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quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23533: Historiografia da presença portuguesa em África (330): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
É mais a riqueza do olhar, a sinceridade do proselitismo que nos atrai na prosa do Padre António Joaquim Dias que labutou na Guiné cerca de oito anos e meio e regressou a Portugal em 1942 publicando as suas impressões e a história do regresso dos Franciscanos à Guiné no Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira. Recordo que estes apontamentos seguramente foram tidos em conta pelo Padre Henrique Pinto Rema responsável por aquele que é seguramente o mais completo estudo sobre a história das missões católicas da Guiné, infelizmente esgotado. A vivacíssima descrição do Padre Dias permite-nos igualmente tomar nota do estado de desenvolvimento da Guiné, a importância que se atribuía à navegação marítima na ausência de infraestruturas rodoviárias e também se pode verificar pela leitura que ele faz do mosaico étnico, o que então era tido como conhecimento etnográfico, etnológico e antropológico.

Um abraço do
Mário



Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (2)

Mário Beja Santos

Que grande surpresa, estas Impressões da Guiné escritas por um missionário que ali viveu mais de oito anos, são documentos que ele vai publicando ao longo dos anos no Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira, ainda não sei o que nos reserva este conjunto de cartapácios, a verdade é que há imagens magníficas sobretudo no noticiário guineense. O padre António Joaquim Dias escreve como se estivesse a conversar com o leitor e agora prepara-se para viajar, falando-nos do território, cita um relatório datado de 1928 intitulado “Missão Botânica e de Reconhecimento Agrícola. Relatório sobre a flora da Guiné Portuguesa”, é seu autor o engenheiro agrónomo António de Figueiredo Gomes e Sousa: “O solo da parte plana é formado exclusivamente de aluviões argilosas, misturadas até certo ponto de sedimentos arenáceos, as quais derivam, ao que parece, de fortes arrastamentos das terras altas do Futa-Djalon, sob a ação de grandes cursos de água, hoje extintos, que tiveram no território um largo delta, como se depreende da existência dos longos estuários dos rios Cacheu, Geba, Grande de Buba e Cacine, e da constituição e localização das ilhas dos Bijagós”.

E o mesmo autor faz referências à geologia, distinguindo as terras altas e rochosas do Boé, bastante arenosas, de vegetação pobre e de pouca fauna, e em que predominam as laterites férricas e as terras baixas com os seus pântanos e os leitos dos rios, e depois dissera sobre bolanhas e lalas, que se acham desprovidas de sedimentos arenáceos, e tece o seguinte comentário: “Argila e húmus, roubados às terras pelas chuvas torrenciais, são carreados em quantidade para os rios e para o mar, pelas inundações e pelas marés ao retirarem”. E assim se compreende estes rios, canais e braços de mar que recortam o território em quase todas as direções. E pretende explicar ao leitor algo que lhe possa passar despercebido: “Os rios tomam os nomes das povoações indígenas principais que banham ou ainda os das regiões que servem. O mesmo rio recebe, às vezes, nomes diferentes, segundo a altura do seu percurso. Isto explica-se pelo isolamento em que viveram as tribos até aos nossos dias. Compreende-se como o rio Cacheu teve, pelo menos, os nomes de Cacheu, São Domingos e Farim; e o Corubal mantém ainda os de Cocoli, Gabú, etc.”.

E faz uma pequena descrição dos diferentes rios, só como curiosidade vejamos o que ele escreve sobre o Rio Grande de Bolola ou Buba:
“Teve importância, nos séculos passados, quando o negócio se movimentava nas povoações das suas margens: Biguba ou Buba, Guinala ou Quínara, Bisségue ou Cubisseque e Balola ou Bulola. Hoje serve a minúscula povoação de Buba, onde se bifurca para terminar quase logo, e ainda as propriedades agrícolas ou pontas, poucas e decadentes. Este esteiro de água salgada, cheio de braços enganosos para todos os lados, vai roendo a região de Quínara, da qual já desanexou as ilhas de Bolama e das Cobras, como também ajudara o Tombali a desanexar da zona do Cubisseque a Ilha dos Escravos. Como seus parceiros, o Cumbidjã, ajudado por braços de mar a quem chamaram rios, apressa-se a esfacelar o chão dos Nalus; mas Tombali, Cumbijã e Cacine, especialmente os dois primeiros, constituem estradas magníficas para a saída do não menos belo arroz daquela zona, de que é centro e metrópole comercial a povoação de Catió, recentemente elevada a sede de Administração Civil”.

E dá-nos seguidamente uma descrição da organização administrativa da Guiné, recorda o leitor que temos por vezes noticiário a que o estudioso não pode ficar indiferente, será o caso da descrição da missão dos Felupes em que se vê uma imagem da casa em construção que serve de igreja, escola e residência missionária, apraz registar um comentário sobre esta etnia: “Bastam-se a si mesmos. No seu chão encontram tudo o que lhes é indispensável para a vida. A palmeira dá-lhes o coconote, o azeite e o vinho, e o solo arroz em abundância. E não têm outras necessidades. Pelo que a vida lhes corre mansamente. Os portugueses cedo tentaram infiltrar-se entre eles, mas encontraram uma oposição pertinaz. Os mesmos cabo-verdianos que tão habilmente penetraram nas terras de outras tribos da Guiné, quando se aventuravam ao país dos Felupes levavam uma vida de receios”.

Encontrei igualmente neste fecundo Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira outros textos intercalados com as memórias do Padre António Joaquim Dias que darão leitura estimulante a quem investiga as coisas da Guiné. Logo um primeiro texto sobre o primeiro decénio da missão franciscana da Guiné, haverá um comentário da redação a dizer que saiu do punho do mesmo Padre António Joaquim Dias. Não nos esqueçamos que estamos nos primeiros anos da década de 1940, foi mais precisamente em 1942 que o Padre Dias voltou da Guiné e já tinha preparado um texto para publicação. Lembra-nos que cerca de vinte anos atrás o Governo Português, logo na pessoa do comandante João Belo, empenhara-se no ressurgimento missionário das colónias como complemento indispensável a “nossa colonização integral e classicamente portuguesa”.

O prelado diocesano não dispunha de clero para esta ressurreição na Guiné e no final do ano de 1929 foi tomada a decisão pela Direção das Missões de Cabo Verde em organizar o serviço missionário na Guiné, contava com o apoio da legislação promulgada pelo governador Leite de Magalhães. Foram os Franciscanos que aqui retornaram, foi nomeado Vigário-Geral o Cónego António Miranda de Magalhães que desconhecia a Guiné, elaborou um plano organizativo que o Padre Dias considerou enfermar de vários defeitos essenciais. Foi em 1932 que se constituiu a primeira Missão Franciscana da Guiné que aqui chegou em fevereiro desse ano, de Bolama foram a Bissau e depois a Cacheu. Não havia onde albergar os missionários em Cacheu, lá se arranjou um velho casarão, os autóctones cederam algum mobiliário e o Padre Dias comenta que era uma instalação verdadeiramente franciscana. Os recém-chegados dirigiram-se ao Vigário-Geral propondo uma missão católica central onde coubesse a formação de escolas para o ensino profissional e agrícola, propunha-se Bula para sede desta missão, para aproveitar os edifícios do Estado, o Vigário-Geral aceitou a transferência de Cacheu para Bula, vários missionários foram colocados em Cacheu e Farim.

O Padre Dias descreve os edifícios de Bula e o entusiasmo manifestado por muitos autóctones, as crianças iam à escola primária e tece o seguinte comentário:
“Os Manjacos do Churo tinham oferecido resistência tenaz ao pacificador da Guiné, Teixeira Pinto, mas acolheram bem a escola missionária, como ser um meio ainda absolutamente indígena e gentio. Foi situada a poucos metros da residência do régulo, foi feita de pau a pique, coberta a palha. Aberta por um professor indígena contratado, passou, depois, aos cuidados do auxiliar secular europeu António José de Sousa, que para ali fora de bom grado. Dormia, coitado, a um canto da escola, incomodamente, e cozinhava para si mesmo, ao fim da aula”.

No ano de 1933, aumentou o pessoal missionário com quatro Irmãs Franciscanas Hospitaleiras Portuguesas para educação de raparigas indígenas num internato de Bula. O Governo da Colónia concedeu verba para a criação de uma escola em Bula, em regime de internato, para professores e indígenas de ambos os sexos. Alargou-se o sistema educativo ao regulado de Có, construiu-se ali escola missionária. As irmãs tratavam dos doentes, ele fala no tratamento de úlceras por vezes horripilantes. Em 1934 chegou o novo Vigário-Geral, veio acompanhado de mais dois missionários. Um comerciante de Farim, Mário Lima Wahnon, cedera às missões gratuitamente 2000 metros quadrados de terreno para construção de uma igreja, só que faltou verba para as obras, os ofícios religiosos eram celebrados num edifício dispensado por uma casa comercial francesa. Entrou em funcionamento o internato masculino de Bula e a respetiva escola, só que este missionário adoeceu gravemente, foi uma operação delicada manter aberta a escola de Có.
Veremos seguidamente a evolução missionária entre 1935 e 1937 e vamos sentir o olhar perscrutante do Padre Dias a falar das diferentes etnias.

