quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5432: FAP (39): Guileje, outra vez?!... (António Martins de Matos)


1. Mensagem de António Martins Matos (ex-Ten Pilav, BA12, 1972/74)  com data de 7 do corrente:
Assunto - Poste 5417

Amigo  Luís Graça


 Confesso ter ficado surpreendido e desagradado com a leitura do poste 5417 do Victor Alfaiate [VA] (*). Surpreendido porque julgava que já tudo tinha sido dito acerca do Guileje e que a nova edição de comentários apenas se iria dar quando o documentário "A Guerra" do Joaquim Furtado abordasse o tema.


Surpreendido pelo ataque directo que o VA me dirige. Surpreendido porque, quando em Setembro de 1974 o encontrei fortuitamente no Restaurante das Marés onde trabalhava, me contou uma outra visão dos acontecimentos.


Surpreendido finalmente pelo facto dos editores do blogue não me terem dado conhecimento de um texto a todos os títulos ofensivo e que me era especialmente dirigido, procedimento contrário ao que têm feito habitualmente.


Desagradado pelo chorrilho de considerações que o seu autor faz, confirmando o ditado: "Quem te manda a ti,  sapateiro,  tocar rabecão".


Podia rebater o seu post ponto por ponto mas, porque a paciência também tem limites, vou apenas pegar nos que me parecem mais evidentes. Assim:


Artilharia: Substituição e regulação


Não foram "os senhores de Bissau" que ordenaram a substituição da artilharia de 11,4 [pela de]  14, foi o próprio Maj Coutinho e Lima [CL], conforme ele o descreve no seu livro "A Retirada  de Guileje",  a páginas 25.
Ao ler-se o livro com atenção chega-se à conclusão que, primeiro deixou ir para Gadamael as peças de 11,4, ficando completamente indefeso, só depois recebeu as de 14.


Se a troca foi mal concebida, mal planeada e pior executada, (uma das peças até vinha inoperativa) não foi certamente por culpa da Força Aérea [FAP].


E a regulação? No seu livro CL escreve várias vezes que a regulação não foi feita por culpa da FAP
Para a regulação do tiro a observação aérea é uma mais valia mas não é imprescindível (as guerras não param para se regular a artilharia,... ou param?).


Ainda assim podia ter sido feita, os aviões da FAP só tinham a limitação de aterrar em Guileje, podiam voar sobre o quartel, como sempre o fizeram (dizer o contrário é uma mentira baixa, mesquinha).


As peças chegaram a 18 de Maio [de 1973], o Comandante ausentou-se entre 19 e 21Maio, abandonou o quartel em 22 (pag 71 do livro do CL).


Quando é que pediu a regulação de tiro?


A regulação não foi feita mas também não foi pedida. (O livro do CL que é tão exaustivo no escalonamento de mensagens,  não mostra qualquer pedido)


 FAP: Apoio de fogos


No que respeita aos apoios de fogo, quando os Fiats chegavam a um quartel em dificuldades e ao ser estabelecido o contacto rádio, o que o piloto precisava saber era:


- de onde vinha a direcção do ataque,
- com que tipo de arma,
- há quanto tempo tinha ocorrido.
- se havia tropa fora, no mato.


Este cheklist sempre foi usado com sucesso em toda a Guiné, por todos os aquartelamentos (Guileje incluído) e, inclusive muitos dos nossos tertulianos que estiveram directamente envolvidos em acções semelhantes, sabem do que me refiro.


A história de os aviões voarem alto ou baixo não tem a ver com o medo dos pilotos como é insinuado pelo VA e, volta não volta, por outros  TEPONs (Técnicos de Porra Nenhuma), mas sim por causa do armamento que levam.


E não venham com a estafada de que não foram apoiados, pois entre 19 e 21 de Maio a FAP (com seis pilotos) efectuou 16 missões no Guidaje e 14 em Guileje, 8 das quais no dia 21.


Dizer "bombardeiem todas as matas à volta do quartel" revelou no mínimo a incompetência de quem deu essa informação pois é por demais evidente que os aviões levando 4 bombas não podiam satisfazer um pedido semelhante.


Tal como as cerejas nos bolos, este disparate é inclusive confirmado pelo próprio Major CL no seu livro (página 177) quando afirma que "quem tenha feito este pedido demonstrou não fazer a mínima ideia do que estava a solicitar". (Obrigado, CL, a verdade a vir ao de ciima).


É no mínimo aberrante (para não dizer estúpido) dizer a um piloto que voa a 700 km/h e que tem por baixo, 360 graus à sua volta, uma mata verde de quilómetros de extensão, para que "descubra de onde sai o ataque".


Memória (ou falta dela)


E não, em 18 Maio o Guileje não estava "quente" como insinua o VA,  havia nuvens que tapavam toda a região.


Não me lembro que o diálogo do "largos e estreitos" e por aí fora tenha existido, penso fazer parte da imaginação do VA, a qual, já constatei, tem evoluído ao longo do tempo.


Aliás, quando diz que até hoje estava convencido de ter falado com um Tenente Coronel, está-se a esquecer do nosso encontro em Setembro 74.


