terça-feira, 1 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2709: Convívios (46): CART 2339, 24 de Maio em Penafiel (Carlos Marques Santos)


CART 2339
Guiné/Fá/Mansambo
1968/69


ANA MAFALDA
14 / Janeiro/1968 / Partida de ÉVORA - 40 anos


Contactos:
Carlos Marques dos Santos – Telm 91 921 21 13
Rua Gago Coutinho, 17A-6.º A 3030 – 326 Coimbra

Cardoso Pinto – Telm – 96 901 06 36

Zeferino – Telm – 96 649 57 67

17.º CONVÍVIO
Coimbra/ Março de 2008

Companheiros:
Com um grande abraço, lembramos que se aproxima o dia do Convívio e Almoço anuais.
Conforme combinado no ano anterior no Porto, o nosso Encontro e Almoço, realizar-se-á em Penafiel, na Casa d’ Outeiro, Outeiro – Duas Igrejas, com o telefone 255 712 337.

Informamos ainda que:

O Almoço/Convívio realizar-se-á a 24 de Maio, pelas 13.00 horas.

Antes e pelas 10,30 horas todos devem concentrar-se no Santuário a Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos (Sameiro) em Penafiel, onde será rezada Missa às 11 horas.

Este local é amplo e fica perto do lugar onde se realizará o Almoço.

A ementa terá o preço final de 25,00 €. Crianças até 10 anos 12,50 €

Constará de:
Entradas – rissóis, moelas, bolinhos de bacalhau, camarão e pataniscas.
Canja.
Anho assado em forno de lenha
Lombo assado com ananás natural.
Vitela à moda da casa.
Sobremesas – bolos variados, sopas secas.
Frutas laminadas.
Vinhos da região, águas e sumos.
Café e digestivos.

NOTA:
É importante, urgente e necessário saber quem e quantos somos, incluindo os acompanhantes.

A resposta (via postal, telefónica ou e-mail: carlosmarkes@hotmail.com) deve ser transmitida para Carlos Marques dos Santos, sem falta até ao dia 15 de Maio, pois o Restaurante precisa de programar compras.

Portanto não esqueças. INSCREVE-TE COM TEMPO e passa palavra para que ninguém falte.
Um grande abraço,
Cardoso Pinto
Zeferino Ribeiro
Marques dos Santos

Local de Encontro e Missa 10,30 horas


Santuário a Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos (Sameiro)

Proeminente sobre a cidade e o Vale do Sousa, foi construído nos finais do séc. XIX, início do séc. XX, aquando da construção do Santuário a Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos, o Parque Zeferino de Oliveira, mais conhecido por Jardim do Sameiro.

Como chegar a partir do Porto/ Maia (zona do aeroporto):
Coordenadas GPS – Lat N 41º 12’ 31.3’’ e Long W 8º 16’ 31.1’’

A41/A42 - Felgueiras (sem portagens) – saída Lousada Oeste (EN106) - Penafiel
ou
Pela A4 - (portagens) até saída Penafiel.

Guíné 63/74 - P2708: Construtores de Gandembel / Balana (5): Ponte Balana não era dos piores sítios do Tombali... (Idálio Reis)

Guiné > Região de Tombali > Pontão de Balanazinha > 1968 O Alf Mil Idálio Reis, da CCAÇ 2317, junto ao março onde se podia ler o ano da construção da obra: 1946

Foto: © Idálio Reis (2008). Direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Destacamento de Ponte Balana > A praia fluvial...

Foto: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.



1. Mensagem, com data de 30 de Março, enviada pelo Idálio Reis, ex-Alf Mil da CCAÇ 2317 (Gandembel / Balana, Abril de 1968 / Janeiro de 1969):


Luís, com o teu profundo sentimento de conciliar emoções, por vezes, tão difíceis de superar, fizeste bem em publicar o poste da responsabilidade do Hugo Guerra. De todo, também a mim, tenho interesse apagar esta acha, apesar de considerar que, por vezes, há fogueiras que é melhor deixá-las manter acesas.

Como reconheces, tenho uma imensa dificuldade em escrever o que quer que seja sobre o Hugo Guerra, que muito jovem, em terras da Guiné, esteve às portas da morte quando se feriu gravemente, pois quanto sei, perdeu num dos lados a visão e audição. Só vim a saber deste desenlace, muito anos depois, num comboio Lisboa-Coimbra, onde vinha a visitar os seus filhos.

De todo o modo, a bem da verdade, sobre o que ele narra, direi:

(i) O destacamento de Ponte Balana tinha um efectivo a nível de grupo de combate. Como constataste, situava-se a poucas centenas de metros de Gandembel;

(ii) Todos os grupos de combate da minha Companhia [, a CCAÇ 2317, ]estiveram em Ponte Balana. E estar aqui 'abivacado', não era motivo para se lastimar, pois a vida aqui era mais facilitada; o nosso elo de ligação quotidiano era ir buscar o pão, que geralmente se fazia junto ao pontão do Balanazinha.

(iii) Fazes-me uma pergunta quanto às datas de construção das pontes; pois em anexo, envio-te uma fotografia com a minha pessoa junto aos restos deste pontão, onde se pode verificar a data de 1946).

(iv) As flagelações a Ponte Balana foram muito poucas, dado que os rios eram naturais elementos de valia na sua protecção e as armas de defesa de maior calibre localizados em Gandembel eram sinal de grande perigo.

(v) Ainda hoje recorri ao meu homem que continua a relembrar os factos por que passámos (como o grande Rodrigues me costuma dizer, lembra-se de tudo o que passou em Gandembel como os nomes dos seus 6 filhos), onde nada se sumiu, que aquando da retirada era o seu grupo que estava em Ponte Balana.

(vi) O Pel Caç Nat 55 sempre esteve connosco. O Hugo Guerra chega a Gandembel em fins de Agosto, e o seu grupo ia tendo a particularidade de reforçar os pelotões da Companhia que minguavam. E daí, surge o nome do alferes Barge, que chegou em rendição individual, já quase no fim de Gandembel, e que também estaria integrado com o seu grupo na data da retirada.

(vii) As afirmações que se têm feito para o Blogue, são da responsabilidade de quem as faz, ficma com quem as profere. Mas, quem não esteve por lá, há-de pensar que 120 dias em Ponte Balana foi um degredo....Não foi verdade. A fotografia que te enviei do pessoal a banhar-se no Balana, estava nesse sítio, e há ali estampada uma enorme alegria.

(viii) Já li o poste do Nuno Rubim (2), que amavelmente já me enviara as fotografias, exceptuando a do Google Earth. É esta a grande ferramenta que me falta, e que um dia haverá de surgir para actualizar estes meus antiquados equipamentos informáticos...
A imagem do Google é excepcional, e lá se distingue ainda o caminho de ligação Gandembel-Ponte Balana, notoriamente a parte a norte do rio.

Um caloroso abraço
do Idálio Reis

___________

Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 29 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2700: Construtores de Gandembel / Balana (4): Estive lá 120 dias, com o meu Pel Caç Nat 55, até ao fim (Hugo Guerra)

(2) Vd. poste de 30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2703: Memórias dos lugares (8): Destacamento de Ponte Balana (Nuno Rubim)

segunda-feira, 31 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2707: Convívios (45): CCS/BART 2917, dia 26 de Abril de 2008 em Mangualde (Benjamim Durães)

ACESSOS A VISEU


ACESSOS A VISEU

AMIGO, COMPANHEIRO E EX-CAMARADA DE ARMAS,

VAMOS REALIZAR O 2º ENCONTRO-CONVÍVO DA CCS/BART 2917 E DAS UNIDADES SUAS AGREGADAS, PARA COMEMORAR O 36º ANO DA PARTIDA PARA A GUINÉ (17 DE MAIO DE 1970) E O 34º ANO DO REGRESSO (27 DE MARÇO DE 1972).

ESTE ANO A CONCENTRAÇÃO DO 2º ENCONTRO-CONVÍVIO SERÁ PELAS 10 HORAS EM MANGUALDE NO DIA 26 DE ABRIL PRÓXIMO, TENDO COMO LOCAL O HOTEL ONIX, SITUADO NA VIA CAÇADOR - EN 16 - VISEU.

QUEM QUISER PERNOITAR EM VISEU, PODE RESERVAR O ALOJAMENTO NO HOTEL ÓNIX PELO

TELEFONE 232 479 243,
FAX 232 478 744 ou por
E-Mail hotelonix@hotelonix.pt,

OU AINDA PELA INTERNET NO SITIO http://www.hotelonix.pt/reservas.html.

A EMENTA CONSISTE DE ALMOÇO E LANCHE AJANTARADO E IMPORTA 35 €UROS POR PESSOA, SENDO QUE AS CRIANÇAS ATÉ AOS 6 ANOS NÃO PAGAM E DOS 6 AOS 12 ANOS PAGAM METADE.

NO VERSO, DAMOS OS GRÁFICOS PARA CHEGARES AO HOTEL.

PARA QUEM VEM PELA A1 A MELHOR OPÇÃO É SAIR EM TROUXEMIL, VISEU, IP3 COIMBRA NORTE E VIR ATÉ VISEU PELA IP3 E ENTRAR NA A25 EM DIRECÇÃO GUARDA, ESPANHA E SAIR NA SAÍDA VISEU ESTE, HOSPITAL, SAÍDA Nº20 E SEGUIR CENTRO DA CIDADE ESTAMOS A 1KM DA SAÍDA.