(continua)

Frei Henrique Pinto Rema, Palácio de Belém, 9 de outubro de 2018, condecorado com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23513: Historiografia da presença portuguesa em África (329): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (1) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23513: Historiografia da presença portuguesa em África (329): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
Graças ao indefetível apoio da bibliotecária da Sociedade de Geografia de Lisboa lá vou mergulhando por mares nunca por mim navegados, cheguei a porto ignoto, o Boletim Mensal das Missões Franciscanas, sempre à busca de uma nova pérola, sei muito bem que não posso encontrar nada de mais completo daquilo que escreveu o Padre Henrique Pinto Rema sobre as missões católicas da Guiné. Mas logo me chamou a atenção este Padre António Joaquim Dias, andou em missionação mais de oito anos pela Guiné, guarda recordações inolvidáveis de Bolama e as suas impressões são dignas de ser postas em público, três quartos de século depois.

Um abraço do
Mário



Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (1)

Mário Beja Santos

A leitura do Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira, um conjunto de cartapácios que ando a folhear na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, reserva surpresas quanto à Guiné. No boletim referente a janeiro de 1943 começam a ser publicadas as impressões do Padre António Joaquim Dias. Começa por alertar quem para lá viaja, e deste modo: “Como na Guiné é verão todo o ano, o sol é fogo e o suor hábito inveterado, muna-se de roupas leves, claras e sem forros. Os casacos brancos e batinas da mesma cor, coadjuvados pelos capacetes ou chapéus coloniais, igualmente brancos, são os únicos para-raios a defender-nos das picadas terríveis do sol tropical”.

E começa a sua descrição da Guiné, não se pode dizer que não seja bom observador:
“Para quem leva os olhos feridos e a alma picada pelas penedias basálticas das ilhas de Cabo Verde, a entrada na Guiné sabe bem, enternece até ao fundo da alma. Da água do oceano, ergue-se a planície imensa, aveludada. É um alfobre, risonho e ondulado, de um quente verde-amarelo, a espreguiçar-se, convidativo, acariciador. O mangal mergulha as raízes na própria água salgada e lança outras, aéreas e robustas, a segurar melhor a Guiné, a vincá-la mais ao chão, que o mar lhe disputa. Não se sabe onde o oceano termina e a terra começa.
Aquele, atrevido, infiltra-se por todos os lados, em baías e canais, no continente fronteiro; e estende também os seus braços, numa luta titânica, a procurar arranjar mais espaço, maior domínio, mais um pedaço para o seu leito. Investe contra os próprios rios, a quem desrespeita, às vezes, por léguas e léguas, com lhes sujar e salgar a água cristalina, ósculo amoroso de terra amiga. É por isso que, na Guiné, viaja-se navegando; e, navegando, se vai a toda a parte, como dizia o outro”
.

Dá-nos a saber que andava a pesquisar sobre as antigas missões da Guiné, mas preferiu começar por crónica ligeira, continua a dar muita importância aos roteiros e viagens, acha proveitoso lermos arquivos de Geografia, de Etnografia e até de História. Promete não escrever nenhum roteiro, dizendo que foi apenas à Guiné e regressou, começou no porto de Bolama e terminou no de Bissau, por onde voltou. Ficamos a saber que embarcou para a Guiné em fevereiro de 1934, foi para África por livre vontade, ia acompanhado por outro confrade missionário, “levávamos umas roupas, uns livros, muito entusiasmo para o trabalho, muita confiança no Senhor e a saúde precisa”. Fora-lhes abonada a viagem, encontraram benfeitores em Bissau, eram missionários sem côngrua. Terá feito o seu apostolado até 1942, e confessa o seu pesar pela partida: “Não é debalde que, durante oito anos, nos afazemos a chamar nossa terra mesmo à África. Ao dobrar Caió – a porta da Guiné –, duas lágrimas, grossas e quentes, desceram rapidamente as faces”.

Confessa que está a escrever no Hospital de Jesus, com data de outubro de 1942, veio com pouca saúde, e dedica os seus textos aos obreiros evangélicos, presentes e futuros, da saudosa Guiné. Disserta sobre o trabalho de missionário, não é só o apostolado, há a instrução literária, o saber acompanhar as técnicas agropecuárias e observa que é da máxima conveniência haver missionários que saibam traçar, em escala, projetos simples de edifícios a levantar nas missões, e explica porquê: “As missões sofrem, não raro, pelo prejuízo que lhes advém da falta dos edifícios, das demoras dos traços, sujeitando-se a perder os auxílios financeiros terminado o ano económico. Os técnicos, por via de regra, gostam de delinear bonecos bonitos, alçados vistosos que, amanhã, possam despertar a curiosidade pública… Nem sempre, porém, essas belezas e devaneios artísticos se coadunam com a exiguidade de recursos das missões”. E deriva para uma outra observação: “Não são contrários à tradição missionária portuguesa os estudos e coleções de História Natural e de Etnografia, recomendados, insistentemente, e favorecidos, desde 1926, pela legislação missionária o Comandante João Belo”.

Dá-nos uma impressão de Bissau, capital da Guiné desde dezembro de 1941, parece estar a conversar connosco:
“Para além, para nascente, a parte antiga, a começar na Amura ou pequeno recinto muralhado, onde ainda se conversam em minúscula igreja paroquial e os edifícios do quartel e repartição militar; ali o centro, a este lado do poente e lá para o alto, a parte nova. Repare numa coisa: a cidade parece reclinar-se numa encosta que não existe; espreguiça-se molemente. E para dar-se tom, para roncar, como aqui dizem, ela rasgou avenidas, abriu ruas; mas esqueceu-se de levantar casas. Anda agora empenhada nisso. Entre os edifícios, novos e menos novos, sem serem velhos, avultam: a imensa Casa Gouveia, da CUF, a maior empresa comercial da Guiné; depois, o Banco Nacional Ultramarino, única entidade bancária da colónia; ainda o edifício dito das Repartições; a imponente Catedral, em românico estilizado, mas não rematada; a Companhia da África Ocidental Francesa; um dos improvisados hotéis, que são três ao todo; mais algumas casas comerciais; um ou outro chalé modesto, particular ou do Estado; os bairros dos funcionários, que há para todos os gostos; talvez também o hospital, com seus múltiplos pavilhões de um só piso, e não vejo mais nada que mereça citar-lhe, a não ser a nova Alfândega. Ao centro da Praça do Império, no alto da povoação, atira-se para os ares uma espécie de obelisco granítico de uns quinze metros de altura; um monumento ao Esforço da Raça. A vasta praça, incontestavelmente uma das mais amplas do Império Português, aguarda que adotem de edifícios condignos, entre os quais há de sobressair o Palácio do Governador, em construção. Acrescentemos a isto umas dezenas de casinhotos térreos, em paredes de barro, meia dúzia de edifícios de primeiro andar, rodeados das indispensáveis varandas, ainda algumas ruas e vielas, - e aí tem o meu amigo a ínclita cidade de Bissau”.

Deplora a desolação de Bolama: “Chorarei eternamente com quem me hospedou durante sete anos e me livrou dos mosquitos enfadonhos e venenosos de Bissau, das temíveis biliosas, perniciosas e quejando as esferas africanas". Começara a desventura de Bolama, tal como ele a descreve: “Dia e noite, as ruas mais desertas, ainda mais tristes. Muitas casas apagadas, diminuídas as luzes nas ruas, desolados os comerciantes. Bolama assemelhava-se a cemitério imenso. E, noite fora, manguços aos punhados – espécie de gatarrões, feios e fedorentos, monopolizavam os passeios do jardim público, para seu folgar ameno”.

Recorda aquele jardim, o quintal da sua casa, o adro da igreja, e pergunta-se: “Como viverá agora, esse malfadado jardim de Bolama e o burgo inteiro? A acarinhada povoação de outros tempos terá sucumbido, enfim? Os coqueiros do lado fronteiro ao hidroporto poderão continuar a distrair-se com as evoluções, os soberbos Clipper que por ali vão zumbir, despejar forasteiros, levar movimento e vida”. Suspira uma Bolama nova, pede benevolência ao leitor por exaltar a sua querida Bolama. As impressões vão continuar, as que escreveu agora datam de Lisboa, 1 de janeiro de 1943.

