sábado, 7 de novembro de 2009

Guiné 63/74 – P5231: Expedição Humanitária 2009 (7): Diário de Bordo: de 20 a 26 de Fevereiro (José Moreira, Memórias e Gentes)

Porto-Bissau 2006 > Viagem de jipe (solitário) com o Xico Allen, a Filha, o Marques Lopes, o Hugo Costa e mais 2 camaradas > Marrocos > Marraquexe > 3º dia, 7 de Abril de 2006

Porto-Guiné 2006 > Marrocos > O Atlas ao fundo > 7 de Abril de 2006

Porto - Guiné > Saará Ocidental > Dia 4, 8 de Abril de2006 > Uma paragem para almoçar, a 149 km de Boudjour

Porto - Guiné 2006 > Mauritânia > Dia 5, 9 de Abril de 2009 > Nouakchott, a capital, fica para trás

Porto - Guiné 2006 > Mauritânia > Uma viagem com algum exotismo e muitos quilíometros > 10 de Abril de 2006. A 12 de Abril, o jipe atravessa, por volta das 10h15, a fronteira do Senegal com a Guiné (*)

Fotos: © Hugo Costa (2006). Direitos reservados

1. O nosso Camarada José Moreira (ex-Furriel Miliciano da CCAÇ 1565 - 1966/68) é Presidente da Direcção da Associação Humanitária “Memórias e Gentes”, enviou-nos a seguinte mensagem:

Em Marcha Expedição Humanitária Portugal - Guiné-Bissau 2010

Coimbra, 22 de Outubro de 2009

Camarada e amigo Luis Graça, em tempos formulastes o pedido, para descrevermos o percurso das nossas expedições à Guiné-Bissau. Finalmente ele aqui vai numa espécie de “Diário”, com os dias de viagem, horas, quilómetros parcelares e totais até à Guiné-Bissau. Presumo ser uma informação útil para todos os camaradas do Blogue que, eventualmente, queiram um ano destes participar connosco nesta viagem que, ininterruptamente se faz há 5 anos a esta parte.

Uma curiosidade: Analisando os Kms. já percorridos e adicionando os da próxima expedição, esta Associação vai atingir os 100.000 Kms. (ida e volta), ao volante pela lusofonia.

Cumprimentos,
Presidente da Direcção
José Moreira
(Ex-Furriel Miliciano da CCAÇ1565 de 1966/68)

Uma imagem do diário "As Beiras", de 21 de Fevereiro de 2009, que foi enviada pelo nosso camarada coimbrão, Carlos Marques dos Santos (ex-Fur Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69), que acompanhou a reportagem sobre a Expedição Humanitária, organizada pela Associação Humanitária "Memórias e Gente", sob a liderança do José Moreira. A partida foi no dia 20 Fevereiro de 2009. A caminho de Bissau seguiram 22 amigos (20 homens e 2 mulheres) e camaradas da Guiné. Foi uma viagem de sete dias com 9,3 mil quilómetros percorridos. Dias antes da sua partida, seguira 1 contentor com várias utensílios e utilidades de 25 toneladas.

O "diário de bordo" do José Moreira, relativo à viagem de 2009... Dia a dia, km a km...

Data / Hora / Kms / Parciais / Kms Totais / Descrição:

20-02-2009 10H00 0 0 1.º Dia. Partida do Largo da Portagem, na cidade de Coimbra. O ambiente era de festa e estavam presentes quer o Sr. Presidente da Câmara Municipal quer o Sr. Governador Civil. Notava-se alguma ansiedade no ar, mas também uma grande vontade de partir, pois o ferry-boat não esperava. Davam-se entrevistas para rádios, jornais e Agência Lusa, e no fim não faltou a bela "foto de família".

20-02-2009 Primeiro almoço na Área de Serviço de Grândola, em plena auto-estrada portuguesa. Havia sandes de leitão, cerveja e um óptimo vinho branco.

20-02-2009 16H15 Entrámos em Espanha pela ponte de Ayamonte, e acrescentámos uma hora aos relógios.

20-02-2009 21H45 854
854 Chegada a Tarifa. Para ajudar, acabámos por nos perder, e chegámos ao porto 15 minutos atrasados. É verdade, perdemos o barco por 15 minutos, e ele até se atrasou meia-hora, pois a hora de partida estava marcada para as 21:00 horas. Arranjámos quartos no Hostal Las Margaritas, fomos jantar e depois... cama. Notou-se alguma frustração no pessoal da organização, pois o atraso era significativo. Contudo, amanhã há mais... despertador para as 07:00 horas.

21-02-2009 07H00 0
854 2.º Dia. Hora de levantar. Banho, bolinhos e… toca a andar.

21-02-2009 07H40 2
856 Chegada ao Puerto de Tarifa - Estación Maritima. Grande fila e nós em último. O jipe do Vítor deu o primeiro problema, pois saltou um tubo do vaso de expansão.

21-02-2009 08H30 3
857 Entrámos no ferry-boat Limassol. Muita confusão… o habitual.

21-02-2009 09H20 Finalmente partimos em direcção a África. O mar estava encrespado e no barco parecia que estavamos num carrossel.

21-02-2009 09H20 3
857 Entrada em Marrocos. Voltámos a pôr a hora igual à de Portugal, ou seja, ganhámos uma hora e passaram a ser 09:20 horas. Assim que parámos na fronteira de Tânger, apareceram logo uns "funcionários" que nos pediram os documentos das viaturas e dos condutores. Contudo, no final, o habitual: «Propina para nós os dois» (sic).

21-02-2009 09H45 3 857 Saímos da fronteira. Foi muito rápido. Apareceu uma viatura da polícia com as luzes verdes… realmente, são diferentes. Mais, enquanto esperávamos uns pelos outros, apareceram dois oficiais da polícia marroquina e, mais uma vez, a simpatia natural. Quiseram ver a lista da caravana e saber as datas da nossa viagem, para assim poderem avisar o resto da polícia, para facilitar a passagem das viaturas. Depois, mais uma "propina" e um sorriso.

21-02-2009 10H40 3 857 Saída da fronteira. O ambiente estava calmo, mas o atraso era evidente.

21-02-2009 11H30 2 859 Saída de Tânger, depois de abastecer as viaturas e levantar Dirhams.

21-02-2009 13H00 159 1013 Paragem na área de repouso de M Nasra. À medida que íamos entrando em Marrocos a temperatura não parava de subir… parecia Verão. A agricultura fazia-se ao longo da costa, e eram visíveis estufas de morangos e de bananas. Havia, igualmente, culturas de regadio, de onde se destacava a produção de batatas.

21-02-2009 Rumámos a Sul via auto-estrada A1. Era incrível o número de pessoas a pedir boleia dentro dos limites da auto-estrada… e as cabras a pastarem nos taludes?

21-02-2009 13H25 Chegada a uma portagem sita a cerca de 10 Km de Kenitra. Próxima paragem era para almoçar. O ritmo da "segunda caravana", onde nós estavamos incluídos, fazia-se como se tratasse de um simples passeio… não passavamos dos 100 Km/h.

21-02-2009 13H35 Engano na nossa caravana… é o que dá o grupo estar separado.

21-02-2009 13H40 219 1076 Paragem na área de serviço de Kenitra para almoçar. O "Nando" confeccionou uma febras divinais e o Gustavo preparou o seu antibiótico (mel + água ardente).

21-02-2009 15H10 219 1076 Regresso à estrada. Pouco depois, controlo de velocidade na auto-estrada.

21-02-2009 15H40 263 1120 Chegada a Rabat (capital de Marrocos). Antes encontrámos o polo em construção da futura TECNOPOLIS, e junto à estrada vimos muitas famílias a fazerem piqueniques.

21-02-2009 16H35 355 1212 Passámos ao lado de Casablanca sem parar. Por muito velhas que sejam as casas, não faltam antenas parabólicas. O lixo… queima-se nas ruas e o cheiro nota-se bem. Seguimos pela auto-estrada Casablanca/El Jadida. Após o almoço passámos a rodar a cerca de 120 Km/h, que é o limite máximo nas auto-estradas marroquinas. De quando em vez, o Oceano Atlântico aparece-nos à direita, assim como, algumas praias que parecem ser fantásticas. A vegetação está muito verde e nota-se que há muita água nesta região.

