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sábado, 11 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25507: 20º aniversário do nosso blogue (15): E lá vamos blogando... e rindo!

 

Fonte: logo do antig0 blogue-fora-nada capturado pelo Arquivo.pt em 29 de março de 2005, às 23:52

https://arquivo.pt/wayback/20050319235244/http://blogueforanada.blogspot.com/


1. Continuamos a celebrar, por esta primavera dentro, 
os vinte anos de existência do nosso blogue (*). A data de batismo é 23 de abril de 2004. Em boa verdade, tudo começou com o "Blogue-fora-nada", criado uns meses antes, em 5 de outubro de 2003, praticamente no início da blogosfera... 

"Blogue-fora-nada" foi a expressão que me ocorreu, como título,  ao pensar, nos tempos em que não havia máquinas de calcular, e os meninos e meninas da escola primária, separados pelo "muro da vergonha", aprendiam a tabuada recitando em voz alto, memorizando e levando de vez em quando umas reguadas valentes (a "teoria da dor" era a pedagogia que estava então em vigor na escolinha)... E depois nas contas, sobretudo na adição e na multiplicação, tinha-se que se saber fazer a "prova dos noves"  ou a "prova dos noves fora nada"...

Foi assim que cheguei ao nome do blog (vocábulo que eu aportuguesei logo, e que o Priberam define, apropriada e sinteticamente,como "página de Internet com características de diário, actualizada regularmente" (Fonte: "blogues", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/blogues.)

A descrição do conteúdo do "blogue.fora-nada" era de tal maneira "abstrusa" que deve ter afugentado logo os primeiros curiosos destas novidades da Net...

 Começava por   "homo socius ergo blogus [sum ]" , o que em latinório macarrónico queria dizer: "sou um ser social logo blogo ou sou blogador"... 

E seguia-se o resto da cantilena: "em sociologuês nos entendemos. socioblogia. saúde & segurança do trabalho. o port[ug]al dos portugas. a prova dos blogue-fora-nada. o  humor nosso de cada dia nos dai hoje. no ano da graça de 2003. lisboa.  aqui tão longe. aqui tão perto. lá vamos blogando e rindo. desde 8 de outubro. luis graca".

Já tinha, criado, entretanto, quatro anos antes a página pessoal e profissional "Luís Graça: saúde e trabalho", alojada no servidor da ENSP/NOVA.

Em 23 de abril de 2024, criei, dentro do "blogue-fora-nada",  a série "Guiné 63/74" e publiquei o poste P1, com o título: "Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)... 

O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné nasce aqui... E depois deu origem a uma tertúlia, que mais tarde se irá chamar Tabanca Grande...

Vinte anos depois queremos continuar a ser a Tabanca Grande, "a mãe de todas as tabancas" dos amigos e camaradas da Guiné:

  • um espaço de partilha de memórias (e de afetos), 
  • um lugar de (re)encontros,  
  • um espaço, na Net, "onde todos cabemos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa", 
  • tendo por base a tolerância, o respeito mútuo ,  o pluralismo, a verdade, a boa fé, a camaradagem, a liberdade e a responsabilidade.

Vamos revisitar, por isso, o  "Proverbiário" (vocábulo que ainda não foi grafado nos nossos dicionários): mais do que  uma simples coleção de provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa, é:

  • um apanhado  das nossas "frases feitas",
  • uma antologia do nosso anedotário,
  • "títulos de caixa alta do nosso blogue", 
  • "títulos dos nossos livros e séries",  
  • "bocarras de tabanqueiro", 
  • "tiradas de humor de caserna" (às vezes negro, sem conotação racista), 
  • "expressões idiomáticas usadas no nosso blogue", umas mais efémeras do que outras, 
  • enfim, frases, comentários, máximas, etc., umas mais ligadas ao nosso Livro de Estilo, outras que despertaram a nossa atenção enquanto tabanqueiros... 

Muitas outras nos têm escapado ao longo destes vinte anos a blogar, dos mais de 25 mil postes (ou postagens) publicados, e dos mais de 100 mil comentários... De vez em quando, lá vamos repescando um ou outro "provérbio" que ficou para trás... 

Ficamos sempre à espera que os  nossos leitores que acrescentem o que bem entenderem, desde que tenha relação, direta ou indireta, com o nosso blogue, o nosso fraterno e são convívio, as  nossas tabancas, a tropa e a guerra, enfim, a Guiné do nosso tempo e o blogue da Tabanca Grande...
 
Da 5ª edição, revista e aumentrada em 2023, selecionamos alguns dos melhores. (**).


O NOSSO PROVERBIÁRIO

A blogar é a que a gente... se entende.

A nossa Guinezinha, dizia a Cilinha

A tropa vai fazer de ti... um homem!

Adeus, e até à... próstata!

Aerograma, bate-estrada ou corta-capim!

Água de Lisboa, "manga di sabi".

Alferes, cabra de mato!?...Atira-lhe!... Ah! rico tiro, pum, pum!

Alfero Cabral cá mori!

Ao luar, entre nevões, até as renas parecem pavões! (Zé Belo dixit)

Aponta, Bruno! (uma das muitas alcunha do nosso Com-Chefe, o gen Spinola)

A
s vacas roubadas que andam de mão em mão, acabam sempre comidas em boa ocasião (Salgueiro Maia dixit)

Até aos cem, ainda se aguenta, depois dos cem, só com água benta.
 

Bandos: a frase, no mínino infeliz, de um general...

Beber a água do Geba.

Boa continuação da viagem pela picada da vida!... 
Cuidado com as minas e armadilhas!

Bom amigo, melhor camarada.


Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum.

Cabrito pé de rocha [macaco] , "manga di sabi". 

Camarada e amigo... é camarigo!

Camarada é na tropa, companheiro é à mesa e colega é nas p...tas

Camarada não tem que ser amigo: é o que dorme contigo, 
no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo.
 
Com a sua licença, meu general, a merda... que a gente come!

Combatente um vez, combatente para sempre!

Como camaradas que fomos (e continuamos a ser), tratamo-nos por tu!


Dão-se lições de artilharia para infantes.

Deportados para a Guiné... sem culpa formada!

Desaparecidos: aqueles que nem no caixão regressaram.

Desarmados, jubilados, reformados, aposentados mas não... arrumados.

Dia de São Patacão.

E depois da peluda... a luta continua
 

E também lá vamos facebook...ando e andando.

E viva a Pátria! E viva o nosso General!... Puuum!!! [Gasparinho dixit]

É bom ter um padrinho, mas ainda melhor um paizinho!

Eh, pá... a guerra, pá...

Entra e senta-te à sombra do nosso poilão.

Exorcizar os nossos fantasmas.