(continua)


R.P. António Joaquim Dias
Dançarino Mancanha da nossa Guiné
Bolama, interior da Igreja
Bolama, Câmara Municipal e Administração do Concelho
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23486: Historiografia da presença portuguesa em África (328): Bissau, 1753: Escaramuças na construção da Fortaleza de S. José (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23359: Notas de leitura (1456): Os Jesuítas na Senegâmbia, os personagens de um insucesso (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Não foi por acaso que a título excecional se detalhou no blogue a "História das missões católicas da Guiné", pelo Padre Henrique Pinto Rema. Bom seria que dispuséssemos de vários contraditórios: o que era efetivamente a presença do islamismo naquelas paragens quando ali arribámos em meados do século XV; é facto que há relatos, e muito esclarecedores, das práticas animistas naquilo que se convencionou chamar a Grande Senegâmbia, a antropologia, a etnologia e a etnografia têm efetuado importantes trabalhos sobre práticas animistas quer no continente guineense quer na área arquipelágica. Já o padre Pinto Rema na sua obra incontornável acima referida dava conta dos inúmeros escolhos que se punham à atividade missionária, o clima, a hostilidade dos traficantes de escravos e outros mercadores, a ignorância das línguas nativas, a solidão. Tudo dificultava a construção de igrejas e a catequização. O diálogo religioso com a comunidade islâmica era impossível, vivia-se em intolerância; e a perseguição aos ídolos revelava-se totalmente ineficaz. Os franciscanos foram os mais persistentes, os jesuítas vieram cheios de entusiasmo, morreram quase todos. Um deles, o padre Manuel Álvares, deixou-nos um documento sobre esse território que era conhecido como a Etiópia Menor que, estranhamente, nunca passou de manuscrito. Coisas da cultura ou da incúria cultural.

Um abraço do
Mário



Os Jesuítas na Senegâmbia, os personagens de um insucesso

Beja Santos

Fez-se referência no blogue, e de modo exaustivo, à obra fundamental de ação missionária na Guiné, “História das missões católicas da Guiné”, pelo Padre Henrique Pinto Rema, Editorial Franciscana, 1982. O padre Pinto Rema referiu-se à presença dos jesuítas, convirá dela dar mais algum detalhe. Uma das figuras fundamentais é o padre Manuel Álvares. Convém não confundir o missionário com o gramático. Sobre a obra do gramático, recomenda-se a leitura do artigo “A época e a obra de Manuel Álvares”, por Rui Nepomuceno, Revista Islenha, n.º 45, dezembro de 2009. Era também jesuíta e ficou especialmente conhecido pelo seu trabalho modelar como gramático. Este padre Manuel Álvares de que vamos falar foi estudado por Manuel Pereira Gonçalves, ele apresentou uma comunicação intitulada “Atividade e obra do padre Manuel Álvares nos rios da Guiné (século XVII), alguns apontamentos”, no Congresso Internacional de História, Missionação Portuguesa e Encontro de Culturas, consta das Atas, volume I, Cristandade Portuguesa até ao século XV, Evangelização Interna, Ilhas Atlânticas, África Ocidental, Universidade Católica, 1993.

Manuel Álvares chegou à ilha de Santiago em 1607 e pouco depois partiu para o continente africano para ajudar o padre Baltazar Barreira, que aqui missionava desde 1605. Álvares de Bissau seguiu para Quínara e depois para a Serra Leoa, ia ao encontro do padre Baltazar Barreira que aqui andava em catequização. O autor deste trabalho enfatiza as principais razões do insucesso deste trabalho de missionação: o clima é devastador, os missionários morrem como tordos, dois logo em 1604, mais dois em 1607 e mais dois em 1608. Quando chegam para missionar já os Mandingas ensinavam o Corão. Acresce que os jesuítas não conheciam as línguas nativas. O bispo em Cabo Verde insistia em mandar visitadores, tentava-se assim estimular a missionação, mas eram visitas inúteis. Para além da região muçulmana, os missionários defrontavam-se com o animismo e o seu cortejo de idolatrias. Como no passado, e até no presente, o africano animista explica o sucesso ou insucesso da sua vida e das suas atividades pela proteção do Irã. E havia uma outra condicionante bem terrível: o isolamento. A vida religiosa só se compreende quando vivida em comunidade, mesmo os Trapistas vivem em comunidade e com regras. Ora estes religiosos, sacerdotes e irmãos auxiliares, iam na disposição de construir igrejas e sentiam que naquele deserto humano não havia ninguém com quem pudessem manter um diálogo. Numa tentativa de ultrapassar esta situação, o padre Baltazar Barreira pediu ao seu superior Provincial que enviasse para a Missão da Serra Leoa pelo menos dois sacerdotes que dessem continuidade ao seu trabalho.

Nove dias após a chegada a Santiago, o padre Manuel Álvares acompanhado pelo Irmão Pedro Fernandes parte para o Rio Grande. Mais tarde, assistiu ao batismo da irmã e do irmão do rei D. Filipe de Leão, rei da Serra Leoa. Baltazar Barreira considerou que foi o casamento católico do irmão que moveu a irmã a receber o batismo. Como havia o receio de que vivendo no meio de pagãos podia perder a fé, a irmã do rei teve de abandonar o local onde vivia. Quem estiver interessado em estudar esta matéria com mais profundidade, recomenda-se a Monumenta Missionária Africana, Padre António Brásio, volume IV, a partir da página 621. Os jesuítas enviaram quinze sacerdotes ao todo, quase todos morreram. Ainda se exerceu missionação no Cacheu, que tinha uma igreja com clero diocesano e religioso e uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Natividade. Eram muito poucos os templos no território do que é hoje a Guiné, Santa Cruz no Rio Grande teve uma igreja dedicada a Nossa Senhora, durante bastante tempo houve um clérigo que lá ia dizer missa.

Um dos mistérios da histografia missionária e dos estudos do colonialismo é nunca a obra deste padre ter passado do manuscrito, Ethiopia Menor e Descripção Geographica da Provincia da Sérra Leõa, é considerado um trabalho de referência, incompreensivelmente não está acessível ao público. O padre Manuel Álvares discreteia sobre muitos assuntos, um deles tem a ver com o catecismo, seguramente que o preparou para a sua ação missionária. Tem aspetos curiosos, vale a pena citá-los:
“Os céus, apesar de incorruptos, imperfeitos, eternos, independentes, não foram feitos por si mesmos. Receberam de alguém o seu ser. É a primeira causa criadora. Também as estrelas, os planetas e todas as coisas deste mundo tiveram a sua primeira causa criadora. Nada há que não tenha um princípio e que não remonte a sua existência à primeira causa”. Mais adiante:
“O homem atingirá o dom da imortalidade por raro privilégio de Deus, ainda que não o possamos atingir pela própria natureza. A imortalidade do homem só é pela Providência Divina, é Deus que o encaminha para o fim sobrenatural; e ao homem não é dado o prémio nem o castigo antes de morrer”.

Porque não se salva o gentio a quem não foi anunciada a mensagem evangélica? O padre Manuel Álvares é da opinião que se tiverem vivido segundo a lei natural serão salvos. E porquê? Desde que tenham adorado quem os criou; tenham falado verdade, não tenham cobiçado o alheio; tenham guardado respeito pelo alheio; não tenham prejudicado em nada o que é dos outros; tenham usado com fidelidade aquilo que lhes pertence; tenham sido fiéis a todos os princípios, mesmo os matrimoniais.

O padre Manuel Álvares morreu em 1617. No século XVII, é possível que um ou outro sacerdote jesuíta tenha, em viagem esporádica, passado por aquelas paragens da África Ocidental, mas não há memória de outra presença efetiva e continuada. Anos mais tarde, em julho de 1642, os jesuítas deixam definitivamente a missão e os últimos sacerdotes rumam em direção a Lisboa.

Vale a pena seguidamente acompanhar a ação missionária do padre Baltasar Barreira, que teve uma atividade significativa em Cabo Verde, na Guiné e na Serra Leoa.

Ritual fúnebre na Senegâmbia, final do século XVII, imagem retirada de: https://www.researchgate.net/figure/FIGURA-2-Missionario-capuchinho-queima-casa-de-idolos-na-Africa-Centro-Ocidental-decada_fig2_304710892.
Missionário capuchinho queima casa de ídolos na África Centro-Ocidental, década de 1740, imagem retirada de: https://www.researchgate.net/figure/FIGURA-2-Missionario-capuchinho-queima-casa-de-idolos-na-Africa-Centro-Ocidental-decada_fig2_304710892.
Escultura da extremidade superior de sono em bronze com representação de duas pessoas montadas, acompanhantes e provavelmente um cão, imagem retirada de: https://revistas.ufrj.br/index.php/abeafrica/article/viewFile/19406/12989.

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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23346: Notas de leitura (1455): "Era Uma Vez na Tropa, Rescaldos da guerra em desfile de memórias", por Ireneu de Sousa Mac; Europa Editora, 2022 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23724: Notas de leitura (1508): Algumas (breves) notas sobre missionação (V) - Conheci de perto dois padres franciscanos na minha estada na Guiné-Bissau: os padres Macedo e Sobrinho. E, bem ainda, o bispo Settimio Artur Ferrazzeta, padre franciscano, italiano, o primeiro Bispo da Guiné-Bissau (Paulo Cordeiro Salgado, ex-Alf Mil Op Especiais

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Cordeiro Salgado (ex-Alf Mil Op Especiais da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 17 de Outubro de 2022:

Caros Camaradas,
Ainda mais este texto.
Obrigado.
Paulo Salgado



Algumas (breves) notas sobre missionação - V

Paulo Salgado

Mandou-me o nosso camarada do Blogue, Mário Beja Santos, por especial deferência, a História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema, padre franciscano, dado à estampa em 1982 pela a Editorial Franciscana, Braga.