ASSIM, AGRADEÇO QUE EFECTUEM A VOSSA MARCAÇÃO ATÉ AO PRÓXIMO DIA 15 DE ABRIL, A FIM DE SE PODER INFORMAR O HOTEL PARA A MARCAÇÃO DA SALA CONSOANTE AS PRESENÇAS.

CONTACTOS:
BENJAMIM DURÃES
TELEMÓVEL - 939393315 OU 939393939
E-MAIL’S - benjamimdurães@hotmail.com ou

AINDA bart2917.ccs@hotmail.com, e
MORADA: - RUA FLORBELA ESPANCA, Nº 10 - CP 2950 - 296 PALMELA,

OU PARA:

ÁLVARO GOMES SANTOS - CASAL DIZ 3500 - MANGUALDE,
TELEMÓVEL - 968635665
TELEFONE - 232641470

DAQUI VAI A NOSSA HOMENAGEM AOS QUE JÁ SÓ PODEM ESTAR PRESENTES EM ESPÍRITO E VOTOS DE SAÚDE PARA OS QUE NÃO PUDEREM COMPARECER.

UM ABRAÇO
DURÃES

Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (10): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)


Artigo que o Mário Beja Santos nos enviou há quase quatro meses (já refilou e com toda a razão...), depois de ter lido o livro Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, Guiné, 1970/1980, de Manuel Amaro Bernardo. (vb).


Capa do livro. Editorial Prefácio, Lisboa, 2007.

A Ignomínia dos Comandos guineenses fuzilados
por Beja Santos

(i) Um relato descosido que não serve a História de dois países.

O coronel Manuel Amaro Bernardo, autor de vários livros onde se versam as nossas Forças Armadas, a descolonização, a guerra colonial e o período revolucionário que vivemos entre 1974 e 1975, afoitou-se agora a contar num trabalho que classifica “de natureza histórica”, a guerra da Guiné, o papel do marechal Spínola na evolução desses acontecimentos e o fuzilamento de Comandos guineenses que tinham servido nas tropas portuguesas (“Guerra, paz e fuzilamento dos guerreiros, Guiné, 1970-1980”, Prefácio, Lisboa 2007).
É raro encontrar um livro tão descosido, tão mal estruturado, ainda por cima contando com um acervo de depoimentos que podiam ter contribuído para iluminar e estabelecer um juízo fundamentado sobre um dos períodos mais conturbados da guerra que vivemos em África e as sequelas da transição para a independência. Importa exemplificar.
Ao encetar o relato com António de Spínola em 1968, na Guiné, colocando-o como o promotor de um projecto que parecia levar a prazo aquela terra martirizada a uma autonomia gradual e à reconciliação de todos os guineenses, referindo seguidamente, sem lógica sequencial para explicar o papel dos Comandos, a inviabilidade da solução militar, a invasão de Conakry, o assassinato de Amílcar Cabral e o esforço de guerra desenvolvido em 1973, tudo se afunda num mar de equívocos e contradições.
Como é que é possível lançar na ribalta Spínola, fazendo dele a grande esperança numa solução político-militar, sem descrever, pelo menos em termos gerais o que ele herdou, a ascensão e a consolidação do PAIGC dentro e fora do território da Guiné, e dar a conhecer a resposta das forças armadas portuguesas em 5 anos de sublevação?
Sim, que Guiné encontrou Spínola em 1968? Qual o sucesso de Cabral e os seus companheiros para mobilizar as populações? Porque é que se discute a contabilidade das populações dentro e fora de controlo quando hoje se sabe que uma grande parte das populações, por razões familiares, não podia radicalizar e viver num quadro de ruptura?
Há uma clara vontade do autor em transformar Spínola no protagonista maior, clarividente e imaculado, fazendo recair sobre Marcello Caetano a responsabilidade do desastre, por não ter encontrado uma decisão política adequada e oportuna.
Em termos de investigação histórica, compulsados os elementos disponíveis e sem perder de vista que se desconhecem ainda as propostas que Marcello Caetano terá mandado apresentar nas conversações secretas com o PAIGC que decorreram de 1973 para 1974, temos aqui um mar de equívocos e falácias, incompatíveis com quem se diz à procura do rigor e da objectividade.
Spínola, que não pode aparecer dissociado do que foi anteriormente a luta entre 1963 e 1968, procurou uma solução militar e uma reorganização das populações que levassem a um claríssimo apoio ao seu projecto Por uma Guiné melhor. É escusado especular se trabalhou com o rasgo necessário e teve do seu lado a sorte indispensável. Até se pode contraditar: abandonou posições militares que provocaram um vácuo catastrófico; promoveu operações dispendiosas e inúteis, como a Lança Afiada, que acabaram por motivar a capacidade de guerrilha; não sensibilizou Lisboa para a constituição precoce de forças armadas regionais, isto quando na Guiné já havia forças de milícias e de caçadores nativos e depois companhias de caçadores, que deviam ter sido naturalmente organizações de quadrícula a sofrer um largo impulso, gerando confiança aos naturais na sua própria defesa, dando a imagem que as forças especiais era a panaceia da guerra. Estas são algumas acusações que poderiam impender sobre a obra de Spínola, argumentação igualmente de valor discutível.
A reunião de Spínola com Senghor, em 1972, em que o governador da Guiné propõe uma autonomia a dez anos, tem que ser encarada como uma proposta que seria liminarmente rejeitada, isto quando o PAIGC já tinha conseguido acantonar as forças armadas portuguesas nos quartéis, reduzindo-lhes drasticamente o espaço de manobra. Acresce que o autor refere os acontecimentos de 1973 e 1974, quando a força aérea perdeu capacidade de actuação com a chegada dos mísseis terra-ar e o PAIGC passou a ter a total iniciativa entre o Norte e o Leste, em todo o espaço fronteiriço com a Guiné-Conakry. Ou seja, o PAIGC ganhara uma capacidade ofensiva indiscutível, as nossas forças podiam ir esporadicamente às suas bases e acampamentos, havia mortes e feridos, mas logo tudo ficava na mesma. A partir de 1973, a solução militar estava irremediavelmente perdida.
Depois, o autor descreve o nascimento do movimento dos capitães, temos a seguir a transição para a independência e chegamos mais tarde aos fuzilamentos dos Comandos africanos. Será que o rigor histórico não exigiria que se explicasse o aparecimento destas forças que surgem neste livro imprevistamente?
O autor recheia o seu relato de anexos com os fuzilados, refere a lei de justiça militar do PAIGC de 1973, os militares exilados no Senegal, somos obrigados a apanhar uma polémica entre o autor e o Dr. Almeida Santos, depois vem a laude a vários amigos do autor e até se fala do distúrbio pós-traumático do stress, e temos em metade do livro relatos de vários protagonistas, alguns deles retirados de livros, outros entrevistados pelo autor.
É raro fechar-se uma obra com o sentimento de decepção e de frustração, como se passou comigo.

(ii) Uma história da Guiné ainda por esclarecer


Posso admitir que o autor tenha pretendido chamar a atenção para um punhado de militares, alguns deles altamente condecorados, barbaramente fuzilados e muitos deles a aguardar justiça e o direito à memória. Se era essa a homenagem que pretendia, falhou redondamente. Não se tira da indignidade do esquecimento estes fuzilados sem um relato histórico apropriado, clarificador, sem cedências à emoção.

Como é que apareceram estes Comandos guineenses que começaram a ser formados a partir de Fevereiro de 1970? Quais as queixas demonstradas que sobre eles recaíram, dos tão propalados crimes que lhes foram atribuídos pelo PAIGC?
Durante a fase de transição para a independência, os representantes das forças armadas portuguesas tudo fizeram, ou não, para os dissuadir a partir, quando se sabia que seriam inevitáveis os confrontos, os ajustes e vinganças, as explosões de ódio? Mas, indo mais a atrás, agiu-se bem na formação das tropas africanas, e se não o que é que falhou para garantir confiança às populações autóctones, de 1963 a 1970? Só foram perseguidos Comandos, não foram perseguidos militares provenientes da infantaria ou da marinha?
Está hoje demonstrada alguma relação causa-efeito entre o golpe de Malam Sanhá e os Comandos africanos refugiados no Senegal com os fuzilamentos realizados em Novembro de 1978?
Os relatos históricos não se fazem juntando uns papéis atabalhoadamente, mesmo que o pretexto seja o descerramento de duas placas com os 53 Comandos fuzilados na Guiné. Afinal, foram centenas os fuzilados que este conjunto de papéis sob a forma de livro nada refere. Não se exalta o esforço dos Comandos esquecendo os outros.
Vamos confiar que um dia se escreverá um verdadeiro relato histórico sobre quem combateu, foi ludibriado e injustamente tratado. Os combatentes da Guiné merecem-no. Os militares que comigo combateram e morreram no pelotão de fuzilamento, viveram o cárcere ou exílio nessa Guiné têm direito à clara certidão da verdade.
__________

Notas de Vb: Arranjo do texto da responsabilidade do co-editor.

