quinta-feira, 30 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4269: Agenda Cultural (10): Ciclo de Encontros Guerra Colonial: Realidade e Ficção - Alverca do Ribatejo (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70, com data de 15 de Abril de 2009:

Meu prezado Carlos, Não consegui abrir o documento que diz Guerra Colonial. Vê se tem interesse, por favor.
Um abraço do Mário

2. Conteúdo da mensagem (e seus anexos) referida por Beja Santos:

Exmo. Senhor,

No seguimento da nossa conversa telefónica, junto envio um resumo das sessões do ciclo de conferencias, conforme o que me solicitou. Envio também os materiais de divulgação para a sua sessão.

Cumprimentos
Ana Sousa

CICLO DE ENCONTROS GUERRA COLONIAL: REALIDADE E FICÇÃO
BIBLIOTECA MUNICIPAL DE ALVERCA DO RIBATEJO


Cartaz que anuncia a intervenção do nosso prezado camarada Mário Beja Santos, na 7.ª Sessão do Ciclo de Encontros, a ter lugar no dia 23 de Maio próximo, na Biblioteca Municipal de Alverca do Ribatejo.

“Guerra Colonial: Realidade e ficção”

1ª Sessão - 8 de Março, pelas 15.30h, com o Professor Doutor Rui de Azevedo Teixeira, na Biblioteca Municipal da Quinta da Piedade.

Biografia do autor convidado:
Alferes dos Comandos em Angola (1973-75);
Licenciatura e Mestrado em Filologia Germânica ;
Doutor em Letras (Aachen / Alemanha);
Docente Universitário em Angola e Moçambique;
Professor na Universidade de Colónia e na Universidade Aberta (desde 1998);
Autor dos livros “A Guerra Colonial e o Romance Português: agonia e catarse”, “A Guerra e a Literatura”, “O Fim do Império e a Novelística Feminina”, “O Leitor Hedonista: Sobre o Romance Português e Outros Textos” e “Uma Proposta de Cânone”;
Presidente da Comissão Organizadora e organizador dos volumes de textos das Actas dos I e II Congressos “A Guerra Colonial: Realidade e Ficção”;
Consultor do documentário “Anos de Guerra. Guiné 1963-1974” (RTP 1);
Autor do documentário “A Guerra Colonial: Realidade e Ficção” (UA / RTP 2).

2ª Sessão - 31 de Maio, pelas 16.30h, com o escritor Carlos Vale Ferraz, na Biblioteca Municipal de Alverca.

Notas biográficas do autor convidado:
Carlos Vale Ferraz (pseudónimo literário de Carlos Matos Gomes), foi oficial do exército. Cumpriu comissões durante a Guerra Colonial em Angola, Moçambique e Guiné nas tropas especiais “Comandos”.
Publicou os romances Nó Cego, ASP – de Passo Trocado, Os Lobos Não Usam Coleira, O Livro das Maravilhas, Flamingos Dourados e a novela Soldadó.
Colaborou com Maria de Medeiros no argumento do filme Capitães de Abril. É autor do guião da série de televisão “Regresso a Sizalinda”, com base no romance Fala-me de África.
Autor e Co-autor de várias obras sobre a história da guerra colonial: Guerra Colonial, Moçambique 1970: Operação Nó Gordio e Guerra Colonial: um Repórter em Angola.

3ª Sessão - 19 de Junho, às 21.30h, com as Dr.as Lídia Jorge e Carina Santos, na Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira,

Bibliografia da escritora Lídia Jorge:
Romance:
O Dia dos Prodígios (1960)
O Cais das Merendas (1982 – Prémio Município de Lisboa)
Notícias da Cidade Silvestre (1984 – Prémio Literário Município de Lisboa)
A Costa dos Murmúrios (1988)
A Última Dona (1992)
O Jardim sem Limites (1995 - Prémio Bordallo de Literatura da Casa da Imprensa)
O Vale da Paixão (1998 – Prémio Bordallo da Literatura da Casa da Imprensa; Prémio D.Diniz da Fundação da Casa de Mateus; Prémio PEN Clube Português de Ficção; Prémio Máxima de Literatura; Prix Jean Monnet de Literatura Européenne, European Writer of the year)
O Vento Assobiando nas Gruas (2002 – Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, 2003 – Prémio Correntes d’Escritas/Casino da Póvoa, 2004)
Combateremos a Sombra (2007)

Contos:
A Instrumentalina (1992)
Marido e outros Contos (1997)
O Belo Adormecido (2004)

Teatro:
A Maçon (1997)

Infantil:
O Grande Voo do Pardal (2007)

Bibliografia de Carina Santos, Mestre Interdisciplinar em Estudos Portugueses:

Ensaio:
A escrita feminina e a guerra colonial”, Editora Vega, 2003. Este trabalho inovador analisa o global da escrita feminina sobre o período da guerra colonial e, assim, o entendimento feminino de uma guerra de homens, pelas mulheres apenas sentida.

4ª Sessão – 27 de Setembro, às 15.30h, com o jornalista Joaquim Furtado, na Biblioteca Municipal de Alverca.

Jornalista de rádio e televisão, Joaquim Furtado foi o locutor que, na madrugada do dia 25 de Abril de 1974, leu o primeiro comunicado do MFA no Rádio Clube Português.
Sendo, autor de diversos programas, destacam-se “Os anos do Século” e mais recentemente, a série “A guerra”, galardoada com o Grande Prémio Gazeta, atribuída pelo Clube de Jornalistas. Com este programa televisivo, dedicado à guerra em que os portugueses se viram envolvidos em África, estamos perante uma investigação baseada numa cuidadosa e criteriosa pesquisa de arquivo, mas cuja construção narrativa, ao cruzar géneros jornalísticos diferenciados, possibilitou uma reconstituição de grande significado documental que, simultaneamente, permite uma melhor compreensão e abre novas perspectivas de abordagem sobre um período e acontecimentos de importância fundamental na nossa História recente.

5ª Sessão – 29 de Novembro, às 15.30h, com o escritor e ex-combatente, António Brito, na Biblioteca Municipal da Quinta da Piedade.

António Brito
Nasceu em Coimbra e é licenciado em Direito.
Antigo combatente da Guerra Colonial, aos 18 anos alistou-se nas Tropas Pára-quedistas, sendo mobilizado para Moçambique onde combateu nalgumas das mais importantes operações militares contra os guerrilheiros nacionalistas.
Colaborou em jornais de Moçambique e Portugal, trabalhou em multinacionais e escreveu argumentos e guiões para televisão. O romance “Olhos de caçador”, embora sendo uma obra de ficção, é baseado nas vivências africanas do autor na guerra de guerrilhas no antigo território português do Índico.

Olhos de Caçador” – Sinopse

“Olhos de caçador conta-nos a história de Zé Fraga, soldado mobilizado para a guerra colonial em Moçambique. Contrabandista e passador de emigrantes, vivia de expedientes e pequenos golpes nas serranias das Beiras e na fronteira com Espanha, até ao dia em que é preso, alistado e mobilizado compulsivamente para África. O passado rústico na fronteira vai fazer dele o soldado mais adaptado à dureza do mato africano, tornando-o uma referência de coragem e liderança para os soldados da Companhia. O seu comportamento ousado e provocador fá-lo confrontar-se com o comandante, mas é admirado pelos colegas do pelotão e temido pelo inimigo.

6ª Sessão - 28 de Março, às 15.30h, com a presença de dois autores do nosso concelho, Cristina Silva e Carlos Coutinho, na Biblioteca Municipal da Quinta da Piedade.

Biografia de Cristina Silva
Cristina Silva nasceu em 1964. É docente universitária, leccionando as cadeiras de Psicologia da Comunicação e da Linguagem e Seminário de Estágio no Instituto Superior de Psicologia Aplicada.
Doutorada em Psicologia da Educação, especializou-se na área de aprendizagem da leitura e da escrita, desenvolvendo investigação neste domínio com obra científica publicada em Portugal e no estrangeiro.
Em 2002 efectuou as primeiras incursões no domínio da literatura, tendo publicado até ao momento os romances: Mariana, todas as cartas (2002), Bela (2005), À meia-luz (2006) e As fogueiras da inquisição (2008)

Biografia de Carlos Coutinho
Carlos Alberto da Silva Coutinho nasceu em 1943. Mobilizado para a guerra colonial, passou dois anos em Moçambique como enfermeiro militar de Neuropsiquiatria.
Muito empenhado na agitação política, participou num movimento espontâneo e nunca articulado de criadores de cantigas de protesto que esteve na origem do “Cancioneiro do Niassa”. Regressado a Lisboa em 1969, enveredou pelo jornalismo e integrou-se mais profundamente na luta política contra o regime e a guerra colonial, vindo a ser preso em Fevereiro de 1973. Foi libertado em 26 de Abril de 1974, com a Revolução dos Cravos, tendo retomado a sua carreira jornalística em paralelo com uma actividade literária diversificada, de onde se destacam as novelas “Uma noite na guerra” e “O que agora me inquieta”, para além de diversas peças de teatro e de textos na área do jornalismo.

7ª Sessão - 23 de Maio, às 15.30h, com o Dr. Mário Beja Santos, na Biblioteca Municipal de Alverca.

