quarta-feira, 20 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4383: Homenagem ao Serviço de Saúde das nossas Forças Armadas (Luís Faria)

1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 18 de Maio de 2009:

Amigo Vinhal

Envio-te um e (hi)stória não muito comum creio, que publicas se achares.

Com um abraço
Luís Faria


Embarques e desembarques
Ou o homem que não quis morrer


À altura julgo que era do conhecimento comum dizer-se que, ferido que conseguisse chegar vivo ao Hospital de Bissau, se safava!

Seria um bocado de exagero mas, para além de moralizador e aliado ao facto de por norma mediar escasso tempo entre o ferimento e a evacuação, sentia-se um certo apoio e segurança! De qualquer dos modos e ao que sei, o palmarés do Hospital era sobremaneira positivo.

Aquando de uma operação a Ponta Matar, passámos por violento recontro em que sofremos infelizmente um morto e cinco feridos.

Um Homem meu foi um desses feridos, com gravidade. É a e(hi)stória destes momentos que resolvi contar, talvez por ter estado demasiadamente envolvido e pela invulgaridade creio, do que aconteceu.

O confronto era aceso, os rebentamentos e os tiros sobravam!

O dada altura a meu lado cai um soldado meu, que fica prostrado e a esvair-se, traçado no pescoço por, salvo erro, quatro tiros.

Ao acercar-me, pede-me num murmúrio entrecortado que comunique com os Pais e lhes diga … ao que, apostando com ele uma grade de bazucas, respondo que não será preciso, pois vai safar-se…!

Desfalece! O héli-evacuação chega e a Enf. Pára apeia-se para a recepção e triagem dos feridos por ter que haver prioridades, atendendo ao número.

Tomo o pulso do meu Homem e sinto-lhe muito espaçadamente a pulsação!

Ainda está vivo!! De imediato é metido no héli.

A Enfermeira vê-o naquele estado, não reconhece sinais de vida e retira-o, para dar lugar a outro ferido. Parece mentira, não acredito, naqueles segundos…apagou-se!!

Por mera confirmação, tomo-lhe novamente o pulso e… sinto-o de novo, muito fracamente!!!

É metido no heli, afirmo à Enfermeira que está vivo… que tem pulso, fraco mas tem!!

Felizmente confirmada a situação, o héli descola para o seu destino, Bissau.

Chegado ao quartel, informam-me que o héli tinha descido em Bula para desembarcar o meu Homem, de novo dado como morto e regressar a P. Matar a buscar outros feridos, mas que o Médico (?) conseguiu aperceber-se novamente de uma réstia de vida e… o héli seguiu para Bissau.

Nunca mais soube nada do meu Homem… considerei-o como morto e na guerra continuei o meu caminho.

Um final feliz

Acabada a comissão e regressado à Metrópole, casei e um dia, acompanhado pela minha mulher seguia na Av. Fontes Pereira de Melo e ouço chamarem-me:

- Furriel Faria… Furriel Faria …!!??

Olhei e não queria acreditar!!! Fiquei parado… estupefacto!! Afinal tinha sobrevivido, graças a Deus!!! Era o meu Homem, ligeiramente rouco mas de boa saúde.

De há dois ou três anos a esta parte, encontramo-nos na reunião da Força e creio que só desde esta altura é que ele soube, não por mim, da história, uma história com um final feliz!

Quero terminar este relato-história com um agradecimento a todos os que exerceram funções no Hospital Militar de Bissau, aos valentes e abnegados da FAP na Guiné, sempre prontos a prestar o seu auxílio incondicional quer nas evacuações quer na segurança às tropas, não esquecendo as nossas Queridas Enfermeiras Pára que para alem de visões celestiais eram visões de Esperança e conforto.

Aos nossos Médicos no terreno.

Aos nossos queridos Enfermeiros que, como o Urbano, o Taia, o Silva o Braga, o Brejo e a todos os outros que andavam connosco na mata, sujeitos aos mesmos sacrifícios e perigos, com a agravante de eventualmente debaixo de fogo terem que se arriscar mais, para irem em socorro de um ferido.

Um bem-haja a todos e o meu Obrigado, ao fim de tantos anos.


Luís Faria

Nesta foto, a nossa querida camarada Enf.ª Pára-quedista Giselda junto de um héli e respectiva tripulação. Quem nunca assistiu a uma evacuação? Sangue-frio e competência, principais atributos destas pessoas que tomavam nas suas mãos algumas vidas presas por ténues fios.

Foto: © Giselda Pessoa (2009). Direitos reservados.
Legenda de CV

__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4361: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (14): Um mês complicado (3) O osso

terça-feira, 19 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4382: Memória dos lugares (24): Ponte João Landim, sobre o Rio Mansoa, (Carlos Silva)

Com o devido agradecimento aos nossos Camaradas J. Câmara e Carlos Silva, por nos permitiram a publicação destes seus e-mails, com mais algumas achegas importantes ao que havia sido dito sobre a Ponte Alferes  Nunes: 

Amigo Câmara, 

Os guinéus não melhoraram a ponte. 

Alguém, por acaso não sei quem foram os dadores e construtores, construíram uma nova ponte toda metálica.
Já agora, já que estamos a falar de pontes vê o blogue abaixo e verás a nova ponte sobre o rio Cacheu a ser inaugurada em Junho próximo. 
Já agora sugiro ao Luís graça para colocar no Blogue a indicação sobre este blogue relativo à ponte. 
Aproveito também para enviar-te fotos da ponte João Landim sobre o rio Mansoa. 

Quanto às nossas pontes Alferes Nunes. De facto, não me apercebi de vestígios da[s] velha[s] pontes sobre o rio Costa quer para jusante, quer para montante do actual local da ponte metálica, bem como, não me apercebi de alteração do traçado da estrada, relativamente à estrada construída por vós em 1971. 

Em Março de 2007, a estrada desde Bula>Pelundo>Cantchungo>Cacheu estava a ser objecto de reconstrução, ou seja, estavam a colocar um tapete novo. 

Aliás, podes ver através da foto que enviei, onde estou dentro do jipe vermelho em cima da ponte e para trás, na direcção Bachile>Cacheu podes ver o alcatrão levantado.Pois para fazer o percurso acima referido, fiz grandes troços da picada antiga e nas proximidades da ponde não vi absolutamente vestígios de picada antiga, pelo que, passei pela vossa estrada. 

Aliás, devo dizer que fomos acompanhados por um amigo guineense que conhecia a zona e foi ele que no levou ao Quartel do Bachile da CCaç 16 e nunca falou nas pontes velhas. 

Portanto, creio que não havia outro traçado naquela zona, senão a vossa estrada. 

Deve ter havido uma limpeza geral das ruínas. 

Contudo, n próximo ano vou tirar todas as dúvidas. 

Tal como referi acima, em 2007 andei por troços de picada antiga, devido às obras. 

Em 2008 e 2009 fiz todo o percurso sobre um excelente tapete desde Bissau até ao Cacheu, o que se faz em 2 horas.Os 38 kms de terra batida, são do Paulo Bastos do Pel Caç 953 que esteve no Cacheu em 1964/65. 

Obrigado pelas fotos. 

Com um abraço amigo, 
Carlos Silva 
___________ 
Notas de M.R.: 

Vd. último poste da série em: 

Guiné 63/74 - P4381: Memória dos lugares (23): Ponte Alferes Nunes, sobre o Rio Costa, entre Canchungo e Bachile (Carlos Silva)


Guiné> Fortim e Ponte Alferes Nunes entre Teixeira Pinto e Bachile, sobre o Rio Costa (Pelundo). c. 1968/69. 
Foto do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro, CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, Jolmete,Olossato, Bissorã,1968/70). 
Foto: © Albino Silva (2007). Direitos reservados. 


