terça-feira, 10 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2927: História da Cavalaria em Bambadinca (2): Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) adido ao BART 1904 e ao BCAÇ 2852 (Jaime Machado)

1. O Pel Rec Daimler 2406 em fotografia

Foto 1> Bambadinca, 1968/70> Brasão do Pel Rec Daimler 2046, junto ao mastro da Bandeira


Foto 2> Bambadinca> Eu próprio de Oficial de Dia, em serviço no Refeitório


Foto 3> Bambadinca> Para o Mecânico Germano não havia impossíveis


Foto 4> Fevereiro de 1970 em Bambadinca> Eu com um belo conjunto de bajudas junto à Capela


Foto 5> Estrago de mina na estrada Bambadinca/Xime


Foto 6> Em escolta a coluna na estrada Bafatá/Nova Lamego


Foto 7> Bambadinca na época das chuvas


Foto 8> Fevereiro de 1970> Adeus Bambadinca> Eu à direita na LDG a caminho de Bissau

Foto 9> Fevereiro de 1970> Camaradas do Pel Daimler na LDG a caminho de Bissau. Missão cumprida e comprida


Foto 10> Fevereiro de 1970> Adeus Bambadinca, até sempre


Foto 11> Abril de 1970> E nessa noite fez-se luz. Ponte sobre o Tejo. Foto tirada do navio Niassa


Foto 12> Abril de 1970> Pel Daimler 2046 no RC6, Porto, na passagem à disponibilidade

Fotos e legendas: © Jaime Machado (2008). Direitos reservados.


Jaime Machado
ex-Alf Mil Cav
Pel Rec Daimler 2046
Bambadinca
1968/70



2. Em 23 de Maio de 2008, Jaime Machado enviava o resumo da actividade do seu Pelotão que cumpriu Comissão de Serviço na Guiné entre Maio de 1968 e Abril de 1970.

C.T.I.G.

PEL. REC. DAIMLER 2046

RESUMO DOS FACTOS E FEITOS MAIS IMPORTANTES DA UNIDADE

I - MOBILIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO E DESLOCAMENTO PARA O C.T.I.G.


O Pelotão DAIMLER n.º 2046 tem como Unidade Mobilizadora o Regimento de Cavalaria n.º 6, no Porto e foi organizado em 13 de Março de 1968 destinado a reforçar a Guarnição Normal da Província da Guiné.
Os exercícios de I.A.O. foram efectuados nas regiões limítrofes da cidade do Porto em conjunto com mais nove Pelotões da mesma Especialidade, todos com o mesmo destino.

Após o gozo dos dez dias de licença regulamentares esta Subunidade embarcou no navio NIASSA, no cais da Rocha em Lisboa no dia 1 de Maio de 1968.

A viagem decorreu normalmente e no dia 6 de Maio atingiu-se o porto de Bissau.

Na manhã do dia seguinte foi o Pelotão transferido para uma LDM na qual seguiu directamente pelo Rio GEBA, para o XIME onde chegou ao anoitecer. Daí seguiu em coluna auto para BAMBADINCA, nessa mesma noite.

2 – Constituição do Pelotão:

O Pelotão DAIMLER n.º 2046 teve inicialmente a seguinte composição:





II - ACTIVIDADE NO C.T.I.G.

O Pelotão DAIMLER n.º 2046 iniciou a sua actividade na Província adido ao BART 1904, em BAMBADINCA, onde se manteve durante toda a sua comissão. Além de inúmeras acções de patrulhamento e escolta em todos os itinerários do Sector que seria descabido mencionar num resumo deste tipo, realizou esta Subunidade as seguintes acções:

JUNHO 1968

OPERAÇÃO “GORDOTE”


Iniciada em Ø5Ø3ØØ, com a duração de Ø6 horas e com a finalidade de efectuar cerco e rusga à tabanca de MERO. Tomaram parte na operação o PEL CAÇ NAT 63, PEL REC/CCS E PEL DAIMELR 2046.


OPERAÇÃO “BATE DENTRO”

Iniciada em Ø916ØØ, com a duração de 3 dias e com a finalidade de efectuar ataque e destruição de objectivos na região de POINDON. Tomaram parte na operação a CART 2339 a 4 GC, CCAÇ 2383 a 4 GC, CART 2384 a 4 GC, PEL CAÇ NAT 53, PEL DAIMLER 2046 e PEL ART. O PEL DAIMLER foi integrado no destacamento D que teve a seguinte actuação: saiu do XIME pelas Ø53Ø do dia D deslocando-se pela estrada do PONTA DO INGLÊS e foi emboscar-se junto da junção do trilho de GUNDAGUE, ponto de passagem obrigatório para os elementos IN de BURUNTONI que pretendam flagelar o aquartelamento do XIME, e local ideal para emboscar as NT que recolham de Operações. Protegeu-se a última parte do regresso do DEST A, B, e C, tendo recolhido em último lugar.

OPERAÇÃO “GARBOSO”

Iniciada em 2111ØØ, com a duração de 36 horas e com a finalidade de efectuar patrulhamento e contacto com as populações e pesquisa de notícias na região de BINAFA - ponto de encontro com as forças do BCAV 19Ø5. Tomaram parte na operação o PEL CAÇ NAT 63 e PEL DAIMLER 2046. A população recebeu bem as NT. Não foram vistos vestígios IN. Contactada patrulha do BCAV 1905.


JULHO 1968

OPERAÇÃO “GONDOLA”


Iniciada em 13Ø6ØØ, com a duração de 2 dias e com a finalidade de contactar com as populações, no regulado de Sul BINAFA-PADADA. Tomou parte na Operação o PEL DAIMLER 2046. Sem contacto nem vestígios a população recebeu bem as NT.

OPERAÇÃO “GARGOLO”

Iniciada em 21Ø63Ø, com a duração de 1 dia e com a finalidade de contactar com as populações, controle de armamento e S. Saúde, nas tabancas da região de COSSE. Tomaram parte na Operação o PEL MORT 1192 e PEL DAIMLER 2046. Sem contactos nem vestígios.


SETEMBRO 1968

Durante este mês efectuou-se a rendição do BART 1904 passando esta Subunidade a ficar adida ao BCAÇ 2852.


NOVEMBRO 1968

OPERAÇÃO “HÁLITO”


Iniciada em 11Ø5ØØ, com a duração de 2 dias e com a finalidade de detectar elementos IN, com a duração de 2 dias e com finalidade de detectar elementos IN e efectuar uma coluna de reabastecimentos à Companhia aquartelada no XITOLE. Tomaram parte na Operação:

CMDT – CMDT BCAÇ 2852

Dest B – CART 2413 a 2 GC

Dest A – CART 1746 a 2 GC

CART 2339 a 3 GC

PEL CAÇ NAT 53

1 GC CMD AGR 1980

3 ESQ PEL DAIMLER 2046

1 ESQ PEL MORT 1192

1 SEC MILª

Consistiu esta Operação no Reabastecimento do XITOLE utilizando o itinerário BAMBADINCA/MANSAMBO/XITOLE, fazendo-se a travessia do Rio PULON utilizando uma jangada e 4 barcos de borracha. Foi necessário desobstruir o itinerário das abatizes, fazendo-se a transposição dos reabastecimentos das 1Ø3Ø às 14ØØ. A esta hora iniciou-se a retirada sendo as NT emboscadas por duas vezes por um grupo de 40/50 elementos sendo a primeira com accionamento de mina A/C, causando alguns feridos às NT.

Apesar de ser a primeira vez que os militares deste Pelotão tinham contacto com o IN demonstraram mesmo assim uma calma, presença de espírito e controle de fogo digno de assinalar.

As NT chegaram a MANSAMBO pelas 19ØØ, donde recolheram a BAMBADINCA.

=*=*=

Ainda neste mês efectuou vários patrulhamentos em itinerários do regulado do COSSE onde se tinha manifestado uma violenta acção IN contra a tabanca de MUSSA IERO a qual fora incendiada.

MARÇO 1969

OPERAÇÃO “CABEÇA RAPADA”


Iniciada em 25Ø4ØØ, com a duração de 2 dias e com a finalidade de proteger a desmatação das bermas do itinerário BAMBADINCA-MANSAMBO, a realizar por 7000 nativos.

Tomaram parte na Operação:

Dest. A – CCAÇ 2405 a 2 GC

- CCS/BCAÇ 2852 a 2 GC

- PEL CAÇ NAT 53 e 63

Dest B – CART 2339 a 2 GC

- CART 1746 a 2 GC

- CCAÇ 2314 a 2 GC

Dest C – PEL MIL 103, 104 e 105

- PEL ART BAC 1 (MANSAMBO)

- PEL DAIMLER 2046

DESENROLAR DA ACÇÃO

Iniciaram a picagem os Destacamentos A e B, respectivamente de BAMBADINCA E MANSAMBO encontrando-se nos pontos previstos iniciando as seguranças laterais do itinerário. O pessoal nativo foi chegando aos pontos de trabalho, trabalhando em bom ritmo e regressando a BAMBADINCA ao anoitecer. O PEL DAIMLER 2046 patrulhou constantemente o itinerário. Em 26Ø5ØØ reiniciou-se a Operação terminando cerca das 18ØØ, sem consequências, regressando a tropa aos quartéis e os nativos aos centros de recrutamento.

ABRIL 1969

OPERAÇÃO “CABEÇA RAPADA II”


Iniciada em Ø9Ø54Ø, com a finalidade de desmatar as bermas do itinerário MANSAMBO-PONTE DOS FULAS e com a duração de 3 dias.

Tomaram parte na operação:

CMDT – CMDT BCAÇ 2852

Dest A – CART 2339 a 3 GC

B – BCAÇ 2856 a 3 GC

C – CCAÇ 2405 a 3 GC

D – CART 1746 a 2 GC

E – CART 2413 a 2 GC

F – CCAÇ 2406 a 2 GC

G – 3.º PEL/CAÇ 2314

H – 4.º PEL/CAÇ 2314

I – PEL DAIMLER 2046

J – PEL/REC 2350

L – PEL CAÇ NAT 63

Outras forças:

8º PEL ARTª BAC (MANSAMBO)

ESQ MORT 10,7 (XITOLE)

PEL SAP BCAÇ 2852

DESENROLAR DA ACÇÃO:

Em Ø9Ø54Ø iniciaram os dest. A e D a picagem do itinerário MANSAMBO-PONTE DOS FULAS, tomando o dispositivo de segurança à medida que iam atingindo os seus locais de estacionamento. Durante a picagem foram detectadas 2 minas A/P e 1 A/C, depois de montada a segurança ao longo de toda a estrada, pelos vários dest., foram lançados para os trabalhos de desmatação 2150 trabalhadores nativos. Em Ø9173Ø retiraram os trabalhadores para MANSAMBO, onde pernoitaram. Na noite de Ø9/1Ø ficou montada segurança ao itinerário por vários destacamentos.. Em 1ØØ5ØØ os picadores apoiados pelo destacamento B iniciaram nova picagem até ao local da 2ª fase, onde são rendidos pelos picadores da CART 1746 que os levam até à PONTE DOS FULAS, tomando seguidamente o dispositivo de segurança ordenado para esse dia. O trabalho decorreu em ritmo normal. Durante a execução dos trabalhos o PEL DAIMLER 2046 patrulhou continuamente o itinerário.

No final do dia, concluídos os trabalhos, os trabalhadores regressaram a MANSAMBO onde são recolhidos em viaturas que os levam para BAMBADINCA. Em 1Ø18ØØ os vários destacamentos regressam a MANSAMBO, onde aguardam a sua vez de recolherem aos quartéis.

OPERAÇÃO “CABEÇA RAPADA III”

Iniciada em 30, com a duração de 3 dias e com a finalidade de desmatar as bermas do itinerário MANSAMBO-GALOMARO.