Era uma vez um menino alferes que chegou à Guiné e foi lançado no regulado do Cuor, no Leste, em 1968. A sua missão principal era proteger o rio Geba, garantindo a sua navegação, indispensável para a continuação da guerra. O alferes comandava dois aquartelamentos e alguns dos soldados mais valentes do mundo: caçadores nativos e milícias, gente que vivia no Cuor, em Missirá e em Finete. Mas havia outras missões, para além de proteger o rio: emboscar, patrulhar, minar, atacar e defender, garantir um professor para as crianças, reconstruir os quartéis flagelados, levar os doentes ao médico, praticar com o régulo, um destemido Soncó, neto de Infali Soncó que derrotara Teixeira Pinto no dealbar do século XX. Era uma vez um alferes que aprendeu a trabalhar com um morteiro 81, a emboscar na calada da noite, a enterrar os mortos e a levar os moribundos às costas. Era uma vez um alferes que se deslumbrou com as terras dos Soncó e que resolveu escrever um diário para se manter vivo e lembrar aos entes queridos que se estava a fazer um homem. A partir daquela guerra, Cuor e os Soncó viveram para sempre no coração do alferes. Era uma vez…”
Documentos de Divulgação em anexo.

8ª Sessão – 18 de Junho, às 21.30h, com Dalila Cabrita Mateus, na Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira.
Esta sessão, com o título específico “Sobre a Guerra Colonial”, será apresentada por Dalila Cabrita Mateus, Doutora em História Moderna e Contemporânea e Investigadora do Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa (ISCTE).
Obras publicadas sobre a temática da Guerra Colonial:
Memórias do colonialismo e da guerra / Edições Asa, 2004
A Pide/DGS na Guerra colonial: 1961-1974 / Terramar Editores 2004
A luta pela independência / Editorial Inquérito, 1999

Outras sessões previstas sem convidado definido:
26 de Setembro
29 de Outubro
28 de Novembro
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4244: Agenda Cultural (10): Ciclo Temático "Portugal e a Memória, Guerra Colonial", 24 de Abril a 9 de Maio de 2009, em Torres Vedras

Guiné 63/74 - P4268: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (17): Até que a voz me doa (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia (*), ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 28 de Abril de 2009:

Ainda e sempre, e "até que a voz me doa", proclamarei a minha revolta contra os insultos de que fomos alvos indefesos (não estávamos presentes para rebatermos de imediato as aleivosias proferidas por A.B. no excerto do programa "Guerra" de Joaquim Furtado passado na RTP...) A este propósito não sei até que ponto seria de pensar fazer chegar o nosso blog a Joaquim Furtado, para que ele próprio pudesse daí tirar as ilações óbvias...

Das sextilhas que ora envio como forma de repúdio pelo silêncio mantido desde então pelo general, estou em crer que te enviei duas juntamente com umas oitavas na outra semana,ou duas atrás...

Agradeço que confiras, e confirmes, por favor, e se acaso o entenderes publica-as agora com estas, retirando as tais duas repetidas...

Um abraço para toda a tabanca.
Manuel Maia


Na ostentação de estrelas imer´cidas,
à custa de mil "bandos" conseguidas,
não sabe a criatura o que é vergonha.
O homem dos ray-ban,narciso feito,
carrega a lataria presa ao peito
mostrando pouca honra e muita ronha...

Acreditei que espicaçando a B.
"êsta" reagiria,ja se V.
engano meu,mutismo é sepulcral.
Os mortos mereciam mais respeito
daí esta evolta no meu peito
contra a desfaçatez do general...

Tem sangue de barata o "nosso herói"
sem pingo de vergonha,o que mais dói,
na ´sp´rança de que o tempo sare as feridas...
Por mim, jamais, prometo, ver esquecidos
a humilhação, o insulto dirigidos
a todos quantos lá deixaram vidas...

Um homem quando grande de verdade
assume os erros, mostra humildade,
lhaneza de carácter e lisura.
Quando estes atributos estão ausentes
assiste-se a posturas deprimentes
tal qual as teve a dita criatura...

Se escriba da VISÃO fez "mea culpa"
mostrando dignidade na desculpa,
porfia o estrelado em ser teimoso.
A cada dia o dito evidencia
ausência dum bom chá que lhe daria,
o porte de "homem grande" não vaidoso.


OBS: Caso para dizer: - O nosso Manuel não desiste
CV
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4263: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (16): Não devemos desistir e remeter-nos ao silência (Manuel Maia)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4267: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real, 20 de Junho de 2009 (3): Primeira lista de inscritos (Editores)


IV ENCONTRO NACIONAL DA TERTÚLIA
LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ


Caros camaradas e amigos tertulianos:

A sondagem que esteve patente na nossa página, para escolha da data do nosso próximo Encontro, deu os resultados que acima se apresentam (vd. gráfico).

Embora por pequena margem, ganhou o dia 20 de Junho: 27 votos num total de 64. Se considerarmos que votaram mais 5 na data seguinte (27 de Junho), o mês de Junho (sábados, 20 e 27) arrecadam 50% dos votos...

Em face dos resultados, resolvemos avançar com esta data (sábado, 20 de Junho de 2009) para não perdermos mais tempo.

Pede-se aos camaradas que já se tinham inscrito e que ainda o não fizeram, o favor de reconfirmarem a inscrição.

As inscrições devem ser feitas para mim, Carlos Vinhal, concentrando assim toda a informação num só local ou pessaoa.

Quando se inscreverem, digam sempre o nome da vossa bajuda, de onde se deslocam e, caso precisem, peçam a reserva para a dormida.

Em princípio ficaremos, os que assim quiserem, na Pensão Santa Rita, a mesma do ano passado. As instalações são razoáveis e tem parque privativo para o carro.

Como aconteceu em anos anteriores, os tertulianos poderão fazer-se acompanhar de outros camaradas não pertencentes à nossa Tertúlia. Todos os ex-combatentes serão bem-vindos.

Escusado será lembrar que uma inscrição atempada evita muito trabalho ao nosso camarada Mexia Alves, pois junto à data do Encontro tem de andar a correr todos os dias para o Restaurante para actualizar o número de participantes.

Para os mais distraídos fica a informação de que o IV Encontro será no mesmo local do III, Ortigosa, MOnte Real, Leiria, e o Restaurante será o mesmo, Quinta do Paúl.

Os do Norte têm como novidade a A17, a partir da A25, que tem uma saída para Monte Real. Chegando à EN 109 segue-se para sul, em direcção a Leiria.

Esquema de localização e de como chegar à Quinta do Paúl.


Lista provisória de inscritos

António Graça de Abreu - Cascais
António Martins de Matos - Lisboa
António Santos e Graciela - Loures
Artur Soares - Figueira da Foz
Belarmino Sardinha e Antonieta - Odivelas
Benjamim Durães - Palmela
Carlos Silva e Germana - Lisboa
Carlos Vinhal e Dina - Leça da Palmeira, Matosinhos
David Guimarães e Lígia Maria - Espinho (a confirmar)
Delfim Rodrigues - Coimbra
Eduardo Magalhães Ribeiro e Fernanda - Porto
Fernando Oliveira e Maria Manuela - Porto
Giselda Pessoa - Lisboa
Hernâni Acácio Figueiredo - Ovar
Humberto Reis e Maria Teresa - Alfragide, Amadora
Jaime Machado e Maria de Fátima - Lavra, Matosinhos
Joaquim Mexia Alves - Monte Real
Jorge Cabral - Lisboa
Jorge Picado - Ílhavo
José Brás - Montemor-o-Novo
José Casimiro Carvalho e Esposa - Maia (a confirmar)
José Manuel Matos Dinis - Cascais
José Pedro Neves e Ana Maria
Juvenal Amado - Fátima
Luís Graça e Alice - Alfragide, Amadora
Luís Moreira - Lisboa
Manuel António Rodrigues - Mortágua
Manuel Augusto Reis - Aveiro
Miguel Pessoa - Lisboa
Raul Albino e Rolina - Vila Nova de Azeitão
Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira, Matosinhos

Em próximo poste serão divulgados os preços do almoço e da dormida. Estas informações serão recolhidas pelo camarada Mexia Alves na próxima semana.

Um abraço e até breve
CV
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4186: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real, 6 de Junho de 2009 (1): Abertura das hostilidades (Editores)

Guiné 63/74 - P4266: Louvores e condecorações (7):O 10 de Junho de 1973 - Um louvor, uma estrada e suas gentes: Cadique/Jemberém (António Manuel da Conceição Santos)

 



António Manuel da Conceição Santos 
Ex-Furriel Miliciano de Operações Especiais - RANGER da CCAÇ 4540






CCAÇ 4540 – CADIQUE (Região de Cantanhez – zona libertada) 1972 a 1974 

Breve resumo da minha trajectória na Guiné 


Desembarquei na Guiné em 26 de Outubro de 1972.
Como a CCAÇ 4540 já se encontrava no Norte da Guiné na localidade de Bigene, mandaram-me para lá com uma guia de marcha (transporte em coluna terrestre). Quem emitiu a guia de transporte não sabia as dificuldades que se deparavam para lá chegar, por esta via. Tenho impressão que, se não me tivesse "desenrascado", ainda hoje andava à procura de uma coluna militar com o mesmo destino. 
Todavia, encontrei em Bissau, um sargento meu amigo, cá dos "Algarves", que se prontificou a ir comigo ao Quartel-general de Bissau e responsabilizar-se pelo meu transporte até Bigene. 