21-02-2009 17H35 451
1308 Chegámos a El Jadida e efectuámos uma paragem de cerca de dez minutos. O Sol começa a pôr-se e a temperatura desce de forma acentuada, pois estamos junto ao mar. Pedimos ajuda a um marroquino. Verifico que os marroquinos continuam a não gostar de fotografias (nomeadamente, as marroquinas) e descubro uma inovação em termos de segurança: um cão preso no telhado de uma casa.

22-02-2009 00H25 888 1745 Chegada a Agadir. A Toyota Hiace furou um dos pneus traseiros, que é prontamente trocado por quatro voluntários marroquinos. Para surpresa de todos, o pneu sobresselente também estava furado. Ficámos instalados no Hotel Mabrouk, junto ao qual havia um bar de alterne, tipo "Piano Bar / Dancing", de nome Red Lion.

22-02-2009 07H00 0 1745 3.º Dia. Não obstante termos acordado cedo, o pequeno-almoço atrasou devido à falta de empregados no hotel.

22-02-2009 08H15 0 1745 Saída do hotel em caravana. Parámos à saída de Agadir para atestar as viaturas e, entretanto, chega um vendedor de legumes frescos. Contudo, este conceito é discutível.
22-02-2009 08H50 Saída da cidade de Agadir.

22-02-2009 09H50 67 1812 Entrada na província de Tiznit.

22-02-2009 09H53 73 1818 A viatura do Vítor volta a dar problemas e tivémos que parar para limpar o filtro do gasóleo. As mãos do Alves pareciam uma chave de grifos a desapertar o filtro.

22-02-2009 10H10 73 1818 Voltámos à estrada.

22-02-2009 10H25 94 1839 Chegada a Tiznit. As ovelhas também merecem andar confortáveis e, como tal, nada como ir dentro de uma carrinha.

22-02-2009 11H50 101 1846 Passagem por De Guelmin e início do Sahara. Andámos às voltas para encontrarmos a direcção de Tan-Tan. À saída, muito vento e pó no ar. Temperatura óptima e sol quanto baste.

22-02-2209 243 1988 Passámos dentro de uma tempestade de areia.

22-02-2009 300 2045 Na paisagem vêem-se muitas antenas e junto à estrada começavam a aparecer cada vez mais dromedários. Em algumas colinas eram visíveis escritos feitos com pedras, isto mesmo antes de entrarmos na província de Tan-Tan.

22-02-2009 13H30 321 2066 Entrada na província de Tan-Tan.

22-02-2009 13H40 339 2084 Entrámos na cidade de Tan-Tan e fomos parados pela polícia, para controlo dos passaportes.

22-02-2009 14H10 368 2113 Passagem por El Quantia e chegada a Tan-Tan de la Plage. Paragem para almoço. Apareceu o "General" e o Lobo entregou-lhe uma fotografia tirada o ano passado. O "General" mostrou gostar quer de cerveja quer de bifanas. Litro do gasóleo era a € 0,438.

22-02-2009 16H20 368 2113 Saída de Tan-Tan de la Plage. A estrada que se seguiu apresentava paisagens magníficas, com praias e dunas.
22-02-2009 19H40 657 2402 Chegada a Laayoune. Apanhámos um primeiro posto de controlo que foi fácil de passar, mas depois seguiu-se um segundo onde perdemos um quarto de hora.
22-02-2009 22H40 851 2596 Chegada a Bonjdour (Cabo Bojador), onde apanhámos uma operação STOP que nos fez perder mais meia-hora.

22-02-2009 23H15 854 2599 Chegada ao Hotel Taiba, que até cheirava a novo (€ 30,00/quarto). Depois, um belo jantar de peixe frito, com salada de tomate e pão, no restaurante Jebal Gar-Gar.

23-02-2009 08H00 0 2599 4.º Dia. Fomos enganados e tivémos que pagar o pequeno-almoço.

23-02-2009 08H30 3 2602 Saída do Cabo Bojador, com o tempo muito encoberto. Estradas planas com muitas rectas, e uma paisagem sempre deslumbrante. Os controlos de estradas sucedem-se, mas a imensidão da paisagem faz esquecer o resto.

23-02-2009 11H40 292 2894 Passagem pela aldeia piscatória de N'Tirif.

23-02-2009 12H15 352 2954 Passagem por Tinghir.

23-02-2009 12H48 379 2981 Ultrapassámos o Trópico de Câncer.

23-02-2009 13H00 400 3002 Passámos por um acidente rodoviário. Uma carrinha encontrava-se voltada, devido ao rebentamento de um dos pneus traseiros.

23-02-2009 13H50 481 3083 Passámos junto a um acampamento militar marroquino, em pleno Sahara Ocidental e no meio do nada.

23-02-2009 14H35 541 3143 Indicação de existência de um campo de minas.

23-02-2009 14H50 570 3172 Chegada a Roc Chico e paragem para almoçar.

23-02-2009 16H10 570 3172 Partida de Roc Chico.

23-02-2009 16H55 658 3260 Chegada à fronteira de Marrocos, que permite passar para a Mauritânia.

23-02-2009 18H30 658 3260 Saída de Marrocos e entrada na "terra de ninguém".

23-02-2009 18H45 663 3265 Chegada à fronteira da Mauritânia, onde já nos esperava o Arturo (mediador de seguros).

23-02-2009 19H00 663 3265 Entrada do primeiro grupo na Mauritânia.

23-02-2009 19H35 663 3265 Entrada do segundo grupo na Mauritânia.

23-02-2009 20H30 663 3265 Primeiro controlo policial na Mauritânia, logo após saírmos da fronteira. Depois, ainda apanhámos mais alguns, sendo que, num deles tivémos que pagar € 10,00/viatura.

23-02-2009 21H30 714 3316 Chegada a Nouadhibou.

23-02-2009 21H40 720 3322 Chegada ao hotel Al Jezira, na cidade de Nouadhibou. Demos uma volta pela cidade e quando fomos parados numa das barreiras policiais, deixaram-nos logo seguir, visto sermos turistas portugueses.

24-02-2009 08H05 0 3322 5.º Dia. Saída do hotel em caravana. Pouco depois fomos parados num controlo policial e deu-se a pergunta sacramental: "Qualquer coisa para a Polícia?".

24-02-2009 10H35 177 3499 Depois de várias paragens em postos de controlo, eis que parámos no posto de El Valah. A paisagem começou a mudar e as grandes dunas começaram a dar lugar à savana.

24-02-2009 12H15 346 3668 Começou a chover e, entretanto, o Mercedes-Benz atolou na berma da estrada.

24-02-2009 12H50 389 3711 Parámos num posto de controlo (o terceiro em quinze quilómetros), e o militar que lá se encontrava pediu-nos água. Como só tínhamos uma garrafa à vista, mandou-nos embora.

24-02-2009 13H10 431 3753 Zona de exploração de areias, onde os homens abrem buracos tão grandes que cabem lá dentro as camionetas. Depois, é só atirar a areia para dentro da caixa de carga, com as pás.

24-02-2009 13H40 474 3796 Posto de controlo armados. De salientar que na Mauritânia os posto de controlo sucedem-se a um ritmo impressionante.

24-02-2009 13H50 480 3802 Entrada na cidade de Nouackchott (capital da Mauritânia). A dada eltura passámos por um pedreiro que trazia vestida uma camisola da selecção portuguesa de futobol, com o nome do Cristiano Ronaldo nas costas.

24-02-2009 14H55 506 3828 Paragem da caravana para o almoço. Entretanto apareceu um berbere que queria que nos fossemos embora, pois estávamos a assustar os dromedários.

24-02-2009 15H30 506 3828 Iniciámos de novo a marcha, mas desta feita com uma tempestade de areia como companhia.

24-02-2009 15H40 531 3853 Passámos pela cidade de Boutreva. Os postos de controlo continuam a suceder-se, e os polícias não têm qualquer problemas em pedir presentes.

24-02-2009 17H20 688 4010 Entrada na cidade de Rosso.

