segunda-feira, 21 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1773: Lista do pessoal de Bambadinca (1968/71) (Letras C / Z) (Humberto Reis)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Crachá da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71). Design: Tony Levezinho (Fur Mil At Inf).

Foto: © António Levezinho (2006). Direitos reservados


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1969 > Uma equipa de futebol constituída por oficiais da CCAÇ 12 e da CCS do BCAÇ 2852."Temos aqui uma equipa de futebol em miniatura. Em Dezembro de 69, já eu estava afecto a Bambadinca, às ordens do BCAÇ 2852. Com a tradicional divisão de classes, houve um jogo de oficiais contra sargentos ou vice-versa. Joguei à baliza e deixei entrar três frangos. O Taco Calado fracturou um braço e foi direito à enfermaria. Na fotografia constam, da esquerda para a direita, um camarada que já não consigo identificar, o Alf Mil Rodrigues, da CCAÇ 12 (já falecido), o Alf Mil Carlão (CCAÇ 12) e o Alf [Ismael] Augusto (CCS do BCAÇ 2852).De pé, também da esquerda para a direita, estou eu, o então major Cunha Ribeiro (hoje coronel), o médico David Payne (já falecido), o capitão da CCAÇ 12, Carlos Brito (hoje coronel) e o Alf Mil Abel (também da CCAÇ 12).

Foto e legenda: © Beja Santos (2006. Direitos reservados



Segunda (e última) parte da lista, elaborada pelo Humberto Reis, com os nomes, as moradas e os contactos contactos telefónicos, do pessoal que passou por Bambadinca, nos anos de 1968 a 1971, coincidindo basicamente com a comissão da CCS do BCAÇ 2852 (1968/70) e com a da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71) (1).

Anteriormente foram publicados os primeiros nomes, correspondentes às letras A e B, seguidos da morada e dos contactos telefónicos. A lista, ordenada alfabeticamente, está em actualização permanente. A situação reporta-se a 2002. O pessoal que passou por Bambadinca, entre 1968 e 1971, está convocado para um convívio, a realizar em Lisboa, na Casa do Alentejo, no próximo dia 26 de Maio do corrente (2).

Sobre o pessoal da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Junho de 1969/Março de 1971), ver o post já publicado (3) (LG).


35__________________________________________


CARLOS ALBERTO A. GALVÃO (ex- 1º Cabo At Inf, CCAÇ 12)
Quinta da Ladeira,Lote A 2º Drt.-Bairro Rodrigo
6200 COVILHÃ
Telefone > 275322726 / Telemóvel > 965158779


36____________________________________________


CARLOS A. MACHADO BRITO, Coronel (ex-Capitão QP, CCAÇ 12)
Avenida João XXI, 755 - 2º Esq.
4710 BRAGA
253214754

37____________________________________________


CARLOS DOMINGOS O. PINTO (CCS do BCAÇ 2852)
Rua Orfeão do Porto, 352 - 11º B
4150-798 PORTO
226181021

38____________________________________________


CARLOS MANUEL SÉCIO PINTO
Rua António Aug.Sousa,134 - R/C Esq.-Custoias
4460 MATOSINHOS
229554789

97______________________________________________

DIAMANTINO R. ANDRÉ, Tenente-coronel
Camara Municipal
6150 PROENÇA-A-NOVA
274670100


40____________________________________________

DINIS GILBOT DALOT (ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 12)
R.Prolong.Liberdade,Lote 1-2º Esqº.-Porto Alto
2135-121 SAMORA CORREIA
?26361515 / 962611852

41____________________________________________


DOMINGOS MIRANDA MENDES (CCS do BCAÇ 2852)
Restaurante "O Porco" - Av. Fernão Magalhães, 718
4350-151 PORTO
225372801


44____________________________________________

EDUARDO VERISSIMO S. TAVARES (ex-1º Cabo Escriturário, CCAÇ 12)
Rua da Atafona, 119 - Oliveira do Douro
4430-323 VILA NOVA DE GAIA
223756084 / 223712554

45____________________________________________

EUGÉNIO BAPTISTA NEVES, Coronel (CCS do BCAÇ 2852)
Avenida 25 de Abril, 47 - 1º Esq.
2200-255 ABRANTES
241361256

46____________________________________________

FAUSTINO GONÇALVES MARTINS
Rua Serpa Pinto, Nº 75
2350-552 TORRES NOVAS
249825190 / 914529393

47____________________________________________

FERDINANDO DE CASTRO MARTINS (CCS do BCAÇ 2852)
Rua Dr. Moreira de Sousa, 14
4435-216 RIO TINTO
224893378

48____________________________________________

FERNANDO ANDRADE SOUSA (ex-1º Cabo Aux Enf, CCAÇ 12)
Largo Senhora da Assunção, 17 - Esprela
4785-177 TROFA
252414249 / 919283989

49____________________________________________

FERNANDO JORGE CRUZ OLIVEIRA (CCS do BCAÇ 2852)
Estrada Nacional 378 - Rua Pinheiro Grande, 7
2865-020 FERNÃO FERRO
212121126 / 938378920

50____________________________________________

FERNANDO TACO CALADO (ex-Alf Mil Trms, CCS do BCAÇ 2852)(2)
Rua Pinheiro Chagas, 46 - 5º Esquerdo
1050-179 LISBOA
213561893

51____________________________________________

FRANCISCO A M. PATRONILHO (ex-Sold Condutor Auto, CCAÇ 12)
Rua S. Gonçalo, 255 - Brejos de Azeitão
2925-256 AZEITÃO
212188272 / 965738880

52____________________________________________

FRANCISCO MAGALHÃES MOREIRA (ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 12)
Lameiras - Lama
4780-313 LAMA Santo Tirso
252856534

53____________________________________________

GABRIEL DA SILVA GONÇALVES (ex- 1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 12)
Calçada do Tojal, 28 - 4º Esq.
1500-595 LISBOA
217649095

54____________________________________________

HERCULANO J. DUARTE COELHO (CCS do BCAÇ 2852)
Quinta Minota, 12 Esq. - Portela da Ajuda
1495 LISBOA
214189047

55____________________________________________

HUMBERTO SIMÕES REIS, Eng. (ex-Fur Mil Op Esp, CCAÇ 12)
Avenida D. Luis I, nº 32 - 4º Frente
2720-189 ALFRAGIDE
214716339 / 919039672

56_____________________________________________

ISMAEL QUITÉRIA AUGUSTO, Eng. (ex-Alf Mil, CCS do BCAÇ 2852) (2)
Avenida 5 de Outubro - RTP
1000 LISBOA
217947675 / 919797247

57_____________________________________________

JAIME SOARES SANTOS, Dr. (ex-Fur Mil Vagomestre, CCAÇ 12)
Rua Nicolau Tolentino, Nº 1 - 6º E
2855-210 CORROIOS
212534197 / 917213825

58______________________________________________

JOÃO ALVES COSTA
Rua Gago Coutinho, 42
4450-141 MATOSINHOS
229370071 / 938684893

59 _____________________________________________

JOÃO CARREIRO MARTINS (ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 12)
Rua Virgilio Correia, 32 - 4º Drt.
1600-224 LISBOA
217275459

60______________________________________________

JOÃO DIAS VIEIRA
Vil de Soito
3500 VISEU


61______________________________________________

JOÃO GONÇALVES RAMOS (ex-Sold Radiotelegrafista, CCAÇ 12)
R.José Dias Coelho,Lote 606-Quinta do Conde,1
2830-123 BARREIRO
212101404 / 963093167


62______________________________________________

JOAQUIM A. M. FERNANDES, Eng. (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 12)
Quinta do Corvo - Sto. António Charneca
2835 BARREIRO
212160325 / 934001002

63______________________________________________

JOAQUIM CLEMENTE RIBEIRO
Rua Amieiros, Lote F 25 - 6º - Rinchoa
2635-102 RIO DE MOURO
219162689


64______________________________________________

JOAQUIM JOÃO SANTOS PINA (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 12)
Urbanização Singamar - Lote 101
8300 SILVES
282443213

65______________________________________________

JOAQUIM MOREIRA GOMES (ex-Fur Mil Mecânico, CCAÇ 12)
Rua Simão Bolivar, 41 - 1º Esqº.
4470-214 MAIA
229812185

66______________________________________________

JOAQUIM VIDAL SARAIVA, Dr. (ex-Alf Mil Médico, CCS do BCAÇ 2852)
Esplanada Fernando Ermida, 128
4405-335 S.FÉLIX DA MARINHA
227810206 / 227624167

67______________________________________________

JORGE PEDRO O. CABRAL, Dr. (ex-Alf Mil Art, Pel Caç Nat 63)
RuaAndré de Gouveia, lote 1643 - 4º Drt.
1750 LISBOA
217585508


68 _____________________________________________

JOSÉ ANTÓNIO LIMA CARVALHO (CCS do BCAÇ 2852)
Rua Miguel Ventura Terra, 13
4910-345 SEIXAS CMN
258727063 / 963040429

69 _____________________________________________

JOSÉ ANTÓNIO PRATA RODRIGUES
Ferrarias-Rua Pereirinho(S. André das Tojeiras)
6000-646 SANTO ANDRÉ DAS TOJEIRAS

70______________________________________________

JOSÉ AUGUSTO MOURÃO
Rua do Jogo da Bola, 13 - 2º Drt.
2350-794 TORRES NOVAS
249826214 / 967624854

71 _____________________________________________

JOSÉ CARLOS RODRIGUES LOPES (CCS do BCAÇ 2852)
Rua D. João da Câmara, 9 - 2º Esq.
2795-105 LINDA-A-VELHA
214193125 / 933530865


72 _____________________________________________

JOSÉ EDUARDO PINTO SANTOS (CCS do BCAÇ 2852)
Avenida Vasco da Gama, 644 - Valadares
4405-610 V.N. GAIA
221762371 / 914721651

73 _____________________________________________

JOSÉ FERNANDO G. ALMEIDA (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 12)

ÓBIDOS
262958178


74______________________________________________

JOSÉ JOÃO SILVA ESTEVES
Avenida 5 de Outubro, 98 - 2º. Esq.
2900-308 SETUBAL
265229723


75_____________________________________________

JOSÉ LUÍS P. VACAS CARVALHO (ex-Alf Mil Cav, Pel Rec Daimler)
Rua Mercês, 123
1300-407 LISBOA
213627457