A talhe de foice acrescento que, para mim e na área da guerra, Coronéis, Majores, Furriéis ou Soldados, eram apenas combatentes, todos tratados da mesma maneira e com a mesma consideração.


Guileje, Gadamael e Guidaje


Quanto à raiva por ter deixado as loirinhas geladas e o ar condicionado de Bissau, o VA está enganado, não foi por isso, que em Bissau nem havia ar condicionado, foi por saber que naquele mesmo momento em que dizia disparates via rádio, havia militares portugueses a morrer em Guidaje, sem abrigos, sem munições, ...sem apoio.


E, para que se respeitem os mortos, registe-se que no cerco de Guidaje morreram 22 militares e em Gadamael, como resultado posterior à fuga de Guileje, outros 24 ("Os anos da Guerra Colonial",  Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso).


Eu sei que usar vidas para efeitos estatísticos não é muito apropriado, mas, ...., quantas baixas houve em Guileje?


Quanto ao famoso "cerco" das centenas/ milhares de guerrilheiros em volta de Guileje, basta ver as fotos da "retirada",  que o CL, ingenuamente, inseriu no livro.


Se o apoio da FAP ao Guileje não foi conseguido,  isso deve-se única e exclusivamente aos que, "metendo a cabeça na areia", não souberam encaminhar os aviões para os objectivos.


 Por último e conforme o livro do CL, páginas 31 e 32, para além das colunas de reabastecimento, é um facto comprovado que a actividade operacional do quartel do Guileje era ZERO.


Só para os que querem compreender, os aviões não defendem os quartéis, a defesa dos mesmos tem de ser feita pelos seus próprios militares, à distância, uma guarda avançada. Os aviões podem dar apoio essa defesa mas precisam de Informação.


O efeito Durão


A chegada do Cor Durão iria mudar tudo.


Faço a pergunta, terá sido por isso que resolveram sair a correr, antes que o homem chegasse?


De uma coisa tenho a certeza, no dia seguinte à chegada do Cor Durão os Grupos de Combate estariam todos no mato. (Eu disse no mato, não disse ao fim da pista...)


Uma última ressalva, esta em abono do VA; não era com ele que os pilotos deviam trocar informações mas sim com quem estaria a comandar o quartel.


Uma pergunta que pode ferir susceptibilidades, mas como disse o VA, os toiros pegam-se pelos cornos, quem comandava "de facto" o Guileje?  O Major? O Capitão? Algum dos Alferes? O Furriel Alfaiate?  Ninguém?


Histórias de Guileje


Ainda um derradeiro tópico dirigido ao Victor Alfaiate:


Em vez de querer assumir o comando do Guileje, falando do que não sabe, porque não conta antes para o blogue as histórias que me contou, a fuga, os recuerdos que trouxe e que acabou por deixar na mata, o encontro com as abelhas, o pisteiro da cadeira de rodas deixado a morrer no meio do mato...


Estou certo que todos os tertulianos iriam gostar de ler.


Com a surpresa do que acabei de ler no post 5417  é isto que se me oferece dizer.


António Martins de Matos


[Fixação / revisão de texto / título / subtítulos / bold: L.G.]
  
______________


Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5417: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (15): Ainda e Sempre Guileje (Victor Alfaiate, ex-Fur Mil Trms, CCAV 8350, 1972/74)


(...) Comentário do António Martins de Matos, do memso dia:


Caros amigos



Acabei de ter conhecimento deste post.


Confesso desde já ter ficado surpreendido pelo conteúdo, mais pelo facto de alguém me querer ofender e à organização a que pertenço, mais ainda por não ter sido alertado pelos editores do que se estava a preparar.


Penso ter o direito a uma resposta, a qual espero enviar até ao final da tarde.


um abraço


António Martins de Matos (...)

Guiné 63/74 - P5431: O Nosso Livro de Visitas (73): Doce lembrança do meu tio José Raimundo, da 38ª CComandos, Os Leopardos, natural da Azambuja



1. Isabel Conde, sobrinha do soldado “COMANDO” José Luís Inácio Raimundo, da 38ª Companhia de Comandos “Os Leopardos” (Brá 1972/74), falecido em combate, no dia 12 de Maio de 1973, nas valas de Guidage, enviou-nos uma mensagem em 30 de Novembro de 2009, que passamos a publicar:


Boa tarde,


O meu nome é Isabel Raimundo, e sou sobrinha do soldado José Raimundo, a que se refere o vosso poste P1223, de Outubro de 2006.

O meu tio não era natural da Chamusca, mas sim de Vila Nova de S Pedro, concelho de Azambuja, caso queira rectificar.

Desde já o meu muito obrigado por mencionarem o meu "querido" Tio, sempre com muito respeito e uma lembrança que vai ficar sempre nas vossas memórias, pela pessoa que ele era. Era um homem simples, sincero, amigo do seu amigo e muito genuíno.

O meu muito obrigada a quem dele retrata, um ser humano lindo, que não merecia tal sorte, bem como tantos outros que lá perderam as suas vidas e as suas juventudes. As famílias dos restantes mortos que me perdoem pelo que vou dizer, mas este... era meu, era do meu sangue, e era muitas vezes a minha companhia, o meu amigo, o meu irmão mais velho e, até mesmo, o meu confidente...

