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sábado, 24 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20091: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (13): Hoje faz anos, 73, o António Fernando Marques... Porque recordar é viver duas vezes, e blogar é três... Relembramos o fatídico dia, 13/1/1971, em que o PAIGC nos quis mandar para os anjinhos... O meu querido Marquês, sem acento circunflexo, tem filhos, netos, amigos e camaradas que o adoram... E o Mário Mendes, morto de morte matada 16 meses depois... será que alguém ainda o recorda na sua terra natal? (Luís Graça)


Guiné > Região de Bafatá  > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72) > Janeiro de 1971 > Cemitério de viaturas de Bambadinca... O estado em que ficou o "burrinho", o Unimog 411, conduzido pelo sold cond auto, da CCAÇ 12, António Manuel Soares, que teve morte imediata.

Nhabijões era um grande aglomerado populacional, de maioria balanta, com parentes no "mato", e que era considerada sob "duplo controlo"... A dispersão das diversas tabancas (1 mandinga e 4 balantas: Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe), sua proximidade ao Rio Geba, fazendo ponto de cambança para a margem direita (Mato Cão, Cuor...) e as duas grandes bolanhas (um delas a de Samba Silate, uma enorme tabanca destruída e abandonada no início da guerra), foram motivos invocados para começar a construir, a partir de novembro de 1969, um dos maiores reordenamentos da Guiné no tempo de Spínola. A aposta era também a conquista da população, fugida no mato e sob controlo do PAIGG, vivendo ao longo da margem direita do Rio Corubal (desde a Ponta do Inglês até Mina / Fiofioli).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. (Editada e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. O António Fernando Marques, empresário, reformado, natural de Abrantes, residente em Cascais, nosso grã-tabanqueiro, faz hoje 73 anos... 

Foi meu camarada de infortúnio, era fur mil at inf, pertencia como eu à CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Vivemos no mesmo quarto, fizemos muitas operações juntos. É um amigo que muito prezo.Chamava-lhe, por brincadeira, o "Marquês sem acento circunflexo".

Esteve 17 dias em estado de coma, no HM 241, e 2 anos hospitalizado, em Bissau e em Lisboa, em 1971/72... Penitencio-me de nunca o ter ido ver ao Anexo do Hospital da Estrela, em Campolide, durante anos perdemos o contacto!... Voltei a revê-lo em 1994, no 1.º encontro do pessoal de Bambadinca, em Fão, Esposende. O nosso blogue ajudou-o a reconstituir esses 17 dias que passou no inferno, um presente envenenado do comandante do PAIGC, Mário Mendes (que morreria mais tarde de morte matada, em 1972, sem completar as 28 luas).  Trágica ironia: foi morto pelos mesmos homens, os do nosso 4.º Gr Comb / CCAÇ 12, a quem calhou uma das minas A/C mandadas pôr por ele, à porta do reordenamento de Nhabijões. Se fosse vivo, diria, em conversa connosco, em Bissau, com a voz de guineense: "Mas... guerra era guerra!"... "Pois é, Mário, sempre e em toda a parte, guerra é guerra!"...

Ele, Marques,  acha que me deve a vida, a mim, e eu, Henriques,  estou-lhe grato pelas mesmas razões. Afinal, se  estou vivo, é porque, suprema ironia,  eu ia no "lugar do morto"... Fui eu que o levei, num correria louca, até ao heliporto de Bambadinca... No lugar dele, não sei se teria sobrevivido... Além disso, ele teve um extraordinário anjo da guarda, de nome... Gina! (*)

Um minuto antes da fatídica mina A/C que nos ia mandando para os anjinhos, disputávamos amigavelmente o "lugar do morto", ou seja, discutíamos sobre quem ia à frente, na GMC, ao lado do condutor... Depois da habitual cantilena, "vais tu, vou eu, vais tu"... ele foi para trás, e eu sentei-me à frente... Azar o dele, sorte a minha: ele ia justamente por cima da dupla roda da GMC do lado direito, que fez accionar a maldita mina... Em 13 de janeiro de 1971, aos 20 meses de Guiné. Aqui fica, em sua homenagem, o filme dos acontecimentos (**).

Recordar é viver duas vezes, e blogar é três (***).

Recordo que foi o  comandante Mário Mendes, em pessoa,  e com o sapador do  seu bigrupo,  que nos pôs essas duas minas A/C, à saída do reordenamento de Nhabijões, acionadas por viaturas nossas em 13/1/1971...  Para o Marques a guerra iria durar mais 2 anos, no calvário dos hospitais... Por sorte, esse não foi o meu dia de azar: ia à frente, o Marques ia atrás, em cima da viatura com 2 secções... Eu estava na altura no 4.º Gr Combate, o mesmo que nos vingaria, matando o  Mário Mendes num duelo fatal, em pleno mato... Um ajuste de contas, a lembrar os filmes do faroeste da nossa infância... 16 meses depois, já eu estava há muito na metrópole!... O Marques está vivo, e tem filhos, netos e amigos que lhe dão hoje os parabéns por estar vivo e de boa saúde... O Mário Mendes, que lhe rouba 17 dias de hoje (em que o Marques esteve em coma), já não está entre os vivos... Será que tem alguém, na sua Guiné natal, que se recorde dele ? (****).


História da CCAÇ 12 (1969/71) > (19) Janeiro de 1971: 1 morto de 6 feridos graves aos 20 meses

O dia 13 seria uma data fatídica para as NT, e em especial para a CCAÇ 12 cujos quadros metropolitanos estavam prestes a terminar a sua comissão de serviço em terras da Guiné. Eis o filme dos acontecimentos:


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Da esquerda para a direita, os ex-furriéis milicianos António F. Marques e Luís M. Graça Henriques, da CCAÇ 12 (1969/71), em amena conversa ou talvez disputando amigavelmente o "lugar do morto" (que era ao lado do condutor).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. (Editada: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

(i) às 5.45h o 1º Gr Comb detectou, durante a batida à região de Ponta Coli [, subsetor do Xime,] vestígios dum grupo IN de 20 elementos vindos em acção de reconhecimento aos trabalhos da TECNIL na estrada Bambadinca-Xime e locais de instalação das NT;

(ii) às 11.25h, na estrada de Nhabijões-Bambadinca, uma viatura tipo Unimog 411, conduzida pelo sold comd auto Manuel da  Costa Soares, da CCAÇ 12, que ia buscar, a Bambadinca, a 2ª refeição para o pessoal daquele destacamento, accionou uma mina A/C;

(iii) o condutor teve morte instantânea: ficaram gravemente feridos um oficial (CCS / BART 2917), o alf mil Luís sapador Luís R. Moreira, um sargento,  o fur mil Joaquim Fernandes (CCAÇ 12) e uma praça (CCS / BART 2917);

(iv) imediatamente alertadas as NT em Bambadinca, o Gr Comb de intervenção (4º, CCAÇ 12) recebeu a missão de seguir para o local a fim de fazer o reconhecimento da zona, enquanto outras forças acorriam a socorrer os sinistrados.

Ao chegar junto da viatura minada, o cmdt do 4° Gr Comb, o alf mil cav José António G. Rodrigues, [, já falecido, depois do regresso a Portugal, era funcionário da Segurança Social, em Lisboa] deixou duas praças a fazer a deteção, na estrada e imediações, de outros possíveis engenhos explosivos, no que foram apoiados por alguns elementos do destacamento de Nhabijões, seguindo depois uma pista de peugadas recentes, detectadas nas proximidades, e que se dirigiam para a orla da mata.

Aqui, a 50 metros da estrada, atrás duma árvore incrustada num baga-baga, encontraram-se vestígios muito recentes. Seguindo os rastos através da mata, foi dar-se à antiga tabanca de Imbumbe, um dos cinco núcleos populacionais de Nhabijões, entretanto transferidos para o reordenamento, mas nas proximidades do reordenamento, em Bolubate, aqueles passaram a confundir-se com os do pessoal que trabalhava na bolanha.

Regressado ao local das viaturas, o Gr Comb pelas 13.30h recebeu ordens para recolher, tendo o pessoal tomado lugar no Unimog e na GMC em que tinha vindo. Esta última [onde vinham as secções, comandadas pelos fur mil António Fernando Marques e Luís M. Graça Henriques], entretanto, ao fazer inversão de marcha, e tendo saído fora da estrada com o rodado traseiro, accionaria uma outra mina A/C colocada na berma, a 10 metros da anterior, e que não havia sido detetada pelos picadores.

Em resultado de terem sido projectados, ficaram gravemente feridos o fur mil Marques e os sold Quecuta, Sherifo, Tenen e Ussumane, todos do 4º Gr Comb / CCAÇ 12.

Sofreram escoriações e traumatismos de menor grau o alf mil Rodrigues, o sold trms Pereira e os sold Cherno e Samba.
___________

Notas do editor:

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai nas matas do Rio Biesse... (Luís Graça)



Guiné > Zona leste >Sector L1 > CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) > Um coluna logística ao Xitole... O pessoal fazendo uma paragem na Ponte dos Fulas, destacamento do Xitole.


Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010) & Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Continuação da série A Minha CCAÇ 12, por Luís Graça (,foto à esquerda, ex-Fur Mil Ap Arm Pes Inf] (*).

Resumo (1):  A CCAÇ 12, composta por quadros e especialistas metropolitanos,  chegados à Guiné em finais de Maio de 1969 (CCAÇ 2590), e por soldados africanos, praticamente todos oriundos do chão fula que tinham feito a sua instrução básica e de especialidade em Contuboel, é dada como operacional, a partir de 18 de Julho de 1969, sendo colocada em Bambadinca (Sector L1), como unidade de intervenção, ficando pronta a actuar às ordens de qualquer um dos sectores da Zona Leste da Guiné (em especial dos Sectores L1, L3 e L5).

Durante a sua primeira comissão (1969/71), actou sobretudo no Sector L1 (Bambadinca, correspondente ao triângulo Bambadinca-Xime-Xitole, mas incluindo também, a norte do Rio Geba, os regulados do Enxalé e do Cuor onde começava o famoso corredor do Morès...). A CCAÇ 12 foi uma das primeiras unidades da nova força africana, criada por Spínola.

No subsector de Galamaro (Sector L3) a CCAÇ 12 tem o seu baptismo de fogo e os seus primeiros feridos graves, a 24 de Julho de 1969, em Madina Xaquili. Nos meses seguintes, em plena época da chuva, irá ter uma intensa actividade operacional. Em Setembro, no decurso da Op Pato Rufia (assalto a uma acampamento avançado do IN na zona da Ponta do Inglês), a CCAÇ 12 irá sofrer o seu primeiro morto.