Caro Carlos, 

Li com atenção a resposta que destes sobre a Ponte Alferes Nunes. Com todo o gosto fui procurar a tua fotografia, no teu próprio blogue. Claro que a ponte da tua fotografia nada tem a ver com aquela que eu atravessei várias vezes. Para desilusão minha o fortim (uma autêntica fortaleza) desapareceu.
Fiquei sensibilizado pelo facto dos guinéus terem tido a oportunidade de melhorarem a ponte. Mas também digo que é de lamentar o facto de não manterem em condições "turísticas" a história da guerra. Só teriam a ganhar com isso. Sei que não é possível manter tudo. Mas tudo parece destruído. Eles lá sabem! 

Mas adiante.... 

O Jorge Picado fala numa outra ponte ou o que restava dela. De facto, para quem estava na ponte virado para o Bachile, e a uns metros acrescentados para a direita havia uma ruína daquilo que parecia ter sido uma ponte. Aí o rio era pouco largo e pouco profundo. Parto do princípio que haveria um outro traçado de estrada, de terra batida, que nada tinha a ver com a estrada que ajudamos a construir. 

Atravessei a ponte Alferes Nunes, pela primeira vez, no dia 6 de Abril de 1971. Pernoitamos no Bachile. No dia seguinte fomos para o nosso primeiro acampamento, a cerca de 10 Km do Bachile.
O traçado da estrada era aberto com máquinas, ao mesmo tempo que a descapinação era feita à catanada, com cerca  de 100 metros para cada lado. Mais atrás, avançava o leito da estrada. Este era nivelado com máquinas niveladoras,  em várias camadas de macadame e comprimidas com auto tanques de água e cilindros de vibração. De imediato era feita a alcatroamento. 

Quando o Carlos, na viagem de 2008,  se refere a 38 Km de terra batida, está a dizer-me que essa estrada se degradou a esse ponto? Ou, resolveu seguir o traçado antigo?

Junto algumas fotografias do tempo. Possivelmente usarei algumas para a pequena história que estou a escrever. Da minha parte use aquilo que lhe interessar. 

Um abraço do, 

J. Câmara 

___________ 

Notas de M.R.: 
Vd. ultimo poste da série em: 

17 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4364: Memória dos lugares (22): Fortim e Ponte Alferes Nunes, sobre o Rio Costa, entre Canchungo e Bachile (Jorge Picado) 

Guiné 63/74 - P4380: Bibliografia de uma guerra (45): Entre o Paraíso e o Inferno, de Abel de Jesus Carreira Rei (CART 1661, 1967/68)


Folha de rosto da página na Net do Abel de Jesus Carreira Rei, autor do livro Entre o Paraíso e o Inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné. O autor nasceu na Marinha Grande, em 1945.


1. Mensagem de Abel Rei (*), ex-combatente da Guiné, CART 1661/BCAÇ 1912, 1967/68, com data de 3 de Janeiro de 2009:

Assunto: Início de contacto(s) sobre o tema "Livro - Entre o Paraíso e o Inferno", Diário escrito na Guiné entre princípios de 67 e fins de 68.

Meu caro amigo ex-combatente da Guiné:

Em primeiro lugar, quero pedir licença pela minha intromissão no seu blogue, e dizer-lhe que só agora dei início aos conhecimentos e navegação pela Internet, tendo desde logo o prazer de ver o vosso trabalho, que felicito e desejo uma boa continuação, oferecendo desde já os meus préstimos, se isso for necessário.

Receba os meus agradecimentos, pelo interesse demonstrado em registar e divulgar alguns dos pormenores do meu Diário sobre minha passagem pela Guiné, que segundo me apercebi, o amigo e camarada, só teve conhecimento dele através do Portal da Cidade da Marinha Grande.


Então passo a apresentar-me:

(i) Fui para a Guiné integrado na CART 1661/BCAÇ 1912.

(ii) Esta Companhia foi render, no Enxalé, a CCAÇ 1439, em princípios de 1967.

(iii) Fizemos o nosso percurso por Fá, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Bissá, tendo-nos juntado ao Pel Caç Nat 54, os quais fui encontrar, fazendo parte duma secção do 4.º Pelotão da nossa Companhia, em Porto Gole, criando alguns laços de amizade com o seu comandante, Alf Mil Marchant, Fur Mil Viegas, entre outros do Continente, assim como com os próprios combatentes nativos, a quem, sobretudo àqueles que foram mortos ou feridos, faço referência no meu Diário.

(iv) Estive até ao ano de 2007 na Direcção do Núcleo da Marinha Grande da Liga dos Combatentes, exercendo o cargo de Tesoureiro, que abandonei por motivos de saúde.

Sendo o autor e editor, ainda não esgotei a edição do meu Livro, pelo que me vou apoiando nalguns amigos e Direcções doutros Núcleos de Combatentes, para promover a venda do mesmo, pelo que tomo a liberdade, se isso me for permitido, de lançar nesta página a sua publicidade! (Custo de cada unidade: 10,00€+1,50€ p/ portes de envio).

Também posso enviar à cobrança.

Saudações de ex-combatente
Abel Rei


2. No dia 17 de Maio, Luís Graça enviava ao Abel a seguinte mensagem:

Abel:

Até que enfim, que te encontro!... Ao fim de quase quatro anos... Por lapso, só agora dei conta da tua mensagem, que enviaste para o meu endereço pessoal... Já lá vão quase quatro meses e meio... Nesse lapso de tempo, já deves ter vendido o resto dos exemplares do teu livro... Olha, eu gostaria de o adquirir. Podes mandá-lo à cobrança para o meu endereço.

Parabéns pelo teu trabalho. Na altura gostei da tua escrita singela, espontânea... Andei também pelos mesmos lugares que tu (só não fui a Bissá). Há aqui outros camaradas (ligados ao Pel Caç Nat 52 e ao 63) que irão gostar de ler o teu livro...

Desde já convido-te a aderir formalmente a nossa Tabanca Grande, e a intervir, com fotos e textos... Para já vamos apresentar o teu livro, na série Bibliografia de uma Guerra.

Boa sorte, bom trabalho, boa saúde...
Luís Graça
__________

Notas de CV:

(*) Sobre Abel Rei ver postes de:

1 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - X: Memórias de Fá, Xime, Enxalé, Porto Gole, Bissá, Mansoa

30 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXV: CCART 1661 (Porto Gole, Enxalé, Bissá, 1967/68)

22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

Vd. último poste da série de 12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4330: Bibliografia de uma guerra (44): Memórias de um Prisioneiro de Guerra, de António Júlio Rosa (M. Beja Santos)

Guiné 63/74 - P4379: Blogoterapia (102): Este blogue de que eu gosto! (António Matos)

Texto do António Matos, ex-Alf Mil, com a especialidade de Minas e Armadilhas, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72 (*):


Não fôra uma ou outra ocasião onde me podia ter rebentado uma mina mesmo nas trombas (P4296);

Não fôra ter voado com o rebentamento de uma outra mas que tinha sido accionada pelo camarada que tinha junto a mim (P4141, P3424);

Não fôra ter passado despercebido num choque quase frontal com o Nino (reconhecido pela sua camisolinha com o nome gravado) e o seu séquito de dezenas de guerrilheiros;

Não fôra ter passado quase incólume a várias flagelações suportadas no destacamento de Augusto Barros;

Não fôra estar internado no hospital militar quando o meu grupo de combate foi emboscado na estrada perto de S. Vicente (P3761);

Não fôra todo um conjunto de pequenas outras insignificâncias sem valor histórico
e a minha comissão militar não teria dado origem às intervenções já por mim produzidas neste blogue.

Muito menos teriam suscitado a maçada de alguém se entreter a lê-las.

Um dia dei com este blogue e desde logo passou a ser visita diária num revivalismo medonho quanto catártico numa partilha de estórias e de opiniões com outros bandidos (porque se juntaram em bandos) que se acoitaram atraz daquela fortaleza intransponível, e à prova de bala, que era o arame farpado...