(1) Com a devida vénia ao Cor Amaro Bernardo, transcrevo abaixo uma parte do depoimento do Cor Florindo Morais:

Uma oferta demasiado tentadora
(......) Eis senão quando, em meados de Agosto, a notícia surge como uma bomba: o Comandante-Chefe oferece a pronto e desde já, quatro meses de vencimento, mais o subsídio de Natal a quem quiser passar à disponibilidade. Assim lá se foi a lista dos interessados em vir para a Metrópole, continuando no serviço militar (refere-se aqui à grande maioria dos Cmds Africanos, que antes desta oferta se tinham inscrito para virem para Portugal) ...Esgotaram-se em Bissau os frigoríficos, as ventoinhas e demais electrodomésticos, a par das motorizadas. Ainda tentei que percebessem o que estava em causa, mas em vão. Os oficiais declaravam querer permanecer na Guiné, que era a sua Terra, e ser seu dever continuar a lutar pelo seu Povo. (...)
O então Maj Cmd Florindo Morais foi nomeado para a Guiné, já depois de Abril de 1974, para render o também então Maj Raul Folques no comando do Bat Cmds Africano.
(2) Sobre este assunto, ver artigos de
30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)
28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)
19 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)
31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)
27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)
23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)

Guiné 63/74 - P2705: As memórias e os arquivos oficiais (Carlos Marques Santos)



Carlos Marques Santos
ex-Fur Mil
CART 2339
Fá Mandinga e Mansambo
1968/69




Foto 1> Guiné> Sare Gana, 1968> Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339

Foto 2> Minas A/P levantadas durante a Operação Nada Consta


Foto 3> Mina A/C levantada na mesma Operação

Fotos: © Carlos Marques Santos (2008). Direitos reservados.

1. No passado dia 26 de Março recebemos do nosso camarada Carlos Marques Santos esta mensagem

Em Anexo nota sobre o Post do Felício de hoje.
Um Abraço
CMS

2. Ao lêr o Post do Felício (P2683) (1) de hoje, rememorei uma série de situações:
- Estadia em Galomaro e Dulombi em reforço.
- As notícias por vestígios no terreno que davam conta da passagem do IN, quer nessa zona quer na de Mansambo.
- O Malan Mané, os Páras, O Mamadu Indjai, etc. .

Estas lembranças levaram-me a reler a História e as minhas notas pessoais, confrontando-as com a “História da Companhia 2339”

Todos sabemos que aquilo que está nas histórias das companhias e nos arquivos oficiais não é suficiente:

Assim:
Malan Mané, Mamadu Indjai, Nada Consta, Rio Biessa, etc.
São memórias de vivências por nós no terreno.

Em relação ao prisioneiro Malan Mané já o Torcato deu achegas e agora o Felício, recordando o Jorge Félix.

Operações Gancho I, II e III

“História da Companhia”
Entre 06 e 17 de Agosto de 1969 realizaram-se estas Operações com a finalidade de montar emboscadas e detectar vestígios IN na região de Samaro–Cuntim e imediações de Candamã.

As minhas notas referem emboscadas sucessivas e de 24 horas.

- A 10 de Agosto 1969 detectámos trilho IN de 3/4 dias. O 4.º Pelotão detectou uma mina na estrada de Candamã.

- Dia 11 foi-se rebentar a mina e Candamã foi flagelada pelo IN cerca das 20,00 horas.

- A 15 regressou a Candamã o meu Pelotão (3.º) vindo de reforço a Galomaro.
No mesmo dia, quando GC da 2339 saíam para Bambadinca, cerca das 05,00 horas, ouvem-se rebentamentos para os lados de Afia, onde está uma nossa Secção.
Ataque IN com 3 mortos civis e 2 evacuados da população.

O 2.º Pelotão regressa a Candamã para efectuar uma Operação na zona.
A ponte de passagem para Mansambo cai e voltamos para trás para Candamã onde dormimos totalmente encharcados.

- Dia 16 conseguimos ir para Mansambo pela estrada do Xitole.

- Dia 17 fomos à ponte levar géneros à nossa malta que estava do outro lado do rio.
Sem contacto, mas detectado um acampamento IN na região do Rio Biessa.
A nossa Companhia detectou, na zona, o IN. Cerca de 150 segundo análise dos vestígios
Parece que vai haver Operação em grande.

- Dia 18 de Agosto de 1969 / História da CART 2339


Operação Nada Consta

Operação de 1 dia para destruir acampamento IN do rio Biessa.
Forças envolvidas:
COP 7 (Zona Leste, Bafatá) - CCP 123 a 2 GC e CCP 122 a 1 GC
Sector L1 (Bambadinca) - CART 2339 a 4 GC, CCAÇ 2590 a 3 GC e PEL CAÇ NAT 53

Enquanto as forças helitransportadas actuavam sobre o acampamento IN detectado, as forças da CART 2339 mantinham-se emboscadas na bolanha do Biessa e outras estavam na estrada Mansambo-Xitole, sobre o trilho detectado na Operação Belo Dia.
Neste percurso foram detectadas minas A/C e pessoais.

Pelas 15,45 horas, surgiu um grupo IN não estimado, vindo de Leste e que concerteza fugia da zona de acção dos Páras. Aberto fogo, causaram-se 2 baixas ao IN e confirmaram-se feridos graves e ligeiros.
Notícias posteriores refere que um dos feridos graves é Mamadu Indjai, Comandante do Sector 2.
Os GC da CART 2339 retiraram para Mansambo e Candamã. Na retirada foram detectadas mais 12 minas junto à ponte do Jacarajá.

Nas minhas notas escrevi:

Saímos de manhã para uma emboscada na zona do Jagarajá. Cerca das 15,40 horas dois elementos IN aproximaram-se do meio da emboscada. Tiroteio.
Eu estava atento atrás de um baga-baga e vejo, para grande espanto, dois batedores IN a cerca de 20m.
Eu comandava a Seccão de Bazzooca e dada ordem de fogo, o Moreira, exímio atirador desta arma, disparou para um suposto percurso da coluna IN.
Foi ferido o Mamadu Indjai.
Grande ronco.

O Malan Mané foi capturado do outro lado da guerra.
Foi transportado quase de certeza pelo Félix, para Mansambo para ser ouvido e servir de guia, episódios já contados pelo Torcato.
Estávamos já nessa altura à espera de ser rendidos para descansar e regressar à Metrópole.

Mas afinal houve mais meses.
CMS

3. Saudações especiais para o nosso camarada Carlos, que nos veio contar mais um pouco das suas memórias.
Vamos ter a esperança de que este regresso dê continuidade a uma participação regular, interrompida há já algum tempo.
_____________

Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 26 de Março de 2008> Guiné 63/74 - P2683: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (9): O Jorge Félix e o Prisioneiro

Guiné 63/74 - P2704: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (12): Que o Nhinte-Camatchol te proteja, Guiné-Bissau



Guiné-Bissau > Bissau > Simpósio Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008) > Capa e contracapa do álbum Guiné-Bissau, terra de história e de cultura. Bissau, TV Klele Produções, 2008.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.









Video clip de Anastacio de Djens - N'cansa tchora guine - Produção: TVKlele. Um dos temas, o 4º, inseridos no álbum musical, não comercial, com video clipes da TV Klele, distribuídos juntamente com a pasta do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, Guiné-Bissau, 1 a 7 de Março de 2008). O álbum tem por título Guiné-Bissau, Terra de História e Cultura. A televisão comunitária TV Klele, do Bairro Quelélé, de Bissau, tem o apoio da AD - Acção para o Desenvolvimento.



Vídeo (5' 25''): You Tube > TVKlele (2007) (com a devida vénia...)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém> Simpósio Internacional de Guileje > 1 de Março de 2008 > Grafito com o desenho nalú do irã protector da tabanca, o Nhinte-Camatchol, e que foi o logótipo do Simpósio, orgnaizado pela AD -Acção para o Desenvolvimento, o INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesqusias, e UCB - Universidade Colinas do Boé

O Nhinhe Camatchol é uma escultura dos nalus do Cantanhez usado na festa do fanado. Representa uma cebeça de pássaro com rosto humano, sendo a mensagem aos participantes deste ritual de iniciação à vida adulta a seguinte: que todos eles passam a considerar-se como verdadeiros irmãos, mais verdadeiros que os próprios irmãos biológcios. O que deve ser entendido como a afirmação do interessse colectivo, comunitário, acima do interesse dos indivíduos e das famílias. Orginalmente esta máscara não poderia ser vista pelos não iniciados, sob pena de morte (Campredon, Pierre – Cantanhez, forêts sacrées de Guinée-Bissau. Bissau,Tiguena. 1997, pp. 32-33). (LG)

T-Shirt com o logótipo do Simpósio Internacional de Guileje, inspirado numa das mais famosas esculturas nalús Animais do Cantanhez... Desenhados nas paredes das instalações da AD em Iemberém

Fotos: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.



Que o Nhinte-Camatchol te proteja,
Guiné, Tabanca Grande


por Luís Graça (1)


Quem disse que a Guiné-Bissau não tem futuro ?
Não fui eu, que pouco valho.
Não foi o dari,
que não tem seguro
de acidentes de trabalho.
Nem de saúde.
Quem disse que o futuro não passa por aqui,
amiúde ?
Não, não foi o macaco fantango,
que trabalha sem rede,
e não tem protecção no desemprego.
Nem o desgraçado do macaco-cão
que vai à mesa do pobre
como se fora leitão da Bairrada.
Nem o mandinga, bom negro,
tocador de Kora,
que se foi embora,
em busca de outro chão,
livre do som da Kalash.

Quem disse que Deus, Alá e os bons irãs
não montaram morança nesta terra ?
Não foi o muntu.
Não foi o tucurtacar pangolim.
Não foi a rapaziada
do Bairro do Quelélé.
Não foi o fula nem o nalu.
Não foram as aves do Cantanhez.
Não foram os homens grandes do Gabu.
Não foi o tuga, nem foste tu nem fui eu.