Como ele era da marinha e precisamente nessa semana (finais de Outubro/1972) se deslocava a Bigene, para efectuar um reabastecimento à nossa Companhia de Caçadores, deu-me "boleia" e assim cheguei à minha guerra. 
A 12 de Dezembro de 1972, desembarcamos em Cadique – região de Cantanhez – zona libertada do PAIGC, cuja história conto e ilustro neste texto. 
Em finais de Agosto 1973, regressamos a Bissau e fomos colocados a 8 de Setembro de 1973 em Nhacra, ficando eu a comandar a secção de Ensalmá, que efectuava o controlo de viaturas que circulavam numa pequena estrada, que passava sob uma pequena ponte junto a esta localidade, muito próxima de Bissau. 
Em 25 de Agosto de 1974 regressei à Metrópole no paquete UÍGE, que chegou a Lisboa em 30 do mesmo mês, tendo passado à disponibilidade em 22 de Setembro de 1974. 
"10 de Junho de 1973" 
UM LOUVOR, UMA ESTRADA E SUAS GENTES 
Estávamos a 12 de Dezembro de 1972, quando desembarcámos de bordo, da LDG BOMBARDA, na localidade de Cadique, situada na península dos rios Cumbijã e Cacine. Levávamos como missão, recuperar a zona de Cantanhez ao PAIGC. Tal feito foi conseguido com o auxílio da Força Aérea Portuguesa e um bi-grupo da Companhia de Caçadores Paraquedistas – 121. Sua Exª O General António de Spínola (Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas), acompanhou sempre de perto o desenrolar desta operação que ainda tenho no meu pensamento. Foi designada por: “GRANDE EMPRESA” e durou até ao dia 17 de Agosto de 1973.  

Tudo foi muito difícil. Não havia nenhuma estrutura montada, a situação era de total isolamento e a logística era muito precária. Mas começamos por ir desbravando a mata que, naquela região era muito densa. Depois com a ajuda de máquinas de engenharia militar construímos as nossas “fortalezas”, uns pequenos buracos feitos no chão, tapados com paus de palmeiras e terra por cima (não fosse cair alguma morteirada lá em cima). Abrimos estradas, poços e construímos um heliporto e um cais. Assim criamos as mais ínfimas e elementares condições para sobreviver. 
Mais à frente da nossa posição, existia uma ou outra “tabanca” dispersas, ocupadas por velhos e crianças, pois os mais novos debandaram e juntaram-se ao PAIGC. Fomos desbravando a mata com muito custo e suor. O sol não nos ajudava muito, com um brilho intenso, passava repentinamente a escuro e barulhento. Trovoadas e chuvas intensas, faziam de nós farrapos humanos, mas lá conseguimos montar o nosso aquartelamento dentro de uma clareira que conquistamos àquela mata tropical. 
Assim, embora o terreno fosse plano estávamos cercados, por um lado por uma extensa bolanha, e pelo outro lado, pela extensa mata de Cantanhez até à aldeia de Jemberém. A Norte passava o Rio Bixanque que desagua no Cumbijã e a Sul tínhamos o Rio Macobum. Rodeados de mosquitos por todos os lados. 

Um pouco mais distante, mas não muito, encontramos a aldeia de Cadique Nalú e de Cadique Imbitina, com a existência de alguma população e um pouco mais a Norte, encontramos a aldeia de Cadique Iala, um importante aglomerado populacional. 
A minha CCAÇ 4540 (Companhia de Caçadores), esteve quase sempre acompanhada por uma Companhia de Paraquedistas, depois por uma Companhia de Fuzileiros e, finalmente, por uma Companhia de Comandos.  

Os primeiros contactos que tivemos fisicamente com os turras, eram quase diários, pelo que optamos pelas emboscadas. Nestas confrontações posso afirmar, sem qualquer sombra de dúvida, que a seguinte era sempre mais difícil que a anterior. Muitas foram as nossas acções programadas e concretizadas com a intenção de por fim à intensificação dosa ataques do inimigo que, cada vez mais, se fazia sentir naquela região de Cantanhez. 
Tinha que se fazer alguma coisa para por fim àquela flamejada situação. Então, politicamente, foi decidido construir uma estrada desde Cadique a Jemberém. 
Para tal, foi desbravada a floresta, palmo a palmo por uma Companhia de Engenharia Militar sendo que, a nossa Companhia de Caçadores 4540 ficou incumbida de fazer a protecção diária à obra, aos adstritos trabalhos da construção da estrada (*) e aos respectivos trabalhadores militares e civis. 
10 de Junho de 1973 
Assim, no dia 10 de Junho de 1973, em Cadique, fomos atacados com tiros de canhão sem recuo e morteiradas de 82, bem como com fogo de canhão 6F7-66 e 6F5-95. Nesse dia estávamos a descarregar a LDG “Bombarda”, que tinha vindo reabastecer as nossas tropas. Foi um inferno, só assim sei descrever, felizmente não houve vítimas, mas a destruição foi enorme. 
De imediato, as nossas tropas reagiram ao fogo do IN (inimigo) com morteiros de 60, bazucas, G3 e HK21, tendo também a LDG "Bombarda" reagido ao ataque do IN e, em simultâneo, foi pedido, por nós, apoio de fogo com obus a Cufar. 

Estava eu a chegar ao acampamento numa Berliet atestada de mantimentos que tinha ido carregar à LDG, quando subitamente, fomos atacados com artilharia pesada já dentro do acampamento. 
Acto contínuo (poucos dias antes tinha visualizado a zona numa carta militar), orientei o tiro do morteiro 81 para um “azimute” virtual, afim de determinar a localização do IN e, calculando mentalmente a distância então visualizada, fiz calmamente "cantar" o seu tubo. A raiva era tanta que acertei em cheio na base de fogo do IN, tendo-se feito um silêncio profundo e terminado o tiroteio de ambos os lados. 
Por estes factos fui assim, naquele dia 10 de Junho de 1973, louvado pelas altas patentes militares, pela eloquente maneira como reagi debaixo do intenso fogo IN. Fi-lo fora da minha posição de defesa, tornando-me útil ao acorrer de imediato ao espaldão do morteiro 81 e ao ser ainda o primeiro homem a reagir, acertadamente, ao ataque do IN. 

Após a construção daquela estrada, deixamos Cadique. É certo que ficámos com saudade, pois foi com muito sacrifício que ajudamos a construir aquela estrada. Posteriormente, colaboramos na construção de várias tabancas naquelas aldeias perdidas no mato e contrubuímos para o desenvolvimento e a prosperação daquela região de Cantanhez.  
Lá ficou um pedaço de nós todos, do nosso suor e muitas lágrimas derramadas e partilhadas com as nossas mães. Os nossos pais aguardavam desesperadamente o nosso regresso, pois as notícias tardavam e os meios de comunicação eram deficientes. Lembro-me, como se fosse hoje, do dia em que se ouvia o helicóptero chegar trazendo os nossos aerogramas. Eram notícias da civilização que se dissipavam à medida que se deixava de ouvir o ruído daquela máquina voadora. 

Dizia um, olha o meu filho já diz papá… mais ao lado, dizia outro com a voz triste e meio chorosa, chorosa sim, porque estava angustiado, que a namorada não aguentava mais tão longa separação e que sua mãe estava a passar mal. Outros encostados aos troncos das árvores, estavam em silêncio, daquele silêncio que todos nós já estávamos habituados, até que se ouviu um camarada, que olhando para o infinito do céu, murmurou: “Não tenho notícias da minha gente... há mais de três semanas que não recebo nenhum aerograma, não sei o que fazer”. 
Tudo isto meus amigos, meus camaradas de armas, marcou-nos de facto e como disse o nosso Capitão Manuel Varanda Lucas: “Pedaços de nós todos ficaram indissoluvelmente ligados para sempre a Cadique”.
Por muito que nós tivéssemos feito, ficou ainda muito por fazer, nomeadamente, não conseguimos transmitir os nossos usos e costumes às gentes daquelas aldeias, que viviam em tribos e se vestiam apenas com uma tanga. O seu modo de estar na vida, a sua alimentação era muito deficiente e o conceito de trabalho não existia. Estes nossos valores inquestionáveis não foram aceites por aquelas raças Balantas e Nalus. 
Hoje, tal como no passado, devemos erguer a nossa voz, para que as Organizações Internacionais interfiram junto dos mais jovens, na tentativa de encontrarem melhor sorte de vida. 

E a nós, “gentes” que tão bem, melhor do que nos ensinaram, soubemos defender a nossa Pátria, quais “Bandos” porque somos agora intitulados, mas que jamais ousamos voltar as costas ao perigo, mesmo nas mais sangrentas confrontações (e agora deixo de utilizar o termo IN), com os guerrilheiros do PAIGC. 

Que ousadia meu Deus, utilizar aquele termo de “bandos” que ofendeu muitos milhares de ex-militares que passaram por Angola, Moçambique, Guiné ou Timor. Quantos lá não ficaram, quantos regressaram mortos ou feridos, quantos não ficaram inutilizados para o resto da vida, quantos meu Deus?! 

Passados tantos anos, muitos ainda sofrem de doenças graves e apresentam traumas da guerra. 

Quantos não vieram sem pernas, ou sem braços?!

Quantos são aqueles que hoje nos apelidam de “Bandos”? 