Confidente de uma criança, na altura com 10 anos, mas que cresceu, e sempre se recorda dele, tal como o viu partir de sua casa numa madrugada, para embarcar.

As suas últimas palavras ainda hoje soam nos meus ouvidos e dizer-me "Até amanhã, Isa, o tio depois traz-te
um presente. Adoro-te."

Nunca chegou esse presente, mas chegou ele, sem vida, inerte numa caixa enorme, possivelmente, com o seu corpinho muito mal tratado. Mas está connosco, sepultado na sua terra Natal.

Um muito obrigada, aos camaradas e amigos dele, que nunca o largaram e o fizeram chegar junto dos seus, sem vida, é certo... mas está connosco.

Isabel Conde

2. Recordamos a narração do nosso Camarada Amílcar Mendes (1º Cabo COMANDO da 38ª CComandos), descrevendo como faleceu o Raimundo no poste P1205, de 23 de Outubro de 2006:


(...) "12 de Maio de 1973


"Cerca das três horas da manhã rebenta um violento ataque ao destacamento que é de meter medo. O IN deve ter as coordenadas das valas pois o fogo acerta todo dentro das valas. O barulho rebenta com os ouvidos. Dura cerca de 30 m. São centenas de projécteis. É de dar em doido!

"A nossa artilharia responde ao fogo e lá se consegue parar o ataque. Terminado o ataque vamos fazer a contagem e duas vozes não respondem. Um, o Soldado Comando Raimundo, meu camarada de grupo, um moço da [Azambuja] a quem nunca mais ouvirei a sua voz; outro, um soldado condutor que tinha vindo connosco. Ficaram os dois desfeitos na vala com morteirada 120 mm" (...).

3. Também no poste P1223, de 30 de Outubro de 2006, o mesmo Camarada Amílcar Mendes, que se encontrava debaixo do mesmo fogo IN, na zona das fatídicas valas de Guidage, em que faleceu o Raimundo, lhe prestava assim mais uma sentida e justa homenagem:

Guiné > Região do Cacheu > Gr Comb da 38ª Companhia de Comandos > Dia de Natal: 25 de Dezembro de 1972. Subindo o Rio Caboiana, afluente do Cacheu, em LDM... O soldado comando Raimundo está assinalado com um círculo, a verde.


Mensagem do nosso camarada A. Mendes, ex-1º Cabo Cmd da 38ª CCmds (Os Leopardos) (Guiné, Brá, 1972/74).

Luís: A foto que postaste da LDM no Rio Caboiana, faz-me reviver com amargura esse tempo, pelo facto de que, ao olhá-la, gostaria de parar o tempo. Gostaria de parar o tempo porque nela está imagem de alguém que já não está entre nós, alguém que foi uma perca muito dolorosa para todos os camaradas da 38ª Companhia de Comandos.

Na foto o rapaz que está de camisola branca do lado direito, sentado na lateral da LDM, é o meu querido Amigo que perdeu a vida em Maio de 1973 nas valas de Guidaje e a quem eu presto aqui a minha homenagem e a quem com as lágrimas nos olhos grito: JOSÉ LUIS INÁCIO RAIMUNDO, estarás sempre presente no meu coração e nas minhas memórias, que Deus te mantenha do seu lado direito e que, quando eu te voltar a encontrar, tenhas ainda esse sorriso tão simples e sincero que ainda hoje é lembrado na tua terra natal, [a Azambuja]. Descansa em Paz, querido amigo.

Amílcar Mendes

Texto e foto: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados.

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:

Vd. postes sobre o José L. I. Raimundo em:

30 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1223: Soldado Comando Raimundo, natural da Azambuja, morto em Guidaje: Presente! (A. Mendes, 38ª CCmds)



Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5430: Parabéns a você (50): Amílcar Ventura, ex-Fur Mil da 1.ª CCAV do BCAV 8323, Bajocunda, 1973/74 (Editores)

»»»»»»» F E L I Z *A N I V E R S Á R I O «««««««
1. O nosso Camarada Amílcar Ventura, ex-Fur Mil da 1.ª CCAV/BCAV 8323, completa hoje 58 anos de idade e enviou-nos uma mensagem em 26 de Abril de 2009, tendo sido apresentado no blogue em 9 de Maio de 2009, através do poste P4308, passando a integrar, desde essa data, a nossa Tabanca Grande.

2. Fomos consultar num dos programas mais popular do género, o KAZULO (http://horoscopo.kazulo.pt/4866/signos-do-zodiaco.htm), o que diz o signo astrológico do Amílcar Ventura: Sagitário (22 de Novembro a 21 de Dezembro):

“Os Sagitários possuem uma personalidade entusiasta, optimista e sempre de olhos postos no futuro. Têm fé e não há nada que os faça perder a exuberância pela vida. Mesmo que as coisas não correm bem, são capazes de encontrar sempre um lado positivo e identificar um significado e a razão pela qual as coisas aconteceram daquela forma.