76_____________________________________________

JOSÉ LUÍS VIEIRA DE SOUSA (ex-.Fur Mil At Inf, CCAÇ 12)
Rua 5 de Outubro, 107 a 3º Drt.
9000-216 FUNCHAL
291751929

77_____________________________________________

JOSÉ MANUEL AMARAL SOARES (CCS do BCAÇ 2852)
Largo Vieira Caldas, 6 a 3º Drt.
1675-605 CANEÇAS
219800679 / 962428053

78_____________________________________________

JOSÉ MARQUES ALVES (ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12)
Rua das Cruzes, 107 R/C
4510-542 FANZERES
224801560


79 ____________________________________________

JOSÉ MARTINS ROSADO PIÇA (ex-2ºSargento Inf, CCAÇ 12)
Rua Florbela Espanca, 16 R/C
7000-714 EVORA
266706216

80_____________________________________________

JOSÉ SILVA DOMINGOS
Rua Delfim Diogo Silva
2080-550 FAZENDAS DE ALMEIRIM
243509394


81 ____________________________________________

LUCIANO PEREIRA DA SILVA (ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12)
Ventozela - Refojos
4825-342 REFOJOS DE RIBA DE AVE
252891491


82_____________________________________________

LUÍS JORGE M. SÁ MONTEIRO (ex-1º Cabo Cond Auto, CCAÇ 12)
Rua Oliveira Monteiro, 151 - 1º F
4000-442 PORTO
226092257

42____________________________________________

LUIS M. GRAÇA HENRIQUES, Dr. (ex-Fur Mil Arm Pes Inf, CCAÇ 12)
Rua Prof. Lidley Cintra, 2 - 3º Esq.
2610-151 ALFRAGIDE
214710736 / 932810872
E-mail: Luís Graça

83 ____________________________________________

MANUEL A. FARIA BRANCO (ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12)
Rua Alfredo Bastos, 339
4480-724 VILA DO CONDE
252622003

84_____________________________________________

MANUEL ALMEIDA
Av.da Liberdade, 49 - Fragosela de Cima
3500-478 VISEU
232478122 / 965350361

85_____________________________________________

MANUEL ANTÓNIO R. BRÁS (CCS do BCAÇ 2852)
Prac. Florbela Espanca, Lote 55 - Alto Bexiga
2000-641 SANTARÉM
243203444

86_____________________________________________

MANUEL COSTA
Vivenda Costa Lote 1 - Dalvares
3610-013 DALVARES
254678127


87_____________________________________________

MANUEL FERREIRA DA COSTA
Rua Rocha Silvestre, 138 - Oliveira do Douro
4430-512 VILA NOVA DE GAIA
227824003


88_____________________________________________

MANUEL JOAQUIM M. FERREIRA
Rua Oliva Teles, 1618 - 2º Dt.
4405 S. FELIX DA MARINHA
227623310/ 919779132

89_____________________________________________

MANUEL MARIA CARITA ANDRÉ (ex-Sold Radiotelegrafista, CCAÇ 12)
Rua da Paz, 52 - Pego Garcia
2430-449 MARINHA GRANDE
244552294

39____________________________________________


MANUEL MARIA P.FIGUEIRAS, Coronel (CCS do BCAÇ 2852)
Rua S. João de Deus, 26
8000-368 FARO
289823553

90_____________________________________________

MANUEL MATOS BANHA
Avenida Herois do Ultramar, 23 - Cave Drt.
7000-720 EVORA
266646515


91______________________________________________

MANUEL MONTEIRO O. VALENTE (ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12)
R.Joaquim Lopes Pinto,118-1º-Dto-V.Paraiso
4405-868 V.N.GAIA
229811295 / 225480434

43____________________________________________

MÁRIO BEJA SANTOS, Dr. (ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)
Rua João Villaret,31 - 1º Drt.
1000-182 LISBOA
217972317


92______________________________________________

OTACÍLIO LUÍS HENRIQUES
Rua Tomás Lima, 32 R/C - Esqº. - Laveiras
2870-541 PAÇO DE ARCOS
214410201


93______________________________________________

RENATO SEMEDEIROS (ex-1º Cabo Mec Auto, CCAÇ 12)
R.Prof.Dr.António Flores,12-1º Esqº.-Reboleira
2720-469 AMADORA
214967997

94______________________________________________

RUI FLORES
Rua Projecto da Estrada da Chainça - Lote 30
2040 RIO MAIOR
243996192


95______________________________________________

SÉRGIO FERNANDES VELHO (CCS do BCAÇ 2852)
Urbanização Olho Marinho - Lote 2
4990-145 PONTE DE LIMA
258942864

96______________________________________________

SILVINO AIRES LOPES CARVALHAL (CCS do BCAÇ 2852)
Rua Narciso Ferreira, 85 - 3º F
4760-105 V.N. DE FAMALICÃO
252373243/ 965610773



98______________________________________________

TIBÉRIO GOMES DA ROCHA (ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 12)
Quinta de Dentro - Lote 19
3500-804 RIO DE LOBA
232449240

99______________________________________________

UMARU BALDÉ (ex-Sold Ap Mort, CCAÇ 12)
Rua António Feijó, Nº 6 - R/C Esq.
2700 AMADORA


100_____________________________________________

VALENTIM DURVAL RAMALHO MONTEIRO (CCS do BCAÇ 2852)
Avenida Joaquim António de Aguiar, 100 - 3º.
4000-309 PORTO
225103016


101______________________________________________

VICTOR R JOSÉ TEODORO
Beco Teodóros, Nº 3 - Casais de Aramenha
2500-003 A-DOS-FRANCOS (C.RAINHA)


102 _____________________________________________

VIRGÍLIO MARTINS FRANCISCO
Rua 1, 4 - 1º - Bairro Senhora do Valongo
6000 CASTELO BRANCO
275342887


103______________________________________________

VIRGÍLIO S. A. ENCARNAÇÃO (ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12)
Rua Mouzinho de Albuquerque, 1 - Tercena
2745 QUELUZ
214379078 / 968088504

104 _____________________________________________

VITORINO MELO DE SOUSA
Covelo
4420 GONDOMAR
224760925

__________

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 24 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1545: Lista do pessoal de Bambadinca (1968/71) (Letras A/B) (Humberto Reis)


(2) Vd. pots de 9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1742: Convívios (2): Lisboa, Casa do Alentejo, 26 de Maio de 2007: Bambadinca 68/71, BCAÇ 2852, CCAÇ 12, etc. (Fernando Calado)

(3) Vd. post de 21 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)

Além do pessoal que compunha os 4 grupos de combate da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, havia ainda mais os seguintes especialistas e quadros de origem metropolitana:

1º Sargento Cavalaria Fernando Aires Fragata;
2º Sarg Infantaria José Martins Rosado Piça;
2º Sarg Inf Alberto Martins Vieira;
Furriel Miliciano MAR Joaquim Moreira Gomes;
Fur Mil Enfermeiro João Carreiro Martins;
Fur Mil Trams José Fernando Gonçalves;
Fur Mil Armas Pesadas Inf Luís Manuel da Graça Henriques;
1º Cabo Aux Enf José Maria S. Faleiro;
1º Cabo Aux Enf Fernando Andrade de Sousa;
1º Cabo Aux Enf Carlos A. R. dos Santos;
1º Cabo Trams Inf António Domingos Rodrigues;
1º Cabo Cripto José António Damas Murta;
1º Cabo Cripto Gabriel da Silva Gonçalves;
1º Cabo Manut Material João Rito Marques;
1º Cabo Mec Auto Renato B. Semedos;
1º Cabo Mec Auto António Alves Mexia;
1º Cabo Escriturário Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares;
1º Cabo Cond Auto Luís Jorge M.S. Monteiro;
1º Cabo Radiotelegrafista Manuel da Graça S. Zacarias;
1º Cabo Corneteiro Manuel Joaquim Martins Ferreira;
1º Cabo Cozinheiro José Campos Rodrigues;
1º Cabo Apont de Armas Pesadas José Manuel P. Quadrado.

Refira-se ainda os nossos soldados de origem metropolitana (para além dos operacionais já eventualmente citados, neste caso apenas o Sold At Inf Arménio Monteiro da Fonseca):

Sold Básico João Fernando R. Silva;
Sold Básico Salvador J. P. Santos;
Sold Mec Auto Gaudêncio Machado Pinto;
Sold Trams Inf José Garcia Pereira;
Sold TICA António Fernando Cruz Marchão;
Sold TICA José Leite Pereira;
Sold TICA António Dias dos Santos
Sold Cozinheiro Henrique Manuel;
Sold Corneteiro Orlando da Cruz Vaz;
Sold Corneteiro José de Sousa Pereira;
Sold Radioteleg João Gonçalves Ramos;
Sold Radiot Manuel Maria Catita André;
Sold Cond Auto António S. Fernandes;
Sold Cond Auto Manuel J. P. Bastos;
Sold Cond Auto Manuel da Costa Soares;
Sold Cond Auto Alcino Carvalho Braga;
Sold Cond Auto Adélio Gonçalves Monteiro;
Sold Cond Auto João Dias Vieira;
Sold Cond Auto Tibério Gomes da Rocha;
Sold Cond Auto António S. Fernandes;
Sold Cond Auto Francisco A. M. Patronilho;
Sold Cond Auto Manuel S. Almeida;
Sold Cond Auto António C. Gomes;
Sold Cond Auto Fernando S. Curto;
Sold Cond Auto Aniceto R. da Silva;
Sold Cond Auto Diniz G. Dalot;
Sold Cond Auto Manuel G. Reis.

Há ainda a referir dois soldados africanos que não eram operacionais ou que, pelo menos, não constavam da lista dos grupos de combate:

Sold Cozinheiro 82116869 Gale Camará
Sold Cozinheiro 81117669 Amadú Camará.

Guiné 63/74 - P1772: Tabanca Grande (9): Artur Conceição, ex-Soldado de TRMS da CART 730 (Região do Oio, 1965/67)

Vouzela > Campia > Monumento aos Combatentes do Século XX > Inaugurado em 13 de Novembro de 1999 e dedicado aos campienses combatentes deste século. Lembra aos vindouros a participação de muitos naturais de Campia na Guerra Colonial, na Primeira Grande Guerra e em expedições a África e à India. A iniciativa inseriu-se no IV Convívio dos Combatentes e Forças Expedicionárias da Freguesia de Campia.