No texto a seguir relata-se a actividade operacional relativa ao mês de Agosto de 1969, donde se destaca a Op Nada Consta, com forças da CART 2339 (subunidade de quadrícula de Mansambo, pertencente ao BCAÇ 2852, 1968/70), o Pel Caç Nat 53  e tropas pára-quedistas do BCP 12 (ao serviço do COP 7, Bafatá), no decurso da qual é feito um prisioneiro, Malan Mané,  e ferido gravemente o comandante Mamadu Indjai, entre outras baixas. (**)



Agosto de 1969: Op Nada Consta, operação conjunta da CCAÇ 12 com forças pára-quedistas do BCP 12 (Galomaro), o Pel Caç Nat 53 (Bambadinca) e a CART 2339 (Mansambo)

Candamã, tabanca fula em autodefesa do regulado do Corubal, é atacada durante mais de duas horas até ao amanhecer do 30 de Julho. Esse brutal ataque (o PAIGC utilizou  um bigrupo e armamento pesado) surgiu na sequência do recrudescimento da actividade IN no tradicional triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, após a Op Lança Afiada.

Nesta operação que se realizou, de 8 a 18 de Março último, a nível de agrupamento, estiveram empenhados 1.300 homens (incluindo milícias e carregadores civis), tendo as NT penetrado em santuários do IN, como a mata do Fiofioli

Embora desarticulado o seu dispositivo na área compreendida entre a linha geral Xime-Mansambo-Xitole e a margem direita do Rio Corubal, o IN não deixaria, no entanto, de desencadear um ou dois meses depois uma série de acções de guerrilha que culminariam com um ataque, em força,  ao aquartelamento de Bambadinca, na noite de 28 de Maio de 1969.

Só no subsector de Mansambo, o IN tinha até então montado 2 emboscadas (1 com mina comandada) às NT, flagelado 5 vezes o aquartelamento de Mansambo e atacado em força o destacamento de milícias de Moricanhe (retirado a seguir). 

Desta vez (isto é, com o ataque a Candamã, a 30 de Julho),  tudo indicava que o IN se tinha instalado no regulado do Corubal, dispondo para o efeito duma cadeia de acampamentos temporários (barracas) que lhe dava ligação às suas bases mais recuadas, junto ao Rio Corubal (Galo Corubal, Mina/Fiofioli, Mangai, Ponta Luís Dias... vd. cartas do Xime, Xitole e Fulacunda).



O triângulo Bambadinca-Xime-Xitole. Pormenor do mapa do Sector L1. 

Infogravura: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados



A missão da CCAÇ 12 era, portanto, detectar o IN. Assim, a 2 de Agosto, 3 Gr Comb (1º, 3º  e 4º) voltam a Candamã para um patrulhamento ofensivo na região de Camará. Estava-se então no auge das chuvas, o que tornava muito difícil a detecção de vestígios humanos no mato. Descobriu-se, no entanto, o trilho que o IN utilizara na retirada do ataque à tabanca de Candamã, dias antes,  e que ia dar a região de Galo Corubal / Biro (Op Guita I).


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada de Bambadinca-Mansambo. Eu e o Dalot, o Diniz G. Dalot, talvez o melhor condutor de GMC do mundo ou pelo menos o melhor que eu alguma vez conheci... Berliet e GMC nas mãos dele, carregadas de sacos de arroz, não ficavam atoladas na famosa estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole, a menos que rebentassem debaixo de uma mina. Eu dizia que era preciso ser maluco para conduzir uma GMC. Ele ofendia-se: era o mais profissional dos nossos condutores auto... Reguila, setubalense, de apelido francês, apanhou logo no princípio da comissão, em Julho de 1969, cinco dias de detenção. (LG)

Foto: © Luís Graça (2005) / Blogue Lúís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



A 4 de Agosto, efectua-se a Op Belo Dia em que participa o 2º Cr Comb com forças da CART 2339, de Mansambo (Destacamento A),  para abertura do itinerário Mansambo-Xitole, interdito deste Novembro de 1968, altura em que uma coluna logística do BCAÇ 2852 sofrera 2 emboscadas (a primeira com mina comandada) no regresso a Bambadinca, a cerca de 2 km da Ponte dos Fulas,  tendo prosseguido com apoio aéreo. 

Na Op Belo Dia, não foram encontradas minas nem abatizes mas o IN emboscou 1 Gr Comb do Dest B (Xitole) na Ponte dos Fulas quando estava a reabastecer-se de água.

Entretanto, de 5 a 17 de Agosto, o 4º Gr Comb foi reforçar o Sector L2, sendo destacada 1 secção para Saré Gana e 2 para Sare Banda (subsector de Geba). Dias antes o IN fizera um ataque malogrado à tabanca em autodefesa de Sinchã Sutù.

A 6 de Agosto, 2 Gr Comb levam a efeito uma batida conjugada com emboscada na região de Candamã, não tendo encontrado quaisquer vestígios (Op Gungadim). Porém a 11, numa nova batida efectuada pelo 3º Gr Comb e e Pel Rec Inf da CCS/BCAÇ 2852 detectaram-se sinais muitos recentes do IN. De regresso a Candamã, as NT foram flageladas à distância com morteiro 60 e LGFog (, Lança-granadas-foguetes), da direcção de Camará (Op Gancho).

A 12, a CCAÇ 12 realiza a Op Gancho II. E a 15, a Op Gancho III, juntamente com forças da CART 2339, para uma batida à zona de Áfia / Camará. Às cinco da manhã, aquela tabanca em autodefesa (reforçada com 1 secção de um pelotão de Mansambo) tinha sido atacada pelo mesmo grupo IN que fora a Candamã, sofrendo a população 3 mortos e 9 feridos.

Vestígios deixados pelo IN (peugadas no capim e terra remexida pelo prato-base do morteiro 82) durante um alto ou mais provavelmente no ponto de reunião, levariam entretanto as NT à localização dum acampamento, situado na mata a sul do Rio Biesse onde foram surpreendidas pelo ruído do pilão, tendo avistado alguns elementos armados na orla da bolanha. Os efectivos das NT não eram, porém, suficientes para o golpe de mão imediato e, de resto, a sua missão era apenas de reconhecimento, pelo que retiraram o mais cautelosamente possível.

Três dias depois, a 18 de Agosto, e com base no reconhecimento que se efectou à área, forças pára-quedistas fariam um heli-assalto ao acampamento em referência, numa operação conjunta do Sector L1 e COP 7 (Bafatá). As forças do COP 7 eram constituídas pela CCP 123, a 2 Gr Com, e a CCP 122,  a 1 Gr Com, aquarteladas em Galomaro. (Op Nada Consta)


Op Nada Consta: Desenrolar da acção


Enquanto as forças do Sector L1 ficavam emboscadas nas proximidades da bolanha do Rio Biesse (a leste, a CCAÇ 12 com 3 Gr Comb dispostos em semicírculo; a norte, o Pel Caç Nat 53; a oeste, forças da CART 2339, a 2 Gr Comb; e ainda  1Gr Comb da CART 2339, na estrada Mansambo-Xitole,  junto à ponte do Rio Bissari, XIME 7A5-85 ), veio a primeira vaga de pára-quedistas que foram colocados na ponta oeste da bolanha, penetrando imediatamente na espessa mata que se estende para sul.

Cinco minutos depois, é capturado um elemento IN armado de RPG-2. Sucederam-se mais duas vagas de helicópteros, transportando outros tantos Gr Comb dos páras e a mata passou a ser percorrida de norte para sul.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Interrogatório a um prisioneiro, o guerrilheiro Malan Mané. Quem preside ao interrogatório é o Alf Mil Torcato Mendonça. A foto é do Alf Mil Cardoso, e chegou-nos à mão através do ex-Fur Mil Carlos Marques dos Santos, de Coimbra. "Pela disposição dos presentes é fácil imaginar a brutalidade do interrogatório. O militar das patilhas sou eu, na escrita" (TM).

Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


0 prisioneiro, Malan Mané, de seu nome, de etnia mamdinga, entretanto, não dera nenhuma informação que permitisse levar à localização de qualquer arrecadação de material ou acampamento importante. Confessou apenas que no local se encontravam cerca de 80 homens (dois bigrupos), sob o comando de Mamadu Indjai, dispersos em pequenos grupos pela mata, e com quem os páras estabeleceriam depois contacto, fazendo 2 mortos e capturando 3 armas automáticas (***).

0 mau tempo não permitiu o bombardeamento prévio da zona na direcção N-S, pelo que o IN conseguiu fugir da zona do heli-assalto, não obstante o fogo do helicanhão [, o Lobo Mau]. Na retirada, porém, um grupo cairía numa emboscada afastada que forças da CART 2339 tinham montado no itinerário Mansambo-Xitole, próximo da ponte sobre o Rio Bissari, e em resultado da qual ficaria gravemente Mamadu Indjai (soube-se mais tarde). Houve ainda dois mortos confirmados do lado do IN.

Devido às condições atmosféricas (péssimas, segundo os relatórios), a Op Nada Consta só começaria às 9.30h, com o heliasssalto. Sempre sob mau tempo, os páras regressam a Galomaro às 16.30h do mesmo dia.

Entretanto, o  IN retirava na direcção de Biro onde os páras foram no dia seguinte, na exploração imediata das informações dadas pelo prisioneiro, Malan Mané, capturando mais material.

O material apreendido pelos páras incluiu: 

- 1 Metr Lig Degtyarev; 
- 1 LGFog RPG-2; 
- 1 Esp Aut Kalashnikov (distribuída a um elemento IN, de nome Baio); 
- 1 Pist Metr PPSH; 
- 3 cunhetes com munições; 
- 7 granadas de RPG-2;
-  9 granadas de Mort 60; 
- diversos bormais, marmitas, fardamento e botas novas; documentos de interesse, incluindo relatórios onde se refere a ocorrência de 2 mortos e 6 feridos, por parte do IN, no ataque a Candamã, a 30 de Julho de 1969.

Pela CART 2339, foram levantadas duas minas A/C.

Entretanto, a 30 de Agosto, o 1º, o 3º e 4º Cr Comb da CCAÇ 12, num patrulhamento ofensivo à região do Rio Biesse, Demba Ioba, Sambel Bare, Sinchã Mamadi e estrada de Mansambo, percorreriam 6 acampamentos IN recém-abandonados, ao longo dum trilho principal que conduzia à região de Biro, atravessando o itinerário Mansambo-Xitole.

No primeiro acampamento, encontrou-se o cadáver dum chefe IN identificado pelo prisioneiro que servia de guia, e que teria morrido em consequência de ferimentos recebidos em combate, durante a Op Nada Consta. Em escassos dias, as formigas carnívoras e os abutres tinham-no reduzido a um esqueleto desconjuntado.

Vestia uma espécie de dolmen impermeável que ainda estava em bom estado, assim como as botas... Num outro acampamento a seguir, foram encontradas um maço de cartas escritas em árabe (ou caracteres arabizados) e uma planta do aquartelamento de Mansambo, com as posições da artilharia, localização dos abrigos-casernas, espaldões, etc.

Em virtude do guia se ter perdido, os 3 Gr Comb da CCAÇ 12 só atingiram a estrada de Mansambo no dia seguinte de manhã, tendo regressado juntamente com o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 e forças da CART 2339 que haviam ficado emboscados no trilho de Biro, paralelamente à estrada. Até Mansambo, verificaram-se numerosos casos de esgotamento físico entre os Gr Comb da CCAÇ 12 que efectuaram a Op Gancho IV.


Fontes consultadas:


História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971. Cap. II. 8-11.

Guiné 68/70: História do Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. Bambadinca: BCAÇ 2852. 1970. Cap. II. 102.

Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, I e II Séries

Diário de um Tuga (notas pessoais de L.G.)
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Notas de L.G.

(*) Vd. postes anteriores desta série:

29 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6490: A minha CCAÇ 12 (3): A única história da unidade, no Arquivo Histórico-Militar, é a que cobre o período de Maio de 1969 (ainda como CCAÇ 2590) até Março de 1971... e foi escrita por mim, dactilografada e policopiada a stencil (Luís Graça)

25 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6642: A minha CCAÇ 12 (4): Contuboel, Maio/Junho de 1969... ou Capri, c'est fini (Luís Graça)

7 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6686: A minha CCAÇ 12 (5): Baptismo de fogo em farda nº 3, em Madina Xaquili, e os primeiros feridos graves: Sori Jau, Braima Bá, Uri Baldé... (Julho de 1969) (Luís Graça)


(**) Repare-se na desproporção de meios: as forças do IN são estimadas em 60/80 elementos; as NT mobilizaram para esta operação 10 grupos de combate, ou sejam, cerca de 250/300 homens: 3 Gr Comb do BCP 12 (CCP 122 e 123); 3 Gr Comb da CCAÇ 12; o Pel Caç Nat 53; e, por fim, mais 3 Gr Comb da CART 2339.


Vd. também outros postes sobre a Op Nada Consta e o prisioneiro Malan Mané:

6 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXV: A Op Nada Consta vista pelo lado da CART 2339 (Mansambo)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2683: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (9): O Jorge Félix e o Prisioneiro

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1011: A galeria dos meus heróis (4): o infortunado 'turra' Malan Mané

25 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P906: CART 2339 e Malan Mané, duas estórias para duas fotos (Torcato Mendonça)

(...) Só um apontamento sobre o Malan.

Em Agosto de 1969, o meu Grupo de Combate reforçado com Milícias, estava no COP 7, ou melhor, a trabalhar para a Companhia do Cap Mil Jerónimo, em Galomaro [CCAÇ 2405]. Como as Tabancas, em autodefesa, de Candamã e Afiá voltaram a ser atacadas, fomos chamados com urgência a Bambadinca. Houve uma reunião com o Comandante do Agrupamento – Coronel ou Brigadeiro Hélio Felgas -, o Tenente Coronel Pimentel Bastos, Comandante do BCAÇ 2852 e outros oficiais cujo nome já não recordo.

Recebemos a missão. Partir de imediato para Candamã / Afiá com mais um Grupo da minha Companhia. Recolhemos mais informações, com o Comandante da CART 2339, Capitão do Quadro Permanente Laranjeira Henriques, e, em coluna auto, deslocámo-nos para lá.

Na passagem por Afiá consegui convencer o Lhavo, caçador e guia em várias operações, para nos voltar a orientar. Mostrou-se relutante. Tinha as suas razões e, se bem me lembro, estavam correctas.

No dia seguinte lá partimos com o Lhavo e encontrámos a pista do IN. Seguimo-la, em progressão balanta. Vimos um local de pernoita, calculámos quantos seriam e, no fim do dia, descobrimos o possível local do acampamento. Som de pilão e outros indícios. Além disso, o local era óptimo para um acampamento.

Dois dias depois, salvo erro, forças das CCAÇ 2590 [CCAÇ 12], CART 2339 e o Pel Caç Nat 53 montaram emboscadas em possíveis locais de fuga do IN. Paraquedistas do Cop 7 assaltaram e destruíram o acampamento. Capturaram o Malan Mané. Na fuga o IN, junto á estrada Mansambo/Xitole, caiu numa emboscada da CART 2339. Sofreram baixas e foi ferido com gravidade o Comandante do PAIGC, Mamadu Indjai

A nossa tropa regressou a quartéis e eu voltei a Mansambo. Uns dias depois entregaram-nos o Malan Mané. Íamos fazer uma operação – Pato Rufia – na zona do Xime e o Malan era o guia . Ele já tinha sido interrogado, creio que em Bambadinca. Não sei como decorreu mas imagino. Pelo breve relatório que nos entregaram disse pouco.

Em Mansambo o Malan foi para um dos dois abrigos do meu Grupo. Estes abrigos tinham uma sala que servia como refeitório, local de convívio, escrita e leitura e outros fins. Ficava na parte do abrigo virada para a parada, rodeada por duas fiadas de bidões com terra e tecto de zinco e colmo.

Entrei nessa zona e o Malan levantou-se, olhando para mim com um olhar inquieto, no mínimo. Fiquei, eu e os outros militares surpreendidos com aquela reacção. Como ele não falava mandinga e o meu crioulo era fraco, mandei chamar o Lali.É o guineense que se vê a sorrir na foto. Quando sentimos que o Malan estava mais calmo, conversámos com ele durante o tempo necessário para obter muitas informações. Foram passadas, as mais importante, a muitas folhas de papel.

O Malan sabia quem eu e outros camaradas éramos porque vinham, ele e outros militares do PAIGC, espiar-nos aquando da construção de Mansambo; tinha estado na fatídica emboscada da fonte, cerca de um ano antes. Viram-me passar mas não abriram fogo pois o objectivo era a fonte. Nesse dia fui com o meu Grupo á Moricanhe onde estava o Pelotão de Milícias 145. Disse-nos que o Cmdt do PAIGC para aquela zona era o Mamadu Indjai, recentemente reforçado e tendo 120/150 combatentes, com armas pesadas etc, etc. Não sabia o que entretanto sucedera ao seu ex-comandante.

Parece um relato de um santo. Claro que não o éramos. Aplicávamos a dureza julgada necessária, a disciplina, estávamos certos que o suor poupava sangue. Além disso sobre a Convenção de Genebra… só de nome… um conjunto de Leis, será?... Genebra, a cidade Suiça e a detestável bebida!... Mantínhamos era a nossa dignidade e o respeito por quem contra nós lutava. E não só.

Voltando ao Malan Mané. No dia seguinte fomos para o Xime. Correu mal a operação. O Malan enganou-se demasiadas vezes e, além de não atingirmos o objectivo, viemos de mãos a abanar.

Essa operação foi repetida, segundo me parece e o Malan foi ferido…Encontrei-o, em Novembro de 1969 no Hospital Militar em Bissau. (...).

(***) Publicaremos, numa próxima oportunidade a versão de um oficial pára-quedista que participou nesta operação e na captura do Malan Mané. É um precioso testemunho em directo (enviada em 30 de Julho de 2009) do nosso leitor SNogueira que, por razões que desconhecemos mas que respeitamos, não quer integrar a nossa Tabanca Grande. Tal não o impede de, amiúde, ter um papel activo no nosso blogue, visualisando e comentando os postes que publicamos. Na qualidade de combatente na Guiné, é nosso camarada.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13944: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XVIII: jullho de 1973: (i) mais um ataque, no Rio Geba Estreito, em São Belchior, a seguir ao Mato Cão, à uma embarcação civil, a "Manuel Barbosa"; (ii) colocação, em Bambadinca, da CCAÇ 21, como unidade de intervenção do CAOP2, comandado por Abdulai Jamanca; (iii) pemetração na mítica mata do Fiofioli.


Guiné >  Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > Rio Geba > c. 1968 >  Passagem de um barco civil, a caminho de Bambadinca, através do Rio Geba Estreito.  Fotos Falantes II, álbum do Torcato Mendonca. alf mil art, CART 2339 (Mansambo, 1968/69).

Foto: ©  Torcato Mendonça  (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]




1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir e cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso incialmente  indicamos); economista, bancário reformado, formador; foto atual à esquerda].


O destaque do mês de julho de 1973 (pp. 61/63) vai para:

(i)  o ataque, no Rio Geba Estreito, em São Belchior, a seguir ao Mato Cão, à embarcação "Manuel Barbosa" (, ligada a uma comercial de Bissau, se não erro); o barco, civil,conseguiu chegar a Bambadinca com um ferido;

(ii) a colocação, em Bambadinca, da CCAÇ 21, como unidade de intervenção do CAOP2; era inteiramente composta por quadros e praças do recrutamento local, sendo comandada pelo cap cmd graduado Jamanca;

(iii) a CCAÇ 21 entra na zona de Mina / Fiofioli.


Jullho de 1973: (i) mais um ataque, no Rio Geba Estreito, em São Belchior, a seguir ao Mato Cão, à uma embarcação civil, a  "Manuel Barbosa"; (ii) colocação, em Bambadinca, da CCAÇ 21, como unidade de intervenção do CAOP2, comandado por Abdulai Jamanca; e (iii) as NT penetram na mítica mata do Fiofioli

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2592: Voando sob os céus de Bambadinca, na Op Lança Afiada, em Março de 1969 (Jorge Félix, ex-Alf Pil Av Al III)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Alouette III, a descolar do heliporto local. O piloto era o Coelho, diz a legenda do fotógrafo, o Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp, CCAÇ 12 (1969/71). O Humberto Reis conviveu, de muito perto, com a malta da FAP, o que lhe permitiu tirar algumas das melhores fotos aéreas que já aqui publicámos... Inclsuive ele julga conehcer o Joirge Félix, que o etrá desenrascado numa situaçãod e apuro em finasi de Julho ou princípios de Agosto de 1969, em Madinba Xaquili (1)...

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Fiofioli > Março de 1969 > Operação Lança Afiada (2, 3). O temível helicanhão. Um Alouette III, com canhão lateral de calibre 20 mm. No mato, em operações, o helicóptero era o nosso anjo da guarda, como muito bem diz o nosso camarada Paulo Raposo que estve na Op Lança Afiada, como Alf Mil Inf da CCAÇ 2405 (2). A presença do heli e sobretudo do helicanhão era sempre securizante e protectora. Até ao dia, nos primeiros meses de 1973, em que a nossa supremacia aérea foi sa ser contestada pelos foguetões terra-ar Strella... (LG).


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Fiofioli > Março de 1969 > Operação Lança Afiada. O Alf Mil Paulo Raposo, da CCAÇ 2405, junto a um dos helicópteros. O número de evacuações, por insolação, desidratação, doença, ataque de abelhas e esgotamento foi enorme: mais de uma centena de casos (3)

Fotos: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados


1. Mensagem do novo habitante da nossa Tabanca Grande, Jorge Félix (que foi Alf Mil Pil Aviador de helicóptero Al III, Guiné , 1968/70) (1)

Caro Luís Graça.

Ontem eram 5 da madrugada , hoje são 4:50, voos noturnos que a idade nos vai permitindo ter.

Não é facil contar histórias da nossa Guiné, nunca conto, e julgo que nem quero contar, no entanto o vosso Blog é ganda ronco e merece uma colaboração. Fotos, tenho muito poucas, foram-se para os álbuns dos filhos e estão muitas perdidas. Espero que na continuidade da nossa correspondência apareçam fotos, sabe-se lá.

As recordações contadas a mais que uma voz, porque o tempo dilui muita coisa, podem vir a ser mais reais.

... No seu tempo fui a Bambadinca no dia 12 de Março de 1969. Na caderneta de voo consta o seguinte: Bs- Buba -Bambadinca (1 hora 40 minutos). Depois de estar em Bambadinca fiz TGer (transporte geral) e Tevs (transporte evacuações)- Bambadinca-Zops (zona operacional) com cinco aterragens e a duração de 1 hora e 40 minutos.