Tomaram parte na Operação:

CMDT – CMDT BCAÇ 2852

Dest. A – CART 1746 a 2 GC

B – CCAÇ 2406 a 1 GC + 1 GC/CART 2413

C – CART 2339 a 3 GC

D – CCAÇ 2405 a 3 GC

E – 3.º PEL/CCAÇ 2314

F – 4.º PEL/CCAÇ 2314

G – 1.º PEL/CCAÇ 2856

H - PEL DAIMLER 2046

I – PEL REC 2350

J – PEL CAÇ NAT 63

Outras forças:

PEL SAP/BCAÇ 2852

PEL BAC (MANSAMBO)

SEC/PEL MORT 2106

Desenrolar da acção :

Pelas Ø53Ø iniciou-se a picagem do itinerário pelos dest. A, B e C. Em Ø9Ø7 ØØ iniciou-se o transporte dos nativos para o local dos trabalhos. Em Ø912ØØ concluiu-se que para o trabalho ficar mais completo seria necessário mais tempo que o previsto em virtude da falta de pessoal verificada. Prolongaram-se os trabalhos por 24 horas. Os trabalhadores pernoitaram em AMEDALAI tendo sido montado um dispositivo de segurança pelos dest. A, B e C. No dia seguinte pelas Ø53Ø reiniciaram-se os trabalhos tendo sido concluídos cerca das 14ØØ. Em 1Ø15ØØ a operação terminou tendo o dest. A recolhido ao XIME e os dest. B e C a BAMBADINCA.

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Na madrugada de 28 de Maio, durante o ataque ao aquartelamento de BAMBADINCA, o PEL DAIMLER 2046 contribuiu acentuadamente para a defesa, tendo duas Auto-Metralhadoras saído para a pista de Aviação no início do ataque, donde fizeram fogo para o local onde se instalava o IN, o qual retirou mais rapidamente as armas pesadas, notando-se então uma diminuição do potencial de fogo.

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BAIXAS SOFRIDAS, PUNIÇÕES, LOUVORES E CONDECORAÇÕES

1 – BAIXAS SOFRIDAS


Em Ø2DEZ68 foi evacuado para o HM 241, por doença, o 1.º Cabo n.º 07731167 MANUEL MARIA SERRA ALFAIA.

Em 19DEZ68 foi o mesmo militar evacuado para o HMDIC, não tendo regressado ao Pelotão.

Em Ø1ABRIL69 apresentou-se nesta Subunidade para o substituir, o 1.º Cabo n.º 12950268, ANTÓNIO LUIS DOS REIS.

Em 22SET69 baixou ao HM 241 o 2.º Sargento n.º 51517311 JOSÉ CLAUDINO FERNANDES LUZIA. Em 29SET69 foi evacuado para o HMP não tendo sido substituído.

2 – PUNIÇÕES

Soldado n.º o6117967 JOSÉ DO NASCIMENTO LÁZARO, punido com 1Ø dias de detenção pelo Exm.º Comandante Militar em 3ØNOV68.

Soldado n.º Ø769Ø866 ANIBAL JOSÉ DOS ANJOS DUARTE, punido com 2Ø dias de prisão disciplinar pelo Sr. Comandante do Depósito de Adidos em 13JAN69.

3 – LOUVORES

Nada

4 – CONDECORAÇÕES

Nada

CITAÇÕES

NOVEMBRO DE 1968

Foi-me muito grato constatar a boa vontade e a capacidade de esforço revelado por todo o pessoal que tomou parte na acção.

A abnegação do pessoal que se prestou a carregar rapidamente 12 toneladas de géneros, por falta de carregadores, provou-me o seu apreciável espírito de sacrifício. O desembaraço com que efectuou a cambança também.

A serenidade com que se comportou perante as emboscadas que sofremos, foi para mim uma magnífica demonstração de coragem.

(Nota n.º 322/OI/68 Pº .03.05 de 15 de NOV68 do BCAÇ 2852)

Quartel em Bambadinca, 30 de Dezembro de 1969
___________

Nota de CV:

(1) - Vd primeiro poste da série de 5 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2918: História da Cavalaria em Bambadinca (1): Pel Rec Daimler 1133 (1966/68) adido ao BCAÇ 1888 e ao BART 1904 (Jaime Machado)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2926: Convívios (64): VIII Encontro de ex-Combatentes do Ultramar de Barroselas (Sousa de Castro)

1. No dia 31 de Maio de 2008, recebemos uma mensagem do nosso camarada Sousa de Castro, solicitando que publicitássemos o VIII Encontro de ex-Combatentes do Ultramar de Barroselas.

Com pedido de divulgação no Blogue
Abraço amigo,
Sousa de Castro


2. COMISSÃO DOS ANTIGOS COMBATENTES DE BARROSELAS

Pessoa colectiva nº. 090111369

Rua Nova, 326

Tel.: 258 773 620

4905-439 BARROSELAS


Caro Companheiro:

Vai realizar-se o VIII Encontro de ex-Combatentes do Ultramar de Barroselas, em 28 de Junho de 2008 em Barroselas/Viana do Castelo, para juntos recordamos a nossa passagem por terras ex-Coloniais em missão Militar e homenagear os camaradas falecidos.


PROGRAMA

11,00 Horas: Concentração dos ex-Combatentes junto ao Monumento, para a cerimónia do hastear da Bandeira Nacional.

Seguindo-se de Missa Campal, em frente à Capela de São Sebastião, celebrada por vários Sacerdotes e antigos Capelães Militares.

No fim da Missa, junto ao Monumento: Homenagem aos ex-Combatentes vivos e falecidos, com a deposição de uma Coroa de Flores. A Guarda de Honra, será efectuada pela Fanfarra dos Escuteiros de Barroselas.

13,00 Horas: Almoço de confraternização e convívio, no Restaurante “SOLDOCE”, em Carvoeiro – Barroselas.

Preço do almoço: 18,00€/pessoa

Contactos e marcações. TM 969 052 206 – Manuel Barbosa

962 704 343 – Sebastião Gonçalves

Sousa de Castro

Guiné 63/74 - P2925: Pensar em Voz Alta (Torcato Mendonça) (12): Pensar camarada...!



Torcato Mendonça
ex-Alf Mil
CART 2339
Mansambo
1968/69


1. Mensagem do nosso camarada Torcato Mendonça de 7 de Junho de 2008, com mais uma das suas já famosas e sempre bem-vindas dissertações.

Caríssimos Editores:
Não vos tenho escrito.
Há por aqui escritos mas… ficam.
O do nosso III encontro nunca foi… o Silva, depois do desaparecimento do José, o malandro ficou em Fá Mandiga e de lá não sai…
Temos as Estórias de Mansambo paradas (nada se perde)… depois saltei, na vã tentativa de desbloquear e aterrei nas férias de Janeiro/69 (salvo seja) e entrei numa doce recordação… estão a ver… teria quarenta???... E se conto e sai pela Net??? E se… pois… e se ela… olha ainda hoje sinto a Matilde. Caso sofrido e disso não falo mais. Ainda se sente… Escrever, recordar não é fácil. Para mim não é. Há escritos que deixam marca. Por isso nada tenho dito e vão esperando. Além disso têm saído escritos bem melhores. Os meus são de pena ou tecla corrida… um debita letras.

Para verem a dificuldade anexo umas reflexões. Dou um toque no título. Se leio ainda fica.

Mas vou desbloquear as estórias de Mansambo e o Silva vai sair de Fá. Malandro. Mas antes vai contar muito… depois vai até Mansambo e o mais que se verá…

O País hoje está feliz. Até que enfim! A bola… eles não sabem que o sonho… já não me lembro… não interessa. Somos uma potência futebolística e o Ronaldo é nosso… é isso que interessa.

Abraços e bom fim-de-semana.

2. Pensar Camarada…! - (Pensar em Voz Alta)
Por Torcato Mendonça

Para ti Camarada, para ti, que prematuramente partiste… e para vocês Camaradas que comigo andaram, pelejaram, sofreram, riram e festejaram pouco. Vieram quase todos. Outros ficaram lá, na Terra deles e continuaram… até quando?

Algo se passa. Sente-se. Parece ter havido uma, chamemos-lhe, inflexão pós III Encontro. Temos ainda a questão: - A guerra estava militarmente perdida?

Parece que o pensamento de um camarada estava certo: é questão infindável. Discute-se, debate-se, confrontam-se ideias e, sem darmos por isso, afastamo-nos de assuntos mais tristes.

Dizia-me, na Ortigosa, o Mário Beja Santos – estás tão azedo, tão tristonho… Talvez seja isso e eu esteja a ver mal… estou a azedar…

Sinto a tal inflexão bloguista e talvez não exista. Pois, nos intervalos, voltamos a ler estórias contadas, vividas, sentidas. Memórias de um tempo que foi meu, teu, nosso. Sem pretensões, sem tentar pôr salto alto ou bicos de pés. Parece-me por vezes sentir isso. Deformação minha, erro meu, má fortuna, amor por uma terra vermelha e ardente…

Talvez o III Encontro tenha sido, isso sim, um Marco. De Organização e Camaradagem foi. Subjectivo claro. Assumo a afirmação. Assumo aliás todas as que faço, concordantes, discordantes com… desalinhadas ou como queiram classificar. Sinto certo afastamento Tertuliano. Será?

Escrevo e não teclo, ou teclo sem escrever, como agora, e fica por aí.

Surgem-me, no entanto, várias questões e penso, reflicto e não sei. Assim:

Uma questão prende-se com a guerra – colonial, do ultramar, de libertação. Porquê? Guerra do ultramar ou colonial, para nós antigos combatentes e de libertação para os Guineenses. Haverá dúvida? Temos, legitimas divergências na designação colonial/ultramar. Respeito a designação do ultramar. Mas, para mim é colonial. Dizias isso, lá na Guiné? Parvoíce se assim questionado. Claro que não, para mais problemas já bastava assim. Pode é dizer-se, pode!?, que a guerra na Guiné contribuiu para acelerar a queda do regime e deu algum contributo ao golpe em 25 de Abril.

Se já havia a divergência no comentário e na designação, então agora piora tudo. Deixemos Abril, por ora. Mas:

Terá libertado ou foi só o nome, guerra de libertação para os Guineenses claro. Não temos conhecimento, ou eu não tenho, o que o Povo da Guiné pensa sobre isso. Ou haverá conhecimento? Ou havendo não é conveniente dizer que o Povo não se libertou ainda. Ou libertou? Hoje vive melhor do que no tempo colonial, pois, além da liberdade, tem o desenvolvimento que propícia uma vida melhor? Será que tem? Mesmo a liberdade terá sido alcançada?

O Povo está sempre pronto a receber os portugueses, tenham eles sido velhos combatentes ou não. Refiro-me mais aos militares e a outros não enfeudados com o colonialismo, porque houve colonialismo. Aquele Povo, aquelas gentes são assim… e os velhos sabem como nós fomos e somos. Para os mais novos funciona a educação oral. E as elites, a classe dirigente? Como pensam? Ontem no DN o general Tagma N´Waié, Chefe do Estado-maior General da Guiné-Bissau, – “expressou alguma reserva á escolha de um general, da antiga potência colonial, para chefiar a missão europeia”… DN 4 de Junho/08 pag. 17.

Podemos ver, esta tomada de posição, pelo menos, de duas formas. De qualquer forma subsiste sempre, para mim, a dúvida anteriormente apontada: o que pensa a classe dirigente? É somente uma reflexão que faço na solidão e, se passada à tecla, não vai sair em torrente caudalosa. Sai antes em palavras cautelosas. Penso porque existo, tenho o direito a opinar mas não, isso não, a expressar publicamente o fruto dessas reflexões.

Ou o e-mail que me é enviado por um camarada não racista. Coloca ele a questão, quanto a mim pertinente: só os brancos são racistas? E os negros e outros? Para quem, como eu, que aceita haver só uma raça, independente da cor, que sentido faz? Há só a raça humana. É utópico ou estúpido, eu pensar assim e não querer aceitar que muitos pensam de forma diferente. Independentemente da cor da pele. Essa a realidade, infelizmente, que urge combater.

Outra questão, a que se prende com a guerra porque cada um passou. Melhor dizendo, foi obrigado a passar. Complexo o tema de a minha, a tua, a dele. Ou o tormento de viver alguns meses seguidos em abrigos.

Sabes isso camarada… eu sei que sabes.

Terrível, desgastante e a torcer o corpo todo. Digo isto porque, depois de estar cerca de três meses em Fá, na Guiné sempre dormi em abrigos. Excepto nas passagens por Bambadinca, Bissau e em alguma cama paga. O resto foram em abrigos, melhores ou piores. Alguns com direito a banho e musica, ou seja, na época das chuvas caía água por cima e por baixo alguma rã atrevida cantava.

Pouco confortável camarada, pouco confortável.