24-02-2009 19H30 782 4104 Paragem no posto de controlo do Parque Natural de Diawling. Mais uma vez tivémos que pagar para passar - € 5,00/pessoa.

24-02-2009 19H45 793 4115 Chegada à fronteira. 24-02-2009 20H10 793 4115 Saída da fronteira em direcção ao Senegal.

24-02-2009 20H11 794 4116 Chegada à fronteira do Senegal. Foram € 10,00/viatura só para entrar, e mais umas prendas. Depois, € 5,00/pessoa e € 60,00/viatura para poder seguir viagem, pois os guardas tiveram que estar a fazer horas extraordinárias.

24-02-2009 21H50 794 4116 Saída da fronteira escoltados por um "velho conhecido" da polícia local.

24-02-2009 22H10 823 4145 Entrada na cidade de Saint-Louis. Ligámos o rádio e começámos a ouvir a emissão da Rádio Crioula de Cabo Verde.

24-02-2009 22H30 833 4155 Chegada ao hotel Cap Saint-Louis.

25-02-2009 09H45 0 4155 6.º Dia. Saída do hotel em caravana, a fim de ainda ir tratar dos seguros para as viaturas.

25-02-2009 10H20 0 4155 Finalmente foram feitos os seguros e seguimos para a cidade de Saint-Louis.

25-02-2009 11H25 10 4165 Depois de atestar as viaturas, começámos a andar em direcção a Sul.

25-02-2009 11H50 31 4186 Passagem por Semel. Estávamos nitidamente em África. Mudou a paisagem… mudaram as pessoas… mudaram as cores.

25-02-2009 12H50 113 4268 Passagem por Kébémèr.

25-02-2009 13H10 146 4301 Passagem por Sagatta Gueth, com grande agitação no mercado da cidade.

25-02-2009 13H20 157 4312 Paragem para o almoço à beira da estrada.

25-02-2009 14H45 157 4312 Voltámos à estrada.

25-02-2009 15H20 200 4355 Passagem por Touba, onde parámos para arranjar os pneus da Toyota hiace.

25-02-2009 16H50 219 4374 Saída da cidade de Touba.


25-02-2009 17H30 263 4617 Passagem por Mbar, com viragem para Kaffrine.

25-02-2009 18H15 325 4480 Passagem por Kaffrine.

25-02-2009 18H50 362 4517 Entrada na "picada".

25-02-2009 21H20 416 4571 Paragem na cidaded de Koungheul para abastecer as viaturas.

26-02-2009 00H20 548 4703 Finda a "picada", acabámos por chegar à cidade de Tambacounda.

26-02-2009 01H00 553 5256 Chegámos ao Hotel Niji, em Tambacounda. Sensação: parece que acabámos de sair de dentro de uma máquina de lavar a roupa.

26-02-2009 08H15 0 5256 7.º Dia. Arrancou o primeiro grupo da caravana.

26-02-2009 08H50 0 5256 Arrancou o segundo grupo da caravana, após termos mudado uma das rodas do Nissan Patrol do Vítor.

26-02-2009 11H00 152 5408 Passagem sobre o Rio Koulountou.

26-02-2009 11H55 212 5620 Passagem por Vélingara.

26-02-2009 12H05 226 5846 Passagem por Biarou.

26-02-2009 12H25 249 6095 Passagem por Kabendou e entrada em "picada" com piso do tipo "chapa ondulada".

26-02-2009 12H50 268 6363 Chegada à fronteira do Senegal, situada em Wassadou.

26-02-2009 13H15 273 6636 Saída do Senegal.

26-02-2009 13H25 279 6915 Chegada à fronteira da Guiné-Bissau em Pirada. Finalmente voltámos a ouvir falar em português.

26-02-2009 15H05 331 7246 Chegada à cidade de Gabú. A alegria na caravana era total e impossível de esconder.
26-02-2009 16H35 331 7577 Após o almoço, saída da cidade de Gabú.

26-02-2009 17H20 384 7961 Depois de algumas "bolanhas" e de várias "tabancas", passagem por Bafatá.

26-02-2009 17H45 412 8373 Passagem por Bantandjan.

26-02-2009 18H25 471 8844 Passagem por Jugudul.

26-02-2009 19H00 518 9362 Chegada ao Hotel Rural de João Landim. Estamos a escassos quilómetros de Bissau, o nosso destino final.
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


(*) Vd. poste de 14 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCLI: Do Porto a Bissau (15): Diário de bordo e avisos à navegação (A. Marques Lopes)

Guiné 63/74 - P5230: Guidaje, Maio de 1973 (2): O fim do pesadelo (Manuel Marinho)

1. Mensagem de Manuel Marinho*, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74, com data de 19 de Outubro de 2009:

Caro camarada Carlos Vinhal:
Envio-te mais este texto sobre Guidaje.


O FIM DO PESADELO

No dia 29 de Maio chegámos a Guidaje ao anoitecer. Fomos de imediato para as valas, arranjando-nos o melhor possível para passarmos a noite, porque a aglomeração de tropa era muita, pois a juntar às unidades que esperavam o regresso, chegou a nossa coluna. Pouco tempo depois fomos brindados com umas morteiradas.

Dia 30 ao amanhecer, Páras e Fuzos enquadram as unidades da coluna do dia 15, retida ainda em Guidaje e juntos fazem o regresso a Binta, utilizando a picada aberta.

Depois com alguns camaradas procurei acomodar-me melhor, fomos parar a um pequeno edifício, com poucas camas, com colchões com grandes manchas de sangue, já muito seco e cheiro nauseabundo, (seria a enfermaria?), mas foi aí que fiquei no chão, porque me parecia que estava mais resguardado.
Depois voltei para as valas, porque noutro ataque caíram morteiradas perto do local. Sei que estava do lado contrário ao refeitório, porque nos dias seguintes para tentar comer qualquer coisa tinha de atravessar a parada, o que noutras situações seria normal, ali era demasiado perigoso, pensava duas vezes antes de ir, mas era a situação real do quartel que nos ditava essas regras, porque não havia local seguro em Guidaje, embora já se tivesse atenuado a pressão devido à operação “Ametista Real” levada a cabo pelo Batalhão de Comandos Africanos.

Perdi a noção do tempo, vivemos esse dias como ratos, a alimentação era escassa e a verdade é que o apetite era proporcional. Também não havia horas para comer e para não irmos todos, um camarada trazia comida para dividirmos, e no dia seguinte era outro, e assim evitávamos muito a circulação pelo aquartelamento. De forma alguma podia haver ajuntamento por isso esperávamos a vez para ir buscar um bocado de arroz.

Uma das vezes ia eu a meio da parada, ouvi a saída dum morteiro, corri e atirei-me pelos pequenos degraus dum abrigo que ficava já perto do refeitório, onde me resguardei de mais um ataque. Confesso que me é difícil localizar com alguma precisão, os edifícios do quartel, porque os dias que lá passei foram de loucos, se por alguma razão se fazia algum ruído por mais leve que fosse, sobressaltava-nos de imediato, e a tensão aumentava e o sistema nervoso abalava. No quartel, o forçado silêncio só era interrompido pelas morteiradas enviadas pelo IN.

Quando houve ordem de partida, dia 11 logo ao alvorecer, foi aberta nova picada com a máquina D-6 que tinha feito a abertura a 29 na ida da coluna para Guidaje, esta nova picada era de todo necessária, pois suspeitava-se que os caminhos existentes estariam de novo minados.

Enquadrados pelos Comandos, lá viemos a corta-mato em marcha lenta por causa do trabalho de derrube de árvores feita pela máquina, e a meio da tarde já ao chegarmos a Binta, cruzámo-nos com a coluna que seguia para Guidaje.
O nosso aspecto devia parecer o de autenticos bandoleiros, pois o olhar que nos lançavam era de espanto, lá os encorajámos dizendo-lhes que o pior já passara, e felizmente era verdade.

Deixámos Nema em 10 de Junho, juntando-nos ao resto da Companhia em Binta, onde permanecemos até Agosto de 1974, sempre a calcorrear aquela picada, (e trilhos que iamos fazendo), fomos o começo, o meio e o fim.