Tu que está a ler este texto, dizes para contigo, conhecido “somente um”, que Deus o perdoe porque não sabe o que diz. 
__________
(*) - Estou a construir um blogue, cujo endereço é: http://www.umraiodeluzefezseluz.blogspot.com/, onde coloquei um ficheiro: “A MINHA GUERRA 1972 a 1974 Guiné” onde se pode ver essa mesma estrada e uma das aldeias. 
(António Manuel C. Santos, Ex-Furriel Miliciano de Operações Especiais/RANGER) 

Guiné 63/74 - P4265: Estórias avulsas (10): De que me lembro é dos mosquitos e do Lion-Brand (Fernando Oliveira)

1. Mensagem de Fernando Oliveira, ex-Fur Mil Rec Inf, Guidage e Mansoa, 1968/70, com data de 22 de Abril de 2009:

Amigo Carlos,

Já vi a minha apresentação na Tabanca e o texto que te enviei na altura. Obrigado pela tua disponibidade.

Hoje envio-te outro texto [já foi publicado no meu
blogue
no dia 14 deste mês], que fica ao teu dispôr, se considerares que é de publicar e, em caso afirmativo, quando achares coveniente, ok?

Este texto, como o outro que te referi no mail do pedido de admissão, também têm como objectivo a procura dos meus camaradas da especialidade. Vamos lá ver se consigo algum contacto.

Um abraço e saúde, sempre!
Fernando Oliveira


A minha tropa [2]

Guiné -> Guidage -> Nov.68 a Fev.69 [1]

Corria o mês de Setembro/68, na altura dava formação a recrutas em Vila Real, quando tive conhecimento da minha mobilização para a Guiné em rendição individual. E foi também deste modo que a mobilização saiu em sorte à maior parte dos meus camaradas de especialidade, todos eles colocados de norte a sul do país em diversas unidades militares. Com mais cinco ou seis, que, entretanto, foram deslocados para outros destinos ou funções, tínhamos feito parte do pelotão de RecInfo, em Tavira, durante o último trimestre do ano anterior.

Após uma viagem de cinco dias a bordo do Uíge, eu e os outros vinte e poucos daqueles camaradas, promovidos a furriéis milicianos por antecipação, por força da mobilização para o Ultramar, desembarcámos em Bissau na tarde de 28-10-1968.

Foi-nos dada formação militar específica durante duas semanas no SIM/CTIG em Bissau, com vista à criação de uma rede do serviço de informações por toda a Guiné. Findo esse período, tomámos, então, conhecimento dos sítios para onde cada um de nós seria deslocado, sendo notório para todos que a separação operacional do grupo começava naquela altura.

A mim, calhou-me ser enquadrado no destacamento de Guidage, situado no norte, junto da fronteira com o Senegal. Aos meus camaradas saiu-lhes a colocação individual em vinte e tal aquartelamentos ou destacamentos das nossas tropas na Guiné.

Um ou dois dias depois daquela comunicação, fui transportado, de manhã cedo, ao aeroporto militar de Bissalanca, perto de Bissau. E passado pouco tempo estava instalado dentro de um Dakota para um voo até Farim. Fiz a viagem sentado num dos bancos de cordas, existentes de cada lado do interior do avião.

Após a aterragem no campo de aviação de Farim e feitas as habituais diligências de apresentação ao respectivo comando, foi-me dito que a coluna militar para Guidage sairia apenas na manhã do dia seguinte. Nessa noite, se me recordo bem, fiquei instalado num barracão ou num hangar junto do aeródromo. E pela primeira vez tomei contacto com a realidade dos mosquitos na Guiné, que atacam em força e de qualquer jeito. Como no sítio não havia mosquiteiros, a alternativa foi a utilização do Lion (1) durante toda a noite.

Com uma noite mal dormida, na manhã seguinte apresentei-me junto do militar responsável pela coluna que ia sair de Farim. E não refiro que ia sair para fazer o trajecto de Farim até Guidage, pois recordo vagamente que o destino final do grosso desta coluna foi outro e que, pelo caminho, num cruzamento de picadas (2) estava à nossa espera uma coluna vinda de Guidage. Mas, como digo, a esta distância de 40 anos, a lembrança não é firme (3). Recordo ainda que a coluna saída de Farim era composta por um comboio extenso de viaturas, com vista ao transporte de militares, civis e abastecimentos diversos. Na cabeça da coluna e um pouco distanciada das restantes, creio que seguia uma viatura anti-minas, precedida de soldados a picar o caminho para detectar minas enterradas no chão. Não me lembro quantas horas demorou esta deslocação terrestre, nem sei se avistei Guidage ainda naquela manhã ou se a tarde já tinha avançado.

O certo é que cheguei ao destacamento de Guidage. Em que dia?... Não me recordo, sei apenas que estávamos em Nov/68.

Notas:

(1) Aquele nome era a marca de um produto, de cor verde, formatado em tiras finas e em espiral, que se colocava em cima de uma pequena base metálica. Queimando-se a ponta exterior da espiral, então, o produto ardia lentamente e deixava o ar impregnado de um odor que afugentava os mosquitos.

(2) Designação dada aos caminhos ou trilhos de terra, que serviam de acesso entre povoações e/ou instalações das nossas tropas ou do inimigo. Uns mais largos, outros mais estreitos, todos de difícil trânsito, quer pela possibilidade de colocação de minas por parte do inimigo, quer pelos efeitos alagadores da época das chuvas.

(3) Neste texto, como em outros que tenciono escrever a respeito da minha tropa na Guiné, há certas imprecisões acerca de alguns factos ou de datas. E agora não os posso confirmar, porque, devido às voltas e reviravoltas da minha vida pessoal, já não existem as centenas de cartas, aerogramas e fotos que enviei de lá durante dois anos.

__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4214: Tabanca Grande (135): Fernando Oliveira, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné, 1968/70)
e
21 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4225: Estórias avulsas (30): Periquitos empoleirados numa GMC (Fernando Oliveira)

Vd. último poste da série de 22 de Abril de 2009 : Guiné 63/74 - P4235: Estórias avulsas (31): Recordar aos poucos ou circuncisão espectacular (Hélder Sousa)

Guiné 63/74 - P4264: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (4): Inauguração em Setembro do Museu Memória de Guiledje


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 15 de Março de 2009 > "Estudando o estado de saúde das crianças " [Foto tirada em 15 de Janeiro de 2009].


"A Drª Vera Bernardino procede, na Escola de Gã Mela, em Cantanhez, à avaliação de parâmetros antropométricos das crianças que a frequentam, com o objectivo de elaborar um programa de prevenção para toda a população desta zona, com base na intervenção que as escolas locais devem passar a fazer.

"Conjuntamente com a Drª Maria Miguel Almiro, estas médicas integram um excelente grupo de trabalho do Centro de Investigação em Saúde Comunitária, [do
Departamento Universitário de Saúde Pública, Faculdade de Ciências Médicas, ] da Universidade Nova de Lisboa que vem trabalhando regularmente nesta zona do país, com o objectivo de encontrar respostas locais às deficiências encontradas para o baixo nível de hemoglobina, os parasitas internos e externos, a suplementação com multivitaminas, ferro e ácido fólico dos alunos, bem como elaborar um programa de formação de professores na área da saúde.

"Pela primeira vez na Guiné-Bissau, as Drªs Bernardino e Almiro elaboraram com os técnicos da Televisão Comunitária Massar, programas sobre cuidados de saúde primários, higiene e nutrição, perfeitamente adaptados às condições e recursos locais. Cinco Estrelas!"


Foto e legenda: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados


1. Há dias perguntei por notícias aos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, ONG com a qual temos uma relação de colaboração e de amizade (*)... Eis a resposta do seu director executuvo, o Eng Agr Carlos Schwarz (Pepito, para os amigos):

Luís: Há trabalho que nunca mais acaba. Em meados de Julho provavelmente estarei aí. Na próxima semana começa a cobertura do museu de Guiledje e na outra o mosaicamento.

abraços para ti, Alice, João e Joana

pepito


2. Esta ONG está na Internet desde Outubro de 2004. Nos dois primeiros anos, o sítio da AD recebeu mais de 8.000 visitantes de países tão diversos como Portugal, Estados Unidos da América, Brasil, França, Espanha, Bélgica, Senegal, Itália, Áustria e Holanda (para além da própria Guiné-Bissau): "Tivémos visitantes de todos os continentes, essencialmente da Europa (74%), América (16%) e África (5%)"...

Em Outubro de 2006, a AD desenvolveu três sítios distintos, contando como sempre com o apoio competente e entusiástico do Prof Filipe Santos, da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria:

i) um portal próprio sobre a Guiné-Bissau, dando a conhecer os aspectos mais importantes deste país lusófoNO (aspectos históricos, culturais e geográficos);

(ii) um portal para a Rede Nacional das Rádios Comunitárias da Guiné-Bissau (RENARC)

(iii) e um portal para a Escola de Artes e Ofícios (EAO), que também pertence a esta ONG.




No sítio da AD - Acção para o Desenvolmento está já disponível o seu relatório de actividades do ano de 2008, onde são feitas elogiosas referências ao nosso blogue e aos nossos camaradas que mais contribuiram para a divulgação e o sucesso do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008), com destaque para Nuno Rubim, Abílio Delgado, Zé Carioca e Diamantino Figueira, além do Luís Graça e do Eduardo Costa Dias.

Da análise das actividades planeadas e em curso no ano de 2009, destaque-se a construção e a inauguração (prevista para Setembro) do Museu de Guileje, uma iniciativa que tem, desde o início, o apoio do nosso blogue.

2009 - ACTIVIDADES PRINCIPAIS DA AD

1. A nível Global

1.1. Realização do Seminário de Vulgarização de 3 a 6 de Novembro, em
Iemberém.

1.2. Utilização das Televisões e Rádios comunitárias para a vulgarização de
temas agrícolas e de saúde, higiene e nutrição.