Sei que passaste pior, em mais duras condições e, ainda por cima a isso não estavas habituado. Mas suportavas. Eu e os meus camaradas fomo-nos habituando. Aguçamos o engenho e a arte. Tínhamos roupeiros, paióis pequenos e outros locais de arrumação. Simples… escavávamos um buraco, nas paredes, em terra, dos abrigos e lá metíamos, de roupa a munições e diversos. Casa de banho e sanita a mais perto era em Bambadinca, a sede do batalhão para o qual trabalhávamos. Isto nas Tabancas e na sede da companhia… eu conto:

Em Mansambo, quando construíamos o aquartelamento (oito abrigos e anexos) recebíamos o material por colunas auto. Um dia, junto ao material veio um engenheiro. O Capitão mandou-me chamar. Lá fui contrariado. Descansava recuperando de uma emboscada ou patrulha do dia ou noite anterior.

Eu sei que sabes camarada, eu sei que sabes que é chato estar uma noite à espera e nada. Aparecem mosquitos, macacos e do In. Nada!

Falei com o engenheiro e vi os papéis. Trazia o projecto de instalações higieno-sanitárias; casas de banho, sanitários e complementos. Se fosse hoje talvez tivesse hidromassagem. Mas tinha tratamento de efluentes. Era de tal maneira eficaz que quase se podia beber água depois de tratada. Do género mija aqui e bebe acolá. Nós tínhamos uns bidões ligados em série e, por debaixo estavam os duches. A água, de lá saída regava uma minúscula horta. Tinha um contra, a bateria de bidões nos ataques, invariavelmente era furada…tapavam-se os buracos a capim e alcatrão. Sanitas também não tínhamos. Três valas em paralelo e duas tábuas e uma pá por vala. Prático, eficaz e pouca privacidade.

Estás a ver camarada, estás a ver. Um tipo punha os pés na tábua e…

Não se recusou, directamente, o projecto do engenheiro. Que sim… se tivéssemos dificuldades diríamos. Foi-se o engenheiro no dia seguinte e, por azar, sofreu uma emboscada ali perto. Lá fomos tentar ajudar. Estava sentado, um olhar triste e disse-me: - "Saio pouco mas, quando saio acontece quase sempre isto". Azarado o engenheiro. Arrumado o assunto da emboscada, lá foi o pelotão e o engenheiro. O projecto não me lembro o destino que levou. Nunca foi concretizado.

Vivia-se bem e comia-se melhor. Um dia a amibiase atacou-me e, como fui destacado para Candamã, na passagem por Bambadinca falei com o Dr. Payne, o saudoso Payne. Ouviu, receitou de pronto e aconselhou dieta: tomas isto e a dieta tem que ser feita. Talvez tenha cofiado a barba e perguntei: Oh Payne para dieta aconselhas: feijão-frade, catarino, branco, manteiga… com chispe holandês ou com cavala portuguesa?

Eu sei que comeste o pão que o diabo amassou, bem pior que nós.

Por pão… estive tempos e tempos sem lhe ver a cor, quando andava pelas tabancas. Até tive um desejo, um forte desejo e sonhava com aquilo. O aquilo era uma sandes com manteiga e fiambre e, para beber, uma Coca fresca, quase gelada. Um dia satisfiz o desejo. Entrei no bar, pedi o desejo. Até disse para trazer a Coca junto da sandes. Salivava pior que o cão do Pavlov. Veio o pedido e o sorriso do soldado barman. Agarrei a Coca e deitei devagar.

Estás a ver camarada, estás a ver… pouca espuma. Depois agarro cuidadosamente na sandes e desilusão a minha. Aperto e espalmei a sandes, género duas bolachas com recheio. Olhei e perguntei: – "Que merda é esta? - É da Caritas meu alferes, farinha da Caritas. Porra, de quem?" - A desilusão foi tal que saí mais que… isso camarada, isso, eu sei que acertavas no palavrão.

Porque falo nisto se tu sofreste mais, nesta guerra de diz tu digo eu e o Solnado podia nela ter-se inspirado. Que violência ou má-língua. Bolas, aquilo por vezes chiava fino. Pois claro, com tantos tiros e granadas. Um tipo com aquela barulheira toda, nem tinha tempo para ter medo.

Tiros não ou tiros sim? Sabes mais disso do que eu. Tiveste certamente ataques terríveis, montaste emboscadas e sofreste outras. Fizeste outra guerra mais consentânea com quem percebe daquela arte. Eras miliciano, mas podias ser profissional. Seriam os profissionais melhores? Estavas na primeira comissão e podias estar na décima. Era-te indiferente.

Olha camarada eu ouvi tiros, ouvi caírem granadas disto e daquilo. Não digo que não atirei. Não. Atirei para acertar, provocar baixas ao inimigo, destruir e aniquilar. Mandei atirar o mais possível para destruir e provocar baixas. Sei que na guerra não se mata – aniquila-se ou provocam-se baixas. Por vezes eram mais de papel do que reais. Mas estava, estávamos, prontos a abater. A princípio causa certa confusão. Depois é rotina. A morte até tem aquele cheiro adocicado e provoca um silencio enorme á volta de quem morre.

Lembraste camarada?

Um militar morto, frio, ali estendido e o silencio… ou ferido e aquele cheiro adocicado a entranhar-se ou, caso tivesse morrido e ficasse carbonizado, diminuía tanto que ficava menino. Lembro um caso: a Moricanhe era uma Tabanca defendida pelo pelotão de Milícia 145. Foi atacada e apareci lá depois. Haviam mortos e feridos. Mas um estava carbonizado e pensei ser menino. Não era. Disseram-me o nome do soldado milícia e eu fiquei a olhar descrente. Conhecia-o e era maior do que eu. Depois compreendi. A água tinha-se evaporado e as extremidades desapareceram. Foi o primeiro que vi. Depois geram-se hábitos, ódios, indiferenças à condição humana… sabes melhor que eu camarada. Sem nos apercebermos estamos prontos a abater, a formiga ou o elefante… ou todos os quadrúpedes e bípedes entre eles… Mexiam-se… logo! Tu não? Claro que não! Sim? Ora bolas… francamente!

Deixou pesadelo nas noites de sono? Acontece. Olha Lagartil 10 – seria esse o nome? Ajudava? Preferia meia de uísque. Também tu camarada?! Bem me parecia que concordavas comigo.

Convergíamos nas ideias, na actuação, no sentir e, porque não nas vivências naquela terra vermelha, por vezes negra com o tarrafe ou em tom verde, com tantos verdes da mata… e os sons… os cheiros… a beleza de um por de sol…?

Pensas que ainda estou louco? Nada disso. Já se passou tanto tempo, tantas vidas… quando vieste que fizeste? Tentaste adaptar-te, viajaste, tentaste esquecer, dormias com mulheres a cheirar bem, bons restaurantes e tudo para entrar na vida normal. Claro limpaste-te e borrifaste-te nos que faziam comissão atrás de comissão ou dos que lá ficaram. Sacana! Não? Fizeste bem. Hoje penso que fizeste bem. Eu fiz isso tudo e borrifei-me. Sacanas. Nem te digo, nem plagio o Neruda – confesso que vivi…. Que queres? Não sou perfeito. Ainda por cima sou um plagiador de frases e pensamentos. O estupor da memória tem um compartimento que armazena, armazena e um dia estoira.

É a bolha. Só escrevo quando me dá na bolha. Hoje deu, alinhei letras em palavras e estas em ideias loucas.

Ah e a bolha é plágio. Vem do Luis Sttau Monteiro; Um Homem não Chora, Angustia para o Jantar; as crónicas no Diário de Lisboa… e, salvo erro no S. Carlos, na apresentação de uma peça de teatro ignorou o PR da altura. Claro que viajou logo até Londres. Lindo! Naqueles tempos de liberdade era assim… Que tem isto a ver com a guerra? Está tudo interligado… Pronto já sei que não gostaste do tratamento dado a Sua Exa. Tudo bem. Aceito sempre um pensamento diferente. Desculpa lá, camarada mas gostei e recordar são prazeres da memória… plágio… espero que aceites o pensamento diferente. Não seremos todos diferentes e todos iguais. Utopia? Não se aplica aqui?!

Tens razão. Dói-me a cabeça, a mona, a meloa. É da loucura. Será loucura?

Passa bem Camarada. Estás no além… olha tenho que, um dia, vir a acreditar nisso… mas, enquanto estiveste por cá, que terrível guerra a que fizeste. Ainda por cima sem luz eléctrica. Será que Candamã já tem luz eléctrica? O quê nem Bissau têm? Porquê?

FND
Jun/08
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Nota de CV:

Vd. poste de 16 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2851: Blogoterapia (52): Pensar em voz alta... De quantas mentiras é feita a verdade ? (Torcato Mendonça)

domingo, 8 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2924: Em busca de... (30): José António Almeida Rodrigues (2): O primeiro contacto (José Manuel Lopes)

1. Na altura do III Encontro Nacional da Tertúlia em que o António Batista falava do seu cativeiro, lembrou o outro nosso camarada António Manuel Rodrigues, que afinal se chama José António Almeida Rodrigues (1).

Na hora, o nosso tertuliano José Manuel Lopes (Quinta da Graça) prometeu procurá-lo para se inteirar das verdadeiras circunstâncias em que vive o Almeida Rodrigues.

Aqui está o resultado das suas primeiras pesquisas.

2. Assim em 3 de Junho de 2008, José Manuel Lopes escrevia a Luís Graça

Bom dia Luis Graça

Está na época de apanhar a cereja. Devido ao tempo chuvoso ela racha e deve ser rápidamente apanhada quando atinge a maturação.
Já há uns dias que não ia ao blogue. Hoje antes de sair bem cedo fui até lá espreitar e vi um dos meus poemas além da minha apresentação. E devo fazer uma correcção.

Não cheguei acabar o curso de O.E., para muita pena minha, logo ao 4º. dia desloquei a rótula direita num exercício e fui hospitalizado. Para não perder tempo, ajudado e aconselhado por um 1º. Sargento que morava na mesma rua que eu na Régua, fui colocado em Tavira em A.P. um a especialidade mais acessível devido à minha situação, se bem que muito mais longe na minha Pátria Pequena, do Douro.

Quarta vou entregar Vinho na Enoteca Clube de Vinhos e
aproveito vou ao almoço de Matosinhos, estive lá a semana passada e conheci um camarada mais velho, piloto de Hélis que esteve na Guiné com um conterrâneo meu que andou no mesmo Colégio que eu, O Gil, famoso piloto de T6 que também esteve na Guiné. Provavelmente vamos nos encontrar dia 7 de Junho no encontro anual de antigos alunos do Colégio da Régua, e vou falar-lhe do nosso Blogue.

Quanto ao nosso camarada António Manuel Rodrigues que esteve em Cancolim e foi prisioneiro, há muito que não aparece pela Régua, mas consegui o contacto do irmão e vou procurá-lo para saber novas do António.

Um abraço
José Manuel

3. Hoje mesmo, José Manuel voltou a contactar o Luís que se encontra ausente do país

Andei a enganar-me a mim mesmo, adiando dia após dia uma missão de que me incumbiram e que a mim mesmo prometi fazer.

Hoje Domingo fui à procura do nosso camarada (António Manuel Rodrigues) que na verdade é José António Almeida Rodrigues, com a morada em Curva da Morte - Ribeira Rodo, à Costa do Vale Régua.

Comecei a procurar pelo Café a Diva, local onde costumava parar. Os empregados e alguns clientes lembram-se perfeitamente dele, das suas crises, dos problemas que criava e também do homem perturbado, mas honesto que cumpria escrupulosamente com as suas dividas assim que recebia a magra pensão.

Há muito que não aparece por lá e alguém sugeriu que devia estar novamente internado. Soube da morada e meti-me a caminho.

Encontrei uma casa a beira da estrada sem janelas nem portas e nem do soalho havia rasto.

Chamei, ninguém atendeu, mais à frente me informaram de uma irmã a Srª. Noémia que vivia a cerca de 600 metros num local a que chamavam de Quartel.

Fui até lá e conversei com a Srª. mais velha 10 anos que o José António.

Considera o irmão um caso perdido sem solução: - "Senhor, só com a GNR consegue lá entrar e não leve só um, não sei se três chegarão."