Durante a estação das chuvas (Junho-Outubro), fizemos a actividade operacional de forma mais intensa do que era habitual, com mais patrulhamentos e segurança a colunas, e acções de reconhecimento que iam até Guidaje, mesmo com as condições adversas do terreno.
Por essa altura havia problemas com a alimentação, que não chegava de Bissau, creio que por problemas logistícos, pois fomos abastecidos por barcaças pelo rio Cacheu, depois de arroz com atum, arroz com salsichas, e finalmente arroz com marmelada. O que nos valia era termos um camarada especialista na subtração de cabritos à população que nos permitia resistir e não ficarmos enjoados com tanto arroz.


2.ª fase- construção da estrada Binta-Guidaje:

Em princípios de Janeiro de 1974 com a chegada da Engenharia, iniciam-se os trabalhos de alargamento da picada a partir de Binta, e começámos nós na protecção e segurança à mesma, com o reforço da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4516.
Era um trabalho desgastante, a começar logo de manhã bem cedo com a respectiva picagem e o reconhecimento da zona, sempre mais à frente, onde as obras recomeçam. Depois era a paragem forçada nos lados da picada para a protecção aos trabalhos, numa imobilidade forçada durante as horas de trabalho da Engenharia, com o especial cuidado onde se ficava por causa de minas.

A estrada nova foi o mais possível em linha recta até Guidaje, e ficou feita até perto da bolanha do Cufeu, quando cessaram os trabalhos, já depois do 25 de Abril.

Todos os dias ficava um Grupo de noite no mato a guardar as máquinas, de modo que praticamente uma vez por semana tocava-nos a nós. Fazíamos 24 horas seguidas no mato, regressando ao quartel quando recomeçavam as obras no dia seguinte, sendo rendidos pelos que chegavam para esse dia. Nos primeiros quilómetros foi assim, mas quando a distância já era longa, tornava-se perigoso ficar apenas com um Grupo no mato. Assim ao entardecer, quando findavam os trabalhos, as máquinas retrocediam o mais possível para evitar riscos desnecessários, no dia seguinte voltava-se a fazer as picagens e o reconhecimento mais à frente.

Em meados de Março, já com a estrada em adiantado estado, sofremos a emboscada esperada há algum tempo. As condições eram outras, porque até a largura da estrada não permitia grande proximidade pelo IN que montou a emboscada do lado esquerdo. Precisamente do lado direito da picada seguiam os Grupos da CCAÇ 4516 à frente, e mais atrás o meu Grupo entrou a corta- mato pelo lado esquerdo, quando rebenta o tiroteio. De imediato avançámos com o objectivo de envolvermos o IN, pois estavam à nossa frente. Pedimos o cessar fogo à 4516 para intervirmos nós, senão corríamos o risco de sermos atingidos pelos nossos, assim foi feito fogo de morteiro e dilagramas, e em progressão rápida depressa atingimos o local onde o IN se emboscara, e donde retirara deixando no local um ferido.

No local procedemos ao reconhecimento e a indícios que o IN deixara e qual não é o meu espanto, atrás de mim um camarada aponta a G3 para uma cova camuflada por folhas de árvores e dispara um tiro ao mesmo tempo que exclama:

- Está aqui um!!

O ferido passou a morto. Era o comandante daquele Grupo IN, talvez o equivalente aos nossos Alferes, pois a divisa que ostentava era idêntica.
Um dos africanos que nos acompanhava, preparou-se para lhe cortar uma orelha, no que foi de imediato travado pelo nosso Alferes e pelos que estavam perto.
O meu camarada explicou-me depois que num último esforço o guerrilheiro, embora bastante ferido, tentou alvejar um de nós, pois estava já com a arma levantada nas nossas costas, porque tínhamos passado por ele sem o vermos.
Eu fui um deles. Como ele estava bem camuflado pelo seu esconderijo, um de nós teve sorte, pois houve alguém do meu Grupo que foi mais cuidadoso.


Binta > Alguns elementos do 2.º GCOMB/1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512/72

Elementos do 1.º GCOMB/1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512/72 na estrada Binta/Guidage, arranjada depois do 25 de Abril

Picada Bigene/Binta - Novembro de 1973 > Manuel Marinho ao lado do condutor

Um grande abraço
Porto-19 de outubro de 2009
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste com data de 7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5067: Guidaje, Maio de 1973 (1): Momentos difíceis para as NT (Manuel Marinho)

Guiné 63/74 - P5229: Ser solidário (43): A Tabanca de Matosinhos constitui Associação de Apoio e Cooperação ao Desenvolvimento Africano (Editores)

1. Notícias da Tabanca de Matosinhos

Há muito que a Tabanca de Matosinhos* deixou de ser só uma Tabanca de convívio onde aparentemente, às quartas-feiras só se come, para se dedicar à meritória causa de ajudar a colmatar algumas das necessidades mais prementes, principalmente na área da saúde, da Guiné-Bissau.

São já bastantes as suas iniciativas, como podem ver na listagem que vos deixo no fim deste poste.

De acordo com os postes 260 e 264 da Tabanca de Matosinhos, que aqui reproduzimos, com a devida vénia, está em fase final a constituição de uma Associação que oficializa as suas actividades na área da cooperação.


2. P260- A nossa Associação começa a ganhar forma

Nesta última quarta-feira a nossa futura Associação deu passos importantes na sua génese já que os presentes (30) formalizaram a sua inscrição numa ficha própria que o Dr. Moutinho trouxe.

Em conversa informal foi lembrado a todos que a constituição desta Associação vai trazer facilidades na aquisição e envio de ajuda humanitário e nas deslocações à Guiné, mas vai trazer também algum trabalho suplementar que terá obviamente de ser assegurado pelos seus representantes, para além do pagamento de uma quota periódica para cobertura de despesas administrativas, para além da habitual contribuição semanal nos almoços das quartas-feiras.

Todos os presentes se inscreveram na Associação pelo que em boa verdade já se pode afirmar que temos 30 associados.

Quem quiser inscrever-se basta clicar sobre a imagem da ficha de inscrição, imprimi-la, digitalizá-la novamente e enviar-ma por correio electrónico para o meu mail alvarobasto@gmail.com ou simplesmente comunicar-me por email essa intenção fornecendo os respectivos dados.

Clicar para ampliar


3. P264- A nossa Associação vai de vento em popa

Foi uma semana bem produtiva esta que hoje termina.
A constituição da nossa Associação deu alguns passos muito importantes com vista à sua formalização.
Em primeiro lugar veio finalmente a aprovação da Admissibilidade de Denominação, ou seja já temos nome de pessoa colectiva e respectivo NIPC como a atesta o respectivo certificado que se reproduz. O nome não ficou exactamente o que se pretendia mas foi este o aprovado e nada há a fazer contra isso.: "TABANCA PEQUENA-GRUPO DE AMIGOS DA GUINÉ-BISSAU – APOIO E COOPERAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO AFRICANO".

Depois fomos reconhecidos pela comunidade de organismos que estão neste momento ajudar a Guiné-Bissau, em particular a Clínica Pediátrica S. José de Bor. Estiveram presentes três representantes da AIDA uma associação espanhola que tem vindo a integrar nos seus planos de apoio uma ajuda importante nas evacuações das crianças com cardiopatias graves para ao Hospital de S. João, o Prof. Dr. Luis Almeida Santos, Director da UAG da Mulher e da Criança, que tem sido o grande mentor e responsável pelo internamento e tratamento das crianças que são evacuadas para serem operadas no Hospital de S. João e a Dra. Lara Quintela da MSH – Missão Saúde para a Humanidade, uma ONG que vem actuando igualmente no terreno nas carenciadas áreas da saúde na Guiné Bissau.

Foi uma reunião exploratória para se abrirem canais de comunicação e definirem estratégia para aumentar a eficiência e o desempenho da canalização da ajuda humanitária em que todos estamos integrados com especial ênfase para a ajuda à Clínica Pediátrica S. José em Bor.

Finalmente e em reunião efectuada ontem à noite, os seis tertulianos que decidiram levar a peito esta tarefa de fundar um Associação, Moutinho dos Santos, Marques Lopes, José Teixeira, Nelson Sousa, António Pimentel e Álvaro Basto, analisaram o projecto dos Estatutos da nossa Associação que haviam sido elaborados pelo Dr. Moutinho dos Santos e após alguma correcções aprovaram-nos.