No mesmo dia mais 35 minutos outro voo de Tevs Zops-Bambadinca, duas aterragens. Mais uma hora e 20 minutos voo de TGer - Tevs Bambadinca-Mansambo-Zops, 10 aterragens. Mais um voo de 30 minutos com duas aterragens a fazer Tger e Tevs. Finalmente para terminar esse dia viagem de 15 minutos para Bafatá, onde devo ter dormido. Este dia longínquo de 12 de Março de 69 voei seis horas nos Céus da sua Bambadinca.

Virei a página da caderneta e vejo que no dia 13 foi a mesma "movimentação" , 25 aterragens e 3 horas de voo; no dia 14 Bafatá-Bambadinca-Zops duas horas e meia de voo; dia 15 mais seis horas e 15 de voo com Tevs e Tger para a Zops; no dia 16 Bambadinca- Bafatá- Zops com duas horas de voo. Voltei para Bafatá numa DO27. No dia seguinte vim para Bissau. Viagem que demorava mais ou menos 5o minutos.

Isto tenho eu aqui escrito mas não me recordo que manobras foram estas e com quem.(De momento estou com arrumações e tenho o scanner perdido, logo que acabe as obras, vou lhe enviar estas páginas da caderneta).

Será que a memória do seu Blog terá imagens e relatos destes dias ? Alguém se lembra o que aconteceu nesses dias? (3) Tenho a ideia que foi numa dessas operações que um exame de abelhas entrou por uma porta do Heli e saiu por o outro lado sem incomodar ninguém.

Não é estranho que me recorde disto e nada mais ...

Já são seis horas, vou me deitar.

Boa viagem para a terra das bolanhas, beba lá um copo por mim, dê saúdades àquele Povo.
Jorge Félix

__________

Notas de L.G.:

(1) Mensagem que recebi hoje, do Humberto Reis:

(...) Este nosso novo tertuliano Jorge Félix, ex-alf mil pil av, julgo que era um que andava quase sempre com botas de cano alto. O comandante da esq 123 era o cap Cubas, de alcunha o Canibalão, pois a esquadrilha era a de Os Canibais. O Cubas foi substituído em 70, se não me engano, pelo cap Morais da Silva, que chegou a ser CEMFA depois do 25 de Abril.

Se a memória não me falha, 39 anos depois, foi o Félix que me aterrou em Madina Xaquili, em Agosto de 69, e deu o alerta (tínhamos ficado sem rádio após a flagelação) de que necessitávamos de evacuações Y para os feridos graves e munições várias. Ele aterrou porque viu os nossos sinais de cá de baixo e desconfiou que tinha havido problemas (acertou).

Transportava alguns pára-quedistas que tinham nessa altura uma companhia em Galomaro, e foram eles que nos enviaram os primeiros cunhetes de munições para nos desenrascar Chegou-nos um héli 1 ou 2 horas depois com as munições e fez as evacuações dos 2 feridos graves que vieram para o HMP na Estrela.

Deve ter sido contemporâneo do ex-alf mil pil av (Al III) Solano de Almeida que eu conheci lá e o pai, comandante da TAP, conheci-o cá muito bem com o seu belo barco (gostava de andar no ar e na água).

É do tempo dele tb o ex-fur mil pil av Rui Branco que depois de vir de lá foi instrutor de voo no Aero Clube de Torres Vedras. Tb o Manuel Santana, ex-alf mil pil av que morava aqui em Sete Rios, foi do tempo dele.

Enfim tanta malta conhecida a quem perdi o rasto. Eu que tantas noites dormi lá na base e convivi com muitos deles, nunca mais soube nada. Pode ser que o Félix tenha contactos dessa malta do nosso tempo em comum, 69 e 70, e esteja disposto a repartir connosco algumas memórias daquela época. Contacta com ele nesse sentido. Ela mora aqui na zona de Lisboa? Tens um contacto telefónico? Se necessário podes dar o meu 918 776 460 (esquece o outro 919 039 672, que só me dá problemas) (...).

Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008> Guiné 63/74 - P2587: Gandembel: Será que ainda estão vivos os jovens que eu evacuei, em Outubro de 1968 ? (Jorge Félix, ex Alf Mil Piloto Aviador)

(2) Vd. poste de 6 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P941: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (13): Operação ao Fiofioli

(...) A mata do Fiofioli era uma mata bem controlada pelo inimigo. Era um tufo rodeado de bolanha por todos os lados, fazia lembrar uma ilha.

Para se desalojar o inimigo, preparou-se uma grande operação, prevista para durar oito dias, com várias companhias envolvidas. Todo o abastecimento tinha de ser feito por heli. E lá fomos mais uma vez.

Houve um dia que os helis não conseguiam descer para nos abastecer de água devido à vegetação densa. Passámos muita sede. Nesse dia tivemos de beber água de um charco lamacento. Como? Tirámos o quico, nome que dávamos ao boné, que estava todo sebento, enchemo-lo de lodo, e, por baixo, íamos apanhando a humidade às gotas. Só acredita quem por lá passou.

(...) As baixas até ao fim da operação foram muitas, umas por exaustão, outras por oportunismo. Um dos meus rapazes, que transportava o cano da bazuca, a meio da operação, quando passou por perto de um heli, meteu-se nele para ir embora, deixando no chão o tubo abandonado.

(...) De lá trouxe um livro do inimigo, que ensinava as crianças a ler. Depois foi o regresso. Mais uma penosa caminhada. Os helis andavam no seu vai vem abastecendo-nos de água e rações de combate. Tínhamos de ser nós, os oficiais, a tomar conta da água e a distribuí-la por todos igualmente. Os helis eram assaltados se não tivéssemos organizado este sistema. (...)


(3) Sobre a Op Lança Afiada (8-18 de Março de 1969, Sector L1, Bambadinca), vd. postes de:

15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII: Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli (Luís Graça)

(...) Iniciada em 8 de Março de 1969 com a duração de 11 dias, a Op Lança Afiada foi uma das grandes operações que se realizaram na época, ainda no início do consulado do brigadeiro António Spínola (1968-73), um mês depois da trágica retirada de Madina do Boé.

A Op Lança Afiada envolveu cerca de 1300 homens, entre militares, milícias e carregadores. Houve cerca de duas dúzias e meia de flagelações das NT por parte dos guerrilheiros, os quais no entanto se furtaram ao contacto directo.


As populações sob controlo do IN passaram, com alguma segurança, para o outro lado do rio Corubal. Os fuzileiros não puderam ou quiseram participar nesta operação, que também não envolveu outras tropas especiais (comandos e páras). Foi, pois, uma operação só com tropa macaca, embora a nível de regimento, sendo comandada por um coronel (Hélio Felgas). Quase um terço dos efectivos eram carregadores !!!

Pensava-se que em Mina, junto ao Rio Corubal, estaria sedeado o Comando do Sector 2, da estrutura político-militar do PAIGC. Pensava-se também que havia um grande hospital, com médicos e enfermeiras... cubanos!

Do ponto de vista militar, a operação foi um bluff... Em contrapartida, houve inúmeras evacuações (n=110) dos nossos combatentes, devido a problemas de desidratação, desnutrição, esgotamento físico e stresse psicológico...


É interessante a análise do autor do relatório sobre os sucessos e os insucessos desta megaoperação de...limpeza.

Damos hoje início à publicação de alguns excertos desse relatório. Tratando-se de uma fotocópia de um documento dactilografado e possivelmente policopiado a stencil, com data de 1970, há erros e omissões que eu procurei colmatar ou corrigir, sempre que possível. Também substituímos algumas abreviaturas para tornar o texto mais legível para os paisanos ou os que não fizeram tropa nem estiveram na Guiné. L.G. (...)


9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas (Luís Graça)

Negritos, da responsabilidadfe do editor L.G.

(...) Dia D + 4 (12 de Março de 1969)

Os Dest A e B continuaram batendo a área 6 sem nada encontrarem.

Na área 4, o Dest B foi flagelado às 10H10 tendo sofrido um ferido ligeiro mas feito baixas confirmadas. Combinando a manobra com o Dest C, capturou 3 nativos e queimou diversas tabancas na área. O Dest C foi flagelado às 11H00 tendo 3 feridos ligeiros que não evacuou e fez um morto confirmado ao IN.

Quanto ao Dest E, dera a volta próximo da margem esquerda do Rio Buruntoni, queimara 2 toneladas de arroz numas casas junto ao caminho para Ponta do Inglês, capturara inúmeros animais domésticos e tivera contacto com o IN às 13H00, sofrendo um ferido que fora evacuado. Apreendera material ao IN.

O Dest F, agora reforçado por um Gr Comb do Dest G, devido às numerosas evacuações que tivera que fazer, mantinha-se emboscado a Norte da Foz do Rio Bissari. O resto do Dest G continuava emboscado a Norte do Galo Corubal. E os Dest H e I bateram a área 10, tendo a sua actuação sido prejudicada pela demora dos reabastecimentos e evacuações.

O milícia ferido em 111630 (gravemente, segundo o parecer do enfermeiro) só foi evacuado em 121315 embora os comandantes da Operação e do Agrupamento Táctico tivessem sido largados no local cerca das 9H00. Por razões desconhecidas, porém, o piloto não quis evacuar o ferido em nenhum das 2 vezes que lá foi deixar água.

Na margem oposta do Rio Corubal viam-se elementos IN que foram metralhados pelo helicanhão. A tabanca de Inchandanga Balanta ficou a arder.

Durante o incêndio de uma das tabancas entre Galo Corubal e Dando rebentaram inúmeras munições que provavelmente estavam escondidas no colmo dos tectos.

Os ataques das abelhas continuavam a mostrar-se mais perigosos que as flagelações IN pois o pessoal carregador tudo abandonava para fugir aos enxames que, nesta época, são extremamente agressivas.

Cerca das 13H15, num helicóptero insistentemente pedido, os comandantes da Operação e do Agrupamento Táctico foram transportados a Bambadinca juntamente com o milícia ferido, o qual seguiu para Bissau.

A deficiência do apoio aéreo em reabastecimentos, evacuações e recomplementos levou a fazer mensagens e a focar o assunto no RELIM [Relatório de Informações sobre a Actividade Operacional].


Dia D + 5 (13 de Março de 1969)


Os Dest A e B aproximaram-se de Tubacutá (área 5). Durante a noite anterior ouviram um motor dum barco fazendo travessias do Rio Corubal na região entre Queroane e Fiofioli. O movimento durara desde as 19H00 do dia 12 e as 4H00 do dia 13.

Os Dest C e D continuaram destruindo a enorme tabanca de Ponta Luís Dias, com uma grande escola onde havia muitos livros e cadernos. Por seu lado, o Dest C, às 7H30, destruíra cinco canoas em local com indícios de ter tido grande movimento durante a noite. Todos estes Dest apanharam e consumiram centenas de animais domésticos. Cerca das 19H30 o Dest E sofreu nova flagelação, tendo nove evacuados no dia seguinte.