Um Sagitário tem muitas filosofias, e porque entende que as nossas motivações e formas de pensar estão relacionadas com a altura e local onde estamos, as suas ideias e argumentos podem soar quase proféticos. Nalgumas ocasiões, podem estar tanto com a cabeça no ar que não vêem algo correcto que esteja à sua frente.

Os Sagitários têm tendência para tirar conclusões precipitadas e de se estenderem em compromissos, tempo e objectivos. Honestos e frontais podem por vezes magoar ou ofender alguém com um dos seus comentários espontâneos, ficando de certa forma melindrados, quando se apercebem dos efeitos das suas palavras. Haverão infelizmente, alturas em que eles não se aperceberão do mal que causaram.”

3. Demonstrando ser um Sagitário que nada tem a esconder, nem a temer, delineou-nos o seu perfil aberta e sinceramente, o que muito nos impressionou pela positiva, do seguinte modo:

“Amílcar José das Neves Ventura, tenho 57 anos, nasci a 9 de Dezembro de 1951, em Silves, onde resido. Tenho o 9.º ano de escolaridade (Curso de Formação de Serralheiro). Entre Novembro de 1974 a Dezembro de 1984, fui chefe de armazém da Cooperativa de Retalhistas de Mercearias “Alicoop”, em Silves, e depois fui fotógrafo profissional por conta própria, durante 24 anos.

Neste período de tempo, trabalhei para vários jornais, entre os quais o Record, o Correio da Manhã e alguns regionais do Algarve. Tenho dois filhos, de 34 e 30 anos. Gosto de caçar e pescar e sou coleccionador de tudo o que tenha o emblema do Sporting (tenho perto de 800 objectos com o símbolo dos leões). Hoje sou fiel de armazém na Câmara de Silves.”

4. Sobre a sua vida militar, disse-nos o seguinte:

“Assentei praça no dia 18 de Julho de 1972, no Regimento de Infantaria 7, em Leiria. Duas semanas depois fui transferido para a Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, para frequentar a recruta do Curso de Sargentos Milicianos. Foram três meses em que passámos, como costuma dizer-se, «as passas do Algarve«. A seguir parti para Sacavém, para frequentar a especialidade de mecânico auto, na Escola Prática de Serviço de Material. A especialidade e o estágio duraram seis meses.


Nessa altura, saiu a minha mobilização para Moçambique, mas sabendo eu, por diversas informações, que era melhor cumprir a comissão na Guiné, consegui trocar de destino por intermédio de um amigo que estava no Ministério do Ultramar. Em Abril de 1973, segui para o Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz, para formar o Batalhão de Cavalaria 8323 ‘Os Cavaleiros de Gabú’. Gabú que era o local do nosso destino.”


Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "O Amílcar Ventura posando para a fotografia com os alunos da escola de Bajocunda"

5. Independentemente dos comentários que os nossos Camaradas colocarão no local reservado aos mesmos, queremos em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais Camaradas da Grande Tabanca, desejar-te o seguinte:


PARABÉNS A VOCÊ,
NESTA DATA QUERIDA,
MUITAS FELICIDADES,
MUITOS ANOS DE VIDA.
HOJE É DIA DE FESTA,
CANTAM AS NOSSAS ALMAS
PARA O AMIGO VENTURA...
UMA SALVA DE PALMAS!

Amílcar, sabes bem quem costuma "cantar" assim nos comentários aos nossos Camaradas aniversariantes.

Além da cantiga, que hoje cantamos nós, mais acrescentamos:

O nosso maior desejo, neste teu aniversário, é que junto da tua querida família sejas muito feliz e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.

Que por muitos mais e boas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos te possa enviar mensagens idênticas, às que hoje lerás no cantinho reservado aos comentários.

Estes são os nossos sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas.

Com um grande abraço fraterno, Eduardo

Fotos: © Amílcar Ventura (2009). Direitos reservados
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5429: Parabéns a você (49): Armandino Alves, ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem, da CCAÇ 1589, Guiné, 1966/68 (Editores)

1. O nosso camarada Armandino Alves*, ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 1589, Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68, que teve a mais nobre especilalidade na guerra, completa mais um ano de vida.
Com a mesma consideração que temos pelos camaradas em geral, mais o reconhecimento do serviço prestado por ele enquanto homem do Serviço de Saúde, vimos-lhe dar um enorme abraço multiplicado por quase 390 vezes.


O Armandino não implantou minas nem andou aos tiros ao IN, pelo contrário, era capaz de socorrer qualquer combatente inimigo ferido. Eram estas acções que faziam a diferença entre os que matavam para não serem mortos e aqueles que salvavam no campo de batalha sem olhar à cor da farda.

A Tabanca em peso vem deste modo até ti desejar um dia de aniversário alegre, junto daqueles que mais prezas, familiares e amigos mais chegados. Na hora do brinde não esqueças estas centenas de amigos que se associam a ti neste dia.


2. Armandino Alves, em 30 de Maio deste anos dirigia-se assim ao nosso Blogue:

Camarada Luis Graça
Gostava de fazer parte da Grande Tabanca, mas não tenho possibilidades de enviar fotos do tempo de tropa pois como tive um grande incêndio na casa onde morava, todas as fotos desse tempo, incluindo a Caderneta Militar, se foram.