Devido à extensão do respectivo texto (24 páginas) não será possível reproduzi-los aqui mas tudo faremos para os colocarmos à disposição de todos os interessados antes da próxima quarta feira, data em que está prevista a assinatura da respectiva escritura pública.

Seguir-se há a aprovação do valor da quota anual que em principio deverá ficar nos 20 euros e a elaboração da lista para os corpos gerentes para o primeiro biénio de vida da nossa ONG.


4. Fotos de crianças que vieram a Portugal receber tratamento que a Guiné-Bissau não pode disponibilizar. Aqui também houve uma ajuda da Tabanca de Matosinhos.






5. Listagem de alguns postes que fazem referência à actividade da Tabanca Matosinhos na área da cooperação com a Guiné-Bissau.

P101-Guiné, aí vamos nós
P118-APELO-Mais Sementes para a Guiné.
P130-SEMENTES PARA A GUINÉ
P144-SEMENTES PARA A GUINÉP151-Crianças da Guiné e a Tabanca de Matosinhos
P159-Afinal o que é a Clínica Pediátrica de Bor?
P162-A Clínica de Bor e a Tabanca de Matosinhos II
P180-As crianças guineense operadas no Porto
P208-As Crianças da Clinica de Bor
P210-As crianças da Guiné
P219-A nossa ajuda à Clinica Pediátrica de Bor
P230 - As crianças da Guiné
P235 - A nossa Ajuda Humanitária
P241-Mensagem do Dr. Augusto Bidonga
P243- Noticias da Clinica Pediátrica de Bor
P249 - De Solidariedade se fala
P260- A nossa Associação começa a ganhar forma
P264- A nossa Associação vai de vento em popa
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4310: Tabanca de Matosinhos (11): As crianças da Guiné-Bissau precisam da nossa ajuda (Álvaro Basto)

Vd. último poste da série de 5 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5212: Ser solidário (42): Em Marcha a Expedição Humanitária Portugal/Guiné-Bissau 2010 (José Moreira, Memórias e Gentes, Coimbra)

Guiné 63/74 - P5228: Memória dos lugares (52): Rio Corubal: afinal, havia... 3 pontes !? (C. Silva / D. Guimarães / M. Dias / Luís Graça)

Guiné-Bissau > Zona Leste > Xitole > 2001 > A antiga Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, a sul do Xitole, de construção anterior à Ponte Craveiro Lopes, no Saltinho (esta a montante)

Guiné-Bissau > Zona Leste > Xitole > 2001 > O David J. Guimarães à entrada da antiga Ponte Marechal Carmona , sobre o Rio Corubal, entre o Xitole e os rápidos do Cussilinta, portanto a jusante do Saltinho. (Assinalada no mapa do Xitole, como "ponte em ruínas).

Guiné-Bissau > Zona Leste > Saltinho > 2001 > O David Guimarães junto à ponte sobre o Rio Corubal, do Saltinho, um dos sítios paradisíacos da Guiné, onde havia, durante a guerra colonial, um aquartelamento que ficava a 20 Km de Xitole na estrada Bambadinca-Aldeia Formosa (hoje, Quebo). Esta ponte, no nosso tempo (1969/71), chamava-se Craveiro Lopes, e estava interdita...

Fotos: © David Guimarães (2005). Direitos reservados

1. Nota do editor L.G.:


Obrigado ao Carlos Silva pela magnífica cobertura fotográfica da Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, a cerca de 5 km, a sul do Xitole (*).

De facto, pouca gente tem conhecimento dessa magnífica obra do Estado Novo. No nosso blogue, o primeiro camarada a falar dela, foi o David Guimarães, o nosso tertuliano nº 3 - como eu gosto de lhe chamar...

O David foi Fur Mil Minas e Armadilhas, CART 2716 (Xitole, 1970/72). Em 2001, o David revisitou com a esposa (Lígia), um filho (menor) e antigos camaradas (incluindo o Dr. Vilar, ex-Alf Mil Médico da CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) os sítios por onde passou (Sector L1/Zona Leste).

Escreveu ele (**):

"É célebre o Saltinho pela sua localização junto ao Rio Corubal e pela sua linda ponte. Curiosamente como em Cussilinta o Rio aí também tem rápidos. A Guiné toda plana e com rápidos nos rios!... É estranho mesmo. Ao tempo estava lá uma Companhia que pertencia ao Batalhão com sede em Galomaro, e que eram portanto nossos vizinhos".

A importância estratégica desta ponte era óbvia e era conhecida de nós, nal da CCAÇ 12, mas, devido à guerra, não se passava para lá do Saltinho... Hoje continua a ser vital, permitindo a ligação rodoviária do resto da Guiné (norte, leste, oeste) com o sul... A ponte lá está, uma belíssima e boa construção que aguenta todos os anos com as enxurradas do Corubal. Foi inaugurada em 1955.

Em 1996 também lá esteve, no Saltinho e em Cussilinta, o nosso camarada e amigo Humberto Reis (ex-Fur Mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Nem ele nem eu, tínhamos conhecimento de outra ponte sobre o Corubal. Daí a dúvida apresentada ao David, por parte do Humberto (**):

"Tens de me esclarecer uma coisa, sff: na nossa página sobre o Xitole/Saltinho, há uma fotografia tua, que tiraste em 2001, a atravessar a Ponte Marechal Carmona, em que tu dizes ser 'sobre o rio Corubal, na estrada Bambadinca-Xitole-Aldeia Formosa'. Então para se ir do Xitole até à Aldeia Formosa não tinha de se passar no Saltinho e atravessar a Ponte Craveiro Lopes, a tal que tem vários arcos em betão armado? Que estrada era essa, afinal ?"

Anteriormente, o David Guimarães, no poste de 17 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XX: "Foi você que pediu uma kalash?", já tinha esclarecido em parte o mistério da tal ponte Marechal Carmona (**):

"No Xitole, para lá da pista de aviões, a 5 Km, há uma ponte que atravessa(ava) o Rio Corubal, ligando a estrada de Bambadinca-Xitole à Aldeia Formosa.... Essa ponte está interrompida com um pegão dentro da água... Essa ponte mantem-se lá, inoperante, e não foi reconstruída...

"A história é que essa ponte teria sido interrompida pela nossas tropas no início da guerra. Outra versão é que que tinham sido os naturais. Uma terceira versão é que tinha sido o Corubal e as chuvas que teriam causado o colapso da ponte... Fico à espera que alguém me conte a versão verdadeira. Alguém da Guiné saberá? Desconfio que não, pois dela resta a história somente.

"Seguem em anexo duas fotografias da tal ponte [a Ponte Marechal Carmona], pois ela é só meia ponte: a fotografia que mostra a interrupção, não saiu, que pena! Mas, enfim, é essa. Onde estou eu é exactamente na entrada do lado do caminho para o aquartelamento... Nota-se que ela está inclinada... Era importanete esta zona, pois que, como em todas as pontes, eram feitas operações de reconhecimento regulares"...

E eu acrescentei a seguinte nota (**):

"No mapa do Xitole (Serviços Cartográficos do Exército, 1956), a "ponte em ruínas" vem devidamente sinalizada, no Rio Corubal, a cerca de 4,5 km, a sul do Xitole, entre os ilhéus Saido (a oeste) e os rápidos de Cusselinta (a leste)...

"Não sei a data da construção da Ponte Marechal Carmona, mas é capaz de ser dos anos 40. Essa ponte deveria permititir a ligação a uma picada (ou uma estrada projectada: está no mapa a tracejado) que ia ter à estrada para Buba e Fulacunda (à direita) e Mampatá, Quebo (Aldeia Formosa) e Chamarra (à esquerda). Antes da guerra, podia-se depois regressar ao Xitole, através de Contabane (virando à esquerda) e Saltinho (Ponte Craveiro Lopes). No cruzamento de Contabane, à direita, apanhava-se a estrada para Guileje e Madina do Boé".