Os Dest H e I detectaram e destruíram o acampamento IN de Gã Júlio, enquanto os F e G faziam o mesmo ao de Mina. Ambos estes acampamentos haviam sido recentemente abandonados. Tais como outros, ainda tinham comida quente. Este facto constou do comentário ao RELIM deste dia, no qual pedia o estabelecimento de emboscadas nocturnas na outra margem do Rio Corubal.

Neste dia houve uma reunião em Bambadinca com Sua Excia. o Comandante-Chefe e o Exmo. Comandante da Zona Aérea que disseram ao Comandamte da Operação estar a ser excessivo o esforço pedido à FA [Força Aérea]. Expondo-se como esses meios estavam a ser empregues.

Por outro lado Sua Excia. deu Directivas sobre a recolha do arroz IN. Ficou ainda estabelecido não proceder a quaisquer recompletamentos, excepto de oficiais e sargentos, a fim de aliviar os meios aéreos. (...)


9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli (Luís Graça)

14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal (Luís Graça)

(...) Dia D + 8 (16 de Março de 1969)

Os Dest A, B e C actuaram entre Queroane e Mangai destruindo tudo à sua passagem. O que sobrara de Mangai ficou reduzido a cinzas. Foram ainda capturados 3 nativos e feitos 2 mortos confirmados.

Os Dest F, G e I voltaram a bater a mata do Fiofioli mas agora no sentido Leste-Oeste. Inicialmente, porém, deslocaram-se por indicação do guia à zona (C8-71) e aí do lado de lá da bolanha, e portanto já fora da mata do Fiofioli, encontraram espalhado pelo mato, além de novos documentos, importante e valioso material de guerra que deu para encher mais de dois helis.
Os Dest E e H bateram também no sentido Oeste-Leste e Sul da mata e foram acabar de destruir a tabanca de Fiofioli, capturando ainda muitas munições.

Nesse dia, às 10h30 houve nova reunião em Bambadinca com Sua Excia o Comandante-Chefe. Sua Excia informou que em virtude de ter de realizar uma operação noutro Sector, determinava a suspensão do apoio aéreo em 17 [de Março] e o embarque dos Dest A, B e C em Ponta Luís Dias nesse dia com destino ao Xime. Os outros Dest do Agrupamento Sul não seriam reabastecidos em 17. Que o seriam em 18 mas compreendeu-se mal pois, segundo Sua Excia, em 17 o esforço aéreo não poderia ser mantido e só seria deixado o heli de evacuações. No entanto, os Dest do Agrupamento somavam nessa altura mais de 750 homens que seria necessário reabastecer de água e alimentação (os Dest A, B e C somavam entre 450 e 500 homens). (...).

c. Apoio aéreo

Inicialmente o apoio aéreo, no que respeita a reabastecimentos, revelou-se deficiente. O facto de não ter sido cedido o heli ao Comandante da operação, dificultou a acção de comando e influiu nos rendimentos dos meios à disposição, pois previra-se que esse heli colaboraria com o das evacuações e com o dos reabastecimentos.

Além disso, a coordenação levou o seu tempo a rodar, o que é naturalíssimo pois não tem havido muitas operações como esta.

Em terceiro lugar, os meios aéreos não deram inicialmente o rendimento que se esperava, uns por avarias, outros por serem desviados para outras missões e outros por estarem na altura das inspecções e revisões.

A situação quanto ao apoio aéreo era a seguinte em 13 de Março de 1969, às 13H45 (MSG 735/I/BCAÇ 2852):

- 1 DO estava avariado havia 2 dias;
- O outro DO só começou a trabalhar às 10H00;
- O heli trabalhava pouco mais de 1 hora, seguindo para Bissau;
- O outro heli seguira às 08H00 directo de Bafatá para Bissau (parece que podia ter ido ficar a Bissau na véspera);
- O helicanhão saira para Bissau às 10H30, só regressando no dia seguinte às 11H00;
Os helis que haviam seguido para Bissau só foram substituídos cerca das 11H00 ; só depois desta hora, portanto, se regularizou o serviço de reabastecimentos e evacuações.

No dia 13 a actividade dos meios aéreos fornecidos para a operação foi a seguinte:

- A DO levantou de Bafatá para a área 9 [ Mina – Gã Júlio ]às 07H20 com o Comandante do Agrupamento Táctico Sul, o Major Negrão da FA e o Cap Lopes que ia assumir o comando do Dest G e ficou no Xitole; à tarde foi para Bissau;

- Os 2 helis levantarm às 07H30 com o comandante da operação para Bambadinca (serviço normal);

- O helicanhão, saúdo da zona de operações em 11 de Março, às 10H30, e regressado a 12, às 11H00, fez escolta ao heli de Sexa Comandante-Chefe; não prestou serviço à operação, que se tivesse conhecimento;

- A DO chegou de Bissau, foi a Piche buscar o Coronel Neves Cardoso para uma reunião em Bambadincas onde chegou às 11H00; à tarde voltoiu a levar a Piche o mesmo oficial.

Em 14 os helis chegaram a Bambadinca às 08H30 e só aqui é que se abasteceram (pelo menos um). Podiam tê-lo feito em Bafatá. No entanto, a situação melhorou por vários motivos. Primeiro, porque se acabou com os recomplementos. Segundo, porque a selecção natural fez baixar o número de evacuações. Terceiro, porque os meios aéreos ficaram mais tempo na zona da operação. Quarto, porque a coordenação ar-terra ganhou experiência e tornou-se por isso mais eficiente. (...)

Vd. ainda o poste de 31 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXI: As grandes operações de limpeza (Op Lança Afiada, Março de 1969)

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16441: Notas de leitura (876): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte IX: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (V): Finalmente o regresso a casa, depois do pesadelo do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal... Este homem, hoje professor universitário (?), tem histórias para contar aos netos... (Jorge Araújo)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/1969) – Agosto de 1969. Malan Mané a ser interrogado pelo ex-alf mil Torcato Mendonça [Vd. poste P6948] (*).

 A foto é do alf mil Cardoso, e chegou-nos à mão através do ex-fur mil Carlos Marques dos Santos, de Coimbra.

Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Nona parte, enviada em 1  do corrente, das "notas de leitura" coligidas pelo nosso camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Alves Araújo. Trata-se de um extenso documento, que está a ser publicado em diversas partes (*), tendo em conta o formato, a especificidade e as limitações do blogue.

Mensagem do Jorge Araújo com data de 1 do corrente:

Caro Luís: Bom dia. Segue mais um fragmento do nosso projecto «Médicos Cubanos», o último relacionado com a entrevista a Alfonso Delgado. No início de um novo ano académico, com a primeira reunião a ter lugar na próxima 2.ª feira, em Portimão, vou tentar cumprir com as rotinas anteriores.

Bom trabalho. Um abraço, Jorge Araújo.


Foto acima: O nosso grã-tabanqueiro Jorge Araújo: (i) nasceu em 1950, em Lisboa; (ii) foi fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); (iii) fez o doutoramento pela Universidade de León (Espanha), em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: «A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos»; (iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (v) para além de lecionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto].


1. INTRODUÇÃO

Apresento ao colectivo da Tabanca Grande a nona parte deste meu projecto relacionado com a divulgação de algumas das memórias transmitidas por três médicos cubanos que estiveram na Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau] em missão de “ajuda humanitária” ao PAIGC, na sua luta pela independência, nos anos de 1966 a 1969.

Com esta narrativa [a quinta] dou por encerrada a entrevista ao médico Amado Alfonso Delgado, a segunda no alinhamento do livro escrito em castelhano pelo jornalista e investigador Hedelberto López Blanch, uma coletânea de memórias e experiências divulgadas pelos seus diferentes entrevistados, a que deu o título de «Histórias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp.]  ou “on line” em formato pdf, em versão de pré-publicação.

Recordo que por ser uma tradução e adaptação do castelhano, onde procurei respeitar as ideias expressas nas respostas dadas a cada questão, entendi não fazer juízos de valor sobre o seu conteúdo, colocando entre parênteses rectos, quando possível, algumas notas avulsas de reforço histórico ou contextualização  ao que foi transmitido, com recurso ao vasto espólio disponível no nosso blogue. 

Esta minha decisão não quer dizer que não se possa acrescentar algo mais, em cada situação concreta, antes pelo contrário, uma vez que neste conflito bélico existiram dois lados, e daí o título com que baptizei este trabalho: “d(o) outro lado do combate – memórias de médicos cubanos”.


2. O CASO DO MÉDICO AMADO ALFONSO DELGADO [V]

Esta nona parte do projecto “memórias de médicos cubanos” corresponde ao quinto e último fragmento em que foi dividido a entrevista ao doutor Amado Alfonso Delgado, médico de clínica-geral, com experiência em cirurgia.

Nos quatro fragmentos anteriores [P16357; P16380; P16396 e P16420] (*), referentes às primeiras vinte e uma questões, encontramos um historial de dois anos (1967/1969), entre os antecedentes que influenciaram a sua decisão de cumprir uma "missão internacionalista", tendo-lhe surgido a hipótese de o fazer na Guiné Portuguesa (hoje Guiné-Bissau), que aceitou, até aos actos médicos realizados nas "bases" do PAIGC, em particular nas existentes na mata do Fiofioli (Sector L1 – Bambadinca).

Aí esteve cercado por diversas ocasiões, aonde viveu muitos sobressaltos, com muitas corridas em ziguezague, rastejanços e dores de barriga (com diarreias), que implicaram sucessivas trocas de acampamento, incluindo a destruição das suas "enfermarias" (de campanha), por quatro vezes. Por isso, julgou não ser possível sobreviver, pensando muito nos filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequeninos.

Em função da intensa actividade operacional das NT e do PAIGC, entre 8 de março e 18 de junho de 1969, Alfonso Delgado acabaria por desempenhar o seu papel de profissional de saúde, certamente com elevado grau de dificuldade, prestando apoio aos guerrilheiros feridos em combate, incluindo a realização de algumas cirurgias e amputações, quase sempre durante a noite à luz de archotes de palha ardendo.

Recorda-se que o crescendo da actividade operacional na região da mata do Fiofioli, num cenário de guerra de guerrilha, tem o seu início com a “Op. Lança Afiada”, entre 8 e 19 de março de 1969, movimentando cerca de 1300 efectivos, seguida pela “Op. Baioneta Dourada” em 2 e 3 de abril, envolvendo um total de sete Gr Comb e a “Op. Espada Grande”, em 4 e 5 de abril, com nove Gr Comb.

A resposta do PAIGC surgiu treze dias depois, em 18 de abril, com a primeira acção, realizando uma emboscada na Ponta Coli, no troço da estrada entre Amedalai-Xime, esta liderada por Mário Mendes cmdt do bigrupo que aí actuou.

Seguiu-se, depois, na noite de 28 de maio de 1969, o ataque ao aquartelamento de Bambadinca (aquele que seria o primeiro e único), aonde estava instalado, à data, o comando do BCAÇ 2852 (1968/70) e a respetiva CCS. Durante o ataque, que durou cerca de quarenta minutos, participaram dois bigrupos (mais de cem elementos), tendo utilizado três canhões s/r, morteiros, RPG, metralhadoras ligeiras e pesadas e armas automáticas de assalto, sem grandes consequências.