1..3. Desenvolvimento institucional de uma colaboração prática com ONG e organizações dos países vizinhos, em especial das zonas fronteiriças (Ziguinchor e Boké)

2. Programa de Apoio aos Agrupamentos do Norte

2.1. Elaboração de uma estratégia de desenvolvimento da Fruticultura com relevo especial para a Fileira Mango:

-Campanha de combate à mosca da fruta, através de técnicas adaptadas, formação de técnicos e fruticultores, disponibilização de produtos e material de tratamento e
utilização dos meios de comunicação comunitários (rádios e tv)
-realização de um trabalho de tipologia das explorações frutícolas, para melhor identificar as formas de acção para os diferentes níveis de fruticultores


2.2. Consolidação da Rede das Escolas EVA, especialmente nos domínios de:

-Intercâmbios entre escolas e com experiências de países vizinhos
-Formação de professores em ecopedagogia
-Edição de um Jornal da Rede
-Publicação do Repertório de todas as Escolas EVA [Escolas de Verificação Ambiental]
-Apoio à criação da Rede das EVA de Cantanhez


2.3.Repovoamento do Mangal da parte norte do Parque Nacional de Cacheu, estreitando a colaboração com as organizações vizinhas da Casamança

2.4. Início das emissões hertzianas da Televisão Comunitária TV Bagunda (8 de (Maio), do funcionamento do Mercado Comunitário de S.Domingos (Março) e do Laboratório de formação em instalações eléctricas do CENFOR (Setembro)

2.5. Continuação do programa de apoio sanitário animal e de formação de para-veterinários


3. Programa Integrado de Cubucaré

3.1. Consolidação do Programa de Ecoturismo:

-inauguração dos 3 bungalows de Faro Sadjuma (Maio)
-construção do restaurante de Iemberém com a inauguração em Novembro
-inicio da construção de bungalows em Canamine e Ilhéu de Melo
-conclusão dos estudos para a publicação dos Guias da Fauna e da Flora de Cantanhez:
-formação de agentes e trabalhadores do serviço de ecoturismo


3.2. Campanha de combate à mosca da fruta, dos mangueiros e citrinos nos mesmos moldes do PAN (técnicas adaptadas, formação, produtos de tratamento e informação através das rádios e tv

3.3. Conclusão da construção do Museu “Memória de Guiledje” (Junho) e sua inauguração (Setembro)

4. Bairro de Quelele

4.1. A Escola de Artes e Ofícios apostará fortemente nos cursos de Hoteleira e Turismo a iniciar em Fevereiro e em formações descentralizadas através da venda de serviços a outras organizações.

4.2. Programação atempada e organização de uma forte campanha de prevenção e combate à próxima epidemia de cólera da época das chuvas.

4.3. Conclusão da construção (Maio) e início do funcionamento (Julho) do Estúdio Áudio-Visual para a gravação de CD de música de jovens cantores das rádios comunitárias e de tipo tradicional, assim como para a produção de DVD musicais de grupos culturais e de teatro.

________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3895: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (3): Governo entrega antigo quartel de Guileje e o Pepito chega hoje a Lisboa

Vd. também os dois postes anteriores:

31 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3822: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (2): Segurança alimentar (o mangal que dá de comer...) e turismo de saudade

6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3573: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (1): Os elefantes voltam ao Cantanhez

Guiné 63/74 - P4263: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (16): Não devemos desistir e remeter-nos ao silência (Manuel Maia)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 22 de Abril de 2009:

Num comentário do Jorge Picado, que muito agradeço, foi-me dito que o infeliz não leria o meu soneto ou a sextilha (*).

É provável que não, mas por outro lado, estou certo que alguém dirá ao homem do nosso descontentamento...

Dá-me a sensação que vão surgindo já tentativas de lavagem do discurso, esperemos...

Assim, entendo que não devemos desistir e remeter-nos ao silêncio pois certamente é isso que esperam...

Estou persuadido que a atitude correcta passará por não deixar esfriar até o homem dos Ray-Ban do alto do seu pedestal apresente um pedido formal de desculpas.
Nessa altura, será enterrado o machado de guerra e deixaremos o homem gozar a choruda reforma que conseguiu graças a tantos bandos...

Neste pressuposto alinhavei mais duas sextilhas e um soneto, sendo que neste caso o alvo não se restringe a A.B. mas a todos quantos - oficiais a este nível- colaboraram na farsa da nossa derrota militar...


VERGONHA

Coberto foi com manto da vergonha
país de marinheiros geniais.
(berçário de Gamas e Cabrais)
na mancha de sacrílega peçonha...

Mostrando não ter honra mas sim ronha,
do risco se ausentando dão sinais,
negando juramento e ideais,
vileza cometeram tão medonha...

Gentalha vil, despida de ousadia,
e nua de coragem, valentia,
sem brio ou dignidade militar

Denota só interesse no cifrão
- a farda não é mais que profissão -
sem risco, e com medalhas a exornar...


Manuel Maia
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4208: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (15): Curvo-me perante V.Ex.ª, uma vez mais... (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4262: Recortes de imprensa (16): O Morto-vivo no Jornal de Notícias e em O Comércio do Porto (Mário Migueis)

1. Todos sabemos que o regresso do nosso camarada Batista originou notícias sensacionais na imprensa. Depois de considerado morto e sepultado na sua terra natal, o regresso do morto-vivo, não passou despercebido.

O nosso Blogue tem uma série dedicada a este assunto. O Batista é nosso tertuliano e membro da Tabanca de Matosinhos, onde é visto frequentemente. É acarinhado por todos os seus camaradas, alguns dos quais se têm empenhado para que ele consiga obter os direitos inerentes à sua condição de ex-combatente e ex-prisioneiro de guerra.

Mário Migueis da Silva (*), que de perto assistiu à tragédia do Quirafo, escreveu uma história baseada neste acontecimento. Foi publicada no JN do dia 28 de Setembro de 1985, de que damos hoje a devida projecção, com a devida autorização daquele Jornal.

Por que o recorte não é muito legível, optamos por reescrever todo o texto, apresentando somente a parte superior para efeitos de identificação do jornal.
CV




2. JN 28/9/85
O Morto-vivo

Por Mário Migueis Ferreira da Silva
(*)
(Esposende)

Oito da manhã. De uma calma e radiosa segunda-feira, convidando a um bem disposto espreguiçar.

Ora escorrendo, sonolento, ora escorregando, brincalhão, em pequenas e ridentes cataratas, o rio Corubal espelhava o já abrasador sol daquele dia.

Ainda com a última bucha do pequeno-almoço na boca, os piras do segundo pelotão chegavam e iam ocupando as duas viaturas, que, roncando, aguardavam o sinal de partida.

Através de umas seteiras do seu abrigo, o olhar inquieto do furriel Simões esperava alguém. E, quando o soldado Batista se aproximou, baixou-se instintivamente, procurando esconder a sua envergonhada condição de observador furtivo.

Dobrado sob o peso do grande rádio de transmissões que lhe cobria todo o magro dorso, o Batista subiu, com certo esforço para uma das viaturas. Mentalmente, recordava a cena da noite anterior no posto de rádio:

- ... Um minuto ou mais é a mesma coisa! A rendição do posto tem que ser feita à hora exacta e não é admitido quaisquer desculpas. Amanhã, vais tu com o grupo do Quirafo.

O furriel Simões parecia adivinhar-lhe os pensamentos. Na verdade, tinha sido estúpido ao castigá-lo tão duramente. Era necessário disciplinar os homens, é certo... mas o Batista até nem era mau rapaz. Era educado, respeitador... Bastaria tê-lo admoestado, talvez... Mas, enfim, agora nada havia a fazer.

Às cavalitas da velha “GMC” da frente, o alferes lançou um rápido olhar à retaguarda e deu ordem para avançar. O condutor não se fez rogado: pisando o acelerador com alegria, logo deixou para trás o arame farpado do aquartelamento, seguido de perto pelo burrinho, que, gingando e pulando a cada cova, não queria ficar para trás.

Do lado de cá das espessas núvens de pó, o Simões magicava. Aquele aspecto guerreiro dos homens, armados da cabeça aos pés, deixava-o, desta vez, preocupado. Arrependido da decisão que tomara em relação ao Batista, começou, de repente, a recear que o destino lhe reservasse alguma partida. Aquela picada que andavam a desmatar, lá prós lados de Boé, poderia, em sua opinião, ser um bico-de-obra dos graúdos.

- E se, por azar, acontecesse alguma coisa? E se caíssem numa emboscada? E o Batista?!... E se o Batista ficasse gravemente ferido ou até morto?...

A ideia de tal peso na consciência passou a assustá-lo e não pôde deixar de continuar a preocupar-se.

- Só estarei sossegado quando todos regressarem sãos e salvos.

Tentando dominar todo aquele pessimismo de circunstância, puxou de mais um cigarro. Mas foram nervosas aquelas chupaças profundas com que, cabisbaixo, se dirigiu para a messe.

Escrevia para a família, quando ouviu o primeiro rebentamento. Estremecendo, distinguiu perfeitamente, na direcção do Quirafo, o matraquear contínuo das armas automáticas e os rebentamentos que se sucederam, galopantes.

Quando deixou de os ouvir, correu para fora. Apurou o ouvido, mas nada mais escutou.

- Tudo tão rápido! Um minuto ou dois, no máximo... Que se teria passado?!... Emboscada?... Haverá baixas? Mortos?!...