Voltei à Curva da Morte, chamei e alguém me atende na casa mais próxima. Falei com os vizinhos do nosso camarada, um deles me acompanhou até à casa em ruínas e pergunto
qual a razão de tal caos. Me disseram que queimou portas, soalho e janelas para utilizar como combustível para cozinhar e se aquecer.

Das traseiras junto de um galinheiro, lá aparece o José António depois do chamamento do vizinho. Um homem desconfiado de aspecto andrajoso e muito sujo.

Apresento-me e ele começa a andar de um lado para o outro falando em surdina e de maneira muito pouco perceptivel. Volto a dizer-lhe que sou seu camarada da Guiné e ele sorri pela primeira vez o que me encorajou a continuar o dialogo.

Quando lhe digo que o quero ajudar olha-me desconfiado e diz que só precisa de cigarros. Fui até à mercearia mais próxima comprei dois maços e dei-lhos.

Sofregamente abriu um deles e começou a fumar com uma vontade e prazer, como se já não o fizesse à muito. Prometi voltar e se quisesse iríamos almoçar juntos mais uns amigos que queriam saber dele.

Sorriu e disse no Columbano, pode ser?(dono do Hotel do mesmo nome)

Não lhe prometi muito mais pois não sei o que posso fazer por ele, além de o ir visitar de vez em quando.

Foi tudo por hoje, não quero criar muitas espectativas, mas todos juntos poderemos fazer algo por ele.

Um abraço
José Manuel
_________________

Notas de CV:

(1) - Vd poste de 26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2885: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (9): António Batista, ex-prisioneiro de guerra

(2) Vd. primeiro poste sobre António Manuel Rodrigues/José António Almeida Rodrigues de 6 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2921: Em busca de... (29): António Manuel Rodrigues (1) (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P2923: Tabanca Grande (74): Nunes Ferreira, ex-Alf Mil da CCAÇ 4540 (Bigene, Cadique e Nhacra,1972/74)

1. No poste 2871 de 22 de Maio de 2008 pode ler-se...

(...)
1. Mensagem de
Albertino Nunes Ferreira, 8 de Abril de 2008:
Assunto - CCaç 4540: passagem por Cadique 72/73
Tenho um pequeno diário da minha passagem por Cadique.
Pergunto se vêem algum interesse na divulgação do mesmo no vosso blogue.
Albertino Nunes Ferreira
Ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 4540

(...)
2. Excertos do diário de Albertino Nunes Ferreira, relativa à passagem do Cadique, Cantanhez, da sua unidade, a CCAÇ 4540.
Textos enviados em 9 de Abril e 19 de Maio de 2008:

(...)
3. Comentário de L.G.:
Meu caro Albertino:
Posso concluir que estas são as únicas notas que escreveste no teu diário?
São, em todo o caso, valiosas, e vê-se que foram escritas com sangue, suor e lágrimas...
Tomei a liberdade de sublinhar, a bold e a vermelho, algumas das tuas frases...
(...)


2. Em 23 de Maio de 2008 Nunes Ferreira (Ex-Alf Mil da CCAÇ 4540, Bigene, Cadique, Nhacra, 1972/74) respondia por mail a Luís Graça

Meu caro Luís Graça :

Efectivamente as palavras que enviei para o teu blogue são as únicas que consegui escrever em Cadique.
Os patrulhamentos constantes, as terríveis condições de vivência diária e a falta de alguma privacidade obrigaram-me a pôr de lado a escrita com muita pena minha.

Obrigado pela sua divulgação.
Todos os dias consulto o blogue.
Desejo fazer parte da vossa Tertúlia, simplesmente ainda não pedi para me integrar porque todas as fotografias que trouxe da Guiné estão na minha casa de Figueira de Castelo Rodrigo – distrito da Guarda.
Tenciono brevemente deslocar-me lá e trazer tudo para Lisboa.
Depois darei notícias novamente.

A.Nunes Ferreira
Ex-Alf.Mil.Inf.
C.CAÇ 4540


3. No dia 24 de Maio Luís Graça enviava esta mensagem a Nunes Ferreira:

Querido camarada:
Ficas, desde já a fazer parte da nossa Tabanca Grande.
Quando fores a casa, trazes as tuas fotos e vais partilhá-las connosco.
Já temos, da tua unidade, pelo menos dois camaradas, o Alf Mil Vasco Ferreira (que vive em V.N. Gaia e que foi ao nosso último encontro, embora ainda não tenha pedido formalmente... para entrar no blogue, vou tratar dele; também costuma frequentar a tertúlia de Matosinhos); e o Fur Mil António Manuel da Conceição Santos.

Não sei se vocês se têm encontrado... De qualquer modo, vou pedir ao Carlos Vinhal que faça as tuas apresentações formais no blogue.

Vejo, pelo teu endereço de correio electrónico que trabalhas no Ministério dos Negócios Estrangeiros e possivelmente até na carreira diplomática... É isso ? Se sim, não temos que divulgar dados da tua vida pessoal e profissional.

Diz-me só, onde vives actualmente. Gostaria que nos contasses alhgo mais sobre os últimos tenpos em Cadique, a reacção do PAIGC, os primeiros contactos a seguir ao 25 de Abril...
(...)

Luís Graça


4. Em 27 de Maio nova mensagem de Nunes Ferreira

Caro Luís Graça :

Obrigado por me acolher desde já na Tabanca Grande.
Conheço efectivamente o Vasco Ferreira e o António Santos que fizeram também parte da CCaç 4540.
Com o Vasco estive no encontro-convívio dos militares da Companhia que se realizou em Óbidos, salvo erro em 2005, ao qual o António Santos penso que não compareceu.
No último encontro realizado na Maia no ano passado não pude comparecer por motivos profissionais.

Trabalho efectivamente no MNE e faço parte do quadro do serviço diplomático, tendo trabalhado em Angola, Suécia e França, contando reformar-me dentro de 4 anos.

Antes de ingressar no MNE fui Delegado do Procurador da República.

Vivo actualmente em Lisboa e moro na Portela de Sacavém.

De Cadique não posso contar muito mais porque, salvo erro, regressámos a Bissau em Julho de 1973 e fomos depois para Nhacra onde apanhámos o 25 de Abril, tendo regressado a Lisboa em Agosto de 74.
Talvez os camaradas que nos renderam em Cadique naquela altura ou os que estavam lá em 25 de Abril de 1974 tenham informações que seria interessante divulgar no blogue.

De Nhacra é que tenho algumas fotografias que julgo serem de Maio de 1974 e que revelam a confraternização com uma delegação do PAIGC, chefiada pelo comandante da zona do Morés, salvo erro, e que nós acolhemos no aquartelamento.

Em Junho próximo conto ir a Figueira de Castelo Rodrigo e trazer essa e outras fotografias da minha passagem pela Guiné.
(...)

Um abraço do
A. Nunes Ferreira


5. Em 29 de Maio, última mensagem de Luís Graça para Nunes Ferreira

Caro Nunes Ferreira:

Tenho eu, temos todos, muito gosto e prazer e honra em acolher-te na Tabanca Grande. O tratamento por tu, entre camaradas, é natural e facilita a comunicação entre todos. Aqui pomos entre parênteses tudo o que somos, em termos sociais, profissionais, académicos, etc., - para fazer sobressair aquilo que nos une - a experiência da Guiné e da guerra colonial, do ultramar ou até da luta de libertação (como queiras).

A nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) faz também uma ponte para aqueles que outrora eram o IN. Como antigos combatentes, há cumplicidades de parte a parte.

Já conheces as regras do nosso blogue. Não é obrigatório mandares fotos, mas dá jeito, uma antiga, uma actual... Para a malta de reconhecer.

Tu dirás se é confortável para ti. Como ainda estás no activo e na carreira diplomática, podes querer manter um low profile.
Tu mo dirás.
Welcome aboard.

Um Alfa Bravo (abraço).
Luís

PS: - O Carlos Vinhal fará a tua apresentação aos restantes camaradas (e amigos) da TB


6. Caro Nunes Ferreira, cumprindo com todo o prazer as ordens do Editor Chefe, estás formalmente apresentado à Tertúlia da Tabanca Grande.

Entraste pela porta grande, começando por apresentar trabalho antes da adesão. Não é o normal, por isso o destaque.

Esperemos que, quando a tua actividade profissional te permitir, continues a colaborar com o Blogue, podendo sempre e a todo o momento intervires, quando achares oportuno e necessário.

Recebe um abraço de boas vindas dos editores Luís Graça, Virgínio Briote e Carlos Vinhal, assim como de todos os tertulianos.
(CV)
___________

Nota de CV:

Vd. poste 22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2871: Excerto do Diário do ex-Alf Mil A. Nunes Ferreira (CCAÇ 4540, Cadique, 31/1/73 a 20/2/73)

sábado, 7 de junho de 2008

Guine 63/74 - P2922: Convívios (63): 14.º Convívio de ex-combatentes da Guiné que passaram por Bambadinca entre 1968/71 (Jaime Machado)

1. Em 2 de Junho de 2008, o nosso camarada Jaime Machado, (ex-Alf Mil Cav do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) veio dar-nos notícia do 14.º Convívio de camaradas da Guiné que passaram por Bambadinca entre 1968 e 1971.

Caro Luís


No passado dia 31 de Maio estive em Torres Novas no 14º convívio dos camaradas que passaram por Bambadinca entre 1968/71 (os mais antigos celebrando o 40º aniversário da sua chegada a Bambadinca)


Junto um pequeno texto sobre a efeméride e se achares que vale a pena publica. Se achares bem fazer alguns acertos faz. Junto também algumas fotos para compor o ramalhete.


Jaime Machado


Foto 1> Bolo de aniversário 


Foto 2> Distribuição de lembranças pela esposa do Mourão


Foto 3> João Rocha em conversa com camaradas do Pelotão e à esquerda o CMDT/CCS, hoje Coronel na Reserva


Foto 4> Enquanto a esposa do Mourão corta o bolo de aniversário, ele abre o espumoso


Foto 5> Prato comemorativo para quem o quis adequirir


2. MUITAS EMOÇÕES
Por Jaime Machado

Não sei se vou aguentar tantas emoções seguidas!

Depois de cerca de 40 anos afastado de todos os convívios que por todo o país se têm realizado com os camaradas de armas que combateram na Guiné, eis que num só mês me vejo a participar em dois.

O primeiro no passado dia 17 de Maio de 2008, em Monte Real, organizado pelo Mexia Alves, e no qual participaram muitos dos camaradas (e seus familiares) que se encontram na tertúlia da qual o Luís Graça é editor principal (1).

Aí senti as primeiras emoções fortes ao rever camaradas que já não via há 40 anos. Aí encontrei o Fernando Calado, o João Rocha, O Luís Graça, o José Lázaro, o Vacas da Carvalho, o Beja Santos e tantos outros de que já não me recordava bem, tantos foram os anos já passados.

Foi uma tarde de maravilhoso convívio especialmente para mim, ao abraçar todos estes camaradas com os quais partilhei perto de dois anos de vida e de juventude na Guiné.

Como é habitual nestas circunstâncias o tempo foi pouco para pormos a conversa em dia, para recordarmos episódios, ora dolorosos, ora caricatos, ora dramáticos, ora felizes, porque também os houve. O tempo também foi pouco para trocarmos abraços pois aparecia sempre um novo camarada o qual ainda não tínhamos abraçado e com o qual também queríamos partilhar a nossa amizade e fazer sentir que o tempo e a distância não diluem essa mesma amizade, cimentada às vezes em condições tão difíceis. E depois também foi necessário tempo para o repasto, que não sendo nestas circunstâncias o mais importante, não podíamos por de parte, tal era a sua qualidade.

Enfim uma tarde memorável que espero poder repetir dentro de um ano. Mas ainda não refeito de todas estas emoções eis que fui alertado para um outro convívio comemorativo do 40º aniversário dos camaradas que passaram por Bambadinca entre 1968/71.

Desta feita em Torres Novas, no dia 31 de Maio de 2008 e organizado pelo Mourão e Esposa e que quanto a organização esteve também impecável em todos os aspectos, incluindo naturalmente o repasto.

Saí do Porto acompanhado pelo João Rocha (ex-Pel Rec/BCAÇ 2852) e pelo Pimentel (ex-Pel Rec/BCAÇ 2851) tendo chegado a Torres Novas pelo meio-dia.