Ah!, como está ainda bem longe, Cabral,
o ideal
por que lutaste e morreste,
uma vez,
tu e tantos outros combatentes da liberdade da pátria.
Nada que tu não saibas,
lá no Olimpo dos deuses e dos heróis,
ou não soubesses já,
cá na terra dos homens,
que a História é fértil em exemplos de efeitos perversos,
de Revoluções que devoram os seus filhos...
Tudo isto, para te dizer
que eu ouvi os jovens do teu país cantar o teu hino,
no antigo Acampamento Osvaldo Vieira,
nas matas do Cantanhez,
com o mesmo fervor do que quaisquer outros jovens
noutras partes do mundo,
em Portugal, em Cuba, na China,
na América, no Brasil ou em Angola ...
Pelo menos os teus sabiam a letra,
a tua letra,
e até a música que foi composta pelo Sr. Xiao He,
um obscuro chinês,
do tempo do maoísmo.

Quem disse, afinal, que a Guiné não tem futuro ?
Se não o foi macaco fidalgo,
foram os teus inimigos,
os de fora e os de dentro,
os teus filhos bastardos
e os filhos bastardos de outras nações.
Os que dizem mal de ti,
que te querem comprar
a preço de saldo,
e que te arrastam pela lama do tarrafo.
E que dizem que és um narco-Estado.
E que vives da caridade internacional.
E que já não tens fé,
nem caridade,
nem esperança,
nem voz,
nem lágrimas para chorar.
Que já não tens alma
nem salvação
nem pudor.
E que Cabral morreu e está enterrado,
na antiga fortaleza colonial
da Amura.

Os teus jovens,
os teus músicos,
o Furkuntunda,
o Anastácio di Djens,
grande senhor,
os teus poetas,
os teus artistas,
os teus artesãos,
as tuas televisões comunitárias,
as tuas rádios locais,
o teu novo Lamparam,
o teu Bombolom digital,
e até os centros de saúde no mato,
são a prova da tua grande vitalidade,
engenho,
imaginação,
talento,
alegria,
nobreza,
criatividade,
espontaneidade,
afabilidade,
hospitalidade,
vontade de vencer o círculo vicioso
da pobreza.
Do teu povo, Guiné,
de Norte a sul,
dos Bijagós às Colinas do Boé,
de Iemberém ao Quelélé.

Eu acredito em ti,
país-irmão.
Eu quero acreditar em ti,
Guiné,
eu quero remar contra a maré do cinismo
inimigo tão mortal
como o mosquito do paludismo.

Eu acredito nas tuas mulheres,
empreendedoras e corajosas,
que montam fabriquetas de descasque de arroz,
ou que, em casa, fazem o seu óleo de palma
e o seu chabéu.
E o seu sabão.
E ainda têm tempo para ir à pesca e ao mercado
E para cuidar dos teus meninos.

Eu acredito,
no talento dos teus jovens, criativos,
Como o Grupo de Teatro Os Fidalgos.
Eu acredito ainda na força telúrica
e na generosidade dos homens (e mulheres)
que lutaram, por ti,
no Como,
Em Cassaca,
em Cadique,
em Madina do Boé,
no Morés,
em Gandembel,
em Guileje,
em Guidaje,
no Fiofioli,
na Ponta do Inglês,
no Choquemone,
em Sinchã Jobel.
Com as armas na mão
e com as ideias e os valores na cabeça.
Para que tu fosses livre
e independente,
e fosses justa
e fraterna.
Uma Tabanca Grande,
grande como a bolanha de Bambadinca,
outrora verde e prenhe de arroz,
e aonde iam apascentar os búfalos.
Uma Tabanca Grande
onde cabe o Muntu e o Nalu,
os homens grandes
e as mulheres grandes
e as meninas
que um dia não precisarão da faca da fanateca.
Onde cabem os teus frondosos poilões
e as vaidosas cabaceiras.
Para que os teus filhos, Guiné,
tenham a merecida paz,
todos os dias do ano,
a liberdade,
a justiça,
o milho, o arroz e a mandioca,
o mafé e o chabéu
com que se mata a fome e se sonha e se dança.
Enfim, a dignidade
a que os teus filhos têm direito
no seio da Mãe África
e do resto do mundo globalizado.

Ah!, a paz, a tão frágil paz
que leva tanto tempo a consolidar,
e o tão suspirado progresso que não chega,
ou que é tão lento, desesperadamente lento,
ou só chega para uma meia dúzia de privilegiados,
a nomenclatura do poder e do dinheiro...

Mas para isso, terás que fazer a ponte
com o passado.
Mas para isso não poderás ignorar
nem escamotear os marcos
(de sinal mais e de sinal menos)
do passado,
bem como as raízes das lianas
e dos poilões da tua guineidade.

Como te imploram os teus filhos,
não queiras chorar mais, Guiné!
N ka misti tchora mas!
Faz das tuas lágrimas
a força do macaréu
da tua revolta
e do teu ânmimo
que te ajudarão a abrir a Picada do Futuro,
a construir o Novo Corredor do Povo,
a Nova Estrada da Liberdade.
Que eu só desejo que seja
tão grande, larga e fecunda
como os teus rios míticos,
do Cacheu ao Cumbijã,
do Geba ao Cacine.
Ou tão límpidos e belos e selvagens
Como o Corubal.

E que o Nhinte-Camatchol,
o grande irã, te proteja,
Guiné, Tabanca Grande.


Simpósio Internacional de Guileje
Iemberém, 1-2 de Março de 2008
Bissau, 2-7 de Março de 2008
Lisboa, 30 de Março e 2008

Luís Graça
_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. poste anterior: 29 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2695: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (11): Iemberém, uma luz ao fundo do túnel (I)

domingo, 30 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2703: Memória dos lugares (6): Destacamento de Ponte Balana (Nuno Rubim)

Foto 1 > Destacamento de Ponte Balana: em 1968 e... em 2008 (vestígios)

Foto 2 > Vestígios actuais do antigo destacamento de Ponte Balana

Foto 3 > Coordenadas GPS do antigo destacamento de Ponte Balana, de acordo com fotografia de satélite do Google.
Fotos : © Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.

1. Texto do Nuno Rubim (Cor Art Ref, com 2 comissões na Guiné, e especialista em história da artilharia) (1):

Caro Luís

Mais uma informação com possível interesse para os camaradas do blogue.

Na ida ao Sul, durante o Simpósio de Guiledje, aproveitei para tirar coordenadas GPS de vários locais.

Também andei a procurar vestígios das construções que existiram no destacamento da Ponte Balana, de acordo com uma fotografia que o nosso camarada Idálio Reis me forneceu ( ver foto 1). Coloquei-me mais ou menos na posição do fotógrafo de 1968 (?) e depois entrei no mato do lado esquerdo. E realmente encontrei alguns vestígios (foto 2 ). Só uma limpeza aturada permitiria descobrir algo mais.

Nesse local as coordenadas GPS são: 11º 25' 33" N - 14º 48' 05" W. ( atenção que constatei que a carta 1:50 000 contem erros de localização ... ) (Ver Google, Foto 3).

Quanto a Gadembel, as coordenadas do centro geométrico do aquartelamento são: 11º 24' 47" N - 14º 47' 53" W.

Um abraço

Nuno Rubim


PS - Como sabes estou a contactar alguns cmdts do PAIGC no sentido de tentar aclarar dúvidas que tenho no que concerne os aspectos organizativos e operacionais e ainda o armamento. Vamos lá ver se eles respondem ...

Talvez alguma coisa possa vir a interessar para publicação no blogue. Nada de especulações ( cada vez constato mais ... ), textos curtos, nada de complicado, imagens, etc... Depois te consultarei, artigo a artigo.

Tudo isto porque julgo que se não fôr o blogue, muita coisa ficará por dizer sobre a guerra na Guiné ... Temos tempo, não é ? ... até porque ando enfronhado com o livro [que ando a escrever].
___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. último poste de Nuno Rubim: 26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)

Guiné 63/74 - P2702: Estórias do Juvenal Amado (7): A Caminho de Buruntuma (Juvenal Amado)



Juvenal Amado
Ex-1.º Cabo Condutor
CCS/BCAÇ 3872
Galomaro1972/74




1. Em 15 de Março de 2008, Juvenal Amado mandou-nos esta mensagem com mais uma das suas estórias.

Caro Carlos Vinhal e restante Tabanca Grande
Cá recebi o mail sobre as datas do próximo encontro da Tertúlia.
Ainda é cedo para garantir a minha presença, pelo menos na qualidade de observador, uma vez que sou piriquito nestas andanças bloguistas.
Qualquer das formas, é enorme a minha vontade de conhecer pessoalmente todos, em especial o Luís Graça e o Virgínio Briote que não consegui cumprimentar no lançamento do livro do Beja Santos. O Luis Graça por não estar presente.

Após esta introdução, aproveito para mandar mais uma estória vivida por mim em parte. A outra faz parte do que se ouviu na altura em relação aos acontecimentos.
Juvenal Amado


2. A caminho de Buruntuma
Por Juvenal Amado

A guerra, após a morte de Amílcar Cabral, tornou-se tecnicamente e estrategicamente mais defenida.
O ataque constante aos destacamentos com objectivo de ocupar posições, tornou-se mais que evidente. O tempo da guerrilha que emboscava, flagelava e retirava, embora não fosse menos perigosa, fazia já parte de um passado recente. Muito bem armada e enquadrada militarmente, a tropa do PAIGC estava a levar-nos para um beco sem saída e a nossa derrota, já não é uma miragem.