A imagem sombria e triste do Batista passou-lhe diante dos olhos. Aturdido, sacudiu a cabeça, como quem quer acordar de um sonho mau.

Já os grupos de intervenção partiam em direcção a Madina, quando o Simões correu para o posto de transmissões. Depois daquele tremendo choque eléctrico, que lhe percorrera o corpo todo, atormentavam-no agora a incerteza, o medo... Não queria acreditar no que lhe estava a acontecer.

Entraram em contacto com o destacamento de Madina, mas as primeiras notícias concretas trouxe-as, porém, um nativo, vinte minutos mais tarde. Viera correndo, a corta-mato, para avisar a tropa do Saltinho.

- Morreram muitos! Prá'i vinte! Morreu tudo queimado!...

Simões sentiu-se desfalecer. Gemeu um "Meu Deus" e quis agarrar-se a alguém para não cair. As pernas, porém, dobraram-se-lhe pelos joelhos e tombou pesadamente no chão.

Visivelmente traumatizado no espírito, mas ileso no corpo, chegaria, pouco depois, o condutor da primeira viatura, que o acaso poupara a tão trágico fim. Nervosíssimo, deambulando de um lado para o outro, parecia não sentir-se ainda em segurança. Respondia, no entanto, a cada pergunta, a cada súplica.

- Os que iam comigo morreram todos. Além de mim, o único que saiu vivo da picada foi o Batista. Vi-o correr, todo ensanguentado, pelo mato...

Quando o Simões recobrou a consciência e soube que o Batista, afinal, não estava morto, ganhou novo alento. Mas não almoçou. Nem jantou.

- Onde estará o rapaz?! Por que não apareceu ainda? Serão os ferimentos tão graves que o impeçam de chegar ao Saltinho ou, pelo menos, a Madina, que fica a dois passos apenas do local da emboscada?!...

Às duas da manhã, só, num canto da messe, continuava a esperar que o Batista aparecesse ou desse sinal de vida. Lá fora, aparentemente indiferentes a toda aquela tragédia, os cangalheiros trabalhavam. O Simões, esse, desesperava. Cada martelada parecia querer rebentar-lhe os tímpanos e o sistema nervoso.

Mas controlou-se. E ele, que nunca fora muito de ir à missa, começou antão a rezar todas as orações que aprendera em criança. E entre cada oração, a súplica constante:

- Ó Minha Nossa Senhora, fazei com que ele apareça! Não permitais que eu viva com tamanho remorso o resto da minha vida!...

E prometeu ir a Fátima, a pé.

Alvoreceu. Com o apoio de helicópteros, começaram as buscas, palmo a palmo, tentando localizar o homem. O Simões que nelas participava activamente, não se cansava nem se esquecia de orar em silêncio, renovando vezes sem conta a sua promessa de ir a Fátima. Mas o pobre do Batista não havia de aparecer. Nunca mais!... Nem vivo, nem morto...

Vinte meses após tão fatídico dia, o Simões descia a escada do avião que o trazia definitivamente para a metrópole. O seu semblante, carregado e tristonho, recordava agora, com mais intensidade ainda o desventurado Batista que, por sua culpa, morrera tão brutalmente.

À sua volta, a companhia inteira cantava, gritava, dançava...

- Podia estar aqui agora, rindo e cantando como os outros!... Talvez com os pais, velhinhos, a esperá-lo lá no fundo!...

Ao imaginar a ternura daquele abraço impossível, duas grossas lágrimas lhe rolaram pela face. E sentiu, de novo, aquele tremendo nó seco na garganta, que lhe comprimia a alma.

Já depois da independência, quando, um dia, lhe perguntaram, lá no escritório onde trabalhava, se já tinha lido a história do "gajo que tinha sido dado como morto na Guiné e que acabava de regressar", arrepiou-se todo.

Inquieto, cheio de pressentimentos, não esperou pelo intervalo do almoço. Desculpou-se e correu a comprar o jornal.

- "MORTO-VIVO DEPÔS FLORES NA SUA CAMPA"

Ainda na primeira página, a fotografia de um moço de bigodito. Curvado sobre uma campa. E na campa, uma lápide onde podia ler-se distintamente:

"À MEMÓRIA DE ALFREDO COSTA BATISTA.
FALECEU EM COMBATE NA PROVÍNCIA DA GUINÉ EM 17/4/72"

Dias depois, o Simões enfiou o seu velho camuflado da tropa e, terço na mão, soriso nos lábios, começou a caminhar em direcção a Fátima.

LEÃO DA MATA
FIM


3. Ainda sobre o caso Batista, o nosso camarada Mário Migueis enviou-nos uns recortes do já extinto jornal "O Comércio do Porto".


__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4194: Tabanca Grande (134): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné 1970/72)

17 de Abril de 2009

Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)
e
Guiné 63/74 - P4202: Dia 17 de Abril de 1972. A emboscada do Quirafo, 37 anos depois (Mário Migueis)

Vd. último poste da série de 17 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4204: Recortes de Imprensa (15): Identificados mais 12 campas de militares lusos mortos na Guiné, DN de 3/4/2009 (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P4261: Parabéns a você (7): Giselda Pessoa, ex-Srgt Enf Pára-quedista, sobrevivente a um ataque de míssil SAM-7 Strela (Editores)

Hoje, dia 29 de Abril de 2009, a nossa querida camarada Giselda Pessoa acrescenta mais uma Primavera à sua vida.


A sua condição de mulher neste mundo de homens é singular, mas de pleno direito. Não fez a guerra como nós. A sua missão era bem diferente, bem mais nobre.

No dia do seu aniversário, queremos a homenagear também as suas companheiras de missão e todas as mulheres da nossa vida.

Nós, homens de barba rija, heróis de ocasião, resistentes a todas as privações impostas pelas degradantes condições próprias de uma guerra subversiva, em terras de uma África até então desconhecidas, somos afinal tão dependentes deste ser, que nós consideramos mais frágil, diria menos forte. Afinal, somos gerados no seu ventre, o seu sangue é o nosso primeiro alimento, o bater do seu coração é o primeiro som que ouvimos e o seu colo o nosso primeiro refúgio. Quando já autónomos e em crescimento, não fossem os cuidados da mãe, que seria de nós? E quando já velhotes, e elas nos tratam como se ainda fôssemos pequenos? O eterno feminino sempre presente na vida do homem.

Alguém falou da visão quase celestial de uma enfermeira pára-quedista em teatro de guerra. Naqueles momentos elas eram o prolongamento das nossas mães, esposas, irmãs e namoradas. Já foi aqui dito, mas nunca é demais repetir.

A Giselda Pessoa, no nosso Blogue, tem um estatuto especial por ser a única tertuliana, participante da Guerra Colonial, por ser uma das raras presenças activas da FAP, na nossa página, e por ter sobrevivido a um ataque de míssil Strela, tal, curiosamente, como o seu marido Miguel Pessoa, em ocasião diferente.

Do poste 3859

(...) 5. Em 6 de Abril de 1973, agora no Norte do território da Guiné, a fortuna foi ainda mais madrasta para o Grupo Operacional 1201 da Guiné. Nesse dia, muito cedo, um DO-27 pilotado pelo Furriel Baltazar da Silva partiu de Bissalanca para uma missão de apoio a um sector de Batalhão, a norte do rio Cacheu. Numa das movimentações, transportando um médico e um sargento de Bigene para Guidaje, o avião não chegou ao destino.

Tendo-se perdido o contacto com aquele avião, de Bissalanca descolaram meios aéreos para tentar localizá-lo e, quase em simultâneo, descolou outro DO-27 incumbido de proceder a uma evacuação sanitária pedida pelo aquartelamento do Guidaje. O avião era pilotado pelo Fur Carvalho e levava a bordo a enfermeira pára-quedista Giselda Antunes.

Também este avião não chegaria ao seu destino: alvejado por um míssil Strela, que o não alcançou por muito pouco, os comandos do DO-27 ficaram tão danificados pela acção da onda de choque, que teve de regressar à base de origem. [Giselda Antunes e Miguel Pessoa vieram a casar mais tarde, tornando-se, com toda a probabilidade, num casal único em todo o mundo: ambos foram alvejados por mísseis terra-ar Strela, e escaparam os dois à morte.]
(**)

À Giselda, ao Miguel e à restante família desejamos as maiores felicidades. Que este dia se renove a cada 365, junto de todos vós.

Em nome da Tertúlia, deixo à Giselda 321 beijinhos, multiplicados muitas vezes, tantos serão os seus reconhecidos admiradores entre os nossos leitores ex-combatentes.

Deixamos algumas fotos publicadas no nosso Blogue, assim como a listagem de postes da Giselda ou a ela e às suas camaradas relativos.

A Enf.ª Srgt Pára-quedista Giselda Antunes, na Guiné, colhendo limões

Giselda Antunes, algures na Guiné.

Guiné > Bissau > Bissalanca > BA12 > A chegada do hospital, em maca, do Ten Pilav Miguel Pessoa. Do lado direito, a Enf Pára-quedista Giselda Antunes. O destino acabou por juntar para toda a vida a Giselda e o Miguel.

Foto do Srgt Coelho, da secção fotográfica da BA12.


Base Escola de Tancos > 1971 > 7.º curso de pára-quedismo, para enfermeiras civis. Foto de grupo.

Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1972 > A Giselda (à direita), com um militar do Exército e a enfermeira Rosa Mota (Mendes pelo casamento).

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > 1972 > A Gidelda junto do AL-III, com a respectiva tripulação, durante um alerta a operações, com base em Aldeia Formosa.