2. Na I Série do nosso bogue, tivémos mais uma achega, a de Mário Dias (Srgt Comando Ref, Brá, 1963/66), profundo conhecedor da Guiné dos anos 50 (antes de frequentar o 1º CSM, na Guiné, em 1959, trabalhou em Bissau, cujo desenvolvimento e progresso acompanhou):

"Deparei com algumas dúvidas suscitadas pelas pontes sobre o Corubal. Ambos, David Guimarães e Humberto Reis, têm razão. Antes da construção da ponte Craveiro Lopes, a tal que tem a sutentanção feita com arcos superiores, a travessia do rio era feita na outra ponte que - pasme-se, soube agora - se chamava Marechal Carmona. Essa fica próxima do Xitole, a jusante de Cussilinta. Entre nós, os colonos, era conhecida por passagem submersível do Saltinho e foi mandada construir, se não me falha a memória, pelo governador almirante Sarmento Rodrigues.

"No meio do rio, no local de corrente mais forte, foi construido uma espécie de dique com várias aberturas na parte superior destinadas a dar passagem à água na altura de maiores caudais, o que acontecia durante grande parte do ano na época das chuvas. Por tal facto, nessa altura do ano a passagem era impossível por ficar submersa. Daí a designação de 'submersível'. Daí também a sensação, para quem não souber e nunca a utilizou, que o que se vê parece ruína, acidental ou propositada.

"Alguns anos mais tarde, não me recordo já quando, foi construida a nova ponte (Craveiro Lopes) que, embora obrigando a um percurso mais longo, veio permitir a passagem durante todo o ano. A antiga passagem submersível deixou de ser utilizada e mais ninguém lhe 'passou cartão'.

"Um abraço. Mário Dias"(***).

Recorde-se que Manuel Maria Sarmento Rodrigues (1899-1979)> foi Governador da Guiné entre 1946 e 1949. E em 1950 integrou o Governo de Salazar como Ministro das Colónias (a partir de 1951, Ministro do Ultramar). Era um prestigiado oficial da marinha e um homem com grande experiência de administração em África .

Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > 1972 > Vista aérea do Rio Corubal, da ponte e do aquartelamento do Saltinho (na margem direita, instalações hoje transformadas em unidade hoteleira)

Foto: © Álvaro Basto (2007). Direitos reservados

Entretanto, o Mário voltou a fazer outro esclarecimento (***):

"Depois de ter lido com mais atenção as intervenções do David Guimarães e do Humberto Reis sobre as pontes do Corubal, e tendo ido à carta do Xitole, verifiquei a existência de uma ponte em ruinas, assinalada nessa carta e que deve ser a tal Marechal Carmona da fotografia.

"Confesso que desconhecia a sua existência pois, pelo menos desde 1950, que a travessia do rio se fazia pela tal passagem submersível de que falei. Ao ler, muito por alto,que a referida ponte Marcehal Carmona estava interrompida e existia no meio do rio um 'pegão', deduzi tratar-se da ponte submersível que, por não estar em uso desde a inauguração da nova Craveiro Lopes, estivesse já em ruína.

"Errei, e peço desculpa.Nunca atravessei o Corubal na tal ponte Marechal Carmona. Sempre o fiz pela submersível e mais tarde pela nova que, penso eu, foi inaugurada em 1955, pois tem o nome de Craveiro Lopes que, nesse ano, visitou a Giuiné. É de supor, portanto, que a derrocada da antiga ponte Marechal Carmona deve ter acontecido antes dos anos 50, certamente por causas naturais.Mais uma vez as minhas desculpas pelo meu involuntário erro".

Guiné-Bissau > Saltinho > Ponte General Craveiro Lopes > Lápide, em bronze, evocativa da "visita, durante a construção" do então Chefe do Estado Português, general Francisco Higino Craveiro Lopes, acompanhado do Ministro do Ultramar, Capitão de Mar e Guerra Sarmento Rodrigues, em 8 de Maio de 1955. Era Governador Geral da Província Poprtuguesa da Guiné (tinha deixado de ser colónia em 1951, tal como os outros territórios ultramarinos...) o Capitão de Fragata Diogo de Melo e Alvim... Craveiro Lopes nasceu em 1894 e morreu 1964. Foi presidente da República entre 1951 e 1958 (substituído então pelo Almirante Américo Tomás).

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Novembro de 2000 > Brasão, inspirado na ponte do Saltinho, da CCAÇ 2406 (1968/70). Esta companhia, sob o comando do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) esteve envolvia na trágica retirada de Madina do Boé (a sua irmã, a CCAÇ 2405, de Galomaro, sofreu 17 mortos em Cheche) mas também na Op Lança Afiada (triângulo Xime, Xitole, margem direita do Rio Corubal, Março de 1969)...

Guiné-Bissau > Saltinho > Novembro de 2000> Pousada do Saltinho > Brasão, igualmente inspirado na ponte sobre o Rio Corubal, da CCAÇ 2701 (1970/72), companhia a que esteve adido o nosso Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53). Era comandada pelo Cap Carlos Trindade Clemente. (***P). Camaradas que passaram por lá: Martins Julião, Carlos Santos, Tony Tavares, Mário Rui, al´+em do médico já falecido, Dr. Faria (Paulo, cito de cor) (****)...

Fotos: © Albano M. Costa (2006). Direitos reservados


3. Comentário de L.G.: Afinal, chegou a haver não duas pontes, mas três pontes sobre o Rio Corubal... É isso ?

__________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5227: Memória dos lugares (51): Ponte Carmona sobre o Rio Corubal (Carlos Silva)

(**) V. poste de 26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXV: Estórias do Xitole ao Saltinho: duas pontes, um fornilho e uma trovoada tropical (David Guimarães)

(***) Vd. postes de:

26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVI: As pontes sobre o Rio Corubal (Mário Dias)

26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIX: As pontes sobre o Rio Corubal: rectificação (Mário Dias)

(****) Vd. poste de 13 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1424: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (6): amigos do peito da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72)

Guiné 63/74 - P5227: Memória dos lugares (51): Ponte Carmona sobre o Rio Corubal (Carlos Silva)



1. Mensagem de Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, 1969/71, com data de 6 de Novembro de 2009:

Amigos,
Assunto - Série Pontes.
Já falámos de várias pontes: Ponte dos fulas, Ponte Alferes Nunes, Ponte Mansoa, Ponte Craveiro Lopes, mais conhecida por Ponte do Saltinho, Ponte João Landim, Ponte S. Vicente, etc.
Mas não falámos sobre a Ponte Carmona sobre o Rio Corubal, situada a meia dúzia de quilómetros do Xitole.

Por esse motivo, acabo de publicar no meu site www.carlosilva-guine.com uma página dedicada às CART 2413, CART 2716/BART 2917 e CART 3492/BART 3873, a que pertenceram entre outros o Carvalheira, o David Guimarães, o Mexia Alves e o Álvaro Basto. A página contém essencialmente fotos da Ponte Carmona, sobre o rio Corubal, que - presumo - poucos Xitoles que por lá estagiaram, conhecem.- Refiro-me àquele Monumento ali perdido, àquela preciosidade, àquela maravilha arquitectónica.







E digo isto, porque na altura do Simpósio Internacional de Guileje mostrei as duas fotos do David Guimarães e nem a Sra. Ministra Isabel Buscardini nem o nosso amigo Pepito conheciam aquele tesouro e este ano propus-me viajar de propósito até lá com outros camaradas para ver aquela preciosidade com os meus olhos.
Pois até agora não vi nem ouvi referências a tal monumento exceptuando as 2 fotos do David Guimarães, [tiradas em 2001].








Deste modo e dado que amanhã os nossos camaradas das Companhias acima vão reunir-se em Monte Real [, hoje dia 7, conforme anúncio, aqui publicado pelo J. Mexia Alves] agradeço que publiquem um poste fazendo referência à página do meu Site para visualizarem tal preciosidade da nossa arquitectura, e para se possível lançar o repto aos mesmos se alguma vez fizeram patrulhamentos para o lado da situação da ponte, se ouviram falar nela, se sabem em que data foi construída e quem é o seu autor de projecto, por que razão ficou inacabada oi se sofreu alguma derrocada, enfim… se sabem o historial dessa magnífica ponte.













ççççççççç
Claro que estas dúvidas colocam-se a qualquer tertuliano ou não.
Junto anexo uma pequena selecção fotos das que publiquei (cerca de 120, distribuídas por 30 páginas, o que era muito material para o Blogue).
Com um grande abraço amigo
Carlos Silva
Fur Mil CCAÇ 2548/BCAÇ 2879

Fotos:© Carlos Silva (2009). Direitos reservados.



Guiné > Xitole > 1970 > Vista aérea do Xitole (aquartelamento, posto administrativo e tabanca) © Humberto Reis(2006)
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5226: Histórias de José Marques Ferreira (9): A noiva Mandinga


1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, que foi Sold. Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré - 1963/65 -, enviou-nos com data de 6 de Novembro de 2009, o terceiro extracto do "Jornal da Caserna" da sua Companhia.


Camaradas,

Votos de felicidades saúde e dinheiro para gastos… pelo menos algum…

Proveniente do «Jornal da Caserna», cujo cabeçalho vai encimar este post, aqui está mais uma cândida, inocente e pacífica estória, neste caso sobre os costumes da Guiné.

O autor que deu nome e vida à estória, já aqui referi, é o Ramiro Fernandes Figueiredo, que não sei por onde anda à muito tempo, era o médico da CCAÇ 462.


A noiva mandinga

A noiva mandinga acabava de chegar num jipe da Administração. Vinha marcialmente escoltada por cipaios, que se apilhavam na viatura. À frente o cabo cipaio e entre este e o condutor indígena – A NOIVA. Atrás distinguia-se um animador do cortejo com o “calandim”, uma espécie de bandolim indígena – que tirava uns sonidos exóticos.

O noivo que não era outro que o sherif, chefe religioso muçulmano, pagara “manga” de pesos ao tocador; e este, ciente da sua missão e responsabilidade desfazia-se em trejeitos para arrancar do instrumento toda uma amálgama de ruídos. Sempre com um sorriso aberto, descortinavam-se uns incisivos faltosos e uns molares apodrecidos. O carro virou em direcção da casa do cabo cipaio, onde a noiva ficou religiosamente guardada.

À noite chegou a formação do batuque para a conduzir em festança até casa do sherif. O batuque era composto por um mandinga alto e esguio de óculos doutorais, que regia a barulheira. O apito de marcação de ritmo mordia-lhe os lábios; e as mãos batiam cadenciada e diabolicamente num “tântano” alongado, mais parecendo que a fúria do seu entusiasmo poria em breve o tambor de pantanas. Outros dois acólitos tamboreiros completavam o grupo musical.


À frente vinham as “bajudas”, raparigas virgens – candidatas ao “fanado” garridamente vestidas (não destoando o usual pé descalço…), na singeleza e simplicidades dos corpetes e panos colados às carnes. Bamboleavam-se em movimentos cheios de graça dos braços e os pés nus batiam abafada e energicamente no chão poeirento.

Chegado o cortejo a casa do cipaio tudo redobrou de entusiasmo e vigor. Abriu-se um círculo. Crianças à frente e uma ou outra “bajuda” que era bailarina; atrás as mulheres grandes também “roncas” nos seus trajes vistosos. Irrompe pela casa uma onde de bajudas virgens que são envolvidas pelo homem do violino que não arredou pé. Dirigem-se ao quarto da noiva, que cândida e tímida recebe “mantanhas” e votos de vida feliz.

A virgem casadoira era uma dessas belezas mandingas que geralmente se encontram por aí. Esguia, alta e esbelta; olhos negros, talhados oblíquos – misteriosos. O cabelo é típico – sulcado de risquinhos transversais conjugando-se aos lados numas pequenas madeixas, que mais pareciam pequenas espigas de trigo. Cingia-lhe a cinta um pano senegalês, que lhe moldava as formas delicadas e elegantes; e o tronco era revelado pelo pequeno corpete, que discreto lho cobria, sem realçar nada que não fosse proporcionado.

Era na verdade uma autêntica Vénus negra que vali “uilli lulo”, ou sejam os cinco mil pesos pagos pelo felizardo que a escolhera. Formou-se novamente o cortejo e a noiva lá foi rodeada pela frescura das jovens virgens. O tocador redobrou em ritmo, agitação e ruído musical. Chegados fronte da casa do sherif, este veio ao encontro da noiva com o seu grupo religioso e conduziu-a à entrada numa cerimónia que o noivo repetia pela quarta vez – já que Alá é generoso quanto ao número de mulheres. Cá fora as “bajudas” faziam coro em cânticos, outras entravam em círculo, arrancando sapatadas cheias de vida e erguendo delicadamente as mãos, contorciam-se ao sabor do ritmo do apito e “tântanos”.

O negro esguio do tambor suava por todos os poros. Lá dentro a noiva era apresentada aos membros da seita religiosa e estava tudo a postos para o banquete geral ao ar livre, que a generosidade do chefe deu a toda a gente muçulmana da “tabanca”.

O Ramadão tinha acabado e a ocasião era propícia para refazer algo do que havia perdido toda esta gente em quarenta dias de jejum…

“ÓKEY”
(Ramiro Fernandes Figueiredo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 462, cuja história foi publicada no «Jornal da Caserna de Março de 1964)
Guiné - Ingoré, Março de 1964.

Nota: - A foto que ilustra este texto é um dos postais ilustrados que se vendiam por lá, na época. Comprei este que, atrás, tem escrito pela minha mão: 31/12/64 – O dia do aniversário da minha mulher. E como está lá escrito «parabéns e felicidades» - o resto não transcrevo -, serviu tal postal para ilustrar esta história. Às tantas, vão aparecer por aí alguns comentários, colocando-me em maus lençóis, por ter enviado este postal à Maria Fernanda. Que querem vocês, elas eram assim (as bajudas claro)... tal como está esta no postal!

Para todos um abraço,
J.M. Ferreira
Sold Ap Armas Pes


Foto e gravura: José M. Ferreira (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P5225: (Ex)citações (53): Jorge Cabral, Essa Alma Peregrina Mor (Petrouska Ribeiro)

1. Petrouska Ribeiro* deixou este comentário no poste Guiné 63/74 - P5221: Parabéns a você (38): O nosso Alfero, Jorge Cabral (Cabral só há um, o de Fá e mais nenhum)(Editores)**:

Esse ser, esse Grande Homem ou Pai Grande que hoje o Mundo parou para aplaudir, deu-me a graça de com ele aprender, com ele trabalhar, com ele crescer como pessoa melhor, com valores e humildemente.

Foram precisos dez anos de labor, (e como desejaria dobrar esse número, não fosse ele acordar, hoje, dizendo que já é / está velho), para ufana, assumir que apenas o convívio com alguém bem-disposto, audaz, elegante e educado, ainda que conservador de alguma vaidade (porque não…) nos enriquece, sem mais… Essa “Alma Peregrina Mor”, ensinou-me muitas coisas, muitas delas sem a necessidade de esboçar uma única palavra. O pensamento estruturado, o valor da calma (que não dominava nada bem e que por vezes ainda a perco, tentando sempre que seja de forma a que ele não perceba).


Ensinou-me a conversar e a desconversar, mostrou-me a ironia, o sentido de humor, a beleza, a grandeza das estórias, a simplicidade, a bondade. Ensinou-me a aceitar a dificuldade e a sorrir para a vida. Aprendi que o afecto (de que ele muito fala) não precisa de ser gritado e que, antes pode ser um passeio por um caminho; às vezes em silêncio, outras a dizer “ Oh alma, está a ver! … Eu não lhe dizia! …Você não sabe nada…” O importante é que nunca nos esqueçamos que é possível sermos melhores. O que ele é, com toda a certeza.

Não é perfeito! Não, claro. É tão humano quanto todos nós.