Na cantina tinham sido afixados cartazes com imagens de aviões MIG 17. O tempo de total domínio do ar pela nossa Força Aérea tinha findo há já algum tempo. Os guerrilheiros equipados com mísseis, tinham abatido já alguns dos nossos meios aéreos.

Assim os cartazes seriam para que nós identificássemos os aparelhos de fabrico soviético, caso fossemos atacados. Por outras palavras, serviam para que fugíssemos mais depressa, pois meios de defesa contra este tipo de ataque, não me consta que o Exército Português os tivesse, para disponibilizar aos combatentes.

As ordens para cavar uma vala em cruz no meio da parada, que por sua vez foi cheia com garrafas de gasóleo com torcidas, veio confirmar que ataques em grande escala, por parte do IN, eram já uma certeza só não sabíamos quando.

Incendiávamos as garrafas do lado que vinha o ataque, para que a nossa Força Aérea pudesse fazer bombardeamentos nocturnos.

À noite víamos os clarões e os rebentamentos, sentiam-se no peito e no chão.
A intenção que eles tinham de desalojar as NT das posições era tal, que os ataques eram repetidos noites a fio.

Notícias de forte movimento de viaturas e até blindados na fronteira entre a Guiné e a Guiné-Conakri, vinham agravar o já o nosso fraco ânimo.

Mais para Leste, Compá estava já cercado há dias. Grupos de Combate saíram para o mato para assim tentar aliviar a pressão. Esses valentes ficaram isolados e dispersos, complicando ainda mais, pois bombardeamentos massivos, que eventualmente fossem decretados por Bissau, poderiam atingir os nossos soldados no mato.

Os Operadores chegavam já a falar na rádio sem cifra, tal era a aflição daqueles nossos combatentes. Em resposta aos pedidos de ajuda destes nossos camaradas, os Altos Comandos dos seus gabinetes respondiam: - Tenham confiança nos vossos comandantes.

- Venham para cá vocês filhos da p...(*)
Era a resposta dos nossos camaradas em desespero.

Ainda desta vez os nossos camaradas, conseguiram aguentar as suas posições. Veio um período de acalmia felizmente.

Já passava da meia-noite quando o Furriel Claudino se aproximou do posto de sentinela e perguntou por mim. Estava a dormir, pois ia entrar de serviço às duas horas da manhã. Com ele vinha um Sapador que me ia substituir. Os condutores que fossem em coluna na manhã seguinte tinham que sair de serviço imediatamente.

Não gostei de o ver àquela hora, pois não augurava nada de bom. Disse-me: - Vai dormir que às seis da manhã tens que ter o teu carro preparado. Levanta ração de combate para três dias.
Perguntei-lhe o que se passava, mas ele disse-me que não sabia.

Às cinco e meia levantei-me, vim cá fora e bebi longamente água do cantil que tinha deixado a refrescar na rua. Vesti o camuflado, calcei as botas de couro, agarrei na arma, nas cartucheiras, no poncho e, dirigi-me ao depósito de géneros, onde levantei as caixas de ração. Era três, uma por cada dia, que ia ficar fora. Continuava sem saber para onde ia, mas na verdade também não interessava muito saber.

A coluna arrancou direito a Bambadinca, comigo iam com as suas Berliet, o Caetano e o Borges.

Chegados lá, ficámos à disposição do Comando de Bambadinca. Se a coisa não tinha cheirado bem até ali, cheirava cada vez pior.

Já era noite quando recebi ordem para carregar a viatura.
O resto da noite foi passada junto da mesma, com ordens expressas para que ninguém saísse do seu posto. Ia transportar minas e granadas várias para Buruntuma.

Esse destacamento em que o arame farpado fazia fronteira com a outra Guiné, era um alvo preferencial, por isso íamos tentar reforçar as suas defesas.

Arrancámos de madrugada ainda noite. A segurança é feita com tropas do Batalhão de Bambadinca e blindados de Bafatá. O Grupo Marcelino também ia na coluna.
Era pois uma Operação de reabastecimento de alto risco. Íamos rodar em zonas altamente perigosas, em que o IN dominava.

A coluna tinha sido rodeada de todo secretismo, mas com o andar das horas, os guerrilheiros poderiam já ter sido avisados.

Eram Berliet de vários destacamentos, não me lembro quantas. Lembro-me sim da ordem que proibia que levássemos qualquer passageiro junto de nós, condutores.
As viaturas tinham a carga tapada.

Ultrapassamos Nova Lamego direito a Piche. Nós não víamos, mas deveriam estar muitas centenas de camaradas nossos a fazer segurança, durante todo o percurso. A partir de Piche o grau de perigo aumenta consideravelmente.

O caminho é feito mais lentamente. Os Chaimites viravam as armas para a mata e vão com as escotilhas fechadas.

Os outros condutores devem sentir como eu, num extremo isolamento.
Se houver algum ataque à coluna, só nos resta fugir do pé da viatura e da sua perigosa carga.

Está um sol escaldante não se pode fumar. Por fim Buruntuma está à vista.
Parámos e ficámos bastante afastados uns dos outros.
Só entra um carro de cada vez para descarregar e saí logo de seguida. Temos de ser rápidos, se não queremos passar a noite na picada. Aproveito para comer, pois só tinha até essa altura bebido o leite da ração e água.

Correu tudo bem.

Os camaradas daquele destacamento estavam numa situação que ninguém no seu juízo perfeito invejava. Qualquer deles trocaria comigo sem olhar para trás.
Nessa noite ficamos a dormir em Nova Lamego, no dia seguinte vamos para Bafatá, onde encontramos a coluna da CCS que nos levará para Galomaro.

Os meus receios em relação a esta viagem, felizmente não se concretizaram.
O PAIGC não atacou Buruntuma, mas descarregou a sua fúria em Canquelifá passados poucos dias.

(*) Aos camaradas, que estiveram directamente envolvidos nestes acontecimentos, peço desculpa por alguma incorrecção, motivada pelos anos e por alguns deles não terem sido por mim, vividos pessoalmente.

Juvenal Amado
________________

Nota dos editores

(1) Vd. último poste da série de 13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2635: Estórias do Juvenal Amado (6): O Falé e o burro do mato (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr-do-sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves:

Caros Luis e camarigos editores:

Às vezes dá-me para isto!!! Acordei com isto na cabeça e foi só escrever! Envio para fazerdes o que quiseres com o escrito: publicação ou arquivo morto!




A PROPÓSITO DE UMA FOTOGRAFIA NO MATO CÃO (1)

Sentado na minha cadeira,
Cerveja na mão,
Fito os olhos no longe,
Tão longe
Que vai para além do horizonte.
O Sol começa a descer
Lá ao fundo
Para os lados do Enxalé,
E os seus raios de luz
Tocam a terra de sangue
E pintam o ambiente de vermelho.
O momento é mágico
Porque não há nada mais bonito
Que o Pôr do Sol na Guiné.
Na bolanha
Junto ao Geba,
(Que se ouve a murmurar),
Passa um pequeno tornado.
Quase que o podia agarrar!
Ao meu lado
O Furriel Bonito.
Deve estar a meditar
No que é que eu estarei...
A pensar!
Estou para aqui isolado
Vivendo como uma toupeira
Debaixo de terra,
Cercado de arame farpado.
A letargia da rotina diária
Toma conta de mim
E tanto me faz
Que o dia nasça
Como chegue ao fim.
Fecho os olhos por um momento.
Estou em Monte Real!
É fim de tarde
Hora de banho
E vestir a preceito
Que o meu pai não deixa
Que se jante no Hotel
Sem uma roupa de jeito.
Já lá vem o chefe de mesa
Que tem muito que contar
Fala-me da carne e do peixe
Tenho a boca a salivar.
Tocam-me no ombro!
Esfumou-se o meu sonho!
É o Mamadu que me diz,
Com o seu sorriso:
«Alfero,
O comer está pronto.»
O que lhe falta
Em smoking de profissão,
Excede em alegria
E dedicação.
Levanto-me,
Olho em redor.
Nas pequenas tabancas
A luz das fogueiras
Ilumina a escuridão
Da falta de luz.
Abano a cabeça
Para afastar o torpor
E grito bem alto
Com a minha voz forte,
A afastar o temor:
«Pessoal,
vamos morfar,
que nunca se sabe,
quando isto vai acabar!»


Monte Real, 29 de Março de 2008

PS - A fotografia em causa é a que anexo.


Abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves






... e já agora também o poste 15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)




sábado, 29 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2700: Construtores de Gandembel / Balana (4): Estive lá 120 dias, com o meu Pel Caç Nat 55, até ao fim (Hugo Guerra)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Iemberem > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > Ao meio, o Dr. Francisco Silva, madeirense, ortopedista no Hospital Amadora-Sintra, médico do nosso camarada Hugo Guerra. O Francisco Silva, que viajou de jipe, na viagem à Guiné, de ida e volta, foi Alferes Miliciano, tendo pertencido à CART 3492, que esteve no Xitole (com o Joaquim Mexia Alves). O Francisco Silva tem, no seu currículo militar, a particularidade de ter ido substituir um alferes morto na parada, pelos homens, africanos, do seu Pel Caç Nat 51, uma história incrível (não fora ele a contar-ma, em directo)... Do lado esquerdo, vê-se Salifo Camará, régulo de Cadique Nalu e Lautchandé, antigo Combatente da Liberdade da Pátria. Tem 87 anos. Do lado direito, a Maria Alice. Foto tirada por ocasião da visita ao centro de saúde materno-infantil de Iemberem.