Guiné-Bissau > 1995 > Giselda Pessoa entre os despojos do Império

18 de Outubro de 2006 > Casal Pessoa no Museu das Tropas Pára-quedistas, no dia em que o Cor Miguel Pessoa ofereceu o seu pára-quedas àquele Museu.

A ex-Enf Pára-quedista Giselda Antunes recebendo das mãos do, então CEMFA, General Taveira Martins, um Diploma de agradecimento e reconhecimento pelos serviços prestados em prol dos combatentes feridos em combate, e não só. Esta homenagem que ocorreu em 20 de Junho de 2006, foi feita a TODAS as Enfermeiras Pára-quedistas, com a entrega de diplomas individuais.

Diploma de agradecimento entregue à Srgt Enf Pára-quedistas pelo CEMFA, devido ao serviço que prestou à FAP entre Agosto de 1970 e Maio de 1974.

Giselda e Miguel Pessoa, dois tertulianos que muito honram o nosso Blogue. Não haverá, seguramente, no mundo outro casal sobrevivo após ataques, em diferentes ocasiões, com mísseis Strella, às aeronaves em que seguiam.
__________

Notas de CV:

(*) 20 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3916: Tabanca Grande (121): Giselda Antunes Pessoa, ex-Enfermeira Pára-quedista (Agosto de 1970 / Maio de 1974)

(**) Vd. postes de:

9 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)
e
14 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3892: FAP (12): O Fur Mil Pil Mota, e as Enf páras Giselda e Natália, caídos no Como em 1973 e salvos pelos fuzos (Miguel Pessoa)

20 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

Sobre a série "As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas", Vd. postes de:

20 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

24 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3931: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (2): Elementos para a sua história (1961-1974) (Cor Manuel A. Bernardo)

28 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3952: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (3): No fim do mundo (Giselda Pessoa)

7 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P3994: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (4): Uma civil, e transmontana de Sabrosa, na tropa (Giselda Pessoa)

8 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P3999: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (5): Justamente recordadas no Dia Internacional da Mulher (Miguel Pessoa)

14 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P4029: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (6): O anjo da guarda do Zé de Guidaje (Giselda Pessoa)

21 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)

14 de Abril de 2009 >
Guiné 63/74 - P4181: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (8): A dar ao Ambu (Giselda Pessoa)

27 de Abril de 2009 >
Guiné 63/74 - P4255: Parabéns a você (6): Hugo Guerra, o homem que foi evacuado duas vezes e meia, faz hoje anos (Editores)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4260: Convívios (119): CART 3521 (Piche, Bafatá, Safim, 1971/74): Monte Córdova, Santo Tirso, 10 de Junho (Henrique Castro)


O nosso Amigo e Camarada Tertuliano Henrique Castro (*), solicita-nos que publiquemos o seguinte apelo a todos os "guerreiros" da CART 3521, seus familiares e Amigos:
Convívio da CART 3521 (Piche, Bafata e Safim 71 - 74)
Vai decorrer mais um convívio desta nossa companhia organizado pelo Henrique Castro, que se vai realizar no próximo dia 10 de Junho de 2009, no Restaurante junto ao Mosteiro da Nossa Senhora da Assunção, em Monte Córdova, Santo Tirso.
A ementa será enviada, oportunamente, a todos os convidados juntamente com o esquema do itinerário.
Contactos:
Telefone: 252 932 774
Telemóvel - 911 927 361.
Também podem inscrever-se via e-mail para: henrique_50_@hotmail.com

Henrique Castro, ex- Sold Condutor Auto,
CART 3521 ( Piche, Bafatá e Safim, 1971/74
__________
Nota do M.R.:

Guiné 63/74 - P4259: (Ex)citações (26): Caba Fati: Nunca poderia ser amigo do peito, mas também nunca senti ódio contra ele (Miguel Pessoa)

1. Reacção do Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74) ao teor do poste anterior (*):

Luís

Recebi esta tua notícia e não consigo encontrar um comentário adequado para te enviar. Bom, pensei 5 segundos e afinal cá vai este, só para ti:

Pelos vistos, ele teve mais sorte com os portugueses do que com os seus compatriotas...

Abraço. Miguel

PS - Devo dizer que nunca o encarei a ele como o "homem que me quis matar". Numa guerra muitas vezes nem há ódio envolvido nas acções que fazemos; trata-se, não de "querer matar alguém", mas sim de "querer evitar que alguém nos mate". Por isso nunca tive qualquer ódio ou ressentimento contra o Caba Fati, embora também não houvesse motivo para querer fazer dele meu "amigo do peito".

Por causa disto, lembrei-me daquela máxima que por vezes usávamos com ironia:

"Herói não é aquele que morre pela sua Pátria mas sim aquele que faz o inimigo morrer pela Pátria dele".

Quer-me parecer que, no nosso caso, mais do que heróis, houve mártires (que lá ficaram ou vieram estropiados ou traumatizados) e sobreviventes (que ainda andam por aí a tentar saber o porquê do sacrifício que lhes foi pedido). (**)

_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4258: FAP (27): Miguel, já não poderás apertar a mão ao homem do Strela que te quis matar... O Caba Fati morreu em 1998 (Luís Graça)

(**) Vd. úktimo poste desta série > 25 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4246: (Ex)citações (24): Sinto-me feliz por ter vingado todas as injustiças que nos fizeram na Guiné (Salgueiro Maia)

Guiné 63/74 - P4258: FAP (27): Miguel, já não poderás apertar a mão ao homem do Strela que te quis matar... O Caba Fati morreu em 1998 (Luís Graça)

1. Mensagem de Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, 1972/74 (aqui ao lado da esposa, Giselda, antiga enfermeira pára-quedista, também ela 'strelada' na Guiné), enviada em 20 em Abril último:

Caro Luís

Lamento se estas palavras te vão desapontar, mas devo dizer desde já que não estou muito interessado em encontrar-me pessoalmente com o oficial guineense que me abateu (*). Apenas referi num comentário que pensava que ele tivesse outro nome mas, como vês, nem sequer me dei muito ao trabalho de o fixar...

Ao fim de tantos anos o assunto está enterrado e há muito que deixei de procurar o "homem do Strela", mais propriamente no dia em que embarquei em Bissau de regresso a Lisboa, no fim da minha comissão.

De uma coisa não me podem acusar - é o de não respeitar o meu adversário; talvez por isso ainda esteja cá. E se um encontro se proporcionasse, cumprimentaria o meu ex-inimigo com o respeito que lhe é devido como cidadão e militar guineense. Mas, vais-me desculpar, um abraço nessa situação seria para mim uma atitude hipócrita que eu muito dificilmente teria.

E não é por mim, que eu aguento bem tudo o que passei... e muito mais... Afinal, cada um de nós estava a cumprir a sua missão.

Mas ao cumprimentar amistosamente o meu ex-adversário, ficaria sempre com a dúvida se não estaria a cumprimentar o mesmo que abateu o Ten Cor [Pilav] Brito, pouco depois. E isso seria muito dfifícil de aceitar para mim, pelo respeito que me merece a sua memória.

Este blogue defende a partilha de memórias e de afectos. Esta minha atitude, parecendo pouco amistosa (que afinal nem o é), não terá por isso razão de ser publicada. Assim, prefiro enviar-te este e-mail para ti directamente, não o tendo integrado como comentário a este Poste.

As leituras que tenho feito no blogue deixam-me no entanto antever a possibilidade de distribuir uns bons abraços a uns tantos tertulianos. Talvez isso possa suceder já no próximo Encontro da Tabanca Grande.

Um abraço
Miguel Pessoa

2. Resposta do Luís Graça, na volta do correio:

Miguel:

Não me desapontas, bem pelo contrário. É essa tua frontalidade e ao mesmo tempo fairplay que eu aprecio em ti. Longe de mim a ideia de que este blogue tem que ser "politicamente correcto"... Eu quis ser irónico e provocador ao mesmo, indo na tua onda. Ora, aqui tenho a resposta de um homem sincero, vertical, amigo do seu amigo, camarada do seu camarada, que não andou a brincar às guerras... Há coisas com que se não pode brincar... a começar pelos nossos sentimentos profundos... Se calhar eu próprio pisei o risco... I ' m sorry.

De qualquer modo, se queres a minha opinião gostava de poder publicar o teu comentário, até para reafirmar o nosso (do blogue) pluralismo. Não fazemos fretes a ninguém, e muito menos aos nossos inimigos de ontem... A minha admiração por ti subiu mais uns palmos.

Uma boa semana. Luís

3. Réplica do Miguel:

Caro Luís:

Não vejo inconveniente em que publiques o meu comentário anterior. Não gosto de comprar guerras inúteis, mas também não costumo fugir a elas. Gostaria no entanto de fazer um reparo ao meu próprio comentário. No calor da resposta, a quente, ao próprio Post, acabado de publicar, referi-me apenas à memória do Ten Cor Brito (na foto, à esquerda), o que é profundamente injusto para com os outros pilotos que na mesma época foram igualmente vítimas do Strela. Assim, a frase estaria mais correcta se referisse:

"Mas ao cumprimentar amistosamente o meu ex-adversário, ficaria sempre com a dúvida se não estaria a cumprimentar o mesmo que, poucos dias depois, abateu o Ten Cor Brito, o Maj Mantovanni, o Fur Baltazar ou o Fur Ferreira. E isso seria muito dfifícil de aceitar para mim, pelo respeito que me merece a memória destes meus camaradas".