Por isso não consigo fotos antigas.
Como participar?

Armandino Marcílio Vilas Alves
Ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem
CCAÇ 1589
Guiné 1966/68



Claro que todas as resposta foram dadas com o tempo, e o Armandino, mesmo sem fotos antigas, tem participado activamente no nosso Blogue.
Não prometo que a listagem esteja completa pois o Blogue está a ficar muito complicado para pesquisar o histórico.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

5 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4464: Tabanca Grande (149): Armandino Alves, ex-1.º Cabo Aux de Enfermeiro da CCAÇ 1589, Guiné 1966/68

11 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4510: Memória dos lugares (31): Fá Mandinga, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)

14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4518: Controvérsias (19): Sob a evacuação das NT de Madina do Boé (Armandino Alves)

15 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4533: Controvérsias (20): A minha análise pessoal do desastre com a jangada no Cheche, na retirada de Madina do Boé (Armandino Alves)

16 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4536: Memória dos lugares (31): Béli, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)

2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4626: Estórias avulsas (37): Quando um cabo da PM me deu ordem de prisão, em Bissau (Armandino ALves)

6 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4910: Os Nossos Médicos (3): Os especialistas eram poucos, e não gostavam de ir para... o mato (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)

7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4914: Os Nossos Enfermeiros (2): As malditas doenças venéreas e a bendita... penicilina (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)

9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4927: Os Nossos Enfermeiros (3): Às vezes até fazíamos o que não sabíamos (Armandino Alves)

17 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5118: Memória dos lugares (48): Béli, Fá Mandinga e Madina do Boé - Independência & Objectos voadores (Armandino Alves)

22 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5323: Estórias avulsas (61): Reencontro de irmãos (Armandino Alves)

28 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5360: Estórias avulsas (62): “O trinta putas” (Armandino Alves)
e
6 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5413: Os nossos camaradas guineenses (18): A morte do Aliu Sanda Candé (Armandino Alves)

Vd. último poste da série de 8 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5421: Parabéns a você (48): Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil do Pel Canhões S/R 2054 (Editores)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5428: O meu Natal no mato (24): Boas Festas e Prósporo Ano Novo... (José Nunes, BENG 447, 1968/70)


Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 (1968/70) > o ex-1º Cabo José Nunes, o "homem que dava a luz"...

Foto: José Nunes (2009). Direitos reservados



1. Mensagem do José Nunes:

Camaradas encontrei este Postal de Natal, velho mas actual, pois sempre desejamos um Bom e Santo Natal, aos que nos são próximos.

Com erros e tudo, o compositor do mesmo foi um Camarada, que nos tempos livres fazia uns trocos a revelar as fotos do pessoal.

BOM NATAL.ANO NOVO CHEIO DE VENTURAS.

2. Mensagem de 7 de Setembro último:

Camaradas vamos lá ver se desta é de vez envio novas fotos.

Fui incorpurado em Abril de 1967 depoi de ter feito psicotécnicos no CICA em Elvas. Por interesses estratégicos chumbei.


Fui depois desterrado para fazer recruta em Beja, no Regimento de Infantaria. Agora todos os psicotécnicos eram para valer. Na entrevista e teste dei o máximo. Na entrevista perguntaram-me pra onde gostava de ir ? Escola Militar Electromecânica, disse eu!

Fiz recruta e aguardei, e lá fui para Paço d'Arcos, foi só reciclar e fazer boas provas de aptidão profissional. Concluído o Curso, fui indicado para Monitor de Oficina de Instalações, mas a mobilização aí estava. Do meu Curso só o Madeirense e o Açoriano não foram parar à Guiné.

Fui Transferido do B. Telegrafistas e daí para a Engenharia 1,e enviado para a Guiné em 15 de Janeiro de 1968. Estive lá té 15 de Janeiro de 1970.

Eis a minha apresentação sumária .

Saudações Cordiais, de amizade e consideração.

José Nunes
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Nota de L.G.:


(**) Vd. último poste desta série:



(...) Estava muito absorto a pensar quem é que raio lançava foguetes na noite de Natal, coisa que não era da tradição, quando o abanaram violentamente e lhe gritaram:
- Alferes, para a vala, para a vala! Estamos a embrulhar!

Correu, saltou para a vala, e pouco depois deu uma gargalhada. Olharam todos para ele com aquele ar de: "Agora é que o gajo se passou de vez”!!!

Então ele disse com um ar gozão:
- Então, vocês não vêm que os gajos estão enganados! Na noite de Natal já estão os presentes todos embrulhados! Não é noite de se embrulhar! (...)

Guiné 63/74 - P5427: Os nossos camaradas guineenses (23): Temos uma dívida de gratidão para com homens como o Braima Djaura (José Manuel Pechorro, CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73)


Guiné > Região do Cacheu > Guidaje > Maio de 1973 > Cadáveres de soldados africanos da CCAÇ 19, abandonados no campo de batalha. Foto de Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Comando. A 38ª Companhia de Comandos participou na batalha de Guidaje. O Amílcar tomou notas, no seu diário (já qui publicado), desses longos dias de inferno, em Maio de 1973.


Foto: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados.




