaide começou:

Este livro é a grilheta
que a corrente a desgraçada, 
que chafurda e que vegeta 
nesta vida segregada!

É o nó que à perdição 
nos prende por toda a vida, 
− o selo da podridão,
e a algema da perdida! (…)

A Pinoia interrompeu-se:

− Vou bem ?

− Muito bem ! Segue, anda!

 A Adelaide prosseguiu: 

É ferro em brasa,
 que nos queima
 e nos arrasa! 
Um alvará 
que, por teima, 
a Lei nos dá.

Um passaporte p’ra viver no lodaçal:
Um escarro ignóbil ao serviço da Moral!

− Que tal,  ó Enjeitada ?

− Muito bem, Adelaide! E os versos ? Cheios de verdade!... (pp. 184/185) (**)

***

(...) E  a Adelaide senta-se no canapé.  O Pinta-Monos toma lugar a seu lado e observa:

 − Ah!, Adelaide se tivesses sido a minha, já não estavas aqui!

Ela solta uma gargalhada, e contrapõe;

− Tu estás doido,  rapaz ?! Deixar esta vida, eu ?! Aqui,  é que eu sou gente! Fora disto,  seria uma mulher corriqueira, uma senhora honesta,  como outra qualquer!

− Mas... 

− Já te disse: aqui,  sou eu Rainha! (...) (pág. 198) (**)

(Seleção / revisão e fixação de texto / adaptação: LG. As notas dentro dos parênteses retos são notas de rodapé, da responsabilidade do autor, Avelino de Sousa)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série de 5 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24824: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (18): a taberna em meio rural (António Eduardo Ferreira, 1950-2023, Moleanos, Alcobaça)

(**) Glossário (termos e expressões idiomáticas da gíria ou do calão usados no romance):

Alcouce - Bordel, prostíbulo (etimologia duvidosa)

Alcoveta -Mulher intermediária no comércio do sexo (do árabe, al-qawwâd, intermediário.)

Belfe - Calote


Buchinha - Num baile, era ceder a dama a outro cavalheiro

Carunfa - Traição

Carunfeiro - Traiçoeiro

Celitro - Decilitro (de vinho)

Cheta - Um vintém (20 réis), 5 chetas equivalia a 1 tostão

Cortado - Vinho  com soda

C'roa - Dois mil (ou mal...) réis 

Cunfia - Confiança

Dar os bons dias - Ser o mais valente

Duques - (?)

Elas - Batatas ("Iscas com elas")

Ensaio de galheta - Par de bofetadas

Entalada - Uma isca metida num quarto de pão.

Estar no pinho - Não ter amante

Ético - Sem dinheiro ("estar ético")

Flaquibaque - Estalada

Garonga - (?)

Labita - Fraque

Libra - 4500 réis

Meio-curto - Copo mal cheio, com café, vinho, canela e açucar.

Meia-lata - Meio litro (de vinho)

Meia-unha - Meio tostão

Pai de vida - (?)

Ourelo -  Cuidado, cautela

Quarto de bife ou quarto de dose - Um meio bife custava 140 réis (sete vinténs). Um quarto custava metade. Pretexto para se beber nais um copo.

Queijada - Gratificação

Rascoa - "Mulher da vida", prostituta... Era duplamente exploradas: pelos chulos  (rufiões, que nem todos eram fadistas, vivendo do pequeno crime)  e pelas "patroas", as donas das casas ("cobravam, em geral, quinze tostões a dois mil réis por dia por cada casa"; (...) "uma exploração ignóbil de que as infelizes eram vítimas, pois que, na maior parte dos dias, não ganhavam nem para o petróleo, como elas próprias diziam". (pág. 192).

Requineta - Fraque

Roda - Tostão (duas rodas, dois tostões ou dois-tões)

Tabuleta - Cara

Tostão - 100 réis, 5 chetas ou 5 vinténs

Toudas - Sopapo

Trompázio na fuça - Soco na cara

Trovas a atirar - Cantigas que encerravam uma provocação, dando origem por vezes a conflitos.

Vintém - 20 réis