O Meu / Nosso Professor é aquele tronco onde podemos observar, ininterruptamente, a tolerância, a sensatez e a experiência de vida. É assim. E todos os meus dias são, diferentes do anterior… o que apenas consigo porque o meu Professor; quase Tutor, quase Pai é mais do que se possa descrever…

Parabéns, Meu Professor
Petrouska Ribeiro

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Notas de CV:

Jorge Cabral foi Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, 1969/71) e é hoje um brilhante Professor de Direito

(*) A Dra. Petrouska Ribeiro é Secretária Pedagógica do Curso de Pós-Graduação em Criminologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

(**) Este poste foi melhorado e aumentado já depois da sua publicação

Vd. último poste da série de 17 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5121: Comentários que merecem ser postes (9): A morte dos nossos camaradas deixou marcas (Luís Graça/JERO)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5224: Blogues da Nossa Blogosfera (25): Guiné Bissau - Memórias (CCAÇ 2781 do BCAÇ 2927 - Bissum, 1970/72)


1. Camaradas, no poste P4925, de 9 de Setembro de 2009, dedicado à “Memória dos lugares, com fotos do Bura… ko de Bissum - Naga, 1968, que nos foram enviadas pelo José Nunes (ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 1968/70), recebemos a seguinte mensagem:

Encontrei aqui alguns desterrados de Bissum. Estive lá de finais de 1970, a finais de 1972, nas transmissões da CCaç 2781.

Para quem quiser visitar o meu Blogue sobre esta temática aqui fica o endereço:


www.guine-bissum.blogspot.com

Um grande abraço.
Quim



Vista do Quartel de Bissum

2. No blogue do Quim [Santos], encontra-se um apelo que deixamos aqui reproduzido:

“Pedido. Se algum dos ex-combatentes de BISSUM tiver algo relacionado com a nossa guerra naquelas paragens e que queira partilhar, foto, documento, etc., não hesite e envie para verdegaio@gmail.com, que eu terei todo o prazer em publicar aqui.”



Foto de Bissum e emblema: © Blogue "Guiné Bissau - Memórias" (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

5 de Novembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P5217: Blogues da Nossa Blogosfera (24): Do Tejo ao Rovuma (Cabo Delgado, 1971/73), de Carlos Vardasca

Guiné 63/74 - P5223: Estórias avulsas (53): Uma carecada no dia de Natal, no segundo dia de Guiné (Vasco Santos)

1. Mensagem de Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6, Bedanda, 1972/73, com data de 29 de Outubro de 2009:

Caro Carlos Vinhal,
Os meus agradecimentos pela minha admissão no vosso blogue.

Os resultados já estão à vista, ou seja, já tive o prazer de estar com o nosso amigo Carlos Azevedo, meu companheiro na CCAÇ 6 (Onças Negras) em Bedanda.
Um bem haja pela colaboração.

No que toca ao assunto do Nino, apenas poderei dizer algo depois de trocar impressões com o colega que transmitiu esta informação ao amigo Azevedo.
Até lá nada poderei comentar.

Conforme solicitado, envio uma nova foto (tipo passe) que espero esteja melhor que a anterior. Aproveito para anexar uma foto com o v/tertuliano e, meu ex-Médico em Bedanda, o Dr. Mário Bravo. Espero que esteja em condições para ser publicada.

Envio também uma foto do grupo do convivio Anual (28.º) organizado pelo Peralta, que este ano teve lugar em Tebosa/Braga, bem como na companhia do meu querido Coronel Comandos Ferreira da Silva que, foi meu comandante de Companhia no RI 7, no primeiro turno de 1971 e, que posteriormente foi comigo no Angra do Heroísmo para a Guiné, com chegada a Bissau no dia 24 de Dezembro de 1971.

Estes encontros trazem-nos algumas memórias, uma delas, que comentei ao Senhor Coronel Ferreira da Silva.

No dia 25 de Dezembro de 1971, sendo o meu 2.º dia em Bissau e dia de Natal, estando eu na formatura para o almoço, por casualidade passou por mim o agora Coronel Ferreira da Silva que, talvez por eu ser Cripto ou, por andar chateado por estar de oficial de dia, o certo é que me contemplou com uma carecada.
Que belo dia de Natal, enfim... belos tempos

Nao te importuno mais, entretanto recebe um abraço.
Vasco santos

Vasco Santos acompanhado do Coronel Comando Ferreira da Silva

Vasco Santos, de camisa vermelha com o seu amigo Lázaro, de óculos, ex-Mecânico Auto, que esteve em Cadique, anos 1972/74, no BCAÇ 4514/72 (pode dar-se o caso de algum amigo o querer contactar)


2. Comentário de CV:
Caro Vasco, conforme te disse em mensagem que te enviei, e à qual não deste resposta, as outras fotos não chegaram bem. Se puderes tenta enviá-las de novo.
Enquanto isso, fiz-te a foto que encima este poste. Não está má.

Quanto ao agradecimento, nem tu nem ninguém tem que agradecer a admissão na Tabanca. Ela é de todos os ex-combatentes e amigos da Guiné que connosco queiram colaborar. Se e quando puderes dá uma ajuda, enviando as tuas estórias/histórias e fotografias.

Um abraço e até ao próximo contacto.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5059: Tabanca Grande (178): Vasco David de Sousa Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Bedanda, 1972/73)

Vd. último poste da série de 31 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 – P5187: Estórias avulsas (52): Jornal da Caserna (2), José Marques Ferreira (ex-Sold. Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462)

Guiné 63/74 - P5222: Efemérides (33): O Dia dos Veteranos, 11 de Novembro na Vila de Stoughton (USA) (José da Câmara)

1. Mensagem de José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73, radicado nos Estados Unidos da América, com data de 4 de Novembro de 2009:

Caro Carlos,
Junto encontrarás uma página de um dos jornais locais, e que faz referência ao dia dos Veteranos.
Com esta página tento mostrar aos nossos camaradas algumas das coisas que o Departamento dos Veteranos da Vila de Stoughton faz pela classe.
Não sei até que ponto isto tem interesse para o nosso blogue. Tu ajuizarás e procederás de acordo com aquilo que te parecer ser melhor.

Com votos de muita saúde e um abraço amigo,
José Câmara

Clicar na imagem para ampliar

2. Caros camaradas,

O dia do Armistício é celebrado nos EUA no dia 11 de Novembro. Este dia também é considerado feriado nacional.

Entre as tradições mais queridas e honrosas dos americanos para este dia estão o embandeiramento das sepulturas dos veteranos de Guerra, os desfiles cívicos pelas ruas da cidade com paragens e alocuções nos cantões dos cemitérios dedicados aos veteranos.

Sempre que necessário, também se procede à Cerimónia da Queima das Bandeiras velhas ou removidas das sepulturas, acto esse que é feito com todo o respeito e circunstância.

Stoughton, a vila onde vivo, não foge à regra tradicional.

No caso particular desta vila de Stoughton, nos anos oitenta do século passado, os vereadores resolveram que todas as ruas a construir têm que ter o nome de um veterano.

Para além disso, os veteranos que, em vida, se distinguiram ao serviço da comunidade, depois da sua morte, e por voto do elenco camarário, podem ter o seu nome perpetuado em cruzamentos de ruas, jardins, edifícios públicos ou outros lugares considerados apropriados.

Nos desfiles cívicos, vulgo paradas, participam as entidades locais e estaduais, forças policiais, bombeiros, muitos grupos de escuteiros masculinos e femininos, e ainda a Banda de Música do Liceu local, Guardas de Honra e Esquadrões de Veteranos.

A cópia da página do jornal que junto é da autoria do Departamento de Veteranos de Stoughton.

A determinada altura pode ler-se “Please Help us in this honored tradition. This is truly a great thing for your children and grandchildren do participate in” (Por favor ajudem-nos nesta honrosa tradição. Esta é uma grande causa para os vossos filhos e netos participarem).

De notar ainda os apelos que são feitos para que os veteranos, familiares e comunidade em geral participem nos diferentes afazeres do Departamento, quer seja na procura dos seus benefícios quer seja na ajuda àqueles que, ainda ao serviço das forças armadas americanas, estão espalhados pelo mundo na defesa dos interesses americanos.

Camaradas,
Esta é uma amostra daquilo que se faz em terras da estranja.
Tem o valor que cada um entender que tem.

Um abraço amigo,
José Câmara
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5153: Controvérsias (31): Afinal quem saiu derrotado na guerra da Guiné? (José da Câmara)

Vd. último poste da série de 4 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5211: Efemérides (26): 1 de Novembro de 1965 – Relatório Oficial da Carnificina em Farim (António Paulo Bastos)