1. Mensagem de José Manuel Pechorro, membro da nossa Tabanca Grande, ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73 (*)

Olá, Luís Graça,


Boa noite,

Acabo de ler as P5418 e 5419 (Braima Djaura, Sold Cond CCaç 19, Guidaje, 1972/74), UM SOBREVIVENTE (**).

O Djaura é um ex-soldado , entre outros, que se encontra em dificuldade. Soube-o recentemente. E, segundo afirmação sua, está doente há oito anos!

Venho aqui agradecer a postagem das suas mensagens e o modo como o Luís Graça o tem acarinhado.

O Braima, da Internet percebe mais do que eu, daí solicitar a inclusão na P5419, do seguinte comentário, se for possível:

Olá Braima Djaura, boa noite,


Foi com muito prazer que vi e li as postagens hoje.


Escreve e fala sobre a tua experiência e vivência na CCaç. 19, Guidaje e Guiné.


Escrever faz bem ao teu espírito e enriquecerá e ajudará quem ler...


Parabéns pela tua coragem!


Um abraço, do camarada,


José Manuel Simoa Pechorro

1º Cabo Op Cripto

CCaç 19 - Guidaje - Guiné

Luís Graça, cumprimentos e um abraço a todos,
desde já agradecido,
José Manuel Simoa Pechorro

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

2. Comentário de L.G.:

Em boa hora, pediste o teu ingresso na Tabanca Grande, depois de andares a "espiar" o nosso blogue durante um ano... Apreciei as palavras, solidárias, que dirigiste aos teus antigos camaradas da CCAÇ 19 (sobre a qual, de resto, sabemos pouco: composição, história, actividade operacional, número de baixas, etc.. Sabemos alguma coisa do cerco a Guidaje e da tentativa de romper o cerco por diversas forças que partiram de Farim, como por exemplo a 38ª CCmds do nosso camarada Amilcar Mendes) (***).

Disseste tu sobre os teus camaradas guineenses:

"Escolheram estar do nosso lado, confiando em Portugal e suas promessas. Foram abandonados! Não foi só pelo dinheiro (soldo), como alguém mencionou, referindo-se aos soldados da CCaç 19.

"À noite, o calor no colchão, e enquanto o sono não vinha, eu ia ao pé das sentinelas, onde, conversando, me diziam estar no exército português por uma Guiné Melhor. Se o PAIGCV vencesse, o futuro seria muito mau! Tinham razão. Os povos simples da Guiné mereciam melhor sorte"...

Vens agora saudar a presença, entre nós, do Braima Djaura que, como muitos outros camaradas guineenses, está só e doente. Todos nós, que tivemos camaradas guineenses nas nossas fileiras (tu, na CCAÇ 19, eu CCAÇ 12, e por aí fora), sentimos um murro no estômago quando nos chegam notícias tristes como estas, do Braima Djaura, do Malan Baldé, do Amadu Djaló e de tantos outros abandonados à sua sorte... Que podemos fazer ? ... Para já, denunciemos estes casos, sensibilizemos os nossos amigos e camaradas da Guiné, influenciemos a opinião píblica dos nossos dois países, pressionemos as respectivas autoridades. Estes homens não podem morrer sozinhos, como cães. Vê se sabes mais notícias do Braima. Obrigado, José. Um Alfa Bravo. Luís
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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)

1 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5039: Tabanca Grande (176): José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje (1971/73)

(**) Vd. postes de:

7 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5419: Os Nossos Camaradas Guineenses (22): Muitos se salvaram pela solidariedade que existia entre todos, brancos e pretos (Braima Djaura, Sold Cond CCaç 19, Guidaje, 1972/74)

7 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5418: Tabanca Grande (194): Braima Djaura, Sold Cond Auto, CCAÇ 19, Guidaje, 1972/74, um sobrevivente

(***) Vd. poste de 27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1123: Um espectáculo macabro na bolanha de Cufeu, em 1973 (A. Mendes, 38ª Companhia de Comandos)

(...) lembraste amigo luis kuando aki a 1 ano levantei essa kestao? entao algumas vozes se levantaram kritikando me.Pois e amigo Luis eu estive por dentro desses akontecimentos. No ano de 1973 na pikada de Binta para Guidaje kuando dois grupos de combate da 38 de Comandos tentavam desesperadamente passar a bolanha do Cufeu para chegar a Guidaje depararamse kom o makabro cenario de mais de uma dezena de corpos a ser festim para os abutres.JA ALI ESTAVAM a dias e ali iriam fikar.sabes ate kuando amigo Luis?

Um condutor de um unimog ke ia konosco foi vitima de uma mina nessa pikada tendo morrido.Foi o corpo dele transportado na minha viatura ate guidaje e ali ficou.Desceu a terra pelas maos dos camaradas.porke nesse tempo (maio73) as evakuaçoes eram impossiveis em guidaje e kem la esteve sabe porke.Nos proprios tinhamos um kamerada sem perna ke na enfermaria(?) lutavava kontra a gangrena.