Fonte: A Guerra Colonial, página de Jorge Santos > Monumentos (com a devida vénia...)



1. Mensagem do novo membro da nossa tertúlia, o Artur Conceição, ex-soldado de transmissões da CART 730 (1965/67), actualmente residente na Damaia, Amadora.Esteve em Bissorã, Farim e Jumbembem, ou seja, na catual Região do Oio.

Quero estar ao lado dos que não permitem o virar da página... O meu nome é Artur António da Conceição... Estive na Guiné (1965/1967). Fui Soldado de Transmissões de Infantaria e Condutor Auto. Pertenci à Companhia de Artilharia 730. Estive em Bissorã, Farim e Jumbembem. A minha comissão de serviço foi de 9 de Fevereiro de 1965 a 14 de Fevereiro de 1967.

Permitem-me a entrada na tertúlia ? Em que posso ajudar ?

Sou natural de Campia onde temos anualmente um convívio de todos a ex-combatentes da freguesia. Levantámos um monumento em memória dos ex-combatentes do século XX, conforme foto acima inserida.

Não tenho estado ausente desta causa, e tenho algumas obras feitas, ntre elas uma base de dados onde constam todos os que tombaram, e também os que foram condecorados, a partir da qual é possível tirar muita informação.

O ficheiro Tabela4.xls, que envio em anexo, é uma tabela criada a partir dessa mesma base e onde podemos ver algumas curiosidades. Ver por exemplo que morreram mais em combate na Guiné do que em Angola (que é 35 vezes maior).

Por hoje não mando mais nada, a não ser um grande abraço a todos os elementos da tertúlia.

Conheço dois …. o que é muito bom !!!! Mas gostava de conhecer muitos mais…….!!

Artur António da Conceição

Av. Gorgel do Amaral, 6-1º D
Damaia - Amadora
Telem: 919652342
E-mail > artur-conceicao@netcabo.pt


2. Comentários do Carlos Vinhal:

2.1. Caríssimo Artur Conceição:


O editor do nosso blogue, Luís Graça, encarregou-me de te dar as boas vindas à nossa Caserna Virtual. Sê bem-vindo e esperamos que nos venhas contar as tuas estórias e nos mandes mais tuas fotos. Vai ao baú das recordações e conta-nos o que fazia um militar que tinha duas especialidades. Ser condutor e ainda exercer a especialidade de transmissões devia ser complicado.

Como saberás, aqui toda a gente se trata por tu, porque temos em comum o chão que pisámos, os perigos por que passámos em emboscadas, colunas, operações, etc.

Recebe em nome de toda a tertúlia um abraço.

O camarada
Carlos Vinhal

PS - O teu ficheiro em excel não pdoe ser reproduzido automaticamente no nosso blogue (que só aceita tectos em html ou imagens, com formato.jpg ou equivalente). Mas prometemos aproveitar o conhecimento que produziste.

2.2. Camaradas e amigos desta tabanca grande:

Abram alas para dar entrada a mais um amigo. O Artur da Conceição apresentou-se já há alguns dias, mas só agora consegui pôr a escrita em dia. Acrescentem à vossa lista de endereços o deste nosso camarada para ele se sentir um tertuliano de pleno direito.

O camarada e amigo
Carlos Vinhal


Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1965/67) > "Estes eram meninos de Jumbembem que eu gostava de ensinar. Na fila da frente e de camisa branca está o Tomás que era esperto que nem um rato. Era o menino querido dos estica fios".

Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1965/67) > "O que terá acontecido a estas duas meninas ??? Eram de Jumbembem, a Fili e a Djar".


Fotos e legendas: © Artur Conceição (2007). Direitos reservados

Guiné 63/74 - P1771: Em busca de... : O que é feito dos camaradas da CART 3492 (Xitole, 1972/74) ? (David Peixoto)

1. Mensagem co David Peixoto (1), ex-soldado condutor auto da CART 3492 (Xitole, 1972/74):


Caldas das Taipas, 19 de Maio de 2007. Amigo e camarada, Carlos Vinhal.

Desde já, os meus parabéns pelo sucesso do vosso (nosso) blogue, como não podia deixar de ser,
igualmente para a tertúlia.

Desculpa, já me esquecia, que o cargo de co-editor foi bém entregue (está em boas mãos) e
também bem haja pelo trabalho espectacular que tens realizado (não esquecendo o amigo e camarada Luís Graça).

Carlos, deixa-me fazer um apelo a todos os ex-militares da CART 3492:

Camaradas, será que já vos esquecestes dos tempos idos do Xitole, pois foram o 27 meses, que
convivemos como uma família ?! Será que só meia dúzia tem acesso à Net? O que é feito dos valentes atiradores dos 1º, 2º, 3º, e 4º pelotões; e dos enfermeiros, transmissões, cozinheiros,
e o camarada da água, assim como o electricista e o padeiro, não esquecendo os condutores
(do qual eu fazia parte), Tony, José Bastos, Loureiro, Rêgo, Amílcar Ferreira, Nuno, etc., etc.

Amigos e camaradas, dêem sinal de vida, era tão bonito, fazer um convívio, só da cart 3492, da qual nós fizemos parte. Faço lembrar que os ~unicos contactos, que para já é possível ter, são estes:

- Ex-alf mil Mexias Alves (2)
- Ex-alf mil Barroso (3º pelotão) (3)
- Ex-fur mil Artur Soares (mecânico) (4)
- Ex-fur mil Maçães (vagomestre)
- Ex-sold atir Fernandes (3º pelotão)
- Ex-sold mecânico Ferraz.

E os outros, que será feito deles?

Amigo e camarada Carlos, por hoje acho que é tudo, espero que a rapaziada comece a aparecer,
e fazendo votos que seja o mais breve possível, desculpa a maçada, e este meu atrevimento.

Carlos Vinhal, recebe um grande abraço, deste teu camarada e amigo, não esquecendo o sempre presente Luís Graça.

David Peixoto

Telemóvel > 938643896
________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 5 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1732: Tertúlia: Apresenta-se o David Peixoto, soldado condutor auto-rodas, CART 3492 (Xitole, 1972/74)

(2) Vd. post de 30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1712: Tertúlia: Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

(3) Vd. post de 28 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1708: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Alf Mil da CART 3492, António Barroso, Xitole, 1972/74

(4) Vd. post de 17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1667: Tertúlia: Apresenta-se o Furriel Mil Mec Auto Artur Soares, da CART 3492 (Xitole, 1972/74)

domingo, 20 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1770: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (46): Encontros de morte em Sinchã Corubal, com a gente de Madina

Madrid > Museu do Prado > Francisco Goya (1746-1828) > 1814 > O 3 de Maio [de 1808: o fusilamento dos patriotas, defensores de Madrid, às mãos do exército napoleónico]. Quadro a óleo.

Fonte: Wikipedia: the Free Encyclopedia (Imagem do domínio público).



46ª Parte da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). Texto enviado a 27 de Abril de 2007. Subtítulos do editor do blogue.


Caro Luís, já li o episódio que hoje publicaste e agradeço do coração o teu desvelo. Os livros já seguiram. Prevejo que amanhã vamos viver uma heróica e pacífica jornada e eu preciso de receber alento para os episódios das próximas semanas, tal o cansaço e o sofrimento que me está reservado para estes úlitmos meses em Missirá. Recebe a gratidão do Mário.




O reencontro em Sinchã Corubal

por Beja Santos



Eram homens para encarar as trevas de frente. ("Coração das Trevas", por Joseph Conrad)



Convoco de surpresa Domingos da Silva, Nhaga Macque e Benjamim Lopes da Costa para trabalharmos pelas 11h da noite naquele dia de 16 de Maio [de 1969]. Tenho uma confiança ilimitada nos meus três cabos africanos e pretendo transmitir-lhes cuidadosamente o modo de actuação que quero que se venha a adoptar na emboscada nocturna que iremos desencadear em breve à volta de Sinchã Corubal.

Não há dúvida que a gente de Madina [, sita a noroeste do Mato Cão, com Sinchã Corubal pelo meio,]percorre com desfaçatez duas picadas que vêm de Cabuca (qualquer coisa como a dois quilómetros do acampamento de Madina) e à volta do rio de Ganturandim avançam em direcção à estrada de Saliquinhé/Mato de Cão/Gambaná e daqui vão até aos Nhabijões ou a Mero/Santa Helena para se reabastecerem e colherem informações.


Quando a gente de Madina vinha a Bambadinca abastecer-se de tabaco, cola e comida


Passados estes anos todos, continuo intrigado quanto à periodicidade e finalidades destas viagens. Em novo frente-a-frente com Queta Baldé, volto a questioná-lo mas a sua resposta mantém-se inalterável:
- Nosso alfero, eles pretendiam tabaco, cola e comida que não há no mato, trocando com o que produziam em alimentos e esteiras. Queriam informações sobre quem estava em Missirá, porque nunca acreditaram que dois pelotões africanos fossem diariamente a Mato de Cão, pensavam que havia ali uma companhia. Vinham mais civis que militares, aprendi nos Comandos que punham à frente dois apontadores de RPG2 e mais alguns com Kalash, depois vinham civis com os produtos para trocar. Fugiam do contacto connosco porque sabiam que íamos a Mato de Cão a qualquer hora do dia ou da noite e que emboscávamos à volta de Missirá e Finete. Quando souberam que havia patrulhamentos à volta do Geba, entre Boa Esperança e Aldeia do Cuor, rodearam-se de cautelas e esperavam horas e horas a ver se havia movimento do nosso lado. Mas tinham que desafiar este perigo para vir até Bambadinca para comprar e espiar. Não imaginaram que quando nosso alfero ia a Mato de Cão aproveitava para lhe conhecer os caminhos. Esta maneira de trabalhar no PAIGC via-a também em Gâmbara, na região de Quínara, quando o Spínola mandou a 2º Companhia de Comandos fazer um quartel no mato. Quando os soldados do PAIGC queriam saber coisas a nosso respeito, deixavam as armas num esconderijo, punham um pano à volta do tronco e entravam a rir no nosso quartel, dizendo que vinham fazer compras. Depois partiam e as ordens do Spínola é quem entrava e saía sem armas não devia ser preso.

Mando sentar os três cabos africanos e revelo-lhes os meus planos. Em breve, pode ser esta madrugada, partiremos para um patrulhamento ofensivo. Pretendo esperar a gente e Madina já perto do seu acampamento, na região de Sinchã Corubal. Se o reencontro tiver lugar de dia, estarei rodeado dos apontadores de dilagramas e dos bazuqueiros, quero fogo infernal para intimidar e depois fugimos. Se o reencontro tiver lugar de noite, faz-se terror e também fugimos imediatamente. Emboscaremos as vezes que for preciso, serão patrulhamentos em que levaremos o dobro das munições e obrigatoriamente rações de combate e dois a três cantis de água. Quem decide o fogo e a retirada sou eu.

Quero que aquelas instruções sejam transmitidas vezes sem conta mas só antes de sairmos de Missirá e até lá exijo a todos a boca fechada. Segue-se um período de perguntas. O Domingos pergunta-me se vai o enfermeiro e a resposta é afirmativa. O Benjamim sugere o rádio ao que respondo que é uma brutalidade andar com aquela tonelada às costas a correr de noite sabe-se lá com que lama nos pés. Todos dizem que estão esclarecidos, e aproveito a energia que me resta para escrever aerogramas para os meus entes queridos. O que se segue está registado num aerograma que enviei à Cristina, a 19 [de Maio de 1969].


Um homem fisicamente esgotado, que cai à cama e descobre... o Alexandre O'Neil



Levanto-me para pedir um leite achocolatado e esbarro na escuridão de uma vertigem, ainda guardei nos ouvidos o grito do Cherno quando me viu estatelar-me com estrondo na secretária de onde saltam o livro da contabilidade da cantina e a papelada das burocracias de Bambadinca. A única lembrança é a expressão do David Payne debruçado sobre o meu catre.
- Meu velho, estás mesmo fraquinho. O Adão apareceu-me aos gritos logo de manhã a dizer que devias estar morto pois não te sentia o pulso. Tens a tensão arterial muito baixa, chega de puxar pelo corpo até ao impossível. Para já, vais tomar café, ficas na horizontal e vais tomar vitaminas. Se essas aguilhoadas no coração aumentarem, falamos pela rádio e posso decidir a tua evacuação. Ganha juízo.

Ganhei e não ganhei. Estava, de facto, fisicamente tão derribado que o primeiro dia na cama foi um consolo, portei-me como se estivesse num hotel de luxo. O Ruy Cinatti tinha enviado a obra do Alexandre O'Neill intitulada No Reino da Dinamarca, coligindo toda a sua obra poética entre 1951 e 65. Assim que a cabeça deixou de andar à roda, atirei-me ao encantamento poético deste recém descoberto O'Neill. Os primeiros livros deixaram-me impassível. A partir de 62, o caso fiou mais fino. Logo o "Auto-retrato" no livro de 1962, coisa demasiado nova a aguar-me a vontade de inserir-me neste turbilhão linguístico:

"O'Neill (Alexandre), moreno português,
cabelo asa de corvo; da angústia da cara,
nariguete que sobrepuja de través
a ferida desdinhosa e não cicratizada..."

E vou por aí fora, deslumbrado pela lufada de ar fresco. Por exemplo, o poema "Os Atacadores":

A noiva já e noiva, a noiva já na igreja
e tu não encontras os atacadores!

Já viste na caixa dos sobejos, na mãos dos bocejos?
Já viste na caixa da cómoda?
Já viste nas pregas da imaginação?

Convém-te não encontrar os atacadores?

Há noivas que esperam até murcharem as flores,
noivas de pé, muito brancas e já a fazer beicinho...

Procura... procura sempre, pobrezinho!...
Procura mas não encontres os
atacadores...

E chegamos à poesia de 1965, "Portugal":

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moínho abraços com vento
testarudo, mas embolado, e afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal, o manso boi coloquial,
o rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos...

O'Neill vem juntar-se a outros contemporâneos do meu culto, ao Herberto Hélder e ao Cesariny. Mais uma vez obrigado, Ruy!


Capa do romance policial, A Raposa Que Ri, da autoria de Frank Gruber.

Foto: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007).


Ao segundo dia, a cabeça anda agitada, o Casanova entra e sai, não páro de o chamar, quero saber se Missirá está no mesmo sítio e a vida prossegue em espiral. Recebo dois soldados recém-chegados, um que se chama Sadjo Baldé, nome idêntico àquele que morreu desfeito por uma morteirada em 19 de Março e Queba Baldé, que vem de Badora. O Pires lê-me o correio que vem de Bissau onde fico a saber que o soldado Jalique Baldé, rejeitado pela tropa especial, foi colocado em Missirá, onde chegará em breve. Recebo o régulo, tomamos chá juntos, e dou comigo a aprovar a ideia de se fazer uma construção protectora para o túmulo de seu pai, o régulo Bacari Soncó.

Leio policiais, um divertídissimo Frank Gruber, A Raposa que ri, mais uma história hilariante envolvendo Johnny Fletcher e Sam Cragg, um intelectual e outro musculado que andam de feira em feira a vender um livreco sobre as artes de ter um corpo de Sansão... inevitavelmente, há crimes, a dupla corre o risco de ser incriminada por homicídio e a super inteligência de Fletcher leva a descobrir um velho mistério que é o desaparecimento de Chester Erb, o filho do multimilionário que vai reaparecer no congresso dos criadores de gado, em Cedar City, onde se passam todas estas façanhas.

Ao terceiro dia arrebito e dou a saber que irei fazer emboscada nocturna. E, no dia seguinte, aviso que irei a Mato de Cão. Começou o tempo dos patrulhamentos ofensivos. Um comboio de navios passou à hora aprazada, pelas 11 da manhã, saúdo-os no pontão do ancoradouro e dou instruções ao picador Quebá Soncó:
- Subimos agora o palmeiral de Mato de Cão e vamos ver a velha picada que leva a Sinchã Corubal [, na margem esquerda do Rio Ganturandim, afluente do Rio Geba]. Se descobrirmos um trilho batido, avise-me imediatamente pois não quero que ninguém deixe marcas perto. Se eles descobrem que nós já sabemos o caminho, temos que recomeçar tudo de novo.


Emboscados na bolanha de Sinchã Corubal, a sudeste de Madina


Felizmente que está de chuva, a progressão é lenta porque o capim fere e entrava o passo. Não há sinal de vida, o trilho está mesmo abandonado. Entramos pela orla do palmeiral de Sinchã Corubal, uma verdadeira boca de serpente e subimos como se fôssemos em direcção a Madina. Nada, quem manda ali é a Natureza, as lianas, velhos campos de cultura abandonados, águas estagnadas. Cibo Indjai conversa comigo:
-Vês alfero, as aves piam, não há gente, passou ali gazela, ninguém vive aqui, ninguém passa por aqui.

Em frente a Cabuca, descemos lentamente como se fôssemos Iaricunda, e Quebá Soncó mostra o alívio no rosto, como se tivessemos escapado da catástrofe, ele teme que eu avance de rompante com mais 30 homens e desafie a céu aberto um bigrupo... É na descida à volta do rio de Ganturandim que subitamente Quebá levanta a pica a fazer-me sinal. Fui ver. Era um trilho bem marcado por sandálias de plástico marcadas na lama humedecida. Flanqueando à distância o trilho fomos vendo até aonde ele descia. Olhando a carta, a minha velha carta que se vai desfazendo de tanto manuseio, embora suporte com o desgaste mesmo metida num invólucro de plástico, reparo que a gente de Madina/Belel vai pela velha picada , ou muito perto até estrada de S. Belchior. Seguindo o seu rasto, vamos ver que a picada atravessa a bolanha do Ganturandim e chega ao Geba. As pegadas mais recentes vão em direcção a Madina. Decido que hoje não vale a pena esperar. Amanhã, o barco passa cerca do meio dia, então sim teremos emboscada em Sinchã Corubal e ficaremos lá nem que sejam 48 horas. E assim foi.

Os batelões com material da engenharia e dois barcos civis passam à hora certa, é aqui que acaba o patrulhamento diário e começa o propósito de me reencontrar com Corca Só e agradecer-lhe a cartinha amável que me deixou a ameaçar-me de morte.

São 17 horas de 27 de Maio quando, depois de subirmos a bolanha de Ganturandim estamos posicionados do outro lado da bolanha de Sinchã Corubal. O lusco fusco anuncia-se num céu que já de si tem estado plúmbeo. O que recordo desse dia passo a escrever. Estamos dentro do trilho de Madina, tenho Tomani Sanhá e Mamadu Djau de pé com as bazucas engatilhadas; Cherno Suane tira cargas do morteiro 60 a apalpa o colar de granadas que traz do pescoço ao peito; Queta Baldé examina as fitas da HK21; Mamadu Camará prime os cartuchos e olha com orgulho os seus dez carregadores. E as trevas cobrem totalmente a força emboscada, estamos entregues aos acasos do destino.

A noite vai alta, ouvem-se pequenos ruídos da comida e do líquido a correr dos cantis para os nossos corpos. De vez em quando, um ruído longínquo para lá do Xime, um piar de uma ave, os estalos de matéria viva no arvoredo. As horas passam, é quando temo que a perigosa descontracção arrefeça a vigilância. É nisto que Mamadu Djau com a sua mão direita feita garra me traz à vida agarrando-se ao meu ombro e ciciando:
-Alfero, oiço gente a entrar neste mato.


E de repente, Goya e os fuzilamentos do 3 de Maio

Faço passar a palavra de que sou eu o primeiro a disparar. Um restolhar leve transforma-se num passo cadenciado e como se tivesse aberto uma porta na floresta vários vultos recortam-se na orla tenuemente iluminada pela lua. Os meus nervos resistem, deixo aquela passada toda avançar resoluta, sem suspeitar que a 100 metros está uma zona de morte. De 100 metros passa-se a 50, é mais de uma dezena o número de vultos que consigo distinguir. E no silêncio absoluto daquela mata, levanto-me e desfecho dois carregadores com a garganta seca e o olhar fixo. O fogo brutal das bazucas, dilagramas e morteiro fazem o resto.

Ouvem-se gritos de surpresa, levantam-se braços e durante anos, quando rememorava a noite de Sinchã Corubal, eu pensava sempre no quadro de Goya O massacre de 3 de Maio, não me perguntem porquê, não vi nenhum olhar aterrado, só ouvi o clamor dos gritos aterrorizados pela surpresa, a fuga entre o estampido que flagelava a noite, não sei se há mortos nem feridos, nós só viemos aqui para dizer a Madina que circulamos por onde queremos, que no quartel de Missirá não se treme de medo, somos caçadores e não vamos só a Mato de Cão.

São minutos que demoram horas, e depois do caudal de fogo e da incapacidade de resposta, vendo que o colar de granadas de Cherno está reduzida a quase nada, lanço um grito medonho e assinalo a retirada. O meu maior espanto é como é que os nossos pés voam no patinhado do próprio trilho, sem cuidar sequer na hipótese de um reencontro com um grupo que viesse dos Nhabijões para Madina...

Em menos de uma hora estávamos na estrada, em minutos conferimos o grupo só me lembro dos rostos perlados de suor, reflectido pelo luar. E em passo estugado, por vezes a correr, de Saliquinhé chegámos a Gambaná, daqui até à curva de Canturé, depois dez minutos a recuperar energias, nova correria até à outra curva de Canturé, daqui a Gã Gémeos, depois Sansão e na porta de armas de Missirá todos os soldados sem excepção, o régulo, o clã Soncó e o clã Mané aguardam-nos com a ansiedade estampada. Abraço Malã e digo-lhe:
-Correu tudo bem, vamos dormir que amanhã há muita coisa para fazer.

Há sorrisos, contam-se histórias, atrevo-me a perguntar ao Barbosa o que se passa com a boina verde...Foi muita emoção, peço a todos que não se esqueçam que a madrugada está a chegar ao fim. Não voltaremos a emboscar desta maneira, e enquanto se ouve o troar dos morteiros em Madina, sabe-se lá se à nossa procura, sabe-se lá a lembrar-nos o seu poderio dentro daquela floresta, fomos descansar um pouco. Eu não acredito que aquela emboscada aconteceu, não me interessa a contabilidade dos mortos e feridos, a mensagem para dentro de Madina chegou ao destinatário. Retiro a farda encharcada e só recordo, antes de cair de borco na cama, uma pergunta do Cherno se eu queria a luz acessa para ler...

Vou demorar semanas a dimensionar o nosso feito. Porque o galope dos acontecimentos vai alterar tudo logo no dia seguinte. A 28 de Maio, no sector L1 ganhámos consciência que o PAIGC estava forte, suficientemente forte para alterar as regras do jogo: Bambadinca vai sofrer um enorme susto, de Junho em diante não passaremos sem morteiradas sobre Missirá. Entretanto, prossigo alheio a outros perigos: a tropa está exausta, o Casanova adoece, este ritmo de guerra avassala os ânimos, no fundo este ritmo vertiginoso está a ferir as nossas consciências, a queimar os corpos. Pagarei bem caro esta falta de atenção, tanto em Missirá como em Finete.

__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. último post desta série > 11 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1748: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (45): A visita do Coronel, o Grande Inquiridor

Guiné 63/74 - P1769: Estórias do Gabu (4): O Capitão Comando João Bacar Jaló pondo em sentido um major de operações (Tino Neves)

1. Texto do Tino Neves , ex-1º Cabo Escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabú)1969/71. Enviado em 14 de Março de 2007.


Camarada Luís: Aí vai uma pequena estória (1) do Capitão Comando João Bacar Jaló. Tino Neves.


Um dia passou por Nova Lamego uma coluna de géneros, e parou/estacionou junto do edifício do Comando do Batalhão. O nosso Major de Operações, ao passar na varanda, repara nas viaturas que estavam em baixo cheias de géneros e de militares dos Comandos Africanos, mas o que lhe despertou mais atenção foi, num Sargento, as divisas bem reluzentes e o chapéu à Gringo (chapéu preto, redondo com borlinhas penduradas a todo o perímetro das abas). De imediato chamou pelo Sargento e ordenou-lhe que tirasse aquele chapéu da cabeça, e pusesse a boina ou o quico pertencente ao camuflado.

O Sargento, respondendo ao chamado, levantou-se de imediato, e ficando de pé em cima de um saco de géneros, bateu a pala, aliás bateu a aba (do chapéu), e respondeu que não o tirava. O Major, teimando na ordem para que tirasse aquele chapéu, o Sargento justificou-se porque não o tirava.
- Meu Major, não tiro este chapéu porque sou conhecido através dele, e este chapéu já me salvou a vida por várias vezes!
- Não me interessa! Quem é o seu Comandante e onde está? - inquiriu, autoritário, o major.
- O meu Comandante é o Sr. Capitão João Bacar Jaló, e está precisamente aí em cima a falar com o seu Comandante!

Não me recordo se o Capitão João Bacar Jaló ouviu o que se estava a passar, ou se o Major foi fazer queixas do Sargento ao Capitão, o certo é que o Capitão Jaló deu um raspanete ao Major, dizendo que quem mandava nos seus homens era ele, mais ninguém, e se isso voltasse a acontecer, que iria fazer queixa do Major ao Gen Spínola. E nisto e deitou as mão à camisa, abrindo-a, mostrando o seu corpo nu, cheio de cicatrizes de balas e estilhaços, para que o Major visse o peito dum verdadeiro combatente.

E assim, não só o nosso Major de Operações, como todos nós ficámos a conhecer o celebre Capitão Comando Africano JOÃO BACAR JALÓ.

Um Abraço
Tino Neves
Almada

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Nota de L. G.:

(1) Vd. post de 21 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1683: Estórias do Gabu (3): Um capitão, amigo do seu escriturário (Tino Neves)

sábado, 19 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1768: Guileje: A Fox, rebaptizada, dos Diabos do Texas (Nuno Rubim)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > A Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada...

Fonte: © Nuno Rubim (2007). Direitos reservados.

Caro Luís

Exactamente. São as fotografias do PAIGC (1). Ambos, o Julinho e o Osvaldo [, ex-comandantes do PAIGC, de origem caboverdiana, que estiveram no cerco a Guileje, e que foram recentementemente entrevistados pelo Nuno Rubim e pelo Pepito], não se lembram da data exacta, mas há mais munições no bolso...

Numa fase mais adiantada a mesma Fox (2), sempre em Guileje, já era Diabos do Texas !

Uma estória realmente muito curiosa... A pesquisa histórica sobre Guileje evolui de dia para dia ..., ainda bem !

Boa viagem

Um abraço

Nuno Rubim

_________

Notas de L.G.:

(1) Em resposta ao meu mail: "Nuno: A White e a Fox são mesmo de Guileje, 1973... Encontrei fotos do PAIGC (no álbum do Amílcar Cabral, na Fundação Mário Soares) de viaturas dos Pipas... Terão sido capturadas em Guileje, depois de 22 de Maio de 1973 ? Tenho fotos de Fox e White em Bafatá, se te interessar... Luís

(2) Vd. post de 14 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1767: Spínola e Senghor encontram-se na região de Casamance em 1972 (Pedro Lauret)

Mensagem de Pedro Lauret:

Caros companheiros,

Em 18 de Maio de 1972 Spínola e Senghor encontravam-se na região do Casamance numa tentativa de encontrar uma solução negociada para a Guerra na Guiné.

No blogue da A25A, Avenida da Liberdade, textos do Coronel Carlos Fabião e Prof. Marcello Caetano em Efemérides.

Por considerar que tem interesse para a nossa tertúlia aqui estou a fazer propaganda a este blogue de que sou responsável.

Um abraço
Pedro Lauret

Guiné 63/74 - P1766: Guileje: A Bêbeda, uma Fox do Pel Rec 839 que ficará imortalizada no diorama (Nuno Rubim)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 1964/Jul 1966) > Uma Daimler e uma Fox do Pel Rec 839, que esteve em Guileje de Março de 1966 até Janeiro de 67. A Fox, mais conhecida por a Bêbeda (possivelmente por consumir muito combustível) vai ficar importalizada no diorama de Guileje, que está a ser contruído pelo Nuno Rubim (1). A foto foi gentilmente cedida pelo Teco (Alberto Pires), da CCAÇ 726.

Fonte: Nuno Rubim (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem de Nuno Rubim:

Caro Luís Graça:

As fotografias agora publicadas no blogue, da autoria do J. Casimiro de Carvalho (2), são exactamente do tipo que necessito: boas perspectivas, detalhes e até matrículas. Interessa-me pois saber se a White era a que esteve em Guileje [, informação que o nosso camarada já entretanto confirmou por mail].

Precisava também de fotos das Daimler, Atrelado de Água, Atrelado Sanitário, Morteiro de 10,7 cm, Canhão sem-recuo de 106 mm e da viatura Matador que rebocou as peças de artilharia 11,4 cm e os obuses 14 cm.

Junto envio uma curiosa foto de reduzida qualidade, mas de importância no contexto em causa. Pertence à colecção do nosso camarada Teco (Alberto Pires ) da CCAÇ 726 . Na fotografia podem-se ver uma Daimler e uma Fox do Pel Rec 839, que esteve em Guileje de Março de 1966 até Janeiro de 67.

Ora a matrícula da Fox é a mesma que consta numa fotografia tirada por elementos do PAIGC em Maio de 1973, quando ocuparam o quartel! Portanto a Bêbeda ( que vai ficar para a história, representada com essa mesma inscrição no diorama de Guileje ....) terá servido desde 1965 até 1973, integrada nos sucessivos Pel Rec Fox que por lá passaram !

Um abraço

Nuno Rubim

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1753: Diorama de Guileje, 1965/67 (Muno Rubim)

(2) Vd. post de 14 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1765: Convívios (8): 30.º Almoço anual dos Especialistas da Força Aérea que estiveram na Guiné, 26 de Maio de 2007 (Victor Barata)

Mensagem enviada pelo nosso camarada Victor Barata, ex-especialista da FAP (Guiné 1971/73)

Boa Tarde, Carlos. Aproveito para pedir a divulgação a todos os camaradas a realização do 30º almoço anual dos Especialistas da Força Aérea que estiveram na Guiné a realizar em Aguiar de Sousa no dia 26.5.2007 na Quinta do Baptista(nosso camarada de Guerra).

É para nós uma honra ter junto de nós todos os Tertúlianos deste Blogue.

Um Abraço
Victor Barata

Guiné 63/74 - P1764: Armamento do PAIGC (1): Metralhadoras pesadas Degtyarev, antiaéreas (Nuno Rubim)

1. Mensagem do Nuno Rubim:

Amigo Luís:

Em complemento das informações que forneceste no blogue, relativamente às fotos enviadas pelo Victor Condeço (1) :

-A única Espingarda com Alça Telescópica, utilizada pelo PAIGC, que até agora descobri é a Vz.54, 7,62mm, de origem checoslovaca, 1954. Existiam 11 no Depósito Central do PAIGC, ca 1971-2. Junto segue uma foto há tempos encontrada na Net.



-As 3 metralhadoras pesadas são as Degtyarev 12,7mm , de origem soviética, em reparos de utilização terrestre e AA [Anti-Aérea].

Um abraço

Nuno Rubim

Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Metralhadoras pesadas Degtyarev, de origem soviética (1).

Fotos: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados .

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)

Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > 1970 > O Padre Puim, capelão militar, de origem açoriana, com o furriel Guimarães da CART 2716. Devido às suas homilias, este capelão teve problemas com a PIDE/DGS, acabando por ser expulso do Exército, em 1971, tal como outros (o caso talvez mais famoso foi o do Padre Mário da Lixa, membro da nossa tertúlia). 

Infelizmente, é a única foto que possuímos do ex-Padre Puím, hoje enfermeiroo no Hospital de Ponta Delgada, segundo a informação que tenho. Obrigado ao Abílio, pela evocação desses tempos difíceis de Bambadinca (é o adjectivo mínimo que posso aqui utilizar), coincidindo com a parte final da minha comissão da serviço, como se dizia eufemisticamente. Obrigado também por te lembrares do Henriques, um gajo apanhado, e honrá-lo com a tua amizade. Sei que andou por aí algures, a tentar esquecer... Mas, de facto, não se esquece a Guiné (1)


Foto: © David J. Guimarães (2005). Direitos reservados.


Mensagem do Abílio Machado (ex-Alf Mil da CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72) (2), enviado com data de 31 de Março último:


Meu Caro:

Vê, por favor, o texto em anexo. Aparte o trecho final sobre o Puim, foi escrito - se bem tenho presente - logo na semana seguinte à minha presença no almoço da [CART] 2716 do Xitole, o ano passado, aqui no Porto . Encontrei-o aqui nas minhas coisas. Era já nessa altura minha intenção enviá-lo para o teu blogue . Mas perdi o endereço e por aqui ficou esquecido. Carecerá de actualizações mas vai mesmo assim.Vale o que vale e o que a memória deixa.

Um abraço

Abilio Machado

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O pudor em falar da guerra...

por Abílio Machado


Tenho a ideia de ter lido há muito, muito tempo – cada vez mais o tempo é pouco - num dos cadernos do Expresso - passe a publicidade - uma referência a algo cujo título se parecia muito com o tema deste blogue.

É uma reminiscência longínqua, confusa, que nada terá de real, eivada, portanto, dos erros e partidas que a memória nos vai pregando ao longo da vida. Relaciono essa leitura com uma época em que, por efeméride ou acaso, vários textos de ficção sairam sobre a guerra colonial.
Não é demência senil - espero - será antes o propósito confesso de esquecer.

A participação numa guerra é sempre uma baliza que ficará a marcar o campo onde as nossas vidas se jogam ou jogarão: mais ainda se a oposição a essa guerra é já uma ideia construída e consciente, como era o caso de muitos de nós.

Esta contradição de estarmos numa guerra de que ideologicamente, politicamente, discordávamos não foi, por certo, a menor das “culpas“ que tivemos de carregar e solucionar no íntimo de cada um de nós. Talvez por isso se contem pelos dedos - como eu me lembro de contar pelos dedos : quando uma mão não chegava, socorria-me dos lábios para continuar a contagem da outra – as vezes que falei às minhas filhas da guerra em que o pai estivera engajado.

Já o meu avô, velho combatente da 1ª Grande Guerra, nunca contou aos filhos as agruras que passou nas trincheiras, o que comiam (tudo o que mexia ), a fuga desordenada para a rectaguarda dos sobreviventes após o desastre da Batalha de La Lys, os gases tóxicos. A minha mãe pasmava, de olhos desorbitados :
-Quem te contou tudo isso?

É impressivo em demasia para ser contado… É uma reserva íntima. Assunto para ser guardado em baú de sótão, como as velhas fotografias de família.

Mas vamos ao que interessa. Por que acedo a este blogue? Não escondo que o faço sentindo que a emoção se me escapa para os dedos e para o teclado. Lá onde quer que a emoção habite …
Num almoço-convívio recente da Companhia sedeada no Xitole, para que fui convidado, o Guimarães deu-me conta e endereço do blogue e de quem se esconde por trás de um nome tão inócuo como Luís Graça.

Meu caro Henriques (desvenda-se o mistério do nome ) : os nomes serão inócuos, as pessoas que eles ocultam, nem sempre o são. E há-as bem carregadas de contra-indicações e efeitos secundários. E incómodas, como o diabo...

Aquela noite em Bambadinca … Ainda lembras ou também queres esquecer? Ainda hoje não sei - ou sei - como escapaste à psiquiatria … O que, naquelas circunstâncias, seria, apesar de tudo, o mal menor. Antes louco que preso. Seria ?

O exemplo do padre Puim - já não é padre: quem o é nos tempos de hoje? Uma instituição caduca! – é o paradigma do que poderiam ter feito naquela situação. E não o terão pensado?

O Puim. Outro exemplo impressivo. Memória perene. Porque há actos que, por dolorosos, queremos rejeitar, mas pelo exemplo não podemos esquecer. E ficam-nos como um padrão, ou uma tatuagem, ou um ferrete. Recortados no horizonte ou cravados na carne a frio são uma referência ou uma lembrança.

A coragem de um padre que não abdicou de o ser lá onde era o seu sítio: o altar. Já corriam, porventura trazidos pela brisa que vinda de certa Casa ribeirinha se espalhava às vezes serena, às vezes inquieta pela parada do quartel, uns ditos de que o padre Puim se desmandava nas homilias.

Os textos, ditos ou escritos, não eram visados pelo lápis azul. O Puim saberia disto? Não vou revelar o que penso, não quero ser inconfidente… E choveram relatórios para Bissau, por certo. Alguém que era regular nas missas.

E chegou o dia 1 de Janeiro – Dia Mundial da Paz. Ainda é ? Era-o em 1971. Ao que me disseram ( eu não ia à missa : as minhas missas com o Puim eram grandes conversas, edificantes, pela noite fora ), o Puim falou sobre a Paz.

Nessa semana, à socapa – houve um silêncio quase opressivo ou é efabulação minha? - aterrou uma DO. Alguém discreto fez-me chegar a nova de que algo se passava com o Puim. Fui ver. Encontro o Puim sentado na cama, nervoso mas determinado, olhando uns sujeitos que impiedosamente lhe desmantelavam o quarto descarnado, de asceta, à cata de … Abriam, fechavam gavetas, apressados … Acabei retirado do quarto.

E levaram-no com eles . Vi-o passar. Parecia mais sereno . Chegou-nos que teria sido mal tratado em Bissau até pela própria Igreja . E que teria sido exilado para a sua terra: haverá coisa pior? Um exílio no próprio chão que o viu nascer?

Ninguém é profeta na sua terra nem fazem milagres os santos que conhecemos. Mais tarde soubemos que estava de facto nos Açores. E que despira o hábito … Mas abraçara outro sacerdócio … A igreja será agora o Hospital de Ponta Delgada.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de Dezembro 08, 2005 > Blogantologia(s) II - (22): Esquecer a Guiné (Luís Graça)

(2) Vd. post de 29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1635: Amigos, enquando vos escrevo, bebo um Porto velho à nossa saúde (Abílio Machado, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1762: II Encontro de Pombal (15): Estórias do Caco Baldé (Spínola) (J.L. Vacas de Carvalho, J. Mexia Alves e outros)



Videoclipe (3 m 21 s) > Estórias do Caco Baldé (Spínola)... Vozes: Joaquim Mexia Alves, J. L. Vacas de Carvalho, António Barroso e Paulo Salgado... Viola: J. L. Vacas de Carvalho. Para reproduzir o vídeo, basta clicar duas vezes na imagem e ligar o som... (1).

Vídeo: © Luís Graça (2007). Direitos reservados. Vídeo alojado no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau_Videos. Copyright © 2003-2007 Photobucket Inc. All rights reserved.
Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da malta do nosso blogue > Restaurante O Manjar do Marquês > Fim de tarde > Artistas: J. Luís Vacas de Carvalho e J. Mexia Alves... Audiência (participante): Eu, o Paulo Santiago e o seu filho João, o Humberto Reis e a Teresa, o Victor Tavares, o Artur Soares e o António Barroso.... A este pequeno grupo ainda se juntaria depois o Tino Neves e a esposa (acabados de chegar... de Coimbra)... Para além de se cantar (2), também se contou estórias... Por exemplo, a respeito do nosso Com-Chefe, carinhosamente conhecido como Caco Baldé. (LG)
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 6 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1735: Tertúlia: Encontro em Pombal (14): Vídeo do Hugo Moura Ferreira

(2) Vd. videoclipes anteriores, relativos ao encontro de Pombal:

5 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1734: Tertúlia: Encontro em Pombal (13): Paco Bandeira: Lá longe, onde o sol castiga mais.. (J. L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)

1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1717: Tertúlia: Encontro em Pombal (8): Ah, tigres! Ou uma dupla de fadistas (J.L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)

1 de Maio de 2007 Guiné 63/74 - P1720: Tertúlia: Encontro em Pombal (9): (Não) me tirem daqui (Sousa de Castro / Vacas de Carvalho / Mexia Alves)

terça-feira, 15 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1761: A floresta-galeria na escrita de Rui Ferreira


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > 1969 > Vista aérea: o esplendedor (e o terror) do Rio Geba e das suas margens.

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada Rui Ferreira, coronel na situção de reforma, residente em Viseu, autor do livro de memórias Rumo a Fulacunda (1) e que, apesar dos actuais problemas de saúde, nos deu a honra e o prazer da sua presença em Pombal, no passado dia 28 de Abril de 2007:

Meu caro Luís:

Passei a olhar com mais respeito e a dar mais valor ao meu computador quando aderi de alma e coração à nossa tertília.

Todos os dias cá subo ao meu sotão onde num soberbo aproveitamento me fiz rodear das minhas recordações, livros, discos e cassetes que constituem o meu mundo e acabo fatalmente a abrir o correio e a ver as novas do nosso contentamento.

Tenho todo o gosto que um dia tu ou qualquer um dos outros que, por acaso ou não, visite Viseu me dê o prazer de me fazer uma visita. Aqui fica o convite.

Mas não só por isso te estou a contactar. Penso que para além das historias, peripécias e acontecimentos por que duma maneira geral todos fomos passando e que são obviamente muito importantes e têm por direito o seu lugar garantido, poderíamos alargar horizontes com a introdução de novos temas.

E para te falar deles começaria por sugerir que de uma forma absolutamente pessoal cada um se referisse como viu e como viveu e sentiu quando confrontado com coisas tão simples como os obstáculos naturais, o terreno, o clima, a humidade, o calor, as chuvas tropicais, a floresta, a guerra de minas, o culto da velhice nas sociedades africanas, o choro, a grandiosidade do nascer ou a beleza do pôr do Sol em África, a existência de Deus, o cheiro da terra depois das primeiras chuvas, o silêncio de morte, o medo, a angústia duma mutilação, ou mais terra a terra sobre o anexo do Hospital Militar de Campolide, a inadaptação da hierarquia militar à guerra de Àfrica, as comissões dos filhos e as dos enteados, enfim um nunca mais acabar de assuntos possíveis.

E para inaugurar, se assim o entenderes aqui te vou transcrever o que sobre a floresta escrevi
( In Rumo a Fulacunda, pag 218):

(...) a floresta- essa sim bem especial, pois, em alguns recantos perdidos e remotos da nossa área de acção, ela sendo senhora e soberana, em absoluto interferia na nossa actividade. Virgem, brava e selvagem, sôfrega na conquista dos espaços devolutos, desgovernada na expansão, abandonada ao acaso, perdida nas vastidões inocupadas das terras que não eram de ninguém, intocada, altiva e serena, misteriosa e sombria, era de um profundo espanto observar o contraste entre o soturno melancólico das sombras, dos escuros e dos tons de cinzento e negro do seu interior face ao luxo e ao esplendor do verde deslumbrante que ao Sol se expunha.

Crescendo ao deus-dará, resistindo à penetração e indiferente ao correr dos anos, numa amalgama de formas e tamanhos, numa profusão de variedades e numa imensidão de espécies que, disputando o mesmo espaço, a um tempo se irmanavam no mesmo propósito e antagonizavam na conquista da luz que mais não era que a própria vida.

Enlaçando-se, acomodando-se, coabitando, lutando e crescendo, lado a lado, fetos e arbustos, lianas e trepadeiras, canaviais e palmeiras, ramagens e raízes, frutos e flores, folhagens de recorte tão diverso, do ínfimo ao grandioso, do ridículo ao monumental, árvores novas e de pequeno porte, espinheiras, enfim um verdadeiro e absoluto matagal, intrincado e sem sentido, desordenado e sem solução.

Sobressaindo, tudo culminando e suplantando as demais, majestosas e frondosas, dominando em seu redor, se erguiam árvores de tão grande como inimaginado porte. Junto delas nos sentiamos pouco menos que insectos numa confrontação entre as suas impensáveis alturas e a nossa ridícula pequenez, entre a sua longevidade milenar e a nossa curta passagem por este mundo de Deus.

Na floresta não eramos mais que ínfimos seres desambientados e no seu interior, tão denso como se numa noite cerrada se tivesse entrado, pavorosamente tão sombrio, o que negro já era, se voltava a sentir não os mesmos infantis e inocentes temores da meninice ao escuro associados, mas um imenso e real pavor, tanto mais assustador quanto consciente, face ao desconhecido e misterioso. (...).


E por aqui me fico por hoje . Num grande abraço toda a consideração e a amizade do
Rui

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Nota de L.G.:

(1) Sobre o autor e o livro, vd posts:

17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)


1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1718: Lendo de um fôlego o livro do Rui Ferreira, Rumo a Fulacunda (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P1760: Estórias do Zé Teixeira (16): Tarde de Domingo com sorte (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Guiné > Região de Quínara > Empada > CCAÇ 2381 > 1969 > O 1º Cabo enfermeiro Teixeira, um operacional a tempo inteiro (... hoje um notável contador de estórias).

Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados.


Texto do José Teixeira (1º cabo auxiliar enfermeiro, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70) com mais uma das suas estórias:


TARDE DE DOMINGO COM SORTE

por Zé Teixeira

O Reencontro

Trinta e sete anos depois do regresso, reencontrei o camarada Nuno Rosa. Para além da grande alegria pelo encontro, selada com um forte e comovido aperta costelas, surgiram logo de imediato as estórias do costume. Lembras-te daquele ataque … e daquele… das formigas que nos acordaram de noite … das malditas abelhas… etc, etc.

Algumas das estórias já estavam no sótão da memória, provavelmente cheias de pó. Outras continuam activas a bailar no consciente, só que há pormenores que nos escaparam. Assim as estórias tomam outra dimensão, talvez mais realista e sobretudo, após este desfiar de flashes por vezes bem dolorosos, acabam por se deslocarem para o sótão, até ao descanso eterno do guerreiro.


Uma emboscada ao domingo

Estávamos em Buba, no fim do Verão de 1969. O Joaquim Agostinho, com 26 anos devorava etapas na Volta A Portugal. Era o ciclista prodígio, o fora de série que tinha sido descoberto em Torres Vedras. Como o grosso do pessoal da CCAÇ 2381 era Ribatejano, não se falava de outra coisa na caserna.

Era domingo. Logo após o almoço, depois de um Sábado passado em patrulhamento para os lados da bolanha dos passarinhos, surge nova ordem de mobilizar para novo patrulhamento para os lados de Sinchã Cherno e emboscar algures na estrada que se andava a construir até Aldeia Formosa (Quebo), muito perto do local onde cerca de um mês antes tínhamos sofrido uma emboscada, junto a um campo de minas, uma das quais roubou a perna ao Miguel. Este, logo após o acalmar do fogo levantou-se e . . . descobriu que estávamos a pisar um campo, onde foram levantadas 27 minas A/P. e localizados buracos, tipo campas abertas com cruzes e com papéis escritos do género: "Tugas é isto que vos espera”, “Ida para a vossa terra” etc.

Bolsa de enfermeiro às costas, cantil cheio... Os efeitos da velhice não só dava, em resultado das experiências vividas, para um redobrar de atenção e um poder de reacção e desenrasque maior, como também, em certas ocasiões, para um aventureirismo exagerado com graves riscos para a pele.

Naquele dia, partimos à desportiva, bem dispostos, bem bebidos, quando muito, chateados pelo quebrar da rotina, pois em Portugal ao domingo não se trabalhava.

No primeiro local seguro (?) que encontramos, montamos tenda, quer dizer, a emboscada e preparamo-nos para ficar ali o resto da tarde. De repente ouve-se um tiro muito perto e o ruído de algo a cair de uma árvore. Como velhinhos ficamos quietos na expectativa, apenas redobramos de atenção, e eis que surge um dos furriéis com um magestático pato bravo, com seis/sete quilos, que o mesmo tinha abatido a tiro de G3.

A isto chama-se brincar em serviço, pelo que levantamos de imediato a embosca e partimos para outro sítio algures mais à frente. Sem saber que estávamos a cair para a boca do lobo, lá nos colocamos de novo em posição de combate. Agora sim, um pouco abandalhados. O homem que levava o prato do morteiro 60 não ficou junto do morteiro e o municiador do lança roquetes trocou o lugar por mim.

O Nuno com o seu colete de roquetes estava preocupado, pois faltava-lhe o municiador, o qual também trazia uma fornada de granadas. Ao comentar a sua preocupação eu respondi-lhe:
-Não te preocupes que se os turras atacarem, eu municio-te.

O IN que estava emboscado um pouco à frente, deixou-nos pousar e aproximou-se com cuidado ( Creio mesmo que se avançássemos mais uns cem metros, tínhamos caído no seu campo de mira).

De repente o ambiente aqueceu com o IN a cair em cima de nós com toda o seu potencial de fogo, ao qual se segui a nossa resposta rápida. Uma das primeiras roquetadas IN foi rebentar numa árvore por cima da minha cabeça. Os seus estilhaços barreram as folhas das árvores e este camarada procurou de imediato um lugar mais seguro. O roqueteiro bem olhou para trás, à minha procura, mas eu tinha voado para junto de uma árvore, mais segura.

Acabado o desafio, um autêntico Porto/ Benfica de que resultou um empate, ambos os contendores pensaram em fugir, o que foi a minha sorte.

Chega-me a informação de que há um ferido. Logo me aproximo e verifico que o homem do morteiro não hesitou em enviar umas morteiradas, colocando o cano do morteiro na terra mole, de que resultou ter ficado com um rasgão na mão, pois o morteiro ao enterrar-se pelo impacto, pela terra dentro, deixou marcas. Passo a palavra de que há um ferido ligeiro e logo ali me disponho a fazer o tratamento como era o meu dever.

O alferes é que não esteve com meias medidas e decidiu retirar de imediato. Acabado o tratamento, logo verifico que estávamos sozinhos. Duas hipóteses, ou ficar quietos, aguardar algum tempo e depois regressar a Buba, ou correr atrás dos camaradas que iam a 400/500 metros algures na mata!

Como já era fim de tarde, resolvemos procurar seguir os colegas que, entretanto, para mais rapidamente se afastarem, seguiam já na estrada que se avistava ao longe. Até porque ouvíamos ruídos e vozes por perto ( penso que era o IN a afastar-se, caso contrário podiam ter feito ronco e apanhar-nos à mão ou enviar-nos para casa no sobretudo de madeira).

O nosso roqueteiro, o Nuno Rosa, relembrou-me agora, na altura teve um pressentimento de que estava a ser seguido e olhou para trás. Dois dos seus colegas vinham lá longe. Então ajoelhou, colocou as últimas granadas, pois como bom ex-comando, nunca gastava todas as munições que levava, e bateu a mata que ficava à nossa retaguarda, impedindo o IN de qualquer veleidade.
Os outros camaradas continuaram apressadamente o seu caminho com o alferes à frente e o Furriel a sonhar com o arroz de pato, que nunca mais largou

Assim ficaram três homens desarmados, no meio da mata; um morteiro sem granadas, um roqueteiro sem roquetes e um enfermeiro, num fim de tarde domingo que toda a gente queria calmo e pacífico.

Quando em 2005 tive oportunidade de voltar à Guiné, estive muito próximo deste lugar, mas confesso que nada me veio à memória.

Obrigado, Nuno, por teres partilhado esta aventura comigo.

Zé Teixeira
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1614: Estórias do Zé Teixeira (14): Voluntário na tropa... nem para comer!

10 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1059: Estórias do Zé Teixeira (13): A Maria-tira-cabaço-di-branco

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1055: Estórias do Zé Teixeira (12): O Balanta que fugia do enfermeiro

4 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1044: Estórias do Zé Teixeira (11): As vitaminas abortivas

4 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1043: Estórias do Zé Teixeira (10): O embalsamador amador

4 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1042: Estórias do Zé Teixeira (9): camaleões, putos e cobras

26 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXCVI: Estórias do Zé Teixeira (8): Do tan-tan ao pum-pum, um casamento em Mampatá

20 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXIX: Estórias do Zé Teixeira (7): Síndrome de guerra

19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXVIII: Estórias do Zé Teixeira (6): um atribulado regresso

21 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLVIII: Estórias do Zé Teixeira (5): as abelhas, nossas amigas

21 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLVII: Estórias do Zé Teixeira (4): o lugar do morto

15 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXVIII: Estórias do Zé Teixeira (3): a festa da vida

11 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXIV: Estórias do Zé Teixeira (2): o Conceição ou o morrer de morte macaca

9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXIII: Estórias do Zé Teixeira (1): Dôtor, Bô ka lembra di mim ?

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, no topo de uma Fox, viatura blindada do Esquadrão de Reconhecimento Fox. Estas unidades de cavalaria também possuíam viaturas White (ver foto a seguir) (1).

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > Viatura blindada White, de matrícula MG-34-69, pertencente ao Pelotão de Reconhecimento Fox, estacionado em Guileje. Documento que faz parte do álbum fotográfico do Casimiro Carvalho, sem data nem legenda. Segundo o Casimiro Carvalho, o pelotão chamava-se Os Pipas (LG).



Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): 1ª quinzena de Maio de 1973: Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira (2)

Cartas enviadas pelo José Casmiro Carvalho à família. A selecção, a revisão e a fixação do texto são da responsabilidade do editor do blogue (LG) .


Cacine, 6/5/3


Mãezinha. (…) Chamaram-me no dia 4 e disseram-me: Você vai para Cacine receber os mantimentos para toda a época das chuvas, durante um mês. E cá estou…

Tem praia onde tomo banho todo os dias. Come-se assim: Jantar: arroz de frango (aquele escuro, com sangue), mas com frango; meia pera de conserva, 1 banana, vinho à discrição com gelo; café. Almoço: pato com batatas às rodelas, uma espécie de Espanhola, bastante pato, canja (uma delícia), 2 babanas e café. Como vê !!!?

PS – Junto foto contado o patacão.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho contando o patacão.... Foto enviada à mãe.


Cacine, 6/5/73

Querido pai: A sorte desta vez escolheu-me para ser protegido, pois mandaram-se para Cacine, terra de praia e sol, cocos, mangos, bananas, nada que fazer, nada de patrulhas nem trabalho… Só quando vêm batelões de Bissau é que tenho que conferir tudo (ao todo, durante este mês são 120 toneladas de reabastecimentos) e depois acompanhar de batelão até Gadamael (a 18 km de Guiledje) e voltar para Cacine, à espera de mais.

Sob o meu comando, estão um cabo e um soldado para ajudar. Em dois dias já estou mornaço.

(…) Aqui vai [uma foto de ] um dos carros de combate de Guileje.

(…) Um abraço sincero do seu Operações Especiais que de especial não tem nada. With Love.



Os aviões voltarão a voar, promete o Spínola


Cacine, 13/5/73

Mãezinha: (…) Fui até Gadamael de batelão (isto é que é viajar de barco!) e passei lá uma noite, noite em que Guileje foi atacada.. Também choveu torrencialmente e eu cá fora só de calções a apanhá-la e os soldados, com sabão, debaixo das caleiras a tomar banho” (…)

(…) Todos os dias, praia e banho. Não é nada mau, não acha ? Estou mesmo preto. Ando a sofrer por causa da ‘lica’: são centenas de borbulhinhas que com o suor picam como mil agulhas” (…).


Cacine, 13/5/73

Bijou: (…) Tenho andado aqui de batelão, comido cocos e bananas nem se fala. Mangos (fruta saborosa) há qui aos tombos.

Come-se bem aqui, e continua (hoje bifes de cebolada). Guileje foi atacado outra vez, mas eu não estava lá.

Parece que vai haver aviões outra vez no mato. Disse o Spínola anteontem em Guileje. Um beijo (…).



Carros de combate russos na fronteira

Cacine, 15/5/73


Paizinho: (…) A guerra aqui está cada vez pior. O Hospital de Bissau (3) está repleto (infelizmente). Só em Guidaje ,[ no norte], 40 feridos, alguns dos quais com membros amputados (já a cheirar mal devido a terem esperado 2 ou 3 dias por coluna para serem evacuados). Aviões já não vão lá.

No Cantanhez (todos estes locais que menciono são no sul, onde estou), 13 feridos numa emboscada. Guileje foi atacada outra vez e passados dois dias os melhores homens que tínhamos lá (dois furriéis milicianos) morreram, em consequência de uma mina anticarro que iam levantar. Andamos tods transtornados.

A 18 km de Guileje fica Gadamael e foram para lá 4 canhões sem recuo e 35 homens para os guarnecer. Levaram também granadas anti-tanque, pois foram vistos carros de combate na fronteira da República [da Guiné-Conacri].

O meu serviço aqui é receber os géneros e artigos de cantina que vão para Guileje, para o isolamento, pois com as chuvas ficamos como que numa ilha e não podemos sair de lá, só de avião ou barcos de borracha. Aviões não há. Portanto só de barco (o que é muito perigoso)…

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Notas de L.G.:

(1) Vd. Não sei qual era o nº do Esquadrão. No meu tempo (1969/71), havia um Esquadrão de Reconhecimento em Bafátá, a que pertenceu o nosso camarada Manuel Mata. Vd. posts:

2 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DXCVII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (1)

3 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (2)

25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (3)

2 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXI: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (4): Elevação de Bafatá a Cidade

(2) Vd. posts anteriores desta série:

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

3 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento

(3) Vd. post de 7 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1738: Hospital Militar de Bissau (2): O terminal da guerra, da morte e do horror (Carlos Américo Cardoso, 1º cabo radiologista)

Guiné 63/74 - P1758: Convívios (7) : BCAÇ 2893 (Nova Lamego 1969/71), Figueira da Foz, 26 de Maio de 2007 (Tino Neves)



Mensagem enviada pelo camarada Constantino Neves, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCaç 2893 ( Nova Lamego, 1969/71).



BCAÇ 2893 > CCS/CCAÇ 2617/CCAÇ 2618/CCAÇ 2619 + Pel Mort 2105/Pel Re Daimler




5.º Encontro/Convívio > Figueira da Foz, 26 de Maio de 2007


Quinta de Castros
Serra de Castros - Maiorca
Figueira da Foz



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Entradas > Enchidos grelhados; Salgadinhos

Bufê > Sapateira recheada; Gambas cozidas; Polvo (salada); Ovas; Salmão em espelho; Saladas frias; Bacalhau espiritual; Lombo recheado; Batata assada; Arroz árabe; Sopa de alho francês

Mesas de Doce e de Fruta

BAR ABERTO

Bolo de Aniversário e Espumante

PREÇO: 32,00 € (Crianças até aos 4 anos não pagam, dos 5 aos 10 pagam 16,00€ ).

CONFIRMAÇÃO: Até ao dia 12 de Maio de 2007

PONTO DE ENCONTRO


Concentração em frente à Câmara Municipal da Figueira da Foz, até às 11,30 horas.

NOTA: Agradecia que me confirmassem logo após a recepção desta carta a intenção de estarem presentes, a fim de calcular atempadamente,quantos de vós estareis presentes.


Para os camaradas que ainda não disponibilizaram uma foto, tipo passe ou outra, agradecia que o fizessem, pois é de grande utilidade, para melhor os reconhecer, quando só o nome não chega.
Escrevam no verso o nome, posto e Companhia. Agradecido.

CONTACTO:

Constantino Neves
Telefone: 21 017 32 26
Telemóvel: 93 437 03 52
Endereço de correio electrónico > constantino.neves@gmail.com


Laranjeiro, 23 de Abril de 2007

Guiné 63/74 - P1757: Convívios (6): CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo,1968/69), Carvalhos, 19 de Maio de 2007 (Carlos Marques dos Santos)

Mensagem enviada pelo nosso camarada Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69)



16.º CONVÍVIO > 19 de Maio de 2007
Guiné, Fá Mandinga e Mansambo , CART 2339 (1968/69). Celebram-se este ano os 40 anos da Companhia: em 28 de Agosto de 1967, em Évora, dava-se início à Formação da CART 2339.
O Almoço-Convívio realizar-se-á, nos Carvalhos, Vila Nova de Gaia, a 19 de Maio, pelas 13.00 horas.

Antes e pelas 11.00 h todo o pessoal deve encontrar-se na Igreja da N.ª Sr.ª da Saúde – Carvalhos, que fica próxima do local do Encontro e é um local amplo.

Portanto não esqueças. INSCREVE-TE COM TEMPO e passa palavra. Contactos:
Carlos Marques dos Santos – Telm 91 921 21 13
Rua Gago Coutinho, 17A-6.ºA
3030 – 326 Coimbra

Ernesto Ribeiro – Telm 96 649 56 02
R. Sarmento Pimentel, 376
4450-790 Leça da Palmeira

Um Grande Abraço

Marques dos Santos