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 > 2º Grupo de Combate > 1970  > Crianças ou adolescentes, provavelmente de Amedalai, a tabanca mais próxima da ponte, divertem-se, dando saltos para a água, sob a supervisão de um dos nosso militares.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]

Em simultâneo com este ataque, era dinamitada a ponte sobre o Rio Udunduma, ao tempo sem qualquer segurança, situada a quatro quilómetros, na estrada Bambadinca-Xime (imagem cima, retirada do poste P12626, com a devida vénia).





Guiné > 1969/71 > Croquis do Sector L1 / Zona Leste (Bambadinca)  > Vd. posição relativa da base do PAIGC em mina / Fiofioli, ma margem direita doRio Corubal a noroeste do Xitole  (vd. Sinais e legendas).

Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971

Infogravura: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados


No mês seguinte, em junho de 1969, foi realizado um vasto programa de acções contra diversos quartéis e destacamentos da frente Leste: Bambadinca, Gabú, Cabuca, Xime, Mansambo, Canjadude e várias tabancas com milícias e tropas portuguesas, sendo de admitir tratar-se do cumprimento de uma orientação superior transmitida em documento assinado por Amílcar Cabral (1924-1973), em 4 de junho desse ano, dando instruções para a realização de ataques, no dia 10 de junho, a diversos quartéis e destacamentos dessa frente, devendo nalguns casos ser repetido durante três dias.

Em resumo e no período em apreço, as principais operações das NT na mata do Fiofioli realizaram-se em março e abril de 1969, reagindo o PAIGC com ataques a aquartelamentos, destacamentos e emboscadas, em abril, maio e junho, nomeadamente a Sul da linha de circulação entre Xime e Bambadinca, incluindo Mansambo e Xitole (subunidades de quadricula), a saber: Xime, Ponta Coli, Amedalai, Ponte do Rio Udunduma, Bambadinca, Taibatá, Demba Taco, Moricanhe, Mansambo, Ponte dos Fulas e Xitole (estrelas cor magenta na infogravura).

 Eis, pois, os último excertos (em itálico)  da entrevista dada  pelo médico Amado Alfonso Delgado. (***)


Entrevista com 25 questões [Parte V, da 22.ª à 25.ª]

“Cirurgias com a ténue luz de fachos de palha ardendo” 
(Cap XI, pp. 136 e ss)


(xxii) Como é avisado para deixar 
a Guiné-Bissau?

Foi de forma casuística. [Em agosto], depois de sair de um cerco que nos fizeram as tropas helitransportadas [paraquedistas do BCP 12] fomos para um lugar perto do acampamento [provável  referência à “Op. Nada Consta”].



[A “Op. Nada Consta” realiza-se a 18 de agosto de 1969, envolvendo cerca de duas centenas e meia de militares, divididos por dez Gr Comb pertencentes à CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (3 Gr), CART 2339 (3 Gr), PEL CAÇ NAT 53 e BCP 12 (2 Gr da CCP 122 + 1 Gr da CCP 123, sedeados em Galomaro). Esta “operação especial” tem o seu início pelas 09h30, sempre sob mau tempo (estávamos na época das chuvas), e surge na sequência do ataque de mais de duas horas a Candamã, tabanca fula em autodefesa do regulado do Corubal, realizado ao amanhecer do dia 30 de julho de 1969, tendo o PAIGC utilizado um efectivo de bigrupo com recurso a armamento pesado (P6948)].

[Com o dispositivo das NT distribuído nas proximidades do Rio Biesse (a CCAÇ 12, a leste; o Pel Caç Nat 53, a norte, e a CART 2339, a oeste e na estrada Mansambo/ Xitole, junto à ponte do Rio Bissari), avança a primeira vaga de paraquedistas do BCP 12, colocados na ponta da bolanha, penetrando imediatamente na espessa mata que se estende para sul. Cinco minutos depois era capturado um elemento IN com o seu RPG-2, sucedendo-se mais duas vagas de hélis transportando os restantes páras, que passaram a percorrer a mata de norte para sul. Ouvem-se tiros de rajada, para além do matraquear do helicanhão, sendo feitos dois mortos e capturadas três armas automáticas. Um dos mortos era chefe de bigrupo, de apelido Sampunhe (P6953)].

[O interrogatório sumário que foi feito naquela ocasião ao guerrilheiro capturado pelos páras, este diz apenas chamar-se Malan Mané, pertencer a um bigrupo reforçado (oitenta elementos), comandado por Mamadu Indjai e disperso em pequenos grupos pela mata (P23 + P2683)].

[Passado o efeito de surpresa, os guerrilheiros, dispersos em pequenos grupos, conseguem fugir da zona de acção das NT, e retiram-se muito provavelmente na direcção da base de Biro. Em função das informações dadas pelo prisioneiro, Malan Mané, as tropas paraquedistas seguiram no dia seguinte em direcção daquela base, tendo capturado mais o seguinte material:

1 metralhadora ligeira “Degtyarev”; 1 espingarda automática “Kalashnikov”; 1 pistola-metralhadora “PPSH”; 1 LGFog RPG-2; granada para LG P-27 “Pancerovka”; 12 granadas para LG, RPG-7; 85 granadas para LG, 3 cunhetes com munições; 7 granadas de RPG-2; 9 granadas de morteiro 60; diversos bornais, marmitas, fardamento e botas novas, documentos de interesse, incluindo relatórios onde se refere a ocorrência de dois mortos e seis feridos, por parte do IN, no ataque a Candamã, a 30 de julho de 1969. Pela CART 2339, foram levantadas duas minas A/C (P6948)]. Estranha-se, uma vez mais, a não referência à captura de material de enfermagem e a medicamentos, sabendo-se da existência de enfermarias de colmo naquela zona.

[Quanto a Malan Mané, seguiu para Galomaro com os páras para novo interrogatório, sendo levado, depois, para Bambadinca, onde ficou preso. Esteve também em Mansambo, vindo a ficar gravemente ferido na “Op. Pato Rufia”, em 7 de setembro de 1969, no Xime, numa acção conjunta constituída pela CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (3 Gr); CART 2520 (2 Gr) e PEL. CAÇ. NAT. 53, 63 e 52. Malan Mané foi evacuado para o Hospital Militar, em Bissau (P146 + P2683), Mais detalhes sobre Malan Mané em P1011; P2683 e P6984.]

[A participação de Malan Mané nesta “Op.” aconteceu porque ele estivera lá, três meses antes, num destacamento avançado a escassas horas do Xime, composto por 5 cubatas paralelas à estrada Xime-Ponta do Inglês, do lado oeste, internadas na mata cento e cinquenta metros. Nessa altura os efectivos eram de cerca de quarenta elementos, incluindo um grupo especial de roqueteiros que todas as manhãs se deslocava para a Ponta Varela, afim de atacar as embarcações que circulavam no Rio Geba (P146)].

[Neste novo acampamento] o ajudante que andava comigo e, ao que me diziam, Arrebato piorou. Começou a manifestar um obsessivo delírio de perseguição. Dizia que os próprios guerrilheiros o queriam matar, e uma noite foi desarmado pois já estava bastante débil, e fugiu para a mata. 

Deu-se o alarme entre toda a população e ao fim de seis dias [final de agosto?] foi encontrado completamente depauperado, com os olhos inchados, cheio de furúnculos e pesando à volta de quarenta quilos. Falei com o chefe do acampamento, de nome Mamadu Indjai, e acordamos a sua saída da Frente, para a qual me indicou dois guerrilheiros. Isto foi em [início] setembro de 1969, quase no fim da missão.

[A ser verdade este acordo feito na presença de Mamadu Indjai nos últimos dias de agosto, ficando a zona sem apoio médico, estamos perante um “caso de divergência factual, logo histórica”, contraditada por outras informações aqui editadas. Ex.1: “Op. Nada Consta”, em 18 de agosto, (…) um grupo cairia numa emboscada que forças da CART 2339 tinham montado no itinerário Mansambo-Xitole, próximo da ponte sobre o Rio Bissari, e em resultado da qual ficaria gravemente ferido Mamadu Indjai (soube-se mais tarde) (P6948). Ex.2: Soube-se mais tarde que Mamadu Indjai (…) foi ferido com gravidade em trocas de tiros com as forças de Mansambo e evacuado [?] (P23). Ex.3: (…) Mamadu Indjai, gravemente ferido pelas NT (e mais concretamente pela CART 2339) na “Op. Anda Cá” (em 15 de agosto de 1969) (P9011)].

[Chegado o dia da saída da mata do Fiofioli na companhia de Arrebato], meti a sua arma e a minha ao ombro, calcei-lhe os sapatos e agarrei-o pelo cinto. Era uma pluma. Assim caminhei vários dias, numa distância aproximada entre Havana e Matanzas [noventa quilómetros], com muitos portugueses por perto e por caminhos inóspitos. 

Quando parávamos para descansar, ficava debaixo das minhas pernas e sempre agarrado pelo cinto, pois queria fugir. Assim, com este tremendo trabalho e sofrendo de uma entorse que me doía sobremaneira, o pude retirar da Frente.

Quando chegámos ao acampamento da fronteira [segunda semana de setembro?], deixei o Arrebato e dizem-me que dentro de quinze dias chegava um barco para nos levar, pois tinha terminado a missão. 


Durante a espera, um dia fui informado que o [João Bernardo] “Nino” Vieira (1939-2009) - um dos líderes do PAIGC [, comamdante da Frente Sul]- queria fazer uma incursão pelo território e queria que eu fosse com ele. Pensei que se me tinha salvado nas anteriores ocasiões, nesta não o iria conseguir. Na manhã do dia seguinte formamos para sair e quando estávamos prontos chegaram umas viaturas aonde estavam os novos médicos, pelo que fiquei mais aliviado. E, como é lógico, não saí de novo para a Frente.

Antes de sair da Frente fui a Boké e depois a Conacri, aonde cheguei em setembro de 1969 [terceira semana?]. Recordo-me que um membro da missão cubana me perguntou se queria comprar alguma coisa e mais tarde trouxe-me uns sapatos para a minha filha, uns calções para o meu filho e um corte de tecido para a minha mulher. Naquele momento tinha dois filhos e tinha-me casado em 1963, quando ainda era estudante.


Em Conacri embarcámos num navio e fomos até ao Congo Brazzaville, aonde estivemos cerca de duas semanas, tendo atracado em Ponta Negra [Pointe-Noire, em francês; é a segunda maior cidade e principal centro comercial da República do Congo]. 

Fizemos depois viagem de regresso, e em outubro desse ano desembarcámos em Mariel, aonde nos receberam vários chefes militares. Fizeram-nos exames médicos e regressei para minha casa.


(xxiii) Voltou a exercer 
como médico civil?


Não; informaram-me que o ministro queria que eu continuasse na vida militar porque tinha cumprido bem a missão e dei então início à especialidade de cirurgia no Hospital Dr. Carlos J. Finlay.


Periodicamente, faziam-nos exames, e no ano do regresso a casa todos os que tínhamos estado em Bissau tiveram resultados positivos de filária no sangue. Há vários tipos de filária produzida por parasitas, e o tipo Loa atravessa os órgãos vitais do olho até ficar cego. Isto era precisamente o que tínhamos. 