Amigo luis foram tempos dramatikos ke eu ainda hoje luto para nao me lembrar mas ke nunka vou eskecer.tenho tudo dukomentado.tou a tua e so tua disposiçao se kiseres saber algo mais.envio um grande abraço para todos os camaradas de guerra.mesmo para akeles ke kom menos rigor vao relatando as suas(?) experiencias de guerra.

A. Mendes (Um Comando na Guine)

Komentario de luis graca

Mendes: Estas registado na nossa tertulia mas kontinuo a espera das tuas duas prometidas fotos. fiko tambem a tua disposicao.escreve ke te faz bem. (...)

Guiné 63/74 - P5426: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (19): Que emoção ouvir alguém que não se vê há 40 anos (Jorge Teixeira/Portojo)

1. Mensagem de Jorge Teixeira (Portojo)*, ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70, com data de 6 de Dezembro de 2009:


Caros amigos
Gostava que fosse publicado este texto no nosso blogue na rubrica que melhor entenderem



Quanta emoção ao ouvir o camarada Tuuobias que não vejo há 40 anos

Há dias senti que o Luís, e provavelmente por arrasto os seus editores, estavam desanimados por causa das polémicas que aqui levantamos. E com vontade de desistir.

Escrevi dizendo que nem pensassem nisso. Este blogue é a nossa casa. Por muita asneira que digamos, por muitos distúrbios que causemos, aqui vimos parar sempre.

Por ele (blogue) e através dele, pude dizer coisas que estavam guardadas cá dentro há anos. Lembrei coisas esquecidas. Encontrei camaradas que nunca vi mas com quem convivo. Fui encontrar camaradas antigos, até de outras guerras.

Mas hoje estou particularmente emocionado.

Por causa de uma polémica aqui discutida no blogue, (já nem sei qual) o camarada José Câmara, que está nos States, entrou em contacto comigo. Email para cá, email para lá, troca de numeros telefónicos e etc., ele conseguiu descobrir um dos meus açorianos também lá nos States. E hoje falei com ele.

A emoção de ouvir o Tuuobias ao fim de 40 anos, tratando-me por meu sargento. Eu sabia que ele diria isso. E que eu lhe diria, olá Tuuuobias. (Só fui sargento, sem o saber, quando recebi os retroactivos passados seis meses depois da disponibilidade, mas isso para o caso não interessa).

O que interessa, é que depois de ter contactado tanta gente, (RI15, Serviços de Pessoal militares e outros para onde me empurraram, presidentes de Juntas de Freguesia, amizades da net, etc.) ninguém conseguiu o que este espaço fez: fazer-me encontrar (para já foi o primeiro) alguém que procuro há tantos anos.

Por isso Luís, caros Vinhal e M.R. mantenham vivo este espaço. Foi mais uma alegria que senti e vocês foram os culpados. Nunca desanimem. A rapaziada é chata. Mas é a nossa natureza. Quando deixarmos de ser chatos é mau sinal. Nunca mais nos encontraremos.

Um abraço para a Tabanca Grande


2. Comentário de CV:

Face ao primeiro parágrafo do nosso caro Jorge Portojo, tenho que esclarecer umas coisas, a saber:

- Não vejo no Luís pessoa para fugir ao que quer que seja e muito menos capaz de abandonar um projecto, como o nosso Blogue, que ele criou e que tomou as proporções que toda a gente reconhece. Ele é o Blogue. Ele é o aglutinador da tertúlia.

- Quanto a mim, não desisto assim com duas tretas. O vínculo que assumi com o Luís é muito forte. Neste momente nada me faria abandoná-lo, deixando a equipa desfalcada, dando ainda por cima parte de fraco perante a mínima contariedade. Foi ele que me convidou a fazer parte da equipa, só ele me poderá fazer sair.

- Pelo camarada Magalhães Ribeiro não posso falar, mas quero reconhecer-lhe publicamente uma capacidade de trabalho e uma cooperação muito relevantes dentro da equipa editorial.

- Fiquem portanto descansados os camaradas que têm aqui uma equipa coesa que não desmoraliza por dá cá aquela palha.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5421: Parabéns a você (48): Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil do Pel Canhões S/R 2054

Vd. último poste da série de 9 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5084: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (18): João Augusto Silva é meu tio (Pepito)

Guiné 63/74 - P5425: Notas de leitura (42): Reportagem, Uma Antologia, de José Vegar (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Dezemmbro de 2009:

Malta,
Este comandante Hussi é uma ternura, a guerra e a brutalidade têm destas coisas. Bom seria que todos nós vasculhássemos bem estas reportagens para as fixar no nosso blogue.
Um abraço do
Mário