Por vezes, há quem, não sendo tertuliano na verdadeira acepção tabânquica da palavra, se sinta impelido a entrar na tertúlia para dar voz a este ou aquele assunto, ou a manifestar um ou outro esclarecimento.

A mim, particularmente, enche-me de orgulho que outros se sintam interessados em colaborar neste blogue onde o interesse passa por vivências bélicas ou de caserna, de saudade, de camaradagem, de palavrões, de desgostos imensos, e raramente de conteúdos superiores que um ambiente de guerra não propiciava.

Já tivemos intervenções de jovens que por relações de amizade com familiares de militares falecidos no ultramar despertaram para a missão humanista de ajudar a historiar um caso;

Já tivemos intervenções de familiares de militares falecidos no ultramar pelo detonar duma mina que viram nessas intervenções a maneira de homenagearem a memória de alguém;

Já tivemos quem corrigisse imperfeições culturais;

Já tivemos discursos escorreitos e outros mais retorcidos;

Já tivemos palavras de incitamento à continuação bem como alguma impertinência por evidentes assuntos pessoais mal resolvidos.

Enfim, um blogue é mesmo isso, cultiva-se pelo seu pluralismo e tenta-se melindrá-lo por quezilências menores.

Pela contabilidade feita, e sem me preocupar que isso esteja escrito na parte esquerda da página, não será tarde para elogiar a concepção, a estruturação, o desenvolvimento e a produção a que o Luis Graça - devidamente coadjuvado pelos seus editores e posterior(es) co-editor(es) - deu vida e a que todos nós, com maior ou menor disponibilidade, temos respondido com elevado grau de despretenciosismo.

Continua, Luís Graça, que eu cá estarei para os ir espicaçando na medida das minhas capacidades inflamatórias! (**)

Um abraço,
António Matos

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4296: Espelho meu, diz-me quem sou eu (2): António Matos

5 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4141: Os Bu... rakos em que vivemos (2): Bula, CCCAÇ 2790 (António Matos)

19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3761: Efemérides (14): 19 de Janeiro de 1971, estrada Bula-S. Vicente...(António Matos)

8 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3424: 16.000 minas montadas entre Bula e S. Vicente (António Matos)

1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390 Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)

(**) Vd. último poste da série Blogoterapia > 4 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4279: Blogoterapia (101): Obrigado, Manuel Maia, emocionaste-me até às lágrimas (José Brás)

Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

Viana do Castelo, 16 de Maio de 2009 > Convívio do pessoal da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) > O antigo capelão do batalhão, o ex-Alf Mil Arsénio Chaves Puim, que seria preso pela PIDE/DGS no dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 1971, levado para Bissau e expulso do Exército (1). Está reformado como enfermeiro do Serviço Regional de Saúde da Região Autónoma dos Açores. Vive na sua ilha natal, Santa Maria (2).

Ainda hoje me interrogo sobre quem, civil ou militar, o tramou... Dele escreveu o seu amigo, camarada e companheiro de quarto, o Abílio Machado, o Machadinho (como ele lhe chamava; Bilocas, para os amigos da CCAÇ 12): "A coragem de um padre que não abdicou de o ser lá onde era o seu sítio: o altar" (1)... Poucos de nós tiveram tomates para tomar as posições que ele tomou: refiro-me àqueles de nós, como eu, que eram, em consciência, contra a guerra mas que a fizeram (3)... (LG)

Foto: © Benjamim Durães (2009). Direitos reservados



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > Março de 2007 > O interior da capela onde, entre outros, rezava missa o Alf Mil Capelão Puim (CCS / BART 2917, 1970/71) e, em 1 de Janeiro de 1971, rezou pela paz, antes de ser preso pela PIDE/DGS. Eu nunca lá entrava a não ser em caso de velório, quando funcionava como capela mortuária.

Convivi pouco (ou melhor, não o suficiente) com o capelão Puim, o angélico, frágil mas corajoso Puim, que era contudo mais velho dez anos do que nós. Já não ia missa nessa idade, e muito menos na Guiné, em Bambadinca. Além disso, a malta da CCAÇ 12 tinha uma intensa actividade operacional, ao serviço do façanhudo Comando do Batalhão, que nos explorou até ao tutano, sobrando pouco tempo para conviver com a malta da CCS (com algumas excepções...).

Bom, hoje estou sinceramente arrependido de nunca ter ouvido uma homilía do Puim, mesmo por simples curiosidade intelectual, por solidariedade humana, por camaradagem... Na altura, eu achava que todos os capelães militares eram escolhidos a dedo e estavam bem integrados no sistema. Não me dei conta que os efeitos devastadores da guerra colonial também afectavam os homens encarregues de zelar pelo conforto espiritual e a salvação das almas dos nossos combatentes. Além disso, o Concílio Vaticano II tinha mexido profundamente com a Igreja (ultraconservadora) que nós conhecíamos (e que alguns de nós já contestavam), desde o nosso tempo de meninos e moços (3)...

Espero poder compensar, de algum modo, esse tempo perdido com o nosso próximo convívio, ao vivo ou em linha, usando a nossa Tabanca Grande, aqui onde o mundo se torna um pouco pequeno, aconcjegado, amigável e até bonito... Tive imensa pena, Arsénio, de não ter podido ir a Viana dar-te um abraço de saudade e de camaradagem... Aceita, por isso, o nosso reiterado convite para figurares na lista dos Amigos & Camaradas da Guiné...Haveremos de ir a Viana, ou a Santa Maria, ou a outro sítio qualquer, para continuarmos uma conversa que ficou interrompida durante quase quatro décadas... É muito tempo, camarada! (LG)

Foto: © Carlos Silva (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Benjamin Durães:

Luís, sim, o Puim esteve presente em Viana do Castelo no dia 16 de Maio (4), e foi com muita alegria que o recebi, a ele, à irmã e ao cunhado na Fortaleza de Santiago da Barra.

Com algum espanto verifiquei que o Puim reconheceu uma grande maioria - em especial, os ex-oficiais e sargentos e muitas praças - dos camaradas que com ele conviveram na Guiné: Abílio Machado, Cabete, Beato, Félix Torres, Durães, David Guimarães, Rocha, Borges, Jorge Cabral Bernardo, Gancho, Moreira, Mário Teixeira (o Sacristão do BART), Brás, Cunha e muitos outros (5).

Está ainda com uma boa memória visual dos ex-camaradas. Também perguntou por muitos outros ex-Milicianos, tais como:

- o Dr. Gonçalves Ferreira;

- o José Coelho [,ex-Fur Mil Enfermeiro] e Isabel;

- o António Carlão [, ex-Alf Mil CCaç 12,] e Helena (o Carlão na 5ª Feira prometeu-me estar presente na tarde de sábado em Viana do Castelo, encontro a que faltou);

- o Leão Lopes e Cecílía (O Leão Lopes, ex-Furriel do BENG 447, é um reputado pintor e cineasta em Cabo Verde, ex-Ministro da Cultura e Comunicações de Cabo Verde, Professor Universitário de Assuntos Africanos em França e, ao que suponho, actualmente Presidente da ONG ATELIER MAR em Cabo Verde) (6);

- Ex-Capitães Silva Agordela, Amaro dos Santos e Espinha de Almeida.

Ao Puim foi dado o número do telemóvel do Henriques (o da encarnação de Bambadinca, hoje Luís Graça) e o contacto do Gonçalves Ferreira (em Oeiras e em Lisboa), como haviam pedido.