No essencial, este valioso documento refere, com detalhe, o Encontro (expressão de que gosto – já usada por Bartolomé de las Casas) entre dois mundos: um, o invasor, o conquistador pela espada e pela fé, outro, o invadido, o conquistado pela espada e pela fé. E como se manifestou a presença dos missionários na costa da Guiné (no sentido amplo: vai para além do Bojador até ao Cabo Não).
Está referido, entre muitas outras peripécias, o seguinte:
"que por aqui andaram em 1584 uns frades carmelitas descalços, tendo sido uma falhada tentativa de fixar uma missão carmelita na Guiné. Frei Cipriano, carmelita, escreveu de Cacheu ao bispo de Cabo Verde acerca da visita de um rei de Caió, D. Bernardo, juntamente com 300 súbitos, a pedir o batismo e uma igreja no seu reino. André Álvares de Almada, refere no seu Tratado a pessoa de João Pinto, padre preto, natural da Guiné, evangelizando em região hoje pertencente ao Senegal. Almada fala dos negros Jalofos “que começam no rio Senegal”: “Esta nação dos Jalofos é mais dificultosa em receber a fé de Jesus Cristo Nosso Senhor que todas as outras nações dos negros da Guiné, porque quase todos seguem a seita de Mafoma. E ano de 1589 foi um clérigo preto por nome João Pinto àquele reino para os fazer cristãos e não fez fruto algum neles, e por isso se foi para outras nações".

Exactamente por ter tomado conhecimento deste frei Cipriano, sabendo ou imaginando o que os frades penaram num mundo tão desconhecido, ficcionei uma crónica que consta do meu livro “Guiné-Crónicas de Guerra e Amor”.

No entanto, por certo que, se tiver tempo, o Mário Beja Santos se pronunciará sobre esta magnífica obra que incide sobre a missionação no período compreendido entre os séculos XV e XX.

Como anteriormente referi, conheci de perto dois padres franciscanos na minha estada na Guiné-Bissau: os padres Macedo e Sobrinho. E, bem ainda, o bispo Settimio Artur Ferrazzeta, padre franciscano, italiano, o primeiro Bispo da Guiné-Bissau, autor do livro que está a ser distribuído às comunidades com título italiano “Sono Allora Africano” (Agora sou Africano), publicada pela Associozione Rete Guinea Bissau onlus.
A obra é uma coletânea de cartas de Dom Settimio escritas a partir de Bissau à sua família, desde que veio a esta terra 1943 até partir para o Pai, em 1999.

Para os bispos de Bafatá e Bissau, num texto de apresentação da obra, Settimio é o autentico "homem garandi", o ancião em plenitude por conquistar o coração de todo o povo da Guiné-Bissau, com o seu génio simples de comunicar o Evangelho. (in "Igreja Católica na Guiné-Bissau").


D. Settimio Artur Ferrazzeta, primeiro Bispo da Guiné-Bissau

Aqui fica a minha singela homenagem, pois dele ouvi palavras de um verdadeiro missionário.

Paulo Salgado

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Nota do editor

Poste anterior de 18 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23716: Notas de leitura (1507): Algumas (breves) notas sobre missionação (IV) - Fundo Documental do Prof. Santos Júnior, localizado no Centro de Memória de Torre de Moncorvo (Paulo Cordeiro Salgado, ex-Alf Mil Op Especiais)

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22604: Historiografia da presença portuguesa em África (284): História breve da Guiné Portuguesa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
O seu a seu dono, era uma tremenda injustiça não referir este ensaio inserido num número da revista "Ultramar" onde há outros trabalhos que merecem destaque, como é o caso do artigo de António Carreira dedicado à Guiné e às ilhas de Cabo Verde, o estudioso refere a sua unidade histórica e populacional, bem como o artigo de Rogado Quintino, sobre os temores ao Deus-Irã, entre outros. Em dezenas de páginas, o historiador Banha de Andrade circunscreveu-se à problemática do descobrimento da Guiné, ao histórico da presença portuguesa até à I Guerra Mundial e dados civilizacionais como as missões. Discreto e sóbrio, nada propagandístico, não há para ali nenhuma mentirola sobre os nossos cinco séculos na Senegâmbia.

Um abraço do
Mário



História breve da Guiné Portuguesa

Beja Santos

É do conhecimento geral que a Guiné Portuguesa não dispõe de um livro histórico minimamente atualizado. Houve tentativas, no todo ou na parte, deixaram o seu rasto, e a sua leitura é recomendada. Logo João Barreto com a sua “História da Guiné (1418-1918) ”, de 1938; a “Guiné Portuguesa” de Avelino Teixeira da Mota, 1954; Mário Matos e Lemos publicou “Os portugueses na Guiné – apontamentos para uma síntese”, em 1917; e possuímos uma vasta bibliografia parcelar com autores como António Carreira, José da Silva Horta e Eduardo Costa Dias, Carlos Lopes, Peter Karibe Mendy, René Pélissier, Armando Tavares da Silva, Julião Soares Sousa, Francisco Travassos Valdez, Philip Havik, António Duarte Silva, Francisco Henriques da Silva e este autor. Mas havia um esquecimento imerecido, na revista “Ultramar” N.º 32, 1968, dedicado à Guiné tem destaque a história breve da Guiné Portuguesa, de António Alberto Banha de Andrade, historiador e professor universitário.

O seu ensaio é organizado em torno dos problemas da descoberta da Guiné, da soberania portuguesa e da civilização, com destaque para os problemas de missionação. Pode trazer muitos dados consabidos, outros entretanto aclarados, mas o historiador consulta fontes probas, fez uma súmula de acontecimentos que ajudarão o investigador e o curioso. E como? Falando da origem do termo ‘Guiné’, das viagens em torno da Costa de África e quando se dobrou o Cabo Bojador, a ignorância dos nautas portugueses e dos árabes era profunda quanto a geografia e as populações residentes. Recorda o autor as viagens feitas no interior do continente para contatar o chefe dos Mandingas no alto Níger, Diogo Gomes subiu pelo Gâmbia até Cantor. “Duarte Pacheco Pereira, em 1505, informa que os portugueses denominam Guiné a Etiópia que se estende do rio Senegal até ao cabo da África”. Sonhava-se em chegar a Tombuctu, era a miragem das relações comerciais. E mais adiante, já precisando a descoberta da Guiné: “Atribui-se essa glória a Nuno Tristão, morto pelos nativos do rio Grande, o atual Geba. Duarte Leite, porém, secundado por Damião Peres, acreditam nas narrativas de Diogo Gomes e Cadamosto e optam pelo descobrimento por um destes, em 1456. Avelino Teixeira da Mota ainda deixa a Nuno Tristão a glória de haver sido o primeiro português a entrar em contato com os Mandingas. Nuno Tristão não teria chegado ao atual território da Guiné Portuguesa, porque fora trucidado na região do Niumi, entre o Gâmbia e o Jumbas, a região dos Barbacins dos nossos cronistas”. Pondo ainda outros nomes em cima da mesa, conclui o autor: “Assentamos que, sendo natural ter-se efetuado o descobrimento da Guiné Portuguesa em 1446 ou perto deste ano, e nunca em 1456, as honras dessa proeza se devem continuar a atribuir a Nuno Tristão, à falta do nome do navegador que se seguiu à sua viagem e à de Álvaro Fernandes”.

Quanto ao problema da soberania, o historiador recorda a gestão do comércio cedida pela Coroa aos habitantes de Cabo Verde, o arrendamento a Fernão Gomes, a concorrência de espanhóis, ingleses e holandeses no então vasto litoral da Senegâmbia. O período filipino foi nefasto para os interesses portugueses na região, o comércio transitara para as mãos dos espanhóis, franceses, ingleses e holandeses, recuou a presença portuguesa para limites geográficos bastante próximos àqueles que irão ser definidos na Convenção Luso-Francesa de 1886. O autor refere que após a Restauração, se fundou capitanias, companhias de comércio, se mantém o tráfico de escravos, predominantemente na região de Cacheu, surge a primeira fortificação de Bissau, a ameaça da presença inglesa e o progressivo alargamento de feitorias francesas no Casamansa. Na primeira metade do século XIX, distingue-se Honório Pereira Barreto que redigiu a cáustica e exemplar “Memória sobre o estado atual da Senegâmbia Portuguesa, causas da sua decadência, e meios de a fazer prosperar”, com data de 1843. Em 1879, a Guiné passa a ser província independente de Cabo Verde, reorganizam-se os serviços e a pressão francesa é sufocante. “A França exigiu que, em troca do apoio ao plano de ligar Angola e Moçambique, o governo português lhe reconhecesse a posse da rica bacia do rio Casamansa. Barbosa du Bocage, ministro dos Negócios Estrangeiros, aceitou a condição. Entretanto, novo Governo subiu ao poder, e o progressista Henrique de Barros Gomes, que sobraçou aquela pasta, não aprovou, de entrada, a renúncia do seu antecessor. Porém, era tarde de mais e as negociações foram fechadas”. O autor explana sobre a organização administrativa da colónia e releva a Carta Orgânica de 31 de maio de 1917.