F... idos e mal pagos.

Fomos ver, eram os nossos amigos turras a dar-nos os bons dias! (Zé Cuidado dixit)

For the Portuguese Armed Forces from Scotland with love... 
[Da Escócia com amor, para as Forças Armadas Portuguesas.]

 
Guerra do Ultramar, guerra de África, guerra colonial
(como se queira, ao gosto do freguês).


Guiné, terra de desterro e de encarceramento.

Guiné, terra verde-rubra.

Guiné? ... Não era pior nem melhor, era diferente.

Guiné?... Não, nunca ouvi falar!


Há comentadores e comentadores: alguns são como o peixe e o hóspede, ao fim de três dias fedem...

Havia os desertores, os refratários, os faltosos... e nós.

Honras de Tabanca Grande.

Humor com humor se (a)paga.


In Memoriam: para que não fiques, camarada, 
na vala comum do esquecimento.

Intchallah, Oxalá, Enxalé !

Já estás com o bioxene, já estás com os copos, já estás! ()[Valdemar Queiroz dixit]

João Crisóstomo, o nosso cônsul em Nova Iorque


Lá vamos blogando, recordando, (sor)rindo, 
e às vezes cantando, gemendo e chorando!

Lá vamos contando (e cantando) os quilómetros pela picada da vida fora!
 
Lugares ao sol, não temos... Só à sombra, do nosso poilão!
 
Máfrica:  muita chuva, muito vento, muita merda e,,, um convento!

Mais peixeiro do que carneiro... mais facebook...eiro do que blogueiro.. 

Mais vale andar neste mundo em muletas do que no outro em carretas.

Mais vale um camarada vivo do que um herói... morto!

Melhor que as bajudas, era a 'água de Lisboa' que nos fazia esquecer as bajudas.

Meu pai, meu velho, meu camarada...

Miguel & Giselda, o casal mais 'strelado' do mundo.

Muita saúde e longa vida, porque tu, camarada, mereces tudo.


Não deixes que o teu espólio de memórias 
vá parar à Feira da Ladra ou ao OLX.

Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

Não é o Panteão Nacional, é melhor, é... a Tabanca Grande.

Não fazemos a História com H grande, mas a História não se fará 
sem a nossa... pequena história.

Não há tabanca sem poilão.

Nem mais um soldado... para as colónias!  

Ninguém leva a mal: em cima o camarada, em baixo o general.

Nós saímos da Guiné, mas a Guiné não sai de nós.


O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

 
O nosso maior inimigo: o Alzheimer (de que Deus nos livre!)...

Ó mãe, o nosso vizinho Jorge lerpou, vai já no próximo barco!... Ó filho, vê se lerpas também, para vires mais cedo!

Ó Pimbas, não tenhas medo!

O sapador só se engana três vezes: é a primeira, a única e a última (Tó Zé dixit)
 
O seu a seu dono: respeita os direitos de autor.
 
O último a morrer, que feche a tampa... do caixão.

Olhe que não, sr. general, olhe que não!

Os bravos não se medem aos palmos.

Os bu...rakos em que vivemos.

Os camaradas tratam-se por tu.

Os camaradas da Guiné dão a cara, não se escondem por detrás do bagabaga.

Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são.

Oxalá, Intchallah, Enxalé !
 

Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício: "Guiné? Guerra do Ultramar? Guerra Colonial? 
Não, nunca ouvi falar!"...

Parabéns, parabéns, parabéns ! (à moda de Santa Maria)

Partilhamos memórias e afetos.

Patrício Ribeiro, o "pai dos tugas" em Bissau.

Periquito, salta p'ró blogue, que a velhice já cá está!

P'rós insultos, não há contemplações nem indultos.

Protésicos, radioativos, parkinsónicos e/ou al(zhei)mareados

Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam!

Quem não faz 69, não chega... aos 100!

Quem não tem poilão, acolhe-se à sombra do chaparro.

Quem não tem "turpeça", senta-se no chão... e quem "turpeça" também cai.

Rapa o fundo ao teu baú da memória.

Recordar é viver duas vezes.


Saber resolver os nossos diferendos, os nossos conflitos... 
sem puxar da G3!

Santo António de Bissau, / Bravo, meu bem, / De todos o mais casmurro,/ Quer do preto fazer branco, / Bravo, meu bem, / E do branco fazer burro.

Saudades sem conto.

Sempre presentes, aqueles que da lei da morte já se foram libertando.

Siga a Marinha!

Só há três coisas de que aqui não falamos: futebol, política e religião.

Soubemos fazer a guerra e a paz.

Spinolândia, sim, Guiné, não.

Tabanca Grande: a mãe de todas as tabancas.

Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une 
e até com aquilo que nos separa.

Tabanca Grande: onde não há portas nem janelas  
nem arame farpado   nem cavalos de frisa

Tuga, que Deus te livre da doença do... Alemão.

T/T Niassa, Uíge, Ana Rita, Angra do Heroísmo... Os cruzeiros das nossas vidas.


Um blogue de veteranos, nostálgicos da sua juventude (René Pélissier dixit).

Uma geração que soube fazer a guerra e a paz.

Uma guerra... a petróleo! (Tó Zé dixit)

Uma noite nos braços de Vénus, três semanas por conta de Mercúrio.  

Vamos à guerra, que a morte é certa.

Vê-cês-cês (velhinhos comó c...)
 
Vinte anos a blogar... são dez comissões na Guiné!

Volta, Zé Belo, estás perdoado! (disseram  os "sámi" ao régulo que queria "desertar" da Tabanca da Lapónia).

____________

Notas do editor:


(**) Vd. poste de 28 de novembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24895: O nosso livro de estilo (14): Proverbiário da Tabanca Grande, 5ª edição, revista e aumentada: "Protésicos, radioativos, parkinsónicos e/ou al(zhei)mareados"

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25473: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte IV




Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > A "menina dos olhos" do Rui Chamusco, a sua Escola (dele, da ASTIL)  de São Francisco de Assis... onde faltam professores para ensinar o português às crianças que vinham longe, na montanha...

Fotos (e legenda): © Rui Chamusco (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Rui Chamusco é um verdadeiro Dom Quixote, lutando contra os moinhos de vento da indiferença, da inércia, da burocracia... Está a 15 dias d regressar de Timor depois da sua quinta estadia, de 3 meses... E o Sancho Pança é o seu 'mano' Eustáquio, que resistiu e lutou nas montanhas contra a ocupação indonésia.  Mas até lá espera poder ultrapassar dificuldades burocráticas e falta de pessoal docente, problemas que afetam o funcionamento e o futuro da Escola São Francisco de Assis (ESFA), construída e apoiada pela ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste. Nesta crónica volta a abordar alguns aspetos da idiossincrasia timorense mas também das tremendas dificuldads que se depararam ao desenvolvimento da língua portuguesa, que é língua ofiicial, a par do tétum.