O almoço estava marcado para as 13h mas àquela hora já à porta do restaurante se encontravam muitos camaradas e seus familiares em amena cavaqueira. Conversavam, não podia deixar de ser sobre o tema do dia e de sempre: Guiné!

Depois de algum tempo na conversa fomos entrando que a fome já se fazia sentir. Enquanto trincávamos alguns aperitivos e a conversa continuava, abordou-me um camarada, por sinal do pelotão do João Rocha, e que me reconheceu. A minha memória não permitiu retribuir essa delicadeza.
- Tu não és o Machado das Daimler? Estás na mesma! - Bondade dele!

Um outro perguntava:
- Tu não eras aquele alferes magrinho das Daimler?

Era de facto muito magrinho. No dizer das bajudas era o alfero fininho.
- Lembras-te quando uma noite fomos a Mansambo buscar um camarada que ficou ferido na explosão de um dilagrama?

Também já não me lembrava.

O tempo ia passando e tocou pró rancho.

Sentamo-nos e à minha direita ficou o camarada António Ourives, da Covilhã. Quando me disse ser da Covilhã arrebitei as orelhas pois sabia que um dos camaradas do meu pelotão mora para esses lados.
Logo lhe perguntei pelo Raposo. Que sim, que conhecia perfeitamente e que moravam a dois passos.
Pedi-lhe que lhe fizesse saber que gostaria imenso de o rever, pois estou a tentar contactar os 14 Furões do Pel Daimler 2046, aos quais perdi o rasto. Prometeu-me que o faria na próxima semana.

A conversa continuou animada, sempre com o mesmo tema em destaque, tendo mesmo o camaradas Ourives (este é o seu apelido) tido a amabilidade de me recordar que na madrugada do célebre ataque a Bambadinca as Daimler foram as primeiras viaturas a sair para a pista de aviação e feito fogo contribuindo assim para que o ataque tivesse cessado mais rapidamente.

Fiquei naturalmente satisfeito por, passados tantos anos, ainda haver quem se lembre destes pormenores.

E desta forma o tempo ia passando, o repasto ia continuando e chegou a hora do organizador o Mourão, dizer algumas palavras de agradecimento aos presentes e votos para que dentro de um ano nos voltemos a encontrar.

A esposa do Mourão acompanhada de outra senhora passaram então a distribuir uma garrafa de licor, em miniatura, pelas outras senhoras presentes e uma caixa com um charuto por todos os camaradas.

Seguiu-se o corte do bolo de aniversário e o rebentar (não de granadas) mas das garrafas de espumoso.

A festa aproximava-se do final, as últimas conversas nunca acabadas, continuarão no próximo ano mas que houve tempo para muitos mais abraços, isso ainda houve.

Depois de tudo isto volto a perguntar, será que ainda vou aguentar muitas mais emoções seguidas? Espero bem que sim.

Jaime Machado
Ex-Pel Daimler 2046

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Nota de CV:

(1) - Vd. poste de 18 de Maio de 2008> Guiné 63/74 - P2854: O nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (1): Foi bonita a festa, Joaquim e Carlos: Obrigados!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2921: Em busca de... (29): António Manuel Rodrigues (1) (Juvenal Amado)

1. Em 27 de Maio de 2008 recebemos esta mensagem do nosso camarada Juvenal Amado:

Caro Carlos

Ao vasculhar o Poste 2885 sobre o III Encontro da Tertúlia, a minha atenção ficou presa nas palavras do Baptista sobre o outro prisioneiro que esteve com ele, mas no caso, este sendo de Cancolin (*).

Efectivamente houve um outro camarada nosso também este apanhado à mão.

Pertencia efectivamente à Companhia de Cancolim e foi apanhado, se a memória não me falha, num dia em que o seu pelotão saiu para uma patrulha nocturna.

Para ser mais preciso o pelotão saiu, mas ele embirrou e não foi com eles.

Passado talvez uma hora, ele resolveu ir sozinho encontrar-se com os seus camaradas.

Resultado, o destacamento é atacado e no chão foram encontradas munições da G3, possivelmente dele.

O que se entende deste acontecimento é que ele deu de caras com tropas do PAIGC que fizeram o ataque e acabou prisioneiro deles.

Este episódio atesta bem o estado psicológico em que os nossos camaradas de Cancolim estavam.

Há tempos, ao falar ao telefone com o meu amigo Correia, este caso veio à baila, onde ele me lembrou que o referido camarada tinha aparecido quando já estavamos em Bissau para embarcar de regresso.

A forma como ele fugiu do cativeiro só soube ao ler e ouvir o referido Poste 2885.

Lamento que ele esteja no sofrimento em que está.

Um abraço para todos os camaradas da Tabanca
Juvenal Amado


2. Em 31 de Maio o co-editor interpelava o Juvenal deste modo:

Caro Juvenal
No comentário que fazes ao P2885 e quando te referes ao vosso militar que foi apanhado à mão, trata-se do mesmo António Manuel Rodrigues ou de um caso semelhante?
Manda-me todos os elementos, como nome, Unidade, local (que será Cancolim) e data do desaparecimento, etc.
Tenho o poste pendente
Obrigado
Carlos

3. Em 2 de Junho obtinha esta resposta:

Caro Carlos

António Manuel Rodrigues, é efectivamente o nosso camarada de Cancolim (CCAÇ 3489), que foi também feito prisioneiro pelo PAIGC.

Confirma-se também a forma como tudo aconteceu, só não consigo uma data.

O nosso camarada Correia pensa que aconteceu, talvez seis meses antes do nosso regresso, mas não se recorda ao certo.

Os camaradas da Companhia de Cancolim, penso que nunca se juntaram e só tenho mais um nome para tentar saber a data. É de um ex-alferes que foi 2.º Comandante da CCAÇ 3489.
Amanhã voltarei a tentar chegar à fala com ele.

Para já está tudo confirmado.

PS: O Correia ficou todo satisfeito com a noticia que eu lhe dei, pois não tinha sabido mais nada dele.

Um abraço para toda a Tabanca Grande

Juvenal Amado


4. No dia 4 de Junho, Juvenal Amado dava conhecimento dos últimos desenvolvimentos da procura de elementos sobre a prisão do camarada António Manuel Rodrigues

Meu caro Carlos e restante Tabanca Grande

Lamento informar, mas acabei de tomar conhecimento do falecimento do ex-alferes de Cancolim, com quem eu contava para descobrir as datas que nos faltam para o processo do Rodrigues ficar completo.

Assim o ex-Alferes Carlos Alberto Rosa Santos que foi durante algum tempo o comandante da CCAÇ 3489, do qual guardo um respeitosa lembrança, era a unica pessoa que esteve em Cancolim que eu podia contactar.

Um abraço
Juvenal Amado

(*) - Anotação de C.V.

Do Poste 2885:

(...)
No vídeo que agora se apresenta ele contou-nos as condições em que viveu no cativeiro. Falou-nos também de um outro companheiro de infortúnio, pertencente ao mesmo batalhão (BCAÇ 3872, que estava sediado em Galomaro, 1972/74), mas de outras companhia (que estava em Cancolim). Ele acabou por se lembrar do nome do seu camarada de infortúno (o António Manuel Rodrigues), que conseguiu fugir do cárcere em Março de 1974 e, seguindo ao longo do Rio Corubal, chegar ao Saltinho ou próximo do Saltinho, onde foi resgatado pelas NT.

Esse camarada é natural da Régua, é conhecido do nosso José Manuel Lopes, ex-Fur Mil Inf Op Esp, que estava na CART 6250, em Mampatá (1972/74) quando o resgate se deu... Esse ex-prisioneiro, que era maltrado pelos seus carcereiros devido alegadamente ao seu comportamento agressivo, foi levado do Saltinho para Aldeia Formosa e dali para Bissau, por via aérea.

O António Manuel Rodrigues, o Chega-me Isso, alcunha de família por que é conhecido na Régua, vive miseravelmente, tem todos os sintomas do stresse pós-traumático de guerra, não procura nem aceita ajuda dos seus antigos camaradas da Guiné, tem conflitos com as autoridades locais, em suma, é mais um caso chocante de uma camarada nosso que não morreu na Guiné mas a quem a Guiné destruiu a vida. O José Manuel prometeu-me dar a sua identificação completa. A nossa Tabanca Grande vai tentar ajudá-lo.
(...)

5. Se algum dos nossos Tertulianos ou leitores do nosso Blogue souber pormenores desta ocorrência, que marcou definitivamente a vida deste nosso infeliz camarada, por favor informem-nos.
C.V.
____________________

Notas de C.V.

(1) - Vd. Poste de 26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2885: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (9): António Batista, ex-prisioneiro de guerra

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2920: Estórias de Zé Teixeira (29): Um aborto e o porco (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

José Teixeira, ex-1.º Cabo Auxiliar Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70

1. O nosso Fermero José Teixeira enviou-nos em 23 de Maio mais uma das suas estórias.

Caros amigos editores.
Do sótão das minhas memórias, retirei mais uma estória verdadeira, com algo de caricato.

Fraternal abraço
J.Teixeira
Esquilo Sorridente


Um aborto e o porco

Por José Teixeira

Manhã cedo, batem à porta da enfermaria. Era uma bonita bajuda, creio que era conhecida por Zéza. Morava mesmo ao lado da oficina auto do Quartel, muito perto da casa da Domingas, a lavandera de muitos dos militares estacionados em Empada.

Um respirar acelarado, de quem tinha vindo a correr. Lágrimas nos olhos, sufocada.
Apanhou-me, quando me preparava para ir tomar o pequeno almoço.

- Fermero vem depressa, minha mãe tem doença, sangue, manga di sangue. Ela na vai mori.

Hesitei em mandá-la esperar um pouco, enquanto eu ia ao mata bicho, ou seguir de imediato a jovem até sua casa, ver o que se passava com a mãe, que a trazia tão aflita.

Optei pela segunda opção. Bolsa de enfermagem ao ombro e lá vou eu.

A mãe, de etnia Manjaco, era uma viúva recente di home garandi lá de Empada. Entrou em aventuras sexuais e sofreu as consequências naturais dessa atitude, engravidou. O aborto, foi a solução encontrada com o apoio de uma curiosa, tal como cá, ainda hoje, infelizmente, acontece em muitos casos.

Deparei com uma mulher exaurida, sem forças, sequer para falar, diria que quase em estado de choque e profundamente envergonhada, deitada num velho e sujo colchão de palha. Será que merece este nome? Não sei.

O sangue vazou para o chão térreo, fazendo pequenas poças, onde chapinei sem me aperceber.

Que fazer num caso destes, tão longe de um hospital sem médico por perto, sem meios adequados e sobretudo sem conhecimentos que me permitissem, salvar aquela vida.

Comecei por solicitar a um colega que fosse junto do Comandante, apelar para que se pedisse uma evacuação urgente.

Uma Zimema K, o único anti-coagolante que trazíamos connosco no mato, talvez desse algum jeito, mas o mas importante era colocá-la a soro e esperar que a avioneta ou o hélio pedidos para a levarem para o Hospital em Bissau, chegasse. Podia demorar uma hora ou um dia, nunca se sabe.

Aqui começou a minha luta. Encontrar uma veia, que me permitisse pôr o soro a correr para o seu organismo. A perda de sangue e a dureza da pele, eram factores a considerar, as veias erma coisas que já não se viam nem se sentiam na apalpação e a pele, característica dos povos que não usam sal na comida, por não haver, têm a pele muito rija e seca. (E nós cá no mundo ocidental, a fazer campanhas contínuas a combater o uso de sal em demasia, pois provoca graves doenças) que paradoxo!

Primeira tentativa, infrutífera. Segunda tentativa, de resultado idêntico.

A ânsia e o desespero, apossavam-se de mim, tal a urgência em conseguir resultados positivos para salvar aquela vida.
Há que insistir com paciência. Vamos lá a mais uma tentativa!

De repente, um porco que, suponho, dormia debaixo da cama, acordou e assustado com o reboliço, arranca por ali fora, tropeça nas minhas pernas e foge porta fora a grunhir ruidosamente.

Mais uma tentativa se foi e minha luta continuou, até a agulha, cansada de tanto trabalhar se partiu.

Por fim, lá consegui, com a ajuda do Lemos, o camarada enfermeiro que veio em meu auxílio a pôr a senhora a soro e deste modo, creio, salvar-lhe a vida.