A Guiné num livro de ouro sobre a reportagem
Beja Santos

Reportagem, uma antologia (por José Vegar, Assírio & Alvim, 2001) é um livro precioso para quem gosta deste género jornalístico. José Vegar é um conhecido jornalista com importantes trabalhos publicados em revistas como Sábado e Grande Reportagem e jornais como Semanário e Expresso. Começou preparar um arquivo pessoal onde guardou aquelas que ele considera as melhores reportagens. Entendeu publicar 20 dessas reportagens escritas por jornalistas portugueses “pela única razão de que não merecem a escuridão do arquivo ou do esquecimento. Merecem ser lidas por novos leitores ou relidas por aqueles que, certamente, não as esqueceram”. Todas elas foram publicadas na década de 90, obedecem a gosto pessoal de José Vegar, incluem histórias sobre guerra, operações militares, problemas ou acontecimentos sociais importantes (seropositividade, gangs juvenis, impunidade dos policias, homicídios cometidos por um psicopata...). Há reportagens feitas dentro e fora de Portugal. Os nomes dos seus autores são sobejamente conhecidos de todos, por exemplo: Adelino Gomes, Clara Pinto Correia, Felícia Cabrita, Fernanda Câncio, Fernando Dacosta, Joaquim Vieira, José Pedro Castanheira, Miguel Sousa Tavares.
Nesta antologia aparece uma peça impressionante intitulada “Comandante Hussi” por Jorge Araújo publicada em O Independente, numa edição de Fevereiro de 1999. De acordo com José Vegar, Jorge Araújo é um repórter experiente em cenários de guerra, é um buscador de personagens, de pessoas que possam ser um símbolo e um testemunho importante do que aconteceu em determinado momento em algum lugar do mundo. “No caso do conflito na Guiné-Bissau, Jorge Araújo, profissional na Televisão de Cabo Verde, BBC e O Independente, foi particularmente feliz. Quis o acaso que nas ruas de Bissau alguém lhe indicasse o miúdo António Hussi, o mais jovem guerrilheiro de Ansumane Mané. O repórter deixou-se ficar junto dele, ouviu-lhe confidências e narrações dos episódios da guerra. Através dele, contou a batalha de Bissau e revelou ao leitor o desejo de um miúdo recuperar a sua bicicleta”.

António Hussi era pobre mas tinha um tesouro, uma bicicleta pintada de lama, pedais amputados, selim desengonçado, os raios das rodas a contorcer-se de dor. Um dia o menino foi obrigado a abandonar a sua bicicleta, as balas caíam do céu, a guerra civil veio com toda a força, a mãe partiu e levou a família, o pai ficou a combater, ao lado de Ansumane Mané. Assim chegaram a Nhacra. Para trás ficara Bissau. As ruas desertas asfaltadas de cadáveres, casas abandonadas feridas de balas, almas penadas vestidas de medo. A fome, a tragédia, a irracionalidade. Os abutres em voo picado sobre corpos em decomposição. As famílias divididas, os bairros atingidos, as vidas destruídas. Uma cidade inteira a sangrar de dor. Uma orgia de violência que, a pouco e pouco, gangrenou o resto do país. Hussi comunicou à mãe que ia regressar a Bissau, a mãe disse que não, ele fugiu. Em Bissau pôs-se à procura do pai.

“Não viste o meu pai? Chama-se Ablei Sissé”. O pai perdeu a fala quando deu de caras com o filho, bateu-lhe muito, mas o menino não cedeu. Então o pai decidiu que o Hussi ia fazer tudo como se fosse um homem grande. “E ele fez. Transportou armas e munições para a linha da frente, fez de pombo-correio, foi ajudante cozinheiro. Não matou mas viu morrer. Passeou pelos horrores de uma guerra fratricida com a mesma inocência que antes com que antes pedalava na sua bicicleta pelas ruas de Bissau”. Depois assistiu à internacionalização da guerra, chegaram milhares de soldados do Senegal e da Guiné Conacri que morreram ao lado dos homens fiéis de Nino Vieira. Em 6 de Maio, por volta das 11 da manhã, as tropas de Ansumane Mané furaram a barreira de Nino Vieira, o ditador refugiou-se na Embaixada de Portugal. O menino Hussi assistiu a tudo, viu o vandalismo em que as tropas senegalesas deixaram as já precárias infra-estruturas de Bissau, passeou-se entre o fogo-de-artifício da artilharia, presenciou a destruição do Centro Cultural Francês. Chegou ao Palácio Presidencial que ardia como um archote. “Assistiu ao saque e à ira da população. Subiu as escadas do velho edifício colonial, atravessou as portas imponentes, vagueou pelas enormes salas abandonadas, vasculhou destroços calcinados, distribuiu abraços pelos soldados vencedores, tropeçou em Kalashknikovs que adormeciam pelo chão”. Os soldados de Ansumane Mané trataram-no como herói. É conhecido por “Comandante Hussi. Percorre a cidade de Bissau, só não vai ao hospital para não ver os meninos da sua idade massacrados pela guerra.

Assim que a guerra terminou, Hussi deu um salto até à sua casa, situada no bairro de Santa Luzia. Comoveu-se muito, o seu tesouro mais valioso estava são e salvo. “Pintado de lama, pedais amputados, selim desengonçado, os raios das rodas a contorcer-se de dor. A sua bicicleta estava suja e abandonada. Mas era a sua bicicleta”.

Quem gosta de reportagem, não pode ficar insensível a este comandante Hussi.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5409: Postais ilustrados (18): Postais Antigos da Guiné, de João Loureiro - O Povo e os Costumes (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5393: Notas de leitura (41): Golpes de Mão's - Memórias de Guerra, de José Eduardo Reis Oliveira, JERO, para os amigos (Belarmino Sardinha)