Foto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.




1. Texto do nosso camarada Hugo Guerra, que comandou os Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70):

Caro Luís:

O nosso Povo tem uns ditados muito acertados. Por exemplo, dizer-se que "Quem não se sente não é filho de boa gente", é um daqueles que tem muita aplicação prática.

Já estava à espera que mais dia menos dia "rebentasse a bronca" com outros camaradas nossos que, tal como o Alberto Branquinho e o Mexia Alves, não concordam com o protagonismo exagerado que alimentas no Blogue acerca de Gandembel e Ponte Balana, sempre imputadas ao Idálio Reis da [CCAÇ] 2317 e dos seus homens ....

Tiveste agora que tirar a limpo com o Idálio aquilo que eram as opiniões do Branquinho, como se só o 1º fosse o detentor de todo oconhecimento e acho a resposta do Reis muito brusca, para quem sabe perfeitamente que, só enquanto não se construiram os abrigos de betão, é que o pessoal "imitava as toupeiras".

Eu optei sempre por dormir dentro do Paiol em Ponte Balana, em cima dos cunhetes de munições, junto ao rádio-transmissor, sabendo perfeitamente que se tivessemos um ataque a sério, com a tomada do destacamento, só nos restava abrigar naquele bunker, pedir a Gandembel que nos enchessem de morteiradas e obuses e havia de ser o que fosse.

Claro que não obrigava ninguém a praticar esta loucura comigo, mas tinha sempre companhia,pois enquanto Gandembel estava "a embrulhar" havia sempre quem jogasse as cartas...e alguém contava as flagelações do in.

Assim como o Idálio pode dizer que foi o homem que mais tempo esteve em Gandembel com mais cerca de 150 a 200 homens, incluindo as tropas especiais e os especialistas , foi o meu Pelotão de Nativos 55 que mais meses esteve na Ponte Balana: Talvez uns 4 meses.

Como sabes os Pel Caç Nat tinham graduados brancos e sempre de rendição individual, o que originava duas coisas: (i) Eram apêndices das Companhias,para o pior.... até porque eram Nativos (sem comentários); (ii) Estavam completamente desgarrados das Companhias, o que era péssimo a nível humano e psicológico.

Quando o meu Pel Caç Nat saíu de Ponte Balana, já a cabeça da coluna ía a uns quilómetros de distância e, enquanto a 2317 seguiu para Buba, o Pel Nat 55 ficou logo na Chamarra.... nem sequer os quiseram em Aldeia Formosa.

O Zé Teixeira, que correu todos aqueles destacamentos , possivelmente até me conhece. Além de Aldeia Formosa, onde estive uns oito dias antes de seguir para Gandembel, ainda fui dormir duas ou três noites a Mampatá...

Dos 120 dias que o meu Pel esteve em Ponte Balana lembro-me de três Furréis brancos, do operador de transmissões - esse sim toupeira do 1º ao último dia- e talvez em Dez 68 foi lá colocada mais um ex-Alferes, Barge de seu nome, e que foi uma salutar companhia para mim. Salvo erro comandava um Pelotão da CCAÇ 2317.

Não me lembro de haver qualquer contacto comigo a questionar sobre o que eu teria a dizer de Gandembel-Ponte Balana, aquando da vossa romagem por aqueles lugares. Haverá algum engulho com a minha ida ao Corredor da Morte?

Como é que eu posso pronunciar-me sobre a Guerra da Guiné em locais onde nunca estive, a dormir numa cama, a comer um bife na tasca do não sei quantos ou a ter direito a uma lavadeira - pagando, claro - quando Gandembel e Ponte Balana não tinham contacto com o exterior excepto nos helis que levavam enfermeiras paras- querida Ivone e outras-que só lá iam buscar os mortos e feridos do ataque anterior...

Pista de aviação nada
População nada
Gado nada
Comida pouca e péssima...Nas chuvas o Balana fornecia peixe, à granada, claro.

Colchões para dormir cheios de buracos - remendos nem vê-los. Os poucos que havia eram para as viaturas. Bebida muita. Medo ainda mais. Médico uma vez em Dezembro.
Padre e Missa uma vez no Natal.

Gandembel e Ponte Balana são dois locais com misticismo, feitos de heroísmo e medo e os fantasmas ainda por lá andam e por cá também.

Gostaria, portanto, de te pedir , se assim o entenderes, que não esqueças os demais protagonistas que também forçados fizeram aquele pedaço da História.

Como diz o Branquinho,também lá estive e não vou deixar que outros contem as coisas por mim.

Um abraço do
Hugo Guerra


PS - Tenho muita pena de não ter podido ir ao Simpósium que acho correu muito bem. O meu Ortopedista, que esteve lá, ex-Alferes Francisco Silva, tirou-me as veleidades de aguentar as viagens de picada. Sou agora muito colunável....

2. Comentário de L.G.:

Hugo, errar é humano...Neste caso, pequei por omissão, ao fazer tábua rasa dos teus 120 dias (quatro meses, entre Agosto de 1968 e Janeiro de 1969), no destacamento de Ponte Balana. Tens que me dar o desconto: a minha base de dados, neuronal, não é assim tão grande e tão fiável que não me deixe mal, em certas circunstâncias... Lamento profundamente ter-me esquecido de ti e dos teus homens do Pel Caç Nat 55. Não o fiz intencionalmente, nem tinha nenhuma razão, objectiva, para o fazer... Como não tenho nenhum razão, manifesta ou latente, para pôr o Idálio Reis no Olimpo dos deuses e dos heróis. Sou anti-herói. São os homens, meus camaradas, que fizeram a guerra, que me interessam. Tu, o Idálio, e tantos outros, nos mais diversos pontos da Guiné...

Chegaste à nossa Tabanca Grande em Novembro de 2007 e temos, eu e os meus/nossos co-editores, publicado sempre as tuas mensagens... Foi pena não teres, em tempo útil - isto é, antes do Simpósio Internacional de Guileje - falado,com mais detalhe, da tua estadia em Ponte Balana... A ter havido injustiça, fica aqui reparada. Como eu costumo dizer, a nossa Tabanca Grande não tem portas nem janelas, não há convidados, nem VIP, nem membros de 1ª e 2ª classe... Há apenas amigos e camaradas da Guiné, que têm a liberdade de entrar e sair, quando lhes apetece...Caro que temos algumas regras de convívio e de comportamento...

Procurei em tempo útil incluir nas estórias de Guileje o relato da tua ida (voluntária à força...) ao Corredor da Morte (1)... Como seguramente publicaria o teu relato da estadia no hotel de muitas estrelas de Balana, se me tens avivado a memória... Já publiquei 2700 postes neste blogue e recebi, em três anos, muitos milhares de emails, .. Não me peças, por favor, que memorize todos os detalhes curriculares de toda a gente... Por outro aldo, não vale a pena a gente entrar pelo lado das insinuações e provocações, do género A Minha Guerra Foi Pior que a Tua... É uma picada que não nos leva a lado nenhum e é totalmente contrária ao espírito, aberto, franco, assertivo, frontal, leal, deste blogue...

Dito isto, Hugo, digo-te que apreciei a tua franqueza e aqui vai um abraço. Sem ressentimentos. Luís Graça (que, como tu, foi tropa-macaca, de 2ª classe).

PS - Não tenho fotos tuas do Tombali... Em contrapartida, mando-te uma foto com o teu médico de quem só posso dizer que foi um camaradão no fim de semana que passámos juntos, no sul...E a quem já convidei para ingressar na nossa Tabanca Grande.

__________

(1) Vd. postes de:

29 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2489: Estórias de Guileje (4): Com os páras, na minha primeira ida ao Corredor da Morte (Hugo Guerra)

7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2415: Uma guerra entregue aos milicianos: onde estavam (estão) os nossos comandantes ? (Hugo Guerra, Coronel, DFA, na reforma)

22 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)

29 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70):

(...) Chamo-me Hugo Guerra, nasci em Estremoz em Abril de 1945 e estudei na Escola de Regentes Agrícolas de Évora onde acabei o meu curso em 1964. Em Agosto de 1968, sem perceber bem como (depois hei-de contar), estava no Ana Mafalda a caminho da Guiné em rendição individual e, como a sorte nunca me bafejou, quando desembarquei já tinha guia de marcha para Gandembel onde fui comandar o Pel Caç Nat 55 que estava adstrito à CCaç 2317 [, Gandembel/Balana, 1968/69]. Passei por Aldeia Formosa, num heli, e aterrei, ainda em Agosto [de 1968], em Gandembel.

"Passei a maior parte do tempo em Ponte Balana e estava lá quando fechámos a porta em Janeiro de 1969. Nessa altura, e porque a sorte continuava alheia à minha
odisseia, fiquei num destacamento logo a seguir, de nome Chamarra.


"A CCAÇ 2317 foi para Buba e mais tarde foram acabar a sua martirizada comissão em território menos hostil.

"Eu tive, mais tarde, uma passagem rápida por S. Domingos no comando do Pel Caç Nat 50 mas o suficiente para ficar ferido com o rebentamento duma anti-pessoal, salvo erro a 13 de Março de 1970.