O Héli chegou a tempo de a enviar para o hospital em Bissau e segundo me disse a filha, antes de eu dizer adeus à Guiné, tinha recuperado e estava pronta para outra.

Nesse dia fiquei sem pequeno almoço.

Zé Teixeira

Na foto José Teixeira, de costas, transportando a maca

Foto e legenda: © José Teixeira (2008). Direitos reservados.
_____________

Nota de CV:

(1) - Vd. último poste da série de 26 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2685: Estórias do Zé Teixeira (28): Trágico enamoramento (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Guiné 63/74 - P2919: Convite (5): Lançamento do livro Lá Longe Onde o Sol Castiga Mais (Feira do Livro do Porto)

Lançamento do livro Lá Longe Onde o Sol Castiga Mais, dia 7 na Feira do Livro do Porto


1. Mensagem do nosso camarada A. Marques Lopes, ex- Alf Mil Inf( hoje Cor DFA, reformado), CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro).

No dia 7 de Junho (próximo sábado), às 17h00, haverá a sessão de lançamento do livro de Jorge Ribeiro "Lá Longe Onde o Sol Castiga Mais" na Feira do Livro do Porto.



Capa e contracapa do livro Lá Longe Onde o Sol Castiga Mais de autoria de Jorge Ribeiro. Edição de Calendário de Letras - Vila Nova de Gaia.


É uma professora que organiza várias sessões para explicar aos seua alunos do 2º Ciclo o que foi a guerra colonial. Algumas são com a presença de alguns ex-combatentes que são avôs de alguns dos alunos. Também os leva ao Museu da Guerra Colonial em Famalicão onde o seu director lhes dá explicação dos materiais lá expostos.

O livro é da Editora Calendário de Letras.

Jorge Ribeiro, ex-jornalista do Jornal de Notícias, tem já alguns livros publicados, por exemplo: Marcas da Guerra Colonial, do Campo das Letras, Capital Mueda também desta editora e S. Baptista d'Ajudá da Arca das Letras.

Lá longe onde o sol castiga mais é uma canção do Paco Bandeira ainda antes do 25 de Abril.

A. Marques Lopes

Guiné 63/74 - P2918: História da Cavalaria em Bambadinca (1): Pel Rec Daimler 1133 (1966/68) adido ao BCAÇ 1888 e ao BART 1904 (Jaime Machado)

Navio Uige > Foto retirada do Site Navios no Sapo, com a devida vénia


Foto 1> Auto metralhadora Daimler que terá (?) pertencido ao Pel Rec Daimler 1133 (Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68)


Foto 2> Instalações em Fá Mandinga (Bairro da Paz) onde esteve instalado o Pel Rec Daimler 133


Foto 3> Outra perspectiva do Bairro da Paz


Foto 4> Instalações em Bambadinca

Fotos: © Jaime Machado (2008). Direitos reservados.


1. Trabalho enviado pelo nosso camarada Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70)


CTIG > PEL REC DAIMLER 1133

RESUMO DOS FACTOS E FEITOS MAIS IMPORTANTES DA UNIDADE


O Pelotão de Reconhecimento DAIMLER N.º 1133 foi formado no Regimento de Cavalaria N.º 6, em 1 de Julho de 1966, com destino à Província da Guiné, tendo a seguinte constituição:



Efectuou os exercícios de IAO, sob o Comando do Exmo. Senhor Major Carvalho Simões e em coordenação com outras subunidades da mesma natureza simultaneamente mobilizadas, na Região limitada pelo Rio Ave a Norte, Rio Sousa a Leste, Rio Douro a Sul e Oceano Atlântico a Oeste.

Após o gozo de 10 dias de Licença regulamentares a Subunidade embarcou no N/T “UIGE”, no Cais da Rocha, em Lisboa, com destino a BISSAU, no dia 30 de Julho de 1966.

Correndo a viagem sem incidentes, e tendo sido atingido o Porto de Bissau no dia 4 de Agosto de 1966 a subunidade seguiu directamente na embarcação fluvial “BOR” a fim de ser transportada para BAMBADINCA, via Rio Geba.

Nesta localidade, foi recolhida por uma viatura do BCAÇ 1888, chegando ao Aquartelamento da Fazenda Experimental de Fá no dia 5 de Agosto de 1966 ao pôr-do- sol.

Permanecendo Adido ao BCAÇ 1888 iniciou a sua vida na Província nas instalações que em FÁ são tradicionalmente designadas pelo nome de Bairro da Paz.

Durante o período que desta data decorreu até Maio de 1967 a sua actividade foi muito reduzida em exercício da especialidade, dado o fraco estado operacional das A. M. Daimler em carga.

Todavia quer em acções e impedimentos dentro do aquartelamento, quer trabalhando em grupo em acções apeadas, quer por acções isoladas dos seus elementos integrados noutra Subunidades, alguns factos há a mencionar.

Dentro do período podem considerar-se dois sub-períodos, atendendo ao habitat: até 13 de Novembro de 1966, com instalações em FÁ e desde essa data até Maio de 1967, instalado em BAMBADINCA, para onde foi transferido juntamente com o Comando e CCS do BCAÇ 1888.

No Aquartelamento, verificaram-se as seguintes acções de elementos impedidos ou em colaboração com o Comando e CCS do Batalhão:

O Cmdt. do Pelotão ocupou a partir de Dezembro os cargos de adjunto dos Snrs. Oficiais de OP e Informações e da Acção Psicológica do BCaç 1888.

O 2.º Sargento Bandola ocupou na mesma data um lugar na sala de Operações.

Em Janeiro de 1967 o 1.º Cabo Ap Daimler Victor Manuel Araújo Castro Moura e o 1.º Cabo Ap Daimler José Pinto Vieira foram impedidos respectivamente no Conselho Administrativo e na Cantina do Batalhão, mantendo estes impedimentos até ao fim do mesmo ano.

Actuando em grupo em acções apeadas e reforçada com elementos da CCS/BCAÇ 1888 a Subunidade efectuou ou tomou parte nas seguintes Operações:

- OP. “GUARIDA I” e OP. “GIGANTE” em Dezembro de 1966. Consistiu a primeira num cerco e limpeza à tabanca de NHABIJON CAU, consequente à manifestação de um grupo IN na Bolanha de SAMBA SILATE; Consistiu a segunda numa acção ofensiva à bolanha de PONTA VARELA, com vista a eliminar e recolher arroz aí cultivado por elementos terroristas.

- OP. “GUILHOTINA” em Janeiro de 1967, teve a mesma missão da OP. “GIGANTE”

- Em Fevereiro de 1967 desenvolveu, reforçado com elementos da CCS/BCAÇ 1888 uma acção de socorro e protecção à tabanca atacada de DEMBA TACO.

- Em Abril de 1967 efectuou, igualmente reforçado com elementos da CCS/BCAÇ 1888 e ESQ REC 1578, uma operação de reconhecimento e de acção psicológica nos regulados de BADORA, CORUBAL e COSSÉ (OP. PSICO II).

- Em Maio de 1967 actuou como força de coordenação, na OP. “GOVERNAR”, nos regulados de COSSÉ, BINAFA E PAIAI.
Com elementos isolados integrados em forças da CCS/BCAÇ 1888 o pelotão tomou parte na OP. “FAREJAR II”, em Fevereiro de 1967, cujo objectivo era a base central de SARA-SARAUOL.

Ao serviço da CCS/BCAÇ 1888 vários elementos do pelotão estiveram colocados provisoriamente nos regulados de AMEDALAI, TAIBATÁ e CANDAMÃ.

Ao serviço da especialidade efectuou o pelotão algumas escoltas a colunas nos itinerários: BAMBADINCA-XIME, BAMBADINCA-XITOLE e SAMBA JULI-CANDAMÃ.

A partir de Junho de 1967, dotado de quatro A.M. Daimler reparadas e em bom estado, a Subunidade passou então a actuar sobretudo em grupo, podendo dizer-se que encetou um período completamente novo da sua existência.

Seria descabido mencionar neste curto resumo as inúmeras acções de escolta, patrulhamento e reforço a destacamentos que o pelotão efectuou na vasta rede de itinerário do Sector.

Teve também a seu cargo e integralmente, o desenvolvimento da Acção Psicológica na zona ocupado pelo BCAÇ 1888, pelo que se tornou conhecido e estimado pela população.

A sua actividade operacional desenvolveu-se sobretudo em acções de reconhecimento e de recolha.

Durante os meses de Junho e Julho de 1967 levou a cabo o reconhecimento das zonas limítrofes dos regulados de PAIAI, BINAFA e BASSI, tendo explorado, no decorrer das operações “GAMBETA” e “HIDROMEL”, troços da margem do Rio Corubal até então ainda não conhecidas pelas NT. Durante a segunda destas operações internou-se na zona de COLINAS DO BOÉ que se estende para NW do mesmo Rio.

A OP. “GAROTA”, em 5 de Setembro de 1967 consistiu também num reconhecimento levado a cabo, sob o Comando do 2.º Sargento Bandola, no regulado do COSSÉ (limites do Regulado do CORUBAL).

Como acções de recolha participou sistematicamente nas operações que se desenrolaram nos sub-sectores L1B e L1C (XIME e XITOLE) tendo como missões fundamentais manter abertos os seguintes itinerários, respectivamente: XIME/PONTA VARELA/PICADA GUNDAGUE BIAFADA (Cruzamento) e MANSAMBO/XITOLE.

Em Dezembro de 1967, reforçado pelo PEL CAÇ NAT 53, no decorrer da OP. “GRÃO DUQUE”, actuou frente ao IN, a fim de reconduzir ao Aquartelamento, simultaneamente atacado, uma Companhia (CCAÇ 1790) fortemente emboscada no itinerário MADINA COLHIDO/XIME.

Graças à presença de espírito que todos os elementos souberam revelar foi a tarefa levada a bom termo sem baixas. Da actuação conjunta das Forças Terrestres e da Força Aérea (chamada em seu auxílio) sofreu o IN vinte e cinco baixas.

Durante a época das chuvas de 1967 efectuou o reabastecimento do destacamento de MANSAMBO.

Nos primeiros dias de Janeiro de 1968, perante uma súbita infiltração terrorista no regulado de BADORA, o pelotão desenvolveu intensa actividade em protecção das tabancas ameaçadas, prestando simultaneamente apoio às Forças de Civis que, comandadas pelo Regulo MAMADU SANHÁ defrontaram e afrontaram elementos Terroristas nas margens do Rio Sindangola.

Junto do Comando, passou o Comandante do Pelotão, a partir de Julho de 1967, a acumular às anteriores funções as de Secretário de CADMIL de BAMBADINCA.

Em 15 de Janeiro de 1968, com a rendição do BCAÇ 1888, ficou o pelotão adido ao BART 1904, tendo-se mantido até à presente data a sua intensa actividade de rotina, sem que haja baixas a lastimar.

Quartel em BAMBADINCA, 19 de Março de 1968
O CMDT do Pelotão
Carlos Manuel de Sá Ramalho
Alf Mil Cav

Guiné 63/74 - P2917: Com os páras da CCP 122/BCP 12 no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (2): Quase meia centena de mortos... Para quê e porquê ?


Capa do livro de Carmo Vicente - Gadamael: memórias da guerra colonial. 2ª ed. Lisboa: Caso. 1985. 110 pp. Prefácio de Manuel Geraldo.


Foto: ©
Jorge Santos (2007). Direitos reservados.


1. Continuação da publicação de um excerto do livro Gadamael (Edições Ré: Cacém, 1982), de Carmo Vicente (*), ex-1º sargento paraquedista da CCP 122/BCP 12, destacado para Gadamael em Junho de 1973 (**):


1. Extracto de VICENTE, Carmo - Gadamael. Cacém: Edições Ró. 1982. pp. 97-105. 

Excerto enviado pelo historiador guineense Leopoldo Amado. De acordo com a nossa orientação editorial, optámos por não publicar as passagens em que o autor faz críticas ao comportamento humano, disciplinar ou operacional de camaradas seus... As passagens omitidas (incluindo aquelas em que o autor indentifica pelo apelido camaradas que tê, direito à reserva de privacidade e ao anonimato] vêm assinaladas com parênteses rectos: [...].

 Com devida vénia ao autor e à editora. Revisão e fixação do texto, comentários e subtítulos: LG.