Recorde-se que o Rui Chamusco, em breve nosso novo tabanqueiro, tem 77 anos, é professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã; natural de Malcata, concelho de Sabugal, é cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste.


De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte IV



Rui Chamusco e o seu amigo e 'mano'
Gaspar Sobral. Em Dili, fica hospedado casa do Eustáquio,
irmão do Gaspar. Foto: LG (2017)
Quarta crónica, enviada de Timor Leste, em 16 de abril último, às 2:18, pelo Rui Chamusco, na sua 5ª estadia (fev/maio 2024).


 

02.04.2004, terça feira  - As “loucuras” do vizinho

O Felisberto é o nosso vizinho do lado direito que já, por diversas vezes, deu azo às notícias mais caricatas que podemos imaginar. O que ele fez durante o tempo da invasão indonésia é realmente de loucos, ou de espertos, 
que para se livrar de determinadas situações, 
como por exemplo quando era aprisionado, recorria às suas “táticas de guerra” que lhe traziam sempre bons resultados. (...)  

O Felisberto lê muito, anda quase sempre de bíblia ou lá o que é na mão ou debaixo do braço, recita versículos e capítulos para basear a sua argumentação, e nas conversas que procura praticamente só ele é que fala.

Debita palavras e as frases, em tétum português, com muita facilidade, e da sua figura profética saírem sermões que nunca mais acabam. Mas esta que ontem o Eustáquio me descreveu é que não lembra nem ao diabo. 

Segundo o Eustáquio, o Felisberto durante 40 dias recusou-se a comer e a beber fosse o que fosse. Cada dia dava mais sinais de debilitado e fraco, com olheiras impressionantes e a pele encostada aos ossos. E resistiu até que pode, parece que até ao trigésimo nono dia. E, faltando um dia para os quarenta,
foi-se abaixo, desmaiou. 

A recuperação foi rápida. Ao fim de três quatro dias, o Felisberto está de novo em forma para prosseguir a sua missão. Eu disse ao Eustáquio que não acredito que o Felisberto estivesse tanto tempo sem comer e sem beber, mas ele afirma a pés juntos que foi verdade, que ninguém sabe como aguentou mas é verdade.
E E agora? Acredite quem quiser...

03.04.2024, quarta feira   - Ora toma lá mais esta...

Já, por várias vezes referi que, aqui em Timor, as coisas vão-se fazendo. Nada de pressas, porque temos todo o tempo do mundo. Às vezes fazem-nos crer que é por falta de dinheiro que as coisas não se fazem, não avançam. Mas, cá para mim, é também já um jeito de ser. 

Também em Ailok Laran é assim. A casa de família do Eustáquio tem sempre obras em curso. Aos pouquinhos vai-se fazendo e acrescentando a casa mãe dos “Sobral” , que ressalta neste contexto habitacional. Desta vez a empreitada é para assentar os mosaicos em grande parte do piso rés do chão. Para tal o Zinon, embora ausente no estrangeiro, quis orientar este trabalho, dando instruções
ao pai Eustáquio que iria ajustar esta obra a um trabalhador que um seu amigo conhecia.

E assim se fez. Depois de visitar e ver o que tinha a fazer, combinaram o preço e mãos à obra. Ontem começaram os trabalhos. Entretanto, o Eustáquio que tinha ido a Boebau voltando à tardinha, viu o trabalho já feito e não gostou. Não estava a seu gosto nem como ele sabia fazer. Telefona ao Zinon dizendo o que se passa, resultando de tudo isso o cancelamento do contrato. 

E, logo hoje de manhã, ele mais o Tobias (seu “sobrinho”) metem mãos à obra, corrigindo o que não estava bem e prosseguindo a colocação dos referidos mosaicos. Agora mesmo, enquanto escrevo, estou ouvindo os toques do martelinho de madeiro ou borracha assentando e ajustando cada mosaico. 

Ao almoço, em conversa informal ele revelou-me o segredo: “É preciso sentimento para fazer este
trabalho. O outro senhor assentava as peças mas não tinha sentimento.” E pronto. No final da obra vamos ter uma casa cheia de sentimentos.

03.04.2024, quarte feira  - Esta mocinhas novas...

A Adobe e as primas (Zaida e Mina) são umas moçoilas adolescentes que despertam para a vida. Muito unidas para tudo, com surpresas que nos encantam. Estão na fase das pinturas das caras e das unhas. Cada uma ajuda a outra, ou então só cada uma, aplicam os materiais apropriados, com toques e retoques, muitas miradas ao espelho, poses para a fotografia, etc... 

E então não é que elas ficam mesmo giras?! Pena é que logo a seguir desfaçam a beleza que conseguiram alcançar. Mas pouco importa, porque elas são mesmo lindas sem serem pintadas. Mas, lá que elas são muito vaidosas, ah lá isso são... “ Minina Bonita! “, como dizem por aqui.

04.04.2024, quinta feira  - Mentes espertas

Hoje a conversa com o Eustáquio deu nestas duas histórias que aconteceram por aqui mas que podemos encontrar em muitos outros lados. E tudo veio à baila de lhe ter contado a história do primo Manel Russo que, depois de concluir a Aliance Française, em Paris, foi pedir trabalho ao Institut du Vrai Portugais, cujo proprietário e diretor era o nosso conhecido ex-padre Zé Pedro. 

O Manel, qual professor, ficou agradecido porque lhe foi dito: “ Se quiseres podes começar a trabalhar já amanhã." E assim fez. Passou-se um mês de trabalho, e o novo professor, como o ordenado nunca mais era pago, foi junto do diretor e perguntou: “Alors, mon salaire?” O diretor olhou para ele e retorquiu: “ O teu salário?! Tu só me pediste para trabalhar!”. 

Então o Eustáquio riu, mas acrescentou duas histórias mais ou menos relacionadas com a que acabei de contar.

A primeira: Um senhor que vive nas montanhas teve de vir à capital para tratar dos seus assuntos. Chegada a hora do almoço procurou um restaurante onde pudesse comer. Entrou, sentou-se a uma mesa, e de pronto chegou um empregado que lhe perguntou: “O que quer comer?” E logo lhe fez uma lista do pretendido. 

Comeu e bebeu o que pediu e, para espanto geral, o senhor levantou-se para ir embora. Foi então que o empregado o atalhou e lhe disse: “ o senhor ainda não pagou”. Ao que o cliente respondeu: “você
perguntou-me só o que queria comer e beber. Porque é que agora tenho de pagar? O senhor ofereceu, não é?...”