Só houve uma pequeno permenor, pois o nosso Puim nunca me perguntou pelo cantador do RIO QUE LAVAS NO RIO (7)

Um Abraço Luís

DURÃES

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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

(2) Vd. poste de 16 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2444: Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, CCS/BART 2917, hoje enfermeiro reformado e um grande mariense (Luís Candeias)

(3) Vd. poste de 5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1925: O meu reencontro com o Arsénio Puim, ex-capelão do BART 2917 (David Guimarães)

(4) Vd. poste de 18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)

(5) Vd. poste de 15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1527: Lista de ex-militares da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e unidades adidas (Benjamim Durães)

(6) Vd. excerto de notícia de O Liberal On Line, de 23 de Abril de 2009:

(...) LEÃO LOPES NOMEADO PARA O PRÉMIO ANDORINHA DIGITAL

Bitú, de Leão Lopes, uma longa metragem de 52 minutos, é um dos filmes nomeados pelo júri de selecção como candidato a melhor filme-documentário do Andorinha Digital, um dos prémios atribuídos no III CINEPORT, Festival de Cinema dos Países de Língua Portuguesa, que vai decorrer em João Pessoa, capital de Paraíba, Brasil, de 4 a 14 de Maio [de 2009]

(...) Leão Lopes, fundador da Mindelo – Escola Internacional de Arte, dinamizador cultural e fundador da ONG Atelier-Mar, é um polifacetado intelectual de S. Vicente, a um tempo artista plástico, fotógrafo, escritor (autor de A História de Blimundo e de Unine) e cineasta, realizador de Ilhéu de Contenda (1994). (...)


(7) Vd. postes de:

7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)

14 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1525: Tertúlia: Durães, Vinagre & Cª Lda, do BART 2917 (Humberto Reis)

Guiné 63/74 - P4377: Tabanca Grande (145): João Lourenço, ex-Alf Mil do PINT 9288 (Cufar, 1973/74)

1. Mensagem do nosso no tertuliano João Lourenço (*), ex-Alf Mil do PINT 9288, Cufar, 1973/74, com data de 18 de Maio de 2009:

Conforme prometido junto 2 fotos antigas e 3 actuais, deixo ao teu critério a escolha para o blog.

Um Abraço
João Lourenço


2. Comentário de CV:

Caro João Lourenço

Estás formalmente apresentado à Tertúlia com o envio e publicação das fotos da praxe.

Uma vez que vais estar presente no nosso próximo Encontro, será mais fácil reconhecer-te.

Deixo-te um abraço virtual e votos de boa saúde.
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4366: Tabanca Grande (144): João Lourenço, ex-Alf Mil, PINT 9288, Cufar (1973/74)

Guiné 63/74 - P4376: As grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (4): Operação "Dedo Forte"



1. Mensagem de Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69, com data de 17 de Maio de 2009, com mais uma das grandes Operações da sua Companhia:





As grandes Operações da CART 2339 / 58 69 – Mansambo (IV)
Mês de Maio de 1968

OPERAÇÃO DEDO FORTE


O mês de Maio em termos operacionais para a nossa Companhia não foi muito forte pois estava em deslocação fraccionada para a construção da nova sede: Mansambo e ao mesmo tempo efectuando diligências de reforço noutros sectores.

Assim e apesar disso em 280830h, saindo de Fá Mandinga a Companhia iniciou a Operação com a duração de 2 dias e com a finalidade de efectuar ataque e destruição de objectivos na zona de Galo Corubal/ Satecuta.

Iniciámos uma operação com o seguinte dispositivo:

Dest. A – CART 1646 a 2 GComb.

CCaç 2383 a 3 GComb.

Dest. B – CART 2339 a 4 GComb.

Pel. Art.ª colocado no Xitole

A acção iniciou-se com a CART 2339 a sair de Mansambo, seu futuro aquartelamento, em 282000h para a zona de acção, pelo itinerário previsto, atingindo o acampamento de Galo Corubal em 290830h, constatando a sua destruição, efectuada pela mesma CART em Fevereiro (OP. Grão Mongol) e sem indícios de utilização.

Dirigiu-se para DANDO onde se instalou para evitar a fuga de elementos IN de Satecuta e Ponta Jai para Norte.

Preparou-se para apoiar o Dest. A com tiro de morteiro, cuja missão era destruir SATECUTA.

Sem incidentes e após a junção ao Dest. A, regressámos a Mansambo, onde chegámos às 1730h.

Regressámos a Fá e os outros nossos camaradas, em Mansambo, continuaram a construir um novo aquartelamento.

Como notas pessoais acrescento que esta foi uma noite terrível de chuva e trovoada.

Escuro como breu e consequentemente marcha difícil em bicha de pirilau de mão dada.

Os relâmpagos iluminavam a noite e tornavam-na dia.

Era assim a guerra.
CMSantos
CART 2339 – Fá Mandinga e Mansambo
1968/ 69
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4178: As grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (3): Operação "Gavião"

Guiné 63/74 - P4375: Provedor do leitor (1): A liberalidade e as estações do nosso calvário (Filomena Sampaio)

Lisboa > Palácio Nacional da Ajuda > A Liberalidade, uma das estátuas monumentais que representam as virtudes, na grande vestíbulo do Palácio... Foto tirada no Dia Internacional dos Museus ... Dos dicionários: Liberalidade, s.f.. 1. Qualidade de liberal; 2. Acto de dar com generosidade.... (LG)

Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados.


1. Da nossa leitora Filomena Sampaio, que trabalha numa empresa que é actualmente um dos líderes europeus na produção de Folhas e Tecidos Plastificados para revestimento de componentes do interior automóvel:


Boa tarde, Srs. Dr. Luís Graça e Carlos Vinhal,

É pena que pessoas, como o Sr. José Rocha (*), não entendam que este Blogue não é uma empresa onde quem dirige ou trabalha tem de “suportar” clientes, fornecedores, accionistas, colegas, concorrentes, autoridades, comunicação social, etc. Uma maçada!

Este Blogue é óptimo e os seus Administradores, Editores e Co-editores, devem ser respeitados por todos.

Na minha opinião e na de muitos leitores, não merecem ser insultados.

Por que editaram o texto? Por respeito? Foram porventura respeitadas as regras (não nos insultamos uns aos outros)?

Cumprimentos,

Filomena


2. Mails anteriores da nossa leitora:

(i) 6 de Maio de 2009:

Bom dia Sr. Dr. Luís Graça,

Sou leitora do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné e antes de mais peço desculpa por me atrever a dizer-lhe que as Estações do Calvário são 14 e não 13.

Embora em 1991 tenha sido proposta pelo Papa João Paulo II a 15ª estação.

Felicidades para a continuidade do Blogue. Melhores cumprimentos para o Senhor e toda a Família.

Filomena

(ii) Resposta do editor L.G.:

Filomena:

Fico encantado, em primeiro lugar, por saber que acompanha o nosso blogue; e em segundo, por ter sido corrigido, com tanta elegância e competência, por uma senhora como você… “Sem importância”, não: acima de tudo, o rigor… Fico-lhe grato.

Não sei porquê mas sempre ‘interiorizei’ este número… 13 é um nº cabalístico… A minha cultura teológica anda um pouco por baixa, peço desculpa: devia ler mais vezes os Evangelhos, coisa que já não faço há uns bons aninhos... Vou corrigir o poste, e se me permite vou inserir lá o seu comentário… Apareça sempre e participe, sempre que entender… Para discordar, para corrigir, para apoiar.


(iii) Nova mensagem da nossa leitora, com data de 7 de Maio:


Sr. Dr. Luís Graça,

Fico muito honrada pelo facto de me ter respondido, não era necessário. Obrigada.

Por momentos (quando li o comentário) pensei que tivesse eliminado uma estação (encontro com a mãe) pelo facto de se tratar dum Blogue de Ex-Combatentes da Guiné e em nenhum testemunho, escrito no mesmo, alguém ter referido tal encontro. Quanto às restantes estações, uns duma forma outros doutra, percorreram-nas todas.

Felicidades para todos.

Filomena

3. Comentário (final) de L.G.:

Vamos abrir uma nova série para as questões de provedoria do leitor... É um espaço para os leitores do nosso blogue, independentemente de pertencerem ou não à nossa Tabanca Grande. Ainda não temos provedor, mas lá chegaremos... Também estamos a elaborar, entre os quatro editores, o nosso Livro de Estilo...