(Continuação)


(ix) Mais de duas dezenas de mortos já tinham ido para as salgadeiras


O dia da chegada [a Gadamael], gastámo-lo abrindo novas valas para nos enterrarmos e aprofundando as já existentes a fim de melhorar aqueles abrigos rudimentares. Foi um trabalho difícil. Tivemos que cavar de rastos, com granadas e foguetões rebentando por todo o lado, por vezes às seis e sete de cada vez, o que não deixava dívidas sobre o poder de fogo que o PAIGC tinha no local e estava disposto a empregar contra aquele objectivo.

Encolhidos dentro das valas, procurávamos não deixar nenhuma parcela do corpo à vista, pois todo o terreno no exterior era zona de morte. Viam-se por todo o lado, animais mortos, que pertenciam à população e que deambulavam por ali, indiferentes à metralha. Mas não eram só os animais que morriam. Dentro das valas, caíam granadas que matavam homens.

Mais de duas dezenas de mortos tinham já ocupado outros tantos caixões, os mesmos que nessa manhã tinham viajado connosco de Bissau. Havia também vários feridos graves que foram evacuados para Cacine em botes de borracha ou sintex (barcos de fibra semelhantes a banheiras completamente inadequados a qualquer tipo de evacuação e só usados por ser um material extremamente barato, concebidos por alguém incapaz de pensar no bem-estar do seu semelhante), onde os esperava o helicóptero que os transportaria ao hospital Militar de Bissau.

O trajecto Gadamael-Cacine em tal transporte devia de ser terrível para os feridos. Eram mais de vinte quilómetros aos saltos pela crista das ondas. Nunca cheguei a saber se algum dos feridos graves morreu devido à maneira como fora evacuado. A nossa missão terminava no momento em que o metíamos no bote. A partir daí perdíamos-lhe completamente o rasto.

Os bombardeamentos continuavam. Os guerrilheiros faziam alguns intervales de dez, quinze minutos, começando e acabando quando menos se esperava, mantendo-nos numa tensão permanente. Era uma táctica desgastante utilizada em qualquer luta de guerrilha, que os combatentes do PAIGC muito bem conheciam, tentando tirar dela o maior partido possível.

O local que calhou ao meu pelotão era o pior de todo o quartel. Junto de nós caiam granadas de perfuração e superfície, à direita e à esquerda da vala, com as primeiras a enterrarem-se profundamente no solo para depois rebentarem, levantando aluviões de terra que nos ia cair em cima, deixando-nos parcialmente soterrados.

É difícil explicar, a quem nunca viveu a guerra, o que significa estar dentro de uma vala e por vezes fora dela, ouvindo cair granadas de morteiro de cento e vinte milímetros, sem poder evitar de pensar que a próxima nos vai cair em cima da cabeça. Só quem viveu esses momentos pode avaliar o medo que se sente a aproximação de um desses projécteis, caindo de uma altura superior a dois mil e quinhentos metros: é uma granada de dezoito quilos que ao cair produz um som agudo e prolongado que se vai acentuando à medida que se aproxima do solo. Só o autodomínio e a experiência evitam que nos levantemos e fujamos para outro local, o que poderia ser fatal. Foi assim que pereceram a maior parte dos soldados, mortos em Gadamael.

Pior do que aguentar dentro das valas, eram porém, as saídas que a companhia tinha de efectuar para patrulhar a zona. A qualquer passo, podíamos rebentar uma mina ou tropeçar numa armadilha e, o que era bem pior, apanhar com um grande grupo de guerrilheiros do PAIGC pela frente, superior a nós em número e armamento.



(x) Sem helicópteros para evacuações, e o apoio dos Fiat só acima dos seis mil pés



Por essa altura, não se fazia a evacuação de feridos através de héli. Era perigoso arriscar uma máquina que custava alguns milhares de contos, sabendo nós que a juntar a isso havia o medo do piloto que não estava disposto a entrar naquele vespeiro para livrar da morte um indivíduo qualquer. Era uma troca de que não estava disposto a fazer, mesmo só no campo das hipóteses.

Assim qualquer de nós que fosse ferido gravemente, apenas lhe restava morrer, já que o único transporte que podia contar para a sua evacuação, eram as costas dos seus companheiros até ao quartel e daí o bote de borracha dos fuzileiros até Cacine e pelo qual tinha de esperar, o que chegava a levar várias horas. Foi desta maneira que o Martins, quase morreu, apesar de ter sido ferido ligeiramente numa perna. Não era um ferimento grave, mas levou um tempo infinito para chegar ao hospital.

O apoio aéreo era quase nulo e de nenhum efeito. Os pilotos de jactos, na sua grande maioria de patente elevada, não arriscavam a descida para baixo dos seis mil pés (dois mil metros, aproximadamente). Altura que tornava o bombardeamento ineficaz, sem outro efeito para além do barulho com o qual os guerrilheiros do PAIGC não se impressionavam mesmo nada, continuando impávidos e serenos o ataque ao quartel enquanto os seis G-91 se afadigavam a largar bombas ou a metralhar lá do alto. [...] 


(xi) Uma tremenda emboscada de 45 minutos, com 18 feridos graves


Chegávamos dos patrulhamentos completamente arrasados de cansaço e com os nervos a estoirar, para de seguida metermo-nos nas valas. Era um verdadeiro inferno. Os bombardeamentos eram cada vez mais intensos e já não podíamos sair da vala para fazer as nossas necessidades fisiológicas sem correr o risco de levar com algum estilhaço ou, na melhor das hipóteses, ter de fugir para a vala com as calças na mão. A maioria adoptava então o sistema menos perigoso: fazia tudo dentro da vala e mandava depois pela borda fora, até ter possibilidade de fazer desaparecer, definitivamente, os detritos.


Um RPG-2, com o respectivo porta-granadas. Em russo: Ruchnoi Protivotankovii Granatomet (RPG-2). Uma arma temível que data do princípio dos anos 50. Deixou, entretanto, de ser usada pelo exército russo. Mas foi muito popular entre os exércitos de guerrilha em todo o mundo. Era a bazuca dos pobres... É uma arma muito leve (tubo= 2,86kg.; tubo + granada= 4,48 kg.) e de fácil manobra, ideal tanto para a guerrilha urbana como para o combate no mato. Alcance efectivo= 100 metros (LG).

Fonte: ©
The Sword of Motherland Foundation (2005), com a devida vénia.


Foi num desses patrulhamentos, quando já estávamos a menos de duzentos metros do arame farpado do quartel, que sofremos uma grande emboscada, em que a companhia ficou toda dentro da zona de morte. O contacto deu-se paralelo à coluna e a menos de vinte metros. Foi tremendo. Os guerrilheiros com armamento mais sofisticado e em maior quantidade. Os RPG-7, os RPG-2, as Degtyarev com tambores de cento e vinte munições (que nunca encravavam), os morteiros de sessenta milímetros, batiam-nos com uma precisão incrível.

No que diz respeito a esta última arma, era verdadeiramente fenomenal. Só um perito muito bem treinado poderia fazer fogo certeiro a tão curta distância, sem correr o risco de a granada cair na sua posição. Foi no entanto, o RPG-2 (***) que mais feridos nos provocaram.

Durou cerca de quarenta e cinco minutos este dilúvio de fogo e metralha. De repente a batalha acabou deixando de se ouvir qualquer ruído. Como se nunca por ali tivessem passado, os guerrilheiros retiraram em boa ordem, cumprindo à risca os princípios da guerrilha de Mao: atacar, ter o melhor êxito possível com o menor número de baixas e retirar sem deixar rasto.

Para nós, o rescaldo da emboscada foi terrivelmente desanimador: dezoito feridos graves. E só não tivemos nenhum morto por um desses simples acasos da sorte que, por vezes, acontecem em combate.

O PAIGC deve ter exultado com esta vitória, conseguida em pleno dia, quase dentro de uma base inimiga com um efectivo de mais de quatrocentos homens, entre os quais duas companhias de tipo especiais. Isto tudo sem sofrerem qualquer baixa. Esta última certeza advém do facto de, dois dias depois destes acontecimentos, termos passado pelo local e não virmos o mais leve indício de sangue, coisa que deixa sempre marcas no solo ou nas folhas inferiores dos arbustos, por mais que se deseje ocultar a sua existência.


(xii) Enfiados nas valas, com o moral em baixo


Os feridos resultantes da emboscada foram evacuados para Cacine, nos tais botes de borracha e daí para o Hospital Militar de Bissau. Nós ficámos outra vez dentro das valas com o moral ainda mais em baixo. A emboscada tinha actuado também nesse sentido, nenhum de nós acreditou até aquela dia que os guerrilheiros se atrevessem a atacar uma coluna nossa, em pleno dia, e a tão pequena distância do quartel onde nos encontrávamos.

No dia seguinte, sentado na vala como de costume, preparava-me para comer mais uma vez as habituais sardinhas em lata, quando ouvi, vindo da mata, o forte crepitar de varias espingardas metralhadoras e o rebentar de granadas. Achei estranho, porque não tinha conhecimento de haver qualquer força a patrulhar a zona. Estava a comentar o facto com um dos meus camaradas que se encontrava perto de mim, quando chegou o comandante de companhia que me disse para preparar rapidamente o meu grupo e ir socorrer um pelotão do exército que tinha sido atacado e sofridos vários mortos.

[...] Saímos rapidamente das valas e correndo dirigimo-nos para o local (guiados por um dos fugitivos), que ficava a pouco mais de um quilómetro do quartel.


(xiii) Quarto mortos do exército, três soldados e um alferes, terrivelmente desfigurados


O espectáculo que se nos deparou era deveras terrificante. No solo três soldados e um alferes jaziam mortos e irreconhecíveis com os rostos parcialmente desfeitos por rajadas disparadas à queima-roupa. Havia ossos e tecidos sangrentos espalhados pelo chão. Um dos soldados enrolara-se nos seus próprios intestinos estando os restantes parcialmente queimados pelo fogo que, acidentalmente, por acção das balas incendiárias, ou deliberadamente fora ateado ao capim.

Eu conhecia o alferes. Chegara a Gadamael três ou quatro dias antes, ido directamente da Metrópole e eu encontrara-o por acaso e estivera a falar com ele. Com os olhos dilatados pelo medo havia-me dito que abominava a guerra, que estava aterrorizado e iria fugir para longe da guerra o mais depressa possível, fosse para onde fosse, pois não podia aguentar por mais tempo aquele inferno. Agora, ao vê-lo morto pensei: «Afinal conseguiste o que querias, alferes.... Vais sair daqui... da única maneira que o recusarias fazer, se te tivesse sido dado escolher, enquanto vivo».

Carregámos com os mortos às costas e regressámos ao quartel. Ao chegarmos começou novo bombardeamento e toda a gente se atirou para o chão tentando encontrar abrigo. O soldado C [...]  que carregava o cadáver do alferes, seguindo o exemplo dos outros ou obedecendo ao seu instinto de conservação, também se atirou para o chão ficando com o morto em cima, que, por ter caído a capa impermeável onde o tínhamos embrulhado, o cobriu de sangue. Levantou-se como se tivesse sido picado por uma cobra e ficou a olhar-me de olhos esgazeados. O seu aspecto era terrível. O sangue do morto cobria-o da cabeça aos pés: tinha sangue na boca e nos olhos. Pastas de sangue coagulado caiam do camuflado. Olhou as mãos e vendo-as ensanguentadas entrou em pânico. [...]

Havia que evacuar os mortos e um ferido muito grave com um estilhaço num pulmão, que apanhara dentro do quartel. E o meu pelotão foi encarregado desse trabalho. Atirámos com os mortos para cima de uma «Berliet», única viatura que ainda funcionava em toda a Unidade e arrumámos o ferido o melhor que pudemos junto dos mortos. A altura era má para nos prendermos com ninharias e não podíamos transportá-lo de outra maneira. Imaginem o que terá sentido aquele homem ferido gravemente, mas consciente, ao ver-se no meio de quatro mortos horrivelmente desfigurados.





Cópia do título (e da primeira página) do trabalho de investigação jornalística da autoria de Eduardo Dâmaso, publicado no Público, sobre a batalha de Gadamael , em princípios de Junho de 1973, e o papel da LFG Orion, cujo imediato era então o nosso camarada Pedro Lauret, hoje capitão de mar e guerra na situação de reforma o > "A naves dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos: a história secreta do navio Orion, que há 32 anos salvou centenas de soldados na Guiné contra as ordens de Spínola" (****).