A última parte do trabalho de Banha de Andrade prende-se com a questão da civilização, é uma presença praticamente reduzida ao litoral durante séculos, o contributo cabo-verdiano é determinante, a presença tem destaque no Casamansa, em Cacheu, em Bolola, na região de Buba, em Bolama e outros locais dos Bijagós. O autor socorre-se de documentos como o de Francisco Lemos Coelho, do século XVII, que dá um retrato da presença portuguesa na região. A história missionária que Banha de Andrade aqui descreve tem afinidades com o trabalho incontornável do padre Henrique Pinto Rema sobre as missões católicas na Guiné, digamos que as missões foram mal sucedidas menos por encontrar populações evangelizadas, mais pelos problemas do clima e a hostilidade dos comerciantes e traficantes. Tal como estudou Teixeira da Mota, Banha de Andrade faz menção a uma visita pastoral do Bispo de Cabo Verde à Guiné, ilha de Bissau, onde chegou D. Vitoriano do Porto, em 27 de março de 1694. O régulo recebeu-o ao som de música. Depois D. Vitoriano seguiu para Farim e Cacheu e daqui regressou a Santiago, Cabo Verde.

É um estudo onde está ausente o espalhafato ou a exaltação propagandística de que os portugueses estavam presentes por toda a Guiné, o que não tem ponta de verdade. Diz o que efetivamente aconteceu nas missões e recorda aquela figura invulgar do Padre Marcelino Marques de Barros, autor do livrinho “Literatura dos Negros” e o primeiro arremedo de dicionário português-crioulo. É de elementar justiça pôr o trabalho de Banha de Andrade na bibliografia geral sobre a Guiné Portuguesa.


António Alberto Banha de Andrade
Almirante Teixeira da Mota
Obra de 1973 em que Teixeira da Mota republicou o seu incontornável trabalho sobre o descobrimento da Guiné.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22587: Historiografia da presença portuguesa em África (283): Texto dos acordos de Argel, Lusaka e Alvor e seus anexos

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24580: Historiografia da presença portuguesa em África (382): Um importante ensaio sobre a missionação franciscana na Guiné e Rios da Guiné, século XVIII na "Revista Itinerarium", ano LXVIII, n.º 228, julho-dezembro de 2022 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Janeiro de 2023:

Queridos amigos,
Esta revista Itinerarium está a revelar-se uma importante fonte de consulta sobre as missões católicas, são olhares que complementam a obra clássica do Padre Henrique Pinto Rema. Este investigador, Padre Manuel Pereira Gonçalves dá-nos um relato sobre a missionação dos franciscanos observantes em pleno século XVII, a partir de 1656. Convém recordar que D. João IV se viu a braços com a hostilidade espanhola na região, que também se manifestava na missionação, daí os esforços para robustecer a capitania de Cacheu e o apoio que deu à obra missionária, esta centrava.se na diocese de Cabo Verde e o autor aproveita para fazer uma síntese histórica que aqui se plasma por se lhe conferir bastante rigor. Ele irá falar sobre a Província da Soledade na missão de Cabo Verde e da Guiné, mas antes dá-nos uma apreciável nota do trabalho desenvolvido pela Província de Nossa Senhora da Piedade. Daremos seguimento ao trabalho do Padre Manuel Gonçalves fazendo depois uma recensão de um artigo publicado na mesma revista intitulado "Recordações da guerra civil de Bissau (1998/1999)" pelo então vigário geral da diocese, Padre João Dias Vicente.

Um abraço do
Mário



Um importante ensaio sobre a missionação franciscana na Guiné e Rios da Guiné, século XVIII (1)

Mário Beja Santos

Confesso que desconhecia por inteiro os trabalhos que o Padre Manuel Pereira Gonçalves tem dedicado à Guiné e este seu trabalho publicado na "Revista Itinerarium" (revista semestral de cultura publicada pelos Franciscanos de Portugal), ano LXVIII, n.º 228, julho-dezembro de 2022, como o leitor comprovará, introduz elementos novos face ao que já sabemos, sobretudo depois das incontornáveis investigações do Padre Henrique Pinto Rema.

O seu trabalho intitula-se "A Missionação dos Franciscanos Observantes (1656-1700), na Guiné ou nos Rios da Guiné". Começa por concordar com a opinião do Padre Henrique Pinto Rema quanto à área da diocese de Cabo Verde, limites traçados pela bula de ereção da diocese com data de 31 de janeiro de 1533: “A nossa diocese abrange o arquipélago de Cabo Verde e a terra firme da costa da Guiné, desde o rio Gâmbia, perto do promontório ou lugar do Cabo das Palmas até ao rio de Santo André. Segundo a Bula Pro Excellenti, os extremos Norte e Sul da nova Diocese distam 350 léguas, ou seja, cerca de 2100 quilómetros. O território para cima do rio Senegal pertencia à arquidiocese do Funchal.” Observa que a presença portuguesa na Guiné foi praticamente nula nos séculos XVIII e XIX e que para tal situação contribuiu a presença de países melhor apetrechados, económica e militarmente, e que punham permanentemente em causa a existência da nossa soberania. Os portugueses também se viram condicionados pela guerra de corso. No século XVII, os Rios da Guiné, apesar do sentido indefinido segundo os textos legais, faziam parte da área da jurisdição da capitania de Cabo Verde, cujo governador tinha poder sobre o Capitão-Mor de Cacheu.

Indo mais atrás, o autor fala do período entre 1432 e 1438 quando os Rios da Guiné eram sinónimo de Etiópia Menor. Cadamosto foi o primeiro a demandar esta baixa região da Etiópia e a contatar a população negra. Iniciou a sua primeira viagem em 22 de março de 1453, a segunda decorreu em 1456, terá sido nesta que descobriu quatro ilhas cabo-verdianas: Boavista, Santiago, Maio e Sal. Valentim Fernandes refere duas Etiópias, a primeira corre e estende-se pela costa do rio Senegal até ao Cabo da Boa Esperança. E do dito rio até este cabo são 1340 léguas. O outro nome da baixa Etiópia é Guiné. No seu roteiro, Valentim Fernandes fala das duas Etiópias, dizendo que a segunda, a Etópia Superior começa no rio Indo, além do grande reino da Pérsia, do qual a Índia este nome tomou. Mais tarde, Jerónimo Munzer, viajante e cientista alemão, manifestou interesse pelas navegações portuguesas e enviou por Martinho da Boémia uma carta dirigida a D. João II aconselhando-o a descobrir o caminho marítimo para a Índia pelo Ocidente. No ano seguinte, em 1494, ele próprio veio a Portugal, falou com D. João II, das conversas havidas e das suas impressões de viagens deixou o livro Itinerarium. O Padre Manuel Pereira Gonçalves refere também as viagens e trabalho do Padre Manuel Álvares, Jesuíta, que escreveu uma obra Etiópia Menor, o Padre Baltazar Barreira, que missionou na Guiné e que também deixou um precioso relato. Antes destes autores, também André Donelha deixou uma descrição da região, sabemos que esteve pelo menos três vezes na Guiné ao serviço da armada de António Velho Tinoco, provedor da fazenda real das ilhas de Cabo Verde.

Mais precisa que a descrição de André Donelha é a obra "Duas Descrições Seiscentistas da Guiné deixada por Francisco de Lemos Coelho, no século XVII. Como realça o autor, trata-se de uma obra indispensável para um levantamento geográfico e etnográfico desta Etiópia Menor. A documentação histórica subsequente refere de forma indiferenciada os Rios da Guiné ou os Rios da Guiné e Cabo Verde. Lembra também o autor que as ilhas dos Bijagós aparecessem no trabalho do Padre Manuel Álvares. Outros relatos vão conferir importância ao Rio Nuno, não muito longe do Rio Tombali. A importância do Rio Nuno para os portugueses reside na história do seu nome e ainda na abundância de marfim e tintas. Navegando em direção a Sul chega-se ao Rio Verga, próximo está o cabo que tem o mesmo nome. Por fim, temos a Serra Leoa, há testemunhos desse itinerário através dos escritos do Padre Fernão Guerreiro e do Padre Manuel Álvares. Para o autor é absolutamente certo que a descoberta da Serra Leoa se deve ao navegador Pedro de Sintra que foi um pouco mais além do atual território, chegando mesmo à Libéria. O navegador Luís Cadamosto faz referência em pormenor a esta viagem. Em 1462, Pedro de Sintra iniciou uma nova viagem com apenas duas caravelas e desembarcou numa das ilhas dos Bijagós. E prosseguiu viagem, passou pela montanha da Serra Leoa (está-se em crer que este nome deriva do grande rugido que ali se faz sentir por causa das trovoadas). E chegou ao Cabo das Palmas e Rio de Santo André, limite da diocese de Cabo Verde e Guiné, recorde-se que este cabo foi descoberto no reinado de D. Afonso V, em 1469, a mando de Fernão Gomes.