Quando lia sobre isto assustava-me um pouco porque diziam que até aquele momento não se poderia garantir a cura. Estivemos perto de dois meses em tratamento hospitalar até que saímos totalmente curados.


(xxiv) Continua como médico militar?

Não, no Hospital Dr. Carlos J. Finlay estive até 1977, quando me desmobilizei e me transferi para o Hospital em Covadonga [Hospital Docente Clínico-Quirúrgico Dr. Salvador Allende], que começava a ser uma instituição universitária. 

Desde então fiquei nesse centro de saúde como cirurgião e professor auxiliar.


(xxv) Cumpriu outras missões?

Em 1980, já como civil, convidaram-me se queria ir até à Tanzânia como professor e nessa nação africana estive dois anos.

Uma breve síntese das memórias relacionadas com a sua missão [, síntese de JA]:

A missão africana do dr. Amado Alfonso Delgado iniciou-se na véspera de Natal de 1967, voando de Havana até Conacri, na companhia de outro médico cubano.

Na Guiné-Conacri, durante o primeiro trimestre de 1968, tem a sua primeira experiência profissional, prestando serviço médico no Hospital de Boké, uma unidade de saúde de rectaguarda do PAIGC, juntando-se a mais quatro clínicos cubanos aí colocados.

Em abril de 1968 dá início à sua integração na guerrilha ao ser destacado para a Frente Leste para substituir o seu companheiro Daniel Salgado, médico-cirurgião militar que entretanto adoecera com paludismo.

Entra em território da Guiné-Bissau pela fronteira Sul, terminando a sua primeira caminhada na base de Kandiafara, aonde se encontravam vinte combatentes cubanos. Seguiram-se outras etapas ao longo de oito dias, com caminhadas cada vez mais duras, pois não estava preparado para esse desempenho. Nesse lapso de tempo passou por diversas aldeias onde se alimentava com farinha e carne, afirmando ter passado fome, habituando-se, desde então, a comer pouco.

Ao quarto dia disseram-lhe que tinha chegado à Mata do Unal, na região do Cumbijã. Continuada a “viagem” a pé, chegou à foz do Rio Corubal / Rio Geba (Xime) onde lhe foi transmitido que naquele lugar havia um problema mais perigoso que a tropa portuguesa, chamado “macaréu”.

Quando chegou à outra margem [direita], encontrou um homem branco em calções, com gorro na cabeça e uma camisa. Olhou-o com alguma indiferença, tendo-lhe perguntado: “tu pensas aguentar esta ratoeira? “Esquece, pois não duras nem três meses”. Perguntei-lhe porquê? Ao que me respondeu: “tu verás como isto é”.

Entre maio de 1968 e setembro de 1969 [dezassete meses], movimentou-se nas matas do Unal e do Fiofioli [Sector L1 - Bambadinca], com destaque para esta última Frente, aonde esteve os primeiros nove meses de 1969. Durante este período viveu muitos sobressaltos, com muitas corridas em ziguezague, rastejanços e dores de barriga (com diarreias), que implicaram sucessivas trocas de acampamento, incluindo a destruição das suas enfermarias, por quatro vezes.

Esteve cercado por várias vezes. Viu aviões bombardeiros, helicanhões, lanchas da marinha e militares descerem de helicóptero. Fez dezenas de cirurgias e amputações quase sempre durante a noite, tratando dos feridos em combate. Enviou para Boké as situações mais problemáticas. Foi dentista e tratou de mordeduras de animais e serpentes. Foi atacado por melgas e por centenas de abelhas. Teve paludismo por três vezes e automedicou-se.

Lavava-se no rio, mas não tinha nem toalha nem sabão, muito menos papel para escrever alguma mensagem. Bebeu vinho de palma para matar os micróbios, pois a água existente ao seu redor estava contaminada. Usou um par de ténis durante oito meses que se foram degradando por efeito das muitas caminhadas. Para colmatar a ausência de atacadores amarrava-os com folhas largas. Fez “pesca à granada” para se alimentar melhor.

Na mata do Fiofioli esteve em cinco lugares diferentes. Era informado do dia dos ataques onde estavam os portugueses (aquartelamentos, destacamentos, colunas de abastecimento, tabancas,…) quase sempre com armas pesadas. Ficava geralmente na rectaguarda a um quilómetro de distância. Muitas das vezes, nesses ataques programados, existia um guerrilheiro em cima de uma árvore, de modo a dar instruções na correcção do tiro.

Por tudo isto passou vários meses sem ter contacto com o mundo. Devido a estas dificuldades e ocorrências no seu contexto, e das tensões a elas associadas, por via da intervenção dos militares portugueses em diferentes acções naquela região, julgou não ser possível sobreviver, pensando muito nos filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequeninos.

Consequência da actividade operacional das NT e do PAIGC durante um pouco mais de três meses (de 8 de março a 18 de junho de 1969), levou Alfonso Delgado a ficar sem sono, por efeito do muito trabalho e pelas enormes dificuldades sentidas no apoio médico aos guerrilheiros feridos em combate, realizando cerca de cinquenta cirurgias e amputações, de noite, à luz de archotes de palha ardendo.

Nos meses seguintes, julho e agosto, que seriam os últimos da sua missão, os episódios repetiram-se com a mesma dureza dos anteriores, com mais emoções e outras tantas tensões, saindo da mata do Fiofioli por um mero acaso, quando ficou acordado acompanhar a evacuação do seu ajudante e companheiro cubano Arrebato, por este se encontrar bastante debilitado, física e psicologicamente.

Em suma: o médico Amado Alfonso Delgado, em resposta à questão 18 [xviii] afirmou: “eu senti-me muito bem na Guiné e creio que foi uma das melhores épocas de trabalho da minha vida. Às vezes chegava a uma tabanca, e era para eles como um filme ao verem um branco. De repente ficava cercado por quarente/cinquenta crianças e logo me começavam a tocar nos pelos, na cara, nos braços. Era algo raro que nunca antes tinha visto”.

Continua… com nova entrevista, agora ao médico Virgílio Camacho Duverger.
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de setemnbro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai nas matas do Rio Biesse... (Luís Graça)

Vd. também poste de  24 de fevereiro de 2010 >  Guiné 63/74 - P5878: PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)

(.,..) Leitura e interpretação do documento (L G.):

Ao canto superior esquerdo, consegue ler-se o seguinte:

Educação - Mamadu Dembo;
Comandante de sector - Mamadu Indjai;
Comissário Político de FARP - Pedro Landim;
Comissário Político junto do Povo - Juvêncio Gomes;
Comis[sário] Abast [escimento] FARP - Mamdu Alfa Djaló;
Segurança Milícia - Sabino Mendonça;
Saúde - Benjamim Brito. (.,.)

(**) Vd. postes de

3 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16357: Notas de leitura (864): (D)o outrolado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte V: o caso doclínico geral Amado Alfonso Delgado (I): queria ir para o Vietname foi parar ao Fiofioli... (Jorge Araújo)

11 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16380: Notas de leitura (868): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VI: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (II): Na margem direita do rio Corubal, na mata do Fiofioli: «¿Tú piensas aguantar la mecha esta?, olvídate, que no duras ni tres meses" / "Tu pensas aguentar esta ratoeira? Esquece, pois não duras nem três meses”... (Jorge Araújo)

17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos (Jorge Araújo)

17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos (Jorge Araújo)

25 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16420: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VIII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (IV): "Os guineenses são muito resistentes...Numa ocasião, uma bomba caiu perto de uma mulher e feriu-a no abdómen... Eu devia abrir-lhe o abdómen pois tinha peritonite. Coloquei-lhe anestesia local e, quando lhe ia dar a geral, um avião largou outra bomba que caiu perto. A mulher levantou-se, com a ferida meio aberta, e fugiu. Não a vi mais. Depois disseram-me que a tinham localizado, já morta, a cerca de quatro quilómetros dali." (Jorge Araújo)


(***) Último poste da série "Notas de leitura" > 22 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16412: Notas de leitura (873): "O que a Censura cortou": notícias da Guiné, por José Pedro Castanheira (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5878: Documentos (11): PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)




Um interessantíssimo manuscrito de Amílcar Cabral, com o croquis da Frente Leste, Sector 2, Área de Xime.  S/d. Arquivo Amílcar Cabral. Fundação Mário Soares

Imagem digitalizada e reproduzida com a devida vénia...

Fonte: Fundação Mário Soares: Arquivo Amílcar Cabral. Bissau, Cidade da Praia, Lisboa. Lisboa: Fundação Mário Soares. 2005. p. 13.

1. Leitura e interpretação do documento (L G.):

Ao canto superior esquerdo, consegue ler-se o seguinte:

Educação - Mamadu  Dembo;
Comandante de sector - Mamadu Indjai;
Comissário Político de FARP - Pedro Landim;
Comissário Político junto do Povo - Juvêncio Gomes;
Comis[sário] Abast [escimento] FARP - Mamdu Alfa Djaló;
Segurança Milícia - Sabino Mendonça;
Saúde - Benjamim Brito.


Na parte superior, ao centro:

Escolas - Satecuta, Mina, Cancódea [, a sudeste da Mata do Fiofioli,], Manhai [ou Mangai?], Gã Dias [ou Ponta Luís Dias ?],Gã Carnes [Ponta do Inglês], Baio [ou Darsalame, junto ao Buruntoni]

Saúde - 1 médico, 4 enfermeiros"

No mapa desenhado por Amílcar Cabral, estão indicados os seguintes topónimos ou localidades do Sector 2 (delimitado a norte pelo Rio Geba, a oeste e a sul pelo Corubal e a leste pela estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole, não incluindo portanto a região a norte do Geba que, no meu tempo, também fazia parte do nosso Sector L1 / Zona Leste):

Rio Geba / Ponta do Inglês [ou Gã Garnes ] / Xime / Bambadinca / Bafatá

Indicam-se as distâncias em quilómetros:

- 4 Km de Ponta do Inglês (ou Gã Garnes) até ao Xime; [pela antiga estrada, são mais de 12, aliás no meu tempo os obuses 10.5 não chegavam lá];
- 7 km do Xime a Bambadinca; [por estrada, são mais uns quatro ou cinco];
- 30 km desta localidade até Bafatá, em estrada alcatroada (sic)

Está também desenhada a estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole, com as seguintes observações:

Bambadinca - Xitole: 42 km
Mansambo: 80 tugas (sic)

Há ainda referência  a uma comp[anhia] (?), com 50 m [militares ?] , possivelmente o destacamento de Ponta  do Inglês...

Há ainda referência a um valor de grandeza, 300 / 400 m . Ainda pensei que Amílcar Cabral estivesse a referir-se à larg[ura] (?) do Rio Corubal ... Mas não: antes da foz, entre a Ponta do Inglês e Ganturé (na margem esquerda), o rio mede mais de 2 quilómetros de largura; antes da curva de Mangai, começa a estreitar, mas mesmo assim, terá cerca de 1 quilómetro... Onde terá 200 metros é nas proximidades do Xitole... (Estou a fazer cálculos pelos mapas).