A segunda é esta: Veio um senhor de longe num bis (espécie de autocarro) até à cidade. Chegou ao destino e pagou uma quarta (25 cêntimos) ao condutor. Depois, teve que alugar um táxi convencional para a casa onde iria ficar. Perguntou quanto era ao chauffeur e ele respondeu: “3 dólares”. E o viajante, espantado, comentou: “Eh!... então eu paguei uma quarta por um carro grande e agora por um pequenino são três dólares!

Não pode!... E assim funcionam estas mentes brilhantes...

06.04,2024, sábado - Impressionante!

Vamos lá a ver quem faz mais barulho, quem tem oa aparelhagem de som mais potente... Isto até poderia ser tomado com um concurso, mas não é bem assim. Neste sábado de fim de semana, ouvem-se músicas provenientes de todos os lados: vizinhos de trás, vizinhos da frente, vizinhos do lado, vendedores ambulantes, e até cá em casa se ouvem an canções que a Adobe está frequentemente cantando mas sem amplificação.

Isto é uma animação matinal fora de série. E não é por que haja festa na aldeia. É assim mesmo. Cada um à sua maneira curte a vida, mesmo que seja ouvindo as músicas preferidas em altos decibéis. Aqui ou a gente se deixa levar por toda esta agitação musical ou então é para ficar surdo. A lei do ruído não existe, e não podes recriminar ninguém pela utilização que faz dos sons. 

Neste contexto, há momentos que ouvi algo contraditório. Com o nível de som audível a centenas de metros, alguém cantava, acompanhado com guitarra e bateria, a mítica canção de Paul Simon “the souns of the silence”. Como é que o silêncio se pode ouvir ou cantar em altos berros, com ritmos
marcantes?! 

É uma amálgama de emoções. Calma, que agora aqui ao lado fez-se silêncio, e até já se ouvem os passarinhos a piar, os galos a cantar e as crianças a chamar, a rir, a chorar.

07.04.204, doingo,  - “Pancadas de Molière”

Cada dia, cada noite avança de surpresa em surpresa. Sem horas para começar ou acabar, vão-se fazendo as coisas conforme a disponibilidade e a vontade. Com-se quando há fome (e há para comer), dorme-se quando há vontade de dormir, trabalha-se quando há que trabalhar. Sem pressas, com sentimento e coração. E nós, os ocidentais, vamos lá a entender isto?!... 

Ontem o Eustáquio chegou estoirado das viagens às montanhas e, mesmo assim, não deixou para trás o que tem de fazer, a saber: assentamento de mosaicos nos rés do chão, como já antes descrevi. Ele e o Tobias agarraram-se à obra, e aí vai disto. Já eram duas horas da manhã e ainda se ouviam as pancadinhas nos mosaicos que, minuciosamente eram assentes e testados pelo nível de água e pelos sons que o martelo de borracha garantiam. Agora imaginem para alguém que aqui se deita pelas 22 horas e que tem bom ouvido o tormento destas “pancadinhas de Molière”. 

Mas, como um bom timorense, também direi.” Quem tem mesmo sono, dorme. Quem não tem sono, não precisa de dormir, só está na cama”. E o que mais me admira no meio de tudo isto é a resistência e o saber do Eustáquio que, onde mete a mão, as coisas são feitas mas bem feitas, demore o tempo que demorar. É um “homem dos sete(ou mais) ofícios” que qualquer patrão gostaria de ter, com pancadas ou sem “pancadas de Molière”.

08.04.2024, segunda fera  - Tanto para fazer!...

E lá vamos nós outra vez a Liquiçá, fazer o que temos que fazer: entregar o dossiê do processo da proposta de colaboração na Direção da Educação; apresentar cumprimentos ao novo Presidente da Administração Municipal; visitar o Cafe de Liquiçá. 

E começo a ser como os timorenses (grego com os gregos; troiano com os troianos). Não por conveniência, mas porque são mesmo assim. O diretor da educação disse-os logo que o processo irá ser demorado, porque têm de pedir o parecer jurídico, que por sua vez também será demorado, e só depois se apresentará ao ministério da educação para que seja tomada uma decisão final. Que ao menos seja a nosso favor! 

O encontro no município correu bem, embora tivesse sido escasso. No entanto, ficou um encontro marcado para o dia 22 de abril, no qual darei a conhecer o município de Sabugal, servindo-me das informações e materiais de que fui portador. E tudo isto porque há um acordo de colaboração entre os dois municípios Liquiçá e Sabugal que é preciso desenvolver.

A visita ao CAFE tinha como objetivo saber notícias da Maria que frequenta o pré-escolar e da Titânia que frequenta o 5º ano. Azar!... Os alunos estão de férias, porque é o final do 1º período, e os professores estão nas reuniões de avaliação. Felizmente que a professora Teresa, coordenadora da escola, nos dispensou o seu tempo para pormos a conversa em dia.

10.04.2024, quarta feira  - Gleno... Pleno

Um dia em cheio! A convite do amigo professor Mário Louro, fomos até ao grnde vale de Gleno, para a escola CAFE, onde alguns professores e alunos nos esperavam para nos apresentarem o trabalho em elaboração de um sketch sobre os 50 anos do 25 de Abril em Portugal. 

Quiseram ouvir as minhas dicas, sobretudo as relacionadas com a música (porque dizem que eu, como professor de música, sou especialista, e que humildemente tentei fazer) mas, confesso, que pouco ou nada pude acrescentar porque tudo estava já muito bem escolhido. Mais um pouco de performance e o trabalho ficaria cinco estrelas. 

Valeu a pena conhecer esta gente, estes amigos e poder partilhar com eles a maior parte das horas deste dia. E, já agora, muito sucesso para o fim a que se destina: contribuição do Cafe de Gleno para a celebração do 25 de Abril, a pedido da embaixada de Portugal. Valeu a pena subir montes, descer vales, serpentear caminhos e estradas.

Um facto interessante é que em Tibar, na ida e na volta, ao visitarmos a fraternidade dos Capuchinhos e a fraternidade das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, se tenha verificado o mesmo acontecimento: depois de batermos à porta ou tocarmos a campainha várias vezes, e já desistindo de sermos atendidos, aparece um capuchinho que nos atende e a carrinha das irmãs que, amavelmente nos saúdam. Em ambos os casos tivemos de voltar para trás, mas valeu bem a pena. A irmã Teresa, superiora da comunidade, depois de eu me apresentar perguntou-me logo: “Você é da Guarda?”... "Sim”... É que a irmã Rita, que vive na comunidade de Lautem e que também é da Guarda, perguntou por si. Na celebração do envio esteve com a sua mãe que lhe manda cumprimentos, beijos e abraços”. 