E o autor começa a sua exposição sobre a Província de Nossa Senhora da Piedade, o apoio dado pelo rei D. João IV à Missão de Cabo Verde. É neste apostolado em Cabo Verde que dois franciscanos vão à Guiné: Frei Paulo do Lordelo e Frei Sebastião de S. Vicente, eram portadores de um projeto muito específico, lançar os alicerces do hospício de Cacheu. Na povoação de Cacheu, no século XVI, viviam 800 cristãos ou assim considerados. Os dois religiosos estiveram alguns meses no ensino da região cristã e depois seguiram para o reino dos Banhuns. Foram muito bem recebidos pelo rei da terra, ali ergueram uma pequena capela. E depois estes dois franciscanos fizeram uma longa viagem, tinham como meta a Serra Leoa, passaram por Bissau e o Rio Nuno. Esta missão franciscana entusiasmou outros religiosos. Surgiu uma segunda leva de missionários, em 1662, 12 religiosos capuchos da Província da Piedade marcam presença. E em 1663, Frei André de Faro e Frei Salvador de Taveiro chegam a Cacheu e daqui partem para o território dos Banhuns. Mas o autor não deixa de nos advertir que por volta de 1670 a evangelização do continente não era nada brilhante. E depois de nos ter falado sobre esta Província de Nossa Senhora da Piedade vai referenciar a Província da Soledade na missão de Cabo Verde e da Guiné.

O que será importante reter? A Guiné e a missão de Cabo Verde nos finais do século XVII e durante o século XVIII não atraíram vocações. Só um iluminado era capaz de partir para locais tão difíceis sem saber o que de bom iria encontrar.

Mapa da Costa da Guiné (adaptado de Nuno da Silva Gonçalves, Os Jesuítas e a missão de Cabo Verde (1604-1642), Lisboa, ed. Brotéria, 1996.)

Peregrinação Mariana em Geba, 2013
(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24557: Historiografia da presença portuguesa em África (381): 1.ª Exposição Colonial Portuguesa, Porto, 1934, os memoráveis clichés fotográficos de Domingos Alvão (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21492: (In)citações (172): Crónica da Guerra da Guiné, segundo um seu Veterano - Parte I (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)

1. Em mensagem do dia 27 de Outubro de 2020, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), enviou-nos um texto a que deu o título: "Crónica da Guerra da Guiné, segundo um seu Veterano", do qual publicamos hoje a I Parte. 


Crónica da Guerra da Guiné, segundo um seu Veterano - Parte I 

Manuel Luís Lomba

O blogue Luís Graça &Camaradas da Guiné constituiu-se o maior e o depositário mais fiel da história da Guerra da Guiné e os milhares de posts e de comentários a sua maior biblioteca e fonte. 

A chamada à colação pelo Jorge Araújo e pelo Luís Graça, no P21421, do livro “Guerra da Guiné: a Batalha de Cufar Nalú”, metáfora aplicada às sucessivas operações contra essa mata, redacção, revisão e edição da minha autoria (inclusive os erros ortográficos, gramaticais e outros), na evocação dos enfermeiros condecorados, incitou-me a evocar esse nosso passado. 

 A “Operação Tridente”, acontecida há quase 60 anos, foi a primeira grande manobra da Guerra da Guiné, o BCav 490 os seus actores principais, as ilhas do Como, Caiar e Catunco o seu palco, foram 72 dias de combates na mata e em campo aberto; a segunda grande manobra foram as Operações “Campo”, Alicate I e II”, a CCav 703 os seus actores principais, o eu palco foi Cufar, a sua malta escavou abrigos em todo o perímetro da sua desmantelada fábrica de descasque de arroz e viveu 63 dias como toupeiras, mais sob a terra que sobre a terra. 

 A “Operação Tridente”, entre Janeiro e Março de 1964, foi a “guerra da restauração” da soberania portuguesa sobre aquelas três ilhas, então a “República Independente do Como” proclamada por Nino Vieira, abandonadas em 1962 pelo fazendeiro Manuel Pinho Brandão, originário de Arouca (constava que passara a fornecedor do PAIGC); as operações “ Campo”, “Alicate I, II,´” e “Razia”, entre Dezembro de 1964 e Maio de 1965, foram a “guerra da restauração” da soberania portuguesa sobre a “área libertada” de Cufar, começada com a ocupação da tabanca e das ruínas da fábrica de descasque de arroz, abandonada pelo fazendeiro Álvaro Boaventura Camacho, madeirense originário de Cabo Verde (patrão e o “passador” para Conacry do então alfaiate e futebolista Bobo Quetá), continuada com a expugnação da base da mata de Cufar Nalu, comandada por Manuel Saturnino Costa, ora aumentada e reforçada com a força retirada do Como, consolidada em 15 de Junho pelas CCaç 763, 764 e 728 (Operação Satan?). 

Ilha do Como (Jan1964) - «Operação Tridente». Desembarque das forças do BCAV 490.
Foto do camarada Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 498 (1963/1965) - P12386, com a devida vénia.

Chãos de balantas e nalus, gente laboriosa e guerreira, essas ilhas e a região continental de Catió eram terras úberes da produção de arroz e óleo de palma, a alimentação base dos guineenses, o “Celeiro da Guiné” e o garante da magra ração de combate dos seus combatentes da libertação, antes de o “espírito filantrópico” do governo do reino da Suécia lha ter melhorado. 

Amílcar Cabral tinha engravidado a Guiné Portuguesa com o sémen da “libertação”, nos mais de 10 anos da diacronia dessa luta armada, outras grandes manobras aconteceram, refiro apenas a “Operação Mar Verde” a Conacry e a escalada da “crise dos 3 G´s”, e o seu aborto terá falhado, mercê da miopia política, militar e diplomática do governo de Lisboa. 

Não se podia fazer nas bolanhas e matas da Guiné o que só poderia ser feito em S. Bento e no Terreiro do Paço, em Lisboa. 

De escalada em escalada a matarmo-nos e a estropiarmo-nos uns outros, a aniquilação mútua não aconteceu, mercê de uma deriva das FA Portuguesas, gerada, nascida e nutrida pela tradicional insatisfação corporativa da classe dos capitães, sob o “manto diáfano” do acrónimo MFA, que, para não a abandonar a Guiné nem como derrotados nem como vitoriosos, passou a aliado do PAIGC, tendo cometido dois pecados originais: primeiro, criou a situação de inferioridade, depois, avançou para as negociações, querendo resolver em Bissau o que só deveria ser resolvido em Lisboa. A política ultramarina foi, mas as FA Portuguesas não saíram derrotadas pelo PAIGC; portugueses houve que se derrotaram a si mesmos… 

Mas as maiores manobras da Guerra do Ultramar são activo do MFA: as aceleradas retracções dos dispositivos, retiradas militares para a Metrópole e a “ponte aérea” da materialização da “Descolonização exemplar” de Angola e Moçambique, que evacuou centenas de milhares de gente multirracial, a força criadora da sua riqueza estruturante, muitos com a roupa do corpo como único bem - os Retornados, para a insurreição/revolução ou os Devolvidos, para os outros. E, por ter degenerado em PREC e endossado a sua guerra ultramarina a outrem (Cuba, etc), o MFA não fez uma “Descolonização exemplar” e protagonizou a maior deslocalização mundial de gente, desde a II Guerra Mundial, só ultrapassada mais de 40 anos depois, pelos fenómenos dos refugiados, vítimas dos “prec´s” degenerescentes da Venezuela e da “Primavera árabe”. 

A par da sua revelação como estratega de alto nível, a partir de 1963, Amílcar Cabral (ora alçado a segundo maior líder mundial de todos os tempos, por um grupo de historiadores (?) a soldo da BBC), revelou também um talentoso criador de fake news militares, a base de sustentação do seu markting de que o PAIGC “libertara” e exercia a soberania em 2/3 da Guiné Portuguesa. Vontade e saber muito, mas verdade pouca… 

Passados 4 meses sobre o fim da “Operação Tridente”, o nosso BCav 705 chegou a Bissau estivado no cargueiro “Benguela”, concebido e equipado para o transporte de gado, e não no paquete “Índia”, erro piedoso da CECA. Entre meados de 1964 e meados de 1965, penamos em duras, demoradas e penosas “operações de intervenção”, por terra, água e ar, nas matas do norte, do sul da Guiné e colhemos duas evidências: a dinâmica doutrinal ou subversão cabralista irradiava por esses quadrantes, mas sem o domínio das suas dimensões territorial e social. A tropa andava (e nomadizava) em todo o lado e era a ela que generalidade das populações recorria. PAIGC significava sofrimento e problemas, a tropa significava segurança e soluções. 

Por que os revolucionários desse jaez são avessos ao sufrágio universal e livre? Porque o Povo não vota em organizações violentas! 