Fotos: ©
Pedro Lauret (2006). Direitos reservados.


(xiv) Os fuzileiros, com botes de borracho, vêm fazer as evacuações de mortos e feridos


Partimos para o cais de recurso a cerca de quatro quilómetros do quartel a toda a velocidade que a picada cheia de calhaus e buracos dos rebentamentos nos permitia, debaixo de um bombardeamento intenso de foguetões [,de 122 mm,] que caíam à direita e à esquerda da picada e que só por sorte não nos atingiram.

Chegámos ao cais mesmo a tempo de ver os botes de borracha dos fuzileiros que vinham proceder à evacuação, darem meia volta e desaparecerem pelo mesmo caminho em direcção a Cacine. Isto transtornou-me de tal modo que desatei a chamar  nomes [...] .


Mas que podiam fazer os fuzileiros? O bombardeamento era muito forte e o medo de serem atingidos era ainda maior. Talvez que eu no lugar deles tivesse feito precisamente o mesmo. Porém, naquela altura eu queria ver-me livre dos quatro mortos e do ferido grave já quase moribundo. Por isso toda a minha revolta, o meu fechar de punhos que infelizmente não fizeram voltar os botes dos fuzileiros [...].

Pela rádio entrei em contacto com o comandante da Companhia e contei-lhe o sucedido. Este, no entanto, nada podia fazer, o problema transcendia-o em absoluto. Restava-me pois esperar e foi o que fiz, enchendo-me de uma grande dose de paciência. Passadas duas horas, os fuzileiros apareceram com dois botes.

A maré tinha baixado, entretanto, deixando a descoberto um lamaçal de mais de seiscentos metros por onde, enterrando-nos até a cintura, tivemos de carregar com os mortos e o ferido. Este esforço durou mais de meia hora e quando finalmente chegámos junto dos fuzos metemos dentro dos botes cinco mortos e não os quatro iniciais. O ferido morrera ali mesmo, a meia dúzia de metros dos botes que o deviam transportar ao hospital.


(xv) Desertores do exército tomam de assalto os zebros


Os botes que evacuaram os mortos foram literalmente assaltados por uma avalanche de desertores que começaram a aparecer de todos os lados e que tentavam fugir àquele inferno. Alguns conseguiram o seu intento pois os tripulantes dos zebros foram impotentes para se livrar de imediato de toda aquela gente que sobre eles se precipitou. Valeu-lhes sair rapidamente dali, de contrário não sei o que poderia ter acontecido aos barcos e mesmo aos próprios tripulantes.

Todos estes factos vieram fazer transbordar a taça e, se já havia muitos de nós com os nervos a estoirar, a partir destes acontecimentos, ficaram ainda pior. Os soldados já não queriam sair do quartel. Preferiam ficar ali dentro das valas, aguentando os bombardeamentos mas onde sabiam ter algumas probabilidades de escapar, a ir para o mato onde a incógnita do que poderia acontecer era demasiado grande. O medo tomou pouco a pouco conta de alguns espíritos e tornou-se mais forte do que qualquer outro sentimento.[...]

 (xvi) Proibido aos paraquedistas adoecer...


Em dada altura o meu pelotão recebeu ordem de marchar para uma missão de patrulhamento em que iria estar envolvida toda a companhia. Tínhamos de dormir no mato e regressar no dia seguinte. Transmiti as ordens do capitão aos meus homens e alguns deles disseram-me que não podiam ir para o mato porque se encontravam doentes, o que na realidade acontecia com alguns deles, e um pouco com todos nós. Que havia mais de um mês comíamos sardinhas e atum em lata e dormíamos enrolados dentro das valas, quase sem pregar olho.

Naquela porca guerra era, no entanto, proibido aos soldados adoecer. Tinham de marchar para o mato de qualquer maneira. [...] 


Segui para junto do meu pelotão e limitei-me a informar que, por ordem do capitão, toda a gente iria para o mato e, sem esperar qualquer resposta, equipei-me e mandei equipar o pelotão.

A companhia possuía quatro pelotões e o meu recebeu ordem de tomar o último lugar na coluna. Coloquei-me à frente dos meus homens e iniciei a marcha sem olhar para trás, confiante que todos me seguiriam, como lhes ordenara. Penetrámos na mata cerrada e ao olhar para trás verifiquei que nem todos me tinham acompanhado. Fiz a contagem e faltavam-me quatro homens, aqueles mesmos que, antes de partir, me tinham informado, estarem doentes. Como não podia deixar de ser, transmiti essas faltas ao comandante que, como resposta, me disse para mandar esses homens comparecer na sua presença, mal terminasse a operação. [...]


 (xviii) Quase meia centena de mortos em Gadamael em quarenta dias


E a guerra de Gadamael continuou. Foram mais de trinta dias de bombardeamentos, com muitos mortos e feridos. Os soldados aguentavam como podiam, uns com maior ou menor coragem, outros entrando em pânico e que fugiam para o cais e tentavam meter-se nos barcos que nos vinham trazer víveres e munições.

Foram quarenta longos dias, quase sem comida, deitados nas valas sem dormir mais que uma ou duas horas por noite, batendo-nos contra um adversário invencível que nos matava sem sofrer uma única baixa.

Mas Gadamael foi também a certeza de que jamais poderíamos vencer os guerrilheiros do PAIGC. Gadamael serviu sobretudo para a tomada de consciência de muitos de nós, e não me desviarei da verdade se afirmar que em Gadamael o PAIGC travou a batalha decisiva na sua luta pela independência, que quer tivesse havido ou não o 25 de Abril teria conduzido o povo da Guiné a uma rápida vitória.

Em Gadamael tombaram, para sempre, quase cinquenta irmãos nossos, que não queriam combater e que abominavam a guerra. Quase cinquenta homens que, se o pudessem ter feito, teriam gritado antes de morrer:
-Entreguem a Guiné aos Guineenses!...


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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Fevereiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)

(...) "1º Sargento Paraquedista Carmo Vicente (...) participou em três comissões de serviço nas frentes de combate da Guiné e Moçambique.

"O testemunho do Sargento Carmo Vicente [sobre os tristes acontecimentos de Bissau, em Janeiro de 1968,] consta na obra Gadamael de sua autoria, das Edições Caso (2ª edição), de Julho de 1985 (páginas 25 a 30).

"Para além da referida obra, Carmo Vicente é também autor de Grades de Novembro, Gritos de Guerra, A Sentença, Era uma vez... 3 guerras em África, entre outras.

Na badana do livro pode ler-se:

"Carmo Vicente é 1º sargento paraquedista, tem 38 anos, e participou em 3 comissões de serviço nas frentes de combate da Guiné e Moçambique. Gadamael é uma narrativa apaixonada, mas profundamente crítica, dessa experiência, constituindo mais uma achega importante para a construção histórica do itinerário colonial de parte significativa da juventude portuguesa, entre 1961 e 1975.

"Sobre Carmo Vicente escreve em prefácio Manuel Geraldo: Ao contrário de vários autores que até agora se debruçaram sobre o mesmo tema, Carmo Vicente possui a vantagem de ter sido mobilizado pela 1ª vez como soldado, acabando por chegar a 1973 na situação de 1º sargento, no comando de um pelotão, precisamente em Gadamael. Logo, viveu o conflito em toda a sua plenitude, como 'actor' em escalões progressivos e com graus de sensibilidade diversa. Embarcado para a Guiné em 1966, com a mentalidade de 'cruzado', Carmo Vicente acabaria por descobrir a verdadeira face dos interesses em jogo e do papel que lhe tinham reservado no palco das operações.

(**) Vd. poste anterior de 4 de Junho de 2008 >
Guiné 63/74 - P2915: Com os páras da CCP 122/ BCP 12, no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (1): Aquilo parecia um filme do Vietname


(***) Certamente por lapso ou gralha, no texto (digitalizado) que recebemos do Leopoldo Amado, vem RPG 3 quando, na minha opinião, deve ler-se RPG 2... Mas não tenho a certeza: no meu tempo (1969/71), na zona leste, nunca ouvi falar do RPG 3... Só havia o RPG 2 e o RPG7.  No blogue já apareceram mais referências ao RPG 3 (Nuno Rubim, Manuel Lema Santos). Será gralha ? É também possível que seja uma versão superior do RPG 2, existente em 1973. Possivelmente com mais alcance, fiabilidade e poder destrutivo... Se alguém puder esclarecer, agradeço.


(****) Vd. poste de 14 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P876: É revoltante o silêncio em torno da guerra colonial (Pedro Lauret, imediato do NRP Orion, 1971/73


(*****) A Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito é a mais alta condecoração portuguesa, podendo ser conferida em três casos: (i) Por méritos excepcionalmente relevantes demonstrados no exercício de funções dos cargos supremos que exprimem a actividade dos órgãos de soberania ou no comando de tropas em campanha; (ii) Por feitos de heroísmo militar e cívico; ou (iii) Por actos excepcionais de abnegação e sacrifício pela Pátria e pela Humanidade.

Guiné 63/74 - P2916: Recortes de Imprensa (5): Armor Pires Mota lança novo romance de temática guineense, A Cubana que Dançava Flamenco


Capa de Tarrafo, de Armor Pires Mota. 2ª ed. (autorizada). Braga: Editora Pax. 1970. 248 pp. + 22 fotografias.



Reproduz-se aqui, com a devida vénia, a notícia do Portal Sabedoriadopovo.pt, editado em Águeda:


Novo livro de Armor Pires Mota: "A Cubana Que Dançava Flamenco»

por Sabedoria do Povo, 28 de Maio 28 de 2008




O novo romance do jornalista e escritor Armor Pires Mota, A Cubana que Dançava Flamenco, vai ser apresentado a 7 de Junho, no auditório do Centro Cultural Prof. Élio Martins, no Silveiro, [em Águeda,] às 16 horas. Será apresentadora Odete Dias, mestre em Literaturas Africanas.

A entrada é livre e o livro tem o preço especial de apresentação (10 euros).

Sinopse

Curso em meio, Silas Macário, a personagem principal do romance, partiu para a Guiné. Raptado, viveu, durante meses, as agruras do cativeiro e inauditas peripécias. Sempre sonhou com a fuga, mas acabou rendido aos encantos de uma partisan [guerrilheira], Usita, e de uma bela enfermeira cubana, Conchita Stella. Tentou libertar-se pelo amor.

Do primeiro caso, há um filho e uma carta que despoleta a escrita deste livro. Um filho destinado a combater o branco, situação que permite a fuga. Em Bissau, soube, por telefone, da sua estranha morte e funeral que lhe são comunicados pela sua própria mãe. Traumas que, encarnando toda uma geração de sacrifício, procura exorcizar neste livro.


Armor Pires Mota:

Nasceu, em 1939, em Oiã, concelho de Oliveira do Bairro. Mobilizado, cumpriu o serviço militar na Guiné, nas piores frentes de batalha, Oio e Ilha do Como, onde Nino comandou a defesa (1).

Muitas vivências de guerra povoam parte da sua obra literária. Aliás, essa amarga experiência é-lhe recorrente.

Em poesia, escreveu Baga Baga (Prémio Camilo Pessanha) e O tempo em que se mata o mesmo em que se morre, mas foi à ficção que deu mais espaço: para além do livro de crónicas de guerra, Tarrafo (logo apreendido pela PIDE), escreveu Guiné Sol e Sangue, crónicas e ficção, Cabo Donato, Pastor de Raparigas, contos, e Estranha Noiva de Guerra, romance.

Jornalista, escritor e poeta, publicou duas dúzias de títulos, entre poesia, crónica, conto, monografia, biografia e romance.

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Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 27 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2889: A verdade e a ficção (1): Op Tridente, Ilha do Como, Jan / Mar 1964 (Mário Dias)

Referência a Armor Pires da Mota:

(i) Alf Mil do BCAV 490, de que era comandante o Ten Cor Fernando Cavaleiro (hoje, coronel na reforma);

(ii) Participou na Op Tridente (Ilha do Como, Janeiro a Março de 1964), sendo Fernando Cavaleiro o comandante das forças terrestres;

(iii) Em 1965, lança o seu novo livro Tarrafo (onde incluem estórias da batalha do Como), tendo esta publicação mandado ser recolhida pela PIDE (o livro foi reeditado em 1971) (...).