Ora aqui está uma grande confusão! Então a minha mãe já faleceu em 2004, e eu com 77 anos já bem feitos, como pode isso ser? Depressa me dei conta de todo este engano e retifiquei a situação. De qualquer forma, peno ainda estar com a irmã Rita e agradecer-lhe esta preciosa encomenda.

12.04.2024, sexta feira  - Mas o que é que Deus anda a fazer ?

Cada dia que passa enriquece-nos com conhecimentos vindos de histórias e casos que nos contam. Ontem foi a irmã Teresa que nos contou este caso. Havia num lar um senhor que fez 99 anos e todos os que com ele lidavam o animavam dizendo: “ Senhor José, vamos lá ter ânimo porque você é a pessoa mais idosa desta casa, e temos de festejar os seus cem anos.”

 E o tempo foi decorrendo, até que se soube da existência de uma senhora que já tinha feito os 100. Então a mesma pessoa que o animava chegou um dia à sua beira e disse: “Senhor José, afinal não é você a pessoa mais velha, porque há uma senhora que já fez os 100 anos”. Ao que o velhote retorquiu: “Mas o que é que Deus anda a fazer? Esqueceu-se de a levar?”... 

E ainda há quem queira morrer...Ai Costa! A vida Costa!...

12.04.2024, sexta feira  - Eustáquio, o “perfecionista”.

Já por várias vezes referi o zelo com que o Eustáquio faz e e cuida das coisas. Como ele diz: “Há-que fazer as coisas com sentimento”. Então não é que o artista que agora anda a assentar os mosaicos cá em casa, não seguiu a linha que lhe indicava a boa direção? E vai daí que o Eustáquio, já depois de se ir embora o trabalhador, se deu conta do desvio e procedeu ele mesmo ao alinhamento, como que a dizer “amanhã quando chegar vou mostrar-lhe o erro e vai ter que arrancar para pôr de novo”. 

Dito e feito. Esta manhã que já vai a meio, cá se ouvem as marteladas a desfazer o que já estava feito, para refazer como deve ser. Não sei não, mas se isto se desse com alguns portugueses, quem sabe se acatariam as ordens do Eustáquio sem barafustarem. Mas aqui em Ailok Laran, o Eustáquio é um homem de respeito que muitos procuram para resolver situações e, com certeza, ninguém se atreveria a contestar as suas ordens. E até porque ele tem razão.(...)
 

15.04.2024, segunda feira  - Mais uma voltinha...

Esta vida é um carrossel que, de volta em volta, faz a vida acontecer. A volta de hoje insere-se nos esforços que temos vindo a fazer para encontrar uma solução para a colocação de professores na escola São francisco de Assis. Hoje, por sugestão e influência do Dr. Dionísio Babo, anterior ministro da Justiça e atualmente embaixador de Timor Leste na ONU, vamos falar com o professor Roger Soares, coordenador das escolas CAFE neste país. 

Não sei o que isto vai dar, mas parece-me que pouco mais passará de uma apresentação. Ou então ficará tudo em promessas que nunca serão cumpridas, como já vai sendo habitual neste contexto.  Presencialmente louvam o que estamos fazendo, batem palmas a este projeto solidário, mas não passa daqui. 

Eu sei lá o que mais podemos fazer!? E eu gostava tanto que este assunto se resolvesse durante esta minha estadia em Timor. É que daqui a um mês, 15 de Maio, estarei de regresso a Portugal. E, com franqueza, não sei quando e se voltarei. As viagens e as condições de vida já fazem mossa neste corpo em envelhecimento. Mas o futuro só a Deus pertence...

15.04.2024, segunda feira  - De novo esta história...

Creio que já abordei esta história numa das crónicas das estadias anteriores, mas a sua graciosidade é tanta que hoje, ao coment-la com o Eustáquio, deu-me vontade de a reescrever. Então aqui vai. 

Conta-se que um rapaz, filho de gente de posses, foienviado para Portugal afim de fazer os estudos num seminário para vir a ser padre. (padre / amo é talvez das profissões mais estimadas e respeitadas, ainda hoje, aqui em Timor Leste). O rapaz foi para Portugal mas em vez frequentar os estudos do seminário
dedica-se a outras ocupações que derretiam o dinheiro enviado periodicamente pelo pai.

Entretanto, chegou a altura de ele regressar a Timor e este “falso estudante” do que se lembrou? Comprou o pano preto necessário e foi ao alfaiate mandar fazer uma batina. Quando o avião aterrou em Dili, tinha a família à sua espera que orgulhosamente acolhia o filho padre. E, como de padre não tinha nada, ía proferindo frases em “latim” para que acreditassem que ele tinha mesmo estudado para padre em Portugal. 

Uma das frases mais célebres é esta: “Ó canes como me pat lá sa me. Eu sou cá como te.” Ora,
quem percebe alguma coisa de latim, vê logo que não há na frase nada que se aproveite.
O resto da história não se sabe. Mas quem o ouvia afirmava: “Sim! Ele fala latim, como
os padres. E esta história acaba assim..

15.04.2024,  segunda feira - Isto dá que pensar...

Pátria! Pátria! Timor-Leste, nossa nação. Glória ao povo e aos heróis da nossa libertação!” Quem não vibrou com a independência deste país irmão? Aqui ou no estrangeiro, e sobretudo em Portugal, foram momentos de emoção ao ouvirmos pela primeira vez o hino de Timor-Leste e ao vermos içar pela primeira vez a bandeira deste povo. Foi um momento muito esperado e muito vivido. 

De então para cá 23 anos já são decorridos e, como em qualquer país, há quem se pergunte sobre as vantagens e as desvantagens de ser um país independente ou de ser uma província da Indonésia. Ainda hoje ouvi um comentário de alguém que sofreu muito com a invasão: 

“No tempo dos indonésios havia estradas boas para todos os distritos, escolas também. Agora com a independência, há alguns que têm bons empregos, bons carros, boas escolas e outras coisas mais. Mas a maioria do povo o que é que tem? Se o referendo fosse hoje, se calhar não votaria a favor da independência.” 

Por outro lado, a língua bahassa ainda está muito arreigada na população. Muito mais que a língua portuguesa, que é a segunda língua oficial. E, apesar dos muitos esforços que os governos de Portugal e de Timor têm feito, não vai ser nada fácil fazer vingar a língua de Camões. Nas famílias, nos mercados e na maioria das escolas fala-se o tétum e o bahassa e não o português. É muito lindo querer que as pessoas falem a nossa língua, mas não será fácil ou até mesmo impossível que isso aconteça. Quem me dera poder estar enganado...

15.04.2024, segunda feira  - É fazendo que se aprende a fazer...

Neste caso é bebendo que se apanha o gosto. O Eustáquio, durante a sua estadia em Portugal viu que as pessoas consumiam um bebida que sempre o intrigou e desejaria experimentar, mas que não o fez. Hoje, no bar do Pateo, ao perguntar-lhe o que queria beber, primeiro pediu um sumo de compal, só que depois avistou uma garrafa de Frize e pediu para trocar, porque queria experimentar aquela bebida que desde Portugal o intrigava. 

Já numa mesa sentados para saborearmos o que tínhamos pedido, o Eustáquio, com muita apreensão, leva a Frize à boca e, de repente, repele a bebida dizendo:” Eh pá, não presta! Não tem gosto!” Pudera, pois a Frize é uma água mineral gaseificada!... Ainda lhe adicionou dois pacotes de açúcar que sobraram do meu café mas, mesmo assim, não conseguiu consumir a porção que a garrafa continha. Fez questão de trazê-la para casa como recordação desta degustação.

(Revisão / fixação de texto: LG)

Conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4
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Nota do leitor:

domingo, 3 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25233: In Memoriam (500): Eduardo Cesário Rodrigues, mais conhecido por "Salazar" (1941-2024), ex-alf mil, CCAÇ 1420 (Fulacunda) e CCAÇ 6 (Bedanda) (1967 / 69) (Joaquim Pinto Cavalho)



Eduardo Cesário Rodrigues, "Salazar" (1941-2024), ex-alf mil CCAÇ 1420 / BBCAÇ 1857 (Fulacunda) (jan-abr 67), e CCAÇ 6 (Bedanda) (mai67 - jun68)


Guiné > s/l > s/ d> O "Salazar" à esquerda



Guiné > Região de Tombali > Bedadanda > CCAÇ 6 > c. 1967/68> O "Salazar", do lado esquerdo, sentado, com boina,  a “tocar” no instrumento de que não sei o nome.



Portugal > Mealhada > 29 de junho de 2013 > 3.º Encontro dos Bedandenses, organizado pelo António Teixeira, "Tony" (1948-2018), ex-alf mil CCAÇ 3459/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 6, Bedanda (1971/73). 

Fotos (e legendas) : © Joaquim Pinto Carvalho (2024). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaraada da Guiné.]


1. Mais uma notícia triste que nos chega por telemóvel e depois por email de 26 do passado mês de fevereiro, por parte do Joaquim Pinto Carvalho 

tem 64 referências no nosso blogue; é membro nº 633 da Tabanca Grande; foi alf mil da CCAÇ 3398 (Buba) e CCAÇ 6 (Bedanda) (1971/73); natural do Cadaval, é advogado, poeta e régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã; é autor de uma brochura com a história da unidade, a CCAÇ 3398, distribuída no respetivo XXV Convívio, realizado no Cadaval, em 18/9/2021; vai voltar no dia 9 à Guiné, passando por Bossau, Buba e Bedanda, com um grupo de graduados da ua CCAÇ 3398)]


Data - 2 de março de 2023, 20h21:

Olá, Luís!

Seguem breves elementos informativos sobre o "Salazar", que morreu no  passado dia 26 (*),   e algumas fotos em anexo ...

Nome: Eduardo Cesário Rodrigues, conhecido por  "Salazar". (O "nickname" Salazar nasceu no seio da família e era assim conhecido entre os amigos e até na tropa)

Data nascimento: 18/07/1941

Data do óbito: 26/02/2024

Incorporação: 03/05/1965

Disponibilidade; 28/02/1969

Embarque em Lisboa a 11/01/1967 a bordo N/M "Rita Maria" | Desembarque na Guiné no dia 19/01/1967

Patente: Alferes miliciano

Subunidades e locais: 

CCAÇ 1420 (BCAÇ 1857) – Fulacunda

CCAÇ 6 – Bedanda, 4º Pelotão,  de 01/05/1967 a 01/06/1968.

27/08/1968 – evacuado para o Hospital Militar Principal  (HMP), em Lisboa por doença em serviço.

Foi ferido na operação “Salto",  na zona de Caboxanque (Cantanhez), em data que não
 conseguimos precisar.

É o que tenho por agora. Pode ser que venha a obter mais dados. A foto ao pé do estandarte foi tirada num almoço convívio na Mealhada, organizado pelo Toni...

Ao dispor

Um abraço

Pinto Carvalho 
 

Guião da CCAÇ 6 (Bedana, 1967/74) , "Onças Negras", cuja lema era, de acordo com o guião acima reproduzido,  "Aut vincere aut morire" [Vencer ou morrer]. A antiga 4ª CCAÇ foi extinta a partir de 1abr67, passandP a designar-se por CCaç 6,

Foto: © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados.[ Edição e legendagem: Blogue luís HGraça & Camaradas da Guiné]



Peniche >  28 de setembro de 2013 > Convívio dos bedandenses da CCAÇ 6 e outras subunidades > Tasca secreta do Belmiro >  A chegada do Eduardo Cesário Rodrigues (de alcunha, Salazar), vendo-se o seu filho, de costas.


Peniche >  28 de setembro de 2013 > Convívio dos bedandenses da CCAÇ 6 e outras subunidades > Tasca secreta do Belmiro > Foto nº 8 > O "Salazar", o filho e a afilhada


Peniche >  28 de setembro de 2013 > Convívio dos bedandenses da CCAÇ 6 e outras subunidades > Tasca secreta do Belmiro > O Hugo Moutra Ferreira,  o "Salazar", o João Carapau, o Gualdino (sempre convenientemente acompanhado) e o Lassana

Fotos (e legendas) : © Hugo Moura Ferreira (2013). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaraada da Guiné.]