Dispõe do texto, de preferência com esta minha correcção.
Um abraço
Miguel

PS - Só para ti, a máxima do dia: "Não escolhemos os nossos inimigos, mas já o mesmo não se passa com os amigos que queremos" - Miguel Pessoa, 20 de Abril de 2009 (E esta, hein?)




4.
Comentário do L.G.:

Miguel:

Obrigado. Vou publicar com a tua correcção e uma pequena explicação minha... Concordo contigo: Entre as poucas coisas que podemos escolher, estão de facto os amigos... Andas inspirado. Um abraço.

5. Nova mensagem , com duplo endereço:

Miguel: Quem conta um conto... Vamos à procura do Caba Fati... Vou pedir ajuda aos meus/nossos amigos de Bissau... Um abraço. Luís

Pepito: A tua gente... pode dar uma ajuda a localizar o major Caba Fati que apontou o Strela ao hoje Cor Pilav Ref Miguel Pessoa, em Guileje, em 25 de Março de 1973 ? Tens o contacto do Féfé Gomes... Um abraço para todos os nossos amigos da AD... Já vi o relatório [a AD, 2008], viu divulgá-lo... Luís

6. O meu/nosso amigo Pepito, da AD - Acção para o Desenvolvimento, acaba de me responder ao pedido meu para saber novas do homem que apontou o Strela ao Fiat G-91, pilotado pelo Ten Pilav Miguel Pessoa, na tarde do dia 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje:

Luís:

O Caba Fati faleceu durante a nossa guerra de 7 de Junho de 1998.



7. Eis a lacónico comentário que acabo de enviar, com o mail supra, ao Miguel:

Miguel: Já não poderás apertar a mão (e muito nenos dar um abraço) ao homem que te quis matar... Luís

PS - Esquecemo-nos, com frequência, que a Guiné-Bissau figura na lista dos países com menor esperança de vida média do mundo: menos de 45 anos, para os homens (em 2006)... contra mais de 75, em Portugal...
_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4217: FAP (24): Afinal quem foi o camarada artilheiro do PAIGC que me 'strelou' em 25 de Março de 1973 ? Caba Fati ? (Miguel Pessoa)

Vd. també14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4185: Nino: Vídeos (4): Guidaje, Guileje, Gadamael: A Op Amílcar Cabral

Guiné 63/74 - P4257: Os Anos da Guerra, de C. Matos Gomes e A. Afonso (3): Uma caricatura de Gandembel/Balana (José Brás)

1. Mais um texto do José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622 (Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), que vinha a acompanhado da seguinte nota prévia:

Caríssimo amigo Carlos Vinhal:

Enviei a mensagem que abaixo volto a juntar com algumas correcções. Depois de ler o poste do Idálio Reis, de 25 de Abril (*), a minha admiração pela gente que tudo isto aguentou, não deixa de crescer.

Ainda por cima, percebendo-lhes as dúvidas sobre a operação e a guerra que já detinham na altura, motivados, então, apenas por firmes certezas dos deveres que o viver numa comunidade carregam num ser humano com grandeza.

Depois deste poste, as perguntas que coloca fazem todo o sentido e, embora com enormes dúvidas sobre outras motivações dos autores, a legitimidade das questões que coloca estão mais que garantidas.

Abraços para ti e para toda esta gente grande mas desconhecida dos portugueses
José Brás


2. Os Anos da Guerra, de C. Carlos Gomes e A. Afonso (3) >Uma caricatura de Gandembel / Balana

Carlos, meu camarada

Li a última entrada do Alberto Branquinho com o título "REFERÊNCIAS AVULSAS QUE PODEM CONSTRUIR IMAGENS REDUTORAS". (**)

Li e não pude deixar de concordar com o que diz, ainda que me pareça tudo isto uma grande molhada de equívocos.

Aos autores de Os ANOS DA GUERRA COLONIAL haverá de ter-se posto a questão do objectivo do trabalho antes de começarem a juntar peças. Imagino que se terão interrogado muitas vezes, cada um em si próprio, e todos em grupo, sobre o alcance da obra, e, consequentemente, sobre o quê e como seria cada coisa posta em seu lugar para que no fim o edifício parecesse útil, credível, claro e, ainda que afastado de pretensões artísticas, de algum modo, não desmerecesse do ponto de vista estético.
Treze anos de guerra em três frentes tão distantes da direcção política, e cada uma entre si, não poderia ter deixado de produzir momentos de grande dimensão militar, política e social.

Fazer a história do fenómeno é uma tarefa colossal. Terá sempre de se abordar tal trabalho com uma perspectiva aberta e grata para com os autores, uma perspectiva capaz, por um lado, entender lapsos de rigor, reduções, incorrecções de análise sobre motivações, objectivos, estratégias e tácticas, meios, acção, datas, resultados, etc.; por outro lado, a quem quiser, souber e puder, complementar o dito pelos autores, evidentemente, não metendo foice em seara alheia, mas utilizando outros meios, sobretudo como tem feito o Branquinho, a estampa e a Tabanca.

Lendo o n.º 9 da colecção do Correio da Manha (com til), Gandembel parece realmente uma coisinha.

E entretanto foi uma coisa enorme. Acho eu (sem grande precisão) que Spínola ao chegar à Guiné lhe terá chamado uma enorme parvoíce.

Não estive lá, quer dizer, com os pés assentes no local exacto, sofrendo as flagelações contínuas, a falta de tudo, a desconfiança sobre o objectivo da acção, a sensação de viver um dia de cada vez porque cada dia, cada hora, cada minuto, podem ser últimos.

Direi apenas que estava em Guileje, na sequência da minha delegação de entrega de material à Companhia que substituiu a minha em Mejo, transferida para Bolama por decisão de Junta Médica vinda de Bissau.

Entregue o material, na primeira coluna a Guileje juntei-me para aguardar a continuação para Gadamael e pegar cacilheiro que me levasse a Bolama onde a minha Companhia estava em recuperação.

De maneira(s) que...caí mesmo no frenesi do início da Operação Gandembel. Era amigo de quase todos os Furriéis da Companhia do Capitão Corvacho e do Pelotão Fox[, a CAR 1613, Guileje, 1967/68]. A minha ansiedade não era menor do que se fora a minha própria Companhia a marchar.

Aliás, estive quase para seguir na coluna para apoiar a instalação das comunicações em Gandembel, porém, não me lembro hoje como, foi decidido que não. Os dezassete quilómetros(?) de Guileje ao local chamado de Gandembel, foi feito sem um tiro.
A noite dos corpos que se acomodavam nas covas cavadas à chegada, não foi assim, e, em Guileje se ouviam as explosões dos muitos ataques ao lugar.

Nos dias que fiquei em Guileje assisti de ouvido aos diários bombardeamentos e ao tiroteio das emboscadas nas colunas.

Por vezes, a intensidade e a cadência das explosões era tal, que o nos chegava a Guileje era mais uma só onda sonora, troando colada apenas com diferenças na modulação do volume.

E aquilo durou meses! Gente instalada em valas. Construção de edifícios que, julgo, se desmoronavam e reconstruíam ao ritmo das flagelações do PAIGC e da teimosia heróica daqueles que de tudo careciam ali.

Quem lá viveu é que poderá falar (se quiser) com rigor e profundidade daquela etapa da guerra, dos pontos de vista militar e da experiência humana onde terá ser metida a fome e a sede, a febre da malária, o cheiro do suor de largos dias sem gota de água e menos ainda de sabão, a rotina de feridos e mortes.

O que Matos Gomes e Aniceto Afonso escrevem é apenas uma caricatura do real.
Sempre poderiam fazê-lo de modo mais próximo desse real, se o seu objectivo é dar a conhecer aos cidadãos em geral a intensidade e a grandeza do esforço assumido, e eu acho que sim, uma vez que a escolha foi pela edição em Órgão de Comunicação meio popular, meio qualquer coisa.

Não sei é se lhes seria possível chegar a tanto porque outras conveniências se levantam sempre à volta de projectos deste tipo. De qualquer modo, creio bem empregue o tempo e o dinheiro gastos na publicação.

Abraços a todos vocês
____

Notas de J.B.:

(i) Depois de escrever isto, acabei por ler antiga troca de postes entre o Branquinho e Idálio com Hugo Guerra (com esse nome, meu amigo, estava nela, duplamente) pelo meio, mais acentua a minha sensação de equívocos.

Eu e o Branquinho, além da zona do corredor de Guileje, temos outra afinidade, a TAP.

(ii) Outra nota:

De resto, coisa que me espanta é que, em Os anos da Guerra Colonial, parece que apenas Comandos e Páras andaram pelo Corredor de Guileje naquele tempo. Infelizmente em Mejo e Guileje tive alguns amigos que por lá deixaram sangue e vida.
Não conheço Aniceto Afonso. Conheço e prezo muito Matos Gomes por cuja honestidade intelectual tenho grande admiração, reforçada, aliás, pelo convívio na participação comum em debates sobre a literatura da Guerra Colonial nos anos oitenta/noventa.

Creio que fazem o que podem.

__________

Notas do co-editor M. R.:

(*) Vd. poste de 25 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4250: Os Anos da Guerra de C. Matos Gomes e A. Afonso (2): Quem tramou a CCAÇ 2317? (Idálio Reis)

(**) Vd. 24 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4241: Os Anos da Guerra de C. Matos Gomes e A. Afonso (1): Uma visão redutora do inferno de Gandembel (Alberto Branquinho)