Continuo a ter muito orgulho no facto de termos - TODOS! - construído um espaço como este que é de INCLUSÃO, não de exclusão... O Mundo é Pequeno e o Nosso Blogue... é Grande, mas às vezes podem acontecer pequenos incidentes com a chegada de periquitos... Na nossa Tabanca Grande não há conspiração, há alguma inspiração e sobretudo muita transpiração... Alfinal de contas, já somos uma caserna do tamanho de um batalhão...

Aviso: vamos abrir um concurso para o lugar de provedor... Candidaturas aceitam-se.

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4355: O Nosso Livro de Visitas (62): José Rocha emitindo a sua opinião sobre a retirada de Guileje

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4374: Agenda Cultural (14): Visita à ADFA e palestra do jornalista Joaquim Furtado, em 26 de Maio (Luís Nabais)

Amigos e Camaradas Tertulianos,

Por Convite, que desde já todos agradecemos, do nosso Amigo e Camarada Tertuliano Luís Nabais, autorizado pelo José Arruda, Presidente da ADFA.

CONVITE:

No âmbito das comemorações do 35º aniversário do 25 de Abril e da ADFA... a Direcção Nacional convidou o jornalista Joaquim Furtado, para proferir uma palestra sobre a sua participação no 25 de Abril e, muito especialmente, no que se refere à série televisiva de sua autoria, sobre a Guerra Colonial, que acabou de a ser apresentada na RTP1 (2ª parte).

O convite da ADFA foi amavelmente aceite por este prestigiado jornalista, para se efectivar no próximo dia 26 de Maio, pelas 17h30.

Foram também convidados todos os membros dos Órgãos Sociais, Nacionais e Locais a participarem nesta palestra, que terá lugar no Auditório Jorge Maurício, na sede da ADFA, em Lisboa.

Façam chegar este convite também aos Associados da ADFA que, com certeza, gostarão de estar presentes.

.....

Amigos e Camaradas Tertulianos,

Será com todo o gosto que por lá serão recebidos.

Eu não estarei (vou à Beira Alta) com a mulher e filho, mas estará o Janeiro e o Pinela, além da Direcção Nacional.

Abraço
Luís Nabais

________

Nota de MR:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4373: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (20): Continuando a quebrar o silêncio (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 17 de Maio de 2009:

Estranhamente, no disparo anterior surgiu um comentário a um comentário que não me pareceu muito a propósito.

Primeiro porque a existir deveria ser direccionado a mim próprio autor do tiro e não a um camarada que esteve em Angola e segundo afirma consulta com assiduidade a nossa tabanca e que exerceu o direito à indignação comentando algum silêncio face ao insulto de AB...

MR, assina assim o comentarista, diz que o relativo silêncio se deve porque alguns entendem que o referido militar não merecerá quaisquer críticas, outros porque ainda não estarão refeitos do choque... (não acha tempo a mais, MR?) outros ainda aguardam esfriando a moleirinha (assim sendo não correrão o risco de a congelar???)
Muitos que reagiram a quente têm dado demasiado tempo ao homem para se retractar e ele não o fez...

Então se o arame não protegia das balas, dos mosquitos nem de nada, como diz MR, porque razão continua a aguardar serenamente?
Espero que pelo menos o faça sentado que sempre é mais cómodo...

Pela minha parte continuarei, qual D. Quixote combatendo moínhos de vento, a expressar por esta forma o meu repúdio, a destilar o meu desprezo a tão abjecta figura que denegriu a memória de tantos de nós, que partiram para sempre, para que ele possa agora, botar faladura arvorando-se em herói de pacotilha...

Os brasileiros têm uma expressão que acho engraçada e que a meu ver se adequa perfeitamente ao dito cavalheiro... pimenta no cú do outro é refresco...

Foram os bandos do arame farpado que ajudaram juntamente com os comandos africanos (os verdadeiros merecedores das medalhas que o dito ostenta...) a guindar até ao estrelato o herói de que se fala...


Tal como "CAIO, O MATA SETE", um dia,
enchendo-se de brios, valentia,
"brilhou" pela bravura ante inimigo...
Também o nosso Bruno em gesto heróico
"mosquitos da tabanca fez num oito"
e às cruzes e medalhas "chamou um figo"...

Foi "gosto vê-lo inchado garnizé",
mostrando a lataria, "ganha"(?) ao Zé,
qual "Action Man" herói da pequenada...
O Rambo, Incrível Hulk, Homem Aranha,
domínio intenso exerceu na bolanha,
matando toda aquela mosquitada...


Manuel Maia
__________

Nota de CV:

Vd. último poste de 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4362: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (19): Não nos remetamos ao silêncio... (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4372: Convívios (133): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)

Viana do Castelo, 16 de Maio de 2009 > Convívio do pessoal da CCS do BART 2917 (Bambadinca, , 1970/72).

Legenda das fotos, de cima para baixo:

(i) Medalhão do BART 2917, cujas subunidades estiveram em Bambadinca (CCS), Xime (CART 2715), Mansambo (CART 2714) e Xitole (CART 2716);

(ii) o Ex-Alf Mil Capelão Arsénio Puim, que veio propositadamente dos Açores, para esta 3ª edição do Convívio;

(iii) a foto do grupo;

(iv) o Durães, com o cunhado e os fillhos o Carlos Rebelo (que recentemente nos deixou);

(v) o Benjamim Durães, o Arsénio Puim e o Jorge Cabral, ex- Alf Mil Art, Pel Caç Nat 63);

Fotos: © Benjamim Durães (2009). Direitos reservados



1. Mensagem do Benjamim Durães, ex-Fur Mil do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72:

Luís Graça e Camaradas da Guiné:

Teve lugar no passado dia 16 de Maio em Viana do Castelo o 3º Encontro - Convívio da CCS/BART 2917 (*), onde foi apresentado, para quem quis adquirir, um medalhão em bronze do BART 2917 (edição reduzida) com o diâmetro de 80 mm.

Estiveram presentes, para além dos ex-militares da CCS, também do PEL CAÇ 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71), CART 2714 (Mansambo, 1970/72), CART 2716 (Xitole, 1970/72) e da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

Marcou também presença neste Convívio o ex-Alferes Miliciano Capelão ARSÉNIO CHAVES PUIM (**), que veio propositadamente dos Açores. Tivemos ainda a presença do Carlos e do Daniel Rebelo (filhos do Carlos Rebelo) e do cunhado Ernesto Santos, que assim satisfizeram o pedido do pai e cunhado pouco antes de falecer (***).

Junto em ficheiro anexo:

- fotografia do Grupo dos Ex-Militares;
- fotografia do Benjamim Durães, Arsénio Puim e Jorge Cabral
- fotografia do ex-Capelão Puim;
- fotografia do Durães com o Ernesto, cunhado do Rebelo e dos filhos Carlos e Daniel Rebelo; e,
- fotografia do medalhão do BART 2917.

UM ABRAÇO
DURÃES

2. Comentário de L.G.:

Tive muita pena de não poder ir a Viana do Castelo dar um abraço aos meus amigos e camaradas da CCS do BART 2917, com quem privei durante cerca de nove meses (de meados de 1970 a Março de 1971). E, muito em especial, ao Arsénio Puim, que finalmente veio a este convívio, agora reformado como enfermeiro. Gostaria também de dar um abraço de solidareidade aos filhos e ao cunhado do nosso qerido Carlos Rebelo.