Neste convívio de Peniche, organizado pelo Bemiro da Silva Pereira (1946-2022), houve 34 presenças... A recordar:

Aníbal Magalhães Marques (1972/74 ?), mais 3 familiares (n=4)

Belarmino Sardinha ((ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74), Cadaval) +  esposa (n=2)

Belmiro Silva Pereira (alf mil, 1968/69, Peniche,), mais  a esposa e filho (n=3)

Eduardo Cesário Rodrigues (Salazar) (alf mil, 1967/68), mais o filho e a afilhada (n=3)

Fernando de Jesus Sousa (fur mil, 1971/73) +  esposa (n=2)

Gualdino José da Silva (fur mil 1967/69, Algarve) mais 1 casal amigo (n=3)

Hugo Moura Ferreira (alf mil, 1967/68, Lisboa) + esposa, Lorena (n=2)

Joaquim Pinto Carvalho (alf mil, 1972/73, Cadaval) +  espoa, Maria do Céu (n=2)

João António Carapau (alf mil médeico, 1967/68, Portela, Loures) (n=1)

João José L. Alves Martins (alf mil art, BAC 1, 1968/69, Lisboa) n=1)

José P. B. Guerra (1º Cabo, 1971/73) (n=1)

Lassana Djaló (, o mais bedandense de todos os bendandenses, Lisboa) (n=1)

Luís Graça (fur mil, CCAÇ 12, 1969/71, Alfragide/Amadora) mais Alice (n=2)

Luís Nicolau (o homem do SPM, 1972/73, Benedita, Alcobaça) (n=1)

Renato Vieira de Sousa (cap inf, 1967/68, hoje cor ref, Lisboa) (n=1)

Rui [Gonçalves dos}  Santos (o mais vellhinho dos bedandenses, 1962/64, Lisboa) (n=1

Victor Luz (fur mil, 1967/68), mais esposa e 1 casal amigo (n=4)

Não compareceram mas estavam pré-inscritos (n=6)

Amadeu M. Rodrigues Pinho (alf mil, 1967/68)

António Rodrigues (O Capitão do Estandarte: o último Alferes / Capitão, fiel depositário do estandarte e da Cruz de Guerra)

Carlos Nuno Carronda Rodrigues (alf mil , hoje cor ref)

José Caetano

José Vermelho [ex-fur mil, CCAÇ 3520, Cacine; CCAÇ 6, Bedanda; e CIM, Bolama, 1972/74,]

Toni [António,] Teixeira [, ex-alf mil,  CCAÇ 3459/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto; e  CCAÇ 6,  Bedanda,  1971/73;  Espinho)
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2. Comentário do editor LG:

Joaquim, apanhaste-me de "baixa"...Lamento muito a morte de mais um dos nossos camaradas que passaram pelas "africanas"... O "Salazar", como era carinhosamente  tratado pelos "bedandenses", não é do meu tempo nem do teu, mas convivvemos com ele, tu muito mais do que eu. (Eu esporadicamente, em 2013, nos convívios da Amadora e em Peniche).

Não chegou a perfazer os 83 anos, este nosso veterano. Aqui fica a tua homenagem, e a de todos nós. Ele  não será inumado na "vala comun do esquecimento", mesmo que a interação com o nosso blogue tenha sido muito diminuta. Fica aqui, neste cantinho do ciberespaço, o registo de quem se lembrou na vida e na morte.

Transmite às "Onças Negras" e demais "bedandenses"  as nossas  condolências, bem como à sua família natural, esposa, filho, afilhada. 

Juntei  mais umas fotos dos nossos convívios.  Se, nesta viagem de saudade, que vais empreender à Guiné-Bissau, com início no dia 9, conseguires chegar a Bedanda, tira algumas fotos das vossas comuns geografias emocionais. E partilha depois com todos nós. Boa viagem, melhor regresso. 

Amadora > Venda Nova > Restaurante "O Gomes", às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > "O Eduardo Cesário Rodrigues, mais conhecido por "Salazar". Este nome que lhe é dado desde os anos 50, faz quase parte do nome dele. Eu costumo colocar no final do nome dele Salazar entre aspas. Como se fosse um título!". (**)

Foto (e legenda): © Hugo Moura Ferreira (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaraada da Guiné.]

Amadora > Venda Nova > Restaurante "O Gomes", às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > Da esquerda para a direita, Gualdino da Silva, o lugar (vazio) deixado em memória do Tony, e o Joaquim Pinto Carvalho 

Foto: © Manuel Lema Santos (2013). Todos os direitos reservados. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaraada da Guiné.]

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Notas do editor:



segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23784: Notas de leitura (1516): "Fora de Jogo", com a participação de Amadu Dafé, Claudiany Pereira, Edson Incopté, Marinho de Pina e Valdyr Araújo; Ku Si Mon Editora, 2019 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Abril de 2020:

Queridos amigos,
Prossegue a viagem em torno da escrita das novas gerações que praticam com talento e inspiração o luso-guineense à luz dos seus sonhos e das quimeras, tratam sem complexos do direito dos costumes, o sentido de família, o conflito entre uma moral sexual muito disponível e as terríveis doenças sexualmente transmissíveis que avassalam o continente africano; retomam a linha de literatura oral em que os bichos podem ser criaturas humanas, nenhum dos autores envereda corajosamente pela abordagem do lesbianismo; e não se esconde a mágoa pelo modo como são tratados aqueles combatentes que deram o corpo a uma pátria invadida por ratos, como escreve um autor, numa denúncia cáustica, direta às novas elites políticas que se movem pela pura ganância, estando-se nas tintas pelos interesses básicos do seu povo. Uma antologia que mostra a boa saúde em que se encontra a literatura luso-guineense. Sinceros parabéns à Editora Ku Si Mon na pessoa do grande escritor Abdulai Sila.

Um abraço do
Mário



O vigor de uma expressão literária emergente: o luso-guineense (2)

Mário Beja Santos

Serve de pretexto para reflexão de uma nova geração de escritores que encontraram um modelo de comunicação o livro que rememora os 25 anos da Ku Si Mon Editora, uma iniciativa que tem por detrás o nome consagrado da literatura guineense, Adbulai Silá: "Fora de Jogo", com a participação de Amadu Dafé, Claudiany Pereira, Edson Incopté, Marinho de Pina e Valdyr Araújo, Ku Si Mon Editora, 2019.

Esta nova geração de talentos literários usa como ferramenta de comunicação um português plástico, moldado com a riqueza dos vocábulos próprios inerentes à formação do escritor, seja da Guiné, de Moçambique ou do Brasil, torcem e retorcem a língua de Camões, de António Vieira e de Fernando Pessoa, imputam-lhe a fala do coração, o orgulho da cultura-mãe, polvilham tudo de ingredientes da literatura universal: o humor cáustico, a fábula, as ternuras de infância, a crítica política e social; manipulam a topografia, as crenças, o passado colonial, remexem nos sonhos de ver os filhos prosperar, denunciam os mercados da droga, estão atentos aos fenómenos do radicalismo religioso que começam a aproximar-se da África lusófona. E por aí adiante. O produto final, é essa África misteriosa assistir à entrada em cena de um processo literário que faz transbordar a língua portuguesa para um admirável mundo novo da escrita.

Depois de Marinho de Pina e de Claudiany Pereira, temos o conto "Zé Crocodilo" de Amadu Dafé, um comprovado bom escritor na rampa de lançamento. Numa atmosfera da ainda guerra colonial, Zé Ntchabré entra furioso em casa, pede explicações a Nnami, a mulher, que é lavadeira do capitão. Zé soube pelo capitão que Nnami, a sua noiba (a mulher mais nova) está grávida, e dele, o capitão, ao princípio Zé pensou que se tratava de uma brincadeira, o capitão dava a sua palavra de honra. Saiu de casa e abeirou-se no rio Mansoa, atirou-se às águas. E passou a haver falatório na tabanca: “Zé virou crocodilo”. O capitão enviou um contingente militar para resgatar Zé Crocodilo, parecia não haver resultados, o capitão preparava-se para se atirar sozinho ao rio, nisto apareceu Zé que energicamente o dissuadiu. A conversa girou à volta de duas meninas que Zé tinha salvo das águas, houvera metamorfose, Zé pede ao capitão para ser promovido, ele prefere nomeá-lo Zé Crocodilo. Nnami teve uma menina linda e mulata. E assim termina a história: “Em mistério ficou a admiração ao Zé Ntchabré, capaz de virar crocodilo, ao que tudo indicava, e permanecer nas profundezas do rio, talvez com o fito de apanhar almas brancas para as transformar em filhas próprias”.

Marinho de Pina volta à carga com um tema explosivo, desta vez aborda o lesbianismo, uma mulher fala na primeira pessoa depondo que desde menina não tinha nenhuma curiosidade acerca do sexo masculino, interessantes eram as suas amigas. O pai apercebe-se da situação, mesmo quando a menina ficou grávida. Procurava a camuflagem e o alívio da sanção pública dormindo com rapazes. “Comecei a acreditar que o lesbianismo podia ser curado, e quanto mais dormisse com rapazes mais gosto pelo pénis teria e assim me iria libertar da minha atração por mulheres. Mas não é nem sequer do pénis que eu não gosto, mas da pessoa a quem o pénis está anexo. A questão é mesmo eu não sentir atração sexual pelo homem”. A sua vida é um desbragamento. Mas depois de ter dado à luz, o lesbianismo não a enganou, voltou com toda a força, mas houve mudanças no seu caráter, como ela confessa: “Eu achava o lesbianismo como uma doença ou algo assim que se possa passar para os filhos, como um defeito genético, e tinha muito medo de que o meu filho viesse a ser gay (…) O meu filho quebrou os meus medos, eu seria o que era, não o que acham que devesse ser. Eu transformaria aquele meio para que quando o meu filho viesse a ser gay encontrasse uma sociedade melhor e não tivesse os mesmos problemas que eu, e se viesse a ser, que soubesse respeitar e lutar pela normalidade deles, se tivesse de ser”. O pai manda-lhe fazer as malas, irão a caminho de Maputo, ela não sabe para onde. Na estrada, parece vir um carro em perseguição, é uma condução agressiva, quem vem atrás buzina de forma aterradora, acaba por capotar. O pai teme vinganças, deixa-me numa pensão, escreve ela, voltou para casa para ir buscar a mulher e o neto. Batem-lhe à porta freneticamente… E quem aparece não é o pai, fim de conto, todas as suposições são possíveis, fica o eixo central da questão que leva ao desenvolvimento desta trama, a coragem de versar um tema tabu na África negra.

Uma questão de liberdade, de Edson Incopté, fala de Martinho N’fanda que viera estudar para Portugal, filho de chefe de tabanca, profundo conhecedor da cultura e das tradições do seu povo. A vinda para Portugal livrara-o temporariamente do compromisso de casamento com Maria N’tombikté, compromisso estabelecido desde o dia em que esta nascera. Mas Martinho conheceu em Portugal Rita Alexandre, viveram anos da mais quente paixão. Então um dia o pai ordenou-lhe que arrumasse as trouxas e voltasse para o país. Martinho pôs a questão a si próprio: Estava mesmo disposto a voltar para a Guiné-Bissau? Martinho anda à deriva, está confrontado com decisões, mas apercebeu-se pela primeira vez que tinha a liberdade de fazer uma escolha sobre o seu destino. Talvez o destino o tenha obrigado a tomar uma decisão de sorte madrasta, como culmina o conto:

“Ao voltar para casa no final do dia, encontrei-o sentado no sofá da sala com o semblante de quem esteve assim o dia inteiro. Obviamente que não me atrevi a questioná-lo. Mas olhei para os olhos dele e vi neles um brilho invulgar. Era lágrima. Percebi que tinha chorado todo o dia. E foi então que compreendi que a decisão estava tomada. Qualquer que fosse, estava tomada.

Predispus-me a ouvi-lo, mas desta feita quem não estava para conversas era ele. Seguiu para o quarto no preciso instante em que o telemóvel tocou. Mas ele nem para trás olhou. Entrou no quarto e bateu a porta. Não sei por que razão, mas não me atrevi, sequer, a olhar para a chamada”.

Esta surpreendente antologia irá prosseguir com obras de Claudiany Pereira, Edson Incopté, Amadu Dafé, Marinho de Pina, o leitor poderá comprovar que estamos diante de uma literatura refrescada, mesmo quando as temáticas relevam o fatalismo, a crítica política frontal, a indiferença por quem combateu pelas causas da liberdade, o espantalho da SIDA, face ao qual a sociedade ainda reage com imensa indiferença.

Não hesito em voltar a Edson Incopté e ao seu conto "Invasão de Ratos", em que uma criança entra esbaforida em casa dizendo que o professor falara numa invasão de ratos que se tinham espalhado por toda a parte, no bairro do Bandim passou a acontecimento mediático, opinavam jornalistas, profissionais de saúde e políticos, até que chegou o momento de indagar junto da fonte da notícia que provas tinha o professor para colocar uma cidade, um país inteiro em estado de pânico. E o professor respondeu:

“– O senhor acha que preciso de alguma prova? Não vê ratos espalhados por toda a cidade de Bissau? Se não vê, então é cego...! É só subir até à praça, verá aí os ratos todos. O senhor não vê…! Os ratos invadiram a cidade, povoaram as casas mais luxuosas deste país, roeram e roem, todos os dias, o coração das pessoas. Roeram sonhos e valores. Roeram toda a honestidade, a hombridade, até a humildade das pessoas. Já não resta quase nenhuma esperança, roeram quase tudo”.

Parabéns pelos 25 anos da Ku Si Mon, esta antologia é mais uma confirmação de que a literatura luso-guineense não só está em boa forma, cresceu e mostra pujança. É um dos maiores bens da lusofonia, esta festa da palavra.

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Notas do editor:

Vd. poste de 4 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23762: Notas de leitura (1513): "Fora de Jogo", com a participação de Amadu Dafé, Claudiany Pereira, Edson Incopté, Marinho de Pina e Valdyr Araújo; Ku Si Mon Editora, 2019 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 11 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23776: Notas de leitura (1515): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (3) (Mário Beja Santos)