 Esse valor de grandeza (300/ 400 m) deve referir-se a efectivos do PAIGC (FARP, milícias, população militarizada). Do PAIGC, acho exagerado, no máximo, teria 5 bigrupos em todo o Sector L1, no tempo do BCAÇ 2852, 1968/70) (*)...  Conferir estes dados com o croquis do Sector L1, feito no tempo da CCAÇ 12 (1969/71) (Documento a seguir).

E logo a seguir, há as seguintes notas à margem, sempre escritas com a letra elegante de Amílcar Cabral:

Populações - Beafadas, mandingas, balantas.

Estacionamentos de milícia: Moricanhe, Dembataco, Amedalai, Samba Silate. Em cada um desses estacionamentos, há 8 ou 10 tugas, excepto em Moricanhe onde só há africanos (sic).


Guiné 1969/71 > Croquis do Sector L1 / Zona Leste (Bambadinca) (vd.  Sinais e legendas).

Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971

Infogravura: © Luís Graça (2005). Direitos reservados


2. Comentário de L.G.:

Uma vez que é referida a existência da Ponta do Inglês como um destacamento das NT, guarnecido por um pelotão reforçado (os tais 50 m ?)  (retirado em finais de 1968), este documento deve ser do ano de 1968 (meados).  Quem estava no Xime, com um destacamento na Ponta do Inglês, era a CART 1746 (que veio de Bissorá, 1967/69, sendo comandada pelo cap mil art António Vaz).

Nesse ano a CART 2339 (do Torcato Mendonça e do Carlos Marques dos Santos) instalou-se em Mansambo. Moricanhe foi abandonada em meados de 1969, depois do ataque a Bambadinca em 28 de Maio de 1969. Em Agosto desse ano, o pessoal da CART 2339 feriu gravemente o Amadu Indjai, comandante do Sector 2 / Área do Xime (Op Anda Cá, com o BCP 12, CCAÇ 12 e CART 2339)...

Peço aos camaradas que estiveram no Sector L1 / Zona Leste (Bambadinca), nesta altura, para completar ou complementar as minhas notas... Refiro-me à malta do BCAÇ 2852, da CCAÇ 12, da CART 1746, da CART 2339, dos Pel Caç Nat 52 e 63, etc. De qualquer modo, Amílcar Cabral revela, senão  um perfeito, pelo menos um bom conhecimento da região (o famoso triângulo Xime-Bambadinca-Xitole).

Imagem

Fonte: Fundação Mário Soares: Arquivo Amílcar Cabral. Bissau, Cidade da Praia, Lisboa. Lisboa: Fundação Mário Soares. 2005. p. 13. (Com a devida vénia...)
______________

Nota de L.G.:

Vd. poste, da I Série,  de 15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

(...) Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Cap. 48-54. Classificação: Reservado (Agradeço ao Humberto Reis ter-me facultado uma cópia deste documento em formato.pdf)

Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969) - I parte

1. Situação: Inimigo

1.1. Desde há anos que a região da margem direita do Rio Corubal até à linha Xime-Xitole, é considerada uma zona de refúgio e preparação do IN [inimigo]. A profundidade continental da região, a sua espessa arborização (excepto na franja marginal do Rio), a falta de trilhos e caminhos, a grande distância a que ficam os aquartelamentos mais próximos (Xime, Mansambo e Xitole), tudo isto são características que convidam o IN a permanecer na Zona, em relativa tranquilidade.

O IN sabe que detecta facilmente qualquer tentativa de aproximação das nossas Forças Terrestres. Se a aproximação terrestre é difícil, a actuação das FN [Forças Navais] parece facilitada pela existência do Rio Corubal. E a tal ponto que, em estudo realizado por este Comando, a área da margem direita do Rio Corubal, desde a Ponta do Inglês a Gã Júlio, foi considerada uma área que devia ser batida pelas NT [Nossas Tropas] em operação conjunta de meios navais e helitransportados.

A deficiência destes meios contribuiu para o quase completo sossego em que o IN tem vivido na área, controlando uma população de balantas e beafadas que o alimenta e que se reputa numerosa. E determinou a realização da Op Lança Afiada com o emprego exclusivo de forças terrestres.

1.2. O reconhecimento aéreo e as poucas operações realizadas não dão uma ideia muito clara acerca do IN na região considerada. Admite-se no entanto que existam na região pelo menos 5 bigrupos e um grupo de artilharia.

As acções ofensivas do IN tem sido relativamente espaçadas e dirigidas contra o Xime, Mansambo e Xitole, além de emboscadas nas estradas Xime-Bambadinca e Mansambo-Xitole e de penetrações contra tabancas fiéis na direcção do [regulado do] Cossé e na área entre o Xitole e Saltinho.

Embora apresentando bom potencial de fogo (canhão s/r, mort 82 e 60, LGFog, etc.), o IN continua a mostrar uma execução deficiente. As reacções à actividade das NT não têm sido muito fortes. Mas os poucos trilhos de acesso estão normalmente armadilhados. O IN embosca por vezes as NT quando regressam a quartéis. Além disso tem tiro de Mort 82 preparados sobre os seus próprios acampamentos, executando-os quando as NT os ocupam. E as arrecadações de material e armamento encontram-se em geral afastados dos acampamentos.

De uma maneira geral podem considerar-se as seguintes áreas principais de concentração IN:

1 – Poindon;
2 - Baio-Buruntoni;
3 - Gã Garnes (Ponta do Inglês);
4 - Ponta Luís Dias (Calága) – Gã João;
5 - Mangai-Tubacuta;
6 - Madina Tenhegi;
7 - Fiofioli;
8 - Cancodeas;
9 – Mina – Gã Júlio;
10 – Galo Corubal – Satecuta;
11- Galoiel.


1.3.

a) Área de Poindon:

Localização aproximada – (1500 1155 B2). RVIS efectuado em Novembro de 1968 revelou que toda a área se encontrava muito povoada tendo sido referenciadas mais de 15 casas de mato distribuídas por 2 núcleos. As bolanhas estavam cultivadas.

b) Área de Baio-Buruntoni:

Baio – Localização aproximada: (1500 1150 G7); deve ser uns dois a três km a Oeste. Chefe: Mário Mendes. Efectivo aproximado: 1 bigrupo dividido com Varela.

Burontoni – Localização aproximada: (1500 1150 G7) e (1455 1150 A 7). Efectivo aproximado: 100 homens: Armamento: MP, Mort 82 e 650, LGRFog.

c) Área de Gã Garnes (Ponta do Inglês):

Localização aproximada – (1500 11540 B5-5) com trilhos de acesso a Baio e à Ponta João da Silva. O itinerário a seguir quando se vem da Ponta do Inglês atravessa o Rio Buruntoni em (1500 1150 A2 -82). Efectivos e armamento: mais de 15 homens com Mort, LGFog, etc.

d) Área de Ponta Luís Dias – Gã João:

Ponta Luís Dias – Localização: (1505 11?3 F3 ou G2 G0-44). O itinerário mais fácil parece ser pela margem do Rio Corubal mas na época seca pode ir-se partindo de Gã Garnes. Efectivos: Cerca de 25 (?) elementos, armados de MP, ML, Mort 82 e 60, LGFog., etc. Consta talvez (?) 1 Canhão s/r em Ponta Luís Dias, apontando para o Corubal.

Gã João - Localização: (1505 1150 H5 ou I6 ou 13-55). Acessos idênticos ao acampamento de Ponta Luís Dias. Pode ficar à direita da picada Ponta Luís Dias – Ponta do Inglês sobre um trilho que parte desta. Foi localizado um grupo de casa em 1505 1150 G9-2.

e) Área de Mangai-Tubacuta:

Mangai – Localização: (1505 1145 G8). O acesso é mais fácil pela margem do Corubal. Por terra o acesso mais fácil parece ser por Madina Tenhegi (1500 1150 E2). Efectivos: 1 Gr Artilharia, parte em Tubacuta.

Tubacuta – Localização: (1500 1145 B9 B6 ? ), entre a tabanca e a Casa Gouveia, ao pé da bolanha. O acesso é mais fácil pela margem do Rio Corubal ou partir de Madina Tenhegi. Efectivos: mais de 100 homens com cubanos.

f) Área de Madina Tenhegi:

Não há referências sobre acampamentos IN.

g) Área de Fiofioli:

Localização: (1500 1145 E4 ou D5). Não são conhecidos os acessos à área. A mata do Fiofioli é muito [ densa ? ] e está praticamente cercada por bolanhas que o IN provavelmente baterá. Efectivos: talvez 1 bigrupo. Consta existir um hospital, com médicos cubanos.

h) Área de Cancodeas:

Cancodea Balanta – Localização: (1500 1145 E3). Efectivos: 50 homens armados.

Cancodea Beafada – Localização: (1500 1145 G2)

i) Área de Mina – Gã Júlio:

Mina

Localização: Em (1500 1145 h6 ou I6), na mata próxima da tabanca, dividida em dois núcleos, afastados cerca de 400 metros. Um núcleo é formado pelas instalações de pessoal e pelo posto de rádio. Parece ser aqui o comando do Sector 2 do IN. Consta haver uma enfermaria com cubanos. Há quem diga existir 200 elementos IN. Mas há quem diga serem poucos. A reacção à operação dos páras em 16 de Dezembro de 1968 foi nula. Em Novembro de 1968 foi indicada a existência de canhão s/r, 10 LGFog, 5 metralhadoras Degtyarev, 1 morteiro 60, etc.

Gã Júlio – Localização: (1500 1145 D4 ou E4). Não há outras indicações.

j) Área de Galo Corubal – Satecuta:

Galo Corubal – Localização (1455 1145 D4 ou E4), no fundo do palmar e a cerca de 300 m do Rio Corubal. O acesso tem sido feito pelo Norte do Rio Pulon desde a estrada Xitole-Mansambo, mas as NT têm-se perdido por vezes. O acesso, atrvés do Rio Pulon, próximo da foz, por Seco Braima, pode ser efito na época seca. Efectivos e armamento: Considerados poucos, mas com MP, ML, Mort LGRFog.

Satecuta – Localização (1455 1145 D2 ou E2 ou F2), a oeste de Seco Braima. Acesso idêntic o ao de Galo Corubal. Em meados de 67, apresentava grande actividade IN. O acampamento foi destruído em Maio de 68, baixando a actividade IN. Efectivos: ignoram-se mas parecem dispor de MP, ML, Mort LGRFog.

l) Área de Galoiel:

Localização (1455 1150 F1) próximo de Galoiel. Ataque das NT em 28 de Novembro de 1968 repelido pelo IN. Novo ataque em 23 de Dezembro não tendo o IN oferecido quase resistência. Efectivos entre 20 a 30 elementos, armados com LGRFog, Mort 82, ML, etc.

1.4. Admite-se que, sendo a Op Lança Afiada, uma operação demorada, o IN tenha possibilidade de reforçar os seus bigrupos, exercendo um esforço sobre este ou aquele dos nossos destacamentos. Admite-se também que quer as populações civis sob controlo In quer o próprio IN atravessem de noite o Rio Corubal, furtando-se assim ao contacto com as NT.
(...)