Reconheço nas foto do grupo outros camaradas, que fazem parte da nossa Tabanca Grande, tal como o Almeida (na primeira fila, à esquerda, de joelhos) e o David Guimarães (na segunda fila, à esquerda, de pé, junto ao Almeida), o Durães e, a seu lado, o Abílio Machado (na primeira fila, do lado direito)... Sem esquecer o Jorge Cabral, de pé, na terceira fila, ao centro; o Luis Moreira, ao fundo, à esquerda... (Certamente por lapso meu, não identifico ninguém da CCAÇ 12)... A todos, a minha saudação, as minhas saudades... LG

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4198: Convívios (111): 3.º Encontro/Convívio do pessoal da CCS/BART 2917, dia 16 de Maio de 2009, em Viana do Castelo (Benjamim Durães)

Sobre o último convívio, vd. poste de 16 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2847: Convívios (57): CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72): Viseu, 26 de Abril (Jorge Cabral)

(**) Vd. poste de:

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

Vd. também outros postes com referência ao Arsénio Puim:

13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1520: Bambadinca, CCS do BART 2917: Alferes Abílo Ferreira Machado, o Bilocas da Cooperativa (Humberto Reis)

28 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1631: À amizade (Abílio Machado, CCS do BART 2917/ Humberto Reis, CCAÇ 12)

29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1635: Amigos, enquando vos escrevo, bebo um Porto velho à nossa saúde (Abílio Machado, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1925: O meu reencontro com o Arsénio Puim, ex-capelão do BART 2917 (David Guimarães)

8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2421: Em busca de... (15): Pessoal da companhia madeirense que esteve em Jemberem (1973/74) (Luís Candeia, amigo do Arsénio Puim)

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2433: Em busca de ... (16): Pessoal da CCAÇ 4946/73, madeirense + Arsénio Puim, ex-capelão, açoriano, BART 2917 (Luís Candeias)

16 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2444: Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, CCS/BART 2917, hoje enfermeiro reformado e um grande mariense (Luís Candeias)

31 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2495: Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão do BART 2917: recordando a atribulada coluna logística ao Xitole, em Setembro de 1970

14 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3314: Estórias de Guileje (15): Coisas daquela guerra que era uma loucura e deixou muita gente maluca (Luís Candeias)

7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3579: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (7): A Toque de Caixa, com o Abílio Machado, ex-baladeiro de Bambadinca (Luís Graça)

(***) Vd. postes de:

7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4301: In Memoriam (22): Carlos Rebelo, a última batalha (Abilio Machado, ex-Alf Mil, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4291: In Memoriam (21): Faleceu hoje o nosso camarada Carlos Rebelo, ex-Fur Mil, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (Benjamim Durães)

(...) Através do Benjamim Durães, a viúva do nosso querido camarada Carlos Rebelo (CC/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72), que nos deixou ainda há pouco tempo, mandou-nos a seguinte mensagem, singela mas tocante:"É muito gratificante para mim saber que o Carlos será recordado, com amizade, por tantos amigos."Aceitem os meus agradecimentos pelas vossas mensagens". Manuela Faria, mane.sfaria@gmail.com (...).

Guiné 63/74 - P4371: Contraponto (Alberto Branquinho) (1): Mudam-se os tempos

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (*), ex-Alf Mil da CArt 1689, Guiné 1967/69, com data de 15 de Maio de 2009:

Assunto: Nova série - "Contraponto"

Caro Carlos Vinhal

Os outros editores que me perdoem, mas dirijo este texto ao Carlos Vinhal, que foi quem insistiu comigo para continuar a escrever umas coisas.

Resolvi atribuir-lhe o título "CONTRAPONTO". Portanto, agora já posso escrever (de quando em vez) àcerca do meu umbigo.

Junto vai o CONTRAPONTO (1).

Um abraço (para todos)
Alberto Branquinho



CONTRAPONTO
 

1 - MUDAM-SE OS TEMPOS…

A vida é cheia de paradoxos. E de contradições. Resultam muitas vezes das mudanças causadas pelo decurso do tempo. Não nos damos conta deles e delas se não estivermos atentos, porque temos o espaço mental ocupado com outras realidades necessárias à sobrevivência diária.

Recordei aquela história contada pelo Comissário de Polícia francês que, nos anos 50 do século passado, quando era, ainda, agente de polícia, recebia ordens para, em Paris, seguir e investigar as vidas e as actividades de uns estudantes africanos negros, naturais das colónias francesas. Concluía dizendo que, como Comissário, agora chefiava muitas vezes as forças policiais que faziam a segurança a esses mesmos (antigos) estudantes, na qualidade de Chefes de Estado das ex-colónias, tornadas países independentes.

Vem isto a propósito de ter constatado da presença de ex-militares guineenses em Portugal, em maior número do que imaginava e, também, da possibilidade de nos cruzarmos, na rua (em Lisboa e em localidades dos arredores), mais vezes do que pensamos, com ex-guerrilheiros do PAIGC, com os quais trocámos tiros, bazucadas, morteiradas e canhoadas há trinta/quarenta anos.

(Não tendo em conta, como é óbvio, as figuras públicas guineenses que, sabemos, estiveram em Portugal ou por aqui passam).

Para quem duvide ou ponha em causa esta afirmação, recomendo que passe durante as tardes, no Largo de São Domingos, em Lisboa e circule entre os muitos guineenses que por ali estão, conversam, se encontram e reencontram. Muitos (talvez) refugiados. Nos dias de mais calor um grande grupo abriga-se à sombra de um poilão (perdão, de um pinheiro) que existe ao pé da Ordem dos Advogados.

Talvez o maior desejo da maior parte desses guineenses seja viver e trabalhar em Portugal ou, quem sabe, conseguir a cidadania portuguesa. Ora, o paradoxo está aqui: de entre eles, pela idade que aparentam, haverá, também, ex-guerrilheiros do PAIGC, que terão os mesmos desejos.

O mesmo se terá passado em França, depois da Indochina e, principalmente, da Argélia.

Isto parece cínico, mas não pretende sê-lo. Somente observador da realidade.

É necessário passar tempo e tempo para que ocorram mudanças causadas pelo fluir desse mesmo tempo, observadas através de outras lentes e com a maior serenidade. Uns tirarão umas conclusões, outros concluirão de forma absolutamente diferente e haverá, também, quem não conclua coisa nenhuma, limitando-se a observar sem qualquer cinismo ou sarcasmo. Quando muito, com cepticismo, mas sem cantar a canção que cantávamos, nas casernas, nos tempos do C.O.M., em Mafra: “Oh tempo, volta para trás…”

A propósito se transcrevem aqui as duas quadras de um conhecido soneto de Luís Vaz de Camões, que, há muitos, muitos anos, concluiu que:

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas da lembrança
E do bem (se algum houve) as saudades.
......................................
"

Mas, enquanto houver homens (e mulheres) com força e de boa-vontade, esperança haverá.

Alberto Branquinho


2. Comentário de CV:

Peço aos leitores que não acreditem que eu insisti com o Branquinho para ele escrever umas coisas. Era incapaz de fazer isso.

Aconteceu que quando ele numa mensagem enviou aquilo de dizia ser o último episódio de "Não venho falar de mim... nem do meu umbigo", fiz-lhe ver que o Blogue não podia desperdiçar camaradas que escrevem, e muito menos aqueles que por jeito ou formação escrevem melhor, como era o seu caso.

O Branquinho prometeu voltar, desta vez para falar do seu umbigo, e aqui está.
Saudamos o seu regresso.
__________

Nota de CV:

24 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4243: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (21): Poema à volta do umbigo

Guiné 63/74 - P4370: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (10): Reencontrei o meu Comandante (Fernando Franco)

1. Mensagem de Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do Pelotão de Intendência (PIAD), Cufar, 1973/74, com data de 17 de Maio de 2009:

Assunto: Ao fim de 35 anos

Amigos Luís Graça e Carlos Vinhal,
o António Graça de Abreu disse que vocês mereciam uma estátua, mas eu digo que só isso era pouco.

Passo a explicar. O ex-Alf Mil João Lourenço foi meu Comandante de Pelotão. PINT 9288 de Cufar. Daí para cá nunca mais soube nada dele.