Os 2/3 de “áreas libertadas” não passavam de atoada propagandística. Tal dimensão corresponderia à totalidade das suas massas de água e florestais, isentas da colonização, condomínios da bicharada aquática e terrestre, a sua densidade humana era muito baixa, em crescimento com a instalação de bases revolucionárias e pelo êxodo das populações rurais (a relação da densidade populacional na Guiné seria de 15hab/km2). Teria fiabilidade, muito relativa, se se referisse às áreas colonizadas e habitadas, onde um ou dois dos seus guerrilheiros/sapadores infiltrados iam acrescentando valor de “libertação”, sabotando acessibilidades, equipamentos sociais, aterrorizando as tabancas com chefes hostis e indecisos, flagelando patrulhas e escoltas militares - actividades revolucionárias suficientes para condicionar autoridades, mobilizar meios militares, exponenciais em regra, confinar e condicionar a normalidade da vida a toda a gente. 

Província da Guiné. © Infogravura Luís Graça & Camaradas da Guiné

A partir da “Operação Tridente”, as FA portuguesas passaram a garante da soberania em toda a Guiné, desassossegando os revolucionários por todo o lado, por terra, água e ar, embargando-lhes a conquista e fixação em qualquer tabanca tradicional, sempre vencedoras - menos por combates, umas vezes pela desistência a meio do jogo, outras pela sua falta de comparência. A Guerra da Guiné foi paradoxal. As FA portuguesas nunca derrotadas, mas nunca vencedoras; o PAIGC sempre derrotado, mas nunca vencido. E o vencedor foi o derrotado!... 

A relação do PAIGC com a verdade tornara-se tão impudica que até descuidava o encobrimento das suas grandes mentiras. A sua publicitação do cerimonial da Declaração da Independência ao mundo foi quase fiel: a inospitalidade do local, a hospedagem dos convidados internacionais não com 5 estrelas, mas com todas constelações da abobada celeste, a visibilidade da temeridade e improvisação do evento, ao ar livre, num outeiro periférico à tabanca de Lugajole (a Montanha de Cabral era expressão de caserna e situa-se na Guiné-Conacry), no pico da pluviosidade da estação das chuvas, – a “manobra” para embargar as manobras da tropa, por terra e ar. Mais tarde, o embaixador soviético escreveu que apresentara as suas credenciais ao Presidente Luís Cabral, não sabe onde, num “palácio presidencial” que era uma cabana, a estrutura de troncos de cibes, as ramagens das suas copas a fazer de telhado e paredes… 

O PAIGC agendara a Declaração da Independência para 24 de Setembro de 1973, mês da efeméride do nascimento de Amílcar Cabral, da sua fundação, o Dia Internacional da Paz, e, também, do fim da II Guerra Mundial. A sua logística estava montada na zona de Cubucaré, bem conhecida dos bastidores da ONU, onde, ente 1 e 8 de Abril de 1972, a sua “Quarta Comissão” se hospedara e dependurara a sua bandeira no galho duma árvore, para conceber o relatório probatório de que o PAIGC exercia todas as funções estatais e administrativas na Guiné-Bissau, com base no qual a ONU pronunciou Portugal de seu ocupante ilegal, com 500 anos de efeito retroactivo. Mas, na antevéspera a Força Aérea de Biassalanca foi destruir-lhe a festa…

Assim, os 2/3 de “área libertada” não era apenas retórica, era sofisma de justiça, instrumental à manobra da ONU. “Se possuis, assim possuirás”, jurisprudência do Tratado de Utreque, subscrita por Portugal, em 1713, da Conferência de Berlim, subscrita por Portugal, em 1886, da Sociedade das Nações, subscrita por Portugal, em 1919, em St. Germain-en-Laye, da Carta da ONU, subscrita por Portugal, em 1955. 

Redigido em Conacry e avalizado pela OUA (Organização da Unidade Africana), foi com base nesse relatório que a ONU expendeu a jurisprudência de que, considerando que havia uma dúzia de anos que o PAIGC era o Estado da Gguiné-Bissau, considerando que o domínio português estava de facto limitado a uma estreita faixa litoral da ilha de Bissau, do Geba a Safim (à margem esquerda do canal Impernal), a soberania de Portugal era considerada prescrita, de Facto e de Direito. E Cabral tornou-se um assíduo queixoso à ONU, queixas que nunca domiciliou nos ora mais de 2/3 de “áreas libertadas”, mas em Conacry, de que o Estado exercido a partir de Bissau e presente nos quatro cantos da Guiné, as milícias armadas de autodefesa e os militares portugueses da sua guarnição, porque “iam até o Estado fosse”, eram agressores, ocupantes estrangeiros da Guiné e ameaça à paz mundial (maestria do líder bissau-guineense e nódoa à “terceiro-mundista”, caída no melhor pano do que é a Comunidade das Nações). 

À data da Declaração de Independência, o PAIGC fizera zero de equipamentos sociais e mais não destruíra porque não conseguira, nesses 2/3 de “áreas libertadas”, ao passo que as FA portuguesas faziam guerra, mas também tinham expandido e requalificado a sua rede de estradas, construído cerca de 16 000 casas, 160 escolas, 40 postos médico-sanitários, 56 fontanários, 3 mesquitas e feito 145 furos de água potável… 

Na verdade, as ilhas do Como, Caiar e Catunco, dada a sua condição estratégica de encostadas à Guiné-Conacry, a adesão massiva das suas populações e por necessárias, como celeiro da alimentação dos seus combatentes, terão sido as únicas “áreas libertadas” pelo PAIGC, de curta duração, entre finais de 1962 e princípios de 1964, também porque, naquele tempo, a representação regional da autoridade do Estado sediado em Bissau residia em Catió e o administrador dessa circunscrição militava clandestinamente no PAIGC. 

Tendo provocado o abandono pelos colonos, Amílcar Cabral fez da ilha do Como a mãe de todas as bases no interior sul (a de Koundara, a sua primeira, e as em instalação em Cadigné, Boké e Sansalé situavam-se no estrangeiro), dotou as três ilhas com o efectivo de 400 combatentes, muitos recrutados no seu adversário político MLG (que iniciara a Guerra da Guiné, em Susana e Varela), equipado de armamento ligeiro e pesado de Infantaria, reforçou-os com cooperantes especialistas estrangeiros, protegeu o “espaço aéreo” com metralhadoras antiaéreas Goryunov 7,62 e Degtyarev 12,7, os aviões de pistão e a jacto vindos da Base de Bissalanca passaram a ser atingidos e afugentados, e, no relativo à problemática das acessibilidades marítimas, estava confiante da sua protecção – Sekou Touré acabara de decretar unilateralmente a dilatação das águas internacionais do seu país em 130 léguas. 

Reforçou o comando de Nino Vieira, um dos seus primeiros 12 “discípulos” e o seu mais importante comandante de campo, que tirocinara guerra revolucionária na China e armamento na União Soviética. O governo de Lisboa mandava os seus capitães tirocinar guerra contra-revolucionária em França, tendo por mestres os perdedores no Vietname e na Argélia; Amílcar Cabral mandava os seus básicos tirocinar guerra revolucionária na China, tendo por mestres os vencedores Mao Tse-Tung e generalíssimo Vô Neguyen Giap. 

Resultado: o PAIGC concebeu e executou uma guerra total, a partir das matas e dos campos sobre as povoações rurais e urbanas – e ganhou; as FA portuguesas conceberam uma guerra contra-revolucionária de orgânica convencional, a partir dos povoados sobre campos e matas – e não ganharam. 

A braços com a crise de Angola, o governo de Lisboa deu uma ajuda por omissão, não levantou ondas no relativo à dilatação unilateral das águas, o problema era o PAIGC não a Guiné-Conacry; confiante na utopia do ministro Franco Nogueira da negociação de um tratado de paz e cooperação com a Guiné-Conacry, Salazar deu luz verde à “Operação Tridente”, mas proibiu a violação das suas fronteiras e o exercício do “direito de perseguição”. 

O líder da Guiné-Conacry nem se dignou responder. A “Operação Tridente” afundou nessas águas uma embarcação que transportava militares do exército regular guinéu (seria o União, para o PAIGC e Mirandela, para o seu dono, a Sociedade Ultramarina?) e Sekou Touré absteve-se de se meter com a Armada portuguesa. Saberia que, na batalha do Como, a derrota do PAIGC vinha pelo mar. 

Considerando que essas três ilhas somam pouco mais de 300 Km2 de superfície, a sua efémera “área libertada” estava muito longe dos 2/3, apenas significava 1 % da superfície territorial da Guiné. A verdade que o “polígrafo” da história poderá apurar: a limitação da soberania portuguesa a Bissau e Safim foi uma descarada mentira do PAIGC (a encomenda da ONU?). 

Excerto de uma infografia, relativa à Operação Tridente. Reproduzida com a devida vénia. In: Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso: Os Anos da Guerra Colonial, Volumne 5: 1964 - Três teatros de operações. Lisboa Quidnovi. 2009. 17.