"Sou hoje DFA e Coronel" (...).

(2) Vd. postes de:

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2688: Construtores de Gandembel/Balana (1): Op Bola de Bogo, em que participou a CART 1689, a engenharia e outros (Alberto Branquinho)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2689: Construtores de Gandembel / Balana (2): O papel da CART 1689 (8 de Abril a 15 de Maio de 1968) (Idálio Reis)

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2692: Construtores de Gandembel / Balana (3): Nunca falei em protagonismo pessoal, mas sim da CART 1689 (Alberto Branquinho)

Guiné 63/74 - P2699: Memórias dos lugares (7): A fatídica jangada do Cheche sobre o rio Corubal (Beja Santos)



Foto e legenda: © Beja Santos (2008). Direitos reservados.

Todos nós sabemos que um dos episódios mais trágicos da guerra da Guiné ocorreu no início de Fevereiro de 1969, durante a evacuação de Madina do Boé. No termo da operação da retirada, virou-se a jangada e do acidente morreram 47 militares [ na travessia do Rio Corubal, em Cheche] (1).

Em «Na terra dos Soncó», fiz referência ao doloroso acontecimento por duas vezes: estávamos a jogar à bola com o Pel Caç Nat 53 em Bambadinca quando os céus escureceram com os aviões que apoiaram a evacuação; e quando chegámos andrajosos ao batalhão, depois da flagelação de 19 de Março de 1969, e recebemos o fardamento dos 17 falecidos da Companhia do Paulo Raposo[, a CCAÇ 2405, Galomaro eDulombi, 1968/70].

O que há de macabro nesta imagem que recolhi de um Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, é que ela foi publicada em 1971, portanto deixara de haver presença portuguesa no Boé... e é uma imagem muito bela.

Beja Santos

___________________

Notas dos editores:

(1) Protagonistas desses trágicos acontecimentos foram dois dos alferes milicianos da CCAÇ 2405 que fazem parte da nossa tertúlia, o Paulo Raposo e o Rui Felício. Em depoimentos já aqui publicados, eles negam terminantemente que tenha havido, como causa imediata e directa do afundamento da jangada, qualquer acção do PAIGC.

Sobre o desastre do Cheche, no Rio Corubal, no âmbito da Operação Mabecos Bravios, e sobre Madina do Boé, vd. os postes publicados no nosso blogue (1ª e 2ª série):

17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)

2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969)

8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)

3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins)

12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)

7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P853: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)

Guiné 63/74 - P2698: Simpósio de Guileje: Notas Soltas (José Teixeira) (3): O Abdulai Djaló

Foto 1> Mampatá 2008> A mãe da Maimuna, a minha bebé


Foto 2> Mampatá 2008> A Djubai, sempre alegre e bem disposta


Foto 3> Mampatá 1968> A Djuvai de olho zarolho, mais bonita agora do que em jovem. Como ela se lembrava de mim!


Foto 4> Mampatá 2008> A Adama, mãe do bebé que livrei do paludismo


Foto 5> Mampatá 2008> A família Baldé


Foto 6> Mampatá 2008> Os miudos de Mampatá


Foto 7> Mampatá 2008> A Farmara (ou Fatma) minha lavandera


Foto 8> Mampatá 2008> A Fatma com as cunhadas (mulheres do filho do Aliu Baldé)

Fotos: © José Teixeira (2008). Direitos reservados.


Algumas notas soltas, mas sentidas (1)

(i) O Abdulai Djaló

Ainda não eram sete da matina quando o telefone tocou. Hora serôdia de uma segunda-feira de Páscoa para acordar, quem após muitos anos de labuta, se entregou ao descanso da merecida reforma.

Alô - sou o Abdulai da Guiné ! Quer falar cum sinhor Tissera.

Qual Abdulai seria? O que conheci em Buba? O de Chamarra ? O Abdulai Djaló qui firma na Catió e todas as semanas aparecia, em tempos idos, que muitos dos leitores recordarão, no programa de discos pedidos da emissora oficial da Guiné a pedir a canção Deixa o meu cabelo em paz, para dedicar à sua bajuda, não era com certeza.

Era o Abdulai Djaló meu amigo de Mampatá Forreá, pequena tabanca perto de Quebo, rodeada de guerra por todos os lados, que durante os seis meses que por lá passei, viveu uma paz relativa, pois que apenas sofreu seis ataques, quando Balana, Gandembel, Guileje, Gadamael, Cacine e outros, tinham festival quase diário.

O Abdulai que há dias procurei na sua morança, mas não encontrei.

O Abdulai que após a Independência se ausentou para o Senegal e por lá viveu longos anos, por amor à pele e voltou há alguns anos. Em 2005 ninguém sabia dele.

O Abdulai das longas conversas nocturnas.

Tudo começou quando já noite me recolhia ao abrigo para me entregar nos braços de Morfeu. Uma voz chamou: - Tissera, vem cá!

Era o Abdulai. Estava deitado na enxerga ao lado da esposa. Recém-casados e sem filhos, queriam kunversa cum Tissera. Queriam saber coisas da Metrópole. Difícil foi explicar-lhe que vivia num terceiro andar. Que havia casas com dez e vinte andares.

Como se seguravam? Como se subia lá para cima? Elevadores ? Eram coisas de branco maluco.
E um comboio? Muitas GMC atreladas umas às outras, mas só uma tinha motor e com rodas de ferro!

Na segunda noite estavam novamente à minha espera. Seguiram-se muitas noites di kunversa.

Um dia convidou-me a deitar na cama. Eu, a mulher e ele, ali ficávamos até vir o sono, conversando.

Há dias passei por Mampatá. Abraços, beijos e algumas lágrimas de comoção. A mulher estava lá, mas o Abdulai, esse tinha ido a Bissau. Deu para matar saudades e deixar um abraço.

Agora telefonou para pidir discurpa, dar um abraço e agradecer a minha visita.

Obrigado Abdulai. Até sempre.


(ii) - Mampatá Forreá, terra de gente querida

É a tabanca da Guiné-Bissau eleita pelo meu coração. Nos meses de convivência com as sua população aprendi muita coisa que me foi útil pela vida fora, sobretudo a forma de acolher um forasteiro, a solidariedade de quem vivia como se fossem ermons.

Os usos e costumes do povo Fula. Sentia-me útil e realizado no meio escaldante de uma guerra traiçoeira em que sobrevivia quem conseguisse atirar primeiro e acertar no inimigo, como em todas as guerras.

Voltei lá em tempos de paz. Recebi abraços e beijos, recordei vivências, momentos hilariantes, momentos tristes, momentos de angústia e sofrimento. Palmilhei os mesmos trilhos (continua a não ter ruas alcatroadas, água canalizada e saneamento). Entrei nas mesmas moranças. Encontrei a mesma simpatia nas pessoas. Brinquei com outras crianças.

Pude reencontrar amigos. A Farmara, minha lavandera, continua linda e com a alegria de sempre. O Braima, o Issa, a Answar, mãe da minha bebé, que não consegui ver, agora que já mulher, casou e foi viver para Kumbijá.

A Ádama, mãe da bebé que salvei da morte e passou a ser por opção da mãe, a minha mudjer. De manhã cedo lá vinha ela no colo da mãe trazer água fresquinha ou bananas.
- Mudjer de bó vem parte mantenhas e traz banana pra ti.

À noite lá estava ela na morança à espera que o fermero passasse para partir mantenhas antes de adormecer.

(iii) - Relendo o meu “Diário” > Novembro 1968 / Mampatá /1

... Fui procurado pela irmã mais velha da Fámara Baldé. Trazia-me a sua filha com oito meses que estava doente. Tinha paludismo e estava a entrar na fase crónica, de que quase todos os adultos de raça africana sofrem, os que conseguem escapar na sua fase mais aguda.

A criança apresentava-se muito magra, com 42 graus de temperatura, diarreia e vomitava tudo o que mamava, nem forças tinha para chorar. Acabava de chegar do Hospital de Bissau, segundo me disse a mãe a chorar, sem esperança.

Todos os dias de manhã tinha sua visita. - Fermero parti-me mézinho para minina, na tem febre e bariga ramassa

Que fazer? Eu que apenas tinha aprendido a tratar feridos da guerra!

Estes poucos meses de Guiné ensinaram-me a lutar contra o paludismo nos meus colegas e nos adultos africanos com bons resultados, mas nunca tinha deparado com uma situação tão delicada.

Pedi-lhe para voltar mais tarde que ia pensar o que fazer para salvar a bébé.

Para combater o paludismo nos adultos servia-me de um anti-palúdico injectável misturado com outro injectável para prever a reação negativa do coração. Então pensei que injectando na bébé umas milésimas destes dois produtos talvez salvasse a criança.

Ontem assim fiz, com todo o cuidado, no posto de socorros ao ar livre, no coberto da casa da Answar.
A reacção só se fez sentir cerca de um quarto de hora depois com um pulsar acelarado do coração e um avermelhamento da face.
Depois a acelaração aumentou, os olhos dilataram-se e a menina ficou estática por duas ou três horas.
Que momentos de ansiedade para mim e para aquela mãe que me confiou a sua filha. Esta chorava e dizia: - Tu mataste minina.
Eu pedia-lhe para ter calma e apelava para todos os Santos. Por fim a acelaração do coração começou a baixar e temperatura registou 39 graus. Estava ganha a vida da criança. Abraçamo-nos a chorar um ao outro e a mãe ofereceu-me a menina para minha mulher quando fosse grande.

Ao fim do dia deixei-a levar a menina para a tabanca e chorei sozinho de alegria.

Hoje voltou para me dizer que a minina ká na tem xoro já não vomitou a mamada.
A recuperação foi de cerca de oito dias.

Daí em diante, todos os dias a mãe trazia-me a menina. - Tua mudjer vem parte mantanhas (cumprimentar).

Trazia-me água fresca, numa cabaça, que ia buscar à bolanha a uma nascente de que se servia também o IN. (Que riscos por minha causa).

Trazia-me cachos de bananas e eu tinha de todas as noites ao passar para o meu abrigo ir parte mantanhas à minha mulher. Se não o fizesse, a mãe chamava: - Fermero tu não vens ver tua mudjer e parte mantanhas a ela !"

Dizia-me muitas vezes que quando eu viesse para a Metrópole tinha de trazer a minha mudjer.

Assim foi até sair de Mampatá. Tornei-me um visitante da família Baldé: Fámara, Binta, Auá, e Ádama e, da Answar a mãe da Maimuna...

A Djubai de olho zarolho, mais bonita agora do que em jovem: - Tissera! Mama garandi. Mama piquena, - dizia ela a rir-se enquanto apalpava com a sua mão os seios, hoje escondidos e talvez mais disformes do que eram na altura, recordando o que eu, atrevido, por brincadeira lhe fazia. Se o leitor apreciar as fotografias anexas entenderá melhor esta linguagem, que ela recordou com inaudito prazer e me fez reviver tempos tão belos, quanto perigosos da minha juventude.

A mudjer, ainda viva, do falecido régulo Aliu Baldé, alferes da milícia morto em combate em 1971.

O seu filho, talvez um dos miúdos que no meu tempo de estadia se pinha à porta da cozinha na esperança de “agarrar” uns restitos de comida, a quem agradeço a forma carinhosa e dedicada, como soube ser meu cicerone, nesta aventura.

A famíla da Djovo Ansato, ausente em Bissau, que se juntou toda para me receber.

(iv) - Do meu “diário” > Dezembro,1968 / Mampatá /29

... A bajuda Jobo Ansato ( Joaninha, como eu lhe chamo), começou há tempos a ter um comportamento diferente para comigo. Várias vezes me ofertou fruta, chama-me muitas vezes à noite para a porta do abrigo subterrâneo onde dorme, gosta de conversar comigo e fica ciumenta quando me vê a conversar com outras bajudas, com a Fámara, por exemplo, que é a jovem mais linda que eu vi em toda a minha vida.

Eu, embora notasse essa mudança não conseguia compreender a sua razão de ser. Ontem, como tantas outras vezes fui até à sua tabanca e a conversa virou para os feridos de guerra, as doenças da população e a acção dos enfermeiros e fiquei espantado ao ouvi-la dizer dizer: - No último taque di bandido eu ver Tixera ir por Tabanca, baixo di fogo perguntá tudo dgente si ká na tem firido. A mim nesse dia ficá manga di contente com Tixera. Tixera i amigo di Africano.

Para meu espanto verifico que foi a partir da data do último ataque que sofremos que se deu esta mudança no seu comportamento. Como uma simples acção no cumprimento do meu dever pode influir tanto na maneira de pensar e agir de uma pessoa!...

As crianças que se acotovelavam para me tocar. Os dedos das minhas mãos, não chegavam para tantas mãos.

Calou bem fundo aquele convite da Djuvai: - Tissera volta para cá. Esta casa é para ti!...

Um dia voltarei... de visita.

José Teixeira
________________

Nota dos editores

(1) Vd. último poste da série, de 23 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2676: Simpósio de Guileje: Notas Soltas (José Teixeira) (2): Um abraço de ermons e (más) recordações do Comandante Manecas

Guiné 63/74 - P2697: As últimas, boas, notícias do caso do nosso camarada António Batista (Álvaro Basto, Paulo Santiago e Pereira da Costa)

1. Parece que o assunto do nosso camarada António Batista (1) está a ter alguma evolução, face às últimas trocas de mensagens entre os mais sérios responsáveis pelo tratamento deste caso.

Vejamos.

No dia 25 de Março pelas 14,57 horas Paulo Santiago dirigia-se a Diana Andringa nestes termos:

Cara Diana:

Já existe alguma resposta ao mail enviado ao Ministro da Defesa? Li, hoje, no blogue a mensagem do Cor Pereira da Costa, pessoa que não conheço. Ainda não falei com o Álvaro Basto, iremos aguardar mais uns dias.

Também estou um pouco indeciso sobre a porta a que hei-de bater. A saga do Batista, que no Verão passado, pensei ser fácil de resolver, está a prolongar-se demais e eu, aqui em Águeda, não tenho muito por onde mexer-me.

Aguardo alguma notícia.

Abraço
Paulo Santiago


2. No mesmo dia pelas 19,31 horas era a vez de Álvaro Basto se dirigir ao Paulo Santiago:

Caro Paulo:

Uma vez mais obrigado pelo teu empenho na resolução deste assunto e claro, obrigado igualmente a todos quantos se esforçaram por ver esta situação resolvida o mais rapidamente possivel.

Acabo de receber um telefonema do António Baptista informando-me que recebeu um ofício comunicando-lhe que o processo dele se encontrava completo e que deveria aguardar o despacho da sua pensão.

Longe de ser um assunto encerrado, a conquista desta pensão é pelo menos um acto da mais elementar justiça da Pátria para com aqueles que tanto deram de si na sua defesa.

Aguardemos pois
Alvaro Basto


3. Às 19,58 horas Paulo Santiago respondia:

Fico feliz com essa tua notícia do ofício recebido pelo Batista. Não lhe telefonei depois do regresso da Guiné, não sabia bem o que dizer-lhe. Aguardemos. Se a conclusão fôr a que esperamos, temos de comemorar juntos com o Batista.

Obrigado a todos e recebam um abraço

Paulo Santiago

4. No mesmo dia, ainda, às 22,29 horas, era a vez do Coronel António Pereira da Costa manifestar o seu agrado face às últimas notícias.

Caros Amigos:

Agrada-me saber que as coisas estão bem encaminhadas para o Baptista, que não conheço, mas que acho, como profissional e ex-combatente, que devo ajudar. Para mim, não tenho dúvidas de que há um erro de identificação, depois de ter lido alguns documentos no Arquivo Histórico Militar e na Comissão para o Estudo das Campanhas de África, cujas fotocópias fiz seguir para o oficial averiguante.

Creio que é fundamental inquirir o Cor Reformado Eurico de Deus Corvacho, que o recebeu no QG/RMNorte, quando ele regressou.

Agora parece-me que seria bom alguém acompanhá-lo ao Porto e conversarem com o oficial averiguante para saberem para onde seguem os autos e qual a tramitação seguinte.

Um Abraço
António Costa

5. No dia 26 de Março, Paulo Santiago dirigia-se ao Coronel António Pereira da Costa e a Diana Andringa assim:

António, Diana:

O Álvaro está no Porto, ele tem sido incansável no acompanhamento ao Batista, tem o
contacto do oficial averiguante. Isto agora vai resolver-se. Estou optimista.

Abraço para todos
Paulo Santiago
_____________

Nota dos editores

(1) Vd. poste de 25 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2680: O caso do nosso camarada António Batista (Carlos Vinhal / Álvaro Basto / Paulo Santiago e Pereira da Costa)

Guiné 63/74 - P2696: O Nosso Livro de Visitas (8): José Maria Almeida, ex-Fur Mil Ranger da CCS/BCAÇ 1877 (Guiné 1966/67)

1. Em 28 de Março, José Maria Araújo de Almeida dirigia-se ao nosso Blogue com a seguinte mensagem

Camaradas e amigos:
Este primeiro contacto é de apresentação

José Maria Araújo de Almeida, Furriel Miliciano (Ranger), Pelotão de Reconhecimento e Informação, CCS/BCAÇ 1877, Guiné (Fevereiro de 1966/Outubro de 1967).

Funcionário Público aposentado, residente na Av. Bento de Freitas, 603-2º, 4480-656 Vila do Conde.

Desde já, uma saudação de admiração e apreço ao ex-combatente, sem excepção, mas, em particular, àquele que percorreu as picadas e bolanhas da Guiné.

Um forte abraço para Tabanca Grande
José Almeida

2. Em 29 de Março foi enviada uma mensagem a este nosso camarada

Caro José Maria

Estou a dar conta da recepção do teu mail na nossa Tabanca Grande.

Aproveito também para te convidar a aderir ao nosso Blogue, onde serás bem recebido.

Para seres membro de pleno direito da nossa grande família, basta que mandes uma foto do teu tempo de tropa e outra actual (ambas de preferência tipo passe).

Podes e deves contar as tuas estórias e experiências vividas naquela terra que ficou para sempre no nosso coração, enviando, quando for o caso, fotografias para as ilustrar.

Na nossa página, lado esquerdo, poderás consultar as nossas normas de conduta tão naturais como por exemplo respeitar as ideias e a propriedade intelectual de terceiros.

Já agora, um apontamento pessoal, pois eu, embora vivendo desde sempre em Leça da Palmeira, sou natural de Vila do Conde, mais propriamente da freguesia vizinha de Azurara.

Aguardamos as tuas próximas notícias.

Recebe, em nome de toda a Tabanca Grande, aquele abraço.

O teu camarada
Carlos Vinhal