Assim, gostaria de deixar aqui a minha alegria por ele ter tropeçado no vosso/nosso blogue e dar-lhe as boas vindas.

É mais um membro da Intendência (bianda) para o nosso grupo e com muitas histórias para contar, pois passou uns maus bocados.

Fernando Franco


2. Comentário de CV:

O nosso Blogue, além de ser um repositório da história da guerra na Guiné entre os anos 1963 e 1974, tem proporcionado reencontros de camaradas que não sabiam de si desde a passagem à disponibilidade. Ao longo dos poucos anos que o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné leva na sua existência, tem proporcionado muitas alegrias, muitos reencontros e o refazer de amizades, não esquecidas, mas interrompidas.

Sou, eu próprio, um exemplo, pois acabei por encontrar, graças ao nosso Blogue, um ex-Comandante com quem tinha inclusive feito uma Operação, mas que o tempo acabou por apagar da lembrança. Recorrendo à memória e às fantásticas fotos que religiosamente guardamos, refazemos o passado e alimentamos uma amizade tão profunda quanto desinteressada.

Luís, para ti as minhas homenagens.
CV
__________

Notas CV:

(*) Vd. poste de 26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3943: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (5): Quero exprimir a minha revolta (Fernando Franco)

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4335: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (9): Sinofilias (Jorge Picado / António Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P4369: Os bu...rakos em que vivemos (11): Banjara City, capital do Oio (Fernando Chapouto, CCaç 1426, 1965/66)

Este é o bu… rako idealizado pelo “engenheiro” Fernando Chapouto especializado em armas de Infantaria.

Fernando foi Fur Mil, Op Esp, CCAÇ 1426 (
Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67).

O Chapouto chegou, no Niassa, à Guiné em Agosto de 1965; em Outubro de 1965 foi para Camamudo; em fnais de Novembro de 1965 foi destacado para Banjara; em meados de 1966 foi destacado para Geba; em Março de 1967 foi colocado em Cantacunda; e, por fim, em Maio de 1967 regressou à metrópole no Uíge. Recebeu uma cruz de guerra... É dos nossos mais antigos membros da nossa Tabanca Grande (MR).

Foi em finais de Novembro 65 quando chegamos a Banjara. Muita “engenharia” a colocar fiadas de arame farpado.

Começámos a montar a segurança e a mim tocou-me a porta de armas, no sentido do Banjara -pontão de Bafatá.

(Nesta foto sou o quarto a contar da esquerda - Antes de começar o bu... rako)

Primeiro tivemos que procurar pás e picaretas. Depois abrir as fundações até mais, ou menos, um metro de profundidade.

Segundo pegar nos machados e, em direcção ao pontão bolanha adentro, cortar troncos transportando-os aos ombros até à estrada. Carregá-los na viatura e toca a andar. Colocá-los em cima do bu… rako, cortar bidões, estendê-los e colocá-los em cima dos frágeis troncos.

Finalmente, cobrir tudo com terra, com uma camada suficiente para aguentar, pelo menos com a primeira granada, pois com outras não sei se aguentaria.

O pessoal começou-se a instalar, o primeiro foi o Alferes do meu pelotão, que foi quem menos fez, ou seja nada.

Como a nossa precária “defesa” estava montada, reparamos que não conseguíamos andar em pé, pelo que, foi necessário aprofundar mais o bu… rako.

Toca a tirar novamente as ferramentas, pás e picaretas, e lá comecei eu, de joelhos, a afundar a cota inicial.

Uns cavavam a terra, outros empurravam-na com as pá para a rampa de entrada e outros levavam-na para fora do “bunker”.

Nunca lá dormi. À noite ia até lá jogar as cartas com o pessoal da minha secção.

Preferi dormir os primeiros dias ao relento, tendo depois passado a fazê-lo em tendas de campanha.

Camarada António Moreira (*), o meu buraco ficava junto à casa, sem portas e janelas, onde vagueavam cobras e outros animais, livremente, aquilo parecia um zoo.

Junto ao meu bu… rako estava uma escavadora toda queimada.

Não conheci Guileje e apenas te digo que a electricidade em Banjara era em “pó”.

“Casa de banho” só no meio do mato, fora do arame farpado, e sempre com a G3 ao lado.

As noites eram todas autênticos arraiais. Dormíamos de dia e, a certa altura, já se dormia ao som dos tiros.

Em Banjara sofri horrivelmente, passei fome, perdi um camarada e amigo - o Furriel Tomé -, e psicologicamente fiquei muito afectado.

Também todos aqueles que por lá passaram, ficaram muito traumatizados e muitos nem sequer sabiam que Banjara existia na Guiné.

Só quem por lá passou é que sabe os pesadelos que gramou.

Estranhamente e apesar de tudo, a minha companhia considera-se felizarda, mas se me perguntarem porquê não saberei explicar.

Operações e emboscadas não faltaram mas, felizmente, sempre nos saímos bem delas.

Aqui fica a descrição do meu bu… rako, que o António Moreira diz ter visto em Banjara.

(Nesta foto sou o terceiro em pé, a contar da esquerda - Depois de acabar o bu... rako)


Fotos e legendas: © Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.

Nós alcunhamos Banjara como Banjara city, capital do Oio.

Um forte abraço,
(F. Chapouto)

Fur Mil CCAÇ 1426 - 1965/67 (**)

____________
Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:


Vd. também sobre Banjara, em 1968:


(**) Do Fernando Chapouto, sobre Banjara, ver ainda:

Guiné 63/74 - P4368: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (6): Raízes...