Derrota para o cabo de guerra Nino Vieira, o revolucionário Amílcar Cabral fez do fim da “República Independente do Como” um sucesso, a fazer jus às lições que, em 1960, recebera de Mao e do genial generalíssimo Giap (tinha derrotado o poderoso exército francês estava à beira de derrotar a poderosíssima América). Como não podia realizar o I Congresso na Cassacá da ilha do Como - “Operação Tridente” estava no auge -, mas salvou a face: realizou-o em Cassacá, na plataforma continental, entre 15 e 18 de Fevereiro, e ordenou a Nino Vieira a retirada e o acantonamento do remanescente dos 400 combatentes e famílias do Como para as bases das matas do Cantanhez e de Cufar Nalu.

Nino Vieira saiu com os seus companheiros para o Cantanhez, mas deixou no Como meia dúzia de guerrilheiros m/f, como chama residual da sua “libertação”, comandados pelo desenvolto e cabeludo jovem de 20 anos, Pansau Na Isna de nome, e pela amadurecida mulher balanta de “pistola na liga”, Sona Camará de nome, ambos heróis nacionais bissau-guineenses póstumos, que, cumprindo o “flagela e foge”, muito desassossegaram e desgastaram a malta da CCaç 557, subunidade que ficou na quadrícula em Cachile, comandada pelo Capitão João Ares (apelido do deus da guerra da mitologia grega).

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21485: (In)citações (171): Frei Henrique Pinto Rema, OFM, hoje com 94 anos, Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique (2018), autor da "História das Missões Católicas na Guiné" (1982) (João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, Nova Iorque)

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23401: Notas de leitura (1460): “O percurso geográfico e missionário de Baltasar Barreira em Cabo Verde, Guiné, Serra Leoa”, por Graça Maria Correia de Castro; Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 2001 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Outubro de 2019:

Queridos amigos,
Serão os franciscanos o pilar fundamental da missionação católica na região da Guiné, está historicamente comprovado, basta ler a obra exemplar do padre Henrique Pinto Rema. Os jesuítas fizeram uma aposta forte, entre Cabo Verde, Guiné e Serra Leoa. Iam impulsionados por um museu apostólico considerado difícil de conciliar com as adversidades do terreno e a crítica frontal à natureza do tráfico de escravos. Inflexíveis em negociar os trâmites do seu apostolado, morreram ou tiveram que regressar com a saúde abalada. A correspondência do superior da missão, Baltasar Barreira, é encarada pelos estudiosos e investigadores da Guiné como documentação histórica de grande interesse para o estudo da presença portuguesa na região.

Um abraço do
Mário



Baltasar Barreira e a sua importância na literatura de viagens do século XVII

Beja Santos

A obra intitula-se “O percurso geográfico e missionário de Baltasar Barreira em Cabo Verde, Guiné, Serra Leoa”, por Graça Maria Correia de Castro, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 2001. No escopo essencial da obra, vê-se a autora a analisar um conjunto de cartas missivas do missionário jesuíta Baltazar Barreira, Superior da Missão de Cabo Verde e da Costa da Guiné, escritas ao longo de oito anos, entre 1604 e 1612. Em Portugal governam os Filipes, pululam os corsários, as dificuldades da missionação revelavam-se insuperáveis. Os jesuítas estavam sediados em Cabo Verde e ansiavam por missionar em terra firme, sabiam que iam ser confrontados com animistas e convertidos ao islamismo. Houve a pretensão de instalar uma administração civil e militar na Serra Leoa, mas não houve sucesso. A desistência dos jesuítas estará relacionada com a ausência de apoio temporal, não queriam fazer missionação sem a presença de soldados.

Tudo começa por parecer que ia correr bem, com o batismo do rei em Serra Leoa. Na costa da Guiné, os jesuítas apoiavam-se em lançados e residentes, não podiam contar com mais nada, e caminhando mais para norte havia já um avanço do islamismo instalado com estruturas de ensino e culto a funcionar. Baltasar Barreira contava com colaboradores entusiastas mas que morreram cedo. Sendo responsável pela missão, Baltasar Barreira procura sensibilizar os poderes político e religioso, fala com toda a franqueza, pede apoios de toda a ordem, o que ele escreveu bem como os outros jesuítas é um contributo do maior relevo para a história das missões católicas e para a história deste local da costa africana. Vários estudiosos serviram-se das informações de Baltasar Barreira, é o caso de António Carreira.

Os jesuítas chegaram a África munidos da profunda superioridade da sua cultura, vinham ardorosos para a conversão dos gentios. Por um lado, tudo parecia fácil dado haver uma estreita ligação entre a Coroa e a Igreja, estava ainda de pé o “direito de Padroado”, concedido aos reis portugueses por sucessivos Papas. Portugal assumia a convicção de que era nação missionária por excelência. Recorde-se que em Goa havia uma diocese independente que se estendia do Cabo da Boa Esperança à China. A partir de Goa, dirigiam-se as missões de Moçambique e Etiópia. Para esta missionação mobilizaram-se franciscanos, agostinianos, teatinos, carmelitas, jesuítas, fundavam igrejas e conventos. Malaca, conquistada por volta de 1511, era a base do apostolado missionário.

O primeiro Bispado de Cabo Verde e Guiné foi criado por volta de 1533, compreendia Cabo Verde e a costa ocidental africana, desde o rio Gâmbia até ao Cabo das Palmas, portanto um extensíssimo território, a colonização do homem branco era muito fraca. Como tudo era adverso para a missionação, a evangelização na costa da Guiné realizava-se em regime deambulatório a partir da sede, em Santiago. Recorde-se que a população das ilhas usufruía de regalias para comerciar entre os portos da Guiné e os da Serra Leoa, desde que utilizasse apenas produtos do arquipélago. Mas as transgressões eram muitas, os “lançados” sabotavam as diretrizes régias. E a concorrência estrangeira impunha-se, chegavam atraídos pelo comércio de escravos, cedo se soube na Europa que o ouro aqui não abundava.

A autora esboça o que era o ideal missionário dos jesuítas, o que os distinguia das outras ordens religiosas. Dá-nos igualmente uma nota histórica dos antecedentes dos jesuítas em Cabo Verde e de como se processou a missionação com Baltasar Barreira. A colisão frontal dos jesuítas era com o mercado de escravos, não só em África como no Brasil.

Toda esta documentação cabe no âmbito da chamada literatura de viagens dada a riqueza das descrições de Baltasar Barreira não só sobre as ilhas como sobre a costa africana. Descreve aos seus destinatários a história dos povos, a distância entre os reinos, como constroem as suas habitações, quais os seus recursos, enumera reinos, quantifica e qualifica produtos da terra (madeiras, frutas, as aves, o algodão, o marfim, a cera, o gado, as ostras…). Um tanto paradoxalmente, enquanto está atento ao humano e à paisagem, mostra-se de uma grande incompreensão em relação à religiosidade africana. É minucioso nos tempos reais da viagem entre as ilhas e o continente.

E vale a pena registar o que a autora escreve em jeito de conclusão:
“De Cabo Verde narra-se a forma de governo português e a hierarquização social constituída por uma minoria de homens livres e uma maioria de escravos onde era possível a miscigenação de várias etnias. A situação económica das ilhas era difícil, na origem da qual estavam núcleos temáticos tais como as secas, a fome, a carestia, o desamparo face ao corso e à pirataria proveniente da concorrência estrangeira.
A costa africana, sobretudo a Serra Leoa, constitui a vertente panegírica do relato, quer pelas descrições entusiastas da riqueza da terra, quer pelo clima e paisagem paradisíacos, quer pela boa disposição dos régulos em receber a nova religião. A veemência do jesuíta para que se fundasse colégio naquela região chegou ao ponto de citar, numa das suas epístolas, excertos de uma carta de Pedro Álvares Pereira, manifestando o desejo de auxílio necessário para que aí se implantasse a Companhia.

Foi na Serra Leoa que a evangelização de Baltasar Barreira atingiu o maior sucesso, durante cerca de dois anos, continuada depois pelo seu companheiro Manuel Álvares. O método da persuasão encetado pelas relações de amizade entre o Padre e os Povos, os presentes aos régulos, os convites para as cerimónias e festas religiosas, figuravam sempre em primeiro plano, como função persuasiva.
A herança cultural aliada ao desejo de Baltasar Barreira criar um clero local a partir da construção de um colégio que também servisse de seminário, levou a que os outros padres que se encontravam no arquipélago ensinassem a ler a algumas crianças, e o próprio superior a trazer consigo meninos, filhos de chefes africanos, para que se instruíssem em sua companhia e se tornassem padres também.

Estas cartas missivas têm um louvor permanente à Companhia (…). A programação que Baltasar Barreira imprime, como superior da missão e destinador de um programa narrativo evangelizador, coloca em destaque uma imagem de missionário exemplar que em todos os caminhos é protegido por Deus, destinador último, e a quem nunca se esquece agradecer”
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Uma imagem ideal da missionação, muito divulgada durante o Estado Novo.
Henrique Pinto Rema, missionário franciscano, autor da mais importante obra sobre a missionação na Guiné, a ser condecorado pelo Presidente da República.
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23388: Notas de leitura (1459): “Ébano”, por Ryszard Kapuscinski; Livros do Brasil/Porto Editora, 2018, o mais espantoso trabalho jornalístico sobre a nova África (3) (Mário Beja Santos)