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > 1968 > CART 2339 (1968/69) > O nosso Alf Mil Torcato Mendonça, de peito feito às balas dos guerrilheiros do PAIGC (instalados ao longo da margem direita do Rio Corubal), em cima do capô de um burrinho, qual exímio equilibrista, na estrada Mansambo-Bambadinca (?). Nunca sei qual deles é o verdadeiro herói, o Torcato ou o José (à esquerda). (LG) Foto: © Torcato Mendonça (2006). Direitos reservados. 1. Mensagem de Torcato Mendonça, de 15 de Maio último: Olá, Camaradas Editores Com a tourada ao lado, fui escrevendo e vendo as pegas a não darem. Este escrito pouco tem a ver com o que costumo enviar. É para aliviar tensões e aquilo a que dizem ser "polémicas". Tenho disso escrito por aqui. Falta teclar. Há por aí textos vários. Um dia teclo e vai tudo. Estou a apanhar ritmo e a "acalmia" para a escrita. Mais uma pega falhada... Pois vai este escrito para ser diferente... Abraços do, Torcato 2. Mensagem de 16 de Maio: Amigos Editores. Ontem, depois de há muito nada mandar de escritos, enviei um com o Titulo - Passado e Presente. Estava "encrensado" com a tourada...e reli hoje. Se publicarem mudem ao menos o titulo para - Raízes. Estou com tentos na "forja": Musa Iéro; O Sexo em Tempo de Guerra; Pensamento Alterado (título a ser mudado) e etc. (...) Abraços e até ao meu regresso...Torcato 3. Comentário do L.G.: Há dias provoquei o nosso amigo e camarada José, alentejano-algarvio a viver no Fundão, a terra da melhor cereja do mundo (conselho de amigo: não venhas já a correr, Luís, que a primeira é para os pardais, os turistas e os apressados,; a melhor é a de Junho)... José: Vamos lá sair dessa morrinha... Daqui a um bocado tens aí o teu neto a querer jogar à bola contigo... Tens de ficar em forma... Vamos desenguiçar esses teus escritos... (...) Parece que a provocação resultou... O nosso camarada Torcato (re)começou a mandar-nos os seus textos, qu vamos publicar para contentamento dos seus admiradores (onde eu me incluo)... Alguns ficaram no limbo. Vamos recuperá-los. Combinei com ele que vai tudo para a série Estórias de Mansambo... tanto as de ontem como as das de hoje, tanto as histórias como as estórias, tanto o Torcato como o José... Simplex, bloguex... Obrigado, camarada. (LG) 2. Estórias de Mansambo (17)> Raízes por Torcato Mendonça Deixei a Auto-estrada, volteei pelo nó de ligação e preferi entrar na estrada secundária, procurando caminhos de infância ou, talvez melhor, de juventude. Tarde quente em Verão já, nesse ano, meio gasto mas aquecendo ainda forte os montes ligados uns aos outros, cobertos pela vegetação típica de estevas, medronheiros e sobreiros. A estrada serpenteava entre eles na fronteira entre Algarve e Alentejo reflectindo o calor. Conduzia devagar, com tempo só para mim e deliciando-me com a paisagem, sabendo que, alguns quilómetros à frente, a estrada seria mais larga e recta, correndo pela planície e charneca arenosa adentro. Mais uma curva e, antes de um cruzamento, aparecem umas quantas casas brancas, com as características barras azuis a debruarem portas e janelas, além das barras a subirem, menos de um metro, do solo xistoso do pequeno largo. Numa delas, à porta estava dependurado o característico garrafão já meio desfeito mas o suficiente para nos indicar a taberna ou a loja de tudo. Uma breve paragem, carro estacionado de traseira para o sol pois sombras eram falha da natureza e dispensável para os homens. Saí respirando o ar puro, sentindo o silêncio do calor, os cheiros daquela terra, o barulho das cigarras e a deixar entrar as recordações de um passado não tão distante assim. Devagar, como aquela terra nos exige, atravessei o largo em direcção à porta com o garrafão e entrei afastando as fitas de plástico da cortina. O fresco veio ao meu encontro e a penumbra obrigou-me a meter os óculos ao bolso. Dois velhos jogavam damas numa mesa a um canto. Ao balcão um homenzarrão, barriga proeminente, mãos apoiadas no balcão de madeira escura e usada, mangas da camisa aforradas e colete escuro. - Boa tarde a todos. - Boa tarde. - Resposta calma com olhares de interrogação. - Bebia uma cerveja preta se tiver e fresca, claro. - Cerveja só das ‘loiras’, grandes ou minis. - Mini, para já. Para não beber sozinho convido-os a beberem qualquer coisa. Agradeceram e recusaram. Bebi devagar, encostado ao balcão. Abri mais o colarinho do pólo e, sem dar por isso, deixei aparecer a tatuagem de um dos braços e disso me apercebi ao ver o olhar do taberneiro. - Isto parece ter cada vez menos gente. - Vai-se tudo. Uns para baixo para o Algarve e outros para cima para Lisboa e outros sítios. Só ficam os velhos e os que estão fartos do reboliço. -Vossemecê tem isso aí escrito no braço e, pela cara, se calhar andou por África. -Andei. Abanou um pouco e lentamente a cabeça. Depois devagar arregaçou um pouco a manga da camisa. Lá estava desenhado um coração com amor de mãe. Rápido baixou a manga. Não consegui ler o resto. - Então o senhor também para lá foi. - Andei pela Guiné. - Porra, que foi lá que eu estive. A cara abriu-se mais, o sorriso apareceu, os olhos ficaram mais vivos. Parecia outro. - Então, por onde? - Pelo Leste; Bambadinca e outros lados. - Eu, primeiro, fui para o Norte, Bigene e depois para Catió, lá pelo Sul. Quase não vi Bissau. Porrada e mais porrada, fome e febres e um calor de um cabrão. O tempo, esse, passava devagar demais. -Mais uma mini, loira e fresca. Riu-se. Tirou outra para ele e de um trago bebeu metade. Depois falou sobre a Guiné, as saudades ainda hoje dos camaradas e o regresso. Sentia-se a necessidade de falar, desabafar, mandar para fora as memórias retidas. Parou, bebeu o resto da mini e mais calmo, mais pensativo, voltou a falar: -Quando regressei, foi difícil fazer-me à vida. Andava por aí sem saber o que fazer. Andava inquieto. Um dia abalei até Setúbal. Estive lá uns anos bem bons mas tive que voltar. Não dava. Tomei conta aqui da loja do meu pai. Voltou a calar-se. Senti que regressara lá ou a alguma memória recalcada. Quanto dele lá teria ficado? Deu uma pequena palmada no balcão, olhou-me e com uma voz mais funda, mais grossa e pastosa, perguntou: - E vossemecê, deu-se bem com aquilo? - Ninguém se deu bem naquilo camarada. Vim e lembro aquilo como você. Pega-se á pele, entra cá dentro e fica para sempre. - Não tenha dúvidas. São lembranças fortes. - Tenho que ir. Quanto devo? - Porra. Nada, porra que até ofende. Então um homem está aqui a falar daquelas vidas e ia receber dinheiro ?! Quando passar aqui outra vez vem ao castigo’ e falamos melhor. Agora é de amigos… - Obrigado´, camarada. A malta que esteve na Guiné parece que tem uma união diferente, mais forte. - Não tenha dúvidas; não tenha dúvidas. Saí para o calor da tarde e senti-o atrás de mim. Voltei a apertar-lhe a mão forte e uma palmada correspondida no ombro. - Belo carro. Correu-lhe bem a vida não? - Nada disso. O carro é do patrão. Fui condutor na tropa e depois continuei na vida civil. Vou entregar o carro a Lisboa. - Pois…por aqui. Vai no caminho certo. Apareça um dia. E ria-se. - Até á próxima, camarada. - Até…lá. ____________ Nota de L.G.: (*) Vd. último poste da série > 10 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4171: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (5): Emboscada na Fonte de Mansambo

domingo, 17 de maio de 2009

Guiné 63/74 – P4367: Ainda a última emboscada do PAIGC em 15 de Maio de 1974, no pontão do Rio Jagarajá, subsector do Xitole (José Zeferino)



É com todo o prazer que faço o seguinte comentário ao futuro poste do Macau. Se o acharem extenso poderão resumi-lo de acordo com o espaço disponível.

Foi com satisfação que tomei conhecimento do poste do Joaquim Macau, pois não me sentindo, como é evidente, isolado na nossa tertúlia, é bom ter alguém com a mesma origem: a 2ª CCAÇ do 4616.

Tenho só a lembrar ao Macau que a “curva da morte” ficava perto da Ponte dos Fulas e que a emboscada, de 15 de Maio, se deu no limite do nosso sector, com Mamsambo, no pontão do rio Jagarajá.

O Domingos, continuo em crer que foi atingido no peito. A sua G3, toda distorcida, só foi recuperada 15 dias depois, na mesma zona, aquando de uma nova segurança à nossa habitual coluna de abastecimento. Se estava a usá-la com a bandoleira podia tê-la, então, pelas costas - a preocupação dele seria o Rádio - e então o Macau pode ter razão.

O Macau também se deve lembrar que, também o alferes Aguiar faleceu, já no HMB, atingido por uma mina accionada nessa emboscada.

O Allouette III, na foto, fez parte da única formação aérea que pousou naquele heliporto antes do 25 de Abril e no nosso tempo. Tinha transportado o general Bettencourt Rodrigues na visita ao Xitole. O meu GC estava, na altura, destacado na Ponte dos Fulas que o nosso general também foi visitar.

Quanto ao problema da água creio que tem razão. Havia mais dificuldade em manter os níveis no depósito, já que, o mesmo, servia mais pessoal. Pessoalmente, só por ma ocasião tive falta dela, durante um dia , mas o bidão que servia, creio que 2 pessoas, era de fácil enchimento. No entanto não recebi qualquer queixa dos camaradas do meu GC.

Um grande abraço para o Macau e para todos tertulianos.

Com os melhores cumprimentos,

(José António dos Santos Zeferino)

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Nota de M.R.:

Vd. Último poste da série em:



Vd. poste anterior do autor em: